Tumgik
helenasanmartim · 2 years
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"Voilà, ma petite Amélie, vous n'avez pas des os en verre. Vous pouvez vous cogner à la vie. Si vous laissez passer cette chance, alors avec le temps, c'est votre cœur qui va devenir aussi sec et cassant que mon squelette. Alors, allez y, nom d'un chien!"
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helenasanmartim · 2 years
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puta, vagabunda,  interesseira
Uma puta, é isso o que eu sou - dizia ela
Puta que passa de cama em cama, de boca em boca. Não se importa para quem vai estar abrindo as pernas; abrir seu corpo é muito mais fácil e menos doloroso que abrir-se de coração. Transava com quem achava atraente, só. Colecionava naquela bolsa de vagabunda barata, feromônios de todos os tipos, pois já havia deitado em todas as variáveis camas; estava prestes a virar consultora da Ortobom. Mas nem para isso ela serviria, pois apesar de todas suas qualidades, ainda era uma puta.
Puta que se preenchia com o prazer alheio. Mulher, Homem, coisa. Mulher já preenchida mas que se perdia nos copos de destilado e nas taças de vinho, e depois se derramava por inteiro - caía como vidro no chão, e se estraçalhava ali, imunda, sozinha. O quarto horroroso, minúsculo e fedido daquele cara era a tal da colas barata que ela usava pra se reconstruir. Mas no dia seguinte, sã de si, ninguém opta por bancar um produto defeituoso, frágil.
Puta, vagabunda e interesseira. Interessada em encontrar em algum desses encontros carnais, na bagunça dos lençóis ou na sujeira do balcão da cozinha, alguém que estivesse em busca do mesmo que ela: outro interesseiro que se aventurasse pelas camas alheias e desconhecidas. Outro preguiçoso, vagabundo, que como ela, tentara driblar a vida emprestando seu sexo ao invés do seu amor.
E então eu a perguntei, seria mesmo puta, um exercício fácil? Acordar sabendo que não te olham como pessoa e sim como bicho, é fácil? Essas putas, selvagens, que ardem em fogo - chama vermelha, de paixão. Talvez puta seja só uma forma cruel que encontraram de chamar de corajoso quem escolhe viver à sua maneira, mesmo que pra isso tenha que colocar seu corpo em jogo. Foda-se, Maria, o que os outros vão falar. Eu sei mais do que ninguém da dor que tu carrega e leva, de quarto em quarto, sem mostrar a ninguém.
Faltam mais interesseiras como tu, Maria.
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helenasanmartim · 2 years
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O amor pede opinião
As coisas quase sempre estão, e quase nunca são. O amarelo, por exemplo, é amarelo hoje; foi ontem; será amarelo amanhã; e independente dos girassóis de van gogh ou da cor da gemada, eu garanto: o amarelo sempre será amarelo. O amarelo não pede opinião, ele não requer consentimento
Mas de resto, quase tudo está, e nada é. Teu beijo, por exemplo, nunca será bom, pois ele depende de mim e do outro - que pode gostar ou não do teu beijo. Tanto é verdade que ontem o teu beijo estava um porre, pois eu estou cansada pra caralho e enfim, não quero falar sobre isso. É possível que teu beijo nunca tenha sido bom. Inclusive é provável que sequer o nosso sexo fosse bom como eu imaginava, porque com o tempo teu corpo parou de me atrair. Era só repulsão.
E como tudo isso, amar também é um estado. Não é eterno, é regulável. É um termômetro. Por isso que, ontem, quando senti o seco dos meus olhos, os mesmos que um dia já olharam para os teus brilhando, eu tive certeza: não estava mais amando. A pilha do ar condicionado terminou. Fui procurar abrigo e não encontrei. Te pedi uma coberta e recebi um pedaço de pano, furado. De fato, o termômetro esfriou. 
Sorte que diferente do amarelo, o amor pede opinião, pois e eu estava cansada de guardar a minha. E digo mais, ainda bem que o calor é transferido do corpo de maior temperatura para o de menor, pois agora vou ficar aqui; seca, fria, porém sem gastar mais energia, me conservando para que alguém, novamente, venha me incendiar.
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helenasanmartim · 2 years
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Tudo ficou pequeno desde que tu foi 
inclusive o amor que um dia tive
por ti 
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helenasanmartim · 2 years
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o outro é só o outro
Não se perder de vista tentando encontrar o outro
tentando encaixar o outro
tentando caber no outro 
o outro outra vez fazendo a gente se perder
mas isso porque esquecemos de nos guardar
com o mesmo carinho que guardamos o outro
no peito, na estante, na cabeceira, no olhar
sustentar o olhar no outro é mais confortável
do que sustentar o olhar comigo mesma no espelho
despida, sozinha, amarga, abatida
mas esse outro não pode nos salvar de quem somos
desse medo que é olhar pra si, viver pra si, carregar a si
saber ser só 
com todas essas dores 
todos esses traumas
e mesmo assim se amar
O outro não é um espelho
o outro é só o outro
E sendo outro não pode prometer que vai carregar o peso de me ser
missão impossível
é preciso caminhar com o outro
 ao invés de fazer do outro
uma referência, um horizonte
até um paraquedas
afinal, o outro é só o outro
e se for pra ser outro, comigo,
que sejamos uma bússola
ele o ponteiro
eu as coordenadas.
pra que, caso me deixe
eu não me encontre perdida 
de novo.
Será que encontrar o outro é sempre perder um pouco (ou completamente) de si?
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helenasanmartim · 2 years
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narcisismo
Esbarrei com um homem e encontrei nele algo que pensava ser impossível ver em alguém: eu
Nunca vi ou li ninguém falando sobre esse evento que, aparentemente, acontece no máximo uma ou três vezes na vida. E se eu não sabia disso, sequer imaginava o quanto é importante encarar esse momento; sustentar o olhar, e viver a estranheza e a delícia de poder se enxergar em alguém. 
Jamais imaginei que esse encontro viria logo agora, que eu menos sei sobre mim; no desencontro comigo mesma. Vivendo a animalesca aventura de me reencontrar, dessas que geralmente se pega carona com qualquer estranho, simplesmente porque precisa seguir, se mover. e vai. segue uma rota incerta.
Mas tu chegou, e veio pra mim como um mapa, feito um guia. como quem ensina uma criança a pedalar pela primeira vez. No primeiros dias tive medo mesmo quando tu me segurou. E tu disse: “pra ser livre, é preciso confiar em si”. E eu confiei, pois mesmo que caísse, a casca estaria grossa para suportar a dor. E mesmo que futuramente meu joelho doesse, poucas coisas são tão valiosas quanto a certeza de estar no lugar certo. Depois que eu confiei em mim pude avistar em ti quem eu nunca havia enxergado em outros rostos antes: eu.
Puramente doçura. É ele. É o doce da palavra, do toque, do observar. Falando em observar, ele tem uma sensibilidade em diagnosticar a vida - mesmo que a vida não peça - igual a minha. E nisso, só tem algo que divergimos: a visão dele, que, ao contrário da minha, me faz (re)acreditar na vida.
Me enxergar pelos olhos desse homem foi o que me salvou de mim mesma. e das pedras que me mataram. e dos buracos que me encurralaram. e das facas que me cortaram. É único. enxergar pelos olhos dele... ser aclamada por aquela voz que ... enquanto dedilha o violão, fala sobre como é gostar, de gostar, de mim.
Parece um sonho, porque esse sonho, é parecido com alguém: comigo. Que benção foi me encontrar nele, e poder ainda encontrar ele, aqui, também, comigo.
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helenasanmartim · 2 years
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não’s
Hoje eu lembrei de uma das transformações mais profundas que vivi: o processo de reciclagem de uma rejeição. Não foi a maior de todas, mas com certeza foi muito maior do que eu era e estava preparada pra enfrentar - afinal, quanto mais alto são os castelos que construímos maior é a queda. Essa recusa em específico fez com que emergisse em mim uma versão que eu jamais quero ver diante de espelho de bar nenhum. Esse meu ‘eu’ medroso, calejado, e que deixa dores por onde passa. o ‘eu’ que carrega o trauma do “não”: 
não vamos dar certo. não te quero. não posso tentar mais. não estou prontx. tu não é o que eu imaginava. tu não me atrai mais. eu não gosto de ti.
De tanto ouvir e sentir cada uma dessas sentenças de morte, de soco em soco, fui perdendo minha inocência, e, ironicamente, fui presenteada com a autoconfiança. Isso porque, desde então, aprendi a ler os sinais e passei a responder na mesma linguagem que conversavam comigo (isso quando tentaram conversar). Sintonia? Não, reciprocidade e bom senso. 
Se conformar com a dor da rejeição, por mais contraditório que seja, nos livra do peso de agradar todo mundo, e nos proporciona o conforto de querer doar partes diferentes de nós às pessoas certas. E embora atualmente eu viva assim, tem algo em mim que nunca me deixou: a vontade de viver a minha verdade, sem filtros, sem medo, com intensidade. Tive que viver os não’s para perceber que não funciono com quem não vibra na frequência do agora, que faz mistério com o futuro, que tem medo de saber do passado, e que negligência o presente.
Se quero algo agora, por que tenho que seguir um protocolo social, que dita "a hora certa” pra querer? Que só pode ser falada depois de um mês, que só pode ser exclamada quando houver certeza, que só pode depois depois depois e depois. Porra, estar vivo já não é um motivo digno pra expressarmos nossos sentimentos?
Se sou ranzinza, o motivo tá aí. Essa burocracia que faz boicote a nós mesmos. Que nos induz a negar o mais bonito da vida: o agora. Me pergunto se esse receio todo é medo de que uma entrega intensa possa significar amor. Se for, eu recomendo fortemente uma terapia. Se não for, seja por ignorância ou negação, é bom que saibamos que nem tudo que fazem contigo, na cama ou fora dela, é amor. Pode ser paixão, pode ser tesão, pode ser simplesmente loucura, pode ser saudade, pode ser tantas outras coisas. Será que não é meio narcisista achar que o outro ama só porque deu carinho? Afinal, que glamour é esse que atribuíram ao afeto e à ternura que eu não encontrei no dicionário?
 Uma pena as pessoas estragarem relações porque tem necessidade de rotular tudo. Tudo precisa, entre muitas aspas, de início e fim. “Nós só ficamos. Nós só somos amigos. Nós só transamos bêbados. Nós só _______”. Esse “só” infinito que limita tanta gente, tanta experiência, quando podemos  simplesmente ser: duas pessoas que se gostam, e ponto. O que farão amanhã ou mês que vem é problema futuro. É questão de se vamos estar aqui pra contar o “depois”.
Mas óbvio, que deixemos claro: ninguém é otário. Não é porque se vive intensamente o agora que está liberado prometer da boca pra fora o amanhã. Quando me refiro a intensidade, falo também de ser sincero, não egocêntrico ou mentiroso. Primeiro que a promessa é uma das coisas mais cruéis que podemos fazer com alguém. Não se promete nada, quem dirá pra sempre. Ao contrário, propõe-se: eu me proponho a estar contigo nos teus piores dias, eu me disponho a viver isso contigo. E é tão lindo viver as emoções à flor da pele pelo simples prazer de compartilhar e dividir o teu mundo com outra pessoa. 
Encontrar pessoas assim é o tipo de evento que faz a vida valer a pena. Então sim, depois que eu aprendi a dialogar no mesmo idioma e na mesma entonação, nunca mais entreguei mais do que alguém aguentaria de mim. Afinal, eu também não aguento receber pouco, sendo que sou tanto.
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helenasanmartim · 2 years
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“I hope one day we can forgive each other for not being what we wanted each other to be”
— Kriti G.
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helenasanmartim · 2 years
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é preciso ser cinza antes de ser vivo
Morremos de medo da morte, mas quantas vezes já não morremos, ou vimos morrer, ainda em vida? Me refiro a algo além da morte carnal. Me refiro a morte subjetiva, aquela que não é fisiológica, morfológica. Mas que é intrínseca.
Assim como só sabemos o que é alegria depois que experimentamos a tristeza, e o que é doce depois de provar o amargo, só saberemos o que é viver depois de enfrentar a morte. Não é unidirecional: nascer e morrer. É cíclico, é orgânico. É um trajeto obrigatório.
Já morri quando meu avô faleceu, como também morri quando um eu te amo não foi correspondido. Morri no término do meu relacionamento, da mesma forma como já morri quando vi uma amiga deixando de ser o que sempre foi: amiga. Morri aquele dia que recebi uma mensagem falando “acho que a gente precisa parar de ficar, estamos indo muito rápido e talvez tu não tenha entendido direito”. Eu que não entendi, ou ele que não se fez entender? Bom, não importa, porque morri - de tanta vergonha, de tanta dor, de tanto tempo desperdiçado. 
E quando a gente morre a gente enterra esse nosso “corpo” junto daquilo que desencadeou o nosso fim. Pode ter sido um gesto, uma relação, um emprego de bosta, uma frase mal interpretada, um livro ruim. Enterramos: amores antigos, pessoas que foram importantes, sentimentos, coisas abstratas, sonhos. Enterramos tudo que compõe esse eu que não cabe mais existir; seja porque faleceu, seja simplesmente porque têm coisas que precisam, assim como tudo na vida, morrer.
Tem morte que soa como um acidente, uma catástrofe por um simples descuido. Algumas carregam o peso de um suicídio. Outras homicídios culposo, quem sabe doloso. Mas todas carregam algo em comum: o luto. E enquanto não soubermos lidar com essa dor ruminante que fica do eu que partiu, será como se estivéssemos lado a lado, diariamente, do nosso próprio cadáver. E acreditem, não é só o cheiro que fica desagradável. A vida fica junto.
Tá tudo bem ir no cemitério de vez em quando, deixar umas flores, chorar um pouco... afinal, fizemos tanto naquela outra vida, com aquelas outras pessoas. Porém não tem vida que sustente um corpo vivo sustentando uma alma morta. É preciso deixar o ciclo da vida acontecer. Hoje podemos ser cinzas -tanto a cor quanto o pó-, mas amanhã seremos outra cor: a cor que a gente pintar.
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helenasanmartim · 2 years
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helenasanmartim · 2 years
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Aí eu venho e te lembro
Aprendi contigo que traçar a vida é subir um degrau por vez. Não é maratona. Desde que juntos, a vida e seus inúmeros degraus -até muralhas- viram oportunidades. Oportunidade de enxergar a vista lá de cima. Mas ninguém é imune aos anseios. Eu sei. às vezes tu também quer atropelar os muros, atalhar o caminho.
Mas aí amor, eu venho, e te lembro: são nessas paradas, frente ao mar sereno, que validamos a felicidade. É por causa da calmaria na alma e o chá morno no final do dia que temos força para cruzar horizontes. Há na paz ardor e ambição por ser feliz.
Mas não satisfeito tu implica. Implica com a manutenção da vida, mesmo sabendo que é ela que nos dá chão para estabilidade. E aí eu venho e te lembro que, mesmo depois de anos juntos, depois de todos atritos; depois de nos conhecermos ao avesso. depois de termos vencido o êxtase da paixão e se acomodado no berço do amor; mesmo depois de termos feito tudo aquilo que as pessoas dizem ser o início do fim; o que amornou foi nosso chá, não nosso amor.
Sim, a felicidade também está na inércia. Afinal, tem coisa mais gostosa que a mesmice de todos os dias deitar ao teu lado, com o calor do teu corpo que me protege, me abraça, me envolve?
Quando há paz, a felicidade é capaz de ser plural na solidão, porque mesmo sozinha, sou duplamente feliz por saber da tua existência. Amor, eu te encontrei no movimento mas te quero na inércia.
comigo
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helenasanmartim · 2 years
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Normalizar o corpo como um corpo
Quem é você? Você não é o peito, não é a bunda, não é nada que está do lado de fora, mas sim tudo que habita seu interior. Caso se relacione com ele, o que você tem a oferecer? Na primeira semana: O corpo. Na segunda? Se ainda estiver transando, o corpo. Mas e se você ficar? O que você vai dar?
Pois é, com certeza não vai ser a barriga chapada
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helenasanmartim · 2 years
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marca chuva para amanhã, mas não feche as janelas ainda hoje
Relações, para mim, sempre foram um tiro no escuro, uma trilha às cegas. Partindo desse pressuposto, os resultados só podem ser dois: uma aventura, daquelas que geram os best seller, ou um suicício (esses também chamam bastante público, mas quanto se doeu para construir essa história). E claro que comigo - na maioria das vezes - foi catastrófico, senão por ora a introdução seria outra.
 Dizem as más línguas da experiência que, a partir do momento que perdemos alguém, isso reverbera tão intensamente dentro de nós, que qualquer sensação semelhante, seja a dor ou seja o amor, faz com que nos prendamos dentro de casa e joguemos a chave fora. Sem mais, nem menos. Ou sem menos, apenas mais. É irracional. É instintivo. Embora medo e amor sejam antônimos, não tem dicionário nesse país que faz um desacreditado na vida acreditar em algo tão estimado e tão utópico. Sim, é preciso “desapegar” desse modo de viver grosseiro que nega a bondade da vida. Eu por exemplo, precisei. Precisei de uma profilaxia (não a fisiológica). Precisava de um tratamento de fato físico, empírico, pois o meu vazio era preenchido pela ausência de alguma experiência humana que rebatesse todas minhas teorias sem pé nem cabeça sobre o amor.
Como eu havia dito, as más vivências surram a gente até que sejamos capazes de farejar o perigo a distância. Por isso, qualquer relação que me lembrasse à bebida que eu tomava antes de ligar pro meu ex, tinha um destino certo: era enxotado. Mas o porém reside no fato de que crescemos sendo ensinados que a vida tem um trajeto definido, que o passo x necessariamente vai resultar em y. Mas ao mesmo tempo ninguém nos entrega um cronograma. Se é tão óbvio por que eu não recebi um tutorial enorme com módulo 1 e 2 pra que eu pudesse lá no final da vida receber meu canudinho de graduação? Eu te digo: porque ninguém se torna bacharel da vida. Essa faculdade é interminável até que terminemos nosso caminho aqui. 
E quando eu conheci o amor temerário, que também é esse amor escandaloso, sem cálculos prévios, que eu entendi, na prática, o significado de transbordar. Sim, os traumas fazem a gente ter medo de apostar pra ver, e eu jamais cogitaria tirar os meus pés do chão novamente para viver em vulnerabilidade, sem ao menos ter uma garantia impressa de que eu voltaria intacta, exatamente do jeito que cheguei. Mas isso não é amor, visto que amar é levantar voo sem expectativas do pouso, é ir apenas desejando que as perspectivas mudem. Não importa se o retorno for com uma asa quebrada, um hematoma no peito e a voz trêmula. Embarcar em uma viagem é aceitar a existência de adversidades, momentos, e pessoas te atravessando o tempo inteiro. Amar é entender a grosseria da vida e mesmo assim não desistir de sentir prazer em viver. A constância é a ausência de transformação. E quem não se transforma, infelizmente fica inerte. 
Se o mal do século vem ser a depressão, eu não tenho dúvidas que o bem começa com o nome daquele que nos fez acreditar na vida novamente. E esse alguém pode ser você mesmo. Eu ainda me sinto perdida, e nesse sentido nada mudou. Mas estou no meio de uma viagem: carrego minhas malas, meus documentos, tudo que garanta minha identidade, porém nada que ateste minha sanidade mental até o fim dessa semana. E mesmo assim, o que realmente importa no momento é a sinceridade com que se vive o presente, é a vista que nos cerca, e que por sinal, está linda. Se o coração está leve, deixe que a tempestade de amanhã seja problema pra amanhã. Tu não vê? A brisa tá fresca, o sol está se pondo, e eu não pretendo acelerar o motor tão cedo. No fim o êxtase que é amar e ser amado, na mesma proporção, faz com que entendamos finalmente todas as loucuras cometidas por amor. Quando entendemos tudo isso é que concluímos que faríamos várias delas.
Não feche a janela hoje só porque a previsão do tempo previu o imprevisível. Não confie em quem te entrega um manual de sobrevivência. É por querer controlar o curso da vida que perdemos o que há de mais bonito nela: as surpresas e as mudanças.
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helenasanmartim · 2 years
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Mesmo que eu não precisasse de ti
Eu estava bem
E não precisava de ti
(acredito inclusive que tu também não precisasse de mim)
Vidas separaras por uma vida
e não havia motivo para misturar nada
Afinal mistura é o princípio do caos
Mas você me pegou desprevenida
me agarrou pela mão naquela noite
e me modificou, pra sempre
Teu toque carregava algo diferente
algo que minha pele nunca havia provado antes
a textura, o gosto
Talvez fosse efeito colateral da paixão
Ou talvez fosse apenas o calor da tua mão 
que entrava em choque térmico com meu pescoço
Fomos
Com pressa e com cuidado
Passo a passo
O caminho era estreito, frágil
Me fazia duvidar se chegaríamos do outro lado da ponte
Na primeira oportunidade que tive rever, ponderar, reconsiderar
de olhar para trás
olhei antes para mim
Estava trêmula nervosa
mas também com algo que ninguém explica
Com uma intuição ímpar: eu vou.
E eu fui
Fui direto na tua direção
Mesmo não precisando desse afago
E mesmo que tu possivelmente não precisasse de mim
Eu fui
E tu, que dessa vez, me carregou em teus braços.
Fez com que não sobrassem mais dúvidas
A partir desse momento abri a porta da minha casa
do meu coração
da minha alma
me rasguei inteira pra poder me derramar em ti
viramos um só
uma mistura
uma única matéria
E foi então que contestamos todos os princípios da física:
dois corpos podem sim ocupar o mesmo espaço
ao mesmo o tempo
E não é que não entendemos física
Mas a física que nunca entendeu nada de amor.
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helenasanmartim · 3 years
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abandonar também é trair
falava no meu ouvido
sobre o quão horrível
É aquele que trai
A traição, a tensão, a inquietude e o transtorno
tudo por tesão - ou falta de -
demonizou a atração, o olhar um pouco pro lado
o olhar que analisa o outro
mas esqueceu de olhar por onde pisa
E pisou tão forte em mim
que no fim
tropeçou nas próprias palavras.
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helenasanmartim · 3 years
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amor gauche
Tenho pensado bastante sobre o amor. A minha terapia já não bate os 50 minutos sem antes eu ter xingado, questionado, ou até mesmo amado o próprio sentido do amor. Esse sentido que não faz sentido mas nos faz sentir até o último fio dos pelos do braço quando arrepiados.
Esses dias mesmo escutei uma especialista falar sobre esse sentimento/ação/emoção ser uma construção humana. Nenhuma outra espécie, ordem, classe ou reino animal entende o que é o amor. Isso me tirou do sério. Me tirou de uma zona de conforto que, por um segundo, quase quis ser especialista nessa patifaria que demos o nome de amor
Criamos algo com uma potência una, capaz de nos levar aos céus na mesma proporção que é capaz de nos enterrar na mais profunda fossa.
O Amor.
Falam tanto sobre ele, mas sabem tão pouco. Alguém sabe me dizer se ele é eterno? Se é temporário? Quando amamos já sabemos que vai acabar? Se sim, faz sentido amar sabendo que no fim ele morre? Afinal, a gente morre mas mesmo assim não deixamos de nos amar (ao menos não deveríamos). Será que isso é assim por que no fundo sabemos que somos nossa única e eterna âncora?
"Na saúde na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe"; só a morte? E o tempo? E a distância? E as mutações que sofremos ao longo da vida? Já diriam os biólogos: essas são aleatórias. E são mesmo.
Mas então, como posso prometer amar eternamente se no dia seguinte esse amor pode sair correndo, pode se matar, pode prometer amor a outro amor, pode não amar do mesmo jeito? Como é possível termos criado algo que não tem cpf, cpnj, rg, endereço, nada.
Criaram o amor e já falaram: vá! Vá ser gauche na vida. Mas acho que entendi. O amor é esse amalgama mesmo, sem forma definida, sem tempo de vida útil. O amor ele não nos pede licença sequer pra entrar, quem dirá pra sair. Acho que somos muito palestrinhas com algo que só pede silêncio, calma e presença. Principalmente pre s e n ça
O amor é gauche. O amor não quer se limitar a uma semana, um mês, quem dirá a uma vida inteira. Se não sei o que serei amanhã, como posso prometer que irei amar pra sempre, a mesma pessoa, com o mesmo formato, mesma rima, mesmo compasso. Conclui então que a gente mata o amor toda vez que mentimos pra ele.
E a gente mente pra caralho.
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