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Yes Sir! Capítulo 45
[AVISO DE GATILHO | +18]
Este capítulo contém cenas de violência psicológica, tentativa de abuso sexual e coerção, que podem ser altamente perturbadoras para alguns leitores, se você é sensível a esse tipo de conteúdo, recomendo fortemente que pule este capítulo. Sua saúde emocional vem em primeiro lugar. Mesmo que você não tenha gatilhos específicos, a leitura pode causar desconforto, leia apenas se estiver certo(a) de que está emocionalmente preparado(a).
A partir daqui, a decisão é sua e só sua.
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora:Desculpa a demora, gente, foi tenso escrever esse capítulo o mais difícil até agora, to nervosa com o que vocês vão achar, mas espero que consigam entender a importância dele dentro da história
Harry
Minhas roupas estavam largadas de qualquer jeito na mala aberta sobre a cama, eu não sabia para onde ir, Violeta realmente estava falando sério.
Implorei.
Chorei.
Gritei.
Nada adiantou.
Era o fim.
O fim de nós dois.
O celular vibrou ao lado da mala, o nome do Anderson iluminava a tela, esperando boas notícias sobre o caso contra Bryan.
Alguma coisa precisava estar indo bem na minha vida.
— Alô?
— Harry, que merda está acontecendo?
— Do que você está falando?
— A Violeta me ligou, furiosa, o que diabos você fez?
— O que ela disse?
— Quer o divórcio, mas vocês não iam esperar a audiência da Aurora? Que porra aconteceu?
— Ela me mandou embora, me expulsou de casa. — Deixei escapar, quase como um sussurro.
Era vergonhoso demais estar nessa situação.
— Harry… — Pude ouvir um suspiro longo atrás da linha.— Inacreditável.
— Pois é.
— O que você fez?
— Ela... — Fechei os olhos, sentando-me na cama. — Ela descobriu.
— Descobriu o quê?
— Que eu… — Abri a boca, mas só depois de alguns segundos consegui empurrar a frase pra fora. — Eu vou ter outro filho.
— Espera, o quê?
— Eu fiz merda, Anderson, muita merda...
— Porra, Harry.
— Eu sei. — Soltei um suspiro cansado. — Eu sei que estou fodido.
— Ela destruiu você e você fez o mesmo com ela.
— Eu sei.
— Cara, talvez esse divórcio seja realmente o melhor, mas isso agora complica tudo, sabe.
— Eu não queria que fosse assim. — Afundei no colchão, encarando o teto. — Eu nem queria contar isso agora, mas no fim eu fui um idiota mais uma vez.
— Como amigo, eu realmente sinto muito.
— Mas me diz, você me ligou só por isso ou pelo menos tem alguma notícia boa sobre o caso da guarda?
— Escuta…
— O que foi? — Senti um arrepio subir pela espinha.
— Nada.
— Como assim, nada?
— Falei com o detetive, ele tentou contato com as vítimas, mas ninguém quis denunciar, o hospital se recusou a colaborar, não tem provas suficientes contra o Bryan, nada que sustente num tribunal.
— Não… não pode ser… — Meu coração disparou.
— Eu sinto muito, queria mesmo ter algo melhor pra te dar.
— Então… eu vou perder minha filha? — A dor aguda começou a esmagar meu peito. — Não! Nós só temos cinco dias! Nós precisamos de algo! Por favor me diz que tem algum plano, não posso perder a Aurora, eu não posso!
— Harry…
— Anderson, me ajuda! O que eu faço? Me diz qualquer coisa.
— Primeiro, a gente precisa segurar esse divórcio, mais uma vez.
— Como? Violeta se recusa a me deixar ficar perto, ela não deixa nem eu ver minhas filhas, minhas próprias filhas! — O tom da minha voz ja havia se alterado faz tempo.
— Olha, eu não posso fazer muito agora, tentei convencer a Violeta a esperar, mas ela disse que se eu não fizesse isso encontraria outro advogado.
— Isso não pode estar acontecendo…
— Se esse divórcio for pra frente agora, você pode perder muito mais do que a Aurora.
— Como assim?
— A guarda da Isadora, da Amélia, ela pode querer guarda total delas.
— Não, Violeta nunca faria isso, ela sabe o quanto tô lutando pela Aurora, ela nunca pediria a guarda total das meninas. — Tentava me convencer mais do que a ele. — Ela nunca faria isso comigo.
— Você tem certeza? Ela tá magoada, se sente traída e agora com esse bebê, tudo pode mudar, Harry.
— Ela nunca faria isso, eu sei que não. — Era uma tentativa desesperada de me convencer.
— Concentra em falar com a Violeta, eu vou tentar ganhar tempo na audiência.
— Tudo bem.
— Te vejo em cinco dias, espero que até lá você tenha resolvido alguma coisa e prometo fazer de tudo para que Bryan não ganhe essa.
— Muito obrigado.
— Fique bem, Harry.
A ligação caiu, mas eu continuei segurando o celular como se ele ainda pudesse me dizer o que fazer, como se pudesse me dar a resposta mágica que faria tudo ficar bem de novo, mas nada disso ia acontecer e quanto mais cedo eu aceitasse isso, menos tempo eu perderia tentando salvar o que já não existia mais.
...
Dois dias.
Dois dias que passei naquele hotel de merda, onde cheirava a mofo, o chuveiro mal aquecia, o ar condicionado fazia um barulho insuportável toda vez que eu tentava dormir e as paredes eram tão finas que dava para ouvir as brigas do casal do quarto ao lado, mas por algum motivo eu continuava voltando para aquele lugar, porque era única coisa que me restou.
Eu tentei voltar para casa, mas Violeta trocou as fechaduras de todas as portas, ignorou minhas ligações e mensagens e quando eu apareci implorando para ver as meninas, ela sequer abriu.
Como ela se atrevia a me afastar das minhas próprias filhas?
Estava bravo.
Com Violeta.
Comigo mesmo.
Com o maldito Bryan.
Com o mundo inteiro.
Nada estava certo.
Eu precisava encontrar um lugar novo, um apartamento que fosse meu ainda que provisório, um espaço onde eu pudesse ficar com minhas filhas, mesmo que por poucas horas. O hotel já me incomodava, continuar ali parecia um capricho sem sentido, quando eu já tinha uma casa, havia coisas mais importantes como advogado, detetive, escola, contas, a casa que eu ainda bancava sozinho, coisas que realmente justificavam o meu dinheiro, ficar desperdiçando com coisas luxuosas agora, só por orgulho, não fazia sentido.
Então passei a manhã inteira visitando imóveis que pareciam pequenos demais ou absurdamente caros para o pouco que eu estava disposto a investir agora, não queria nada com o padrão de vida que eu tenho, nada excessivo, era tudo temporário, apenas algo até que a Violeta se acalmasse e eu pudesse voltar pra casa.
Quando o relógio passou do meio-dia, eu já estava faminto e com o humor ainda pior, a fome apertou o suficiente para ser impossível ignorar, acabei parando em um restaurante para comer, só para perceber que tinha escolhido justamente o que Lily trabalhava.
— O que você quer? — Perguntou com desdém, assim que se aproximou da mesa.
Ótimo, ser tratado mal por mais uma mulher era exatamente o que eu precisava.
— Um cheeseburger e uma Coca — Murmurei, sem nem me dar ao trabalho de encará-la.
Eu precisava de alguma coisa que me fizesse sentir menos fodido, algo que eu pudesse cuidar e fazer certo, então peguei o telefone e mandei uma mensagem para Aurora.
Eu: Eu posso ver o bebê, hoje?
O bebê era única coisa que ainda me dava alguma esperança de não ser um completo fracasso, era estranho pensar que eu estava me apegando a uma criança que ainda nem tinha nascido, uma criança que nem ficaria comigo, mas talvez eu precisasse disso, um propósito, algo que eu não me deixasse enlouquecer de vez.
Docinho: Não.
Eu: Por quê?!
Docinho: Gabriel não está aqui.
Então era isso agora?
Eu precisava de autorização daquele merdinha pra ver o meu filho?
Isso era um absurdo.
Eu: É sério isso, Aurora?
Docinho: Você aceitou as regras, não lembra?
Uma regra estúpida e irracional, como se aquele insignificante pudesse decidir quando eu podia ou não ver meu próprio filho.
Eu: Não quero saber desse idiota, quero ver o meu filho e não quero ninguém se metendo entre nós.
Ela não respondeu.
Porra.
Nem isso.
Nem isso eu consigo ter.
Lily voltou com meu prato e jogou praticamente a comida na mesa, eu agradeci por educação, peguei o celular de novo esperando que Aurora me respondesse, enquanto mordia o cheeseburger, uma notificação apareceu.
Um dos corretores finalmente respondeu.
Corretor 7: Oi, posso te mostrar o apartamento hoje? Estou por aqui agora, se quiser dar uma olhada.
Cliquei no link da localização.
A notificação mal tinha aberto e meu coração já tinha pulado uma batida.
Eu conhecia aquele endereço.
Conhecia bem demais.
Era o prédio da Aurora.
Senti uma coisa estranha no peito, uma estúpida esperança, era só um apartamento, só uma coincidência, eu sabia disso, mas minha mente já começou a imaginar.
E se eu realmente me mudasse para lá?
Talvez, sem perceber, eu acabei torcendo para esse apartamento ser o apartamento, porque se fosse eu estaria perto das minhas meninas, estaria perto dela, estaria perto do nosso bebê, mesmo que eu não tenha mais o direito de querer isso, mesmo no meio de toda essa merda que esta minha vida, talvez esse apartamento fosse minha chance de recomeçar, bem ao lado da única pessoa que ainda faz meu coração disparar.
Eu: Já estou a caminho.
Aurora
Gabriel precisava saber.
Eu não conseguia mais esconder aquilo dentro de mim, desde que ele voltou de viagem, eu me sentia estranha, mal conseguia beijá-lo sem pensar no Bryan.
Era automático e irritante.
Gabriel foi carinhoso desde que chegou, como sempre, trouxe presentes para mim e para o bebê e eu me sentia culpada por permitir que Bryan se infiltrasse na minha cabeça, mesmo quando eu tentava ao máximo ignorá-lo.
Eu tentei agir normal, fingir que nada tinha acontecido, mas quanto mais eu fingia, mais aquilo me corroía, eu sabia que precisava contar logo, antes que eu enlouquecesse de vez.
Porque foi Bryan.
Porque eu deixei.
Eu deixei?
Não importava.
Eu nunca mais vou deixar isso acontecer de novo.
O celular estava na minha mão há quase uma hora, eu discava o número dele, mas não tinha coragem de ligar.
E se ele entendesse tudo errado?
Eu não conseguia fazer isso por ligação.
Eu: Oi.
Gabi: Oi, amor, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Eu: Quando você chegar do trabalho, você pode passar aqui? Tem uma coisa importante que eu preciso te contar.
Gabi: Assim, você me deixa preocupado, algo aconteceu com você? Com bebê?
Eu: Não se preocupe.
Gabriel: Okay, mas pode esperar por mim lá em casa? Pega a chave reserva.
Eu: Prefiro esperar você aqui, mas se estiver muito cansado, podemos conversar outro dia.
Gabriel: Eu estou um pouco e você sabe que o emprego novo é muito longe do seu apartamento, mas pode me esperar lá, meu tio não está em casa, ele foi está em Nova York desde a semana passada, só volta no fim de semana.
Bryan estava longe, isso era o que precisava, porque eu não conseguia encará-lo e reviver o que aconteceu, também não conseguiria dizer tudo o que tinha para dizer para Gabriel com ele lá.
Eu: Então, tudo bem, vou te esperar lá.
Gabi: Ótimo, preciso ir, até mais tarde, te amo ♡
A chave reserva estava onde Gabriel havia mencionado, escondida dentro de um pequeno vaso ao lado da porta, respirei fundo antes de girar a maçaneta, entrei na casa, deixei minha bolsa no encosto do sofá, por um momento considerei voltar para o carro e ir embora.
E se ele não acreditasse em mim?
Fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei uma garrafa d’água, meus dedos tremiam pelo nervosismo, Gabriel disse para eu esperar aqui, mas ficar sozinha naquele lugar me deixava desconfortável, talvez eu não devesse ter vindo.
Talvez eu só estivesse com medo do que aconteceria se eu contasse, mas eu não podia dar para trás agora, ficar nessa cozinha me dava arrepios, só de lembrar a última vez que estive ali, era melhor esperar Gabriel no único lugar onde eu me sentia segura naquela casa.
Subir aquelas escadas nunca pareceu tão difícil com gravidez, dificultando cada movimento, eu estava subindo o último degrau quando um som me fez parar.
Era um grito?
A primeira coisa que pensei foi que alguém estava machucado, que algo terrível estava acontecendo, mas, à medida que cheguei mais perto do quarto, eu percebi...
Era um gemido.
Não... Vários.
Altos.
Vindo do quarto de Bryan...
Ele não era para estar viajando?
Meu coração disparou, eu queria sair dali, queria fingir que nunca tinha ouvido aquilo, mas quando dei um passo para trás, esbarrei na mesinha do corredor e uma estrutura decorativa de metal, cheia de pequenas bolinhas brilhantes caiu, as bolinhas rolaram para todas as direções, saltando e quicando pelo piso de madeira.
Merda.
Me abaixei instintivamente para pegar, mas o peso da barriga não me deixava fazer muita coisa.
O que quer que estivesse acontecendo naquele quarto tinha parado, eu precisava sair dali, deixar as malditas bolinhas no chão e simplesmente ir embora, mas a porta se abriu.
— Espiando, raposinha?
Lentamente levantei o olhar, Bryan estava só com uma cueca branca, a pele dele brilhava com uma leve camada de suor, seu cabelo bagunçado, o peito subindo e descendo em uma respiração irregular, era impossível não notar o volume evidente marcando sem pudor o que ele estava fazendo há alguns segundos e ele nem parecia tentar disfarçar.
— Desculpe... Eu não...
— Não é muito educado ficar ouvindo atrás da porta, sabia?
— Eu... — Minha mente não conseguia raciocinar direito. — Eu não sabia que você estava aqui.
— Ah, não? Então, o que você está fazendo aqui?
— Gabriel pediu para eu esperar aqui, ele disse que você estava em New York.
— Acabei voltando mais cedo.
— Eu vou embora. — A humilhação queimava dentro de mim.
— Devia mesmo. — Ele inclinou a cabeça. — Mas já que está aqui, fica.
— Não... Eu... Desculpe...
— Quem é essa? — Uma mulher muito bonita, alta, cabelos cacheados, apareceu vestindo apenas a camisa dele.
— Ninguém. — Ele disse aquilo com tanta naturalidade, como se minha presença não fosse nada.
Levantei com todo meu esforço para sair dali, eu queria desaparecer, nunca devia ter vindo, desci as escadas na mesma lentidão que subi, odiando o fato de ter uma barriga tão pesada naquele momento, assim que cheguei ao sofá para pegar minha bolsa, eu ouvi os saltos vindo da escada, levantei a cabeça, Bryan descia as escadas, agora vestido com uma calça moletom, aparentemente ele se recusava a usar uma camisa, a mulher veio logo atrás, eles pararam na porta, então ele a beijou.
Senti o estômago virar, com certeza ele poderia ter evitado praticamente comer ela na minha frente, mas sabia que ele queria que eu viesse, Bryan encostou-se na batente da porta, observando enquanto ela ia embora, só então ele se virou para mim.
— O que foi, raposinha? — Ele me olhou de cima a baixo. — Vai me dizer que ficou com ciúmes? — Revirei os olhos já sem paciência, fui em direção à porta, mas antes que pudesse alcançá-la, Bryan se colocou no caminho, impedindo minha passagem. — Ah, não fica assim, aquele tipo de mulher nunca teve a menor chance comigo, ela é só passatempo.
— Bryan... — Soltei um longo suspiro, tentando manter a calma. — Será que dá para parar? Eu não estou no clima para suas provocações hoje.
— Aí! — Disse com um ar de deboche. — Achei que você fosse mais divertida.
— Eu não sou divertida, Bryan, eu estou grávida, estressada e cansada de ser tratada como um brinquedo. — Empurrei seu peito, tentando abrir espaço entre nós. — Agora, me dá licença.
Quando ergui a mão para afastá-lo de novo, ele segurou meu pulso com firmeza.
— Você é diferente, Aurora, já disse, eu gosto de você.
— Por favor, para com isso.
— Eu realmente quero você. — Ele se inclinou, sussurrando perto da minha orelha.
— Bryan, chega! Você já não se divertiu o bastante hoje?
— Não o suficiente, não foi com você.
— Para! — Berrei sem pensar. — Você não gosta de mim, só quer me provocar porque sou namorada do seu sobrinho, não passo de um fantoche para você, mas eu cansei de ser seu brinquedinho, eu vou contar tudo para o Gabriel. — Me arrependi no momento em que disse aquilo, mas ele iria descobrir de qualquer maneira.
— Oh... Vai, é?! — Ele ergueu a sobrancelha, como se não acreditasse no que tinha ouvido.— Você vai mesmo?
— Sim, ele precisa saber.
— Saber o quê, exatamente?
— Para começar, o beijo do Ano Novo.
— Aquilo nem foi um beijo, Aurora, eu só encostei os lábios nos seus por, sei lá, dois segundos? Mas, se isso te incomoda tanto, posso te dar um beijo de verdade, aí terá algo para contar.
Ele se aproximou mais, até o espaço entre nos praticamente sumir, segurou meu rosto com suas mãos, num movimento rápido colou seus lábios nos meus me forçando a ficar ali, a sentir seus lábios, sentir seu gosto, mesmo eu não querendo mais sentir nada eu não conseguia sair dali, eu estava presa entre suas mãos fortes, senti sua língua tentar invadir minha boca, eu só queria que ele parasse, tentei empurrá-lo, mas era como empurrar uma parede de concreto.
Então eu parei de lutar, não pude fazer nada além de ceder e só esperar até que ele se afastasse. Seu gosto ficou grudado em mim, meu corpo agiu no impulso, eu não sei como tomei coragem para levantar a minha mão e bater com força no rosto dele.
O estalo do tapa o fez recuar, levando a mão à bochecha, os olhos arregalados, sem entender direito o que tinha acabado de acontecer.
— Então é assim? — O tom da sua voz não era mais tão sedutor. — Você agora quer fingir que nunca quis isso?
— Eu... — Eu estava ali, parada, tremendo.
Por mais que em algum momento eu tivesse me sentido confusa com ele, não significava que podia fazer aquilo comigo.
— Você quis, cada vez que você me deixou tocar em você, não adianta tentar mentir agora, você já é minha, só falta você aceitar.
— Sua? — Eu estava começando a sentir medo do jeito que ele estava falando, não parecia o Bryan provocador de sempre, essa versão não era nada agradável. — Eu não sou sua, nunca vou ser. — Dei mais um passo atrás, sentindo um frio na espinha.
Cadê o Gabriel?
— Não é?!— Ele tentava se aproximar de novo, me encarando com olhos escuros. — É o que vamos ver...
Recuei até minhas pernas tocarem a lateral do sofá, acabei me desequilibrando, caindo meio sentada, afundando contra as almofadas, antes que pudesse me levantar. Bryan se inclinou sobre mim, forçando-me a deitar, me deixando quase esmagada entre o estofado e ele.
— Bryan, você está me apertando, eu não consigo respirar direito... Por favor, saí de cima.
— Você está tremendo, está com medo de mim? — Seus dedos brincaram com uma mecha do meu cabelo.
Eu realmente estava ficando medo, por que Gabriel estava demorando tanto?
— Você está me assustando, por favor, pare.
— Sabia que você fica tão linda quando está assustada?
— Me solta, por favor.— Algumas lágrimas involuntárias começaram a cair.
— Oh! Está chorando? — Acariciou minha bochecha molhada.— Eu até poderia te soltar, mas por que eu faria isso, com você chorando tão bonitinho? — Um leve sorriso torto se formou em seus lábios.
Nunca ouvi Bryan falar assim.
Ele sempre foi assim?
Eu olhei para a porta, mas sabia que não conseguiria correr, não desse jeito, não com essa barriga, isso me deixava ainda mais desesperada.
— Por favor... Bryan... Por favor, saia de cima de mim.
— Acho que não.— Eu tentei me levantar, mais uma vez, mas o corpo dele era muito pesado. — Até porque, por sua culpa, eu não terminei o que comecei mais cedo, o que eu faço com isso agora?
Bryan alcançou minha mão, fazendo-a descer sobre nós dois, foi então que senti algo rígido e quente sob minha palma através do tecido do moletom, arregalei os olhos e o sorriso dele se alargou, satisfeito.
Ele estava... duro.
Meu corpo ainda tremia, as lágrimas caíam sob minha pele e ele estava excitado.
Então era isso?
Era isso que o excitava?
Ver alguém assim?
Frágil, sem saber se corre ou se implora?
Eu estava com medo do que poderia acontecer, mas ele nunca faria isso comigo.
Não.
Ele não.
Faria?
Eu já não sabia, mas o que ele era capaz.
— Sente isso, raposinha? Você me deixa tão duro... — Eu tentei empurrá-lo, mas ele estava segurando minha mão com tanta força que eu não conseguia soltá-la. — Isso é o que você faz comigo, sabia?
— Por favor, me solte. — Continuei tentando puxar minha mão, mas ele não me deixava, a cada segundo ficava mais apavorada.
— Eu sei que você gosta, então fica quieta e deixa eu fazer o que eu quiser.
— Não... Por favor, não faça nada comigo, por favor, Bryan. — Implorei, fechando os olhos e deixando mais lágrimas rolarem.
Ele...
O bebê...
Não...
Ele segurou meu rosto com força, com a mão livre, me obrigando a olhar para ele.
— Você sabe que quis isso o tempo todo, agora vem me bater como se eu fosse o monstro?
— Me desculpa...— Supliquei entre os soluços. — Por favor... Me solta! — Eu me debatia, desesperada, mas ele não cedia.— Eu não queria te bater, me desculpa, eu só me assustei! Por favor, não me machuque! Não machuque nós dois.
Eu precisava fugir, mas não conseguia me mover, eu rezava para que Gabriel aparecesse e me tirasse dali.
Eu usei toda a força que tinha para empurrá-lo, mas não teve nenhum impacto em seu corpo e só o fez rir de mim.
— Oh! Aurora, você acha que tem chance contra mim? — A risada que ele me dava me causava calafrios.
— Bryan, sai de cima de mim, me deixa ir.
— Para de se debater. — Finalmente soltou minha mão que estava nele. — Eu vou te soltar, você sabe que eu nunca faria nada que você realmente não quisesse, não é? — Passou seu polegar por minha bochecha quente. — Mas da próxima vez, é melhor pensar duas vezes antes de levantar a mão para mim, entendeu?
— Sim.
Ele iria me soltar.
Ele ia...
Um alívio começou a tomar conta de mim.
— Só mais uma coisinha. — Seus dedos foram descendo do meu pescoço até meus seios, eu tentei afastar sua mão, mas ele apenas me olhou com aquele olhar de quem sabe que eu não tinha escolha. — Você vai ficar bem quietinha sobre o que aconteceu, até porque, você acha mesmo que ele vai acreditar em você?
— Eu... Eu não preciso que ele acredite, eu só preciso que ele saiba.
— Você é tão ingênua. — Riu, pressionando o indicador contra os meus lábios com calma. — Acha mesmo que o Gabriel é burro o suficiente para não perceber que você também me queria?
— Ele...
— Faz-me o favor, né? — Bryan me cortou, com um sorriso debochado. — Você já abriu as pernas para um cara casado, acha mesmo que ele vai acreditar em você?
Por que ele estava falando assim comigo?
Por que ele estava sendo tão cruel?
Eu não sabia...
Meu rosto queimava de vergonha.
Mas...
E se ele tivesse razão?
E se ninguém acreditar em mim?
Se Gabriel me visse agora, ele entenderia, não entenderia?
— Conta para ele, vai lá, eu quero ver se você realmente tem coragem. — A mão dele apertou meu queixo, forçando-me a olhar para ele, mais uma vez. — Tem certeza que quer perder o único homem que ainda quer você?
Ele riu e finalmente me soltou, se levantando devagar ajeitando o moletom como se nada tivesse acontecido, enquanto cada célula do meu corpo tremia, o meus pulmões mal conseguiam funcionar e meus olhos ardiam de tanto chorar.
— Eu vou tomar um banho, mas fique à vontade para esperar o Gabriel.
Bryan olhou pra mim como se soubesse, como se já tivesse certeza de que eu jamais ia dizer nada e subiu as escadas, me deixando ali.
Livre.
O cheiro, o gosto, o toque de Bryan ainda estava impregnado em mim, eu sentia nojo de mim mesma, me forcei a levantar, a andar, a me afastar, a ir embora.
Ele me deixou ir de propósito, porque sabia que eu não faria nada.
Eu fiquei repetindo as palavras dele na minha cabeça, como um eco.
Conta pra ele.
Vai lá.
Quero ver.
Quero ver.
Quero ver.
E no fim ele sempre soube que eu só ia fugir.
Obrigado por ler até aqui 💗 O feedback através de um comentário é muito apreciado!
Esta ansiosa (o) para o próximo?
(Se você já viveu algo parecido, ou conhece alguém que tenha vivido, saiba que você não está sozinho(a).
Não hesite em procurar ajuda, todos merecem respeito, acolhimento e justiça.)
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Yes Sir! Capítulo 45
[AVISO DE GATILHO | +18]
Este capítulo contém cenas de violência psicológica, tentativa de abuso sexual e coerção, que podem ser altamente perturbadoras para alguns leitores, se você é sensível a esse tipo de conteúdo, recomendo fortemente que pule este capítulo. Sua saúde emocional vem em primeiro lugar. Mesmo que você não tenha gatilhos específicos, a leitura pode causar desconforto, leia apenas se estiver certo(a) de que está emocionalmente preparado(a).
A partir daqui, a decisão é sua e só sua.
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora:Desculpa a demora, gente, foi tenso escrever esse capítulo o mais difícil até agora, to nervosa com o que vocês vão achar, mas espero que consigam entender a importância dele dentro da história
Harry
Minhas roupas estavam largadas de qualquer jeito na mala aberta sobre a cama, eu não sabia para onde ir, Violeta realmente estava falando sério.
Implorei.
Chorei.
Gritei.
Nada adiantou.
Era o fim.
O fim de nós dois.
O celular vibrou ao lado da mala, o nome do Anderson iluminava a tela, esperando boas notícias sobre o caso contra Bryan.
Alguma coisa precisava estar indo bem na minha vida.
— Alô?
— Harry, que merda está acontecendo?
— Do que você está falando?
— A Violeta me ligou, furiosa, o que diabos você fez?
— O que ela disse?
— Quer o divórcio, mas vocês não iam esperar a audiência da Aurora? Que porra aconteceu?
— Ela me mandou embora, me expulsou de casa. — Deixei escapar, quase como um sussurro.
Era vergonhoso demais estar nessa situação.
— Harry… — Pude ouvir um suspiro longo atrás da linha.— Inacreditável.
— Pois é.
— O que você fez?
— Ela... — Fechei os olhos, sentando-me na cama. — Ela descobriu.
— Descobriu o quê?
— Que eu… — Abri a boca, mas só depois de alguns segundos consegui empurrar a frase pra fora. — Eu vou ter outro filho.
— Espera, o quê?
— Eu fiz merda, Anderson, muita merda...
— Porra, Harry.
— Eu sei. — Soltei um suspiro cansado. — Eu sei que estou fodido.
— Ela destruiu você e você fez o mesmo com ela.
— Eu sei.
— Cara, talvez esse divórcio seja realmente o melhor, mas isso agora complica tudo, sabe.
— Eu não queria que fosse assim. — Afundei no colchão, encarando o teto. — Eu nem queria contar isso agora, mas no fim eu fui um idiota mais uma vez.
— Como amigo, eu realmente sinto muito.
— Mas me diz, você me ligou só por isso ou pelo menos tem alguma notícia boa sobre o caso da guarda?
— Escuta…
— O que foi? — Senti um arrepio subir pela espinha.
— Nada.
— Como assim, nada?
— Falei com o detetive, ele tentou contato com as vítimas, mas ninguém quis denunciar, o hospital se recusou a colaborar, não tem provas suficientes contra o Bryan, nada que sustente num tribunal.
— Não… não pode ser… — Meu coração disparou.
— Eu sinto muito, queria mesmo ter algo melhor pra te dar.
— Então… eu vou perder minha filha? — A dor aguda começou a esmagar meu peito. — Não! Nós só temos cinco dias! Nós precisamos de algo! Por favor me diz que tem algum plano, não posso perder a Aurora, eu não posso!
— Harry…
— Anderson, me ajuda! O que eu faço? Me diz qualquer coisa.
— Primeiro, a gente precisa segurar esse divórcio, mais uma vez.
— Como? Violeta se recusa a me deixar ficar perto, ela não deixa nem eu ver minhas filhas, minhas próprias filhas! — O tom da minha voz ja havia se alterado faz tempo.
— Olha, eu não posso fazer muito agora, tentei convencer a Violeta a esperar, mas ela disse que se eu não fizesse isso encontraria outro advogado.
— Isso não pode estar acontecendo…
— Se esse divórcio for pra frente agora, você pode perder muito mais do que a Aurora.
— Como assim?
— A guarda da Isadora, da Amélia, ela pode querer guarda total delas.
— Não, Violeta nunca faria isso, ela sabe o quanto tô lutando pela Aurora, ela nunca pediria a guarda total das meninas. — Tentava me convencer mais do que a ele. — Ela nunca faria isso comigo.
— Você tem certeza? Ela tá magoada, se sente traída e agora com esse bebê, tudo pode mudar, Harry.
— Ela nunca faria isso, eu sei que não. — Era uma tentativa desesperada de me convencer.
— Concentra em falar com a Violeta, eu vou tentar ganhar tempo na audiência.
— Tudo bem.
— Te vejo em cinco dias, espero que até lá você tenha resolvido alguma coisa e prometo fazer de tudo para que Bryan não ganhe essa.
— Muito obrigado.
— Fique bem, Harry.
A ligação caiu, mas eu continuei segurando o celular como se ele ainda pudesse me dizer o que fazer, como se pudesse me dar a resposta mágica que faria tudo ficar bem de novo, mas nada disso ia acontecer e quanto mais cedo eu aceitasse isso, menos tempo eu perderia tentando salvar o que já não existia mais.
...
Dois dias.
Dois dias que passei naquele hotel de merda, onde cheirava a mofo, o chuveiro mal aquecia, o ar condicionado fazia um barulho insuportável toda vez que eu tentava dormir e as paredes eram tão finas que dava para ouvir as brigas do casal do quarto ao lado, mas por algum motivo eu continuava voltando para aquele lugar, porque era única coisa que me restou.
Eu tentei voltar para casa, mas Violeta trocou as fechaduras de todas as portas, ignorou minhas ligações e mensagens e quando eu apareci implorando para ver as meninas, ela sequer abriu.
Como ela se atrevia a me afastar das minhas próprias filhas?
Estava bravo.
Com Violeta.
Comigo mesmo.
Com o maldito Bryan.
Com o mundo inteiro.
Nada estava certo.
Eu precisava encontrar um lugar novo, um apartamento que fosse meu ainda que provisório, um espaço onde eu pudesse ficar com minhas filhas, mesmo que por poucas horas. O hotel já me incomodava, continuar ali parecia um capricho sem sentido, quando eu já tinha uma casa, havia coisas mais importantes como advogado, detetive, escola, contas, a casa que eu ainda bancava sozinho, coisas que realmente justificavam o meu dinheiro, ficar desperdiçando com coisas luxuosas agora, só por orgulho, não fazia sentido.
Então passei a manhã inteira visitando imóveis que pareciam pequenos demais ou absurdamente caros para o pouco que eu estava disposto a investir agora, não queria nada com o padrão de vida que eu tenho, nada excessivo, era tudo temporário, apenas algo até que a Violeta se acalmasse e eu pudesse voltar pra casa.
Quando o relógio passou do meio-dia, eu já estava faminto e com o humor ainda pior, a fome apertou o suficiente para ser impossível ignorar, acabei parando em um restaurante para comer, só para perceber que tinha escolhido justamente o que Lily trabalhava.
— O que você quer? — Perguntou com desdém, assim que se aproximou da mesa.
Ótimo, ser tratado mal por mais uma mulher era exatamente o que eu precisava.
— Um cheeseburger e uma Coca — Murmurei, sem nem me dar ao trabalho de encará-la.
Eu precisava de alguma coisa que me fizesse sentir menos fodido, algo que eu pudesse cuidar e fazer certo, então peguei o telefone e mandei uma mensagem para Aurora.
Eu: Eu posso ver o bebê, hoje?
O bebê era única coisa que ainda me dava alguma esperança de não ser um completo fracasso, era estranho pensar que eu estava me apegando a uma criança que ainda nem tinha nascido, uma criança que nem ficaria comigo, mas talvez eu precisasse disso, um propósito, algo que eu não me deixasse enlouquecer de vez.
Docinho: Não.
Eu: Por quê?!
Docinho: Gabriel não está aqui.
Então era isso agora?
Eu precisava de autorização daquele merdinha pra ver o meu filho?
Isso era um absurdo.
Eu: É sério isso, Aurora?
Docinho: Você aceitou as regras, não lembra?
Uma regra estúpida e irracional, como se aquele insignificante pudesse decidir quando eu podia ou não ver meu próprio filho.
Eu: Não quero saber desse idiota, quero ver o meu filho e não quero ninguém se metendo entre nós.
Ela não respondeu.
Porra.
Nem isso.
Nem isso eu consigo ter.
Lily voltou com meu prato e jogou praticamente a comida na mesa, eu agradeci por educação, peguei o celular de novo esperando que Aurora me respondesse, enquanto mordia o cheeseburger, uma notificação apareceu.
Um dos corretores finalmente respondeu.
Corretor 7: Oi, posso te mostrar o apartamento hoje? Estou por aqui agora, se quiser dar uma olhada.
Cliquei no link da localização.
A notificação mal tinha aberto e meu coração já tinha pulado uma batida.
Eu conhecia aquele endereço.
Conhecia bem demais.
Era o prédio da Aurora.
Senti uma coisa estranha no peito, uma estúpida esperança, era só um apartamento, só uma coincidência, eu sabia disso, mas minha mente já começou a imaginar.
E se eu realmente me mudasse para lá?
Talvez, sem perceber, eu acabei torcendo para esse apartamento ser o apartamento, porque se fosse eu estaria perto das minhas meninas, estaria perto dela, estaria perto do nosso bebê, mesmo que eu não tenha mais o direito de querer isso, mesmo no meio de toda essa merda que esta minha vida, talvez esse apartamento fosse minha chance de recomeçar, bem ao lado da única pessoa que ainda faz meu coração disparar.
Eu: Já estou a caminho.
Aurora
Gabriel precisava saber.
Eu não conseguia mais esconder aquilo dentro de mim, desde que ele voltou de viagem, eu me sentia estranha, mal conseguia beijá-lo sem pensar no Bryan.
Era automático e irritante.
Gabriel foi carinhoso desde que chegou, como sempre, trouxe presentes para mim e para o bebê e eu me sentia culpada por permitir que Bryan se infiltrasse na minha cabeça, mesmo quando eu tentava ao máximo ignorá-lo.
Eu tentei agir normal, fingir que nada tinha acontecido, mas quanto mais eu fingia, mais aquilo me corroía, eu sabia que precisava contar logo, antes que eu enlouquecesse de vez.
Porque foi Bryan.
Porque eu deixei.
Eu deixei?
Não importava.
Eu nunca mais vou deixar isso acontecer de novo.
O celular estava na minha mão há quase uma hora, eu discava o número dele, mas não tinha coragem de ligar.
E se ele entendesse tudo errado?
Eu não conseguia fazer isso por ligação.
Eu: Oi.
Gabi: Oi, amor, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Eu: Quando você chegar do trabalho, você pode passar aqui? Tem uma coisa importante que eu preciso te contar.
Gabi: Assim, você me deixa preocupado, algo aconteceu com você? Com bebê?
Eu: Não se preocupe.
Gabriel: Okay, mas pode esperar por mim lá em casa? Pega a chave reserva.
Eu: Prefiro esperar você aqui, mas se estiver muito cansado, podemos conversar outro dia.
Gabriel: Eu estou um pouco e você sabe que o emprego novo é muito longe do seu apartamento, mas pode me esperar lá, meu tio não está em casa, ele foi está em Nova York desde a semana passada, só volta no fim de semana.
Bryan estava longe, isso era o que precisava, porque eu não conseguia encará-lo e reviver o que aconteceu, também não conseguiria dizer tudo o que tinha para dizer para Gabriel com ele lá.
Eu: Então, tudo bem, vou te esperar lá.
Gabi: Ótimo, preciso ir, até mais tarde, te amo ♡
A chave reserva estava onde Gabriel havia mencionado, escondida dentro de um pequeno vaso ao lado da porta, respirei fundo antes de girar a maçaneta, entrei na casa, deixei minha bolsa no encosto do sofá, por um momento considerei voltar para o carro e ir embora.
E se ele não acreditasse em mim?
Fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei uma garrafa d’água, meus dedos tremiam pelo nervosismo, Gabriel disse para eu esperar aqui, mas ficar sozinha naquele lugar me deixava desconfortável, talvez eu não devesse ter vindo.
Talvez eu só estivesse com medo do que aconteceria se eu contasse, mas eu não podia dar para trás agora, ficar nessa cozinha me dava arrepios, só de lembrar a última vez que estive ali, era melhor esperar Gabriel no único lugar onde eu me sentia segura naquela casa.
Subir aquelas escadas nunca pareceu tão difícil com gravidez, dificultando cada movimento, eu estava subindo o último degrau quando um som me fez parar.
Era um grito?
A primeira coisa que pensei foi que alguém estava machucado, que algo terrível estava acontecendo, mas, à medida que cheguei mais perto do quarto, eu percebi...
Era um gemido.
Não... Vários.
Altos.
Vindo do quarto de Bryan...
Ele não era para estar viajando?
Meu coração disparou, eu queria sair dali, queria fingir que nunca tinha ouvido aquilo, mas quando dei um passo para trás, esbarrei na mesinha do corredor e uma estrutura decorativa de metal, cheia de pequenas bolinhas brilhantes caiu, as bolinhas rolaram para todas as direções, saltando e quicando pelo piso de madeira.
Merda.
Me abaixei instintivamente para pegar, mas o peso da barriga não me deixava fazer muita coisa.
O que quer que estivesse acontecendo naquele quarto tinha parado, eu precisava sair dali, deixar as malditas bolinhas no chão e simplesmente ir embora, mas a porta se abriu.
— Espiando, raposinha?
Lentamente levantei o olhar, Bryan estava só com uma cueca branca, a pele dele brilhava com uma leve camada de suor, seu cabelo bagunçado, o peito subindo e descendo em uma respiração irregular, era impossível não notar o volume evidente marcando sem pudor o que ele estava fazendo há alguns segundos e ele nem parecia tentar disfarçar.
— Desculpe... Eu não...
— Não é muito educado ficar ouvindo atrás da porta, sabia?
— Eu... — Minha mente não conseguia raciocinar direito. — Eu não sabia que você estava aqui.
— Ah, não? Então, o que você está fazendo aqui?
— Gabriel pediu para eu esperar aqui, ele disse que você estava em New York.
— Acabei voltando mais cedo.
— Eu vou embora. — A humilhação queimava dentro de mim.
— Devia mesmo. — Ele inclinou a cabeça. — Mas já que está aqui, fica.
— Não... Eu... Desculpe...
— Quem é essa? — Uma mulher muito bonita, alta, cabelos cacheados, apareceu vestindo apenas a camisa dele.
— Ninguém. — Ele disse aquilo com tanta naturalidade, como se minha presença não fosse nada.
Levantei com todo meu esforço para sair dali, eu queria desaparecer, nunca devia ter vindo, desci as escadas na mesma lentidão que subi, odiando o fato de ter uma barriga tão pesada naquele momento, assim que cheguei ao sofá para pegar minha bolsa, eu ouvi os saltos vindo da escada, levantei a cabeça, Bryan descia as escadas, agora vestido com uma calça moletom, aparentemente ele se recusava a usar uma camisa, a mulher veio logo atrás, eles pararam na porta, então ele a beijou.
Senti o estômago virar, com certeza ele poderia ter evitado praticamente comer ela na minha frente, mas sabia que ele queria que eu viesse, Bryan encostou-se na batente da porta, observando enquanto ela ia embora, só então ele se virou para mim.
— O que foi, raposinha? — Ele me olhou de cima a baixo. — Vai me dizer que ficou com ciúmes? — Revirei os olhos já sem paciência, fui em direção à porta, mas antes que pudesse alcançá-la, Bryan se colocou no caminho, impedindo minha passagem. — Ah, não fica assim, aquele tipo de mulher nunca teve a menor chance comigo, ela é só passatempo.
— Bryan... — Soltei um longo suspiro, tentando manter a calma. — Será que dá para parar? Eu não estou no clima para suas provocações hoje.
— Aí! — Disse com um ar de deboche. — Achei que você fosse mais divertida.
— Eu não sou divertida, Bryan, eu estou grávida, estressada e cansada de ser tratada como um brinquedo. — Empurrei seu peito, tentando abrir espaço entre nós. — Agora, me dá licença.
Quando ergui a mão para afastá-lo de novo, ele segurou meu pulso com firmeza.
— Você é diferente, Aurora, já disse, eu gosto de você.
— Por favor, para com isso.
— Eu realmente quero você. — Ele se inclinou, sussurrando perto da minha orelha.
— Bryan, chega! Você já não se divertiu o bastante hoje?
— Não o suficiente, não foi com você.
— Para! — Berrei sem pensar. — Você não gosta de mim, só quer me provocar porque sou namorada do seu sobrinho, não passo de um fantoche para você, mas eu cansei de ser seu brinquedinho, eu vou contar tudo para o Gabriel. — Me arrependi no momento em que disse aquilo, mas ele iria descobrir de qualquer maneira.
— Oh... Vai, é?! — Ele ergueu a sobrancelha, como se não acreditasse no que tinha ouvido.— Você vai mesmo?
— Sim, ele precisa saber.
— Saber o quê, exatamente?
— Para começar, o beijo do Ano Novo.
— Aquilo nem foi um beijo, Aurora, eu só encostei os lábios nos seus por, sei lá, dois segundos? Mas, se isso te incomoda tanto, posso te dar um beijo de verdade, aí terá algo para contar.
Ele se aproximou mais, até o espaço entre nos praticamente sumir, segurou meu rosto com suas mãos, num movimento rápido colou seus lábios nos meus me forçando a ficar ali, a sentir seus lábios, sentir seu gosto, mesmo eu não querendo mais sentir nada eu não conseguia sair dali, eu estava presa entre suas mãos fortes, senti sua língua tentar invadir minha boca, eu só queria que ele parasse, tentei empurrá-lo, mas era como empurrar uma parede de concreto.
Então eu parei de lutar, não pude fazer nada além de ceder e só esperar até que ele se afastasse. Seu gosto ficou grudado em mim, meu corpo agiu no impulso, eu não sei como tomei coragem para levantar a minha mão e bater com força no rosto dele.
O estalo do tapa o fez recuar, levando a mão à bochecha, os olhos arregalados, sem entender direito o que tinha acabado de acontecer.
— Então é assim? — O tom da sua voz não era mais tão sedutor. — Você agora quer fingir que nunca quis isso?
— Eu... — Eu estava ali, parada, tremendo.
Por mais que em algum momento eu tivesse me sentido confusa com ele, não significava que podia fazer aquilo comigo.
— Você quis, cada vez que você me deixou tocar em você, não adianta tentar mentir agora, você já é minha, só falta você aceitar.
— Sua? — Eu estava começando a sentir medo do jeito que ele estava falando, não parecia o Bryan provocador de sempre, essa versão não era nada agradável. — Eu não sou sua, nunca vou ser. — Dei mais um passo atrás, sentindo um frio na espinha.
Cadê o Gabriel?
— Não é?!— Ele tentava se aproximar de novo, me encarando com olhos escuros. — É o que vamos ver...
Recuei até minhas pernas tocarem a lateral do sofá, acabei me desequilibrando, caindo meio sentada, afundando contra as almofadas, antes que pudesse me levantar. Bryan se inclinou sobre mim, forçando-me a deitar, me deixando quase esmagada entre o estofado e ele.
— Bryan, você está me apertando, eu não consigo respirar direito... Por favor, saí de cima.
— Você está tremendo, está com medo de mim? — Seus dedos brincaram com uma mecha do meu cabelo.
Eu realmente estava ficando medo, por que Gabriel estava demorando tanto?
— Você está me assustando, por favor, pare.
— Sabia que você fica tão linda quando está assustada?
— Me solta, por favor.— Algumas lágrimas involuntárias começaram a cair.
— Oh! Está chorando? — Acariciou minha bochecha molhada.— Eu até poderia te soltar, mas por que eu faria isso, com você chorando tão bonitinho? — Um leve sorriso torto se formou em seus lábios.
Nunca ouvi Bryan falar assim.
Ele sempre foi assim?
Eu olhei para a porta, mas sabia que não conseguiria correr, não desse jeito, não com essa barriga, isso me deixava ainda mais desesperada.
— Por favor... Bryan... Por favor, saia de cima de mim.
— Acho que não.— Eu tentei me levantar, mais uma vez, mas o corpo dele era muito pesado. — Até porque, por sua culpa, eu não terminei o que comecei mais cedo, o que eu faço com isso agora?
Bryan alcançou minha mão, fazendo-a descer sobre nós dois, foi então que senti algo rígido e quente sob minha palma através do tecido do moletom, arregalei os olhos e o sorriso dele se alargou, satisfeito.
Ele estava... duro.
Meu corpo ainda tremia, as lágrimas caíam sob minha pele e ele estava excitado.
Então era isso?
Era isso que o excitava?
Ver alguém assim?
Frágil, sem saber se corre ou se implora?
Eu estava com medo do que poderia acontecer, mas ele nunca faria isso comigo.
Não.
Ele não.
Faria?
Eu já não sabia, mas o que ele era capaz.
— Sente isso, raposinha? Você me deixa tão duro... — Eu tentei empurrá-lo, mas ele estava segurando minha mão com tanta força que eu não conseguia soltá-la. — Isso é o que você faz comigo, sabia?
— Por favor, me solte. — Continuei tentando puxar minha mão, mas ele não me deixava, a cada segundo ficava mais apavorada.
— Eu sei que você gosta, então fica quieta e deixa eu fazer o que eu quiser.
— Não... Por favor, não faça nada comigo, por favor, Bryan. — Implorei, fechando os olhos e deixando mais lágrimas rolarem.
Ele...
O bebê...
Não...
Ele segurou meu rosto com força, com a mão livre, me obrigando a olhar para ele.
— Você sabe que quis isso o tempo todo, agora vem me bater como se eu fosse o monstro?
— Me desculpa...— Supliquei entre os soluços. — Por favor... Me solta! — Eu me debatia, desesperada, mas ele não cedia.— Eu não queria te bater, me desculpa, eu só me assustei! Por favor, não me machuque! Não machuque nós dois.
Eu precisava fugir, mas não conseguia me mover, eu rezava para que Gabriel aparecesse e me tirasse dali.
Eu usei toda a força que tinha para empurrá-lo, mas não teve nenhum impacto em seu corpo e só o fez rir de mim.
— Oh! Aurora, você acha que tem chance contra mim? — A risada que ele me dava me causava calafrios.
— Bryan, sai de cima de mim, me deixa ir.
— Para de se debater. — Finalmente soltou minha mão que estava nele. — Eu vou te soltar, você sabe que eu nunca faria nada que você realmente não quisesse, não é? — Passou seu polegar por minha bochecha quente. — Mas da próxima vez, é melhor pensar duas vezes antes de levantar a mão para mim, entendeu?
— Sim.
Ele iria me soltar.
Ele ia...
Um alívio começou a tomar conta de mim.
— Só mais uma coisinha. — Seus dedos foram descendo do meu pescoço até meus seios, eu tentei afastar sua mão, mas ele apenas me olhou com aquele olhar de quem sabe que eu não tinha escolha. — Você vai ficar bem quietinha sobre o que aconteceu, até porque, você acha mesmo que ele vai acreditar em você?
— Eu... Eu não preciso que ele acredite, eu só preciso que ele saiba.
— Você é tão ingênua. — Riu, pressionando o indicador contra os meus lábios com calma. — Acha mesmo que o Gabriel é burro o suficiente para não perceber que você também me queria?
— Ele...
— Faz-me o favor, né? — Bryan me cortou, com um sorriso debochado. — Você já abriu as pernas para um cara casado, acha mesmo que ele vai acreditar em você?
Por que ele estava falando assim comigo?
Por que ele estava sendo tão cruel?
Eu não sabia...
Meu rosto queimava de vergonha.
Mas...
E se ele tivesse razão?
E se ninguém acreditar em mim?
Se Gabriel me visse agora, ele entenderia, não entenderia?
— Conta para ele, vai lá, eu quero ver se você realmente tem coragem. — A mão dele apertou meu queixo, forçando-me a olhar para ele, mais uma vez. — Tem certeza que quer perder o único homem que ainda quer você?
Ele riu e finalmente me soltou, se levantando devagar ajeitando o moletom como se nada tivesse acontecido, enquanto cada célula do meu corpo tremia, o meus pulmões mal conseguiam funcionar e meus olhos ardiam de tanto chorar.
— Eu vou tomar um banho, mas fique à vontade para esperar o Gabriel.
Bryan olhou pra mim como se soubesse, como se já tivesse certeza de que eu jamais ia dizer nada e subiu as escadas, me deixando ali.
Livre.
O cheiro, o gosto, o toque de Bryan ainda estava impregnado em mim, eu sentia nojo de mim mesma, me forcei a levantar, a andar, a me afastar, a ir embora.
Ele me deixou ir de propósito, porque sabia que eu não faria nada.
Eu fiquei repetindo as palavras dele na minha cabeça, como um eco.
Conta pra ele.
Vai lá.
Quero ver.
Quero ver.
Quero ver.
E no fim ele sempre soube que eu só ia fugir.
Obrigado por ler até aqui 💗 O feedback através de um comentário é muito apreciado!
Esta ansiosa (o) para o próximo?
(Se você já viveu algo parecido, ou conhece alguém que tenha vivido, saiba que você não está sozinho(a).
Não hesite em procurar ajuda, todos merecem respeito, acolhimento e justiça.)
#styles#senhora styles#1d imagines#imagineshot onedirection#imagines one direction#harry#harry styles#imagine harry styles#one direction#harry styles series#harry styles soft#harry styles sad#harry styles smut#harry styles fluff#harry styles fic#harry styles fanfic#harry styles fanfiction#harry styles fake text#harry styles wattpad#harry styles writing#yes sir#harry styles and reader#harry styles x student#student x teacher#teacher x student#harry styles dirty fanfiction#harry styles daddy kink#harry styles dirty imagine#harry styles drabble#daddy harry styles
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cah sdds de coisinhas novas por aqui 🥺ansiosa por novo capítulo de yes sir
Logo sai por aqui amore tenho dois imagines quase prontos💗 E sobre yes Sir tá demorando um pouquinho pq tô fazendo uma cena meio delicada sabe ai tá levando um pouco mais de tempo. Até no próximo capítulo terá um aviso de gatilho
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oie!
cah, quando eu fiz o pedido eu sabia que ia ser triste, mas eu não esperava que ia ser tanto! 😭
apesar de ter terminado de ler o imagine em prantos, eu ameeeeei! ficou mil vezes melhor do que eu esperava!
obrigadaaaaaa 💗
agora paga minha terapia kkkkk 🫵🏻
Aiii amiga, do qual vc está falando??? Ultimamente só tenho feito imagines triste kkkk
Mas fico feliz que gostou, aí tava inspirava em desgraça a vida de todo mundo 😅 aí só saiu sofrência
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Yes Sir! Capítulo 44
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 23 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Aurora
Meus pais insistiram para passar o Natal em Boston, em vez de ir para Cambridge como sempre. A desculpa era que queriam estar comigo nesse momento "delicado", mas eu sabia a verdade, eles só não queriam que ninguém visse o desastre que minha gravidez representava para a família. No fundo, fiquei aliviada por Gabriel viajar para o Canadá para passar as festas com a família dele, pelo menos assim ele não precisaria assistir a esse show de horrores.
— Bom, mesmo que este Natal não seja como os outros. — Comentou minha mãe, servindo-se de mais peru para meu pai — Ainda somos uma família, então vamos aproveitar.
Georgia ergueu uma sobrancelha e olhou para mim, claramente tão desconfortável como eu com a tentativa da nossa mãe de manter o clima positivo.
— E, falando nisso, já que estamos todos aqui, podemos discutir alguns detalhes importantes sobre seu futuro, Aurora. — Sorriu para mim com um entusiasmo que eu não tinha.
— Podemos fazer isso outro dia?
Eu só queria uma refeição tranquila, mas infelizmente com minha mãe era quase impossível.
— Eu estava pensando em fazer um chá de bebê, o que acha? — Ela ignorou completamente o que disse.
— Eu não quero um chá de bebê.
— Aurora, toda mãe faz um chá de bebê.
— Eu já disse que não quero.
— Você precisa parar com essa teimosia. — Ela largou os talheres na mesa. — Esse bebê não tem culpa se veio de uma gravidez vergonhosa, mas no mínimo você poderia parar de agir como se ele fosse um fardo, já que a culpa dele existir é sua.
— Mãe, se ela não quer, deixa a garota em paz, nem todo mundo ama suas festinhas. — Georgia revirou os olhos, bebendo um gole do vinho.
— Georgia, não me venha com isso, essa é uma tradição, Aurora precisa celebrar a chegada do bebê.
— Mas eu não quero celebrar nada. — Estava começando a me irritar.
— Lá vamos nós de novo. — Meu pai soltou um suspiro pesado. — Podemos fazer isso depois, eu quero comer sem o drama da Aurora pelo menos uma vez.
— Lion, eu só quero saber o futuro do meu neto. — Minha mãe ergueu as mãos. — Aurora, você ao menos já pensou em abrir aquele quarto de hóspedes? Eu nem vi o quarto do meu netinho.
— Ainda não.
— O bebê já vai nascer em alguns meses! Você quer que ele durma onde?
— Eu vou resolver isso, mãe.
— Resolver como? Você nem sabe montar um berço! Não se preocupe, vou contratar alguém para organizar tudo, em uma semana, aquele quarto vai estar pronto.
— Mãe, eu já disse que vou resolver.
— Eu desisto. — Arfou jogando o guardanapo na mesa. — Lion, fala com sua filha sobre ela voltar para Cambridge.
— O quê? Como assim?
— Sua mãe acha que você deveria voltar para Cambridge conosco depois das festas de fim de ano.
— Eu não posso pai, minha vida é aqui.
— Que vida? — Ele arqueou uma sobrancelha. — E quem exatamente faz parte dessa "vida" tão importante em Boston?
— Pessoas importantes para mim.
— O imprestável pai do bebê? — Ele estreitou olhos. — Você ao menos já contou para ele?
— Sim, já contei pra ele.
— E...?
— Ele sabe.
— Então por que esse homem nem sequer se apresentou?
— Porque é complicado.
— Complicado? — Ele riu, sarcástico. — Deixe-me ver se entendi, você engravida, avisa o pai da criança e ele simplesmente desaparece?
— Ele não desapareceu.
— Então, onde ele está? — Me segurei para não gritar. — É exatamente o que eu pensei, escute bem Aurora, eu não me importo se vocês estão juntos ou não, o que importa é que ele tem responsabilidades, não é só porque você tem dinheiro que ele pode simplesmente não assumir nada, eu quero conhecer esse homem, quero saber quem ele é, se tem caráter suficiente para assumir o papel dele.
Eles estavam me sufocando, sufocando qualquer resposta coerente que eu pudesse pensar.
— A gente pode resolver isso depois — Implorei, fechando os olhos. — Por favor?!
— Não, eu já esperei o suficiente.
Todo o controle que eu tentava manter evaporou, no segundo que ouvi meu pai, eu estava cansada de tudo aquilo.
— Será que é tão difícil assim vocês entenderem que eu não quero falar disso? — Bati na mesa com minha voz já alterada.
— Não precisa gritar. — Ele me repreendeu no mesmo tom.
— Não precisa? Você não me ouve! Nenhum de vocês me ouve!
— Estamos tentando ajudar, Aurora.
— Ajudar?! Ajudar seria pelo menos uma vez vocês me deixarem decidir o que eu quero fazer com a minha própria vida!
— Você está exagerando, Aurora. — Minha mãe resmungou.
— Exagerando? Sabe por que eu não quero chá de bebê? Por que não estou preocupada em decorar um quarto? Por que eu não quero que conheçam o pai desse bebê?! — Eu realmente estava prestes a jogar tudo aquilo?! Estava — EU NÃO VOU FICAR COM O BEBÊ.
A cozinha ficou em silêncio absoluto.
Minha mãe estava completamente paralisada.
— O que disse? — Meu pai foi o único que ficou imóvel, seu semblante tranquilo.
— Eu não vou ficar com ele — Repeti, sentindo a raiva pulsar em cada célula do meu corpo. — Vou dar para adoção.
— Então você realmente acha que pode simplesmente jogar essa criança fora como se fosse um erro que pode apagar?
— Eu não estou jogando ninguém fora, pai.
— Claro que está. — Retrucou, frio. — Você sempre fez isso, sempre fugiu das suas responsabilidades, agora não está sendo diferente.
— Isso não é fugir! — Minha garganta queimava.
— Não? O que é, então? Maturidade? — Ele riu, batendo palmas. — É você assumindo as consequências das suas responsabilidades? Porque, se fosse, você teria pensado nisso antes de se meter nessa situação. — Minhas lágrimas começaram a cair, mas ele não parou, ele não iria perder a oportunidade de me humilhar ainda mais.— Você não tem um futuro, Aurora, já jogou isso fora no momento em que se deixou aquele babaca te engravidar.
— É isso que você pensa de mim? Depois de dizer que sempre estariam aqui para me apoiar! Grande mentiroso você é.
— Ah! Aurora, eu gastei meu dinheiro pagando sua faculdade, suportei todos seus dramas, suas irresponsabilidades, todas as suas decisões idiotas e para quê? Para ver você virar isso? Uma vergonha? — Minha respiração estava acelerada, ele já havia sido cruel comigo, mas agora?! Ele estava determinado a me machucar. — Você nunca consegue tomar uma decisão decente sozinha e quer saber? Eu não me surpreendo, sempre soube que você era um desperdício de potencial.
— Se sou um desperdício, então por que continua aqui?!
— Se não fosse por nós, como iria cair na realidade?
— Você acha que não sei sobre minha realidade? A minha realidade é que eu estou grávida de um filho que eu não quero, que meu próprio pai me odeia, que eu estou tentando fazer o melhor para mim e para essa criança e vocês não conseguem aceitar porque isso não se encaixa na imagem de filha perfeita que vocês criaram!
— Não fale como se fosse uma vítima, a única pessoa que destruiu sua vida foi você mesma.
Foi a gota d’água.
— Você acha que eu destruí minha vida? Ótimo. — Me levantei tão rápido que a cadeira quase caiu para trás.— Então me deixe em paz para lidar com isso do meu jeito.
— Não quero mais ouvir nada. — Meu pai bufou e se levantou também. — Eu sabia que essa noite seria uma perda de tempo, vamos embora, Kate.
— Mãe. — Implorei, por algum apoio, mas o barulho da cadeira dela sendo empurrada para trás ecoou pelo cômodo.
— Você só pode estar louca, Aurora, se acha que eu vou deixar você dar meu neto para outra família. — Os olhos dela se encheram de lágrimas, ela virou-se para meu pai.
— Eu não consigo mais olhar para ela, vamos, eu quero ir embora.
— Parabéns, Aurora, você conseguiu estragar o Natal. — Praguejou, meu pai sem nem olhar para trás.
(...)
A televisão exibia algum especial de fim de ano em que eu não estava prestando atenção enquanto afundava mais no sofá, com um cobertor puxado até os ombros.
Sozinha.
Era assim que meu ano estava terminando.
O Natal já tinha sido um desastre, com o surto dos meus pais. Georgia até quis ficar, insistiu muito, mas eu preferi deixar ir com a mamãe, era melhor assim.
Agora estava aqui, em um apartamento vazio, tentando fingir que não me importava, que tudo o que meu pai disse para mim não havia me machucado, tentando me convencer de que ele não tinha razão sobre mim, mas a esse ponto eu realmente estava duvidando.
Eu era mesmo um desperdício de potencial?
Realmente, não havia um futuro bom para mim?
O celular vibrou ao meu lado, peguei o aparelho e vi o nome de Gabriel piscando na tela, uma chamada de vídeo, atendi, ajeitando um pouco o meu cabelo, limpando algumas lágrimas. Ele não precisava saber o quão ruim eu estava.
— Oi, amor.
— Oi.
— Como vocês estão?
— Bem.
— Sei. — Fingiu acreditar. — E as coisas com a sua família? Já se acalmaram?
— Você acha que minha mãe vai me perdoar tão fácil? Ela deve estar me xingando até agora.
— Quer que eu volte antes?
— Não, Gabriel, você está com a sua família, aproveita.
— Eu não me importo, se você precisar, eu volto.
— Eu não preciso.
— Estou falando sério, se precisar, eu pego o próximo voo para fora daqui.
— Não. — Fui rápida em dizer, antes que ele cogitasse realmente a ideia.— Você não precisa estragar as suas férias com sua família por causa de mim.
— Você não estaria estragando nada, eu preferia estar com você.
— Você é tão fofo. — Foi o máximo que consegui dizer. — Mas eu nunca me perdoaria por isso.
— Quer que eu peça para o meu tio ir aí? — Meu corpo ficou tenso. — O Bryan voltou do Canadá há dois dias, por causa de uma cirurgia de última hora para fazer.
— E por que diabos você acha que eu ia querer isso?
— Porque eu sei que você odeia ficar sozinha. — Gabriel riu, como se minha reação fosse exagerada.
— E eu prefiro ficar sozinha a ter o seu tio na minha casa!
— Relaxa, foi só uma ideia. — Ele sorriu, como se gostasse de me irritar. — Deixa eu ver você.
— Você já está me vendo. — Franzi a testa.
— Não, quero ver a barriga.
— Para quê?
— Só quero ver.
— Gabi.
— Só um pouquinho. — Fez um biquinho fofo demais para ignorar.
Soltei um suspiro, mas abaixei a câmera do celular, afastando o moletom só o suficiente para ele ver minha barriga. Do outro lado da tela, ele ficou observando.
— Nossa, não é que ela cresceu quando eu estive fora?
— Não cresceu nada, está extremamente igual, estranha e sem graça.
— Tá linda.
— Pronto, satisfeito? — Abaixei o moletom de volta.
— Por enquanto. — Ele sorriu. — Ei, você está bem mesmo?
— Sim.
— Não gosto de ver você triste.
— Não se preocupe, eu estou bem.
Ele olhou para o lado, como se conferisse se havia alguém por perto, antes de dizer aquelas três palavras que sempre acabavam comigo.
— Eu amo você, sabia?
— Eu sei.
— E sabe que não precisa se sentir pressionada para dizer de volta, não é?
— Eu sei.
— Eu preciso ir agora, mas feliz Ano Novo, minha Aurora.
— Feliz Ano Novo, Gabi. — Disse antes de encerrar a ligação.
Segurei o celular por um instante antes de soltá-lo no sofá, a primeira lágrima escorreu sem aviso, eu não queria passar a virada assim, sem ele, chorando, sozinha, mas de repente, eu não consegui mais segurar.
(...)
Eu cochilava quando o interfone tocou, levantei-me arrastando os pés no espelho ao lado da porta, meus olhos vermelhos me encaravam, e meu rosto inchado denunciava a sessão de choro de mais cedo, inspirei fundo antes de atender.
— Senhorita Aurora, tem um entregador aqui embaixo.
— Entregador?
Quem mandaria uma entrega em pleno Ano Novo?
Eu também não me lembrava de ter pedido nada.
— Sim, posso autorizar a subida?
— Ok.
Fiquei esperando na porta, tentando imaginar o que poderia ser.
Gabriel?
Talvez, mas ele já tinha me ligado mais cedo, se fosse algo dele, teria falado.
Então, só restava uma possibilidade.
Harry.
Não seria a primeira vez que ele faria algo assim, mas quando o elevador apitou e as portas se abriram, senti meu corpo travar.
Não era Harry.
Era Bryan.
O sorriso presunçoso no rosto dele me fez sentir um arrepio, o tipo de arrepio que eu odiava admitir que sentia.
Ele segurava uma pequena sacola de papel e me olhava daquele jeito.
Aquele maldito jeito.
— Oi, raposinha.
Odeio esse apelido.
Odeio o jeito que ele soa vindo dele.
— O que você está fazendo aqui?
— Seu namorado tão dedicado, lá do outro país, pediu para eu passar aqui e deixar sua torta favorita. — Bryan ergueu a sacola, balançando-a no ar. — Na cabeça dele, isso resolveria todos os seus problemas.
— Claro que ele faria isso e seria você o bom samaritano a me trazer.
Gabriel confiava demais no próprio tio.
— Uau, tanta gratidão, eu dirigi uns vinte quarteirões para te trazer isso, é assim que você me trata?
— Desculpa, mas você não precisava vir até aqui, podia simplesmente mandar outra pessoa entregar.
— Infelizmente, hoje eles não estavam fazendo entregas e eu tinha uma festa de Ano Novo para ir aqui perto, então não foi um sacrifício tão grande assim.
— Muito obrigado, mas não quero te atrapalhar sua festa. — Estendi a mão para pegar a sacola, mas ele recuou.
— Você andou chorando, raposinha?
— Eu não. — Virei o rosto, mas senti o olhar dele queimando minha pele.
— Então, a vermelhidão nos seus olhos é de felicidade?
— Bryan, eu estou bem.
— Quer saber? Eu ia nessa festa, mas posso muito bem ficar por aqui.
— Você não tem que fazer isso, sério.
Eu e ele sozinhos de novo?
Depois do que ele disse aquele dia...
Era a pior ideia possível.
— Ah, mas eu não posso sair e deixar você assim. — Antes que eu pudesse impedi-lo, ele já tinha entrado.
Fechei a porta atrás de mim, tentando ignorar a sensação estranha no peito. Não deveria me sentir aliviada por não estar sozinha, mas me senti, óbvio, que Bryan era a última pessoa que gostaria que estivesse ali, mas eu só queria um pouco de companhia.
Bryan deixou a torta na mesa, fui até lá abrir a caixa, o cheiro doce de mirtilo subiu no ar, fazendo meu estômago roncar.
Gabriel, sempre soube como me animar, mesmo longe, conseguia ser o melhor namorado do mundo. Peguei um garfo, cortei um pedaço, mas antes que eu pudesse levar à boca, Bryan surgiu atrás de mim.
— Deixa eu ver se é realmente boa. — Se inclinou, eu podia sentir seu cheiro.
— O quê?
— Quero ver se valeu o esforço para te entregar isso.
— Tudo bem, o garfo está na gaveta de cima. — Bufei.
Mas Bryan não pegou um garfo, em vez disso, segurou meu pulso, minha pele congelou, o calor da palma dele contra a minha me fez travar, então guiou minha mão até a boca dele, minha respiração falhou quando os lábios dele tocaram o garfo, ele lambeu o lábio devagar, os olhos presos nos meus.
— Hm, ok, valeu o esforço. — Sorrindo, ele se afastou como se nada tivesse acontecido.
Mas aconteceu.
Ele estava fazendo seus joguinhos de novo.
(...)
Não havia clima nenhum de festa em meu apartamento, eu talvez tivesse me arrependido de ter deixado Bryan entrar, talvez ele estivesse entendiado ao ficar ali sentado ao meu lado, com a TV ainda exibindo um especial de Ano Novo, passei os últimos trinta minutos encolhida no sofá, em silêncio, tentando ignorar Bryan para ver se ele iria embora, mas ele não pareceu se incomodar.
— Você está muito quietinha hoje. — Ele se aproximou, perto demais. — Quer me contar o que aconteceu?
— Não estou afim.
— Deve ter sido algo sério ou Gabriel não me ligaria para poder agradar você, quer que eu anime você?
— Eu não estou a fim de joguinhos hoje.
— Não seja tão ranzinza. — Ele se levantou. — Não dá para começar o ano assim. — Estendeu sua mão. — Vem, vamos ver os fogos. — Quando eu hesitei em segurá-lo, ele pegou meu pulso com delicadeza, puxando-me para levantar.
— Está frio lá fora e está nevando.
— Então eu te esquento, só vem.
— Nem pense.
Eu queria protestar, mas Bryan já havia aberto a porta da varanda, o vento gelado me atingiu, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça, algumas pessoas já soltavam fogos antes da meia-noite, eu tremi, encolhendo os braços ao redor do corpo, foi quando senti os braços de Bryan deslizaram ao meu redor, firmes, puxando-me contra ele, seu peito quente pressionou minhas costas, sua respiração roçou meu pescoço.
— Bryan.
— Relaxa. — A voz dele era baixa, como se estivesse se aninhando. — Eu só quero te aquecer, nada mais.
Na TV, a contagem regressiva começou.
Era quase meia-noite.
Dez… Nove… Oito…
— Raposinha. — Os lábios dele se aproximaram do meu ouvido. — Você sabe qual é a tradição, né?
Minha respiração falhou.
Sete… Seis…
— Não.
Mentira.
Cinco…
— Ah, claro que sabe. — Riu contra minha pele. — Você não quer começar o ano com azar, não é?
Quatro…
— Bryan.
Ele virou meu rosto levemente com seus dedos, a ponta do nariz roçando minha bochecha.
Três…
— Só um beijo, Aurora.
Dois…
— Bryan. — Minha voz mal saiu.
Um...
Os lábios dele tocaram os meus, meu coração disparou, meus braços ficaram imóveis ao lado do corpo como se estivessem grudados ali, era como se meu cérebro tivesse entrado em curto-circuito.
Isso estava acontecendo?
Bryan estava me beijando?
Eu não o beijei de volta, mas também não consegui me afastar.
— Feliz Ano Novo, raposinha. — Eu não consegui dizer nada, ele sorriu de lado, analisando meu rosto com os olhos atentos. — Vem, vamos entrar antes que congele. — Ele pegou minha mão, mas dessa vez meu corpo respondeu e eu me afastei. — O que foi?
Minha mente tentava processar o que acabou de acontecer.
Foi só um beijo de Ano Novo?
Só isso?
Era só uma tradição idiota, que qualquer um faria, amigos se beijariam, não é?
Não era nada de mais.
— Isso não devia ter acontecido. — Minha pele ainda estava queimando onde os lábios dele tinham tocado.
— Não precisa fingir que não gostou.
— Você não devia ter feito isso.
— E eu tenho culpa se você não se afastou?
— Eu não te beijei!
Ele se aproximou de novo, inclinando o rosto, para sussurrar em meu ouvido.
— Sério? Porque eu senti seus lábios se moverem.
— Eu não...
— Aurora, isso foi só um beijo, na verdade, nem sei se deveríamos dizer que isso realmente foi um beijo, então relaxa.
— Acho melhor você ir.
— Ah! Aurora, não é como se você nunca tivesse se perguntado como seria.
— Vá embora!
Eu estava sentindo culpada.
— Ah, então agora eu sou o vilão?
— Por favor, vá embora.
Ele me encarou por um segundo e então saiu, com a porta batendo atrás dele.
Minhas mãos tremiam, meu corpo tremia.
Como minha noite foi acabar assim?
Harry
O Natal tinha sido um completo desastre.
A árvore decorada no canto da sala não conseguia melhorar o clima da casa, o jantar foi um silêncio constrangedor, minha família resolveu vir de Homes Chapel para cá, mas era impossível não ver que nosso casamento estava ruindo, que nossa família era um completo desastre e nossa casa estava um caos, Isadora passou a maioria do tempo no celular, evitando me olhar, Aurora brincava com suas priminhas, era única realmente feliz ali, Violeta mal falou comigo, ela não se deu o trabalho de esconder sua insatisfação de estar ao meu lado, mesmo na frente da minha família e eu apenas fingi, fingi que era feliz, sorri para minha mãe e contei dos últimos meses, como se fosse um orgulho, não mencionei que estava lutando para não perder minha filha, não disse que descobri que vou ser pai pela quarta vez, nem se quer mencionar que estava a beira de um divórcio, eu só ignorei todo peso esmagador do fracasso e sorri.
Agora, poucos dias depois, estávamos prestes a embarcar nessa viagem, um esforço desesperado para fingirmos que ainda éramos uma família, mas a verdade era que ninguém parecia animado para isso.
O frio cortante de dezembro fazia minha pele arder enquanto eu ajeitava todas as malas no porta-malas do carro alugado.
Por que mulheres precisam de tanta coisa só para passar alguns dias fora?
— Podemos ir logo? — Isadora bufou, encostada na lateral do carro.
Violeta saiu da casa segurando Amélia, que dormia tranquila em seus braços. Rose vinha logo atrás, guiando Aurora pela mão.
Ainda bem que aceitou a proposta de ir junto, não sei o que faríamos sem ajuda nessa viagem.
— Coloque a cadeirinha dela no banco do meio. — Violeta falou, sem nem me olhar.
Eu assenti e peguei Amélia com cuidado, ajeitando-a no assento, Violeta sentou ao lado dela, Isadora no banco de trás, grudada na porta como se minha presença de todos ali a contaminasse. Rose ajeitou-se ao lado da cadeirinha da Aurora.
— Todo mundo pronto? — tentei soar alegre, mas ninguém respondeu.
Suspirei fundo e dei partida no carro, saindo da garagem com a sensação de que essa viagem poderia ser a última coisa que faríamos juntos como uma família.
O aeroporto estava lotado, como sempre nessa época do ano, filas enormes, funcionários sobrecarregados, pessoas correndo para não perder seus voos, após devolver o carro alugado, passamos pelo check-in e pelo controle de segurança e assim que nos acomodamos nos assentos do avião, tentei puxar conversa com Isadora.
— Quer trocar de lugar? Assim, você fica na janela, sei que você gosta.
— Não.
Respirei fundo e encostei a cabeça no encosto.
Pelo visto, as férias já tinham começado mal.
Assim que pousarmos na Flórida, um calor inesperado apareceu, mesmo em dezembro, o clima era bem melhor do que o frio de Boston, pegamos outro carro alugado no aeroporto e seguimos para o resort, quando paramos na entrada do hotel, me permiti um segundo para admirar o lugar, que francamente era realmente bonito.
Segui para o balcão de check-in e peguei as chaves dos quartos. Assim que entreguei a de Violeta, ela fez uma careta que eu sabia que vinha algo desagradável depois.
— Por que só tem duas chaves? Vão ser apenas dois quartos?
— Sim, um para as crianças e a Rose, outro para nós.
— Eu reservei três. — Ela cruzou os braços.
— Eu sei, mas não fazia sentido pagar por um terceiro quarto, um gasto totalmente desnecessário.
— Então todas nós vamos ficar em um quarto e você no outro.
— Violeta… — suspirei, massageando a testa. — Não faz drama, sabe que não cabem vocês todas lá, você vai precisar de ajuda com a Amélia e a Rose já tem a Aurora para cuidar.
— Eu dou um jeito.
— E vai dormir onde?
— Eu fico no sofá.
— Isso é ridículo! Eu não vou fazer nada, Violeta, só quero que fiquemos juntos por esses dias.
— Eu não confio mais em você. — Ela desviou o olhar para a bebê em seus braços.
— Eu sei que não, mas confie que eu só quero ajudar.
— Tudo bem, mas se você fizer qualquer coisa que me irrite ou que seja estúpida, eu pego as crianças e volto para casa.
— Fechado.
Quando abrimos a porta, o ambiente estava impecável, uma cama king-size no centro, nós pedimos um berço portátil que deixaram lado e uma varanda com vista para os parques. De onde estávamos, dava para ver a roda-gigante iluminada.
— Você fica do lado direito. — Violeta apontou para a cama assim que deixou Amélia no berço. — E nem tente cruzar a linha, entendeu?
— Entendido.
Eu sabia que essa viagem não consertaria nada, mas por algum motivo, ainda queria acreditar que sim.
(…)
No outro dia pela manhã já estávamos todo em frente ao parque que estava lotado, era de se esperar já que estávamos no fim de ano, crianças corriam por todo lado gritando, o cheiro inconfundível de pipoca amanteigada e algodão-doce se misturava ao som animado das músicas de filmes da Disney tocando pelos alto-falantes.
— Então, por onde começamos? — perguntei, tentando soar animado. — Me diz, Vi.
— Já está tudo planejado. — Violeta respondeu sem me olhar, focada no celular. — Primeira parada será na área infantil para Aurora aproveitar, afinal acho que ela é a única que realmente quer estar aqui.
Concordei sem discutir, um pouco envergonhado de Rose ficar ouvindo como Violeta me tratava, mas fingi não ligar, afinal, essa viagem era para elas.Ficamos um tempo vendo Aurora se divertir nos carrosséis e atrações mais mágicas para crianças, eu fiz praticamente todas as vontades dela, comprei cada ursinho que ela queria, me abaixei ao lado dela enquanto ela escolhia um pirulito gigante em uma das lojinhas, seus olhinhos brilhando de felicidade, depois por uma fantasia da Moana mais cara que eu já comprei, mas era bom ver ela se divertindo, meu coração doía só de pensar que talvez Bryan tire isso de mim.
Violeta observava-nos, de longe, brincando, enquanto amamentava a Amélia. Por um instante, nossos olhares se cruzaram e ela sorriu. Talvez algo estivesse mudando, mas, no segundo seguinte, ela desviou, ajustando a manta sobre Amélia.
Não... Nada mais mudaria.
Quando finalmente chegou a vez de Isadora escolher um brinquedo, ela me olhou de canto de olho e apontou para a montanha-russa mais alta do parque.
— Acha que aguenta, velhote?
Era um progresso, ela não estava completamente hostil comigo.
— Você está brincando? Eu nasci para isso.
Ela revirou os olhos, mas eu vi o canto da sua boca se erguer em um quase sorriso, me sentindo esperançoso. Deixamos Aurora com Violeta e Rose e seguimos para a fila da montanha-russa.
— Se gritar como uma garotinha, eu nunca vou deixar você esquecer disso. — Isadora comentou assim que sentamos.
— Eu? Gritar? — Ri, prendendo o cinto. — Pode esquecer, você que vai chorar de medo.
Ela mostrou a língua e o carrinho começou a subir. A subida foi lenta, dando tempo suficiente para vermos o parque inteiro lá do alto. Eu senti o vento forte no rosto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o carrinho despencou, tudo que consegui fazer foi gritar.
Quando saímos do brinquedo, meu cabelo estava completamente bagunçado, os da Isadora ainda mais, tentei ajeitar um pouco e por um segundo pensei que iria recuar, mas ela me deixou arrumar o seu cabelo.
— Você gritou! — ela zombou, empurrando meu ombro de leve.
— Não gritei nada.
— Ah, gritou sim.
— Você deve estar imaginando coisas.
Ela riu de novo e eu me permiti acreditar que talvez as coisas ainda pudessem melhorar entre nós.O resto do dia seguiu assim, pequenas doses de felicidade.
Talvez ainda houvesse esperança.
Talvez eu pudesse consertar tudo.
(...)
Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia um mínimo de alívio. O dia no parque tinha sido exaustivo, mas também trouxe momentos que pareciam quase normais.
Quando chegamos ao hotel, todos estávamos cansados, jantamos no restaurante do primeiro andar e depois subimos para os quartos. Violeta colocou Amélia no berço que dormia tranquila, depois se jogou na casa.
— Vou tomar um banho — avisei, puxando a camisa para cima, acho que ela me olhou, mas logo voltou a encarar o teto.
— Ok, não demore, também quero tomar um banho e dormir.
— Tá bom.
Deixei o celular sobre a cômoda e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo. Eu não sabia o que esperar do restante da viagem, mas pelo menos hoje, nessas horas que passamos juntos, parecia um passo na direção certa.
O som da porta se abrindo me tirou dos pensamentos.
Senti um frio na barriga.
Será que ela?
Meu coração deu um leve tropeço.
Violeta nunca mais entrou no banheiro quando eu estava no banho.
Não mais.
Será quê?
Não...
Ela iria?
— Seu mentiroso! — Ela explodiu, dando um passo à frente, a raiva queimando nos olhos dela. — Quem é a porra da Docinho, hein?!
— O quê?
Porque eu fui estúpido o bastante para não mudar o nome do número de Aurora em meu telefone.
— Não se faz de idiota! — Ela apontou um dedo para mim — Eu vi a mensagem, Harry!
— Violeta, você mexeu no meu celular?
— Ah, vá se fuder, Harry! — Seu rosto estava fervendo de raiva. — Eu não mexi em nada! Eu estava deitada e essa porcaria acendeu na minha cara! Agora responde! — Eu não tinha resposta para isso, eu não sabia o que dizer. — Quer merda é essa aqui?
Ela praticamente esfregou meu celular em meu rosto, mas claramente pude ver o que a tela do meu celular mostrava.
Docinho: O bebê está bem, nenhuma novidade.
— Que bebê, Harry? O que está acontecendo? Que porra de bebê essa tal de docinho está falando?
— Violeta…
— Não enrola, fala logo.
Eu passei as mãos pelo rosto molhado, tentando pensar em uma forma de amenizar aquilo, mas não havia saída, eu não podia mais esconder.
— Eu... Eu descobri que vou ter outro filho... Eu engravidei uma garota.
Violeta piscou algumas vezes, como se não tivesse ouvido direito, depois seus olhos arregalados se encheram de água, o olhar que ela me deu eu nunca desejaria a ninguém.
— Você, o quê?
— Aconteceu, eu não...
— Aconteceu!? — Ela riu, me interrompendo. — Não se faça de idiota, Harry, você sabia muito bem o que estava fazendo, não é como se fosse um acidente você gozar dentro de alguém.
— Violeta, eu não planejei isso.
— Ah, que ótimo, porque se tivesse planejado seria ainda pior!
— Violeta...
— Me diz, Harry, quem é ela? Me fala o nome, eu conheço? — Fiquei em silêncio, porque era vergonhoso demais.— FALA, PORRA!
— Aurora. — Disse olhando para o chão. — O nome dela é Aurora.
— Aurora? Você trepou com uma mulher com nome da sua filha?! — A confusão se desfez em seu rosto. — Espera. Aurora… Não me diz que... Não, não, não, a babá? Aquela garotinha, a amiga da Jane? — Meu silêncio era meu pior acusador. — Não me diz que foi ela, Harry?!
— Desculpe.
— Você está me dizendo que viu aquela garota uma vez na nossa casa e foi atrás dela?
— Não foi assim, eu já conhecia a Aurora antes, ela era minha aula.
— Ah! Ótimo, ao invés de trabalhar, você ficava fudendo sua aluna? Colocando toda sua carreira em risco por uma qualquer?! — Então os olhos dela se estreitaram ainda mais. — Foi ela.
— O quê?
— Foi ela com quem você ficava brincando de casinha em Boston, não foi? — Eu não conseguia olhar para ela. — Porra. Foi ela, você me julgou. Você me olhou nos olhos tantas vezes com aquela maldita superioridade e agora você fez o mesmo.
— Não foi bem assim.
— Isso é inacreditável, você se fez de vítima esse tempo todo, Harry! Me destruiu psicologicamente porque eu engravidei de outro homem e agora você fez exatamente a mesma coisa!
— Não é igual...
— CLARO QUE É IGUAL! — Ela gritou tão alto que tive medo de acordar Amélia no quarto. — Você é um hipócrita nojento, você sabe disso, não é?!
— Claro que sei, mas você acha que isso foi fácil para mim?
— Ah, pobrezinho! — Zombou. — Imagino como foi difícil para você gozar numa vadia qualquer e depois descobrir que ela está grávida!
— Não fale dela assim.
— Se fode, Harry! — Ela riu, sarcástica. — Tá defendendo agora?!
— Não, é só que ela não merece isso, não merece ser chamada assim.
— Sua amante de merda não merece ser chamada assim?! Você está brincando comigo?
— Chega, por favor. — Eu estava com frio, pelado e sendo humilhado.
— Não! Você acha que ela não vai vir atrás do seu dinheiro?
— Ele não é assim, Violeta.
— Acorda, Harry! Você não é um pobretão qualquer! Você tem dinheiro! Sua família tem uma das maiores redes de restaurantes do Reino Unido, a metade deles no seu nome, fora a herança generosa que sua avó te deixou por ser o neto favorito. É claro que essa mulher vai querer alguma coisa.
— Eu já estou lidando com isso, Violeta.
— Lidando como um idiota!
— Ah, por que você foi tão esperta, não é? — Disparei, sem conseguir segurar.
— Eu não vou mais tolerar isso.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que, quando a gente voltar dessa viagem, você vai sair de casa.
— Violeta…
— Acabou, assim que pisarmos em casa, quero você fora.
— Você não pode estar falando sério. — Passei as mãos pelos cabelos, desesperado.
Eu não podia ficar sem casa, não agora.
— Eu estou falando muito sério, eu não suporto mais suas merdas, já que quer resolver sozinho, fique sozinho.
— Violeta, por favor... — Ela ergueu a mão, interrompendo qualquer tentativa de eu me defender.
— Ah! E você conseguiu! Estragou a viagem logo no primeiro dia, amanhã eu e as meninas estamos voltando para casa, sem você, babaca.
Obrigado por ler até aqui 💗 O feedback através de um comentário é muito apreciado!
Esta ansiosa (o) para o próximo?
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Bitter Sweet

Inspirado na música: sweet - cigarrettes after sex
A batida da música fazia o chão vibrar sob meus pés, as luzes vermelhas e azuis cortavam o ambiente, iluminando rostos borrados pelo efeito de dos drinks que bebi. Mulheres passavam por mim, algumas me olhavam por tempo demais, mas eu não retribuía, nenhuma delas era interessante o suficiente para me satisfazer. Meu copo estava pela metade, quando senti o celular vibrar no bolso da calça.
Uma vez.
Depois outra.
E outra.
Tirei o aparelho e vi o nome dela iluminando a tela.
S/n.
Meu peito apertou.
Desbloqueei a tela e vi as mensagens chegando sem parar.
Dez.
Quinze.
Todas foram enviadas nos últimos minutos.
Hazz...
Você não me odeia, né?
Você ainda pensa em mim?
Eu ainda penso em você.
Você pensa em mim?
Você sente saudade?
Eu sinto…
Minha mão apertou o celular com mais força, eu sabia onde isso ia dar, sempre acontecia quando ela bebia.
Ela sumia da minha vida, me obrigava a seguir em frente e no segundo em que eu começava a conseguir, ela reaparecia.
Dessa vez, não seria diferente.
Amanhã, quando a ressaca passasse, ela se arrependeria de ter me procurado.
Fingiria que nada aconteceu.
Mas antes que eu desligasse a tela, um vídeo carregou na conversa.
Minha respiração falhou quando vi a imagem refletindo em meu celular. S/n estava no banho, o cabelo molhado pingava gotas que deslizavam por sua pele, o vapor cobria parte da câmera, mas o que consegui enxergar já era o suficiente para bagunçar minha cabeça.
Ela sabia que eu era obcecado pelo seu corpo.
Sabia como mexer comigo.
Mas todas às vezes… todas as malditas vezes… era o jeito que ela sorria que me atraía.
Outro vídeo carregou.
Ela já estava na cama agora, uma lingerie vermelha contrastava com sua pele quente, o tecido se moldando ao corpo que eu ainda conhecia tão bem.
Ela se movia devagar, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.
Ela sabia que eu achava que sua pele tinha a cor perfeita.
Perfeita no jeito como se encaixava contra os meus lençóis.
Mas eram sempre os olhos dela que me seduziam, por mais que o corpo me atraísse, eram os olhos que me quebravam.
O jeito como costumavam brilhar para mim, o jeito como, mesmo agora, mesmo bêbada e confusa, ela ainda me olhava como se eu fosse tudo.
Como se eu fosse o único para ela.
Seu único e doce amor.
Meus pensamentos lutavam entre razão e impulso, eu sabia que deveria ignorar.
Eu precisava ignorar.
Porém, mais mensagens chegaram.
Eu fiz merda, Hazz…
Eu estraguei tudo, né?
Diz que não me odeia.
Diz que ainda me quer.
Diz que quer me foder até eu esquecer que a gente terminou.
Me diz que quer me amar até eu lembrar por que a gente começou.
Meus dedos apertaram o copo.
E então, um áudio carregou.
Eu me forcei a não ouvir. Mas não consegui, eu precisava ouvir, eu queria ouvir.
Harry...
Eu sempre fui péssima sem você.
Antes que percebesse, já estava saindo da boate.
O ar frio da madrugada bateu no meu rosto quando alcancei a rua, os passos apressados enquanto tentava chamar um carro.
As mensagens dela ainda piscavam na tela.
Hazz, eu estou tão cansada de sentir sua falta…
Não quero mais sentir isso…
O táxi chegou, e eu entrei sem hesitar.
— Para onde? — perguntou o motorista, sem nem me olhar.
Minhas mãos apertaram o celular, o endereço dela já estava salvo nos meus favoritos, porque eu nunca consegui apagar.
— Madison Avenue, número 845.
O motorista apenas assentiu e começou a dirigir. Meus dedos tamborilavam contra a perna. As luzes da Times Square passavam borradas pela janela, tudo dentro de mim se contraía com a lembrança da voz dela.
"Eu sempre fui péssima sem você."
Ela não fazia ideia do que essa frase fez comigo.
O carro parou, eu saí antes mesmo do motorista dar o aviso, atravessei a rua, subi as escadas do prédio quase correndo, minhas mãos tremiam quando bati à porta.
Nada.
Bati de novo.
Silêncio.
Talvez ela já tivesse desmaiado, talvez nem se lembrasse de que me chamou, mas a porta se abriu com um rangido lento, o que vi me fez prender o ar nos pulmões.
Ela estava ali.
Descalça, os cabelos bagunçados, uma das alças da lingerie caída sobre o ombro, seus olhos estavam inchados, o rímel borrado na pele, o cheiro de álcool impregnado nela.
— Harry… — Ela sorriu. — Você veio…
— Você me chamou.
Ela deu um passo para trás, me dando espaço para entrar, não precisei procurar muito para saber que tipo de noite ela teve sozinha: garrafas espalhadas, um cinzeiro com cigarros amassados, a TV ligada em um dos meus clipes.
Ela estava péssima.
Mesmo assim, mesmo sabendo que essa noite ia me foder inteiro por dentro, eu não consegui ir embora.
S/n cambaleou para o lado ao fechar a porta, eu avancei instintivamente, segurando-a pelos braços.
— Você não deveria ter bebido tanto — murmurei.
— Eu sei… — Ela soltou uma risada fraca e encostou a testa contra o meu peito. — Mas eu só queria parar de pensar.
Eu a conhecia, sabia exatamente o que acontecia quando ela bebia até esquecer de si mesma, sabia que no dia seguinte viriam a ressaca, o arrependimento de tudo o que fez, mas ainda assim, eu estava ali.
Com cuidado, levei-a até o sofá, ela se jogou no estofado com um suspiro.
— Você cuida tão bem de mim… — Ela sorriu de leve, mas logo o sorriso sumiu. — Por que você ainda cuida de mim?
Não tinha uma resposta ou talvez tivesse, mas não queria dizê-la em voz alta.
— Espera aqui.
Fui até o banheiro e peguei alguns lenços umedecidos, quando voltei, ela ainda me olhava.
— Hazz?
— O que foi? — Sentei ao lado dela.
— Eu sei que você sabe, mas... — Ela abaixou a cabeça. — Eu ainda te amo…
Fechei os olhos por um instante.
Isso não era justo.
Não era justo que ela dissesse essas coisas só quando estava bêbada.
Respirei fundo, ignorando sua confissão e voltei a me concentrar no que estava fazendo, com delicadeza, comecei a limpar seu rosto, ela fechou os olhos ao toque.
— Isso me lembra de quando você cuidava de mim depois das festas… — murmurou, segurando minha camisa.
Sim.
Porque sempre tinha sido assim.
Sempre fui eu.
Mas agora, não sabia se ainda deveria ser, por mais que eu ainda me importasse, por mais que ela ainda fizesse meu peito apertar e meu coração acelerar, havia algo dentro de mim que gritava para que eu fosse embora antes que fosse tarde demais.
Antes que eu me perdesse nela outra vez.
Mas eu não fiz.
Quando terminei, ela já estava mais sonolenta, mas sabia que precisava ajudá-la a se recompor, antes que o álcool a fizesse desabar de vez.
— Vem. — Ofereci minha mão. — Você precisa de um banho.
Eu ajudei a se levantar, guiando-a até o banheiro, que estava escuro, exceto pela luz fraca do corredor. Girei o registro do chuveiro, deixando a água cair, morna, quase fria, ela continuava me observando em silêncio.
Eu sabia que ela não tinha forças para ficar ali sozinha. Sabia que confiava em mim, então a fiz entrar na banheira e entrei com ela, sentando-me atrás, enquanto a água escorria pelos nossos corpos.Puxei-a para o meu peito, o calor que emanava dela me fazia quase esquecer a temperatura, S/n ficou ali, mole contra mim, os joelhos dobrados, a cabeça encostada no meu ombro.
— Harry…
— Hm?
— Você me odeia? — Ela respirou fundo, encolhendo-se mais contra o meu corpo.
— Por que odiaria você?
— Você deveria...
— Por que está falando essas coisas?
— Eu fiz algo que não consigo consertar.
— O quê? — Minha pulsação acelerou.
— Antes do nosso último término… — Ela fechou os olhos, apertando as mãos ao redor dos meus braços. — Eu... eu te traí.
Por um momento, achei que tinha ouvido errado.
Ela não.
Não ela.
— O quê? — repeti, torcendo para ser mentira.
Ela abriu os olhos e eu a conhecia bem o suficiente para ver que sua dor, sua culpa, eram reais, mas nenhuma justificativa seria suficiente, nenhuma explicação apagaria o que foi feito.
— Com quem? — Minha respiração travou.
— Isso importa? — A voz dela se desfez em um choro sufocado.
— Importa pra caralho, é alguém que eu conheço?
— Um cara qualquer, Harry. Me desculpa… Eu me odeio por isso, me odeio tanto… — Ela fechou os olhos novamente, como se doesse me encarar. — Eu estava confusa e com raiva, achei que você não se importava mais comigo.
— Então a solução foi dormir com outro?
Passei as mãos molhadas no rosto, tentando raciocinar, mas não havia lógica que aliviasse aquela dor.
Ela me destruiu.
De um jeito que nem todas as idas e vindas, nem todas as brigas e despedidas conseguiram.
— Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que fiz… mas só quero que saiba que me arrependo, eu me odeio por isso. — Ela levantou a cabeça, os olhos implorando por algo que eu não sabia se podia dar. — Harry… diz alguma coisa, grita comigo, me diz que eu sou uma pessoa horrível.
Fechei os olhos por um segundo, tentando respirar, tentando encontrar um resquício de racionalidade, antes que surtasse, mas senti seus dedos fracos agarrando minha camisa.
— Mas por favor... — Seus dedos puxavam com força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse e talvez eu devesse. — Por favor, me odeia amanhã, fica comigo hoje... Não me deixe, Harry.
Se fosse qualquer outra pessoa...
Se fossem outras mãos agarrando minha camisa, outra voz implorando para que eu ficasse, outro rosto marcado pelo peso do arrependimento, eu não hesitaria, me afastaria, viraria as costas e jamais olharia para trás.
Mas era ela.
Sempre foi ela.
Desde o momento em que a vi pela primeira vez, desde que aquele sorriso inocente fez algo dentro de mim desmoronar, desde que ouvi sua risada e soube, que estava perdido.
Eu a amei.
Eu a amo.
E não importa o que aconteça, não importa quantas vezes ela me machuque, me destrua, me tire o chão, não há escapatória.
Não para mim.
Eu deveria odiá-la.
Sei que deveria.
Mas como odiar o que é parte de mim?
Como arrancar algo que está entrelaçado à minha alma?
Se eu fosse forte, diria não.
Se tivesse um mínimo de amor próprio, me afastaria.
Ela esperava que eu a abandonasse, que finalmente fizesse o que deveria ter feito há muito tempo, mas, no fundo, ela já sabia.
Ela sempre soube.
Que, quando se tratava dela, eu sempre ficava.
Eu sempre voltava.
Sempre escolheria partir meu coração por ela, porque viver sem ela seria muito pior do que carregar essa dor que dilacerava meu peito.
Eu era um homem fraco quando se tratava dela.
Então, meus braços se fecharam ao redor de sua cintura, apertando-a contra mim, como se eu quisesse prendê-la ali, forçando a encarar a dor em meu rosto, seus olhos úmidos e hesitantes me encararam, neles encontrei a versão de mim que eu quis esquecer, a que pertencia a ela.
Minha mão deslizou por sua nuca, os dedos se enterrando em seus cabelos, quase num desespero, meu rosto pairou sobre o dela por um segundo antes de nossos lábios se encontrarem.
Eu não fui cuidadoso.
Não fui gentil.
Sua boca era quente, desesperada, como se aquele beijo fosse a única coisa que a mantinha inteira.
E talvez fosse.
Talvez fosse para os dois.
O gosto das lágrimas se misturava ao beijo, mas eu não parei.
Não conseguia parar.
Porque, por mais que doesse, por mais que a realidade estivesse ali, gritando entre nós, naquele momento, tudo o que importava era que ela estava em meus braços.
Minhas mãos apertaram sua cintura com força, como se eu pudesse arrancar da pele dela as marcas que outro homem deixou, como se eu pudesse reescrever o que já estava feito.
Mas não podia.
E isso me matava.
Eu a continuei a beijá-la com tudo o que sentia, com todo o amor e toda a mágoa que me sufocavam, ela se entregou a mim como se soubesse que essa era a única maneira de eu não desmoronar.
Sem separar nossos lábios, desliguei o chuveiro, a segurei mais forte e a carreguei para fora da banheira, passamos pelo corredor, molhando tudo pelo caminho, mas nada importava, carreguei-a até o quarto, sem dizer uma palavra.
Deitamos na cama, encharcados, os corpos colados, espalhando água pelo chão, pelo colchão, pelos lençóis amarrotados, então ela se afastou sem dizer nada e enterrou o rosto em meu peito, eu fechei os olhos, acariciando seus cabelos.
Meu coração estava exausto, destruído, dolorido...
Mas ele não era mais meu.
Nunca foi.
Ele pertencia a ela.
E se amanhã essa escolha me matasse, que seja.
Se amanhã ela me destruir de novo, eu aceitaria.
Porque, com prazer, partiria meu coração por ela.
De novo.
E de novo.
E de novo.
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genteeeee! como que ninguém pediu a pedrada ‘just a little bit of your heart’ - harry styles???? 😭
Pior que não amiga 😩😩😩 poderia né !!! Quem sabe na próxima
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Yes Sir! Capítulo 44
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 23 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Aurora
Meus pais insistiram para passar o Natal em Boston, em vez de ir para Cambridge como sempre. A desculpa era que queriam estar comigo nesse momento "delicado", mas eu sabia a verdade, eles só não queriam que ninguém visse o desastre que minha gravidez representava para a família. No fundo, fiquei aliviada por Gabriel viajar para o Canadá para passar as festas com a família dele, pelo menos assim ele não precisaria assistir a esse show de horrores.
— Bom, mesmo que este Natal não seja como os outros. — Comentou minha mãe, servindo-se de mais peru para meu pai — Ainda somos uma família, então vamos aproveitar.
Georgia ergueu uma sobrancelha e olhou para mim, claramente tão desconfortável como eu com a tentativa da nossa mãe de manter o clima positivo.
— E, falando nisso, já que estamos todos aqui, podemos discutir alguns detalhes importantes sobre seu futuro, Aurora. — Sorriu para mim com um entusiasmo que eu não tinha.
— Podemos fazer isso outro dia?
Eu só queria uma refeição tranquila, mas infelizmente com minha mãe era quase impossível.
— Eu estava pensando em fazer um chá de bebê, o que acha? — Ela ignorou completamente o que disse.
— Eu não quero um chá de bebê.
— Aurora, toda mãe faz um chá de bebê.
— Eu já disse que não quero.
— Você precisa parar com essa teimosia. — Ela largou os talheres na mesa. — Esse bebê não tem culpa se veio de uma gravidez vergonhosa, mas no mínimo você poderia parar de agir como se ele fosse um fardo, já que a culpa dele existir é sua.
— Mãe, se ela não quer, deixa a garota em paz, nem todo mundo ama suas festinhas. — Georgia revirou os olhos, bebendo um gole do vinho.
— Georgia, não me venha com isso, essa é uma tradição, Aurora precisa celebrar a chegada do bebê.
— Mas eu não quero celebrar nada. — Estava começando a me irritar.
— Lá vamos nós de novo. — Meu pai soltou um suspiro pesado. — Podemos fazer isso depois, eu quero comer sem o drama da Aurora pelo menos uma vez.
— Lion, eu só quero saber o futuro do meu neto. — Minha mãe ergueu as mãos. — Aurora, você ao menos já pensou em abrir aquele quarto de hóspedes? Eu nem vi o quarto do meu netinho.
— Ainda não.
— O bebê já vai nascer em alguns meses! Você quer que ele durma onde?
— Eu vou resolver isso, mãe.
— Resolver como? Você nem sabe montar um berço! Não se preocupe, vou contratar alguém para organizar tudo, em uma semana, aquele quarto vai estar pronto.
— Mãe, eu já disse que vou resolver.
— Eu desisto. — Arfou jogando o guardanapo na mesa. — Lion, fala com sua filha sobre ela voltar para Cambridge.
— O quê? Como assim?
— Sua mãe acha que você deveria voltar para Cambridge conosco depois das festas de fim de ano.
— Eu não posso pai, minha vida é aqui.
— Que vida? — Ele arqueou uma sobrancelha. — E quem exatamente faz parte dessa "vida" tão importante em Boston?
— Pessoas importantes para mim.
— O imprestável pai do bebê? — Ele estreitou olhos. — Você ao menos já contou para ele?
— Sim, já contei pra ele.
— E...?
— Ele sabe.
— Então por que esse homem nem sequer se apresentou?
— Porque é complicado.
— Complicado? — Ele riu, sarcástico. — Deixe-me ver se entendi, você engravida, avisa o pai da criança e ele simplesmente desaparece?
— Ele não desapareceu.
— Então, onde ele está? — Me segurei para não gritar. — É exatamente o que eu pensei, escute bem Aurora, eu não me importo se vocês estão juntos ou não, o que importa é que ele tem responsabilidades, não é só porque você tem dinheiro que ele pode simplesmente não assumir nada, eu quero conhecer esse homem, quero saber quem ele é, se tem caráter suficiente para assumir o papel dele.
Eles estavam me sufocando, sufocando qualquer resposta coerente que eu pudesse pensar.
— A gente pode resolver isso depois — Implorei, fechando os olhos. — Por favor?!
— Não, eu já esperei o suficiente.
Todo o controle que eu tentava manter evaporou, no segundo que ouvi meu pai, eu estava cansada de tudo aquilo.
— Será que é tão difícil assim vocês entenderem que eu não quero falar disso? — Bati na mesa com minha voz já alterada.
— Não precisa gritar. — Ele me repreendeu no mesmo tom.
— Não precisa? Você não me ouve! Nenhum de vocês me ouve!
— Estamos tentando ajudar, Aurora.
— Ajudar?! Ajudar seria pelo menos uma vez vocês me deixarem decidir o que eu quero fazer com a minha própria vida!
— Você está exagerando, Aurora. — Minha mãe resmungou.
— Exagerando? Sabe por que eu não quero chá de bebê? Por que não estou preocupada em decorar um quarto? Por que eu não quero que conheçam o pai desse bebê?! — Eu realmente estava prestes a jogar tudo aquilo?! Estava — EU NÃO VOU FICAR COM O BEBÊ.
A cozinha ficou em silêncio absoluto.
Minha mãe estava completamente paralisada.
— O que disse? — Meu pai foi o único que ficou imóvel, seu semblante tranquilo.
— Eu não vou ficar com ele — Repeti, sentindo a raiva pulsar em cada célula do meu corpo. — Vou dar para adoção.
— Então você realmente acha que pode simplesmente jogar essa criança fora como se fosse um erro que pode apagar?
— Eu não estou jogando ninguém fora, pai.
— Claro que está. — Retrucou, frio. — Você sempre fez isso, sempre fugiu das suas responsabilidades, agora não está sendo diferente.
— Isso não é fugir! — Minha garganta queimava.
— Não? O que é, então? Maturidade? — Ele riu, batendo palmas. — É você assumindo as consequências das suas responsabilidades? Porque, se fosse, você teria pensado nisso antes de se meter nessa situação. — Minhas lágrimas começaram a cair, mas ele não parou, ele não iria perder a oportunidade de me humilhar ainda mais.— Você não tem um futuro, Aurora, já jogou isso fora no momento em que se deixou aquele babaca te engravidar.
— É isso que você pensa de mim? Depois de dizer que sempre estariam aqui para me apoiar! Grande mentiroso você é.
— Ah! Aurora, eu gastei meu dinheiro pagando sua faculdade, suportei todos seus dramas, suas irresponsabilidades, todas as suas decisões idiotas e para quê? Para ver você virar isso? Uma vergonha? — Minha respiração estava acelerada, ele já havia sido cruel comigo, mas agora?! Ele estava determinado a me machucar. — Você nunca consegue tomar uma decisão decente sozinha e quer saber? Eu não me surpreendo, sempre soube que você era um desperdício de potencial.
— Se sou um desperdício, então por que continua aqui?!
— Se não fosse por nós, como iria cair na realidade?
— Você acha que não sei sobre minha realidade? A minha realidade é que eu estou grávida de um filho que eu não quero, que meu próprio pai me odeia, que eu estou tentando fazer o melhor para mim e para essa criança e vocês não conseguem aceitar porque isso não se encaixa na imagem de filha perfeita que vocês criaram!
— Não fale como se fosse uma vítima, a única pessoa que destruiu sua vida foi você mesma.
Foi a gota d’água.
— Você acha que eu destruí minha vida? Ótimo. — Me levantei tão rápido que a cadeira quase caiu para trás.— Então me deixe em paz para lidar com isso do meu jeito.
— Não quero mais ouvir nada. — Meu pai bufou e se levantou também. — Eu sabia que essa noite seria uma perda de tempo, vamos embora, Kate.
— Mãe. — Implorei, por algum apoio, mas o barulho da cadeira dela sendo empurrada para trás ecoou pelo cômodo.
— Você só pode estar louca, Aurora, se acha que eu vou deixar você dar meu neto para outra família. — Os olhos dela se encheram de lágrimas, ela virou-se para meu pai.
— Eu não consigo mais olhar para ela, vamos, eu quero ir embora.
— Parabéns, Aurora, você conseguiu estragar o Natal. — Praguejou, meu pai sem nem olhar para trás.
(...)
A televisão exibia algum especial de fim de ano em que eu não estava prestando atenção enquanto afundava mais no sofá, com um cobertor puxado até os ombros.
Sozinha.
Era assim que meu ano estava terminando.
O Natal já tinha sido um desastre, com o surto dos meus pais. Georgia até quis ficar, insistiu muito, mas eu preferi deixar ir com a mamãe, era melhor assim.
Agora estava aqui, em um apartamento vazio, tentando fingir que não me importava, que tudo o que meu pai disse para mim não havia me machucado, tentando me convencer de que ele não tinha razão sobre mim, mas a esse ponto eu realmente estava duvidando.
Eu era mesmo um desperdício de potencial?
Realmente, não havia um futuro bom para mim?
O celular vibrou ao meu lado, peguei o aparelho e vi o nome de Gabriel piscando na tela, uma chamada de vídeo, atendi, ajeitando um pouco o meu cabelo, limpando algumas lágrimas. Ele não precisava saber o quão ruim eu estava.
— Oi, amor.
— Oi.
— Como vocês estão?
— Bem.
— Sei. — Fingiu acreditar. — E as coisas com a sua família? Já se acalmaram?
— Você acha que minha mãe vai me perdoar tão fácil? Ela deve estar me xingando até agora.
— Quer que eu volte antes?
— Não, Gabriel, você está com a sua família, aproveita.
— Eu não me importo, se você precisar, eu volto.
— Eu não preciso.
— Estou falando sério, se precisar, eu pego o próximo voo para fora daqui.
— Não. — Fui rápida em dizer, antes que ele cogitasse realmente a ideia.— Você não precisa estragar as suas férias com sua família por causa de mim.
— Você não estaria estragando nada, eu preferia estar com você.
— Você é tão fofo. — Foi o máximo que consegui dizer. — Mas eu nunca me perdoaria por isso.
— Quer que eu peça para o meu tio ir aí? — Meu corpo ficou tenso. — O Bryan voltou do Canadá há dois dias, por causa de uma cirurgia de última hora para fazer.
— E por que diabos você acha que eu ia querer isso?
— Porque eu sei que você odeia ficar sozinha. — Gabriel riu, como se minha reação fosse exagerada.
— E eu prefiro ficar sozinha a ter o seu tio na minha casa!
— Relaxa, foi só uma ideia. — Ele sorriu, como se gostasse de me irritar. — Deixa eu ver você.
— Você já está me vendo. — Franzi a testa.
— Não, quero ver a barriga.
— Para quê?
— Só quero ver.
— Gabi.
— Só um pouquinho. — Fez um biquinho fofo demais para ignorar.
Soltei um suspiro, mas abaixei a câmera do celular, afastando o moletom só o suficiente para ele ver minha barriga. Do outro lado da tela, ele ficou observando.
— Nossa, não é que ela cresceu quando eu estive fora?
— Não cresceu nada, está extremamente igual, estranha e sem graça.
— Tá linda.
— Pronto, satisfeito? — Abaixei o moletom de volta.
— Por enquanto. — Ele sorriu. — Ei, você está bem mesmo?
— Sim.
— Não gosto de ver você triste.
— Não se preocupe, eu estou bem.
Ele olhou para o lado, como se conferisse se havia alguém por perto, antes de dizer aquelas três palavras que sempre acabavam comigo.
— Eu amo você, sabia?
— Eu sei.
— E sabe que não precisa se sentir pressionada para dizer de volta, não é?
— Eu sei.
— Eu preciso ir agora, mas feliz Ano Novo, minha Aurora.
— Feliz Ano Novo, Gabi. — Disse antes de encerrar a ligação.
Segurei o celular por um instante antes de soltá-lo no sofá, a primeira lágrima escorreu sem aviso, eu não queria passar a virada assim, sem ele, chorando, sozinha, mas de repente, eu não consegui mais segurar.
(...)
Eu cochilava quando o interfone tocou, levantei-me arrastando os pés no espelho ao lado da porta, meus olhos vermelhos me encaravam, e meu rosto inchado denunciava a sessão de choro de mais cedo, inspirei fundo antes de atender.
— Senhorita Aurora, tem um entregador aqui embaixo.
— Entregador?
Quem mandaria uma entrega em pleno Ano Novo?
Eu também não me lembrava de ter pedido nada.
— Sim, posso autorizar a subida?
— Ok.
Fiquei esperando na porta, tentando imaginar o que poderia ser.
Gabriel?
Talvez, mas ele já tinha me ligado mais cedo, se fosse algo dele, teria falado.
Então, só restava uma possibilidade.
Harry.
Não seria a primeira vez que ele faria algo assim, mas quando o elevador apitou e as portas se abriram, senti meu corpo travar.
Não era Harry.
Era Bryan.
O sorriso presunçoso no rosto dele me fez sentir um arrepio, o tipo de arrepio que eu odiava admitir que sentia.
Ele segurava uma pequena sacola de papel e me olhava daquele jeito.
Aquele maldito jeito.
— Oi, raposinha.
Odeio esse apelido.
Odeio o jeito que ele soa vindo dele.
— O que você está fazendo aqui?
— Seu namorado tão dedicado, lá do outro país, pediu para eu passar aqui e deixar sua torta favorita. — Bryan ergueu a sacola, balançando-a no ar. — Na cabeça dele, isso resolveria todos os seus problemas.
— Claro que ele faria isso e seria você o bom samaritano a me trazer.
Gabriel confiava demais no próprio tio.
— Uau, tanta gratidão, eu dirigi uns vinte quarteirões para te trazer isso, é assim que você me trata?
— Desculpa, mas você não precisava vir até aqui, podia simplesmente mandar outra pessoa entregar.
— Infelizmente, hoje eles não estavam fazendo entregas e eu tinha uma festa de Ano Novo para ir aqui perto, então não foi um sacrifício tão grande assim.
— Muito obrigado, mas não quero te atrapalhar sua festa. — Estendi a mão para pegar a sacola, mas ele recuou.
— Você andou chorando, raposinha?
— Eu não. — Virei o rosto, mas senti o olhar dele queimando minha pele.
— Então, a vermelhidão nos seus olhos é de felicidade?
— Bryan, eu estou bem.
— Quer saber? Eu ia nessa festa, mas posso muito bem ficar por aqui.
— Você não tem que fazer isso, sério.
Eu e ele sozinhos de novo?
Depois do que ele disse aquele dia...
Era a pior ideia possível.
— Ah, mas eu não posso sair e deixar você assim. — Antes que eu pudesse impedi-lo, ele já tinha entrado.
Fechei a porta atrás de mim, tentando ignorar a sensação estranha no peito. Não deveria me sentir aliviada por não estar sozinha, mas me senti, óbvio, que Bryan era a última pessoa que gostaria que estivesse ali, mas eu só queria um pouco de companhia.
Bryan deixou a torta na mesa, fui até lá abrir a caixa, o cheiro doce de mirtilo subiu no ar, fazendo meu estômago roncar.
Gabriel, sempre soube como me animar, mesmo longe, conseguia ser o melhor namorado do mundo. Peguei um garfo, cortei um pedaço, mas antes que eu pudesse levar à boca, Bryan surgiu atrás de mim.
— Deixa eu ver se é realmente boa. — Se inclinou, eu podia sentir seu cheiro.
— O quê?
— Quero ver se valeu o esforço para te entregar isso.
— Tudo bem, o garfo está na gaveta de cima. — Bufei.
Mas Bryan não pegou um garfo, em vez disso, segurou meu pulso, minha pele congelou, o calor da palma dele contra a minha me fez travar, então guiou minha mão até a boca dele, minha respiração falhou quando os lábios dele tocaram o garfo, ele lambeu o lábio devagar, os olhos presos nos meus.
— Hm, ok, valeu o esforço. — Sorrindo, ele se afastou como se nada tivesse acontecido.
Mas aconteceu.
Ele estava fazendo seus joguinhos de novo.
(...)
Não havia clima nenhum de festa em meu apartamento, eu talvez tivesse me arrependido de ter deixado Bryan entrar, talvez ele estivesse entendiado ao ficar ali sentado ao meu lado, com a TV ainda exibindo um especial de Ano Novo, passei os últimos trinta minutos encolhida no sofá, em silêncio, tentando ignorar Bryan para ver se ele iria embora, mas ele não pareceu se incomodar.
— Você está muito quietinha hoje. — Ele se aproximou, perto demais. — Quer me contar o que aconteceu?
— Não estou afim.
— Deve ter sido algo sério ou Gabriel não me ligaria para poder agradar você, quer que eu anime você?
— Eu não estou a fim de joguinhos hoje.
— Não seja tão ranzinza. — Ele se levantou. — Não dá para começar o ano assim. — Estendeu sua mão. — Vem, vamos ver os fogos. — Quando eu hesitei em segurá-lo, ele pegou meu pulso com delicadeza, puxando-me para levantar.
— Está frio lá fora e está nevando.
— Então eu te esquento, só vem.
— Nem pense.
Eu queria protestar, mas Bryan já havia aberto a porta da varanda, o vento gelado me atingiu, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça, algumas pessoas já soltavam fogos antes da meia-noite, eu tremi, encolhendo os braços ao redor do corpo, foi quando senti os braços de Bryan deslizaram ao meu redor, firmes, puxando-me contra ele, seu peito quente pressionou minhas costas, sua respiração roçou meu pescoço.
— Bryan.
— Relaxa. — A voz dele era baixa, como se estivesse se aninhando. — Eu só quero te aquecer, nada mais.
Na TV, a contagem regressiva começou.
Era quase meia-noite.
Dez… Nove… Oito…
— Raposinha. — Os lábios dele se aproximaram do meu ouvido. — Você sabe qual é a tradição, né?
Minha respiração falhou.
Sete… Seis…
— Não.
Mentira.
Cinco…
— Ah, claro que sabe. — Riu contra minha pele. — Você não quer começar o ano com azar, não é?
Quatro…
— Bryan.
Ele virou meu rosto levemente com seus dedos, a ponta do nariz roçando minha bochecha.
Três…
— Só um beijo, Aurora.
Dois…
— Bryan. — Minha voz mal saiu.
Um...
Os lábios dele tocaram os meus, meu coração disparou, meus braços ficaram imóveis ao lado do corpo como se estivessem grudados ali, era como se meu cérebro tivesse entrado em curto-circuito.
Isso estava acontecendo?
Bryan estava me beijando?
Eu não o beijei de volta, mas também não consegui me afastar.
— Feliz Ano Novo, raposinha. — Eu não consegui dizer nada, ele sorriu de lado, analisando meu rosto com os olhos atentos. — Vem, vamos entrar antes que congele. — Ele pegou minha mão, mas dessa vez meu corpo respondeu e eu me afastei. — O que foi?
Minha mente tentava processar o que acabou de acontecer.
Foi só um beijo de Ano Novo?
Só isso?
Era só uma tradição idiota, que qualquer um faria, amigos se beijariam, não é?
Não era nada de mais.
— Isso não devia ter acontecido. — Minha pele ainda estava queimando onde os lábios dele tinham tocado.
— Não precisa fingir que não gostou.
— Você não devia ter feito isso.
— E eu tenho culpa se você não se afastou?
— Eu não te beijei!
Ele se aproximou de novo, inclinando o rosto, para sussurrar em meu ouvido.
— Sério? Porque eu senti seus lábios se moverem.
— Eu não...
— Aurora, isso foi só um beijo, na verdade, nem sei se deveríamos dizer que isso realmente foi um beijo, então relaxa.
— Acho melhor você ir.
— Ah! Aurora, não é como se você nunca tivesse se perguntado como seria.
— Vá embora!
Eu estava sentindo culpada.
— Ah, então agora eu sou o vilão?
— Por favor, vá embora.
Ele me encarou por um segundo e então saiu, com a porta batendo atrás dele.
Minhas mãos tremiam, meu corpo tremia.
Como minha noite foi acabar assim?
Harry
O Natal tinha sido um completo desastre.
A árvore decorada no canto da sala não conseguia melhorar o clima da casa, o jantar foi um silêncio constrangedor, minha família resolveu vir de Homes Chapel para cá, mas era impossível não ver que nosso casamento estava ruindo, que nossa família era um completo desastre e nossa casa estava um caos, Isadora passou a maioria do tempo no celular, evitando me olhar, Aurora brincava com suas priminhas, era única realmente feliz ali, Violeta mal falou comigo, ela não se deu o trabalho de esconder sua insatisfação de estar ao meu lado, mesmo na frente da minha família e eu apenas fingi, fingi que era feliz, sorri para minha mãe e contei dos últimos meses, como se fosse um orgulho, não mencionei que estava lutando para não perder minha filha, não disse que descobri que vou ser pai pela quarta vez, nem se quer mencionar que estava a beira de um divórcio, eu só ignorei todo peso esmagador do fracasso e sorri.
Agora, poucos dias depois, estávamos prestes a embarcar nessa viagem, um esforço desesperado para fingirmos que ainda éramos uma família, mas a verdade era que ninguém parecia animado para isso.
O frio cortante de dezembro fazia minha pele arder enquanto eu ajeitava todas as malas no porta-malas do carro alugado.
Por que mulheres precisam de tanta coisa só para passar alguns dias fora?
— Podemos ir logo? — Isadora bufou, encostada na lateral do carro.
Violeta saiu da casa segurando Amélia, que dormia tranquila em seus braços. Rose vinha logo atrás, guiando Aurora pela mão.
Ainda bem que aceitou a proposta de ir junto, não sei o que faríamos sem ajuda nessa viagem.
— Coloque a cadeirinha dela no banco do meio. — Violeta falou, sem nem me olhar.
Eu assenti e peguei Amélia com cuidado, ajeitando-a no assento, Violeta sentou ao lado dela, Isadora no banco de trás, grudada na porta como se minha presença de todos ali a contaminasse. Rose ajeitou-se ao lado da cadeirinha da Aurora.
— Todo mundo pronto? — tentei soar alegre, mas ninguém respondeu.
Suspirei fundo e dei partida no carro, saindo da garagem com a sensação de que essa viagem poderia ser a última coisa que faríamos juntos como uma família.
O aeroporto estava lotado, como sempre nessa época do ano, filas enormes, funcionários sobrecarregados, pessoas correndo para não perder seus voos, após devolver o carro alugado, passamos pelo check-in e pelo controle de segurança e assim que nos acomodamos nos assentos do avião, tentei puxar conversa com Isadora.
— Quer trocar de lugar? Assim, você fica na janela, sei que você gosta.
— Não.
Respirei fundo e encostei a cabeça no encosto.
Pelo visto, as férias já tinham começado mal.
Assim que pousarmos na Flórida, um calor inesperado apareceu, mesmo em dezembro, o clima era bem melhor do que o frio de Boston, pegamos outro carro alugado no aeroporto e seguimos para o resort, quando paramos na entrada do hotel, me permiti um segundo para admirar o lugar, que francamente era realmente bonito.
Segui para o balcão de check-in e peguei as chaves dos quartos. Assim que entreguei a de Violeta, ela fez uma careta que eu sabia que vinha algo desagradável depois.
— Por que só tem duas chaves? Vão ser apenas dois quartos?
— Sim, um para as crianças e a Rose, outro para nós.
— Eu reservei três. — Ela cruzou os braços.
— Eu sei, mas não fazia sentido pagar por um terceiro quarto, um gasto totalmente desnecessário.
— Então todas nós vamos ficar em um quarto e você no outro.
— Violeta… — suspirei, massageando a testa. — Não faz drama, sabe que não cabem vocês todas lá, você vai precisar de ajuda com a Amélia e a Rose já tem a Aurora para cuidar.
— Eu dou um jeito.
— E vai dormir onde?
— Eu fico no sofá.
— Isso é ridículo! Eu não vou fazer nada, Violeta, só quero que fiquemos juntos por esses dias.
— Eu não confio mais em você. — Ela desviou o olhar para a bebê em seus braços.
— Eu sei que não, mas confie que eu só quero ajudar.
— Tudo bem, mas se você fizer qualquer coisa que me irrite ou que seja estúpida, eu pego as crianças e volto para casa.
— Fechado.
Quando abrimos a porta, o ambiente estava impecável, uma cama king-size no centro, nós pedimos um berço portátil que deixaram lado e uma varanda com vista para os parques. De onde estávamos, dava para ver a roda-gigante iluminada.
— Você fica do lado direito. — Violeta apontou para a cama assim que deixou Amélia no berço. — E nem tente cruzar a linha, entendeu?
— Entendido.
Eu sabia que essa viagem não consertaria nada, mas por algum motivo, ainda queria acreditar que sim.
(…)
No outro dia pela manhã já estávamos todo em frente ao parque que estava lotado, era de se esperar já que estávamos no fim de ano, crianças corriam por todo lado gritando, o cheiro inconfundível de pipoca amanteigada e algodão-doce se misturava ao som animado das músicas de filmes da Disney tocando pelos alto-falantes.
— Então, por onde começamos? — perguntei, tentando soar animado. — Me diz, Vi.
— Já está tudo planejado. — Violeta respondeu sem me olhar, focada no celular. — Primeira parada será na área infantil para Aurora aproveitar, afinal acho que ela é a única que realmente quer estar aqui.
Concordei sem discutir, um pouco envergonhado de Rose ficar ouvindo como Violeta me tratava, mas fingi não ligar, afinal, essa viagem era para elas.Ficamos um tempo vendo Aurora se divertir nos carrosséis e atrações mais mágicas para crianças, eu fiz praticamente todas as vontades dela, comprei cada ursinho que ela queria, me abaixei ao lado dela enquanto ela escolhia um pirulito gigante em uma das lojinhas, seus olhinhos brilhando de felicidade, depois por uma fantasia da Moana mais cara que eu já comprei, mas era bom ver ela se divertindo, meu coração doía só de pensar que talvez Bryan tire isso de mim.
Violeta observava-nos, de longe, brincando, enquanto amamentava a Amélia. Por um instante, nossos olhares se cruzaram e ela sorriu. Talvez algo estivesse mudando, mas, no segundo seguinte, ela desviou, ajustando a manta sobre Amélia.
Não... Nada mais mudaria.
Quando finalmente chegou a vez de Isadora escolher um brinquedo, ela me olhou de canto de olho e apontou para a montanha-russa mais alta do parque.
— Acha que aguenta, velhote?
Era um progresso, ela não estava completamente hostil comigo.
— Você está brincando? Eu nasci para isso.
Ela revirou os olhos, mas eu vi o canto da sua boca se erguer em um quase sorriso, me sentindo esperançoso. Deixamos Aurora com Violeta e Rose e seguimos para a fila da montanha-russa.
— Se gritar como uma garotinha, eu nunca vou deixar você esquecer disso. — Isadora comentou assim que sentamos.
— Eu? Gritar? — Ri, prendendo o cinto. — Pode esquecer, você que vai chorar de medo.
Ela mostrou a língua e o carrinho começou a subir. A subida foi lenta, dando tempo suficiente para vermos o parque inteiro lá do alto. Eu senti o vento forte no rosto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o carrinho despencou, tudo que consegui fazer foi gritar.
Quando saímos do brinquedo, meu cabelo estava completamente bagunçado, os da Isadora ainda mais, tentei ajeitar um pouco e por um segundo pensei que iria recuar, mas ela me deixou arrumar o seu cabelo.
— Você gritou! — ela zombou, empurrando meu ombro de leve.
— Não gritei nada.
— Ah, gritou sim.
— Você deve estar imaginando coisas.
Ela riu de novo e eu me permiti acreditar que talvez as coisas ainda pudessem melhorar entre nós.O resto do dia seguiu assim, pequenas doses de felicidade.
Talvez ainda houvesse esperança.
Talvez eu pudesse consertar tudo.
(...)
Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia um mínimo de alívio. O dia no parque tinha sido exaustivo, mas também trouxe momentos que pareciam quase normais.
Quando chegamos ao hotel, todos estávamos cansados, jantamos no restaurante do primeiro andar e depois subimos para os quartos. Violeta colocou Amélia no berço que dormia tranquila, depois se jogou na casa.
— Vou tomar um banho — avisei, puxando a camisa para cima, acho que ela me olhou, mas logo voltou a encarar o teto.
— Ok, não demore, também quero tomar um banho e dormir.
— Tá bom.
Deixei o celular sobre a cômoda e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo. Eu não sabia o que esperar do restante da viagem, mas pelo menos hoje, nessas horas que passamos juntos, parecia um passo na direção certa.
O som da porta se abrindo me tirou dos pensamentos.
Senti um frio na barriga.
Será que ela?
Meu coração deu um leve tropeço.
Violeta nunca mais entrou no banheiro quando eu estava no banho.
Não mais.
Será quê?
Não...
Ela iria?
— Seu mentiroso! — Ela explodiu, dando um passo à frente, a raiva queimando nos olhos dela. — Quem é a porra da Docinho, hein?!
— O quê?
Porque eu fui estúpido o bastante para não mudar o nome do número de Aurora em meu telefone.
— Não se faz de idiota! — Ela apontou um dedo para mim — Eu vi a mensagem, Harry!
— Violeta, você mexeu no meu celular?
— Ah, vá se fuder, Harry! — Seu rosto estava fervendo de raiva. — Eu não mexi em nada! Eu estava deitada e essa porcaria acendeu na minha cara! Agora responde! — Eu não tinha resposta para isso, eu não sabia o que dizer. — Quer merda é essa aqui?
Ela praticamente esfregou meu celular em meu rosto, mas claramente pude ver o que a tela do meu celular mostrava.
Docinho: O bebê está bem, nenhuma novidade.
— Que bebê, Harry? O que está acontecendo? Que porra de bebê essa tal de docinho está falando?
— Violeta…
— Não enrola, fala logo.
Eu passei as mãos pelo rosto molhado, tentando pensar em uma forma de amenizar aquilo, mas não havia saída, eu não podia mais esconder.
— Eu... Eu descobri que vou ter outro filho... Eu engravidei uma garota.
Violeta piscou algumas vezes, como se não tivesse ouvido direito, depois seus olhos arregalados se encheram de água, o olhar que ela me deu eu nunca desejaria a ninguém.
— Você, o quê?
— Aconteceu, eu não...
— Aconteceu!? — Ela riu, me interrompendo. — Não se faça de idiota, Harry, você sabia muito bem o que estava fazendo, não é como se fosse um acidente você gozar dentro de alguém.
— Violeta, eu não planejei isso.
— Ah, que ótimo, porque se tivesse planejado seria ainda pior!
— Violeta...
— Me diz, Harry, quem é ela? Me fala o nome, eu conheço? — Fiquei em silêncio, porque era vergonhoso demais.— FALA, PORRA!
— Aurora. — Disse olhando para o chão. — O nome dela é Aurora.
— Aurora? Você trepou com uma mulher com nome da sua filha?! — A confusão se desfez em seu rosto. — Espera. Aurora… Não me diz que... Não, não, não, a babá? Aquela garotinha, a amiga da Jane? — Meu silêncio era meu pior acusador. — Não me diz que foi ela, Harry?!
— Desculpe.
— Você está me dizendo que viu aquela garota uma vez na nossa casa e foi atrás dela?
— Não foi assim, eu já conhecia a Aurora antes, ela era minha aula.
— Ah! Ótimo, ao invés de trabalhar, você ficava fudendo sua aluna? Colocando toda sua carreira em risco por uma qualquer?! — Então os olhos dela se estreitaram ainda mais. — Foi ela.
— O quê?
— Foi ela com quem você ficava brincando de casinha em Boston, não foi? — Eu não conseguia olhar para ela. — Porra. Foi ela, você me julgou. Você me olhou nos olhos tantas vezes com aquela maldita superioridade e agora você fez o mesmo.
— Não foi bem assim.
— Isso é inacreditável, você se fez de vítima esse tempo todo, Harry! Me destruiu psicologicamente porque eu engravidei de outro homem e agora você fez exatamente a mesma coisa!
— Não é igual...
— CLARO QUE É IGUAL! — Ela gritou tão alto que tive medo de acordar Amélia no quarto. — Você é um hipócrita nojento, você sabe disso, não é?!
— Claro que sei, mas você acha que isso foi fácil para mim?
— Ah, pobrezinho! — Zombou. — Imagino como foi difícil para você gozar numa vadia qualquer e depois descobrir que ela está grávida!
— Não fale dela assim.
— Se fode, Harry! — Ela riu, sarcástica. — Tá defendendo agora?!
— Não, é só que ela não merece isso, não merece ser chamada assim.
— Sua amante de merda não merece ser chamada assim?! Você está brincando comigo?
— Chega, por favor. — Eu estava com frio, pelado e sendo humilhado.
— Não! Você acha que ela não vai vir atrás do seu dinheiro?
— Ele não é assim, Violeta.
— Acorda, Harry! Você não é um pobretão qualquer! Você tem dinheiro! Sua família tem uma das maiores redes de restaurantes do Reino Unido, a metade deles no seu nome, fora a herança generosa que sua avó te deixou por ser o neto favorito. É claro que essa mulher vai querer alguma coisa.
— Eu já estou lidando com isso, Violeta.
— Lidando como um idiota!
— Ah, por que você foi tão esperta, não é? — Disparei, sem conseguir segurar.
— Eu não vou mais tolerar isso.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que, quando a gente voltar dessa viagem, você vai sair de casa.
— Violeta…
— Acabou, assim que pisarmos em casa, quero você fora.
— Você não pode estar falando sério. — Passei as mãos pelos cabelos, desesperado.
Eu não podia ficar sem casa, não agora.
— Eu estou falando muito sério, eu não suporto mais suas merdas, já que quer resolver sozinho, fique sozinho.
— Violeta, por favor... — Ela ergueu a mão, interrompendo qualquer tentativa de eu me defender.
— Ah! E você conseguiu! Estragou a viagem logo no primeiro dia, amanhã eu e as meninas estamos voltando para casa, sem você, babaca.
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Yes Sir! Capítulo 44
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 23 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Aurora
Meus pais insistiram para passar o Natal em Boston, em vez de ir para Cambridge como sempre. A desculpa era que queriam estar comigo nesse momento "delicado", mas eu sabia a verdade, eles só não queriam que ninguém visse o desastre que minha gravidez representava para a família. No fundo, fiquei aliviada por Gabriel viajar para o Canadá para passar as festas com a família dele, pelo menos assim ele não precisaria assistir a esse show de horrores.
— Bom, mesmo que este Natal não seja como os outros. — Comentou minha mãe, servindo-se de mais peru para meu pai — Ainda somos uma família, então vamos aproveitar.
Georgia ergueu uma sobrancelha e olhou para mim, claramente tão desconfortável como eu com a tentativa da nossa mãe de manter o clima positivo.
— E, falando nisso, já que estamos todos aqui, podemos discutir alguns detalhes importantes sobre seu futuro, Aurora. — Sorriu para mim com um entusiasmo que eu não tinha.
— Podemos fazer isso outro dia?
Eu só queria uma refeição tranquila, mas infelizmente com minha mãe era quase impossível.
— Eu estava pensando em fazer um chá de bebê, o que acha? — Ela ignorou completamente o que disse.
— Eu não quero um chá de bebê.
— Aurora, toda mãe faz um chá de bebê.
— Eu já disse que não quero.
— Você precisa parar com essa teimosia. — Ela largou os talheres na mesa. — Esse bebê não tem culpa se veio de uma gravidez vergonhosa, mas no mínimo você poderia parar de agir como se ele fosse um fardo, já que a culpa dele existir é sua.
— Mãe, se ela não quer, deixa a garota em paz, nem todo mundo ama suas festinhas. — Georgia revirou os olhos, bebendo um gole do vinho.
— Georgia, não me venha com isso, essa é uma tradição, Aurora precisa celebrar a chegada do bebê.
— Mas eu não quero celebrar nada. — Estava começando a me irritar.
— Lá vamos nós de novo. — Meu pai soltou um suspiro pesado. — Podemos fazer isso depois, eu quero comer sem o drama da Aurora pelo menos uma vez.
— Lion, eu só quero saber o futuro do meu neto. — Minha mãe ergueu as mãos. — Aurora, você ao menos já pensou em abrir aquele quarto de hóspedes? Eu nem vi o quarto do meu netinho.
— Ainda não.
— O bebê já vai nascer em alguns meses! Você quer que ele durma onde?
— Eu vou resolver isso, mãe.
— Resolver como? Você nem sabe montar um berço! Não se preocupe, vou contratar alguém para organizar tudo, em uma semana, aquele quarto vai estar pronto.
— Mãe, eu já disse que vou resolver.
— Eu desisto. — Arfou jogando o guardanapo na mesa. — Lion, fala com sua filha sobre ela voltar para Cambridge.
— O quê? Como assim?
— Sua mãe acha que você deveria voltar para Cambridge conosco depois das festas de fim de ano.
— Eu não posso pai, minha vida é aqui.
— Que vida? — Ele arqueou uma sobrancelha. — E quem exatamente faz parte dessa "vida" tão importante em Boston?
— Pessoas importantes para mim.
— O imprestável pai do bebê? — Ele estreitou olhos. — Você ao menos já contou para ele?
— Sim, já contei pra ele.
— E...?
— Ele sabe.
— Então por que esse homem nem sequer se apresentou?
— Porque é complicado.
— Complicado? — Ele riu, sarcástico. — Deixe-me ver se entendi, você engravida, avisa o pai da criança e ele simplesmente desaparece?
— Ele não desapareceu.
— Então, onde ele está? — Me segurei para não gritar. — É exatamente o que eu pensei, escute bem Aurora, eu não me importo se vocês estão juntos ou não, o que importa é que ele tem responsabilidades, não é só porque você tem dinheiro que ele pode simplesmente não assumir nada, eu quero conhecer esse homem, quero saber quem ele é, se tem caráter suficiente para assumir o papel dele.
Eles estavam me sufocando, sufocando qualquer resposta coerente que eu pudesse pensar.
— A gente pode resolver isso depois — Implorei, fechando os olhos. — Por favor?!
— Não, eu já esperei o suficiente.
Todo o controle que eu tentava manter evaporou, no segundo que ouvi meu pai, eu estava cansada de tudo aquilo.
— Será que é tão difícil assim vocês entenderem que eu não quero falar disso? — Bati na mesa com minha voz já alterada.
— Não precisa gritar. — Ele me repreendeu no mesmo tom.
— Não precisa? Você não me ouve! Nenhum de vocês me ouve!
— Estamos tentando ajudar, Aurora.
— Ajudar?! Ajudar seria pelo menos uma vez vocês me deixarem decidir o que eu quero fazer com a minha própria vida!
— Você está exagerando, Aurora. — Minha mãe resmungou.
— Exagerando? Sabe por que eu não quero chá de bebê? Por que não estou preocupada em decorar um quarto? Por que eu não quero que conheçam o pai desse bebê?! — Eu realmente estava prestes a jogar tudo aquilo?! Estava — EU NÃO VOU FICAR COM O BEBÊ.
A cozinha ficou em silêncio absoluto.
Minha mãe estava completamente paralisada.
— O que disse? — Meu pai foi o único que ficou imóvel, seu semblante tranquilo.
— Eu não vou ficar com ele — Repeti, sentindo a raiva pulsar em cada célula do meu corpo. — Vou dar para adoção.
— Então você realmente acha que pode simplesmente jogar essa criança fora como se fosse um erro que pode apagar?
— Eu não estou jogando ninguém fora, pai.
— Claro que está. — Retrucou, frio. — Você sempre fez isso, sempre fugiu das suas responsabilidades, agora não está sendo diferente.
— Isso não é fugir! — Minha garganta queimava.
— Não? O que é, então? Maturidade? — Ele riu, batendo palmas. — É você assumindo as consequências das suas responsabilidades? Porque, se fosse, você teria pensado nisso antes de se meter nessa situação. — Minhas lágrimas começaram a cair, mas ele não parou, ele não iria perder a oportunidade de me humilhar ainda mais.— Você não tem um futuro, Aurora, já jogou isso fora no momento em que se deixou aquele babaca te engravidar.
— É isso que você pensa de mim? Depois de dizer que sempre estariam aqui para me apoiar! Grande mentiroso você é.
— Ah! Aurora, eu gastei meu dinheiro pagando sua faculdade, suportei todos seus dramas, suas irresponsabilidades, todas as suas decisões idiotas e para quê? Para ver você virar isso? Uma vergonha? — Minha respiração estava acelerada, ele já havia sido cruel comigo, mas agora?! Ele estava determinado a me machucar. — Você nunca consegue tomar uma decisão decente sozinha e quer saber? Eu não me surpreendo, sempre soube que você era um desperdício de potencial.
— Se sou um desperdício, então por que continua aqui?!
— Se não fosse por nós, como iria cair na realidade?
— Você acha que não sei sobre minha realidade? A minha realidade é que eu estou grávida de um filho que eu não quero, que meu próprio pai me odeia, que eu estou tentando fazer o melhor para mim e para essa criança e vocês não conseguem aceitar porque isso não se encaixa na imagem de filha perfeita que vocês criaram!
— Não fale como se fosse uma vítima, a única pessoa que destruiu sua vida foi você mesma.
Foi a gota d’água.
— Você acha que eu destruí minha vida? Ótimo. — Me levantei tão rápido que a cadeira quase caiu para trás.— Então me deixe em paz para lidar com isso do meu jeito.
— Não quero mais ouvir nada. — Meu pai bufou e se levantou também. — Eu sabia que essa noite seria uma perda de tempo, vamos embora, Kate.
— Mãe. — Implorei, por algum apoio, mas o barulho da cadeira dela sendo empurrada para trás ecoou pelo cômodo.
— Você só pode estar louca, Aurora, se acha que eu vou deixar você dar meu neto para outra família. — Os olhos dela se encheram de lágrimas, ela virou-se para meu pai.
— Eu não consigo mais olhar para ela, vamos, eu quero ir embora.
— Parabéns, Aurora, você conseguiu estragar o Natal. — Praguejou, meu pai sem nem olhar para trás.
(...)
A televisão exibia algum especial de fim de ano em que eu não estava prestando atenção enquanto afundava mais no sofá, com um cobertor puxado até os ombros.
Sozinha.
Era assim que meu ano estava terminando.
O Natal já tinha sido um desastre, com o surto dos meus pais. Georgia até quis ficar, insistiu muito, mas eu preferi deixar ir com a mamãe, era melhor assim.
Agora estava aqui, em um apartamento vazio, tentando fingir que não me importava, que tudo o que meu pai disse para mim não havia me machucado, tentando me convencer de que ele não tinha razão sobre mim, mas a esse ponto eu realmente estava duvidando.
Eu era mesmo um desperdício de potencial?
Realmente, não havia um futuro bom para mim?
O celular vibrou ao meu lado, peguei o aparelho e vi o nome de Gabriel piscando na tela, uma chamada de vídeo, atendi, ajeitando um pouco o meu cabelo, limpando algumas lágrimas. Ele não precisava saber o quão ruim eu estava.
— Oi, amor.
— Oi.
— Como vocês estão?
— Bem.
— Sei. — Fingiu acreditar. — E as coisas com a sua família? Já se acalmaram?
— Você acha que minha mãe vai me perdoar tão fácil? Ela deve estar me xingando até agora.
— Quer que eu volte antes?
— Não, Gabriel, você está com a sua família, aproveita.
— Eu não me importo, se você precisar, eu volto.
— Eu não preciso.
— Estou falando sério, se precisar, eu pego o próximo voo para fora daqui.
— Não. — Fui rápida em dizer, antes que ele cogitasse realmente a ideia.— Você não precisa estragar as suas férias com sua família por causa de mim.
— Você não estaria estragando nada, eu preferia estar com você.
— Você é tão fofo. — Foi o máximo que consegui dizer. — Mas eu nunca me perdoaria por isso.
— Quer que eu peça para o meu tio ir aí? — Meu corpo ficou tenso. — O Bryan voltou do Canadá há dois dias, por causa de uma cirurgia de última hora para fazer.
— E por que diabos você acha que eu ia querer isso?
— Porque eu sei que você odeia ficar sozinha. — Gabriel riu, como se minha reação fosse exagerada.
— E eu prefiro ficar sozinha a ter o seu tio na minha casa!
— Relaxa, foi só uma ideia. — Ele sorriu, como se gostasse de me irritar. — Deixa eu ver você.
— Você já está me vendo. — Franzi a testa.
— Não, quero ver a barriga.
— Para quê?
— Só quero ver.
— Gabi.
— Só um pouquinho. — Fez um biquinho fofo demais para ignorar.
Soltei um suspiro, mas abaixei a câmera do celular, afastando o moletom só o suficiente para ele ver minha barriga. Do outro lado da tela, ele ficou observando.
— Nossa, não é que ela cresceu quando eu estive fora?
— Não cresceu nada, está extremamente igual, estranha e sem graça.
— Tá linda.
— Pronto, satisfeito? — Abaixei o moletom de volta.
— Por enquanto. — Ele sorriu. — Ei, você está bem mesmo?
— Sim.
— Não gosto de ver você triste.
— Não se preocupe, eu estou bem.
Ele olhou para o lado, como se conferisse se havia alguém por perto, antes de dizer aquelas três palavras que sempre acabavam comigo.
— Eu amo você, sabia?
— Eu sei.
— E sabe que não precisa se sentir pressionada para dizer de volta, não é?
— Eu sei.
— Eu preciso ir agora, mas feliz Ano Novo, minha Aurora.
— Feliz Ano Novo, Gabi. — Disse antes de encerrar a ligação.
Segurei o celular por um instante antes de soltá-lo no sofá, a primeira lágrima escorreu sem aviso, eu não queria passar a virada assim, sem ele, chorando, sozinha, mas de repente, eu não consegui mais segurar.
(...)
Eu cochilava quando o interfone tocou, levantei-me arrastando os pés no espelho ao lado da porta, meus olhos vermelhos me encaravam, e meu rosto inchado denunciava a sessão de choro de mais cedo, inspirei fundo antes de atender.
— Senhorita Aurora, tem um entregador aqui embaixo.
— Entregador?
Quem mandaria uma entrega em pleno Ano Novo?
Eu também não me lembrava de ter pedido nada.
— Sim, posso autorizar a subida?
— Ok.
Fiquei esperando na porta, tentando imaginar o que poderia ser.
Gabriel?
Talvez, mas ele já tinha me ligado mais cedo, se fosse algo dele, teria falado.
Então, só restava uma possibilidade.
Harry.
Não seria a primeira vez que ele faria algo assim, mas quando o elevador apitou e as portas se abriram, senti meu corpo travar.
Não era Harry.
Era Bryan.
O sorriso presunçoso no rosto dele me fez sentir um arrepio, o tipo de arrepio que eu odiava admitir que sentia.
Ele segurava uma pequena sacola de papel e me olhava daquele jeito.
Aquele maldito jeito.
— Oi, raposinha.
Odeio esse apelido.
Odeio o jeito que ele soa vindo dele.
— O que você está fazendo aqui?
— Seu namorado tão dedicado, lá do outro país, pediu para eu passar aqui e deixar sua torta favorita. — Bryan ergueu a sacola, balançando-a no ar. — Na cabeça dele, isso resolveria todos os seus problemas.
— Claro que ele faria isso e seria você o bom samaritano a me trazer.
Gabriel confiava demais no próprio tio.
— Uau, tanta gratidão, eu dirigi uns vinte quarteirões para te trazer isso, é assim que você me trata?
— Desculpa, mas você não precisava vir até aqui, podia simplesmente mandar outra pessoa entregar.
— Infelizmente, hoje eles não estavam fazendo entregas e eu tinha uma festa de Ano Novo para ir aqui perto, então não foi um sacrifício tão grande assim.
— Muito obrigado, mas não quero te atrapalhar sua festa. — Estendi a mão para pegar a sacola, mas ele recuou.
— Você andou chorando, raposinha?
— Eu não. — Virei o rosto, mas senti o olhar dele queimando minha pele.
— Então, a vermelhidão nos seus olhos é de felicidade?
— Bryan, eu estou bem.
— Quer saber? Eu ia nessa festa, mas posso muito bem ficar por aqui.
— Você não tem que fazer isso, sério.
Eu e ele sozinhos de novo?
Depois do que ele disse aquele dia...
Era a pior ideia possível.
— Ah, mas eu não posso sair e deixar você assim. — Antes que eu pudesse impedi-lo, ele já tinha entrado.
Fechei a porta atrás de mim, tentando ignorar a sensação estranha no peito. Não deveria me sentir aliviada por não estar sozinha, mas me senti, óbvio, que Bryan era a última pessoa que gostaria que estivesse ali, mas eu só queria um pouco de companhia.
Bryan deixou a torta na mesa, fui até lá abrir a caixa, o cheiro doce de mirtilo subiu no ar, fazendo meu estômago roncar.
Gabriel, sempre soube como me animar, mesmo longe, conseguia ser o melhor namorado do mundo. Peguei um garfo, cortei um pedaço, mas antes que eu pudesse levar à boca, Bryan surgiu atrás de mim.
— Deixa eu ver se é realmente boa. — Se inclinou, eu podia sentir seu cheiro.
— O quê?
— Quero ver se valeu o esforço para te entregar isso.
— Tudo bem, o garfo está na gaveta de cima. — Bufei.
Mas Bryan não pegou um garfo, em vez disso, segurou meu pulso, minha pele congelou, o calor da palma dele contra a minha me fez travar, então guiou minha mão até a boca dele, minha respiração falhou quando os lábios dele tocaram o garfo, ele lambeu o lábio devagar, os olhos presos nos meus.
— Hm, ok, valeu o esforço. — Sorrindo, ele se afastou como se nada tivesse acontecido.
Mas aconteceu.
Ele estava fazendo seus joguinhos de novo.
(...)
Não havia clima nenhum de festa em meu apartamento, eu talvez tivesse me arrependido de ter deixado Bryan entrar, talvez ele estivesse entendiado ao ficar ali sentado ao meu lado, com a TV ainda exibindo um especial de Ano Novo, passei os últimos trinta minutos encolhida no sofá, em silêncio, tentando ignorar Bryan para ver se ele iria embora, mas ele não pareceu se incomodar.
— Você está muito quietinha hoje. — Ele se aproximou, perto demais. — Quer me contar o que aconteceu?
— Não estou afim.
— Deve ter sido algo sério ou Gabriel não me ligaria para poder agradar você, quer que eu anime você?
— Eu não estou a fim de joguinhos hoje.
— Não seja tão ranzinza. — Ele se levantou. — Não dá para começar o ano assim. — Estendeu sua mão. — Vem, vamos ver os fogos. — Quando eu hesitei em segurá-lo, ele pegou meu pulso com delicadeza, puxando-me para levantar.
— Está frio lá fora e está nevando.
— Então eu te esquento, só vem.
— Nem pense.
Eu queria protestar, mas Bryan já havia aberto a porta da varanda, o vento gelado me atingiu, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça, algumas pessoas já soltavam fogos antes da meia-noite, eu tremi, encolhendo os braços ao redor do corpo, foi quando senti os braços de Bryan deslizaram ao meu redor, firmes, puxando-me contra ele, seu peito quente pressionou minhas costas, sua respiração roçou meu pescoço.
— Bryan.
— Relaxa. — A voz dele era baixa, como se estivesse se aninhando. — Eu só quero te aquecer, nada mais.
Na TV, a contagem regressiva começou.
Era quase meia-noite.
Dez… Nove… Oito…
— Raposinha. — Os lábios dele se aproximaram do meu ouvido. — Você sabe qual é a tradição, né?
Minha respiração falhou.
Sete… Seis…
— Não.
Mentira.
Cinco…
— Ah, claro que sabe. — Riu contra minha pele. — Você não quer começar o ano com azar, não é?
Quatro…
— Bryan.
Ele virou meu rosto levemente com seus dedos, a ponta do nariz roçando minha bochecha.
Três…
— Só um beijo, Aurora.
Dois…
— Bryan. — Minha voz mal saiu.
Um...
Os lábios dele tocaram os meus, meu coração disparou, meus braços ficaram imóveis ao lado do corpo como se estivessem grudados ali, era como se meu cérebro tivesse entrado em curto-circuito.
Isso estava acontecendo?
Bryan estava me beijando?
Eu não o beijei de volta, mas também não consegui me afastar.
— Feliz Ano Novo, raposinha. — Eu não consegui dizer nada, ele sorriu de lado, analisando meu rosto com os olhos atentos. — Vem, vamos entrar antes que congele. — Ele pegou minha mão, mas dessa vez meu corpo respondeu e eu me afastei. — O que foi?
Minha mente tentava processar o que acabou de acontecer.
Foi só um beijo de Ano Novo?
Só isso?
Era só uma tradição idiota, que qualquer um faria, amigos se beijariam, não é?
Não era nada de mais.
— Isso não devia ter acontecido. — Minha pele ainda estava queimando onde os lábios dele tinham tocado.
— Não precisa fingir que não gostou.
— Você não devia ter feito isso.
— E eu tenho culpa se você não se afastou?
— Eu não te beijei!
Ele se aproximou de novo, inclinando o rosto, para sussurrar em meu ouvido.
— Sério? Porque eu senti seus lábios se moverem.
— Eu não...
— Aurora, isso foi só um beijo, na verdade, nem sei se deveríamos dizer que isso realmente foi um beijo, então relaxa.
— Acho melhor você ir.
— Ah! Aurora, não é como se você nunca tivesse se perguntado como seria.
— Vá embora!
Eu estava sentindo culpada.
— Ah, então agora eu sou o vilão?
— Por favor, vá embora.
Ele me encarou por um segundo e então saiu, com a porta batendo atrás dele.
Minhas mãos tremiam, meu corpo tremia.
Como minha noite foi acabar assim?
Harry
O Natal tinha sido um completo desastre.
A árvore decorada no canto da sala não conseguia melhorar o clima da casa, o jantar foi um silêncio constrangedor, minha família resolveu vir de Homes Chapel para cá, mas era impossível não ver que nosso casamento estava ruindo, que nossa família era um completo desastre e nossa casa estava um caos, Isadora passou a maioria do tempo no celular, evitando me olhar, Aurora brincava com suas priminhas, era única realmente feliz ali, Violeta mal falou comigo, ela não se deu o trabalho de esconder sua insatisfação de estar ao meu lado, mesmo na frente da minha família e eu apenas fingi, fingi que era feliz, sorri para minha mãe e contei dos últimos meses, como se fosse um orgulho, não mencionei que estava lutando para não perder minha filha, não disse que descobri que vou ser pai pela quarta vez, nem se quer mencionar que estava a beira de um divórcio, eu só ignorei todo peso esmagador do fracasso e sorri.
Agora, poucos dias depois, estávamos prestes a embarcar nessa viagem, um esforço desesperado para fingirmos que ainda éramos uma família, mas a verdade era que ninguém parecia animado para isso.
O frio cortante de dezembro fazia minha pele arder enquanto eu ajeitava todas as malas no porta-malas do carro alugado.
Por que mulheres precisam de tanta coisa só para passar alguns dias fora?
— Podemos ir logo? — Isadora bufou, encostada na lateral do carro.
Violeta saiu da casa segurando Amélia, que dormia tranquila em seus braços. Rose vinha logo atrás, guiando Aurora pela mão.
Ainda bem que aceitou a proposta de ir junto, não sei o que faríamos sem ajuda nessa viagem.
— Coloque a cadeirinha dela no banco do meio. — Violeta falou, sem nem me olhar.
Eu assenti e peguei Amélia com cuidado, ajeitando-a no assento, Violeta sentou ao lado dela, Isadora no banco de trás, grudada na porta como se minha presença de todos ali a contaminasse. Rose ajeitou-se ao lado da cadeirinha da Aurora.
— Todo mundo pronto? — tentei soar alegre, mas ninguém respondeu.
Suspirei fundo e dei partida no carro, saindo da garagem com a sensação de que essa viagem poderia ser a última coisa que faríamos juntos como uma família.
O aeroporto estava lotado, como sempre nessa época do ano, filas enormes, funcionários sobrecarregados, pessoas correndo para não perder seus voos, após devolver o carro alugado, passamos pelo check-in e pelo controle de segurança e assim que nos acomodamos nos assentos do avião, tentei puxar conversa com Isadora.
— Quer trocar de lugar? Assim, você fica na janela, sei que você gosta.
— Não.
Respirei fundo e encostei a cabeça no encosto.
Pelo visto, as férias já tinham começado mal.
Assim que pousarmos na Flórida, um calor inesperado apareceu, mesmo em dezembro, o clima era bem melhor do que o frio de Boston, pegamos outro carro alugado no aeroporto e seguimos para o resort, quando paramos na entrada do hotel, me permiti um segundo para admirar o lugar, que francamente era realmente bonito.
Segui para o balcão de check-in e peguei as chaves dos quartos. Assim que entreguei a de Violeta, ela fez uma careta que eu sabia que vinha algo desagradável depois.
— Por que só tem duas chaves? Vão ser apenas dois quartos?
— Sim, um para as crianças e a Rose, outro para nós.
— Eu reservei três. — Ela cruzou os braços.
— Eu sei, mas não fazia sentido pagar por um terceiro quarto, um gasto totalmente desnecessário.
— Então todas nós vamos ficar em um quarto e você no outro.
— Violeta… — suspirei, massageando a testa. — Não faz drama, sabe que não cabem vocês todas lá, você vai precisar de ajuda com a Amélia e a Rose já tem a Aurora para cuidar.
— Eu dou um jeito.
— E vai dormir onde?
— Eu fico no sofá.
— Isso é ridículo! Eu não vou fazer nada, Violeta, só quero que fiquemos juntos por esses dias.
— Eu não confio mais em você. — Ela desviou o olhar para a bebê em seus braços.
— Eu sei que não, mas confie que eu só quero ajudar.
— Tudo bem, mas se você fizer qualquer coisa que me irrite ou que seja estúpida, eu pego as crianças e volto para casa.
— Fechado.
Quando abrimos a porta, o ambiente estava impecável, uma cama king-size no centro, nós pedimos um berço portátil que deixaram lado e uma varanda com vista para os parques. De onde estávamos, dava para ver a roda-gigante iluminada.
— Você fica do lado direito. — Violeta apontou para a cama assim que deixou Amélia no berço. — E nem tente cruzar a linha, entendeu?
— Entendido.
Eu sabia que essa viagem não consertaria nada, mas por algum motivo, ainda queria acreditar que sim.
(…)
No outro dia pela manhã já estávamos todo em frente ao parque que estava lotado, era de se esperar já que estávamos no fim de ano, crianças corriam por todo lado gritando, o cheiro inconfundível de pipoca amanteigada e algodão-doce se misturava ao som animado das músicas de filmes da Disney tocando pelos alto-falantes.
— Então, por onde começamos? — perguntei, tentando soar animado. — Me diz, Vi.
— Já está tudo planejado. — Violeta respondeu sem me olhar, focada no celular. — Primeira parada será na área infantil para Aurora aproveitar, afinal acho que ela é a única que realmente quer estar aqui.
Concordei sem discutir, um pouco envergonhado de Rose ficar ouvindo como Violeta me tratava, mas fingi não ligar, afinal, essa viagem era para elas.Ficamos um tempo vendo Aurora se divertir nos carrosséis e atrações mais mágicas para crianças, eu fiz praticamente todas as vontades dela, comprei cada ursinho que ela queria, me abaixei ao lado dela enquanto ela escolhia um pirulito gigante em uma das lojinhas, seus olhinhos brilhando de felicidade, depois por uma fantasia da Moana mais cara que eu já comprei, mas era bom ver ela se divertindo, meu coração doía só de pensar que talvez Bryan tire isso de mim.
Violeta observava-nos, de longe, brincando, enquanto amamentava a Amélia. Por um instante, nossos olhares se cruzaram e ela sorriu. Talvez algo estivesse mudando, mas, no segundo seguinte, ela desviou, ajustando a manta sobre Amélia.
Não... Nada mais mudaria.
Quando finalmente chegou a vez de Isadora escolher um brinquedo, ela me olhou de canto de olho e apontou para a montanha-russa mais alta do parque.
— Acha que aguenta, velhote?
Era um progresso, ela não estava completamente hostil comigo.
— Você está brincando? Eu nasci para isso.
Ela revirou os olhos, mas eu vi o canto da sua boca se erguer em um quase sorriso, me sentindo esperançoso. Deixamos Aurora com Violeta e Rose e seguimos para a fila da montanha-russa.
— Se gritar como uma garotinha, eu nunca vou deixar você esquecer disso. — Isadora comentou assim que sentamos.
— Eu? Gritar? — Ri, prendendo o cinto. — Pode esquecer, você que vai chorar de medo.
Ela mostrou a língua e o carrinho começou a subir. A subida foi lenta, dando tempo suficiente para vermos o parque inteiro lá do alto. Eu senti o vento forte no rosto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o carrinho despencou, tudo que consegui fazer foi gritar.
Quando saímos do brinquedo, meu cabelo estava completamente bagunçado, os da Isadora ainda mais, tentei ajeitar um pouco e por um segundo pensei que iria recuar, mas ela me deixou arrumar o seu cabelo.
— Você gritou! — ela zombou, empurrando meu ombro de leve.
— Não gritei nada.
— Ah, gritou sim.
— Você deve estar imaginando coisas.
Ela riu de novo e eu me permiti acreditar que talvez as coisas ainda pudessem melhorar entre nós.O resto do dia seguiu assim, pequenas doses de felicidade.
Talvez ainda houvesse esperança.
Talvez eu pudesse consertar tudo.
(...)
Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia um mínimo de alívio. O dia no parque tinha sido exaustivo, mas também trouxe momentos que pareciam quase normais.
Quando chegamos ao hotel, todos estávamos cansados, jantamos no restaurante do primeiro andar e depois subimos para os quartos. Violeta colocou Amélia no berço que dormia tranquila, depois se jogou na casa.
— Vou tomar um banho — avisei, puxando a camisa para cima, acho que ela me olhou, mas logo voltou a encarar o teto.
— Ok, não demore, também quero tomar um banho e dormir.
— Tá bom.
Deixei o celular sobre a cômoda e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo. Eu não sabia o que esperar do restante da viagem, mas pelo menos hoje, nessas horas que passamos juntos, parecia um passo na direção certa.
O som da porta se abrindo me tirou dos pensamentos.
Senti um frio na barriga.
Será que ela?
Meu coração deu um leve tropeço.
Violeta nunca mais entrou no banheiro quando eu estava no banho.
Não mais.
Será quê?
Não...
Ela iria?
— Seu mentiroso! — Ela explodiu, dando um passo à frente, a raiva queimando nos olhos dela. — Quem é a porra da Docinho, hein?!
— O quê?
Porque eu fui estúpido o bastante para não mudar o nome do número de Aurora em meu telefone.
— Não se faz de idiota! — Ela apontou um dedo para mim — Eu vi a mensagem, Harry!
— Violeta, você mexeu no meu celular?
— Ah, vá se fuder, Harry! — Seu rosto estava fervendo de raiva. — Eu não mexi em nada! Eu estava deitada e essa porcaria acendeu na minha cara! Agora responde! — Eu não tinha resposta para isso, eu não sabia o que dizer. — Quer merda é essa aqui?
Ela praticamente esfregou meu celular em meu rosto, mas claramente pude ver o que a tela do meu celular mostrava.
Docinho: O bebê está bem, nenhuma novidade.
— Que bebê, Harry? O que está acontecendo? Que porra de bebê essa tal de docinho está falando?
— Violeta…
— Não enrola, fala logo.
Eu passei as mãos pelo rosto molhado, tentando pensar em uma forma de amenizar aquilo, mas não havia saída, eu não podia mais esconder.
— Eu... Eu descobri que vou ter outro filho... Eu engravidei uma garota.
Violeta piscou algumas vezes, como se não tivesse ouvido direito, depois seus olhos arregalados se encheram de água, o olhar que ela me deu eu nunca desejaria a ninguém.
— Você, o quê?
— Aconteceu, eu não...
— Aconteceu!? — Ela riu, me interrompendo. — Não se faça de idiota, Harry, você sabia muito bem o que estava fazendo, não é como se fosse um acidente você gozar dentro de alguém.
— Violeta, eu não planejei isso.
— Ah, que ótimo, porque se tivesse planejado seria ainda pior!
— Violeta...
— Me diz, Harry, quem é ela? Me fala o nome, eu conheço? — Fiquei em silêncio, porque era vergonhoso demais.— FALA, PORRA!
— Aurora. — Disse olhando para o chão. — O nome dela é Aurora.
— Aurora? Você trepou com uma mulher com nome da sua filha?! — A confusão se desfez em seu rosto. — Espera. Aurora… Não me diz que... Não, não, não, a babá? Aquela garotinha, a amiga da Jane? — Meu silêncio era meu pior acusador. — Não me diz que foi ela, Harry?!
— Desculpe.
— Você está me dizendo que viu aquela garota uma vez na nossa casa e foi atrás dela?
— Não foi assim, eu já conhecia a Aurora antes, ela era minha aula.
— Ah! Ótimo, ao invés de trabalhar, você ficava fudendo sua aluna? Colocando toda sua carreira em risco por uma qualquer?! — Então os olhos dela se estreitaram ainda mais. — Foi ela.
— O quê?
— Foi ela com quem você ficava brincando de casinha em Boston, não foi? — Eu não conseguia olhar para ela. — Porra. Foi ela, você me julgou. Você me olhou nos olhos tantas vezes com aquela maldita superioridade e agora você fez o mesmo.
— Não foi bem assim.
— Isso é inacreditável, você se fez de vítima esse tempo todo, Harry! Me destruiu psicologicamente porque eu engravidei de outro homem e agora você fez exatamente a mesma coisa!
— Não é igual...
— CLARO QUE É IGUAL! — Ela gritou tão alto que tive medo de acordar Amélia no quarto. — Você é um hipócrita nojento, você sabe disso, não é?!
— Claro que sei, mas você acha que isso foi fácil para mim?
— Ah, pobrezinho! — Zombou. — Imagino como foi difícil para você gozar numa vadia qualquer e depois descobrir que ela está grávida!
— Não fale dela assim.
— Se fode, Harry! — Ela riu, sarcástica. — Tá defendendo agora?!
— Não, é só que ela não merece isso, não merece ser chamada assim.
— Sua amante de merda não merece ser chamada assim?! Você está brincando comigo?
— Chega, por favor. — Eu estava com frio, pelado e sendo humilhado.
— Não! Você acha que ela não vai vir atrás do seu dinheiro?
— Ele não é assim, Violeta.
— Acorda, Harry! Você não é um pobretão qualquer! Você tem dinheiro! Sua família tem uma das maiores redes de restaurantes do Reino Unido, a metade deles no seu nome, fora a herança generosa que sua avó te deixou por ser o neto favorito. É claro que essa mulher vai querer alguma coisa.
— Eu já estou lidando com isso, Violeta.
— Lidando como um idiota!
— Ah, por que você foi tão esperta, não é? — Disparei, sem conseguir segurar.
— Eu não vou mais tolerar isso.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que, quando a gente voltar dessa viagem, você vai sair de casa.
— Violeta…
— Acabou, assim que pisarmos em casa, quero você fora.
— Você não pode estar falando sério. — Passei as mãos pelos cabelos, desesperado.
Eu não podia ficar sem casa, não agora.
— Eu estou falando muito sério, eu não suporto mais suas merdas, já que quer resolver sozinho, fique sozinho.
— Violeta, por favor... — Ela ergueu a mão, interrompendo qualquer tentativa de eu me defender.
— Ah! E você conseguiu! Estragou a viagem logo no primeiro dia, amanhã eu e as meninas estamos voltando para casa, sem você, babaca.
Obrigado por ler até aqui 💗 O feedback através de um comentário é muito apreciado!
Esta ansiosa (o) para o próximo?
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estou amando os imagines, mas quero logo o próx cap de YES SIRRRRE 😂😂
Vou postar hoje meu amor ❤️❤️❤️
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Bitter Sweet

Inspirado na música: sweet - cigarrettes after sex
A batida da música fazia o chão vibrar sob meus pés, as luzes vermelhas e azuis cortavam o ambiente, iluminando rostos borrados pelo efeito de dos drinks que bebi. Mulheres passavam por mim, algumas me olhavam por tempo demais, mas eu não retribuía, nenhuma delas era interessante o suficiente para me satisfazer. Meu copo estava pela metade, quando senti o celular vibrar no bolso da calça.
Uma vez.
Depois outra.
E outra.
Tirei o aparelho e vi o nome dela iluminando a tela.
S/n.
Meu peito apertou.
Desbloqueei a tela e vi as mensagens chegando sem parar.
Dez.
Quinze.
Todas foram enviadas nos últimos minutos.
Hazz...
Você não me odeia, né?
Você ainda pensa em mim?
Eu ainda penso em você.
Você pensa em mim?
Você sente saudade?
Eu sinto…
Minha mão apertou o celular com mais força, eu sabia onde isso ia dar, sempre acontecia quando ela bebia.
Ela sumia da minha vida, me obrigava a seguir em frente e no segundo em que eu começava a conseguir, ela reaparecia.
Dessa vez, não seria diferente.
Amanhã, quando a ressaca passasse, ela se arrependeria de ter me procurado.
Fingiria que nada aconteceu.
Mas antes que eu desligasse a tela, um vídeo carregou na conversa.
Minha respiração falhou quando vi a imagem refletindo em meu celular. S/n estava no banho, o cabelo molhado pingava gotas que deslizavam por sua pele, o vapor cobria parte da câmera, mas o que consegui enxergar já era o suficiente para bagunçar minha cabeça.
Ela sabia que eu era obcecado pelo seu corpo.
Sabia como mexer comigo.
Mas todas às vezes… todas as malditas vezes… era o jeito que ela sorria que me atraía.
Outro vídeo carregou.
Ela já estava na cama agora, uma lingerie vermelha contrastava com sua pele quente, o tecido se moldando ao corpo que eu ainda conhecia tão bem.
Ela se movia devagar, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.
Ela sabia que eu achava que sua pele tinha a cor perfeita.
Perfeita no jeito como se encaixava contra os meus lençóis.
Mas eram sempre os olhos dela que me seduziam, por mais que o corpo me atraísse, eram os olhos que me quebravam.
O jeito como costumavam brilhar para mim, o jeito como, mesmo agora, mesmo bêbada e confusa, ela ainda me olhava como se eu fosse tudo.
Como se eu fosse o único para ela.
Seu único e doce amor.
Meus pensamentos lutavam entre razão e impulso, eu sabia que deveria ignorar.
Eu precisava ignorar.
Porém, mais mensagens chegaram.
Eu fiz merda, Hazz…
Eu estraguei tudo, né?
Diz que não me odeia.
Diz que ainda me quer.
Diz que quer me foder até eu esquecer que a gente terminou.
Me diz que quer me amar até eu lembrar por que a gente começou.
Meus dedos apertaram o copo.
E então, um áudio carregou.
Eu me forcei a não ouvir. Mas não consegui, eu precisava ouvir, eu queria ouvir.
Harry...
Eu sempre fui péssima sem você.
Antes que percebesse, já estava saindo da boate.
O ar frio da madrugada bateu no meu rosto quando alcancei a rua, os passos apressados enquanto tentava chamar um carro.
As mensagens dela ainda piscavam na tela.
Hazz, eu estou tão cansada de sentir sua falta…
Não quero mais sentir isso…
O táxi chegou, e eu entrei sem hesitar.
— Para onde? — perguntou o motorista, sem nem me olhar.
Minhas mãos apertaram o celular, o endereço dela já estava salvo nos meus favoritos, porque eu nunca consegui apagar.
— Madison Avenue, número 845.
O motorista apenas assentiu e começou a dirigir. Meus dedos tamborilavam contra a perna. As luzes da Times Square passavam borradas pela janela, tudo dentro de mim se contraía com a lembrança da voz dela.
"Eu sempre fui péssima sem você."
Ela não fazia ideia do que essa frase fez comigo.
O carro parou, eu saí antes mesmo do motorista dar o aviso, atravessei a rua, subi as escadas do prédio quase correndo, minhas mãos tremiam quando bati à porta.
Nada.
Bati de novo.
Silêncio.
Talvez ela já tivesse desmaiado, talvez nem se lembrasse de que me chamou, mas a porta se abriu com um rangido lento, o que vi me fez prender o ar nos pulmões.
Ela estava ali.
Descalça, os cabelos bagunçados, uma das alças da lingerie caída sobre o ombro, seus olhos estavam inchados, o rímel borrado na pele, o cheiro de álcool impregnado nela.
— Harry… — Ela sorriu. — Você veio…
— Você me chamou.
Ela deu um passo para trás, me dando espaço para entrar, não precisei procurar muito para saber que tipo de noite ela teve sozinha: garrafas espalhadas, um cinzeiro com cigarros amassados, a TV ligada em um dos meus clipes.
Ela estava péssima.
Mesmo assim, mesmo sabendo que essa noite ia me foder inteiro por dentro, eu não consegui ir embora.
S/n cambaleou para o lado ao fechar a porta, eu avancei instintivamente, segurando-a pelos braços.
— Você não deveria ter bebido tanto — murmurei.
— Eu sei… — Ela soltou uma risada fraca e encostou a testa contra o meu peito. — Mas eu só queria parar de pensar.
Eu a conhecia, sabia exatamente o que acontecia quando ela bebia até esquecer de si mesma, sabia que no dia seguinte viriam a ressaca, o arrependimento de tudo o que fez, mas ainda assim, eu estava ali.
Com cuidado, levei-a até o sofá, ela se jogou no estofado com um suspiro.
— Você cuida tão bem de mim… — Ela sorriu de leve, mas logo o sorriso sumiu. — Por que você ainda cuida de mim?
Não tinha uma resposta ou talvez tivesse, mas não queria dizê-la em voz alta.
— Espera aqui.
Fui até o banheiro e peguei alguns lenços umedecidos, quando voltei, ela ainda me olhava.
— Hazz?
— O que foi? — Sentei ao lado dela.
— Eu sei que você sabe, mas... — Ela abaixou a cabeça. — Eu ainda te amo…
Fechei os olhos por um instante.
Isso não era justo.
Não era justo que ela dissesse essas coisas só quando estava bêbada.
Respirei fundo, ignorando sua confissão e voltei a me concentrar no que estava fazendo, com delicadeza, comecei a limpar seu rosto, ela fechou os olhos ao toque.
— Isso me lembra de quando você cuidava de mim depois das festas… — murmurou, segurando minha camisa.
Sim.
Porque sempre tinha sido assim.
Sempre fui eu.
Mas agora, não sabia se ainda deveria ser, por mais que eu ainda me importasse, por mais que ela ainda fizesse meu peito apertar e meu coração acelerar, havia algo dentro de mim que gritava para que eu fosse embora antes que fosse tarde demais.
Antes que eu me perdesse nela outra vez.
Mas eu não fiz.
Quando terminei, ela já estava mais sonolenta, mas sabia que precisava ajudá-la a se recompor, antes que o álcool a fizesse desabar de vez.
— Vem. — Ofereci minha mão. — Você precisa de um banho.
Eu ajudei a se levantar, guiando-a até o banheiro, que estava escuro, exceto pela luz fraca do corredor. Girei o registro do chuveiro, deixando a água cair, morna, quase fria, ela continuava me observando em silêncio.
Eu sabia que ela não tinha forças para ficar ali sozinha. Sabia que confiava em mim, então a fiz entrar na banheira e entrei com ela, sentando-me atrás, enquanto a água escorria pelos nossos corpos.Puxei-a para o meu peito, o calor que emanava dela me fazia quase esquecer a temperatura, S/n ficou ali, mole contra mim, os joelhos dobrados, a cabeça encostada no meu ombro.
— Harry…
— Hm?
— Você me odeia? — Ela respirou fundo, encolhendo-se mais contra o meu corpo.
— Por que odiaria você?
— Você deveria...
— Por que está falando essas coisas?
— Eu fiz algo que não consigo consertar.
— O quê? — Minha pulsação acelerou.
— Antes do nosso último término… — Ela fechou os olhos, apertando as mãos ao redor dos meus braços. — Eu... eu te traí.
Por um momento, achei que tinha ouvido errado.
Ela não.
Não ela.
— O quê? — repeti, torcendo para ser mentira.
Ela abriu os olhos e eu a conhecia bem o suficiente para ver que sua dor, sua culpa, eram reais, mas nenhuma justificativa seria suficiente, nenhuma explicação apagaria o que foi feito.
— Com quem? — Minha respiração travou.
— Isso importa? — A voz dela se desfez em um choro sufocado.
— Importa pra caralho, é alguém que eu conheço?
— Um cara qualquer, Harry. Me desculpa… Eu me odeio por isso, me odeio tanto… — Ela fechou os olhos novamente, como se doesse me encarar. — Eu estava confusa e com raiva, achei que você não se importava mais comigo.
— Então a solução foi dormir com outro?
Passei as mãos molhadas no rosto, tentando raciocinar, mas não havia lógica que aliviasse aquela dor.
Ela me destruiu.
De um jeito que nem todas as idas e vindas, nem todas as brigas e despedidas conseguiram.
— Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que fiz… mas só quero que saiba que me arrependo, eu me odeio por isso. — Ela levantou a cabeça, os olhos implorando por algo que eu não sabia se podia dar. — Harry… diz alguma coisa, grita comigo, me diz que eu sou uma pessoa horrível.
Fechei os olhos por um segundo, tentando respirar, tentando encontrar um resquício de racionalidade, antes que surtasse, mas senti seus dedos fracos agarrando minha camisa.
— Mas por favor... — Seus dedos puxavam com força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse e talvez eu devesse. — Por favor, me odeia amanhã, fica comigo hoje... Não me deixe, Harry.
Se fosse qualquer outra pessoa...
Se fossem outras mãos agarrando minha camisa, outra voz implorando para que eu ficasse, outro rosto marcado pelo peso do arrependimento, eu não hesitaria, me afastaria, viraria as costas e jamais olharia para trás.
Mas era ela.
Sempre foi ela.
Desde o momento em que a vi pela primeira vez, desde que aquele sorriso inocente fez algo dentro de mim desmoronar, desde que ouvi sua risada e soube, que estava perdido.
Eu a amei.
Eu a amo.
E não importa o que aconteça, não importa quantas vezes ela me machuque, me destrua, me tire o chão, não há escapatória.
Não para mim.
Eu deveria odiá-la.
Sei que deveria.
Mas como odiar o que é parte de mim?
Como arrancar algo que está entrelaçado à minha alma?
Se eu fosse forte, diria não.
Se tivesse um mínimo de amor próprio, me afastaria.
Ela esperava que eu a abandonasse, que finalmente fizesse o que deveria ter feito há muito tempo, mas, no fundo, ela já sabia.
Ela sempre soube.
Que, quando se tratava dela, eu sempre ficava.
Eu sempre voltava.
Sempre escolheria partir meu coração por ela, porque viver sem ela seria muito pior do que carregar essa dor que dilacerava meu peito.
Eu era um homem fraco quando se tratava dela.
Então, meus braços se fecharam ao redor de sua cintura, apertando-a contra mim, como se eu quisesse prendê-la ali, forçando a encarar a dor em meu rosto, seus olhos úmidos e hesitantes me encararam, neles encontrei a versão de mim que eu quis esquecer, a que pertencia a ela.
Minha mão deslizou por sua nuca, os dedos se enterrando em seus cabelos, quase num desespero, meu rosto pairou sobre o dela por um segundo antes de nossos lábios se encontrarem.
Eu não fui cuidadoso.
Não fui gentil.
Sua boca era quente, desesperada, como se aquele beijo fosse a única coisa que a mantinha inteira.
E talvez fosse.
Talvez fosse para os dois.
O gosto das lágrimas se misturava ao beijo, mas eu não parei.
Não conseguia parar.
Porque, por mais que doesse, por mais que a realidade estivesse ali, gritando entre nós, naquele momento, tudo o que importava era que ela estava em meus braços.
Minhas mãos apertaram sua cintura com força, como se eu pudesse arrancar da pele dela as marcas que outro homem deixou, como se eu pudesse reescrever o que já estava feito.
Mas não podia.
E isso me matava.
Eu a continuei a beijá-la com tudo o que sentia, com todo o amor e toda a mágoa que me sufocavam, ela se entregou a mim como se soubesse que essa era a única maneira de eu não desmoronar.
Sem separar nossos lábios, desliguei o chuveiro, a segurei mais forte e a carreguei para fora da banheira, passamos pelo corredor, molhando tudo pelo caminho, mas nada importava, carreguei-a até o quarto, sem dizer uma palavra.
Deitamos na cama, encharcados, os corpos colados, espalhando água pelo chão, pelo colchão, pelos lençóis amarrotados, então ela se afastou sem dizer nada e enterrou o rosto em meu peito, eu fechei os olhos, acariciando seus cabelos.
Meu coração estava exausto, destruído, dolorido...
Mas ele não era mais meu.
Nunca foi.
Ele pertencia a ela.
E se amanhã essa escolha me matasse, que seja.
Se amanhã ela me destruir de novo, eu aceitaria.
Porque, com prazer, partiria meu coração por ela.
De novo.
E de novo.
E de novo.
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Bitter Sweet

Inspirado na música: sweet - cigarrettes after sex
A batida da música fazia o chão vibrar sob meus pés, as luzes vermelhas e azuis cortavam o ambiente, iluminando rostos borrados pelo efeito de dos drinks que bebi. Mulheres passavam por mim, algumas me olhavam por tempo demais, mas eu não retribuía, nenhuma delas era interessante o suficiente para me satisfazer. Meu copo estava pela metade, quando senti o celular vibrar no bolso da calça.
Uma vez.
Depois outra.
E outra.
Tirei o aparelho e vi o nome dela iluminando a tela.
S/n.
Meu peito apertou.
Desbloqueei a tela e vi as mensagens chegando sem parar.
Dez.
Quinze.
Todas foram enviadas nos últimos minutos.
Hazz...
Você não me odeia, né?
Você ainda pensa em mim?
Eu ainda penso em você.
Você pensa em mim?
Você sente saudade?
Eu sinto…
Minha mão apertou o celular com mais força, eu sabia onde isso ia dar, sempre acontecia quando ela bebia.
Ela sumia da minha vida, me obrigava a seguir em frente e no segundo em que eu começava a conseguir, ela reaparecia.
Dessa vez, não seria diferente.
Amanhã, quando a ressaca passasse, ela se arrependeria de ter me procurado.
Fingiria que nada aconteceu.
Mas antes que eu desligasse a tela, um vídeo carregou na conversa.
Minha respiração falhou quando vi a imagem refletindo em meu celular. S/n estava no banho, o cabelo molhado pingava gotas que deslizavam por sua pele, o vapor cobria parte da câmera, mas o que consegui enxergar já era o suficiente para bagunçar minha cabeça.
Ela sabia que eu era obcecado pelo seu corpo.
Sabia como mexer comigo.
Mas todas às vezes… todas as malditas vezes… era o jeito que ela sorria que me atraía.
Outro vídeo carregou.
Ela já estava na cama agora, uma lingerie vermelha contrastava com sua pele quente, o tecido se moldando ao corpo que eu ainda conhecia tão bem.
Ela se movia devagar, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.
Ela sabia que eu achava que sua pele tinha a cor perfeita.
Perfeita no jeito como se encaixava contra os meus lençóis.
Mas eram sempre os olhos dela que me seduziam, por mais que o corpo me atraísse, eram os olhos que me quebravam.
O jeito como costumavam brilhar para mim, o jeito como, mesmo agora, mesmo bêbada e confusa, ela ainda me olhava como se eu fosse tudo.
Como se eu fosse o único para ela.
Seu único e doce amor.
Meus pensamentos lutavam entre razão e impulso, eu sabia que deveria ignorar.
Eu precisava ignorar.
Porém, mais mensagens chegaram.
Eu fiz merda, Hazz…
Eu estraguei tudo, né?
Diz que não me odeia.
Diz que ainda me quer.
Diz que quer me foder até eu esquecer que a gente terminou.
Me diz que quer me amar até eu lembrar por que a gente começou.
Meus dedos apertaram o copo.
E então, um áudio carregou.
Eu me forcei a não ouvir. Mas não consegui, eu precisava ouvir, eu queria ouvir.
Harry...
Eu sempre fui péssima sem você.
Antes que percebesse, já estava saindo da boate.
O ar frio da madrugada bateu no meu rosto quando alcancei a rua, os passos apressados enquanto tentava chamar um carro.
As mensagens dela ainda piscavam na tela.
Hazz, eu estou tão cansada de sentir sua falta…
Não quero mais sentir isso…
O táxi chegou, e eu entrei sem hesitar.
— Para onde? — perguntou o motorista, sem nem me olhar.
Minhas mãos apertaram o celular, o endereço dela já estava salvo nos meus favoritos, porque eu nunca consegui apagar.
— Madison Avenue, número 845.
O motorista apenas assentiu e começou a dirigir. Meus dedos tamborilavam contra a perna. As luzes da Times Square passavam borradas pela janela, tudo dentro de mim se contraía com a lembrança da voz dela.
"Eu sempre fui péssima sem você."
Ela não fazia ideia do que essa frase fez comigo.
O carro parou, eu saí antes mesmo do motorista dar o aviso, atravessei a rua, subi as escadas do prédio quase correndo, minhas mãos tremiam quando bati à porta.
Nada.
Bati de novo.
Silêncio.
Talvez ela já tivesse desmaiado, talvez nem se lembrasse de que me chamou, mas a porta se abriu com um rangido lento, o que vi me fez prender o ar nos pulmões.
Ela estava ali.
Descalça, os cabelos bagunçados, uma das alças da lingerie caída sobre o ombro, seus olhos estavam inchados, o rímel borrado na pele, o cheiro de álcool impregnado nela.
— Harry… — Ela sorriu. — Você veio…
— Você me chamou.
Ela deu um passo para trás, me dando espaço para entrar, não precisei procurar muito para saber que tipo de noite ela teve sozinha: garrafas espalhadas, um cinzeiro com cigarros amassados, a TV ligada em um dos meus clipes.
Ela estava péssima.
Mesmo assim, mesmo sabendo que essa noite ia me foder inteiro por dentro, eu não consegui ir embora.
S/n cambaleou para o lado ao fechar a porta, eu avancei instintivamente, segurando-a pelos braços.
— Você não deveria ter bebido tanto — murmurei.
— Eu sei… — Ela soltou uma risada fraca e encostou a testa contra o meu peito. — Mas eu só queria parar de pensar.
Eu a conhecia, sabia exatamente o que acontecia quando ela bebia até esquecer de si mesma, sabia que no dia seguinte viriam a ressaca, o arrependimento de tudo o que fez, mas ainda assim, eu estava ali.
Com cuidado, levei-a até o sofá, ela se jogou no estofado com um suspiro.
— Você cuida tão bem de mim… — Ela sorriu de leve, mas logo o sorriso sumiu. — Por que você ainda cuida de mim?
Não tinha uma resposta ou talvez tivesse, mas não queria dizê-la em voz alta.
— Espera aqui.
Fui até o banheiro e peguei alguns lenços umedecidos, quando voltei, ela ainda me olhava.
— Hazz?
— O que foi? — Sentei ao lado dela.
— Eu sei que você sabe, mas... — Ela abaixou a cabeça. — Eu ainda te amo…
Fechei os olhos por um instante.
Isso não era justo.
Não era justo que ela dissesse essas coisas só quando estava bêbada.
Respirei fundo, ignorando sua confissão e voltei a me concentrar no que estava fazendo, com delicadeza, comecei a limpar seu rosto, ela fechou os olhos ao toque.
— Isso me lembra de quando você cuidava de mim depois das festas… — murmurou, segurando minha camisa.
Sim.
Porque sempre tinha sido assim.
Sempre fui eu.
Mas agora, não sabia se ainda deveria ser, por mais que eu ainda me importasse, por mais que ela ainda fizesse meu peito apertar e meu coração acelerar, havia algo dentro de mim que gritava para que eu fosse embora antes que fosse tarde demais.
Antes que eu me perdesse nela outra vez.
Mas eu não fiz.
Quando terminei, ela já estava mais sonolenta, mas sabia que precisava ajudá-la a se recompor, antes que o álcool a fizesse desabar de vez.
— Vem. — Ofereci minha mão. — Você precisa de um banho.
Eu ajudei a se levantar, guiando-a até o banheiro, que estava escuro, exceto pela luz fraca do corredor. Girei o registro do chuveiro, deixando a água cair, morna, quase fria, ela continuava me observando em silêncio.
Eu sabia que ela não tinha forças para ficar ali sozinha. Sabia que confiava em mim, então a fiz entrar na banheira e entrei com ela, sentando-me atrás, enquanto a água escorria pelos nossos corpos.Puxei-a para o meu peito, o calor que emanava dela me fazia quase esquecer a temperatura, S/n ficou ali, mole contra mim, os joelhos dobrados, a cabeça encostada no meu ombro.
— Harry…
— Hm?
— Você me odeia? — Ela respirou fundo, encolhendo-se mais contra o meu corpo.
— Por que odiaria você?
— Você deveria...
— Por que está falando essas coisas?
— Eu fiz algo que não consigo consertar.
— O quê? — Minha pulsação acelerou.
— Antes do nosso último término… — Ela fechou os olhos, apertando as mãos ao redor dos meus braços. — Eu... eu te traí.
Por um momento, achei que tinha ouvido errado.
Ela não.
Não ela.
— O quê? — repeti, torcendo para ser mentira.
Ela abriu os olhos e eu a conhecia bem o suficiente para ver que sua dor, sua culpa, eram reais, mas nenhuma justificativa seria suficiente, nenhuma explicação apagaria o que foi feito.
— Com quem? — Minha respiração travou.
— Isso importa? — A voz dela se desfez em um choro sufocado.
— Importa pra caralho, é alguém que eu conheço?
— Um cara qualquer, Harry. Me desculpa… Eu me odeio por isso, me odeio tanto… — Ela fechou os olhos novamente, como se doesse me encarar. — Eu estava confusa e com raiva, achei que você não se importava mais comigo.
— Então a solução foi dormir com outro?
Passei as mãos molhadas no rosto, tentando raciocinar, mas não havia lógica que aliviasse aquela dor.
Ela me destruiu.
De um jeito que nem todas as idas e vindas, nem todas as brigas e despedidas conseguiram.
— Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que fiz… mas só quero que saiba que me arrependo, eu me odeio por isso. — Ela levantou a cabeça, os olhos implorando por algo que eu não sabia se podia dar. — Harry… diz alguma coisa, grita comigo, me diz que eu sou uma pessoa horrível.
Fechei os olhos por um segundo, tentando respirar, tentando encontrar um resquício de racionalidade, antes que surtasse, mas senti seus dedos fracos agarrando minha camisa.
— Mas por favor... — Seus dedos puxavam com força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse e talvez eu devesse. — Por favor, me odeia amanhã, fica comigo hoje... Não me deixe, Harry.
Se fosse qualquer outra pessoa...
Se fossem outras mãos agarrando minha camisa, outra voz implorando para que eu ficasse, outro rosto marcado pelo peso do arrependimento, eu não hesitaria, me afastaria, viraria as costas e jamais olharia para trás.
Mas era ela.
Sempre foi ela.
Desde o momento em que a vi pela primeira vez, desde que aquele sorriso inocente fez algo dentro de mim desmoronar, desde que ouvi sua risada e soube, que estava perdido.
Eu a amei.
Eu a amo.
E não importa o que aconteça, não importa quantas vezes ela me machuque, me destrua, me tire o chão, não há escapatória.
Não para mim.
Eu deveria odiá-la.
Sei que deveria.
Mas como odiar o que é parte de mim?
Como arrancar algo que está entrelaçado à minha alma?
Se eu fosse forte, diria não.
Se tivesse um mínimo de amor próprio, me afastaria.
Ela esperava que eu a abandonasse, que finalmente fizesse o que deveria ter feito há muito tempo, mas, no fundo, ela já sabia.
Ela sempre soube.
Que, quando se tratava dela, eu sempre ficava.
Eu sempre voltava.
Sempre escolheria partir meu coração por ela, porque viver sem ela seria muito pior do que carregar essa dor que dilacerava meu peito.
Eu era um homem fraco quando se tratava dela.
Então, meus braços se fecharam ao redor de sua cintura, apertando-a contra mim, como se eu quisesse prendê-la ali, forçando a encarar a dor em meu rosto, seus olhos úmidos e hesitantes me encararam, neles encontrei a versão de mim que eu quis esquecer, a que pertencia a ela.
Minha mão deslizou por sua nuca, os dedos se enterrando em seus cabelos, quase num desespero, meu rosto pairou sobre o dela por um segundo antes de nossos lábios se encontrarem.
Eu não fui cuidadoso.
Não fui gentil.
Sua boca era quente, desesperada, como se aquele beijo fosse a única coisa que a mantinha inteira.
E talvez fosse.
Talvez fosse para os dois.
O gosto das lágrimas se misturava ao beijo, mas eu não parei.
Não conseguia parar.
Porque, por mais que doesse, por mais que a realidade estivesse ali, gritando entre nós, naquele momento, tudo o que importava era que ela estava em meus braços.
Minhas mãos apertaram sua cintura com força, como se eu pudesse arrancar da pele dela as marcas que outro homem deixou, como se eu pudesse reescrever o que já estava feito.
Mas não podia.
E isso me matava.
Eu a continuei a beijá-la com tudo o que sentia, com todo o amor e toda a mágoa que me sufocavam, ela se entregou a mim como se soubesse que essa era a única maneira de eu não desmoronar.
Sem separar nossos lábios, desliguei o chuveiro, a segurei mais forte e a carreguei para fora da banheira, passamos pelo corredor, molhando tudo pelo caminho, mas nada importava, carreguei-a até o quarto, sem dizer uma palavra.
Deitamos na cama, encharcados, os corpos colados, espalhando água pelo chão, pelo colchão, pelos lençóis amarrotados, então ela se afastou sem dizer nada e enterrou o rosto em meu peito, eu fechei os olhos, acariciando seus cabelos.
Meu coração estava exausto, destruído, dolorido...
Mas ele não era mais meu.
Nunca foi.
Ele pertencia a ela.
E se amanhã essa escolha me matasse, que seja.
Se amanhã ela me destruir de novo, eu aceitaria.
Porque, com prazer, partiria meu coração por ela.
De novo.
E de novo.
E de novo.
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Boa noite meus amores, o que eu então achando dos últimos imagines?!
Mandem ask pra mim e me contem!! Amo quando vcs interagem comigo 🥹🥹💗💗
Tenho mais um imagine praticamente pronto!
Pedido: queria um imagine hot em que harry é militar (pode ser policial, soldado, qualquer coisa relacionadakk) ele chega em casa super cansado do trabalho e meio estressado também, mas a sn (q no caso seria a esposa) se dispõe a relaxa-lo e tal (se eh q vcs me entendem) eles vao tomar banho na banheira, ela ajuda ele a tirar a roupa, um momento em que eles tem mta química e acaba rolando.
Então logo sai mais imagine por aqui. 😘
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Bitter Sweet

Inspirado na música: sweet - cigarrettes after sex
A batida da música fazia o chão vibrar sob meus pés, as luzes vermelhas e azuis cortavam o ambiente, iluminando rostos borrados pelo efeito de dos drinks que bebi. Mulheres passavam por mim, algumas me olhavam por tempo demais, mas eu não retribuía, nenhuma delas era interessante o suficiente para me satisfazer. Meu copo estava pela metade, quando senti o celular vibrar no bolso da calça.
Uma vez.
Depois outra.
E outra.
Tirei o aparelho e vi o nome dela iluminando a tela.
S/n.
Meu peito apertou.
Desbloqueei a tela e vi as mensagens chegando sem parar.
Dez.
Quinze.
Todas foram enviadas nos últimos minutos.
Hazz...
Você não me odeia, né?
Você ainda pensa em mim?
Eu ainda penso em você.
Você pensa em mim?
Você sente saudade?
Eu sinto…
Minha mão apertou o celular com mais força, eu sabia onde isso ia dar, sempre acontecia quando ela bebia.
Ela sumia da minha vida, me obrigava a seguir em frente e no segundo em que eu começava a conseguir, ela reaparecia.
Dessa vez, não seria diferente.
Amanhã, quando a ressaca passasse, ela se arrependeria de ter me procurado.
Fingiria que nada aconteceu.
Mas antes que eu desligasse a tela, um vídeo carregou na conversa.
Minha respiração falhou quando vi a imagem refletindo em meu celular. S/n estava no banho, o cabelo molhado pingava gotas que deslizavam por sua pele, o vapor cobria parte da câmera, mas o que consegui enxergar já era o suficiente para bagunçar minha cabeça.
Ela sabia que eu era obcecado pelo seu corpo.
Sabia como mexer comigo.
Mas todas às vezes… todas as malditas vezes… era o jeito que ela sorria que me atraía.
Outro vídeo carregou.
Ela já estava na cama agora, uma lingerie vermelha contrastava com sua pele quente, o tecido se moldando ao corpo que eu ainda conhecia tão bem.
Ela se movia devagar, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.
Ela sabia que eu achava que sua pele tinha a cor perfeita.
Perfeita no jeito como se encaixava contra os meus lençóis.
Mas eram sempre os olhos dela que me seduziam, por mais que o corpo me atraísse, eram os olhos que me quebravam.
O jeito como costumavam brilhar para mim, o jeito como, mesmo agora, mesmo bêbada e confusa, ela ainda me olhava como se eu fosse tudo.
Como se eu fosse o único para ela.
Seu único e doce amor.
Meus pensamentos lutavam entre razão e impulso, eu sabia que deveria ignorar.
Eu precisava ignorar.
Porém, mais mensagens chegaram.
Eu fiz merda, Hazz…
Eu estraguei tudo, né?
Diz que não me odeia.
Diz que ainda me quer.
Diz que quer me foder até eu esquecer que a gente terminou.
Me diz que quer me amar até eu lembrar por que a gente começou.
Meus dedos apertaram o copo.
E então, um áudio carregou.
Eu me forcei a não ouvir. Mas não consegui, eu precisava ouvir, eu queria ouvir.
Harry...
Eu sempre fui péssima sem você.
Antes que percebesse, já estava saindo da boate.
O ar frio da madrugada bateu no meu rosto quando alcancei a rua, os passos apressados enquanto tentava chamar um carro.
As mensagens dela ainda piscavam na tela.
Hazz, eu estou tão cansada de sentir sua falta…
Não quero mais sentir isso…
O táxi chegou, e eu entrei sem hesitar.
— Para onde? — perguntou o motorista, sem nem me olhar.
Minhas mãos apertaram o celular, o endereço dela já estava salvo nos meus favoritos, porque eu nunca consegui apagar.
— Madison Avenue, número 845.
O motorista apenas assentiu e começou a dirigir. Meus dedos tamborilavam contra a perna. As luzes da Times Square passavam borradas pela janela, tudo dentro de mim se contraía com a lembrança da voz dela.
"Eu sempre fui péssima sem você."
Ela não fazia ideia do que essa frase fez comigo.
O carro parou, eu saí antes mesmo do motorista dar o aviso, atravessei a rua, subi as escadas do prédio quase correndo, minhas mãos tremiam quando bati à porta.
Nada.
Bati de novo.
Silêncio.
Talvez ela já tivesse desmaiado, talvez nem se lembrasse de que me chamou, mas a porta se abriu com um rangido lento, o que vi me fez prender o ar nos pulmões.
Ela estava ali.
Descalça, os cabelos bagunçados, uma das alças da lingerie caída sobre o ombro, seus olhos estavam inchados, o rímel borrado na pele, o cheiro de álcool impregnado nela.
— Harry… — Ela sorriu. — Você veio…
— Você me chamou.
Ela deu um passo para trás, me dando espaço para entrar, não precisei procurar muito para saber que tipo de noite ela teve sozinha: garrafas espalhadas, um cinzeiro com cigarros amassados, a TV ligada em um dos meus clipes.
Ela estava péssima.
Mesmo assim, mesmo sabendo que essa noite ia me foder inteiro por dentro, eu não consegui ir embora.
S/n cambaleou para o lado ao fechar a porta, eu avancei instintivamente, segurando-a pelos braços.
— Você não deveria ter bebido tanto — murmurei.
— Eu sei… — Ela soltou uma risada fraca e encostou a testa contra o meu peito. — Mas eu só queria parar de pensar.
Eu a conhecia, sabia exatamente o que acontecia quando ela bebia até esquecer de si mesma, sabia que no dia seguinte viriam a ressaca, o arrependimento de tudo o que fez, mas ainda assim, eu estava ali.
Com cuidado, levei-a até o sofá, ela se jogou no estofado com um suspiro.
— Você cuida tão bem de mim… — Ela sorriu de leve, mas logo o sorriso sumiu. — Por que você ainda cuida de mim?
Não tinha uma resposta ou talvez tivesse, mas não queria dizê-la em voz alta.
— Espera aqui.
Fui até o banheiro e peguei alguns lenços umedecidos, quando voltei, ela ainda me olhava.
— Hazz?
— O que foi? — Sentei ao lado dela.
— Eu sei que você sabe, mas... — Ela abaixou a cabeça. — Eu ainda te amo…
Fechei os olhos por um instante.
Isso não era justo.
Não era justo que ela dissesse essas coisas só quando estava bêbada.
Respirei fundo, ignorando sua confissão e voltei a me concentrar no que estava fazendo, com delicadeza, comecei a limpar seu rosto, ela fechou os olhos ao toque.
— Isso me lembra de quando você cuidava de mim depois das festas… — murmurou, segurando minha camisa.
Sim.
Porque sempre tinha sido assim.
Sempre fui eu.
Mas agora, não sabia se ainda deveria ser, por mais que eu ainda me importasse, por mais que ela ainda fizesse meu peito apertar e meu coração acelerar, havia algo dentro de mim que gritava para que eu fosse embora antes que fosse tarde demais.
Antes que eu me perdesse nela outra vez.
Mas eu não fiz.
Quando terminei, ela já estava mais sonolenta, mas sabia que precisava ajudá-la a se recompor, antes que o álcool a fizesse desabar de vez.
— Vem. — Ofereci minha mão. — Você precisa de um banho.
Eu ajudei a se levantar, guiando-a até o banheiro, que estava escuro, exceto pela luz fraca do corredor. Girei o registro do chuveiro, deixando a água cair, morna, quase fria, ela continuava me observando em silêncio.
Eu sabia que ela não tinha forças para ficar ali sozinha. Sabia que confiava em mim, então a fiz entrar na banheira e entrei com ela, sentando-me atrás, enquanto a água escorria pelos nossos corpos.Puxei-a para o meu peito, o calor que emanava dela me fazia quase esquecer a temperatura, S/n ficou ali, mole contra mim, os joelhos dobrados, a cabeça encostada no meu ombro.
— Harry…
— Hm?
— Você me odeia? — Ela respirou fundo, encolhendo-se mais contra o meu corpo.
— Por que odiaria você?
— Você deveria...
— Por que está falando essas coisas?
— Eu fiz algo que não consigo consertar.
— O quê? — Minha pulsação acelerou.
— Antes do nosso último término… — Ela fechou os olhos, apertando as mãos ao redor dos meus braços. — Eu... eu te traí.
Por um momento, achei que tinha ouvido errado.
Ela não.
Não ela.
— O quê? — repeti, torcendo para ser mentira.
Ela abriu os olhos e eu a conhecia bem o suficiente para ver que sua dor, sua culpa, eram reais, mas nenhuma justificativa seria suficiente, nenhuma explicação apagaria o que foi feito.
— Com quem? — Minha respiração travou.
— Isso importa? — A voz dela se desfez em um choro sufocado.
— Importa pra caralho, é alguém que eu conheço?
— Um cara qualquer, Harry. Me desculpa… Eu me odeio por isso, me odeio tanto… — Ela fechou os olhos novamente, como se doesse me encarar. — Eu estava confusa e com raiva, achei que você não se importava mais comigo.
— Então a solução foi dormir com outro?
Passei as mãos molhadas no rosto, tentando raciocinar, mas não havia lógica que aliviasse aquela dor.
Ela me destruiu.
De um jeito que nem todas as idas e vindas, nem todas as brigas e despedidas conseguiram.
— Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que fiz… mas só quero que saiba que me arrependo, eu me odeio por isso. — Ela levantou a cabeça, os olhos implorando por algo que eu não sabia se podia dar. — Harry… diz alguma coisa, grita comigo, me diz que eu sou uma pessoa horrível.
Fechei os olhos por um segundo, tentando respirar, tentando encontrar um resquício de racionalidade, antes que surtasse, mas senti seus dedos fracos agarrando minha camisa.
— Mas por favor... — Seus dedos puxavam com força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse e talvez eu devesse. — Por favor, me odeia amanhã, fica comigo hoje... Não me deixe, Harry.
Se fosse qualquer outra pessoa...
Se fossem outras mãos agarrando minha camisa, outra voz implorando para que eu ficasse, outro rosto marcado pelo peso do arrependimento, eu não hesitaria, me afastaria, viraria as costas e jamais olharia para trás.
Mas era ela.
Sempre foi ela.
Desde o momento em que a vi pela primeira vez, desde que aquele sorriso inocente fez algo dentro de mim desmoronar, desde que ouvi sua risada e soube, que estava perdido.
Eu a amei.
Eu a amo.
E não importa o que aconteça, não importa quantas vezes ela me machuque, me destrua, me tire o chão, não há escapatória.
Não para mim.
Eu deveria odiá-la.
Sei que deveria.
Mas como odiar o que é parte de mim?
Como arrancar algo que está entrelaçado à minha alma?
Se eu fosse forte, diria não.
Se tivesse um mínimo de amor próprio, me afastaria.
Ela esperava que eu a abandonasse, que finalmente fizesse o que deveria ter feito há muito tempo, mas, no fundo, ela já sabia.
Ela sempre soube.
Que, quando se tratava dela, eu sempre ficava.
Eu sempre voltava.
Sempre escolheria partir meu coração por ela, porque viver sem ela seria muito pior do que carregar essa dor que dilacerava meu peito.
Eu era um homem fraco quando se tratava dela.
Então, meus braços se fecharam ao redor de sua cintura, apertando-a contra mim, como se eu quisesse prendê-la ali, forçando a encarar a dor em meu rosto, seus olhos úmidos e hesitantes me encararam, neles encontrei a versão de mim que eu quis esquecer, a que pertencia a ela.
Minha mão deslizou por sua nuca, os dedos se enterrando em seus cabelos, quase num desespero, meu rosto pairou sobre o dela por um segundo antes de nossos lábios se encontrarem.
Eu não fui cuidadoso.
Não fui gentil.
Sua boca era quente, desesperada, como se aquele beijo fosse a única coisa que a mantinha inteira.
E talvez fosse.
Talvez fosse para os dois.
O gosto das lágrimas se misturava ao beijo, mas eu não parei.
Não conseguia parar.
Porque, por mais que doesse, por mais que a realidade estivesse ali, gritando entre nós, naquele momento, tudo o que importava era que ela estava em meus braços.
Minhas mãos apertaram sua cintura com força, como se eu pudesse arrancar da pele dela as marcas que outro homem deixou, como se eu pudesse reescrever o que já estava feito.
Mas não podia.
E isso me matava.
Eu a continuei a beijá-la com tudo o que sentia, com todo o amor e toda a mágoa que me sufocavam, ela se entregou a mim como se soubesse que essa era a única maneira de eu não desmoronar.
Sem separar nossos lábios, desliguei o chuveiro, a segurei mais forte e a carreguei para fora da banheira, passamos pelo corredor, molhando tudo pelo caminho, mas nada importava, carreguei-a até o quarto, sem dizer uma palavra.
Deitamos na cama, encharcados, os corpos colados, espalhando água pelo chão, pelo colchão, pelos lençóis amarrotados, então ela se afastou sem dizer nada e enterrou o rosto em meu peito, eu fechei os olhos, acariciando seus cabelos.
Meu coração estava exausto, destruído, dolorido...
Mas ele não era mais meu.
Nunca foi.
Ele pertencia a ela.
E se amanhã essa escolha me matasse, que seja.
Se amanhã ela me destruir de novo, eu aceitaria.
Porque, com prazer, partiria meu coração por ela.
De novo.
E de novo.
E de novo.
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