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Yes Sir! — Capítulo 31
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Harry
Enquanto eu cruzava o corredor, os passos ecoavam como um lembrete incômodo da despedida recente, de cada palavra e de cada toque que ainda ardia em minha pele. A lembrança de Aurora parecia pulsar em mim, misturada ao peso de saber que eu não deveria ter estado ali. Eu havia prometido que não a procuraria, que respeitaria as linhas tênues que nos mantinham afastados. Mas eu percebi o quanto era difícil cumprir uma promessa que eu nunca queria ter feito.
Enquanto caminhava para casa, eu sabia que não deveria continuar aparecendo na vida dela, eu não tinha o direito, não enquanto Violeta esperava por mim do outro lado da rua, aguardando que eu voltasse e fosse o homem que ela precisava.
Mas o que era justo para ela ou para Aurora, quando eu mesmo não sabia o que era justo para mim?
Atravessei a rua quase como em um transe, tentando forçar minha mente a se aquietar, a deixar para trás o perfume de Aurora que ainda parecia preso na minha pele. Cada pensamento sobre ela se misturava com a culpa, com o medo de não ser capaz de separar os pedaços do meu coração que pertenciam a ela e os que pertenciam a Violeta.
Eu abri a porta de casa em silêncio, como se pisar ali fosse uma espécie de traição. Quando entrei no quarto, vi Violeta adormecida, com a respiração suave, por um instante, a visão dela me aqueceu por dentro, me lembrando de tudo que construímos juntos e do quanto eu a amo.
Porque, apesar de tudo, eu a ainda a amo.
Eu sei que a amo.
Deitei ao lado dela, mantendo certa distância para não acordá-la, mas o calor do corpo dela chegou até mim. Fechei os olhos e tentei me focar nela, no que significava estar ao lado de Violeta, mas era como se meus olhos só enxergassem o rosto de Aurora, a última imagem dela estava gravada na minha mente de forma tão vívida que eu quase podia vê-la ali, a dor que eu vi em seus olhos ainda me queimava por dentro. Ela estava ferida, eu sabia que eu era o responsável por cada uma daquelas feridas.Mas havia também uma felicidade amarga em mim, por mais que eu soubesse que estava errado, ainda sorria, revivendo o toque dela, a forma como ela se desmanchou em meus braços, era algo que eu não poderia apagar.
E talvez, lá no fundo, eu não quisesse.
Eu sei que não podia continuar assim, mas não sabia como sair disso, não sabia como me livrar de estar entre duas vidas, entre o que eu queria e o que era o certo.
Eu sabia que, quando a manhã chegasse, eu teria que sufocar todos esses sentimentos novamente, mas por enquanto, na escuridão daquele quarto, com Violeta ao meu lado e a lembrança de Aurora cravada em minha mente, eu deixei que a felicidade proibida me tomasse, ao menos por alguns segundos.
Aurora
Acordei com o som suave do celular vibrando ao meu lado. Ainda estava meio grogue, com a cabeça pesada pela falta de sono, mas algo dentro de mim não resistiu a pegar o telefone para ver a notificação. Uma mensagem. Pisquei algumas vezes para focar, esfregando os olhos, e então vi que era uma mensagem de um dos meus amigos, agradecendo pela festa de aniversário. Sorri, sentindo o calor de uma lembrança boa pela primeira vez em muito tempo. Suspirei e deixei o celular de lado, olhando para o teto, um sorriso melancólico e involuntário surgiu nos meus lábios, fiquei ali deitada, enquanto deixava a mente se perder na lembrança da noite passada, o abraço de Harry ainda parecia tão real, quase como se eu pudesse sentir o calor do corpo dele contra o meu, o calor da respiração dele acariciando minha pele antes de me afastar.
Meus olhos se abriram, o sorriso no meu rosto era uma mistura de dor e conforto, senti um calor suave se espalhar pelo meu peito, a verdade era que, apesar de toda mágoa, apesar de tudo o que aconteceu, eu sentia falta de nós. Sentia falta da época em que era apenas eu e ele, quando as coisas eram simples, quando eu não sabia a verdade.
Levantei devagar, ainda meio sonolenta, olhei ao redor. O apartamento estava uma completa bagunça, pratos empilhados na pia, copos abandonados nos cantos, balões esvaziados pendurados pelas paredes. Papéis de presente rasgados cobriam a mesa de centro, misturados a garrafas vazias e restos de salgadinhos. Mas, por alguma razão, aquela desordem não me incomodava, havia algo de bom na bagunça. Na geladeira, repousava o bolo de aniversário que tinha sobrado, um pedaço grande com camadas de glacê branco e confeitos coloridos que me atraíam como um abraço doce. Peguei o prato, o garfo já preparado na mão, me sentei no chão, encostada no balcão da cozinha. Dei a primeira garfada e a explosão de doçura preencheu minha boca. Era um alívio simples, quase infantil, mas o suficiente para me fazer esquecer por um momento todas as preocupações, enquanto mastigava, meus olhos pousaram involuntariamente no corredor que levava ao quarto, eu soube que não podia evitar por mais tempo a pequena caixa que Harry me entregou na noite passada.
Suspirei, terminando o último pedaço de bolo empurrando o prato para o lado, minha curiosidade queimava. Levantei-me com um suspiro pesado, caminhei até o quarto, hesitei por um momento parada na porta do quarto, meu olhar fixo na pequena caixa que repousava sobre a penteadeira, como se estivesse esperando pacientemente por mim desde a noite passada.
Eu não queria tocar nela.
Não queria deixar que aquilo tivesse o poder que já sabia que tinha sobre mim, fechei os olhos, sentindo a lembrança do abraço de Harry - o calor do seu corpo contra o meu, o cheiro dele, a sensação da sua mão segurando a minha como se não quisesse me soltar. Quando finalmente dei o primeiro passo, meu coração estava acelerado, os lábios secos, parei em frente à caixa, respirei fundo, sentindo as mãos tremerem quando finalmente estendi os dedos até o veludo frio, toquei a superfície da caixa, meus olhos cravados nela , tentando reunir coragem, tentando afastar as dúvidas, mas a imagem de Harry me entregando o presente, da última troca de olhares que tivemos, se recusava a sair da minha mente.
Eu queria me preparar para o que encontraria, mas como poderia?
Minhas mãos estavam trêmulas enquanto abria a tampa da caixa devagar, quase com medo, quando o relicário finalmente se revelou, senti um aperto no peito, como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões. Era simples e delicado, um pingente de prata que brilhava por um instante, fiquei ali, apenas olhando para ele, estendi a mão e o segurei com delicadeza. O metal estava frio contra a ponta dos meus dedos, uma onda de emoções me atingiu com força, misturando saudade, dor e uma estranha sensação de conforto. Sem pensar, passei o polegar sobre a superfície lisa do relicário, sentindo o peso dele aumentar no meu peito.
Com dedos ainda trêmulos, forcei a pequena trava até que o relicário se abriu com um leve estalo.
O que vi fez meu coração parar por um instante.
Quando ele tirou aquela foto?
Meu cabelo ruivo estava espalhado sobre o peito dele, desordenado como sempre ao acordar, quase não consigo ver meu rosto coberto pelos fios, apenas uma parte do rosto dele aparece, a linha do pescoço e um vislumbre do peito nu contra o qual eu descansava.
Eu não fazia ideia de que aquela foto existia.
Por que ele a guardou?
Por um instante, era como se uma parte da dor tivesse se dissolvido, como se o peso de tudo o que aconteceu não fosse mais tão insuportável.
Toquei meu pescoço e tirei o colar que Gabriel tinha me dado que agora parecia pálido em comparação. Coloquei o relicário de Harry sentindo o metal frio contra a pele, e uma onda de lembranças me atingiu.
Fechei os olhos e deixei que tudo viesse: a raiva, a mágoa, o amor, algo em mim tinha mudado, algo que eu não podia mais negar.
Pela primeira vez, eu sabia que precisava contar a ele sobre o bebê. Não era mais uma escolha.
Era uma necessidade.
Peguei o celular e, antes que pudesse hesitar novamente, digitei a mensagem:
Eu: Harry, preciso falar com você. É importante.
Apertei "enviar" e soltei o ar, como se finalmente pudesse respirar novamente.
Harry
Acordei sorrindo, eu ainda podia sentir a euforia do dia anterior. Olhei para o lado e encontrei a cama vazia. Violeta já não estava ali, Soltei um suspiro profundo e me levantei fui até o banheiro e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer sobre meus ombros.
Aurora não saia da minha mente.
Fiquei ali por alguns minutos, quando finalmente saí do banho, enrolei uma toalha em volta da cintura e fui até a pia, passando a mão pelo espelho embaçado.
Foi quando meu celular vibrou no balcão.
O nome dela apareceu na tela:
Aurora.
Meu coração apertou, um sorriso que surgiu nos meus lábios, ela finalmente tinha me desbloqueado.
Docinho: Harry, preciso falar com você. É importante.
Li a mensagem uma, duas, três vezes, sem conseguir decidir o que responder.
Importante?
O que poderia ser? Eu queria perguntar o que estava acontecendo, mas Violeta entrou no banheiro sem aviso, me arrancando dos pensamentos, ela sorriu ao me ver, seu olhar me avaliando da cabeça aos pés.
- Bom dia, marido.
- Bom dia, esposa. - Fechei a notificação antes que ela pudesse ver e forcei um sorriso.
- Uau! - Se aproximou, seus dedos deslizando sobre meu peito ainda molhado. - Eu tenho tanta sorte! Acho que essa bebê vai ter que nascer logo, ou vou enlouquecer de só olhar para você assim sem poder fazer nada.
- Eu sei, mas temos que ter cuidado com sua gravidez, a segurança dessa bebezinha aqui é mais importante. - Passei a mão levemente pela sua barriga.
Ela deu um passo à frente e me beijou, eu retribui.
- Mas pensando bem talvez eu possa fazer algo. - Suspirou antes de seus lábios voltarem a encontrar os meus, enquanto sua mão jogava minha toalha no chão.
Eu sabia exatamente onde isso iria dar.
Alguns minutos depois e um pouco mais relaxado, desci as escadas ao lado dela, tentando recobrar a compostura enquanto o aroma familiar do café da manhã enchia a casa. Rosa, nossa ajudante estava terminando de colocar a mesa, as meninas já estavam sentadas nós esperando.
- Bom dia, Rosa. - Passei por ela indo até Aurora. - Bom dia minha princesa. - Deixei um pequeno beijo em sua tempora. - Bom dia teimosinha. - Baguncei o cabelo de Isadora antes de dar um pequeno beijo em sua cabeça.
Os cafés da manhã em família se tornaram quase raros nos últimos tempos, então eu tentava aproveitar o máximo dessa calmaria, minha pequena Aurora quis se aconchegar no meu colo, nós brincavamos com as panquecas, era tão bom poder ouvir aquela risada fofa.
Eu tentava me concentrar nisso, mas a mensagem de Aurora continuava a ecoar na minha mente.
Era importante.
Importante como?
A cada segundo minha ansiedade parecia me consumir, mas sabia que não podia puxar o celular ali.
- Harry?! - Violeta me chamou trazendo de volta meus pensamentos.
Ela estava com uma pilha de correspondências na mão que Rosa havia deixado em cima da mesa mais cedo.
- O que foi meu amor? - Olhei confuso, Violeta parecia tensa.
- Harry, precisamos conversar. - murmurou, baixo o suficiente para que Isadora não ouvisse.
Ela estendeu o envelope, parecia ter dificuldade em me encarar, o nome no remetente saltou aos meus olhos como uma maldição.
Bryan!
Um nó se formou no meu estômago, meu corpo inteiro ficou tenso, senti o sangue fervendo nas veias.
- Rosa. - Chamei, tentando manter a calma. - Por favor, leve as meninas para cima, ajude-as a se prepararem, vamos sair daqui a pouco.
Rosa, que já tinha percebido a mudança de humor no ar, apenas assentiu, tirando Aurora do meu colo e chamando Isadora. Assim que as ouvi fecharem a porta do quarto, voltei-me para Violeta, que ainda segurava o maldito envelope como se ele estivesse queimando suas mãos.
- Harry...Eu...
- Abra! Eu não vou conseguir ler. - Comecei a andar de um lado para o outro. - O que ele quer?
Violeta respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem para responder.
- Ele... ele... ele quer um teste de DNA.
As palavras dela ecoaram na minha mente, cada sílaba atiçando uma fúria que há tempos eu não sentia.
- Ele quer um teste de DNA? - Cuspi as palavras, minha voz tremendo de raiva. - Ele só pode estar brincando! - Puxei o envelope das mãos dela, lendo aquela maldita intimação. - Esse... esse desgraçado realmente acha que vou permitir que ele se aproxime da minha filha?
Eu sabia que era só questão de tempo até ele aparecer de novo, até ele vir me provocar, mas um teste de paternidade?
Aquele filho da puta estava indo longe demais.
-Harry, calma... - Ela tentou, dando um passo na minha direção.
- Não! Não vou me acalmar, Violeta! - explodi, a voz saindo mais alta do que pretendia. - Você me prometeu, Violeta! Me prometeu que ele nunca mais se meteria nas nossas vidas, que aquele desgraçado ficaria bem longe da nossa filha, essa era minha única condição para voltar para casa! Eu não quero... não quero ter que lidar com isso de novo.
- Eu deixei claro para ele, Harry, você sabe, disse a ele que ele nunca mais chegasse perde de nós... de Aurora.
- Se deixou tão claro naquela época, então por que ele está aqui? Por que ele está fazendo isso? - Meu corpo estava tenso, cada músculo gritando.
- Não sei por que ele está fazendo isso agora.
- Você não sabe?- Eu dei uma risada amarga. - Ele quer me ver sofrer, Violeta. É isso. Ele quer ver a minha dor, quer destruir o que eu tenho! Três anos, Violeta. Três malditos anos que eu passei lutando para reconstruir isso, para manter nossa família longe desse inútil que um dia eu chamei de melhor amigo. - Eu estava afogado pela raiva.
- Harry, escuta...
- Escutar o quê? Que você deixou isso acontecer? Que mesmo sabendo o quanto isso me destruira, o quanto isso iria me torturar, você ainda deixou espaço para ele voltar?
Eu podia ver a dor em seus olhos, mas talvez eu gostasse que ela se sentisse assim.
- Então vamos acabar com isso logo. Damos a ele o que ele quer, provamos que ele não é o pai e ele vai embora.
- Você só pode estar de sacanagem né? Você quer que eu aceite isso? Quer que deixe ele fazer esse teste e enfrentar a possibilidade de... de perder ela?
- Você nunca vai perder ela, Harry. Ela é sua.
- Você não entende, se ele for o pai, se ela for dele... Eu não vou suportar, Violeta, não vou aguentar ver ele fazendo parte da vida dela.
- Harry, Bryan não é o pai, eu sei disso.
- Não diz isso como se tivesse certeza.- Eu a encarei, sentindo a raiva crescer ainda mais. - Se você tivesse certeza, ele não estaria aqui, exigindo um teste.
Ela respirou fundo, visivelmente abalada, mas no fundo ela sabia que era a única culpada disso tudo.
- Aurora é sua, Harry, você é o pai dela, de sangue ou não, ela é sua filha.
-E se não for? Se ela não for minha? Como você espera que eu viva com isso? Como espera que eu aceite ver aquele desgraçado ao lado dela, me lembrando todos os dias da sua traição, de tudo que me fez voltar para o inferno que foi esse passado.
As lágrimas de Violeta finalmente caíram, mas eu não estava com compaixão naquele momento. Tudo o que eu pensava era em Bryan, já não tinha sido suficiente ele ter roubado minha paz? Minha Mulher? Agora ele queria roubar minha filha também?
- Ele não vai tirar ela de você, Harry. - ela murmurou, a voz cheia de súplica. - Aurora sempre será sua! Só sua, então vamos acabar com isso.
Eu queria acreditar, queria desesperadamente acreditar que isso era verdade.
- Eu nunca vou permitir isso! Aurora é minha filha, eu criei ela, fui eu quem esteve ao lado dela, dia após dia. E agora... agora esse desgraçado aparece, querendo arrancá-la dos meus braços? Não mesmo!!Eu sou advogado, conheço juízes, promotores, advogados de defesa que com certeza não vão hesitar de fazer um favor! Eu vou fazer tudo, tudo que tiver ao meu alcance, para garantir que Bryan nunca chegue perto da minha filha.
Aurora
Harry levou um pouco mais de um dia para responder minha mensagem. Não vou mentir: parecia que tinham se passado semanas, talvez até meses, com minha ansiedade à flor da pele, esperando uma simples resposta. Ele disse que só poderia me encontrar no fim de semana, já que estava muito ocupado durante a semana. Desde então, tenho contado os dias e nunca odiei tanto o fato de ainda ser quarta-feira.
Ainda assim, suas mensagens têm sido um alívio para o meu nervosismo.
Nós temos trocado mensagens todos os dias desde então.
Nada de mensagens românticas.
Apenas perguntas simples: Como você está? Está muito cansado? Como foi seu dia? Estudou muito?
Mas, toda vez que meu celular vibrava, eu sintia meu coração saltar junto. Sei que era só mensagens bobas, sei que provavelmente não significam nada.
Ou talvez, signifiquem tudo.
Assim que a última aula terminou, arrumei meus materiais rapidamente e saí da sala, aliviada por não ter Gabriel comigo naquela aula. Não queria ter que responder a perguntas. Desci as escadas do prédio da faculdade, cruzando corredores abarrotados de estudantes, até chegar ao estacionamento. Entrei no meu Porsche, que estava parado bem em frente ao campus, soltei um longo suspiro. Hoje eu precisava ir ao hospital; tinha uma consulta de pré-natal.
As luzes brancas do hospital continuavam intensas, mas, dessa vez, não me incomodavam tanto, sentei na cadeira da sala de consulta, ajeitando-me com mais calma do que nas visitas anteriores, respirei fundo, sentindo um leve alívio.
Pelo menos essa consulta seria rápida.
O médico entrou, exibindo o olhar gentil que eu já conhecia bem. Fez as perguntas de rotina, e eu respondi com mais leveza do que de costume.
Eu não estava tão ansiosa hoje.
- E então, Aurora... ainda não quer saber o sexo do bebê? - perguntou ele, esboçando aquele sorriso paciente, como se já esperasse minha resposta habitual.
Mas, dessa vez, algo em mim hesitou. Eu costumava responder com um "não" automático, mas agora... agora parecia diferente.
Desde que comecei a considerar contar a verdade para Harry, descobrir o sexo do bebê passou a fazer mais sentido.
Eu queria dividir esse momento com ele.
- Na verdade... sim, quero saber. - Sorri, mas acrescentei rapidamente - Só que não agora. Você pode colocar o resultado num envelope? Quero descobrir junto com o pai.
O médico arqueou as sobrancelhas, surpreso com minha mudança.
- Claro, Aurora, vou fazer isso para você.
Assenti, sentindo uma onda de calma. Por um instante, um fio de esperança se enroscou no meu peito, e eu permiti que ele ficasse.
- E sobre a doação? Continua firme na decisão?
Respirei fundo, mas dessa vez sem o desespero que me dominava nas consultas anteriores.
A ideia de dar o bebê para uma família que pudesse cuidar dele ainda fazia sentido, mas... a certeza não era mais tão firme.
- Estou... considerando as opções. Achei que já estivesse decidida, mas... o medo ainda está aqui. Ao mesmo tempo, começo a pensar que talvez consiga. Talvez eu consiga ficar com esse bebê.
O médico assentiu, me observando com compreensão.
- Se precisar conversar, temos grupos de apoio com outras mães na mesma situação. Às vezes, ajuda falar com quem entende. - Ele me entregou um panfleto, sorrindo. - Aqui estão todas as informações.
- Obrigada. - Peguei o papel, sentindo-me um pouco mais segura.
Com o envelope do resultado em mãos, caminhei calmamente em direção à saída, aliviada por ter terminado.
Mas, ao virar no corredor, dei de cara com a última pessoa que queria encontrar.
Gabriel.
Ele estava ali, a poucos metros, conversando despreocupado.
Meu coração gelou.
Por que ele estava aqui?
Nossos olhares se cruzaram, e ele me sorriu enquanto se aproximava.
- Aurora? O que você está fazendo aqui?
Engoli em seco, tentando parecer casual.
- Gabriel, eu poderia te perguntar o mesmo - murmurei, esboçando um sorriso tenso. - Não deveria estar no trabalho?
- Deveria, mas passei aqui para ver meu tio. - Ele indicou o corredor com a cabeça.
- Oh! Meu Deus, ele está bem?
- Sim, ele é médico e trabalha aqui. - Gabriel riu. - E você, o que está fazendo aqui?
- Ah... só uma consulta de rotina, sabe? Coisas de mulher... nada importante. - Minha mentira era péssima.
Ele me lançou um olhar curioso, mas antes que pudesse perguntar mais, um homem se aproximou. Alto, charmoso, muito bonito e com um sorriso encantador.
- Então, você é a famosa Aurora? - O homem estendeu a mão. - Sou Bryan, tio do Gabriel, prazer em conhecê-la.
- Prazer... - Apertei a mão dele, nervosa. - Então ele fala de mim?
- O tempo todo. - Vi Gabriel corar, e foi adorável. - Você tem sorte, Gabriel, sua namorada é linda. - Bryan piscou para o sobrinho.
Namorada?
Senti meu rosto corar, e troquei um olhar com Gabriel, que parecia tão desconcertado quanto eu.
- Ah, na verdade... nós não somos... - Gabriel tentou explicar, rindo sem jeito. - Ela não é minha namorada, tio.
- Oh! Me desculpe! - Bryan riu. - Entendi errado, foi mal.
- Eu... preciso ir - cortei, sentindo o peso daquela conversa. - Tenho coisas a resolver, mas foi um prazer te conhecer, Bryan. - Apertei a mão dele de novo. - Falo com você mais tarde, Gabriel.
Ele assentiu, confuso, mas sorriu.
- Claro. A gente se fala depois.
Saí apressada, com o coração disparado. Deixei o hospital com a cabeça girando.
Talvez também estivesse na hora de contar a verdade a Gabriel, sobre o bebê.
Harry
Estava no escritório de casa, tentando revisar o material para a aula de segunda-feira, mas a concentração estava me escapando como areia entre os dedos, meus pensamentos eram tomados por somente uma pessoa.
Aurora.
O que ela queria?
O que era tão importante ?
Eu a veria hoje a noite, a ansiedade estava gritando.
Não podia negar que voltar a falar com Aurora mechia comigo, cada notificação que surgia no celular fazia meu coração saltar esperando que fosse outra mensagem dela.
De repente, o silêncio foi rompido olhei para cima e vi Violeta na porta do escritório, com aquele brilho suave nos olhos, ela sorriu e atravessou a soleira com passos cuidadosos.
- H, você precisa de um tempo, está se enterrando nesse trabalho - Inclinou- se sobre a mesa para pegar meus papéis e afastá-los de mim, com um toque brincalhão que não consegui ignorar. - Sabe, já está mais do que na hora de começarmos a montar o quarto da bebê, o que acha de fazer isso hoje?
Fechei os olhos por um instante, tentando ignorar a culpa que surgiu ao me lembrar do encontro marcado que tinha essa noite, Violeta parecia tão feliz, tão envolvida com a ideia de planejar o futuro juntos, sorri para ela, forçando-me a afastar Aurora da minha mente, ao menos por enquanto.
- Você está certa, Vi, não podemos mais adiar isso - concordei, levantando-me com um esforço visível para parecer mais animado do que realmente estava.
- Ótimo! - respondeu ela, satisfeita, enquanto ajeitava os papéis de qualquer jeito na mesa. - Eu estava pesquisando algumas lojas, mas uma amiga me recomendou uma, ela disse que o atendimento é excelente, os móveis são de alta qualidade, então, pensei por que não?
Havia algo no tom dela que tornava difícil dizer não e a ideia de passar algum tempo ao seu lado, focado na bebê, parecia a distração perfeita para afastar os pensamentos sobre Aurora.
Saímos juntos, com as meninas animadas e as deixamos na sorveteria ao lado da loja, sob os cuidados da babá. Assim, poderíamos nos concentrar apenas no quarto da bebê.
A loja tinha um ar acolhedor, o cheiro de madeira nova preenchendo o ambiente com uma sensação quase nostálgica. Luminárias suaves pendiam do teto, lançando uma luz dourada sobre os móveis expostos. Violeta parecia encantada, olhando ao redor com olhos brilhantes, havíamos dado alguns passos quando um atendente se aproximou de nós com um sorriso exagerado.
A plaqueta no peito dizia "Gabriel".
Meu estômago se contraiu, ele era o idiota que estava saindo com a Aurora.
- Olá, posso ajudar a encontrar o que precisam? - perguntou ele, num tom educado.
Tentei disfarçar a irritação, mas Violeta já estava respondendo antes que eu pudesse intervir e sair dali.
- Sim! - disse ela, animada, pegando minha mão. - Estamos montando o quarto da nossa filha. Procuramos um berço, guarda-roupa, cômoda... algo especial e delicado.
A maneira como Gabriel sorriu, me irritou, eu já queria que aquilo tudo acabasse.
- Ah, claro, sigam-me - respondeu ele, apontando para a seção de móveis infantis. - Acho que conheço você de algum lugar... você é professor, certo? - Ele estreitou os olhos, como se tentasse se lembrar. - Já te vi pela faculdade.
- Sim, sou professor - respondi, seco, sem dar espaço para ele continuar com aquela familiaridade irritante.
Gabriel começou a exibir os móveis com uma confiança que parecia forçada, como se estivesse decidido a impressionar.
- Este aqui é um dos nossos melhores berços - explicou, batendo de leve na madeira. - Madeira de alta qualidade, muito resistente. Perfeito para quem procura algo seguro e confortável.
- Hum... - Murmurei, sem esconder meu desinteresse. Coloquei a mão nas costas de Violeta, puxando-a para mais perto. - O que você acha, Vi? Gosta desse?
- Gosto, sim, H. Acho que é perfeito. - Acariciou a superfície do berço com um sorriso, claramente satisfeita.
- Que ótimo! E se vocês quiserem algo que combine, temos este guarda-roupa. É um dos nossos modelos mais vendidos, tem um acabamento lindo.
Ele nos guiou até lá, falando como se entendesse de cada detalhe, só me irritava mais. Violeta parecia feliz, tocando cada peça e imaginando o quarto completo. Gabriel, por outro lado, não perdia a chance de se dirigir a mim com aquele sorrisinho irritante.
- Vai ficar perfeito, não acha, H? - perguntou ela, a voz suave e confiante.
- Sim, vai ficar perfeito. - Segurei sua mão.
- Obrigada por vir comigo, H, é tão bom ver você assim, tão envolvido.
- Eu faço tudo por ela. - Acariciei levemente sua barriga.
- Então podemos levar?
- Claro.
- Ótimo, vou levá-los para finalizarmos a compra.
Gabriel nos guiou até o caixa, senti uma estranha satisfação ao observar Violeta tão empolgada, assim que chegamos ao balcão de pagamento, outro funcionário assumiu a papelada, organizando a entrega.
- Muito obrigada, Senhor e Senhora...
- Styles - Violeta respondeu, sua voz firme, quase orgulhosa.
- É realmente um ótimo conjunto para o quarto da sua filha, vocês vão adorar.
Gabriel desapareceu para atrás da loja, enquanto o outro funcionário finalizava nossa compra.
Enquanto esperávamos o atendente concluir os registros para entrega, Violeta se apoiou levemente em mim. Ela sorriu, um sorriso radiante, e seus olhos estavam cheios de felicidade.
- Meu amor, eu te amo. - ela sussurrou, apertando minha mão com carinho.
Devolvi o sorriso, curvando-me para beijar sua testa.
Então, uma voz feminina ecoou pelo ambiente chamando minha atenção.
- Oi, Karen, o Gabriel está aí?
Meu coração parou.
Eu conhecia aquela voz.
Levantei os olhos, lá estava ela.
Aurora.
Ela ainda não tinha nos notado, sua expressão despreocupada enquanto procurava por Gabriel. Mas, no momento em que seus olhos me encontraram, toda a cor fugiu do seu rosto. E então, seu olhar desceu e encontrou Violeta, que acariciava distraidamente a curva enorme de sua barriga de sete meses, alheia ao que estava acontecendo.
O rosto de Aurora desmoronou, o choque era devastador, ela congelou, os lábios se abriram ligeiramente, mas nenhuma palavra saiu.
Eu via apenas dor.
Dor crua, inegável.
Uma dor que eu sentia arder no meu peito como se fosse minha.
Nossos olhares se prenderam, e ali, no meio de uma loja iluminada e movimentada, meu maior pesadelo ganhou vida.
Não conseguia respirar.
- Bom, se quiserem, podemos agendar a entrega para daqui a três dias, senhor? - A voz do funcionário soou como um eco distante, quase irreal.
- Sim, perfeito - Violeta respondeu com a mesma felicidade ingênua, sem perceber que meu mundo estava desabando ao nosso redor.
Mas eu não conseguia ouvir a resposta.
Meus olhos estavam presos em Aurora.
Ela deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para respirar, seus olhos estavam marejados, brilhando com uma dor que só eu entendia. Vi seus lábios tremerem, suas mãos se fecharem em punhos ao lado do corpo. Ela parecia prestes a desmoronar, mas lutava contra isso, se forçando a manter a compostura.
Ela deu mais um passo para trás, e então, sem dizer uma palavra, virou-se e começou a se afastar.
Eu queria gritar, queria correr atrás dela, segurar seu braço, implorar por perdão. Mas estava paralisado, enquanto ela se afastava, desaparecendo, incapaz de fazer qualquer coisa eu apenas a assisti ir embora.
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Esta ansiosa (o) para o próximo?
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Yes Sir! — Capítulo 31
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Harry
Enquanto eu cruzava o corredor, os passos ecoavam como um lembrete incômodo da despedida recente, de cada palavra e de cada toque que ainda ardia em minha pele. A lembrança de Aurora parecia pulsar em mim, misturada ao peso de saber que eu não deveria ter estado ali. Eu havia prometido que não a procuraria, que respeitaria as linhas tênues que nos mantinham afastados. Mas eu percebi o quanto era difícil cumprir uma promessa que eu nunca queria ter feito.
Enquanto caminhava para casa, eu sabia que não deveria continuar aparecendo na vida dela, eu não tinha o direito, não enquanto Violeta esperava por mim do outro lado da rua, aguardando que eu voltasse e fosse o homem que ela precisava.
Mas o que era justo para ela ou para Aurora, quando eu mesmo não sabia o que era justo para mim?
Atravessei a rua quase como em um transe, tentando forçar minha mente a se aquietar, a deixar para trás o perfume de Aurora que ainda parecia preso na minha pele. Cada pensamento sobre ela se misturava com a culpa, com o medo de não ser capaz de separar os pedaços do meu coração que pertenciam a ela e os que pertenciam a Violeta.
Eu abri a porta de casa em silêncio, como se pisar ali fosse uma espécie de traição. Quando entrei no quarto, vi Violeta adormecida, com a respiração suave, por um instante, a visão dela me aqueceu por dentro, me lembrando de tudo que construímos juntos e do quanto eu a amo.
Porque, apesar de tudo, eu a ainda a amo.
Eu sei que a amo.
Deitei ao lado dela, mantendo certa distância para não acordá-la, mas o calor do corpo dela chegou até mim. Fechei os olhos e tentei me focar nela, no que significava estar ao lado de Violeta, mas era como se meus olhos só enxergassem o rosto de Aurora, a última imagem dela estava gravada na minha mente de forma tão vívida que eu quase podia vê-la ali, a dor que eu vi em seus olhos ainda me queimava por dentro. Ela estava ferida, eu sabia que eu era o responsável por cada uma daquelas feridas.Mas havia também uma felicidade amarga em mim, por mais que eu soubesse que estava errado, ainda sorria, revivendo o toque dela, a forma como ela se desmanchou em meus braços, era algo que eu não poderia apagar.
E talvez, lá no fundo, eu não quisesse.
Eu sei que não podia continuar assim, mas não sabia como sair disso, não sabia como me livrar de estar entre duas vidas, entre o que eu queria e o que era o certo.
Eu sabia que, quando a manhã chegasse, eu teria que sufocar todos esses sentimentos novamente, mas por enquanto, na escuridão daquele quarto, com Violeta ao meu lado e a lembrança de Aurora cravada em minha mente, eu deixei que a felicidade proibida me tomasse, ao menos por alguns segundos.
Aurora
Acordei com o som suave do celular vibrando ao meu lado. Ainda estava meio grogue, com a cabeça pesada pela falta de sono, mas algo dentro de mim não resistiu a pegar o telefone para ver a notificação. Uma mensagem. Pisquei algumas vezes para focar, esfregando os olhos, e então vi que era uma mensagem de um dos meus amigos, agradecendo pela festa de aniversário. Sorri, sentindo o calor de uma lembrança boa pela primeira vez em muito tempo. Suspirei e deixei o celular de lado, olhando para o teto, um sorriso melancólico e involuntário surgiu nos meus lábios, fiquei ali deitada, enquanto deixava a mente se perder na lembrança da noite passada, o abraço de Harry ainda parecia tão real, quase como se eu pudesse sentir o calor do corpo dele contra o meu, o calor da respiração dele acariciando minha pele antes de me afastar.
Meus olhos se abriram, o sorriso no meu rosto era uma mistura de dor e conforto, senti um calor suave se espalhar pelo meu peito, a verdade era que, apesar de toda mágoa, apesar de tudo o que aconteceu, eu sentia falta de nós. Sentia falta da época em que era apenas eu e ele, quando as coisas eram simples, quando eu não sabia a verdade.
Levantei devagar, ainda meio sonolenta, olhei ao redor. O apartamento estava uma completa bagunça, pratos empilhados na pia, copos abandonados nos cantos, balões esvaziados pendurados pelas paredes. Papéis de presente rasgados cobriam a mesa de centro, misturados a garrafas vazias e restos de salgadinhos. Mas, por alguma razão, aquela desordem não me incomodava, havia algo de bom na bagunça. Na geladeira, repousava o bolo de aniversário que tinha sobrado, um pedaço grande com camadas de glacê branco e confeitos coloridos que me atraíam como um abraço doce. Peguei o prato, o garfo já preparado na mão, me sentei no chão, encostada no balcão da cozinha. Dei a primeira garfada e a explosão de doçura preencheu minha boca. Era um alívio simples, quase infantil, mas o suficiente para me fazer esquecer por um momento todas as preocupações, enquanto mastigava, meus olhos pousaram involuntariamente no corredor que levava ao quarto, eu soube que não podia evitar por mais tempo a pequena caixa que Harry me entregou na noite passada.
Suspirei, terminando o último pedaço de bolo empurrando o prato para o lado, minha curiosidade queimava. Levantei-me com um suspiro pesado, caminhei até o quarto, hesitei por um momento parada na porta do quarto, meu olhar fixo na pequena caixa que repousava sobre a penteadeira, como se estivesse esperando pacientemente por mim desde a noite passada.
Eu não queria tocar nela.
Não queria deixar que aquilo tivesse o poder que já sabia que tinha sobre mim, fechei os olhos, sentindo a lembrança do abraço de Harry - o calor do seu corpo contra o meu, o cheiro dele, a sensação da sua mão segurando a minha como se não quisesse me soltar. Quando finalmente dei o primeiro passo, meu coração estava acelerado, os lábios secos, parei em frente à caixa, respirei fundo, sentindo as mãos tremerem quando finalmente estendi os dedos até o veludo frio, toquei a superfície da caixa, meus olhos cravados nela , tentando reunir coragem, tentando afastar as dúvidas, mas a imagem de Harry me entregando o presente, da última troca de olhares que tivemos, se recusava a sair da minha mente.
Eu queria me preparar para o que encontraria, mas como poderia?
Minhas mãos estavam trêmulas enquanto abria a tampa da caixa devagar, quase com medo, quando o relicário finalmente se revelou, senti um aperto no peito, como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões. Era simples e delicado, um pingente de prata que brilhava por um instante, fiquei ali, apenas olhando para ele, estendi a mão e o segurei com delicadeza. O metal estava frio contra a ponta dos meus dedos, uma onda de emoções me atingiu com força, misturando saudade, dor e uma estranha sensação de conforto. Sem pensar, passei o polegar sobre a superfície lisa do relicário, sentindo o peso dele aumentar no meu peito.
Com dedos ainda trêmulos, forcei a pequena trava até que o relicário se abriu com um leve estalo.
O que vi fez meu coração parar por um instante.
Quando ele tirou aquela foto?
Meu cabelo ruivo estava espalhado sobre o peito dele, desordenado como sempre ao acordar, quase não consigo ver meu rosto coberto pelos fios, apenas uma parte do rosto dele aparece, a linha do pescoço e um vislumbre do peito nu contra o qual eu descansava.
Eu não fazia ideia de que aquela foto existia.
Por que ele a guardou?
Por um instante, era como se uma parte da dor tivesse se dissolvido, como se o peso de tudo o que aconteceu não fosse mais tão insuportável.
Toquei meu pescoço e tirei o colar que Gabriel tinha me dado que agora parecia pálido em comparação. Coloquei o relicário de Harry sentindo o metal frio contra a pele, e uma onda de lembranças me atingiu.
Fechei os olhos e deixei que tudo viesse: a raiva, a mágoa, o amor, algo em mim tinha mudado, algo que eu não podia mais negar.
Pela primeira vez, eu sabia que precisava contar a ele sobre o bebê. Não era mais uma escolha.
Era uma necessidade.
Peguei o celular e, antes que pudesse hesitar novamente, digitei a mensagem:
Eu: Harry, preciso falar com você. É importante.
Apertei "enviar" e soltei o ar, como se finalmente pudesse respirar novamente.
Harry
Acordei sorrindo, eu ainda podia sentir a euforia do dia anterior. Olhei para o lado e encontrei a cama vazia. Violeta já não estava ali, Soltei um suspiro profundo e me levantei fui até o banheiro e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer sobre meus ombros.
Aurora não saia da minha mente.
Fiquei ali por alguns minutos, quando finalmente saí do banho, enrolei uma toalha em volta da cintura e fui até a pia, passando a mão pelo espelho embaçado.
Foi quando meu celular vibrou no balcão.
O nome dela apareceu na tela:
Aurora.
Meu coração apertou, um sorriso que surgiu nos meus lábios, ela finalmente tinha me desbloqueado.
Docinho: Harry, preciso falar com você. É importante.
Li a mensagem uma, duas, três vezes, sem conseguir decidir o que responder.
Importante?
O que poderia ser? Eu queria perguntar o que estava acontecendo, mas Violeta entrou no banheiro sem aviso, me arrancando dos pensamentos, ela sorriu ao me ver, seu olhar me avaliando da cabeça aos pés.
- Bom dia, marido.
- Bom dia, esposa. - Fechei a notificação antes que ela pudesse ver e forcei um sorriso.
- Uau! - Se aproximou, seus dedos deslizando sobre meu peito ainda molhado. - Eu tenho tanta sorte! Acho que essa bebê vai ter que nascer logo, ou vou enlouquecer de só olhar para você assim sem poder fazer nada.
- Eu sei, mas temos que ter cuidado com sua gravidez, a segurança dessa bebezinha aqui é mais importante. - Passei a mão levemente pela sua barriga.
Ela deu um passo à frente e me beijou, eu retribui.
- Mas pensando bem talvez eu possa fazer algo. - Suspirou antes de seus lábios voltarem a encontrar os meus, enquanto sua mão jogava minha toalha no chão.
Eu sabia exatamente onde isso iria dar.
Alguns minutos depois e um pouco mais relaxado, desci as escadas ao lado dela, tentando recobrar a compostura enquanto o aroma familiar do café da manhã enchia a casa. Rosa, nossa ajudante estava terminando de colocar a mesa, as meninas já estavam sentadas nós esperando.
- Bom dia, Rosa. - Passei por ela indo até Aurora. - Bom dia minha princesa. - Deixei um pequeno beijo em sua tempora. - Bom dia teimosinha. - Baguncei o cabelo de Isadora antes de dar um pequeno beijo em sua cabeça.
Os cafés da manhã em família se tornaram quase raros nos últimos tempos, então eu tentava aproveitar o máximo dessa calmaria, minha pequena Aurora quis se aconchegar no meu colo, nós brincavamos com as panquecas, era tão bom poder ouvir aquela risada fofa.
Eu tentava me concentrar nisso, mas a mensagem de Aurora continuava a ecoar na minha mente.
Era importante.
Importante como?
A cada segundo minha ansiedade parecia me consumir, mas sabia que não podia puxar o celular ali.
- Harry?! - Violeta me chamou trazendo de volta meus pensamentos.
Ela estava com uma pilha de correspondências na mão que Rosa havia deixado em cima da mesa mais cedo.
- O que foi meu amor? - Olhei confuso, Violeta parecia tensa.
- Harry, precisamos conversar. - murmurou, baixo o suficiente para que Isadora não ouvisse.
Ela estendeu o envelope, parecia ter dificuldade em me encarar, o nome no remetente saltou aos meus olhos como uma maldição.
Bryan!
Um nó se formou no meu estômago, meu corpo inteiro ficou tenso, senti o sangue fervendo nas veias.
- Rosa. - Chamei, tentando manter a calma. - Por favor, leve as meninas para cima, ajude-as a se prepararem, vamos sair daqui a pouco.
Rosa, que já tinha percebido a mudança de humor no ar, apenas assentiu, tirando Aurora do meu colo e chamando Isadora. Assim que as ouvi fecharem a porta do quarto, voltei-me para Violeta, que ainda segurava o maldito envelope como se ele estivesse queimando suas mãos.
- Harry...Eu...
- Abra! Eu não vou conseguir ler. - Comecei a andar de um lado para o outro. - O que ele quer?
Violeta respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem para responder.
- Ele... ele... ele quer um teste de DNA.
As palavras dela ecoaram na minha mente, cada sílaba atiçando uma fúria que há tempos eu não sentia.
- Ele quer um teste de DNA? - Cuspi as palavras, minha voz tremendo de raiva. - Ele só pode estar brincando! - Puxei o envelope das mãos dela, lendo aquela maldita intimação. - Esse... esse desgraçado realmente acha que vou permitir que ele se aproxime da minha filha?
Eu sabia que era só questão de tempo até ele aparecer de novo, até ele vir me provocar, mas um teste de paternidade?
Aquele filho da puta estava indo longe demais.
-Harry, calma... - Ela tentou, dando um passo na minha direção.
- Não! Não vou me acalmar, Violeta! - explodi, a voz saindo mais alta do que pretendia. - Você me prometeu, Violeta! Me prometeu que ele nunca mais se meteria nas nossas vidas, que aquele desgraçado ficaria bem longe da nossa filha, essa era minha única condição para voltar para casa! Eu não quero... não quero ter que lidar com isso de novo.
- Eu deixei claro para ele, Harry, você sabe, disse a ele que ele nunca mais chegasse perde de nós... de Aurora.
- Se deixou tão claro naquela época, então por que ele está aqui? Por que ele está fazendo isso? - Meu corpo estava tenso, cada músculo gritando.
- Não sei por que ele está fazendo isso agora.
- Você não sabe?- Eu dei uma risada amarga. - Ele quer me ver sofrer, Violeta. É isso. Ele quer ver a minha dor, quer destruir o que eu tenho! Três anos, Violeta. Três malditos anos que eu passei lutando para reconstruir isso, para manter nossa família longe desse inútil que um dia eu chamei de melhor amigo. - Eu estava afogado pela raiva.
- Harry, escuta...
- Escutar o quê? Que você deixou isso acontecer? Que mesmo sabendo o quanto isso me destruira, o quanto isso iria me torturar, você ainda deixou espaço para ele voltar?
Eu podia ver a dor em seus olhos, mas talvez eu gostasse que ela se sentisse assim.
- Então vamos acabar com isso logo. Damos a ele o que ele quer, provamos que ele não é o pai e ele vai embora.
- Você só pode estar de sacanagem né? Você quer que eu aceite isso? Quer que deixe ele fazer esse teste e enfrentar a possibilidade de... de perder ela?
- Você nunca vai perder ela, Harry. Ela é sua.
- Você não entende, se ele for o pai, se ela for dele... Eu não vou suportar, Violeta, não vou aguentar ver ele fazendo parte da vida dela.
- Harry, Bryan não é o pai, eu sei disso.
- Não diz isso como se tivesse certeza.- Eu a encarei, sentindo a raiva crescer ainda mais. - Se você tivesse certeza, ele não estaria aqui, exigindo um teste.
Ela respirou fundo, visivelmente abalada, mas no fundo ela sabia que era a única culpada disso tudo.
- Aurora é sua, Harry, você é o pai dela, de sangue ou não, ela é sua filha.
-E se não for? Se ela não for minha? Como você espera que eu viva com isso? Como espera que eu aceite ver aquele desgraçado ao lado dela, me lembrando todos os dias da sua traição, de tudo que me fez voltar para o inferno que foi esse passado.
As lágrimas de Violeta finalmente caíram, mas eu não estava com compaixão naquele momento. Tudo o que eu pensava era em Bryan, já não tinha sido suficiente ele ter roubado minha paz? Minha Mulher? Agora ele queria roubar minha filha também?
- Ele não vai tirar ela de você, Harry. - ela murmurou, a voz cheia de súplica. - Aurora sempre será sua! Só sua, então vamos acabar com isso.
Eu queria acreditar, queria desesperadamente acreditar que isso era verdade.
- Eu nunca vou permitir isso! Aurora é minha filha, eu criei ela, fui eu quem esteve ao lado dela, dia após dia. E agora... agora esse desgraçado aparece, querendo arrancá-la dos meus braços? Não mesmo!!Eu sou advogado, conheço juízes, promotores, advogados de defesa que com certeza não vão hesitar de fazer um favor! Eu vou fazer tudo, tudo que tiver ao meu alcance, para garantir que Bryan nunca chegue perto da minha filha.
Aurora
Harry levou um pouco mais de um dia para responder minha mensagem. Não vou mentir: parecia que tinham se passado semanas, talvez até meses, com minha ansiedade à flor da pele, esperando uma simples resposta. Ele disse que só poderia me encontrar no fim de semana, já que estava muito ocupado durante a semana. Desde então, tenho contado os dias e nunca odiei tanto o fato de ainda ser quarta-feira.
Ainda assim, suas mensagens têm sido um alívio para o meu nervosismo.
Nós temos trocado mensagens todos os dias desde então.
Nada de mensagens românticas.
Apenas perguntas simples: Como você está? Está muito cansado? Como foi seu dia? Estudou muito?
Mas, toda vez que meu celular vibrava, eu sintia meu coração saltar junto. Sei que era só mensagens bobas, sei que provavelmente não significam nada.
Ou talvez, signifiquem tudo.
Assim que a última aula terminou, arrumei meus materiais rapidamente e saí da sala, aliviada por não ter Gabriel comigo naquela aula. Não queria ter que responder a perguntas. Desci as escadas do prédio da faculdade, cruzando corredores abarrotados de estudantes, até chegar ao estacionamento. Entrei no meu Porsche, que estava parado bem em frente ao campus, soltei um longo suspiro. Hoje eu precisava ir ao hospital; tinha uma consulta de pré-natal.
As luzes brancas do hospital continuavam intensas, mas, dessa vez, não me incomodavam tanto, sentei na cadeira da sala de consulta, ajeitando-me com mais calma do que nas visitas anteriores, respirei fundo, sentindo um leve alívio.
Pelo menos essa consulta seria rápida.
O médico entrou, exibindo o olhar gentil que eu já conhecia bem. Fez as perguntas de rotina, e eu respondi com mais leveza do que de costume.
Eu não estava tão ansiosa hoje.
- E então, Aurora... ainda não quer saber o sexo do bebê? - perguntou ele, esboçando aquele sorriso paciente, como se já esperasse minha resposta habitual.
Mas, dessa vez, algo em mim hesitou. Eu costumava responder com um "não" automático, mas agora... agora parecia diferente.
Desde que comecei a considerar contar a verdade para Harry, descobrir o sexo do bebê passou a fazer mais sentido.
Eu queria dividir esse momento com ele.
- Na verdade... sim, quero saber. - Sorri, mas acrescentei rapidamente - Só que não agora. Você pode colocar o resultado num envelope? Quero descobrir junto com o pai.
O médico arqueou as sobrancelhas, surpreso com minha mudança.
- Claro, Aurora, vou fazer isso para você.
Assenti, sentindo uma onda de calma. Por um instante, um fio de esperança se enroscou no meu peito, e eu permiti que ele ficasse.
- E sobre a doação? Continua firme na decisão?
Respirei fundo, mas dessa vez sem o desespero que me dominava nas consultas anteriores.
A ideia de dar o bebê para uma família que pudesse cuidar dele ainda fazia sentido, mas... a certeza não era mais tão firme.
- Estou... considerando as opções. Achei que já estivesse decidida, mas... o medo ainda está aqui. Ao mesmo tempo, começo a pensar que talvez consiga. Talvez eu consiga ficar com esse bebê.
O médico assentiu, me observando com compreensão.
- Se precisar conversar, temos grupos de apoio com outras mães na mesma situação. Às vezes, ajuda falar com quem entende. - Ele me entregou um panfleto, sorrindo. - Aqui estão todas as informações.
- Obrigada. - Peguei o papel, sentindo-me um pouco mais segura.
Com o envelope do resultado em mãos, caminhei calmamente em direção à saída, aliviada por ter terminado.
Mas, ao virar no corredor, dei de cara com a última pessoa que queria encontrar.
Gabriel.
Ele estava ali, a poucos metros, conversando despreocupado.
Meu coração gelou.
Por que ele estava aqui?
Nossos olhares se cruzaram, e ele me sorriu enquanto se aproximava.
- Aurora? O que você está fazendo aqui?
Engoli em seco, tentando parecer casual.
- Gabriel, eu poderia te perguntar o mesmo - murmurei, esboçando um sorriso tenso. - Não deveria estar no trabalho?
- Deveria, mas passei aqui para ver meu tio. - Ele indicou o corredor com a cabeça.
- Oh! Meu Deus, ele está bem?
- Sim, ele é médico e trabalha aqui. - Gabriel riu. - E você, o que está fazendo aqui?
- Ah... só uma consulta de rotina, sabe? Coisas de mulher... nada importante. - Minha mentira era péssima.
Ele me lançou um olhar curioso, mas antes que pudesse perguntar mais, um homem se aproximou. Alto, charmoso, muito bonito e com um sorriso encantador.
- Então, você é a famosa Aurora? - O homem estendeu a mão. - Sou Bryan, tio do Gabriel, prazer em conhecê-la.
- Prazer... - Apertei a mão dele, nervosa. - Então ele fala de mim?
- O tempo todo. - Vi Gabriel corar, e foi adorável. - Você tem sorte, Gabriel, sua namorada é linda. - Bryan piscou para o sobrinho.
Namorada?
Senti meu rosto corar, e troquei um olhar com Gabriel, que parecia tão desconcertado quanto eu.
- Ah, na verdade... nós não somos... - Gabriel tentou explicar, rindo sem jeito. - Ela não é minha namorada, tio.
- Oh! Me desculpe! - Bryan riu. - Entendi errado, foi mal.
- Eu... preciso ir - cortei, sentindo o peso daquela conversa. - Tenho coisas a resolver, mas foi um prazer te conhecer, Bryan. - Apertei a mão dele de novo. - Falo com você mais tarde, Gabriel.
Ele assentiu, confuso, mas sorriu.
- Claro. A gente se fala depois.
Saí apressada, com o coração disparado. Deixei o hospital com a cabeça girando.
Talvez também estivesse na hora de contar a verdade a Gabriel, sobre o bebê.
Harry
Estava no escritório de casa, tentando revisar o material para a aula de segunda-feira, mas a concentração estava me escapando como areia entre os dedos, meus pensamentos eram tomados por somente uma pessoa.
Aurora.
O que ela queria?
O que era tão importante ?
Eu a veria hoje a noite, a ansiedade estava gritando.
Não podia negar que voltar a falar com Aurora mechia comigo, cada notificação que surgia no celular fazia meu coração saltar esperando que fosse outra mensagem dela.
De repente, o silêncio foi rompido olhei para cima e vi Violeta na porta do escritório, com aquele brilho suave nos olhos, ela sorriu e atravessou a soleira com passos cuidadosos.
- H, você precisa de um tempo, está se enterrando nesse trabalho - Inclinou- se sobre a mesa para pegar meus papéis e afastá-los de mim, com um toque brincalhão que não consegui ignorar. - Sabe, já está mais do que na hora de começarmos a montar o quarto da bebê, o que acha de fazer isso hoje?
Fechei os olhos por um instante, tentando ignorar a culpa que surgiu ao me lembrar do encontro marcado que tinha essa noite, Violeta parecia tão feliz, tão envolvida com a ideia de planejar o futuro juntos, sorri para ela, forçando-me a afastar Aurora da minha mente, ao menos por enquanto.
- Você está certa, Vi, não podemos mais adiar isso - concordei, levantando-me com um esforço visível para parecer mais animado do que realmente estava.
- Ótimo! - respondeu ela, satisfeita, enquanto ajeitava os papéis de qualquer jeito na mesa. - Eu estava pesquisando algumas lojas, mas uma amiga me recomendou uma, ela disse que o atendimento é excelente, os móveis são de alta qualidade, então, pensei por que não?
Havia algo no tom dela que tornava difícil dizer não e a ideia de passar algum tempo ao seu lado, focado na bebê, parecia a distração perfeita para afastar os pensamentos sobre Aurora.
Saímos juntos, com as meninas animadas e as deixamos na sorveteria ao lado da loja, sob os cuidados da babá. Assim, poderíamos nos concentrar apenas no quarto da bebê.
A loja tinha um ar acolhedor, o cheiro de madeira nova preenchendo o ambiente com uma sensação quase nostálgica. Luminárias suaves pendiam do teto, lançando uma luz dourada sobre os móveis expostos. Violeta parecia encantada, olhando ao redor com olhos brilhantes, havíamos dado alguns passos quando um atendente se aproximou de nós com um sorriso exagerado.
A plaqueta no peito dizia "Gabriel".
Meu estômago se contraiu, ele era o idiota que estava saindo com a Aurora.
- Olá, posso ajudar a encontrar o que precisam? - perguntou ele, num tom educado.
Tentei disfarçar a irritação, mas Violeta já estava respondendo antes que eu pudesse intervir e sair dali.
- Sim! - disse ela, animada, pegando minha mão. - Estamos montando o quarto da nossa filha. Procuramos um berço, guarda-roupa, cômoda... algo especial e delicado.
A maneira como Gabriel sorriu, me irritou, eu já queria que aquilo tudo acabasse.
- Ah, claro, sigam-me - respondeu ele, apontando para a seção de móveis infantis. - Acho que conheço você de algum lugar... você é professor, certo? - Ele estreitou os olhos, como se tentasse se lembrar. - Já te vi pela faculdade.
- Sim, sou professor - respondi, seco, sem dar espaço para ele continuar com aquela familiaridade irritante.
Gabriel começou a exibir os móveis com uma confiança que parecia forçada, como se estivesse decidido a impressionar.
- Este aqui é um dos nossos melhores berços - explicou, batendo de leve na madeira. - Madeira de alta qualidade, muito resistente. Perfeito para quem procura algo seguro e confortável.
- Hum... - Murmurei, sem esconder meu desinteresse. Coloquei a mão nas costas de Violeta, puxando-a para mais perto. - O que você acha, Vi? Gosta desse?
- Gosto, sim, H. Acho que é perfeito. - Acariciou a superfície do berço com um sorriso, claramente satisfeita.
- Que ótimo! E se vocês quiserem algo que combine, temos este guarda-roupa. É um dos nossos modelos mais vendidos, tem um acabamento lindo.
Ele nos guiou até lá, falando como se entendesse de cada detalhe, só me irritava mais. Violeta parecia feliz, tocando cada peça e imaginando o quarto completo. Gabriel, por outro lado, não perdia a chance de se dirigir a mim com aquele sorrisinho irritante.
- Vai ficar perfeito, não acha, H? - perguntou ela, a voz suave e confiante.
- Sim, vai ficar perfeito. - Segurei sua mão.
- Obrigada por vir comigo, H, é tão bom ver você assim, tão envolvido.
- Eu faço tudo por ela. - Acariciei levemente sua barriga.
- Então podemos levar?
- Claro.
- Ótimo, vou levá-los para finalizarmos a compra.
Gabriel nos guiou até o caixa, senti uma estranha satisfação ao observar Violeta tão empolgada, assim que chegamos ao balcão de pagamento, outro funcionário assumiu a papelada, organizando a entrega.
- Muito obrigada, Senhor e Senhora...
- Styles - Violeta respondeu, sua voz firme, quase orgulhosa.
- É realmente um ótimo conjunto para o quarto da sua filha, vocês vão adorar.
Gabriel desapareceu para atrás da loja, enquanto o outro funcionário finalizava nossa compra.
Enquanto esperávamos o atendente concluir os registros para entrega, Violeta se apoiou levemente em mim. Ela sorriu, um sorriso radiante, e seus olhos estavam cheios de felicidade.
- Meu amor, eu te amo. - ela sussurrou, apertando minha mão com carinho.
Devolvi o sorriso, curvando-me para beijar sua testa.
Então, uma voz feminina ecoou pelo ambiente chamando minha atenção.
- Oi, Karen, o Gabriel está aí?
Meu coração parou.
Eu conhecia aquela voz.
Levantei os olhos, lá estava ela.
Aurora.
Ela ainda não tinha nos notado, sua expressão despreocupada enquanto procurava por Gabriel. Mas, no momento em que seus olhos me encontraram, toda a cor fugiu do seu rosto. E então, seu olhar desceu e encontrou Violeta, que acariciava distraidamente a curva enorme de sua barriga de sete meses, alheia ao que estava acontecendo.
O rosto de Aurora desmoronou, o choque era devastador, ela congelou, os lábios se abriram ligeiramente, mas nenhuma palavra saiu.
Eu via apenas dor.
Dor crua, inegável.
Uma dor que eu sentia arder no meu peito como se fosse minha.
Nossos olhares se prenderam, e ali, no meio de uma loja iluminada e movimentada, meu maior pesadelo ganhou vida.
Não conseguia respirar.
- Bom, se quiserem, podemos agendar a entrega para daqui a três dias, senhor? - A voz do funcionário soou como um eco distante, quase irreal.
- Sim, perfeito - Violeta respondeu com a mesma felicidade ingênua, sem perceber que meu mundo estava desabando ao nosso redor.
Mas eu não conseguia ouvir a resposta.
Meus olhos estavam presos em Aurora.
Ela deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para respirar, seus olhos estavam marejados, brilhando com uma dor que só eu entendia. Vi seus lábios tremerem, suas mãos se fecharem em punhos ao lado do corpo. Ela parecia prestes a desmoronar, mas lutava contra isso, se forçando a manter a compostura.
Ela deu mais um passo para trás, e então, sem dizer uma palavra, virou-se e começou a se afastar.
Eu queria gritar, queria correr atrás dela, segurar seu braço, implorar por perdão. Mas estava paralisado, enquanto ela se afastava, desaparecendo, incapaz de fazer qualquer coisa eu apenas a assisti ir embora.
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Yes Sir! — Capítulo 31
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo terá o ponto de vista de Aurora e Harry.
NotaAutora: Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
Harry
Enquanto eu cruzava o corredor, os passos ecoavam como um lembrete incômodo da despedida recente, de cada palavra e de cada toque que ainda ardia em minha pele. A lembrança de Aurora parecia pulsar em mim, misturada ao peso de saber que eu não deveria ter estado ali. Eu havia prometido que não a procuraria, que respeitaria as linhas tênues que nos mantinham afastados. Mas eu percebi o quanto era difícil cumprir uma promessa que eu nunca queria ter feito.
Enquanto caminhava para casa, eu sabia que não deveria continuar aparecendo na vida dela, eu não tinha o direito, não enquanto Violeta esperava por mim do outro lado da rua, aguardando que eu voltasse e fosse o homem que ela precisava.
Mas o que era justo para ela ou para Aurora, quando eu mesmo não sabia o que era justo para mim?
Atravessei a rua quase como em um transe, tentando forçar minha mente a se aquietar, a deixar para trás o perfume de Aurora que ainda parecia preso na minha pele. Cada pensamento sobre ela se misturava com a culpa, com o medo de não ser capaz de separar os pedaços do meu coração que pertenciam a ela e os que pertenciam a Violeta.
Eu abri a porta de casa em silêncio, como se pisar ali fosse uma espécie de traição. Quando entrei no quarto, vi Violeta adormecida, com a respiração suave, por um instante, a visão dela me aqueceu por dentro, me lembrando de tudo que construímos juntos e do quanto eu a amo.
Porque, apesar de tudo, eu a ainda a amo.
Eu sei que a amo.
Deitei ao lado dela, mantendo certa distância para não acordá-la, mas o calor do corpo dela chegou até mim. Fechei os olhos e tentei me focar nela, no que significava estar ao lado de Violeta, mas era como se meus olhos só enxergassem o rosto de Aurora, a última imagem dela estava gravada na minha mente de forma tão vívida que eu quase podia vê-la ali, a dor que eu vi em seus olhos ainda me queimava por dentro. Ela estava ferida, eu sabia que eu era o responsável por cada uma daquelas feridas.Mas havia também uma felicidade amarga em mim, por mais que eu soubesse que estava errado, ainda sorria, revivendo o toque dela, a forma como ela se desmanchou em meus braços, era algo que eu não poderia apagar.
E talvez, lá no fundo, eu não quisesse.
Eu sei que não podia continuar assim, mas não sabia como sair disso, não sabia como me livrar de estar entre duas vidas, entre o que eu queria e o que era o certo.
Eu sabia que, quando a manhã chegasse, eu teria que sufocar todos esses sentimentos novamente, mas por enquanto, na escuridão daquele quarto, com Violeta ao meu lado e a lembrança de Aurora cravada em minha mente, eu deixei que a felicidade proibida me tomasse, ao menos por alguns segundos.
Aurora
Acordei com o som suave do celular vibrando ao meu lado. Ainda estava meio grogue, com a cabeça pesada pela falta de sono, mas algo dentro de mim não resistiu a pegar o telefone para ver a notificação. Uma mensagem. Pisquei algumas vezes para focar, esfregando os olhos, e então vi que era uma mensagem de um dos meus amigos, agradecendo pela festa de aniversário. Sorri, sentindo o calor de uma lembrança boa pela primeira vez em muito tempo. Suspirei e deixei o celular de lado, olhando para o teto, um sorriso melancólico e involuntário surgiu nos meus lábios, fiquei ali deitada, enquanto deixava a mente se perder na lembrança da noite passada, o abraço de Harry ainda parecia tão real, quase como se eu pudesse sentir o calor do corpo dele contra o meu, o calor da respiração dele acariciando minha pele antes de me afastar.
Meus olhos se abriram, o sorriso no meu rosto era uma mistura de dor e conforto, senti um calor suave se espalhar pelo meu peito, a verdade era que, apesar de toda mágoa, apesar de tudo o que aconteceu, eu sentia falta de nós. Sentia falta da época em que era apenas eu e ele, quando as coisas eram simples, quando eu não sabia a verdade.
Levantei devagar, ainda meio sonolenta, olhei ao redor. O apartamento estava uma completa bagunça, pratos empilhados na pia, copos abandonados nos cantos, balões esvaziados pendurados pelas paredes. Papéis de presente rasgados cobriam a mesa de centro, misturados a garrafas vazias e restos de salgadinhos. Mas, por alguma razão, aquela desordem não me incomodava, havia algo de bom na bagunça. Na geladeira, repousava o bolo de aniversário que tinha sobrado, um pedaço grande com camadas de glacê branco e confeitos coloridos que me atraíam como um abraço doce. Peguei o prato, o garfo já preparado na mão, me sentei no chão, encostada no balcão da cozinha. Dei a primeira garfada e a explosão de doçura preencheu minha boca. Era um alívio simples, quase infantil, mas o suficiente para me fazer esquecer por um momento todas as preocupações, enquanto mastigava, meus olhos pousaram involuntariamente no corredor que levava ao quarto, eu soube que não podia evitar por mais tempo a pequena caixa que Harry me entregou na noite passada.
Suspirei, terminando o último pedaço de bolo empurrando o prato para o lado, minha curiosidade queimava. Levantei-me com um suspiro pesado, caminhei até o quarto, hesitei por um momento parada na porta do quarto, meu olhar fixo na pequena caixa que repousava sobre a penteadeira, como se estivesse esperando pacientemente por mim desde a noite passada.
Eu não queria tocar nela.
Não queria deixar que aquilo tivesse o poder que já sabia que tinha sobre mim, fechei os olhos, sentindo a lembrança do abraço de Harry - o calor do seu corpo contra o meu, o cheiro dele, a sensação da sua mão segurando a minha como se não quisesse me soltar. Quando finalmente dei o primeiro passo, meu coração estava acelerado, os lábios secos, parei em frente à caixa, respirei fundo, sentindo as mãos tremerem quando finalmente estendi os dedos até o veludo frio, toquei a superfície da caixa, meus olhos cravados nela , tentando reunir coragem, tentando afastar as dúvidas, mas a imagem de Harry me entregando o presente, da última troca de olhares que tivemos, se recusava a sair da minha mente.
Eu queria me preparar para o que encontraria, mas como poderia?
Minhas mãos estavam trêmulas enquanto abria a tampa da caixa devagar, quase com medo, quando o relicário finalmente se revelou, senti um aperto no peito, como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões. Era simples e delicado, um pingente de prata que brilhava por um instante, fiquei ali, apenas olhando para ele, estendi a mão e o segurei com delicadeza. O metal estava frio contra a ponta dos meus dedos, uma onda de emoções me atingiu com força, misturando saudade, dor e uma estranha sensação de conforto. Sem pensar, passei o polegar sobre a superfície lisa do relicário, sentindo o peso dele aumentar no meu peito.
Com dedos ainda trêmulos, forcei a pequena trava até que o relicário se abriu com um leve estalo.
O que vi fez meu coração parar por um instante.
Quando ele tirou aquela foto?
Meu cabelo ruivo estava espalhado sobre o peito dele, desordenado como sempre ao acordar, quase não consigo ver meu rosto coberto pelos fios, apenas uma parte do rosto dele aparece, a linha do pescoço e um vislumbre do peito nu contra o qual eu descansava.
Eu não fazia ideia de que aquela foto existia.
Por que ele a guardou?
Por um instante, era como se uma parte da dor tivesse se dissolvido, como se o peso de tudo o que aconteceu não fosse mais tão insuportável.
Toquei meu pescoço e tirei o colar que Gabriel tinha me dado que agora parecia pálido em comparação. Coloquei o relicário de Harry sentindo o metal frio contra a pele, e uma onda de lembranças me atingiu.
Fechei os olhos e deixei que tudo viesse: a raiva, a mágoa, o amor, algo em mim tinha mudado, algo que eu não podia mais negar.
Pela primeira vez, eu sabia que precisava contar a ele sobre o bebê. Não era mais uma escolha.
Era uma necessidade.
Peguei o celular e, antes que pudesse hesitar novamente, digitei a mensagem:
Eu: Harry, preciso falar com você. É importante.
Apertei "enviar" e soltei o ar, como se finalmente pudesse respirar novamente.
Harry
Acordei sorrindo, eu ainda podia sentir a euforia do dia anterior. Olhei para o lado e encontrei a cama vazia. Violeta já não estava ali, Soltei um suspiro profundo e me levantei fui até o banheiro e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer sobre meus ombros.
Aurora não saia da minha mente.
Fiquei ali por alguns minutos, quando finalmente saí do banho, enrolei uma toalha em volta da cintura e fui até a pia, passando a mão pelo espelho embaçado.
Foi quando meu celular vibrou no balcão.
O nome dela apareceu na tela:
Aurora.
Meu coração apertou, um sorriso que surgiu nos meus lábios, ela finalmente tinha me desbloqueado.
Docinho: Harry, preciso falar com você. É importante.
Li a mensagem uma, duas, três vezes, sem conseguir decidir o que responder.
Importante?
O que poderia ser? Eu queria perguntar o que estava acontecendo, mas Violeta entrou no banheiro sem aviso, me arrancando dos pensamentos, ela sorriu ao me ver, seu olhar me avaliando da cabeça aos pés.
- Bom dia, marido.
- Bom dia, esposa. - Fechei a notificação antes que ela pudesse ver e forcei um sorriso.
- Uau! - Se aproximou, seus dedos deslizando sobre meu peito ainda molhado. - Eu tenho tanta sorte! Acho que essa bebê vai ter que nascer logo, ou vou enlouquecer de só olhar para você assim sem poder fazer nada.
- Eu sei, mas temos que ter cuidado com sua gravidez, a segurança dessa bebezinha aqui é mais importante. - Passei a mão levemente pela sua barriga.
Ela deu um passo à frente e me beijou, eu retribui.
- Mas pensando bem talvez eu possa fazer algo. - Suspirou antes de seus lábios voltarem a encontrar os meus, enquanto sua mão jogava minha toalha no chão.
Eu sabia exatamente onde isso iria dar.
Alguns minutos depois e um pouco mais relaxado, desci as escadas ao lado dela, tentando recobrar a compostura enquanto o aroma familiar do café da manhã enchia a casa. Rosa, nossa ajudante estava terminando de colocar a mesa, as meninas já estavam sentadas nós esperando.
- Bom dia, Rosa. - Passei por ela indo até Aurora. - Bom dia minha princesa. - Deixei um pequeno beijo em sua tempora. - Bom dia teimosinha. - Baguncei o cabelo de Isadora antes de dar um pequeno beijo em sua cabeça.
Os cafés da manhã em família se tornaram quase raros nos últimos tempos, então eu tentava aproveitar o máximo dessa calmaria, minha pequena Aurora quis se aconchegar no meu colo, nós brincavamos com as panquecas, era tão bom poder ouvir aquela risada fofa.
Eu tentava me concentrar nisso, mas a mensagem de Aurora continuava a ecoar na minha mente.
Era importante.
Importante como?
A cada segundo minha ansiedade parecia me consumir, mas sabia que não podia puxar o celular ali.
- Harry?! - Violeta me chamou trazendo de volta meus pensamentos.
Ela estava com uma pilha de correspondências na mão que Rosa havia deixado em cima da mesa mais cedo.
- O que foi meu amor? - Olhei confuso, Violeta parecia tensa.
- Harry, precisamos conversar. - murmurou, baixo o suficiente para que Isadora não ouvisse.
Ela estendeu o envelope, parecia ter dificuldade em me encarar, o nome no remetente saltou aos meus olhos como uma maldição.
Bryan!
Um nó se formou no meu estômago, meu corpo inteiro ficou tenso, senti o sangue fervendo nas veias.
- Rosa. - Chamei, tentando manter a calma. - Por favor, leve as meninas para cima, ajude-as a se prepararem, vamos sair daqui a pouco.
Rosa, que já tinha percebido a mudança de humor no ar, apenas assentiu, tirando Aurora do meu colo e chamando Isadora. Assim que as ouvi fecharem a porta do quarto, voltei-me para Violeta, que ainda segurava o maldito envelope como se ele estivesse queimando suas mãos.
- Harry...Eu...
- Abra! Eu não vou conseguir ler. - Comecei a andar de um lado para o outro. - O que ele quer?
Violeta respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem para responder.
- Ele... ele... ele quer um teste de DNA.
As palavras dela ecoaram na minha mente, cada sílaba atiçando uma fúria que há tempos eu não sentia.
- Ele quer um teste de DNA? - Cuspi as palavras, minha voz tremendo de raiva. - Ele só pode estar brincando! - Puxei o envelope das mãos dela, lendo aquela maldita intimação. - Esse... esse desgraçado realmente acha que vou permitir que ele se aproxime da minha filha?
Eu sabia que era só questão de tempo até ele aparecer de novo, até ele vir me provocar, mas um teste de paternidade?
Aquele filho da puta estava indo longe demais.
-Harry, calma... - Ela tentou, dando um passo na minha direção.
- Não! Não vou me acalmar, Violeta! - explodi, a voz saindo mais alta do que pretendia. - Você me prometeu, Violeta! Me prometeu que ele nunca mais se meteria nas nossas vidas, que aquele desgraçado ficaria bem longe da nossa filha, essa era minha única condição para voltar para casa! Eu não quero... não quero ter que lidar com isso de novo.
- Eu deixei claro para ele, Harry, você sabe, disse a ele que ele nunca mais chegasse perde de nós... de Aurora.
- Se deixou tão claro naquela época, então por que ele está aqui? Por que ele está fazendo isso? - Meu corpo estava tenso, cada músculo gritando.
- Não sei por que ele está fazendo isso agora.
- Você não sabe?- Eu dei uma risada amarga. - Ele quer me ver sofrer, Violeta. É isso. Ele quer ver a minha dor, quer destruir o que eu tenho! Três anos, Violeta. Três malditos anos que eu passei lutando para reconstruir isso, para manter nossa família longe desse inútil que um dia eu chamei de melhor amigo. - Eu estava afogado pela raiva.
- Harry, escuta...
- Escutar o quê? Que você deixou isso acontecer? Que mesmo sabendo o quanto isso me destruira, o quanto isso iria me torturar, você ainda deixou espaço para ele voltar?
Eu podia ver a dor em seus olhos, mas talvez eu gostasse que ela se sentisse assim.
- Então vamos acabar com isso logo. Damos a ele o que ele quer, provamos que ele não é o pai e ele vai embora.
- Você só pode estar de sacanagem né? Você quer que eu aceite isso? Quer que deixe ele fazer esse teste e enfrentar a possibilidade de... de perder ela?
- Você nunca vai perder ela, Harry. Ela é sua.
- Você não entende, se ele for o pai, se ela for dele... Eu não vou suportar, Violeta, não vou aguentar ver ele fazendo parte da vida dela.
- Harry, Bryan não é o pai, eu sei disso.
- Não diz isso como se tivesse certeza.- Eu a encarei, sentindo a raiva crescer ainda mais. - Se você tivesse certeza, ele não estaria aqui, exigindo um teste.
Ela respirou fundo, visivelmente abalada, mas no fundo ela sabia que era a única culpada disso tudo.
- Aurora é sua, Harry, você é o pai dela, de sangue ou não, ela é sua filha.
-E se não for? Se ela não for minha? Como você espera que eu viva com isso? Como espera que eu aceite ver aquele desgraçado ao lado dela, me lembrando todos os dias da sua traição, de tudo que me fez voltar para o inferno que foi esse passado.
As lágrimas de Violeta finalmente caíram, mas eu não estava com compaixão naquele momento. Tudo o que eu pensava era em Bryan, já não tinha sido suficiente ele ter roubado minha paz? Minha Mulher? Agora ele queria roubar minha filha também?
- Ele não vai tirar ela de você, Harry. - ela murmurou, a voz cheia de súplica. - Aurora sempre será sua! Só sua, então vamos acabar com isso.
Eu queria acreditar, queria desesperadamente acreditar que isso era verdade.
- Eu nunca vou permitir isso! Aurora é minha filha, eu criei ela, fui eu quem esteve ao lado dela, dia após dia. E agora... agora esse desgraçado aparece, querendo arrancá-la dos meus braços? Não mesmo!!Eu sou advogado, conheço juízes, promotores, advogados de defesa que com certeza não vão hesitar de fazer um favor! Eu vou fazer tudo, tudo que tiver ao meu alcance, para garantir que Bryan nunca chegue perto da minha filha.
Aurora
Harry levou um pouco mais de um dia para responder minha mensagem. Não vou mentir: parecia que tinham se passado semanas, talvez até meses, com minha ansiedade à flor da pele, esperando uma simples resposta. Ele disse que só poderia me encontrar no fim de semana, já que estava muito ocupado durante a semana. Desde então, tenho contado os dias e nunca odiei tanto o fato de ainda ser quarta-feira.
Ainda assim, suas mensagens têm sido um alívio para o meu nervosismo.
Nós temos trocado mensagens todos os dias desde então.
Nada de mensagens românticas.
Apenas perguntas simples: Como você está? Está muito cansado? Como foi seu dia? Estudou muito?
Mas, toda vez que meu celular vibrava, eu sintia meu coração saltar junto. Sei que era só mensagens bobas, sei que provavelmente não significam nada.
Ou talvez, signifiquem tudo.
Assim que a última aula terminou, arrumei meus materiais rapidamente e saí da sala, aliviada por não ter Gabriel comigo naquela aula. Não queria ter que responder a perguntas. Desci as escadas do prédio da faculdade, cruzando corredores abarrotados de estudantes, até chegar ao estacionamento. Entrei no meu Porsche, que estava parado bem em frente ao campus, soltei um longo suspiro. Hoje eu precisava ir ao hospital; tinha uma consulta de pré-natal.
As luzes brancas do hospital continuavam intensas, mas, dessa vez, não me incomodavam tanto, sentei na cadeira da sala de consulta, ajeitando-me com mais calma do que nas visitas anteriores, respirei fundo, sentindo um leve alívio.
Pelo menos essa consulta seria rápida.
O médico entrou, exibindo o olhar gentil que eu já conhecia bem. Fez as perguntas de rotina, e eu respondi com mais leveza do que de costume.
Eu não estava tão ansiosa hoje.
- E então, Aurora... ainda não quer saber o sexo do bebê? - perguntou ele, esboçando aquele sorriso paciente, como se já esperasse minha resposta habitual.
Mas, dessa vez, algo em mim hesitou. Eu costumava responder com um "não" automático, mas agora... agora parecia diferente.
Desde que comecei a considerar contar a verdade para Harry, descobrir o sexo do bebê passou a fazer mais sentido.
Eu queria dividir esse momento com ele.
- Na verdade... sim, quero saber. - Sorri, mas acrescentei rapidamente - Só que não agora. Você pode colocar o resultado num envelope? Quero descobrir junto com o pai.
O médico arqueou as sobrancelhas, surpreso com minha mudança.
- Claro, Aurora, vou fazer isso para você.
Assenti, sentindo uma onda de calma. Por um instante, um fio de esperança se enroscou no meu peito, e eu permiti que ele ficasse.
- E sobre a doação? Continua firme na decisão?
Respirei fundo, mas dessa vez sem o desespero que me dominava nas consultas anteriores.
A ideia de dar o bebê para uma família que pudesse cuidar dele ainda fazia sentido, mas... a certeza não era mais tão firme.
- Estou... considerando as opções. Achei que já estivesse decidida, mas... o medo ainda está aqui. Ao mesmo tempo, começo a pensar que talvez consiga. Talvez eu consiga ficar com esse bebê.
O médico assentiu, me observando com compreensão.
- Se precisar conversar, temos grupos de apoio com outras mães na mesma situação. Às vezes, ajuda falar com quem entende. - Ele me entregou um panfleto, sorrindo. - Aqui estão todas as informações.
- Obrigada. - Peguei o papel, sentindo-me um pouco mais segura.
Com o envelope do resultado em mãos, caminhei calmamente em direção à saída, aliviada por ter terminado.
Mas, ao virar no corredor, dei de cara com a última pessoa que queria encontrar.
Gabriel.
Ele estava ali, a poucos metros, conversando despreocupado.
Meu coração gelou.
Por que ele estava aqui?
Nossos olhares se cruzaram, e ele me sorriu enquanto se aproximava.
- Aurora? O que você está fazendo aqui?
Engoli em seco, tentando parecer casual.
- Gabriel, eu poderia te perguntar o mesmo - murmurei, esboçando um sorriso tenso. - Não deveria estar no trabalho?
- Deveria, mas passei aqui para ver meu tio. - Ele indicou o corredor com a cabeça.
- Oh! Meu Deus, ele está bem?
- Sim, ele é médico e trabalha aqui. - Gabriel riu. - E você, o que está fazendo aqui?
- Ah... só uma consulta de rotina, sabe? Coisas de mulher... nada importante. - Minha mentira era péssima.
Ele me lançou um olhar curioso, mas antes que pudesse perguntar mais, um homem se aproximou. Alto, charmoso, muito bonito e com um sorriso encantador.
- Então, você é a famosa Aurora? - O homem estendeu a mão. - Sou Bryan, tio do Gabriel, prazer em conhecê-la.
- Prazer... - Apertei a mão dele, nervosa. - Então ele fala de mim?
- O tempo todo. - Vi Gabriel corar, e foi adorável. - Você tem sorte, Gabriel, sua namorada é linda. - Bryan piscou para o sobrinho.
Namorada?
Senti meu rosto corar, e troquei um olhar com Gabriel, que parecia tão desconcertado quanto eu.
- Ah, na verdade... nós não somos... - Gabriel tentou explicar, rindo sem jeito. - Ela não é minha namorada, tio.
- Oh! Me desculpe! - Bryan riu. - Entendi errado, foi mal.
- Eu... preciso ir - cortei, sentindo o peso daquela conversa. - Tenho coisas a resolver, mas foi um prazer te conhecer, Bryan. - Apertei a mão dele de novo. - Falo com você mais tarde, Gabriel.
Ele assentiu, confuso, mas sorriu.
- Claro. A gente se fala depois.
Saí apressada, com o coração disparado. Deixei o hospital com a cabeça girando.
Talvez também estivesse na hora de contar a verdade a Gabriel, sobre o bebê.
Harry
Estava no escritório de casa, tentando revisar o material para a aula de segunda-feira, mas a concentração estava me escapando como areia entre os dedos, meus pensamentos eram tomados por somente uma pessoa.
Aurora.
O que ela queria?
O que era tão importante ?
Eu a veria hoje a noite, a ansiedade estava gritando.
Não podia negar que voltar a falar com Aurora mechia comigo, cada notificação que surgia no celular fazia meu coração saltar esperando que fosse outra mensagem dela.
De repente, o silêncio foi rompido olhei para cima e vi Violeta na porta do escritório, com aquele brilho suave nos olhos, ela sorriu e atravessou a soleira com passos cuidadosos.
- H, você precisa de um tempo, está se enterrando nesse trabalho - Inclinou- se sobre a mesa para pegar meus papéis e afastá-los de mim, com um toque brincalhão que não consegui ignorar. - Sabe, já está mais do que na hora de começarmos a montar o quarto da bebê, o que acha de fazer isso hoje?
Fechei os olhos por um instante, tentando ignorar a culpa que surgiu ao me lembrar do encontro marcado que tinha essa noite, Violeta parecia tão feliz, tão envolvida com a ideia de planejar o futuro juntos, sorri para ela, forçando-me a afastar Aurora da minha mente, ao menos por enquanto.
- Você está certa, Vi, não podemos mais adiar isso - concordei, levantando-me com um esforço visível para parecer mais animado do que realmente estava.
- Ótimo! - respondeu ela, satisfeita, enquanto ajeitava os papéis de qualquer jeito na mesa. - Eu estava pesquisando algumas lojas, mas uma amiga me recomendou uma, ela disse que o atendimento é excelente, os móveis são de alta qualidade, então, pensei por que não?
Havia algo no tom dela que tornava difícil dizer não e a ideia de passar algum tempo ao seu lado, focado na bebê, parecia a distração perfeita para afastar os pensamentos sobre Aurora.
Saímos juntos, com as meninas animadas e as deixamos na sorveteria ao lado da loja, sob os cuidados da babá. Assim, poderíamos nos concentrar apenas no quarto da bebê.
A loja tinha um ar acolhedor, o cheiro de madeira nova preenchendo o ambiente com uma sensação quase nostálgica. Luminárias suaves pendiam do teto, lançando uma luz dourada sobre os móveis expostos. Violeta parecia encantada, olhando ao redor com olhos brilhantes, havíamos dado alguns passos quando um atendente se aproximou de nós com um sorriso exagerado.
A plaqueta no peito dizia "Gabriel".
Meu estômago se contraiu, ele era o idiota que estava saindo com a Aurora.
- Olá, posso ajudar a encontrar o que precisam? - perguntou ele, num tom educado.
Tentei disfarçar a irritação, mas Violeta já estava respondendo antes que eu pudesse intervir e sair dali.
- Sim! - disse ela, animada, pegando minha mão. - Estamos montando o quarto da nossa filha. Procuramos um berço, guarda-roupa, cômoda... algo especial e delicado.
A maneira como Gabriel sorriu, me irritou, eu já queria que aquilo tudo acabasse.
- Ah, claro, sigam-me - respondeu ele, apontando para a seção de móveis infantis. - Acho que conheço você de algum lugar... você é professor, certo? - Ele estreitou os olhos, como se tentasse se lembrar. - Já te vi pela faculdade.
- Sim, sou professor - respondi, seco, sem dar espaço para ele continuar com aquela familiaridade irritante.
Gabriel começou a exibir os móveis com uma confiança que parecia forçada, como se estivesse decidido a impressionar.
- Este aqui é um dos nossos melhores berços - explicou, batendo de leve na madeira. - Madeira de alta qualidade, muito resistente. Perfeito para quem procura algo seguro e confortável.
- Hum... - Murmurei, sem esconder meu desinteresse. Coloquei a mão nas costas de Violeta, puxando-a para mais perto. - O que você acha, Vi? Gosta desse?
- Gosto, sim, H. Acho que é perfeito. - Acariciou a superfície do berço com um sorriso, claramente satisfeita.
- Que ótimo! E se vocês quiserem algo que combine, temos este guarda-roupa. É um dos nossos modelos mais vendidos, tem um acabamento lindo.
Ele nos guiou até lá, falando como se entendesse de cada detalhe, só me irritava mais. Violeta parecia feliz, tocando cada peça e imaginando o quarto completo. Gabriel, por outro lado, não perdia a chance de se dirigir a mim com aquele sorrisinho irritante.
- Vai ficar perfeito, não acha, H? - perguntou ela, a voz suave e confiante.
- Sim, vai ficar perfeito. - Segurei sua mão.
- Obrigada por vir comigo, H, é tão bom ver você assim, tão envolvido.
- Eu faço tudo por ela. - Acariciei levemente sua barriga.
- Então podemos levar?
- Claro.
- Ótimo, vou levá-los para finalizarmos a compra.
Gabriel nos guiou até o caixa, senti uma estranha satisfação ao observar Violeta tão empolgada, assim que chegamos ao balcão de pagamento, outro funcionário assumiu a papelada, organizando a entrega.
- Muito obrigada, Senhor e Senhora...
- Styles - Violeta respondeu, sua voz firme, quase orgulhosa.
- É realmente um ótimo conjunto para o quarto da sua filha, vocês vão adorar.
Gabriel desapareceu para atrás da loja, enquanto o outro funcionário finalizava nossa compra.
Enquanto esperávamos o atendente concluir os registros para entrega, Violeta se apoiou levemente em mim. Ela sorriu, um sorriso radiante, e seus olhos estavam cheios de felicidade.
- Meu amor, eu te amo. - ela sussurrou, apertando minha mão com carinho.
Devolvi o sorriso, curvando-me para beijar sua testa.
Então, uma voz feminina ecoou pelo ambiente chamando minha atenção.
- Oi, Karen, o Gabriel está aí?
Meu coração parou.
Eu conhecia aquela voz.
Levantei os olhos, lá estava ela.
Aurora.
Ela ainda não tinha nos notado, sua expressão despreocupada enquanto procurava por Gabriel. Mas, no momento em que seus olhos me encontraram, toda a cor fugiu do seu rosto. E então, seu olhar desceu e encontrou Violeta, que acariciava distraidamente a curva enorme de sua barriga de sete meses, alheia ao que estava acontecendo.
O rosto de Aurora desmoronou, o choque era devastador, ela congelou, os lábios se abriram ligeiramente, mas nenhuma palavra saiu.
Eu via apenas dor.
Dor crua, inegável.
Uma dor que eu sentia arder no meu peito como se fosse minha.
Nossos olhares se prenderam, e ali, no meio de uma loja iluminada e movimentada, meu maior pesadelo ganhou vida.
Não conseguia respirar.
- Bom, se quiserem, podemos agendar a entrega para daqui a três dias, senhor? - A voz do funcionário soou como um eco distante, quase irreal.
- Sim, perfeito - Violeta respondeu com a mesma felicidade ingênua, sem perceber que meu mundo estava desabando ao nosso redor.
Mas eu não conseguia ouvir a resposta.
Meus olhos estavam presos em Aurora.
Ela deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para respirar, seus olhos estavam marejados, brilhando com uma dor que só eu entendia. Vi seus lábios tremerem, suas mãos se fecharem em punhos ao lado do corpo. Ela parecia prestes a desmoronar, mas lutava contra isso, se forçando a manter a compostura.
Ela deu mais um passo para trás, e então, sem dizer uma palavra, virou-se e começou a se afastar.
Eu queria gritar, queria correr atrás dela, segurar seu braço, implorar por perdão. Mas estava paralisado, enquanto ela se afastava, desaparecendo, incapaz de fazer qualquer coisa eu apenas a assisti ir embora.
Obrigado por ler até aqui 💗 O feedback através de um comentário é muito apreciado!
Esta ansiosa (o) para o próximo?
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MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ESSE CAPÍTULO INCLUI MUITO ODIO PELO GABRIEL E CHORO PELO HARRY:
“Aurora, eu espero o tempo que precisar” MEU DEUS A REVIRADA DE OLHO QUE EU DEIIIII NOSSA COMO PODE ME IRRITAR TANTO AMIGAAA
“Alguém está realmente se esforçando. —Gabriel forçou uma risada.” MEU QUERIDO ELE NEM SE ESFORÇA TANTO MAS É VOCÊ QUE REALMENTE NÃO TEM O MOLHO
“— Claro, claro... Não quero atrapalhar. — Ele deu um sorriso um pouco tímido. — A gente se vê depois” MESMO NÃO QUERENDO JÁ ATRAPALHA MEU QUERIDO
“— Agora você vai carregar um pedacinho de mim, onde quer que vá.” Isso era pra ser reconfortante?
“ — Eu não vim aqui pra me desculpar, Aurora, eu não vim pra pedir perdão ou pra dizer que sinto sua falta. Você já sabe disso” OLHA ELE AIIIIIIII AAAAAAAAA
“— Harry... eu queria... eu queria te contar... Eu... Eu estou...” MEU DEUS CONTA LOGO MULHEEEER E ME DEIXA FICAR EM PAZZZ,
“Fiquei ali, sozinha, vendo-o desaparecer no corredor, com o vazio que me rasgava por dentro, um presente frio na minha mão e minha alma em pedaços” chorei… e muito meu Deus como podeee eu chorar copiosamente por conta desses dois em pleno horário comercial😭😭😭😭
Me encontro assim após as considerações :
Amiga só tenho a te dizer Gabriel não vai embora tão cedo kkkkkk
Ele é daqueles insistentes kkkkk
Ela vai amiga ela vai, o tempo dela tá acabando kkkk logo não vai conseguir mais esconder aquela barriga lá!
Aiiiii eu tava com sdds de escrever um momento só deles 🥹🥹💗💗 e pelo visto vocês também!!!!
Muitoooo obrigada pela sua ask!!! E amoo mesmo ler sempre seus comentários!!
Aguardeee pq o próximo capítulo tá muito bom 👀👀👀👀👀
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tô de olhooooo 👀👀👀
queria muito 2 temporada de tbsl 😭❤️
Aii bateu uma sdds essa semana!
Ai tbm mas não sei como começa kkkkk ela é meu xuxuzinho não estraga.
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Que saudade daqui, Cah! Que saudade de você!
Aiiiii quantoooo tempo mulher, não some não 🥹🥹🥹🥹💗💗💗💗 muitas saudades mesmo!! Até ontem fiquei lendo uns imagines seus!!! Vi que vai postar mais, tô ansiosa pra ler 😍😍😍
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Pedido: Oiii, bem? Gostaria de pedir o número 12 com o Harry
12° Ótimo, agora a luz acabou.
"Sua chamada esta sendo encaminhada para a caixa de mensagem, deixe sua mensagem após o..."
-Merda - falei comigo mesma - Aonde o Harry se meteu - falei e vi a sala ser clareada por um mais raio.
Estava desesperada atrás do meu namorado, que saiu de casa para ir ao mercado e ate agora não voltou, se fosse um dia ensolarado eu estaria ótima, acontece que estava vindo uma tempestade daquelas e eu morro de medo.
"Sua chamada esta sendo encaminhada...", tentei ligar mais uma vez pro Harry, o que não obtive sucesso
Aonde o Styles esta, preciso que ele chegue logo, de preferencia antes da chuva.
Passou alguns minutos e ouvi o carro dele chegando na garagem
-Ainda bem - falei e fui ao seu encontro - Quer me matar do coração? - perguntei abrindo a porta da garagem e vendo o mesmo sair do carro
-Desculpa amor, vim o mais rápido que consegui quando percebi a chuva -
-Ainda bem que chegou antes dela - falei ajudando o mesmo com as sacolas
-Vamos preparar um café e ir assistir algum filme - falou
Guardamos as compras e preparamos o café, e fomos pra sala assistir um filme e ver se me distraio com o mesmo.
-Pode ser esse amor? - perguntou e só concordei, uma vez que mais um raio clareava a sala - Vem aqui meu amor - falou me abraçando.
Começamos a assistir ao filme, e confesso que ate estava me distraindo, quando estávamos uns 40min assistindo ao filme a luz acabou
-Ótimo, agora a luz acabou - falei nervosa
-Calma amor, eu to aqui - falou Pedro tentando me acalmar
-Harry, por favor não sai do meu lado - falei mais nervosa com toda aquela escuridão
-Eu não vou sair do seu lado, eu estarei aqui a noite toda, okay? Nada vai te afetar enquanto eu estiver aqui -
-Obrigada-
-Vem vamos pra cama - falou me segurando e me guiando pro quarto
Quando chegamos no quarto o mesmo me ajudou a deitar e foi pegar uma lanterna
-Pronto, vou deixar aqui pra clarear o quarto - falou deitando ao meu lado - Tudo vai ficar bem -
-Obrigado amor - falei procurando o rosto do mesmo e lhe dando um selinho - Sabia que eu amo sua voz? Ela é tão reconfortante -
-Minha voz é sensacional mesmo - falou e ambos rimos - E não precisa me agradecer amor - falou retribuindo o selinho, depois de algum tempo dormimos abraçadinhos.
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Imagine Harry Styles
Eu sei que não apareço aqui há quase um ano. Mas senti falta de vocês.
Originalmente, esse imagine foi postado no meu instagram com um membro do BTS e adaptei pra trazer pra cá. Espero que gostem ^^
Contagem de palavras: +8k
Encaro o relógio na tela do meu celular pela quarta vez, suspirando e lutando contra as malditas lágrimas que insistem em se formar nos meus olhos.
Ouço o barulho da porta se abrindo, e logo o som de passos desajeitados preenchem todo o lugar.
Eu permaneço no sofá, sequer me mexo.
— Querida? — Fecho os olhos ao ouvir a voz do meu marido.
Eu me viro, encarando o homem com o terno amarrotado e a gravata torta. Harry me oferece um sorriso bêbado enquanto tenta empurrar os sapatos para fora dos pés, quase caindo no processo. Eu suspiro e me aproximo dele.
Apoio seu corpo alto e pesado no meu. Seu braço longo fica sobre os meus ombros e nós caminhamos em direção à suíte.
— Me desculpa. — Ele fala baixo, as palavras emboladas como se a língua fosse maior que o normal. — Eu precisei ir para um jantar da empresa e perdi o seu aniversário. — Harry lamenta.
Um sorriso bobo se forma em meus lábios.
Bom, pelo menos ele havia se lembrado.
— Não tem problema. — Eu digo, terminando de desatar o nó de sua gravata. — Por quê bebeu tanto? — Bufo, fingindo estar brava.
Eu sabia como Styles era fraco para bebida. Uma taça de vinho era o suficiente para deixá-lo com as bochechas vermelhas e o sorriso solto. Mas o cheiro forte de álcool deixava claro que ele havia bebido muito mais do que uma taça de vinho.
— Vou recompensar você. — Ele diz, depois que eu retiro seu paletó. Harry ergue as mãos grandes, segurando minhas duas bochechas. Seus olhos estão quase fechados, as bochechas muito vermelhas. — Feliz aniversário, querida.
— Obrigado, H.
O meu coração bate forte.
E, para a minha surpresa, Harry puxa o meu rosto em direção ao seu.
Seus lábios cheios e macios tocam os meus, me fazendo arregalar os olhos antes de fechar.
O primeiro e último beijo que trocamos fora a dois anos, no dia em que dissemos sim em frente ao juiz de paz.
Nosso casamento não passava de um contrato, benéfico para nós dois. Harry precisava do dinheiro da minha família, eu precisava de liberdade.
Depois de uma longa e sincera conversa durante o jantar de noivado, decidimos seguir em frente.
Começamos com uma amizade. Harry era educado, gentil e sensível. Sempre me tratando com muito respeito.
O grande problema foi quando meu coração começou a confundir as coisas. E eu acabei irremediavelmente apaixonada pelo meu marido.
Me contentei com a amizade de Styles. Fazendo o meu melhor para esconder os sentimentos que cada vez mais se tornavam mais fortes.
A cada sorriso que ele me dirigia, cada mínimo elogio educado. Meu coração batia como louco. O frio na barriga me atingia e eu conseguia ficar ainda mais boba por ele.
Solto um suspiro quando a língua quente toca meu lábio inferior.
Harry me puxa para mais perto, seus dedos se perdem no meu cabelo.
Nosso primeiro beijo foi apenas um selar. E foram incontáveis as vezes que eu me perguntei como seria beijá-lo de verdade.
Mesmo que o sabor alcoólico fosse forte, ainda era bom. Mesmo que o beijo demonstrasse desejo, ainda era delicado.
Seus lábios eram quentes e macios, sua língua afoita e curiosa, explorando cada partezinha da minha boca.
Meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo retumbando em meus ouvidos. Minha pele inteira estava arrepiada.
O beijo foi quebrado com dezenas de selinhos e eu sorri como uma boba.
Harry sorriu de volta, passando o polegar em minha bochecha.
E então disse as palavras que acabaram completamente com a minha ilusão e o fio de esperança ao qual me agarrei.
— Minha Helena…
O meu sorriso se fechou, e quase pude ouvir o som do meu coração virando um amontoado de estilhaços.
Harry caiu para trás na cama, em um sono profundo.
Segurei o soluço que tentou escapar, mas as lágrimas já haviam começado a escorrer de forma vergonhosa.
Humilhada, ergui suas pernas até que estivessem sobre o colchão.Puxei sua coberta, estendendo sobre o corpo adormecido.
Olhei para ele uma última vez antes de sair do quarto, atravessando para a porta ao outro lado, que inicialmente seria um quarto de hóspedes, mas há dois anos, é o meu.
Deitei na minha cama, abraçando com força um dos meus travesseiros e deixei meu choro dolorido escapar, tentando aliviar a dor em meu peito.
Harry não havia me beijado.
Em sua ilusão de bêbado era a ela quem estava beijando.
Helena, sua primeira esposa. Aquela que há três anos foi arrancada dos seus braços por um câncer agressivo.
Sequer consegui dormir.
Quando o celular despertou, tomei um banho rápido e usei maquiagem para esconder as olheiras e o nariz avermelhado pelo choro.
Desci para a cozinha, começando a minha rotina.
Fazer o café da manhã para Harry era algo que me deixava feliz. Ele nunca poupava elogios, mesmo que o sabor da comida não fosse tão gostoso assim.
Mas hoje, me limitei ao café preto e uma sopa de algas para ajudar com a provável ressaca dele.
Servi o meu próprio café, fechando meus olhos ao beber o primeiro gole da bebida quente.
Ouvi os passos desajeitados na escadaria, assim como os resmungos que o homem soltava.
— Bom dia. — Murmurou.
— Bom dia, Harry. — Continuei de costas, querendo ao máximo evitar de olhar para ele. Mesmo com a maquiagem, sabia que ainda era possível ver os rastros do choro e da noite mal dormida. Além disso, Styles parecia ter o dom de me ler como se fosse um livro. Era observador e conseguia enxergar tranquilamente tudo que quisesse.
— Fiz ou falei alguma besteira ontem? — Pude ouvir quando ele pegou uma xícara, pronto para servir seu café.
Como uma idiota, me virei, segurando seu braço.
Harry precisava se hidratar, comer alguma coisa antes de beber café ou acabaria passando mal.
Seus olhos ficaram levemente arregalados, já que eu pouco interferia em qualquer coisa que ele fizesse. Assim como ele comigo.
— Tome a sopa de algas primeiro. — Sugiro, soltando o seu braço e voltando a encarar a janela.
— Tem certeza de que nada aconteceu ontem? — Ele questiona, passando por trás do meu corpo para se servir da sopa no fogão ao meu lado.
— Uhum.
— Hm, isso está uma delícia. — Ele fala, mesmo acabado da ressaca, com animação.
Não digo nada. Bebo mais um gole do meu café e jogo o restante na pia, deixando a xícara por ali para lavar depois.
Ouço quando Harry solta um longo suspiro. Encostado na mesa, ele toma a sopa com calma, me olhando por cima da tigela.
— Está com muita dor? — Não consigo segurar em perguntar, preocupada com ele.
— Um pouco. — Faz uma careta.
— Tem remédio para dor de cabeça no armário do banheiro. — Tento sorrir.
A conversa me faz sentir ainda pior. Mas, pelo menos, ele não se lembra de ontem.
Decido sair da cozinha, mas antes que eu faça isso, sua mão grande segura o meu pulso, me mantendo no cômodo.
— Eu fiz algo que magoou você, não foi? — Seus olhos castanhos me encaravam cheios de culpa, mesmo que sequer soubesse o motivo. — Pode me dizer. — Incentiva.
— Não é nada, Harry. — Garanto, forçando um sorriso.
O inglês não parece acreditar nas minhas palavras, mas não sobram alternativas além de soltar o meu braço e me deixar sair da cozinha.
Pelo resto da manhã, me mantenho dentro do meu quarto. Deito na cama novamente e finalmente o cansaço me vence.
Acabo caindo em um sono pesado, tão cansada que sequer sonho.
Acordo com uma mão grande balançando de leve o meu ombro.
— S\N. — A voz de Harry soa baixinha. Abro meus olhos, resmungando por ser acordada. Ele me dá um sorriso de lado. — Venha almoçar.
Arregalo os olhos.
Harry cozinhou?
Olho para o relógio do meu celular, sem conseguir entender como uma soneca acabou durando quase 5 horas.
— Você não deveria estar no escritório? — Pergunto ainda um pouco perdida.
— Decidi tirar folga hoje. — Ele sorri mais uma vez, se levantando.
Coloco a mão sobre a boca, tentando segurar a risada.
Como Harry estava abaixado ao lado da cama, não consegui prestar atenção em sua roupa. Mas agora, é quase impossível não rir ao ver o homem de quase 1,80 usando meu avental de cozinha. Decorado com coraçõezinhos e adornado por um babado embaixo.
— Não ria. — Ele coloca a mão sobre o peito, como se estivesse mortalmente ofendido. O que, obviamente, me faz rir alto. — Vem. — Estende a mão, praticamente me arrastando para fora da cama.
Suas mãos vão para os meus ombros, me empurrando para fora do quarto.
Ainda estou sonolenta, mas meu estômago revira de fome e minha boca saliva assim que chegamos no andar de baixo e o cheiro da comida perfuma o lugar inteiro.
— Você fez tudo isso? — Falo surpresa com a quantidade de pratos disposta na mesa.
— Duvidando dos meus dotes culinários, senhora Styles? — Ele pergunta erguendo uma sobrancelha, puxando uma cadeira e me fazendo sentar.
Senhora Styles.
Não é a primeira vez que ele me chama assim, sempre com a entonação de brincadeira.
— Estou faminta. — Mudo de assunto.
Harry senta à minha frente, sem tirar o avental. Olho para todos aqueles pratos, tentando decidir o que comer primeiro.
Na verdade, eu estava apenas provocando ele. Sabia muito bem do talento de Harry na cozinha.
Porém, com a rotina cansativa no escritório, eu acabei ficando com a responsabilidade da comida e da arrumação da casa.
Não era algo que me incomodava, mais de uma vez o inglês ofereceu contratar alguém para me ajudar.
Mas eu gostava de manter as coisas do meu jeito.
— Estou pensando em voltar para a faculdade. — Falo de repente. Harry ergue os olhos, a boca tão cheia de comida que suas bochechas ficam infladas.
— Sério? — Pergunta colocando a mão na frente da boca.
— Acha uma ideia ruim? — Pergunto.
Eu precisei trancar a faculdade de design por conta do casamento. Mais uma das exigências do meu pai.
— De forma alguma. — Ele nega com a cabeça. — Eu acho ótimo, S/N. — Sorri. — Está gostando da comida?
— Está tudo uma delícia. — Falo com sinceridade. — Por quê decidiu cozinhar tanto?
— Queria me desculpar com você… — Meu corpo trava. — Ontem acabei me esquecendo do seu aniversário. — Harry suspira. — Me desculpe por isso, S/N.
— Está tudo bem. — Eu afirmo, mesmo que não seja 100% verdade.
Nos dias em que se seguiram, eu me concentrei em voltar para a faculdade. Consegui destravar minha matrícula e voltei às aulas.
A primeira semana passou voando e por dias inteiros quase não vi o meu marido.
O que era bom.
Esse era o primeiro passo para esquecer esse amor unilateral.
Eu precisava me dedicar a esquecê-lo, e enfiar a cabeça nos livros, correr atrás de prazos de trabalhos e provas seria o ideal para tirá-lo da minha cabeça e do meu coração.
Preciso me convencer de que a amizade que temos é tudo que Harry pode me oferecer.
Mesmo que eu me lembre de seus lábios contra os meus cada vez que feche os olhos.
Harry
Solto um suspiro baixo, sentindo meus olhos arderem depois de revisar mais de cinquenta relatórios. Encaro a foto de Helena sobre a minha mesa, sentindo o mesmo sentimento de melancolia de sempre.
Era difícil saber que voltaria para casa agora e não seria recebido por seu sorriso ou suas piadas ruins.
Por mais que morar com S/N não fosse necessariamente ruim, ela não era Helena.
A minha Helena.
— Já vai? — Brad pergunta quando eu saio da minha sala.
Além de amigo de longa data, ele é meu secretário.
Está comigo há anos e é um dos poucos em quem confio plenamente.
— Sim. — Resmungo. — Você pode ir também.
— Pensou sobre o que conversamos? — Ele diz quando entramos no elevador.
— Eu não preciso de terapia, Brad. — Reclamo, revirando os olhos. Há dias ele vem falando nesse mesmo assunto.
— É óbvio que precisa, Harry. Você precisa superar.
— Isso não vai acontecer nunca. — Bufo. — Helena é a minha esposa!
— Era. — Brad segura o meu braço, me fazendo olhar para o seu rosto calmo. — Me desculpe, irmão. Mas, pessoas morrem o tempo inteiro.
— Não diga isso. — Eu viro o rosto, evitando encará-lo.
— É a verdade. E você está perdendo uma oportunidade incrível, sabe disso, não sabe?
A tal oportunidade incrível é o fato de eu ser casado com S/N.
Desde que confessei a ele que tive um sonho estranho onde beijava a minha esposa, o mais novo insiste que eu estou me apaixonando por ela.
O que não é verdade.
Eu estava bêbado, S/N cuidou de mim e o sonho se misturou com a realidade.
Apenas isso.
Me despeço do mais novo, entrando no meu carro.
Dirijo com calma pelas ruas de Seul, soltando alguns suspiros.
Eu não queria dar o braço a torcer e recorrer à terapia para conseguir viver a minha vida. Mas, Brad estava certo em alguns pontos.
Eu não aproveitava mais nada. Tudo de bom que me aconteceu nos últimos anos, cada conquista. Simplesmente não consegui me sentir feliz por isso.
Me sentia, de certa forma, culpado por seguir vivendo quando Helena não estava mais aqui.
E por mais que eu soubesse que essa não era a vida que ela queria para mim, perder o amor da minha vida matou algo no meu coração.
Quando Helena se foi, ela levou uma grande parte do homem que um dia eu fui.
Estaciono na garagem espaçosa.
Assim que coloco os pés em casa, me livro da gravata irritante.
— S\N? — Chamo baixinho ao ver a garota na sala, sem querer assustá-la.
Mas, ela sequer se mexeu.
Me aproximei com cautela.
S\N estava com os braços sobre a mesinha de centro, o rosto apoiado em um deles e os olhos fechados em um sono profundo. Seus livros e cadernos estavam espalhados por todo o lado e ela parecia realmente cansada.
Quase não a vi desde que voltou a vida acadêmica. Os nossos horários não batiam, e para falar a verdade, eu não me esforçava para encontrá-la.
Mesmo que não quisesse admitir, desde aquele maldito sonho, eu venho me perguntando como seria beijá-la de verdade.
Me pego admirando seus traços.
Mesmo adormecida naquela posição desconfortável, com os lábios levemente entreabertos, e olheiras fundas, ela é bonita.
Nunca neguei a beleza de S\N. Precisaria ser cego para tal ato.
— S\N? — Chamo baixo. Ela franze as sobrancelhas, mas segue dormindo.
Deve realmente estar exausta.
Com cuidado, pego seu corpo no colo.
A garota deita a cabeça em meu ombro, respira pesado e abre um sorriso quase mínimo. Carrego minha esposa até seu quarto, a coloco de forma confortável na cama e pego uma das cobertas dobradas no armário para cobrí-la.
A olho mais um momento antes de sair, fechando a porta atrás de mim.
Deixo seus livros e cadernos exatamente onde estão, temendo guardá-los em algum lugar errado e estragando sua linha de raciocínio durante os estudos.
Vou para a cozinha, sentindo meu estômago reclamar.
Grudado no microondas há um bilhete, um post-it igual aos que estavam grudados nos livros de S\N.
“Seu jantar está pronto! Aqueça por dois minutos e depois descanse! Está trabalhando demais ;)”
Eu sorrio, guardando o papelzinho em meu bolso e apertando os botões de tempo do eletrodoméstico.
Mesmo com a rotina cansativa de estudos, S\N ainda se preocupava com a minha alimentação.
O que me deixa ainda mais culpado.
Ela merece mais do que um casamento por conveniência.
É uma mulher incrível e uma ótima amiga.
Merece alguém que a ame e cuide dela.
Eu não sou esse homem. E saber que ela estará presa a mim pelos próximos três anos de contrato me deixa cada vez mais culpado.
Depois de comer a comida deliciosa, tomo um banho e vou para meu quarto.
Desejando sonhar com minha Helena antes de dormir.
Fazia muito tempo que ela já não povoava mais os meus pensamentos.
Acordo ao ouvir barulho vindo da cozinha.
Saio da cama, desço as escadas e sinto meu corpo travar ao ver S\N. Ela está de costas, colocando água no filtro de café. Veste apenas uma camisa grande como pijama, seus cabelos presos em um coque desajeitado.
Eu já a vi assim antes.
Mas nunca teve tanto efeito em mim.
Ela parece notar minha presença, vira o rosto e me oferece um sorriso.
— Bom dia, H.
Eu respiro fundo, sem conseguir entender o que está acontecendo comigo.
Minha pele inteira está arrepiada, um calor insuportável me deixa inquieto.
Em passos largos atravesso a cozinha, sem conseguir mais segurar essa vontade.
Seguro sua cintura com as minhas mãos. S\N arregala os olhos, mas não me afasta.
Encaro seus lábios avermelhados, sentindo a minha própria boca formigar.
Curvo o pescoço, fecho os olhos e solto um suspiro quando sinto o contato de seus lábios nos meus.
S\N solta um gemido baixo, suas mãos tocam o meu peito e eu aprofundo ainda mais o contato.
Passo um dos braços por baixo do seu corpo, erguendo-a e colocando-a sobre a bancada.
Desço minha boca, marcando sua pele cheirosa.
Ela geme baixinho, joga a cabeça para trás.
Enlouquecido.
É assim que eu me sinto.
Completamente entorpecido por essa mulher.
Infiltro as mãos por baixo da camisa enorme, apertando suas coxas entre os meus dedos.
Meu corpo inteiro pede por ela, implora por ela.
— H… — Ela geme, e me enlouquece ainda mais.
— Eu quero tanto você. — Sussurro aquela verdade. S\N sorri para mim, com os lábios inchados pelos nossos beijos.
— Eu sou sua. — Ela sussurra.
Sua mão acaricia meu pau por cima da calça de moletom, me fazendo gemer.
Porra, eu preciso dessa mulher. Agora.
Puxo minha camiseta para fora, e como se estivesse tão ansiosa por esse momento como eu, S\N empurra minha calça para baixo, junto da cueca.
Eu suspiro, hipnotizado quando ela puxa a barra da própria camiseta para fora.
Enrolo o braço em sua cintura, puxado-a mais para a beirada da bancada. Ataco sua boca gostosa, arrasto a calcinha fina para o lado e encaixo meu pau em sua entrada quente e úmida.
Ela solta um gemido alto contra meus lábios quando embalo o corpo para a frente.
A sensação é indescritível.
Eu gemo, aperto sua pele em minhas mãos e começo a me mover cada vez mais rápido.
S\N geme o meu nome, joga a cabeça para trás e segura meus ombros.
Subo uma das mãos, apertado um dos seus seios.
Ela geme mais, aperta as pernas em volta da minha cintura e eu tenho certeza de que estou perto de gozar.
Sua boceta quente me aperta, e eu meto com ainda mais força.
O barulho do choque dos nossos corpos preenche a cozinha.
Minha pele se arrepia, a sensação do orgasmo próximo me enlouquece e eu grudo sua boca na minha mais uma vez.
Perto. Muito perto.
Me sento na cama.
Assustado.
Respirando de forma desregulada.
Totalmente suado.
Olho ao redor do meu quarto vazio, tentando entender o que está acontecendo.
Ergo a coberta, encarando a minha cueca completamente suja e o meu pau ainda endurecido como pedra.
Não. Não. Não. Não.
Isso não pode estar acontecendo.
Eu tive a porra de um sonho erótico com S\N?
Ainda assustado e me sentindo um completo maníaco, saio da cama.
Entro embaixo do chuveiro gelado, fechando meus olhos com forço e fazendo o meu melhor para esquecer esse maldito sonho.
Já estou atrasado para chegar no escritório quando finalmente a água fria consegue acabar com a minha ereção.
Me visto com um terno e desço as escadas. Decido pegar uma fruta para comer no caminho e meu corpo trava na porta da cozinha.
S\N está na frente da bancada, fazendo café. Vestida exatamente como o meu sonho.
— Bom dia, H. — Sorri.
Meu coração dá um salto.
E a minha calça fica mais apertada de repente.
Eu me viro, praticamente fugindo daquela casa.
— Bom dia, H. — Brad fala assim que eu saio do elevador. — Bom dia. — Falo rápido, passando pela sua mesa como um foguete e entrando na minha sala.
Me sinto um adolescente na puberdade, não um homem de 30 anos de idade.
Sento na minha mesa, esfrego as mãos no rosto e tento afastar aqueles pensamentos de mim.
Duas batidas na porta me fazem suspirar e eu mando que Brad entre.
— Tudo bem? — Ele pergunta com uma sobrancelha erguida. Eu assinto com a cabeça, sem encará-lo, até ouvir a risadinha que o mais novo soltou. — Sonhou com ela de novo, não foi? — Debocha.
— Brad…
— Qual é, H. Não tem nada de errado em desejar a sua esposa. — Ele senta na cadeira do outro lado da mesa, cruzando as pernas.
— Eu não desejo ela! — Minto. — Helena é a minha esposa. A única mulher que eu vou desejar nessa vida.
— Você é um cabeça dura. — Ele suspira. — Já pensou sobre a terapia?
— De novo isso?
— Sim, de novo. Eu estou preocupado com você, Harry.
— Está tudo bem comigo. — Argumento.
— Não, não está. — Ele nega com a cabeça. — Por favor, pelo menos tente. Se não gostar da experiência, não vou mais insistir.
— Me dá a sua palavra?
— Sabe que sim.
— Marque a maldita sessão. — Resmungo.
Brad abre um sorriso grande e sai da minha sala.
Durante o resto do dia me pego perdido em pensamentos, sem conseguir me concentrar em mais nada.
Minha mente fica passando e repassando as cenas em meu sonhos.
Eu me sinto um lixo.
S\N nunca me deu entrada alguma. Ter esse tipo de sonho com ela é algo nojento. E eu me sinto sujo.
Além de me sentir a porra de um traidor, desejando outra mulher que não a minha Helena.
Passo a fugir ainda mais de S\N.
Saindo mais cedo e voltando ainda mais tarde.
Sem encontrá-la por alguns dias.
Nosso contato é basicamente algumas mensagens e nada mais.
O que em nada acalma a porra da confusão que se forma em mim.
Além de seguir tendo sonhos cada vez mais sujos com ela, eu me pego sentindo sua falta.
Sentindo falta dos nossos cafés da manhã tranquilos, dos jantares divertidos e principalmente da companhia dela.
Dois meses depois…
— Como está hoje, Harry? — Kwan, meu terapeuta, pergunta.
Eu acabei gostando da experiência depois da primeira sessão. Ter alguém, que não me julgava, para desabafar era bom.
Por quase várias horas contei a ele toda a minha história. Como minha infância foi solitária e meus pais trabalhavam demais para prestar atenção em mim e no meu irmão mais velho. Como a adolescência foi ainda pior e eu não passava de um garoto confuso e carente de atenção. Como eu conheci, me apaixonei e perdi Helena.
E então, como S\N entrou na minha vida.
Nos primeiros dias, me senti receoso de contar a ele sobre o contrato. Não era exatamente uma coisa legal.
Mas, depois de algumas sessões, me senti mais confortável para dizer.
Para a minha surpresa, essa prática ainda era comum entre as famílias ricas da Coreia. Algo horrível, na minha opinião.
Com certeza, não eram todos que tinham a sorte de encontrar alguém tão incrível e compreensiva quanto a minha esposa.
Contei também sobre os sonhos.
Kwan, dividia a mesma opinião de Brad. Acreditava que eu estava me apaixonando por S\N.
Mas, eu segui negando.
— Estou bem. — Respondo abrindo um sorriso.
— E então, algum avanço essa semana? — Ele pergunta, cruzando as pernas e ajeitando a posição em sua poltrona.
— O mesmo de sempre. — Dou de ombros.
Kwan se refere ao fato de eu continuar fugindo de S\N dentro da nossa casa.
Por mais que agora eu a veja mais do que no inicio da minha fuga idiota, ainda faço o meu melhor para não acabar trombando com a garota pelas manhãs, quando ela está com pijamas curtos. Ou à noite, quando está linda.
Minha fuga não é tão difícil, já que S\N está se dedicando à faculdade, quase não tendo tempo algum.
Nos últimos dois meses, jantamos juntos apenas duas vezes, ambas em restaurantes, com os meus pais.
Fora isso, combinamos quem faria o jantar e deixaria o suficiente para o outro.
— Ainda sente que está traindo Helena? — Kwan pergunta. Ele fez esse mesmo questionamento há algumas semanas, e a resposta foi positiva.
— Não. — O terapeuta sorri.
— Como chegou a esta conclusão?
— Eu fui ao cemitério. Conversei com Helena. — Cocei meu queixo. — Foi uma conversa difícil.
Deixei as flores no pequeno vaso de plantas, juntei as mãos e fechei os olhos. Fiz uma prece breve antes de suspirar e finalmente encarar a foto de Helena na lápide.
Não tive coragem de voltar aqui desde o dia em que minha Helena começou seu descanso.
Na foto ela sorri, radiante. Antes do câncer que a deixou tão debilitada.
— Faz muito tempo, não é? — Sussurro. Eu suspiro, sabendo que não haverá uma resposta, mas, esperando que de alguma forma, ela me ouça de onde esteja. — Desculpe demorar tanto, meu amor. Eu realmente fiquei perdido sem você, sabia? — Fungo. O meu rosto já está banhado por lágrimas, meu peito pesado pela quantidade de coisas não ditas todos esses anos. — Eu sinto tanto a sua falta, minha Helena. — Tombo a cabeça para a frente, tocando sua foto com a minha testa e liberando todo aquele choro dolorido que guardei. — Eu me casei de novo, sabia? — Soluço. — Era para ser só um contrato. Mas… — Engulo meu choro, encarando o teto. — Mas ela é tão incrível. Você teria adorado a S\N. — Sorrio triste. — Ela é inteligente, é gentil, tem o maior coração que eu já vi. Ela não se importa com o meu coração machucado, me dá espaço para me curar… — Seco o meu rosto. — E eu tentei tanto evitar isso… queria tanto evitar me apaixonar por ela… mas eu não consegui, amor. — Choro. — Eu não consegui.
Fecho os meus olhos, meu choro é alto, sacode o meu corpo inteiro.
Ao mesmo tempo, é libertador.
— Eu sei que você não gostaria de me ver triste… foi o que você disse antes de partir, não foi? Que seria o meu anjo. — Seco um pouco meu rosto com a manga da camisa. — Eu nem sei se ela sente algo por mim. — Rio sem muito humor. — Eu tenho agido como um idiota com ela. Quando nos conhecemos, foi você quem me conquistou. Dessa vez, vou tentar ganhar o coração dela. Me ajude, sim? — Fungo. — Me ajude a ser feliz, por favor. — Respiro fundo. — Sempre vou amar você, Helena. Mas, acho que o meu coração pertence à S\N agora.
— Isso é ótimo, Harry. — Kwan fala, enquanto me oferece uma caixa de lenços, que eu aceito. — Então, acha que está apaixonado por S\N?
— Acho que sim. — Admito em voz alta pela primeira vez.
— E qual o seu próximo passo?
— Conquistá-la. — Afirmo.
Caminho em círculos pela sala de estar.
Cheguei antes do horário antes, preparei um jantar gostoso e esperava poder jantar com S\N.
Mas, já eram quase duas da manhã e nada da minha esposa chegar.
Já havia ligado, mandado dezenas de mensagens. Nada. Nem uma resposta.
Será que ela está com alguém?
Quando tivemos a primeira conversa do contrato, eu não me opus que ela tivesse relacionamentos amorosos, desde que discretos.
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E agora, estava me remoendo com as minhas próprias palavras.
O som da fechadura chama a minha atenção e eu dou passos largos até a porta.
S\N está com um braço apoiado nos ombros de um cara que eu nunca vi.
— O que aconteceu? — Pergunto preocupado, me aproximado para tirá-la dos braços dele.
— Nós saímos para beber, comemorar o final das provas. Mas, S\N acabou exagerando. — O homem diz, de forma culpada.
— Certo, obrigado por trazê-la. Eu posso cuidar disso agora.
Não quero ser ignorante com o garoto. Mas ainda me sinto incomodado em saber que S\N esteve perto dele estando tão alterada.
O desconhecido faz uma reverência, saindo pelo corredor e eu fecho a porta.
S\N abre os olhos de leve, suas bochechas estão muito vermelhas. Um sorriso preguiçoso se forma em sua boca.
— Oi, H. Você está em casa. — Fala toda embolada, segurando o meu rosto dos dois lados.
— Por quê bebeu tanto? — Reclamo, me abaixando para passar um braço por baixo de seus joelhos, pegando-a no colo.
— Estava comemorando. — Ela passa os braços em meus ombros e começa a balançar os pés enquanto eu a carrego até seu quarto. — Por quê chegou cedo? — Largo seu corpo sobre a cama e ela tomba a cabeça para o lado, me encarando com os olhos pesados.
— Queria jantar com você. — Bufo.
— Jantar comigo? — Ela ergue as sobrancelhas. — Você não janta em casa há uns dois meses. — Ela diz, fazendo um beicinho triste.
Eu quero rir.
Nunca havia visto S\N tão bêbada. E por mais que estivesse bravo pelo perigo que ela correu, precisava admitir que estava uma gracinha.
— Eu sei. — Suspiro e me ajoelho à sua frente, começando a desamarrar o cadarço dos seus tênis. — Você me desculpa?
— Eu sempre desculpo você. — Ela revira os olhos, me deixando levemente confuso. Tiro seus tênis e as meias, colocando no chão ao lado da cama.
— Acha que consegue tomar um banho?
— Não quero tomar banho, quero dormir. — Reclama, parecendo uma criança birrenta.
— Vamos pelo menos tirar a maquiagem, hum? — Ofereço e ela afirma com a cabeça. Pego em sua mesa um pacote de lencinhos umedecidos e me sento ao seu lado na cama.
S\N fecha os olhos quando eu começo a passar o lenço com a maior delicadeza em sua pele.
Meu coração acelera quando passo sobre seus lábios, sentindo minha boca secar por um momento.
Ela abre os olhos lentamente, encara o meu rosto e suspira.
— Haz?
— Sim?
Os olhinhos pequenos pela bebedeira fitam o meu rosto com atenção, ela solta um suspiro longo e um beicinho se forma em sua boca quando lágrimas grossas começam a se formar. Exatamente como uma criança pequena.
Mas S/N não é uma criança.
E eu definitivamente não sei lidar com uma mulher bêbada e chorona.
— Ei, o que aconteceu? — Pergunto, usando meus polegares para afastar as lágrimas quentes que começam a escorrer.
— Você pode — Soluça. — Me devolver?
— Devolver o quê? — Digo ainda mais confuso. Não me lembro de ter pego nada que seja de S/N.
— Ou pelo menos cuidar. — Ela continua, ignorando totalmente a minha confusão. — Eu sei que você não quer, então… — Ela suspira e olha para cima, tentando evitar o choro. — Então, devolve. — Me olha séria.
— Eu não sei do que está falando, S/N. — Falo baixo, afastando mais lágrimas, o que só dá mais espaço para as novas que deslizam em sua pele.
— Do meu coração. — Ela soluça. Eu arregalo os olhos. — Eu não quero mais amar você, Harry. Por favor, me devolve ele. — Ela joga a cabeça para a frente, seus ombros balançam com o choro e eu me desespero.
— S/N… — Eu chamo, mas seu choro se torna mais alto. Mais sentido.
Eu não vejo seu rosto, mas posso ver as lágrimas pingando em seu colo.
O meu coração dói.
Engulo o nó que se formou em minha garganta e ergo seu rosto pelo queixo.
— Você me ama? — Sussurro. Ela balança a cabeça positivamente. — Por quê não me disse antes? — Com dois dedos afasto os fios insistentes do seu cabelo para trás da orelha, depois tento, mais uma vez, afastar as suas lágrimas.
— Porque eu sei que você não me ama, Harry. — Lamenta. O meu coração aperta no peito e eu abro a boca para falar, mas uma das mãos pequenas me pega de surpresa, esmagando os meus lábios. — Você não sabe quantas vezes eu já quis ser a sua S/N. — Eu pisco algumas vezes. As duas palavras me atingem como socos. — Helena foi tão sortuda em ser sua. — Ela sussurra.
Com cuidado, eu seguro a mão que está sobre a minha boca, tirando-a. S/N baixa a cabeça mais uma vez, mas eu não permito.
Me aproximo mais na cama, me sentindo o ser mais desprezível que existe.
Esse tempo todo, enquanto eu fugia dos meus próprios sentimentos. Não pensei nos dela. Não pensei que poderia estar machucando o seu coração.
Seguro uma das suas bochechas, fazendo com que ela me olhe.
Nossos olhos se encontram e o meu coração acelera em uma velocidade preocupante.
Ela está bêbada.
Está sensível.
E eu sou um idiota por pensar em beijá-la nessa situação.
Como um ímã, eu me aproximo, fecho os olhos e toco meu nariz com o seu. Espero que ela me empurre, me xingue. Mas isso não acontece.
S/N ergue o queixo, deixando um selar leve e salgado pelas lágrimas. E então se afasta, colocando os dedos na minha boca mais uma vez.
— S/N. — Ela diz, e eu ergo uma sobrancelha. — Não me chame pelo nome dela mais uma vez, Harry.
Eu engasgo.
S/N abre um sorriso triste e puxa as pernas para cima da cama, se deita de costas para mim.
— Pode sair do meu quarto, por favor? — Murmura baixinho.
— Nós precisamos conversar. — É tudo que eu consigo dizer.
— Não agora.
Eu respeito a decisão dela.
Além de estar atordoado demais para lidar com os meus próprios sentimentos.
A minha boca arde pelo contato mínimo, meu coração segue batendo forte e eu sinto meu corpo pesado.
Ignoro todo o jantar que preparei e vou diretamente para o meu quarto, me deitando na cama e encarando o teto branco.
S/N me ajuda a chegar até a cama. Minha visão está turva por toda a bebida.
Eu inalo o cheiro do cabelo dela e fecho os olhos.
É gostoso.
Ela me ajuda com a gravata e com o paletó.
Suas bochechas estão vermelhas pelo esforço, e provavelmente pela irritação. Mas, mesmo assim, me trata com carinho.
Ela é uma gracinha.
— Feliz aniversário, querida. — Eu digo, olhando para os olhos tão bonitos da minha esposa.
— Obrigado, H. — S/N sorri.
Eu gosto do sorriso dela. Gosto muito.
Puxo sua nuca, fazendo algo que apenas a bebida me dá coragem o suficiente de fazer. E beijo ela.
S/N parece surpresa, mas retribui.
Seu gosto é doce, o beijo é calmo e delicioso. E eu me perco nessa sensação.
Nos separamos com sorrisos.
Meu coração acelera, o álcool corre ainda mais solto, faz ainda mais efeito.
As borboletas que eu pensei que nunca mais apareceriam, voam pela minha barriga.
A sensação de estar apaixonado.
Que eu achei que nunca mais sentiria.
Uma pontinha de culpa me atinge. Eu não deveria fazer isso. Eu sou casado. Eu amo a…
— Minha Helena.
O sorriso de S/N se fecha. Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, o sono me atinge e eu caio na cama.
Sonhando com ela.
Com a minha S/N.
Abro meus olhos, sentindo meu corpo inteiro suado e meu coração batendo em uma velocidade descomunal.
Não foi um sonho.
Meu beijo com S\N foi real. E eu fiz a maior das besteiras, chamando-a pelo nome de outra mulher.
Olha para o relógio na mesa de cabeceira, quase nove da manhã.
Será que ela já levantou?
Saio do quarto, notando que a porta do quarto de S\N está entreaberta. Bato, mas não obtenho resposta. Empurro a porta de leve, ouvindo o barulho de seu chuveiro.
Decido fazer o café da manhã.
Precisamos urgentemente conversar, colocar todas as cartas na mesa pela primeira vez esses dois anos de casamento. Mas eu sei que, se ela lembrar o que aconteceu na noite passada, não vai querer dizer nada. Além disso, ela precisa se alimentar e hidratar depois de beber tanto.
Assim como ela fez comigo, preparo uma sopa de algas. Faço também um chá, um café e deixo sobre a mesa um comprimido caso ela esteja com dor de cabeça.
Poucos minutos depois, quando eu já estou terminando a minha xícara de café, S\N aparece na porta da cozinha. Veste um conjunto confortável de moletom lilás e seus cabelos estão úmidos.
— Bom dia. — Eu digo. Ela me olha por menos do que um segundo antes de baixar a cabeça e murmurar uma resposta para o meu cumprimento. — Fiz sopa de algas e chá pra você. — Aviso, já servindo a sopa na tigela. Largo a comida acompanhada de uma colher sobre a mesa.
— Obrigado. — Ela diz baixo.
— Está com dor?
— Só um pouquinho. — Diz, tomando a primeira colher da sopa. Em nenhum momento ela me olha. Seus olhos permanecem baixos, assim como o seu tom de voz. E isso me dá a certeza de que ela lembra sobre tudo na noite passada.
— Precisamos conversar, não acha?
— Não podemos esquecer? — Ela resmunga. — Eu estava bêbada e…
— Você disse que me ama. — Corto sua desculpa, já sentindo meu coração acelerar com a ansiedade. — É verdade?
— Harry… — Ela suspira.
Eu acabo dando ouvidos à minha mente ansiosa. Largo minha xícara de café na pia e caminho até a mesa. Seguro o rosto de S\N, que finalmente me olha. Seus olhos estão arregalados e ela engole em seco.
— É verdade? — Pergunto de novo.
— Harry, por favor. — Lágrimas se juntam nos cantinhos dos seus olhos.
— Me diga. — Eu peço. — Você me ama, S\N?
Ela suspira, passa a pontinha da língua pelos lábios e assente.
Um sorriso involuntário se forma em meus lábios e eu curvo o pescoço, tocando sua boca com a minha.
Ouço seu suspiro surpreso e espero mais um pouco, deixando apenas selinhos leves antes de aprofundar o beijo.
Empurro a língua com calma, sendo recebido de forma tímida. S\N coloca as mãos em meus ombros, mas não me empurra. Seus lábios macios e quentes acariciam os meus com delicadeza.
Passo um dos braços em sua cintura, fazendo com que ela se erga do banco e sente sobre a mesa. Aperto meu corpo contra o seu, e o beijo já não é mais tão calmo e delicado assim.
É mais afoito, mas desesperado. Minhas mãos passeiam por suas costas até chegar em sua nuca.
Separo nossos lábios quando a necessidade de respirar se torna mais forte.
Com a respiração desregulada, abro meus olhos para vê-la.
S\N está tão abalada quanto eu, seus lábios inchados e os olhos cheios de incertezas.
— Me desculpa. — Começo a dizer. — Eu não queria ter machucando você, S\N. — Me mantenho perto dela, ainda abraçando seu corpo e segurando sua nuca. — Eu deveria ter sido mais cauteloso com os seus sentimentos.
— Eu não estou entendendo. — Ela murmura baixinho.
— Eu lembro do nosso beijo no seu aniversário. — Ela arregala os olhos de leve. — Eu achei que tinha sido um sonho. — Suspiro. — Você não falou nada e eu me convenci que não havia acontecido de verdade. Mas só ontem eu percebi que foi verdade e que eu fui um idiota. — Ela me olha com atenção. — Eu não chamei você pelo nome de Helena. Enchi a cara aquela noite por me sentir culpado por não conseguir parar de pensar em você. — Admito.
— O quê?
— Eu me sentia culpado por começar a me apaixonar por você. — Suspiro. — Por isso eu praticamente fugi nessas últimas semanas. Eu queria me convencer de que não estava me apaixonando, mesmo que Brad e o meu terapeuta digam o contrário.
— Terapeuta? — Ergue uma sobrancelha.
— Temos muita coisa para conversar ainda. — Eu rio. — Mas o importante agora é: não vou devolver. — S\N franze as sobrancelhas. — O seu coração é meu, não vou devolver.
As bochechas de S\N ficam vermelhas, ela abaixa a cabeça, escondendo o rosto em meu peito. Não consigo evitar a risada, fazendo um carinho leve em seus cabelos.
— Eu estava bêbada, não pode usar minhas palavras contra mim. — Ela reclama, erguendo o rosto para me olhar, fazendo um beicinho com os lábios. Eu deixo um beijo ali, fazendo-a sorrir. — Está mesmo apaixonado por mim?
— Totalmente. — Admito, apertando ela mais contra mim.
— Acho que ainda estou sonhando. — Ela suspira, passando os braços em minha cintura, me abraçando de volta. Eu curvo o pescoço, mordendo sua bochecha de leve. — Ai!
— Viu? Tá bem acordada, Senhora Styles. — Ela fica ainda mais vermelha, me fazendo rir. — Agora, tome o seu café da manhã. — Beijo sua bochecha.
S\N
— O que acha de irmos embora? — Harry sussurra em meu ouvido. Seu braço está apoiado em minha cintura e já deve ser pelo menos a quinta vez que ele sugere de ir embora desde que chegamos à festa de aniversário de um dos maiores investidores da empresa.
— Querido, chegamos há uma hora. — Relembro.
— Eu sei. — Resmunga, ficando de frente agora, e segurando minha cintura com as duas mãos. — É pedir demais uma noite tranquila ao lado da minha esposa? Sem precisar ficar dando sorrisos falsos para um monte de gente chata?
Harry é um bebê de 1,80. Aprendi isso no decorrer das últimas semanas, desde que o nosso casamento passou a ser verdadeiro.
Bom, em algumas partes.
Decidimos ir com calma, mesmo com o casamento, achamos melhor nos conhecermos e passar por todas as etapas que um casal normal passa.
— Por favor. — Ele pede, fazendo um biquinho enorme com os lábios. Eu rio, deixo um selinho em seus lábios e me rendo, assentindo.
Ele sorri, satisfeito e praticamente me arrasta até onde o aniversariante está, para nos despedirmos.
Assim que chegamos em casa, seus braços rodeiam a minha cintura, seu corpo se encaixa ao meu por trás e ele distribui beijos leves em meu pescoço.
— Cheirosa. — Elogia baixinho em meu ouvido, me arrepiando inteira.
Mesmo com o avanço do nosso relacionamento, Harry e eu nunca passamos dos beijos. Sempre que a coisa esquentava um pouco mais, ele dava para trás.
Eu não o pressionava, mesmo que precisasse tomar uma série de banhos frios e me satisfazer sozinha. Sabia que era um passo muito grande e queria que ele estivesse pronto para ser totalmente meu.
— O que acha de assistirmos um filme, hum? — Sugiro.
— Pode ser. — Ele concorda.
— Vou tomar um banho então. — Me viro, deixando um selinho demorado em seus lábios antes de subir para o corredor de quartos.
Ainda dormíamos separados, mesmo que de vez em quando, acabassemos adormecendo abraçados no sofá da sala.
Tirei a maquiagem e desfiz o penteado simples que havia feito para o evento.
Tentei tirar o vestido, mas não conseguia alcançar direito o zíper. Chamei por Harry, mas ele não respondeu.
Bati na porta do seu quarto, entrando em seguida. Um hábito que nós dois havíamos adquirido com a intimidade crescente.
Porém, me arrependi no segundo em que o meu marido saiu da porta do banheiro, vestido apenas uma toalha enrolada na cintura e com gotas de água do banho recente escorrendo pelo peito largo.
— Desculpa! — Falei virando de costas. Ouvi ele dar uma risadinha.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não alcanço o zíper do vestido. — Tento manter minha voz firme, ignorando o calor que começava a sentir. — Você pode me ajudar?
— Claro.
Senti uma das mãos de Harry tocar minhas costas por cima do vestido, e logo o tecido ficou frouxo. Segurei em meu peito, para que ele não caísse completamente e me deixasse praticamente nua, já que estava sem sutiã. Murmurei um “obrigado” apressado e já iria sair do quarto, porém suas duas mãos seguraram minha cintura.
Harry afastou meu cabelo, apoiando todo em um dos ombros e deixou um beijo molhado em minha nuca. Um suspiro escapa dos meus lábios e eu tenho certeza de que ele nota minha pele inteira arrepiar.
— Eu já disse o quanto está linda hoje, querida? — Murmura, com a voz rouca. Fecho os meus olhos, sentindo minha boceta pulsar dentro da calcinha já encharcada.
— Algumas vezes. — Relembro.
— Acho que deveria dizer de novo. — Harry me vira. Ainda segurando o vestido, ergo os olhos até os seus. — Você está realmente linda, S/N. — Sussurra, me puxando para beijar os meus lábios.
Me entrego ao beijo, soltando suspiros baixos. Escuto quando Harry empurra a porta para que ela feche e em seguida começa a caminhar com passos cuidadosos enquanto empurra meu corpo em direção da cama.
Harry separa os nossos lábios, me encarando com os olhos cheios de um desejo velado. Seu peito sobe e desce rápido, e suas mãos encontram as minhas, em um pedido silencioso de permissão. Em resposta, liberto o vestido, que acumula em minha cintura.
Harry respira fundo, seus olhos passeiam pelos meus ombros e colo. Mais uma vez ele me olha.
— Você pode fazer o que quiser. — Sussurro. Ele morde o lábio inferior e assente.
Suas mãos tocam os meus ombros, até que eu chegue ao colchão e me deite. Então, puxa o vestido pelas minhas pernas, jogando-o no chão.
Meu coração bate acelerado. Depois de longos anos amando aquele homem em silêncio, estou apenas de calcinha na sua cama.
Seus dedos gelados começam a subir pelas minhas pernas, como se ele usasse o tato para mapear meu corpo. Vai engatinhando lentamente pela cama, até estar em cima de mim.
Harry me beija, lento e sensual. Sua língua passeia, acaricia a minha e me arranca suspiros longos.
Depois, seus lábios começam a descer. Passam pelo meu maxilar, pescoço e colo, até chegar em meus seios.
— Você é tão linda. — Sussurra. Segurando minha cintura com as mãos e beijando a minha pele. A boca quente suga um dos meus mamilos e eu gemo baixo.
Meu corpo está sensível, e toda a vontade que eu tenho dele se torna ainda mais desesperada.
Harry dá atenção aos meus dois seios com as mãos e a boca antes de voltar a explorar o restante do meu corpo. Seus lábios deixam marcas invisíveis por toda a parte.
Ele beija minha barriga e desce ainda mais. Com os olhos nos meus, puxa com delicadeza a calcinha azul clarinho para fora do meu corpo.
Ouço quando ele murmura um palavrão antes de voltar a beijar minha pele.
Seus lábios passeiam pelas minhas coxas, descendo até a minha intimidade.
Harry me saboreia com calma. Ele lambe e chupa com delicadeza. Ele faz pressão em meu clítóris, depois desce até a minha entrada e eu tenho certeza de que estou pronta para explodir.
Aperto o lençol entre os dedos, chamo o nome dele e me perco nas milhões de sensações.
Harry espera até que o meu corpo pare de tremer para subir seus beijos. Sua boca ataca a minha com vontade. O meu gosto em sua língua me faz revirar os olhos. Seguro seus ombros, tentando manter meu controle.
Mas de nada serve quando ele separa o beijo. Seus olhos estão presos aos meus quando Harry leva a mão até o nó de sua toalha, arrancando-a do próprio corpo de uma vez e jogando para o chão.
Aperto os lábios e sinto minha boceta escorrer ao ter a visão de seu pau pela primeira vez.
Nenhum de nós parece estar disposto a esperar.
Ele se ajeita entre as minhas pernas, lubrificando o próprio membro em mim enquanto se esfrega entre meus lábios inferiores.
Ele se encaixa, encarando os meus olhos.
— Você tem certeza? — Sussurro. Mesmo que eu queira, e muito, quero a certeza de Harry.
Como resposta, o meu marido ergue uma mão, entrelaçando os nossos dedos antes de me preencher.
— Porra… — Ele geme, respirando fora do ritmo.
Ele fica parado dentro de mim por um momento. Os nossos olhos se encontram e de automático, nós dois sorrimos.
Finalmente.
Um do outro.
Harry se move. Saindo e entrando em um ritmo lento e gostoso. Suas mão aperta a minha e ele volta a me beijar.
Meu coração bate forte, o meu corpo inteiro treme e não consigo segurar o impulso de me empurrar mais contra ele.
O ritmo calmo dá lugar á um muito mais necessitado.
Harry solta a minha mão, as duas vão para as minhas coxas, dando sustentação para estocadas mais profundas.
Eu gemo alto, Harry suspira.
Meus seios balançam com os movimentos, sendo capturados pela sua boca em seguida.
O orgasmo começa a se formar em longas ondas de arrepios. O frenesi também parece estar atingindo Harry. Ele aumenta o ritmo, aperta mais o meu corpo contra o seu e cola sua testa na minha. Gemidos grossos fogem dos seus lábios e eu aperto minhas pernas em volta da sua cintura.
Gozo revirando os meus olhos e chamando alto pelo nome dele. Harry abraça o meu corpo, entrando fundo uma última vez e escondendo o rosto em meu pescoço. Posso sentir as contrações de seu membro a medida que seu gozo escorre entre as minhas pernas.
Alguns segundos depois, ele ergue o rosto, sorri cansando e beija os meus lábios antes de sair de mim e deitar ao meu lado.
Encaro o teto, tentando controlar minha respiração e meu coração acelerado.
Harry me puxa, me fazendo deitar em seu braço. Me viro, ficando de frente para ele e acariciando de leve seu peito suado com a ponta dos dedos.
— Eu te amo. — Deixo um beijo em seu peito antes de deitar.
— Eu também te amo. — Ergo o rosto no mesmo segundo. Harry ainda não havia dito aquelas palavras, mesmo que deixasse claro os seus sentimentos por mim com ações. — Eu te amo, minha S\N.
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QUE SDDS DO MEU CASAL 🥺😍
Fiz esse vídeo há um bom tempo, acho que nos primeiros capítulos, o destinos dos personagens já estavam traçados! Espero que gostem ♥️
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Cah, você podia fazer mais daqueles vídeos especial algum momento do casal?! por favorrrr 🥺🥺
Espero que goste bebê ♥️♥️
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Como não temos momentos novos desse casal😔
Um vídeo de Harry levando S/n para o estúdio com ele.
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Yes Sir! Capítulo 30
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo será todo dedicado a nossa querida Aurora porque ela merece, afinal é o aniversário da nossa protagonista 💗
NotaAutora: Perdão pela demora e Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
AURORA
Acordei com o som insistente do interfone, como se o próprio aparelho estivesse determinado a me lembrar que, mesmo no meu aniversário, eu não teria sossego. Passei a mão no rosto, tentando afastar o sono e o humor de quem só queria hibernar na cama pelo menos até o meio-dia. Levantei, arrastando os pés até o interfone, já pensando em quem teria coragem de interromper meu dia tão cedo.
— Senhorita Aurora, há um entregador aqui — disse o porteiro, sua voz calma, rotineira. — Parece uma entrega especial de uma padaria.
— Eu não pedi nada.
— Ele disse que o pedido já foi pago! Quer que eu o mande subir?
— Ok! Pode deixar. — murmurei, ainda perplexa.
Quando abri a porta e recebi a embalagem nas mãos, meu coração acelerou, era padaria de Boston, Sweet Sunrise Bakery.
Minha padaria favorita.
A embalagem tinha aquele tom pálido de creme com bordas douradas, que sempre pareciam um detalhe caprichado demais para um café da manhã. Mas foi só abrir a tampa para encontrar os itens cuidadosamente dispostos: o croissant de chocolate com amêndoas, pãozinhos frescos e a pequena garrafa de café aromático que eu costumava pedir quando eu ia lá.
Era tudo o que eu gostava.
Sem pensar, peguei o celular e digitei uma mensagem para Gabriel.
"Você me mandou um café da manhã da Sweet Sunrise? Muito obrigado!"
A resposta veio rápida.
"Não fui eu, mas fico feliz! Feliz aniversário! Aproveite."
Senti um frio estranho na barriga, se não era Gabriel, quem era?
"Vocês mandaram café da manhã para mim? "
Mandei para Georgia e a resposta veio logo em seguida.
"Não! Você recebeu algo especial é?"
"Nada de mais, bjs"
Isso era realmente estranho, vasculhei a embalagem a procura de alguma pista, então um bilhete dobrado me aguardava, a caligrafia era pequena e cuidadosa, com as mãos trêmulas, desdobrei o papel.
"Espero que ainda se lembre da promessa. Feliz aniversário, docinho."
"Docinho."
Docinho?!
Apenas uma pessoa no mundo me chamava assim.
Por um instante, quase pude ouvir a voz dele, sussurrando.
Mas não… ele jamais faria isso.
Ele não podia…
Não! Não!
Como ele ousava?
Parte de mim queria jogar tudo fora, fazer a raiva valer alguma coisa, mas a outra parte de mim queria olhar para cada pedaço daquela surpresa, o café, o croissant, os pãezinhos e saborear-los agradecida, eu não sabia dizer se estava mais confusa, irritada ou pior ainda esperançosa.
Porque, no fundo, uma parte de mim talvez, só talvez quisesse que ele cumprisse aquela promessa, mas promessas são só palavras vazias.
Eu fiquei ali, encarando o bilhete e sentindo o estômago apertar de angústia e saudade, tentando decidir se deveria ignorar aquilo ou me deixar sentir, mesmo que por um segundo, fechei os olhos, respirando fundo, o aroma do café trouxe uma pontada cruel de nostalgia, mesmo relutante, dei uma mordida pequena quase automática no croissant, mas o sabor trazia mais do que eu estava disposta a sentir, lembrei de todas as manhãs em que Harry sorria para mim, assim que eu acordava dizendo que passou na minha padaria favorita perto da casa dele, então aquele cheirinho delicioso de croissant surgia, enquanto o me olhava daquele jeito, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo, ele sempre sabia como me deixar feliz, de algum jeito ele também sabia como me fazer sentir segura.
Uma lágrima escapou antes que eu pudesse conter. Passei a mão rapidamente pelo rosto, tentando afastar esse momento de fraqueza. Eu não podia me deixar levar, não agora. Olhei para a comida à minha frente, respirei fundo, e antes que mudasse de ideia, joguei tudo no lixo.
Eu precisava focar em mim, no meu aniversário, eu tinha que dar um jeito no meu apartamento, ele estava infestado com coisas de bebês, caixas, sacolas, pilhas de roupas espalhadas. Meu peito se apertou ao olhar para aquilo tudo, era difícil admitir que me peguei sorrindo algumas vezes ao pegar aquelas roupinhas tão pequenas e me imaginar cuidando de uma vida que, querendo ou não, estava crescendo dentro de mim. Fui pegando as coisas aos poucos, empilhando tudo nos braços levando até o quarto de hóspedes, jogando as roupas de bebê, o berço, cada pedacinho de esperança que minha mãe havia trazido, eu não queria aceitar que a cada dia esse bebê era mais real, não queria sentir a felicidade de ser mãe.
O som do interfone me trouxe de volta.
— Senhorita Aurora, chegaram alguns presentes para a senhorita. São... são muitos — O porteiro, tinha um tom quase divertido na voz. — Onde quer que eu os deixe?
Presentes?
— Pode mandar subir, deixe na porta, por favor.
Quando abri, uma fileira de caixas, pacotes e balões esperava por mim, envolto em papel colorido, com fitas e laços, em cima de cada caixa, havia um bilhete pequeno.
É sério que ele iria insistir nisso?
Peguei o primeiro bilhete que vi.
"Você merece todas as coisas boas que esse mundo tem a oferecer."
Por que ele tava fazendo isso comigo?
Ele sabia o quanto eu nunca me achei boa o bastante para qualquer coisa.
Meu olhar se fixou no próximo bilhete.
"Você merece tudo o que pensa que não merece, Aurora."
Meu coração batia mais forte, um desejo de rasgar cada pedaço daquele papel.
Eu o odiava por me fazer sentir isso.
Peguei o próximo:
"Sempre levarei você no meu coração, docinho."
E mais outro:
"Seja muito feliz! Eu sempre estarei torcendo por você."
Minhas mãos tremiam.
O último bilhete que consegui ler dizia:
"Obrigado por fazer meu mundo melhor."
Aquele foi o golpe final.
Meus ombros cederam, e as lágrimas desciam incontroláveis, por mais que eu tentasse negar, ele me conhecia melhor do que ninguém, sabia que as palavras quebrariam minhas defesas mesmo com todo o ódio que eu tentava manter. Limpei as lágrimas com pressa, recusando-me a ceder a esse sentimento. Peguei cada caixa, cada balão, empurrei tudo para dentro do quarto de hóspedes junto com as coisas do bebê, tranquei-a, por um instante, fechei os olhos, desejando que nada daquilo fosse real.
...
O vapor preenchia o banheiro enquanto eu me deixava relaxar na água morna. Fechei os olhos e respirei fundo, como se cada gota pudesse lavar o peso do que eu tinha sentido mais cedo, por um instante eu podia simplesmente... não pensar.
Não havia bilhetes.
Não havia saudades.
Apenas eu, a água quente, e o som suave da água caindo.
Saí do banho sentindo-me um pouco mais leve, como se tivesse deixado as emoções da manhã escorrerem pelo ralo.
Escolhi uma legging afinal minhas calças jeans já não me serviam mais, uma blusa longa e um casaco, agradecia de estar começando o inverno assim era muito mais fácil me esconder nas roupas, pentei o cabelo deixando-o solto, passei um toque de maquiagem sutil para cobrir o inchaço ao redor dos olhos, hoje eu queria estar linda para mim mesma, e talvez um pouco para Gabriel também, afinal ele me chamou para um almoço especial de aniversário.
Quando a campainha tocou, abri a porta, e lá estava ele, com aquele sorriso que me fazia esquecer todo o caos, Gabriel vestia um moletom azul marinho e calça jeans. Ele me olhou de cima a baixo e vi seu sorriso se alargar.
— Uau, Aurora, você está linda. — Deixou um rápido selinho em meus lábios.
— Obrigada, vamos?
— Claro.
Tranquei a porta atrás de mim, entrelaçando meu braço no dele enquanto caminhávamos para o carro, eu não sabia ao certo o que Gabriel tinha planejado para o nosso almoço, mas o lugar que Gabriel escolheu era aconchegante e charmoso, um pequeno bistrô com luzes suaves e mesas de madeira, decorado com um estilo simples, mas acolhedor. Não era sofisticado, mas tinha um calor especial, Gabriel abriu a porta para mim, me guiando para uma mesa perto da janela, ele puxou a cadeira para mim, o que me fez sorrir de leve, assim que ele ocupou seu lugar à minha frente, notei seu olhar penetrante, enquanto corria os olhos pelo cardápio.
— Confia em mim? — Ele fechou o menu de repente, me surpreendendo. — Posso escolher para nós dois? Prometo que vai ser bom.
— Tudo bem, eu vou confiar, então.
— Vou fazer valer a confiança, eu prometo.
— Murmurou, antes de chamar o garçom e fazer o pedido, em voz baixa, sem revelar nada a mim.
Pouco depois, o garçom voltou com dois pratos com aromas deliciosos, meu prato era risoto de cogumelos cremoso, perfumado com ervas frescas, parecia delicioso, Gabriel me ofereceu o primeiro pedaço, ele pegou o garfo, trazendo um pedaço da comida até minha boca, hesitei mas aceitei, nossos olhares se cruzaram enquanto ele me servia, por um instante, eu me senti estranha mas não de um jeito ruim era como se ele realmente me achasse especial, que me fez esquecer quem eu era ou o que eu costumava pensar sobre o amor.
— E então?
— Gabi… isso é incrível!
— Fico feliz que tenha gostado, eu pensei que você merecia algo especial. — Ele desviou o olhar por um instante, antes de completar. — Não é nada muito elaborado, mas…
— Mas nada, está perfeito.— Não consegui evitar de sorrir.
Entre conversas e risadas, ele continuava a me oferecer pedaços, eu também oferecia a ele, eu nunca tinha percebido como o simples ato de dividir a comida podia ser tão… íntimo.
— Espero que o casal esteja aproveitando o almoço. — O Garçom que nos atendeu apareceu em nossa mesa.
— Estamos, sim! Obrigado. — Pude ver o rosto corado de Gabriel ao responder.
Quando o garçom se afastou, Gabriel voltou a atenção para mim, com aquele sorriso travesso.
— O que foi? — perguntei, sem conseguir evitar o riso.
— Nada — ele disse, ainda sorrindo. — Só acho engraçado que tenhamos mesmo cara de casal.
— Acho que o fato de ficarmos dando comida na boca um do outro pode ter ter dado essa impressão.— falei, rindo.
— Talvez... Ás vezes… não sei, às vezes penso em você como… você sabe, minha namorada.
Meu coração acelerou, o sorriso desaparecendo aos poucos, aquela confissão, por mais sutil que fosse, despertou uma sensação que eu tentava sufocar.
— Gabi, eu… eu realmente gosto do que temos agora. É simples, está bom assim… não está?
Houve um breve silêncio Gabriel baixou o olhar, a mão deslizando levemente sobre o garfo, como se procurasse as palavras certas.
— Claro… claro, desculpa, não queria te pressionar, só foi um comentário bobo.
— Está tudo bem, de verdade. — Coloquei minha mão sobre a dele, sentindo seu corpo relaxar sob meu toque. — Eu só… preciso de mais um pouco de tempo, entende? Mas quero que você saiba que eu estou curtindo muito estar com você, muito mesmo. — Olhei em seus olhos com toda a sinceridade que podia reunir.
— Aurora, eu espero o tempo que precisar.
Meu almoço de aniversário foi perfeito, embora o medo que se instalou quando ele falou sobre o namoro, mas todo resto estava simplesmente incrível, Gabriel sabia como me fazer sentir especial, assim que chegamos ao meu prédio, a tranquilidade que eu sentia desmoronou.
— Ah, senhorita Aurora! — o porteiro me chamou assim que entrei no saguão. — Chegou mais alguns presentes para a senhorita. Um total de treze, na verdade.
Senti meu estômago se apertar
— Treze presentes? — Gabriel perguntou, claramente intrigado. — Uau!
— Teve mais pela manhã. — O porteiro comentou e eu quis socá-lo por isso.
— Alguém está realmente se esforçando. —Gabriel forçou uma risada.
— É... parece que alguém resolveu exagerar — Suspirei, tentando parecer indiferente.
Com a ajuda de Gabriel e do porteiro, fomos empilhando os presentes em meus braços. Gabriel pegou alguns também, mas pude sentir a curiosidade crescendo nele a cada segundo.
— Aurora, quem... quem enviou tudo isso? — Ele tentou manter o tom casual, logo que entramos no elevador.
— Eu... — Hesitei, tentando encontrar uma resposta que não levantasse mais suspeitas. — Minha família, minha mãe gosta de exagerar nessas coisas de aniversário.
Ele riu, embora a expressão em seu rosto continuasse desconfiada, ao chegar à porta do meu apartamento, ele colocou os últimos presentes no chão e olhou para mim, ainda curioso.
— Bem, sua família realmente sabe como fazer você se sentir especial.
— É, eles são assim. — Menti.
O olhar dele passeou pelos presentes em cima da mesa, percebi que ele tentou pegar um dos bilhetes presos aos pacotes.
Antes que ele pudesse pegar puxei mais perto, pegando o bilhete junto.
Eu sabia que, se deixasse ele ver algum dos bilhetes, tudo ficaria mais complicado, precisava de uma desculpa.
— Então... — disse, virando-me para ele. — Eu preciso me arrumar para o jantar com minha família. Sabe como é.
Gabriel sorriu, ligeiramente desapontado, talvez por sentir que eu estava tentando encerrar o encontro de maneira bruta, mas eu não podia lidar com isso com ele aqui.
— Claro, claro... Não quero atrapalhar. — Ele deu um sorriso um pouco tímido. — A gente se vê depois.
Assenti, sentindo um aperto no peito ao vê-lo assim.
— Com certeza, vou deixar a chave reserva com você, quando chegar, eu quero encontrar uma comemoração digna, hein? — brinquei, tentando aliviar o clima e espantar a tensão do momento assim que dei a chave a ele.
— Pode deixar, vou fazer com que seja o aniversário mais inesquecível de todos.— Ele se inclinou deixando um beijo em meus lábios.
Logo que Gabriel saiu, suspirei, exausta me virei para a pilha de presentes, reuni os pacotes, caminhei até o quarto de hóspedes, nem se quer me dando o trabalho de ler esses bilhetes idiotas desta vez. Fui colocando cada presente novo naquela pilha, um por um, ignorando-os, quando finalmente empurrei a última caixa para dentro, fechei a porta e travei,
então percebi o bilhete que eu tinha tirado da vista de Gabriel, ainda estava entre meus dedos, com um suspiro, passei o polegar sobre o papel, sentindo o papel meio amassado antes de abri-lo.
"1 presente para cada ano que você iluminou o mundo, você continua sendo importante para mim."
Fechei os olhos, tentando controlar a onda de raiva que subia no peito, mas era impossível.
— Importante? Tão importante que ele nem se quer sabe quantos anos estou fazendo! São 24 anos! Porra! Eu estou fazendo 24 anos, seu idiota! — Gritei jogando o pequeno papel longe.
...
Me olhava no espelho dando uma última conferida no meu look de aniversário, escolhi um vestido vermelho de manga longa, justo o suficiente para parecer elegante, mas discreto o bastante para disfarçar a barriga. Adicionei uma meia-calça preta para o frio, botas marrons escuras e um casaco de lã que caia até a altura dos joelhos, brincos dourados e o batom vermelho era a última camada de confiança que coloquei para encarar o jantar.
Georgia surgiu à porta, observando-me com seu sorriso de canto cheio de ironia.
— Você tá pronta, aniversariante? — perguntou, mas seu olhos logo foram para celular ao meu lado. — Quem tá te mandando mensagem? A Lily?
— Não, é... um cara que eu tô saindo. — Dou de ombros, tentando parecer casual. — Lembra do cara da loja de móveis? Então, ele meio que era da minha sala, uma longa história.
— O cara da loja? Olha só! Finalmente você tá saindo com alguém! — Ela sorriu parecia genuinamente feliz. — Quero saber todos os detalhes.
— Eu vou, depois, mas, ó, não vai contando pro papai, tá? Você sabe como ele é.
— Seu segredo está seguro comigo. — Ela balançou a cabeça, concordando.
Minha mãe apareceu à porta, chamando nossa atenção com um sorriso acolhedor.
— Meninas, está na hora. Vamos?
Georgia e eu trocamos um último olhar antes de segui-la.
O restaurante escolhido pelo meu pai era um dos mais renomados da cidade, até meio óbvio, localizado no topo de um prédio com uma vista de tirar o fôlego.
Nós nos acomodamos em uma mesa reservada para a noite, com vista direta para as ruas movimentadas lá embaixo. O garçom apareceu rapidamente, deixando um cardápio luxuoso em nossas mãos. Georgia, ao meu lado, admirava o ambiente, enquanto meu pai, já analisava o cardápio com olhar meticuloso.
Escolhemos pratos dignos de um restaurante Michelin. Para começar, vieiras grelhadas com emulsão de limão siciliano e lâminas de trufas. O aroma era delicado, o sabor impecável, mas o silêncio em nossa mesa era constrangedor.
— Estive conversando com o reitor sobre o seu progresso na faculdade. — Meu pai lançou um olhar para mim. — Ele me disse que suas notas estão subindo novamente, já estava na hora.
Não era um elogio, exatamente, mas também não era uma crítica, então decido aceitar.
— Obrigada.
Por um momento, acho que vi um resquício de orgulho nos olhos dele, mas foi rapidamente substituído por sua expressão usual, rígida.
— Isso é ótimo, Aurora, estou feliz por você estar conseguindo conciliar tudo. — Minha mãe tinha um sorriso caloroso .
— Tenho tido ajuda para estudar… isso tem feito muita diferença.
— O reitor mencionou algo curioso, parece que há rumores sobre um professor da sua universidade envolvido com uma aluna.— Suspirou recostando-se na cadeira com uma expressão pensativa. — Por acaso você está ciente dos boatos?
Por um instante, senti minha espinha congelar.
— Um professor com uma aluna? — Minha mãe, ergueu as sobrancelhas, horrorizada. — Que absurdo! Não consigo imaginar um comportamento mais inadequado.
— Ah, pai, boatos assim surgem o tempo todo... é provável que alguém tenha exagerado só para causar um pouco de drama, sabe como é. — Ri, tentando parecer despreocupada. — As pessoas adoram uma fofoca. — Acrescentei, torcendo para que ele se contentasse com a resposta.
O garçom acabou aparecendo no momento certo, interrompendo a conversa ao anunciar o próximo prato: um filé de wagyu, perfeitamente selado e acompanhado de purê de batatas trufado e vegetais assados em manteiga de ervas.
— Que tal falarmos de outro assunto? — Georgia sugeriu
— Isso! — Concordei.
— Já contou ao pai da criança, sobre sua gravidez? Ou vai preferir que eu interfira?
A comida pareceu ficar ainda mais difícil de engolir.
Meu pai estava realmente determinado a estragar meu jantar.
— Vou contar, pai, eu só preciso de mais tempo. — Tentei manter o controle, mas o peso de suas palavras me deixa desconfortável.
Ele respirou fundo, cruzando os braços sobre a mesa, sem desviar o olhar.
— É bom mesmo que conte logo, porque se acha que vou deixar o sujeito que engravidou a minha filha sair ileso, está muito enganada ou você resolve isso logo ou eu vou ir até onde for necessário para encontrar esse rapaz, se precisar, vou atrás dele até no inferno.
Um silêncio tenso pairou sobre a mesa, enquanto tentava conter a lágrimas.
— Lion, é o aniversário dela, hoje não é o momento para isso, por favor. — Minha mãe colocou a mão encima da dele suplicando.
— Tudo bem. — Cedeu mesmo com o olhar rígido. — Falamos disto depois.
O jantar terminou com direito a um pequeno bolo de chocolate e um parabéns dos funcionários do restaurante e alguns presentes caros demais para apenas uma universitária, depois eles me levam de volta ao apartamento, ao chegarmos à porta, minha mãe segurou minhas mãos.
— Querida, desculpe pelo seu pai, você sabe como ele é.
— Tudo bem. — Menti.
— Nós precisamos voltar ainda hoje, mas prometemos voltar em breve, afinal, logo teremos nosso primeiro netinho. — Sua mão acariciou minha barriga.
— Cuida de você, tá? E qualquer coisa, me liga. — Georgia me abraçou.
— Cuide-se, Aurora. — Meu pai me deu um abraço breve.
Fiquei parada ali, vendo-os ir embora, suspirando aliviada por finalmente ter acabado, entrei no prédio, acenei para o porteiro com um sorriso leve. No elevador, tentei espantar o peso do dia, pelo menos nas próximas horas, teria uma chance de me divertir e me sentir uma universitária comum, como nos velhos tempos. Assim que girei a chave e entrei no apartamento, fui recebida por uma explosão de cores e energia, balões em tons pastel e prateado estavam espalhados pelo chão e presos nas paredes, uma faixa de “Feliz Aniversário” enfeitava a entrada da sala, enquanto serpentinas coloridas desciam do teto, e um arranjo de flores vibrantes ocupava a mesa de centro. As luzes estavam baixas, com algumas lâmpadas decorativas criando um brilho aconchegante e acolhedor.Rostos familiares me esperavam, Gabriel estava no balcão da cozinha, rindo de algo que Josh dizia, enquanto Lily veio correndo ao meu encontro.
— Parabéns! Amiga. —Ela me deu um abraço apertado. — Gostou? — Perguntou, com um brilho no olhar.
— Sim! Ficou tudo tão incrível, eu amei.
— Então, vamos aproveitar. — Me puxou para o meio da sala.
A música começou a tocar mais alto, preenchendo o ambiente com uma batida animada, um cheiro delicioso de pizza se misturava ao perfume doce das flores, no balcão da cozinha estava o tradicional “drink especial” da Lily, com um toque de frutas frescas e guarda-chuvinhas coloridos. Minha casa parecia outra, cheia de vida e energia, era como se cada detalhe tivesse sido pensado para me fazer sentir especial e eu mal conseguia parar de sorrir.
Eu não esperava tanta gente, mas havia algo nessa bagunça animada que me fazia sentir viva. Meu aniversário estava acontecendo ali, naquele momento, eu não queria pensar em nada que pudesse me puxar para baixo. Passei um bom tempo aproveitando a festa. Dancei com meus amigos, ri com eles, comemos e jogamos, eu realmente estava aproveitando e por algumas horas esqueci de todas as coisas que me atormentavam.
— Ei, Aurora. — Senti uma mão pousar suavemente na minha cintura.
Me virei e dei de cara com Gabriel, que estava ainda mais bonito do que eu me lembrava. Talvez fosse o efeito dos hormônios, ou talvez fosse só o fato de eu estar realmente afim dele naquele momento, mas, com aquele sorriso suave e encantador, ele conseguiu desarmar qualquer resistência minha.
— Posso roubar a aniversariante por um tempo? — ele perguntou, antes que eu pudesse protestar, já segurando minha mão com delicadeza.
— Claro eu sou toda sua.
Meu coração acelerou enquanto ele me guiava pela sala, nos afastando do resto da festa até entramos no meu quarto
— Estava te esperando a noite toda, sabia?
— E o que você faria se eu dissesse que eu também estava esperando por isso? — Respondi, me aproximando um pouco mais.
Ele riu, senti minha respiração falhar quando ele segurou meu rosto com as mãos, deslizando os dedos em minha pele.
— Aurora... — ele sussurrou, o olhar intenso, como se estivesse gravando cada detalhe de mim. — Tenho algo pra você.
Ele se afastou, tirando uma caixinha de veludo do bolso, ele abriu-a lentamente, revelando um colar delicado com um pingente de coração prateado, eu mal conseguia acreditar na perfeição do presente, ele era tão atencioso.
— É lindo.
— Agora você vai carregar um pedacinho de mim, onde quer que vá.
Enquanto ele se inclinava para colocar o colar, senti a respiração prender quando seus dedos roçaram a pele do meu pescoço, seu toque deixou um rastro de calor que parecia irradiar por todo o meu corpo.
— Gabriel… nem sei como agradecer. — Sussurrei, a voz um pouco trêmula, sentindo o metal frio sob os dedos.
— Você sabe o quanto eu gosto de você, não sabe? Isso aqui é real para mim.
Essas palavras me acertaram em cheio, tudo o que pude fazer foi assentir, sentindo o coração disparado, eu queria responder, mas eu não sabia o que dizer então me inclinei sentindo aqueles lábios macios mais uma vez, aos poucos, o beijo ficou mais intenso, eu mal conseguia respirar, mas também não queria parar, Gabriel foi me guiando entre o beijo ate me deitar na cama, senti o colchão macio nas costas enquanto ele se posicionava sobre mim.
Eu estava me perdendo completamente nele, as mãos dele desceu para minha cintura tentando explorar meu corpo, senti um frio na barriga, uma mistura de medo e ansiedade, sem saber o que fazer, tomei a mão dele e a direcionei delicadamente para o meu seio direito.
— Aqui. — murmurei, enquanto acariciava sua palma, guiando-a apalpar ainda mais firme, tentando esconder a insegurança que sentia.
A cada movimento, eu sentia um arrepio diferente, uma parte de mim ainda estava tensa, com receio de que ele descobrisse, mas sensações que ele me proporcionava me deixava sem fôlego fazendo esquecer rapidamente qualquer coisa, eu podia sentir ele entre minha pernas, duro, se movendo contra mim e agora eu desejava que o momento nunca terminasse.
Os lábios dele deslizaram pelo meu pescoço, um suspiro escapou de meus lábios antes que eu pudesse me conter, eu mal conseguia processar a intensidade do que estava sentindo, eu precisava de mais.
Eu queria ele.
Eu precisava dele.
Mas então, a porta entreabriu com um ruído leve e ouvimos uma risada suave.
— Nossa… Me desculpem , volto depois. — Era Lily, cobrindo os olhos com um sorriso brincalhão que mal conseguia disfarçar.
— Isso! — Falei frustada, mas Gabriel riu, saindo de cima de mim.
— Tudo bem, acho melhor voltarmos para a festa.— Ele afastou uma mecha do meu cabelo, me encarando por mais um segundo, antes de me ajudar a levantar.
Eu e Gabriel trocamos um olhar, entre sorrisos e respirações ofegantes, a essa altura Lily já tinha nos deixados nós a sós de novo.
— Depois a gente continua. — Ele sussurrou com um sorriso malicioso. — Mas você pode ir na frente eu vou precisar de mais alguns minutos.
— Tudo bem. — Eu ri, olhando para o enorme problema que estava entre suas pernas.
Ainda sentia o gosto do beijo e o calor do toque dele, quando passei pela porta ajeitando minha roupa. Voltei para a sala, onde a música ainda pulsava e a animação se espalhava pelo apartamento.
— Desculpa mesmo atrapalhar vocês, mas o vizinho do 206 apareceu e tava meio irritado, ele reclamou do barulho.
— Talvez a gente deva dar uma desacelerada. — Não queria que a festa fosse interrompida, mas também não queria causar mais problemas. — Eu vou lá pedir desculpas.
— Não demora.
O corredor agora parecia mais silencioso, eu estava prestes a bater na porta do senhor Hippie quando meu corpo congelou, como se um imã me prendesse ali, imóvel, por um segundo, quase acreditei que fosse um sonho ou pior, um pesadelo.
Ele estava ali, de pé, como uma miragem de algo que eu não sabia se queria ou odiava.
Não deveria, não poderia ser ele... não hoje, não no dia que eu passei tanto tempo tentando esquecer.
Eu respirei fundo, tentando encontrar alguma força para me mover, mas tudo o que saiu foi uma voz fraca e trêmula.
— Você... O que você está fazendo aqui? Eu disse para nunca mais aparecer.
Ele desviou o olhar, como se fosse incapaz de me encarar. Mas então, seus olhos encontraram os meus, profundos e inabaláveis, senti que o chão estava sumindo sob meus pés.
— Eu não vim aqui pra me desculpar, Aurora, eu não vim pra pedir perdão ou pra dizer que sinto sua falta. Você já sabe disso.
Ela sabia exatamente o que estava fazendo comigo. Eu queria odiá-lo por estar ali, por fazer meu coração bater mais rápido.
— Então por que veio? Porquê enviou aqueles presentes? E aliás, você me enviou vinte e três presentes, Harry, mas eu completei vinte e quatro anos. Você nem sequer se deu ao trabalho de lembrar quantos anos eu tenho e ainda diz que sou importante para você?
Ele sorriu, sua mão foi até o bolso e de lá tirou uma pequena caixinha.
— Este era o último presente, eu ia deixar na sua porta e ir embora, mas, por algum motivo, você apareceu.
Olhei para a caixinha nas mãos dele, uma onda de emoções esmagou o pouco de controle que eu ainda tinha.
— Por que não mandou junto com os outros? Por que precisa transformar isso num espetáculo?
— Porque... Esse é especial.
As palavras dele me atingiram com força, meu peito se apertou, a dor era quase insuportável.
— Eu... eu não entendo você, Harry. — Minha garganta apertada de dor. — O que espera que eu faça com tudo isso?
— Aurora, eu só queria que você fosse feliz hoje. Que, por um dia, você se sentisse especial, porque você é. Mesmo que a gente... Mesmo que tudo tenha sido tão complicado. Eu só queria fazer isso por você.
— E eu deveria ser grata por isso? — A cada palavra, sentia o gosto amargo da exaustão. — Por você entrar e sair da minha vida quando quer, por me deixar aos pedaços e depois voltar com esses gestos vazios? Eu não aguento mais isso, Harry. — Ele tentou dar outro passo, mas levantei a mão, parando-o. — Por que você continua fazendo isso? Eu já deixei claro que não quero você na minha vida. Por que insiste em cumprir essa promessa idiota, uma promessa que eu nunca te pedi para fazer? Eu não quero isso! Eu não quero mais nada com você. — Ele ficou em silêncio, me observando. — Por que você não consegue me deixar ir? — Continuei, a voz quase um sussurro. — Era só fingir que nada aconteceu. Por que tem que complicar tudo? Por que não pode simplesmente me deixar em paz?
— Aurora, eu realmente não esperava te encontrar aqui. Eu... eu só vim pra deixar o presente e ir embora. Não era minha intenção trazer mais dor pra você. — Sua se tornou um sussurro. — Tudo o que eu fiz foi porque queria te ver sorrir, mesmo que de longe. Eu sei que você tem motivos pra me odiar, sei que tudo o que fiz até agora só te magoou, eu sei o que isso custou pra você e pra mim também, mas eu nunca quis te ver assim, nunca quis que você sofresse. Hoje, eu só queria sentir que fiz algo bom por você, Aurora. Mesmo que você nunca me perdoe, só hoje... será que a gente pode esquecer tudo? Só por um instante? Porque, mesmo que você me odeie amanhã, eu não quero que seu aniversário termine assim, com tanta mágoa entre nós.
De repente, ele deu um passo à frente, antes que eu pudesse reagir, seus braços me envolveram, puxando-me para o seu peito, no instante em que Harry me puxou para aquele abraço, senti meu mundo parar. O calor do corpo dele contra o meu era como uma âncora, me mantendo firme quando tudo dentro de mim parecia estar prestes a desmoronar. Ele estava tão perto que eu conseguia sentir seu coração batendo rápido, cada pulsação ressoando dentro de mim, sua mão subiu até minha nuca, os dedos deslizando com uma ternura que doía, que me lembrava do quanto eu queria, desesperadamente, ficar ali.
Como eu poderia admitir que toda vez que toda vez que ele me abraçava tudo que eu queria era que ele nunca mais me soltasse.
Fechei os olhos, odiando a mim mesma por querer tanto aquele toque, por ainda amar alguém que tantas vezes me feriu, que tantas vezes me fez duvidar de mim mesma, mas eu não queria que ele me soltasse, eu me afundei naquele abraço, na familiaridade do seu perfume, na respiração que eu conhecia tão bem, eu queria que aquele momento durasse para sempre.
Sua mão subiu, deslizando até segurar meu rosto, eu não sabia ao certo se ele estava me segurando ou se era eu que precisava dele para não me desfazer ali mesmo, senti a testa dele se encostar na minha, os olhos fechados, as respirações em sincronia, eu sabia que, por mais que tentasse, não conseguiria desviar daquele momento. Minha garganta apertou, as palavras começaram a se formar antes que eu pudesse contê-las, cada sílaba carregando um pouco da verdade que estava sufocada dentro de mim.
— Harry... eu queria... eu queria te contar... Eu... Eu estou...
Como eu poderia dizer?
Como encontrar coragem para confessar algo que poderia mudar tudo entre nós?
Antes que eu me decidisse, senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, se misturando ao toque dele.
Uma parte de mim queria que ele entendesse, que ele percebesse o que eu carregava dentro de mim, que eu ainda tinha uma parte dele comigo, uma parte que, por mais que eu tentasse, não conseguia renunciar, mas eu tinha medo.
— Eu estou grata! Por isso… por tudo, Harry. — Era o máximo que eu consegui dizer.
Ele ergueu a mão, com um carinho quase insuportável, limpou minha lágrima com o polegar.
— Não era para você chorar, Aurora. — Sua voz estava suave, ele me segurou ainda mais firme. — Eu só queria que você tivesse um dia inesquecível, como eu prometi que faria.
Suas palavras me atravessaram, por um momento, senti uma felicidade estranha e dolorosa.
Ele ainda se importava, de alguma forma, ele ainda se importava.
— Mas eu estou feliz. — murmurei, sem saber se dizia aquilo para ele ou para mim mesma. — Hoje, aqui... Com você, eu estou feliz.
E era verdade.
Naquele abraço, naquele instante, eu conseguia acreditar nisso.
Ele ficou em silêncio por um tempo, eu senti o rosto dele se inclinar até nossos narizes se tocarem, eu sabia que aquele momento estava prestes a terminar, a dor disso era quase insuportável.
Harry inspirou fundo e me afastou um pouco, apenas o suficiente para olhar nos meus olhos.
— Eu preciso ir…
Eu queria pedir para ele ficar, queria dizer que poderíamos fazer dar certo, que talvez fosse possível, mas sabia que as palavras não viriam. Ele se afastou devagar, ainda segurando minha mão, como se também não quisesse deixar aquele instante se dissipar. Por um segundo, nossos dedos ficaram entrelaçados, ele me olhou uma última vez, seus olhos me segurando por mais um momento, então, ele soltou minha mão deixando a pequena caixa, se virou e foi embora.
Fiquei ali, sozinha, vendo-o desaparecer no corredor, com o vazio que me rasgava por dentro, um presente frio na minha mão e minha alma em pedaços
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Yes Sir! Capítulo 30
Personagens: Professor! Harry x Estudante!Aurora. (Aurora tem 24 anos e Harry tem 35)
Aviso: O capítulo será todo dedicado a nossa querida Aurora porque ela merece, afinal é o aniversário da nossa protagonista 💗
NotaAutora: Perdão pela demora e Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar💗
AURORA
Acordei com o som insistente do interfone, como se o próprio aparelho estivesse determinado a me lembrar que, mesmo no meu aniversário, eu não teria sossego. Passei a mão no rosto, tentando afastar o sono e o humor de quem só queria hibernar na cama pelo menos até o meio-dia. Levantei, arrastando os pés até o interfone, já pensando em quem teria coragem de interromper meu dia tão cedo.
— Senhorita Aurora, há um entregador aqui — disse o porteiro, sua voz calma, rotineira. — Parece uma entrega especial de uma padaria.
— Eu não pedi nada.
— Ele disse que o pedido já foi pago! Quer que eu o mande subir?
— Ok! Pode deixar. — murmurei, ainda perplexa.
Quando abri a porta e recebi a embalagem nas mãos, meu coração acelerou, era padaria de Boston, Sweet Sunrise Bakery.
Minha padaria favorita.
A embalagem tinha aquele tom pálido de creme com bordas douradas, que sempre pareciam um detalhe caprichado demais para um café da manhã. Mas foi só abrir a tampa para encontrar os itens cuidadosamente dispostos: o croissant de chocolate com amêndoas, pãozinhos frescos e a pequena garrafa de café aromático que eu costumava pedir quando eu ia lá.
Era tudo o que eu gostava.
Sem pensar, peguei o celular e digitei uma mensagem para Gabriel.
"Você me mandou um café da manhã da Sweet Sunrise? Muito obrigado!"
A resposta veio rápida.
"Não fui eu, mas fico feliz! Feliz aniversário! Aproveite."
Senti um frio estranho na barriga, se não era Gabriel, quem era?
"Vocês mandaram café da manhã para mim? "
Mandei para Georgia e a resposta veio logo em seguida.
"Não! Você recebeu algo especial é?"
"Nada de mais, bjs"
Isso era realmente estranho, vasculhei a embalagem a procura de alguma pista, então um bilhete dobrado me aguardava, a caligrafia era pequena e cuidadosa, com as mãos trêmulas, desdobrei o papel.
"Espero que ainda se lembre da promessa. Feliz aniversário, docinho."
"Docinho."
Docinho?!
Apenas uma pessoa no mundo me chamava assim.
Por um instante, quase pude ouvir a voz dele, sussurrando.
Mas não… ele jamais faria isso.
Ele não podia…
Não! Não!
Como ele ousava?
Parte de mim queria jogar tudo fora, fazer a raiva valer alguma coisa, mas a outra parte de mim queria olhar para cada pedaço daquela surpresa, o café, o croissant, os pãezinhos e saborear-los agradecida, eu não sabia dizer se estava mais confusa, irritada ou pior ainda esperançosa.
Porque, no fundo, uma parte de mim talvez, só talvez quisesse que ele cumprisse aquela promessa, mas promessas são só palavras vazias.
Eu fiquei ali, encarando o bilhete e sentindo o estômago apertar de angústia e saudade, tentando decidir se deveria ignorar aquilo ou me deixar sentir, mesmo que por um segundo, fechei os olhos, respirando fundo, o aroma do café trouxe uma pontada cruel de nostalgia, mesmo relutante, dei uma mordida pequena quase automática no croissant, mas o sabor trazia mais do que eu estava disposta a sentir, lembrei de todas as manhãs em que Harry sorria para mim, assim que eu acordava dizendo que passou na minha padaria favorita perto da casa dele, então aquele cheirinho delicioso de croissant surgia, enquanto o me olhava daquele jeito, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo, ele sempre sabia como me deixar feliz, de algum jeito ele também sabia como me fazer sentir segura.
Uma lágrima escapou antes que eu pudesse conter. Passei a mão rapidamente pelo rosto, tentando afastar esse momento de fraqueza. Eu não podia me deixar levar, não agora. Olhei para a comida à minha frente, respirei fundo, e antes que mudasse de ideia, joguei tudo no lixo.
Eu precisava focar em mim, no meu aniversário, eu tinha que dar um jeito no meu apartamento, ele estava infestado com coisas de bebês, caixas, sacolas, pilhas de roupas espalhadas. Meu peito se apertou ao olhar para aquilo tudo, era difícil admitir que me peguei sorrindo algumas vezes ao pegar aquelas roupinhas tão pequenas e me imaginar cuidando de uma vida que, querendo ou não, estava crescendo dentro de mim. Fui pegando as coisas aos poucos, empilhando tudo nos braços levando até o quarto de hóspedes, jogando as roupas de bebê, o berço, cada pedacinho de esperança que minha mãe havia trazido, eu não queria aceitar que a cada dia esse bebê era mais real, não queria sentir a felicidade de ser mãe.
O som do interfone me trouxe de volta.
— Senhorita Aurora, chegaram alguns presentes para a senhorita. São... são muitos — O porteiro, tinha um tom quase divertido na voz. — Onde quer que eu os deixe?
Presentes?
— Pode mandar subir, deixe na porta, por favor.
Quando abri, uma fileira de caixas, pacotes e balões esperava por mim, envolto em papel colorido, com fitas e laços, em cima de cada caixa, havia um bilhete pequeno.
É sério que ele iria insistir nisso?
Peguei o primeiro bilhete que vi.
"Você merece todas as coisas boas que esse mundo tem a oferecer."
Por que ele tava fazendo isso comigo?
Ele sabia o quanto eu nunca me achei boa o bastante para qualquer coisa.
Meu olhar se fixou no próximo bilhete.
"Você merece tudo o que pensa que não merece, Aurora."
Meu coração batia mais forte, um desejo de rasgar cada pedaço daquele papel.
Eu o odiava por me fazer sentir isso.
Peguei o próximo:
"Sempre levarei você no meu coração, docinho."
E mais outro:
"Seja muito feliz! Eu sempre estarei torcendo por você."
Minhas mãos tremiam.
O último bilhete que consegui ler dizia:
"Obrigado por fazer meu mundo melhor."
Aquele foi o golpe final.
Meus ombros cederam, e as lágrimas desciam incontroláveis, por mais que eu tentasse negar, ele me conhecia melhor do que ninguém, sabia que as palavras quebrariam minhas defesas mesmo com todo o ódio que eu tentava manter. Limpei as lágrimas com pressa, recusando-me a ceder a esse sentimento. Peguei cada caixa, cada balão, empurrei tudo para dentro do quarto de hóspedes junto com as coisas do bebê, tranquei-a, por um instante, fechei os olhos, desejando que nada daquilo fosse real.
...
O vapor preenchia o banheiro enquanto eu me deixava relaxar na água morna. Fechei os olhos e respirei fundo, como se cada gota pudesse lavar o peso do que eu tinha sentido mais cedo, por um instante eu podia simplesmente... não pensar.
Não havia bilhetes.
Não havia saudades.
Apenas eu, a água quente, e o som suave da água caindo.
Saí do banho sentindo-me um pouco mais leve, como se tivesse deixado as emoções da manhã escorrerem pelo ralo.
Escolhi uma legging afinal minhas calças jeans já não me serviam mais, uma blusa longa e um casaco, agradecia de estar começando o inverno assim era muito mais fácil me esconder nas roupas, pentei o cabelo deixando-o solto, passei um toque de maquiagem sutil para cobrir o inchaço ao redor dos olhos, hoje eu queria estar linda para mim mesma, e talvez um pouco para Gabriel também, afinal ele me chamou para um almoço especial de aniversário.
Quando a campainha tocou, abri a porta, e lá estava ele, com aquele sorriso que me fazia esquecer todo o caos, Gabriel vestia um moletom azul marinho e calça jeans. Ele me olhou de cima a baixo e vi seu sorriso se alargar.
— Uau, Aurora, você está linda. — Deixou um rápido selinho em meus lábios.
— Obrigada, vamos?
— Claro.
Tranquei a porta atrás de mim, entrelaçando meu braço no dele enquanto caminhávamos para o carro, eu não sabia ao certo o que Gabriel tinha planejado para o nosso almoço, mas o lugar que Gabriel escolheu era aconchegante e charmoso, um pequeno bistrô com luzes suaves e mesas de madeira, decorado com um estilo simples, mas acolhedor. Não era sofisticado, mas tinha um calor especial, Gabriel abriu a porta para mim, me guiando para uma mesa perto da janela, ele puxou a cadeira para mim, o que me fez sorrir de leve, assim que ele ocupou seu lugar à minha frente, notei seu olhar penetrante, enquanto corria os olhos pelo cardápio.
— Confia em mim? — Ele fechou o menu de repente, me surpreendendo. — Posso escolher para nós dois? Prometo que vai ser bom.
— Tudo bem, eu vou confiar, então.
— Vou fazer valer a confiança, eu prometo.
— Murmurou, antes de chamar o garçom e fazer o pedido, em voz baixa, sem revelar nada a mim.
Pouco depois, o garçom voltou com dois pratos com aromas deliciosos, meu prato era risoto de cogumelos cremoso, perfumado com ervas frescas, parecia delicioso, Gabriel me ofereceu o primeiro pedaço, ele pegou o garfo, trazendo um pedaço da comida até minha boca, hesitei mas aceitei, nossos olhares se cruzaram enquanto ele me servia, por um instante, eu me senti estranha mas não de um jeito ruim era como se ele realmente me achasse especial, que me fez esquecer quem eu era ou o que eu costumava pensar sobre o amor.
— E então?
— Gabi… isso é incrível!
— Fico feliz que tenha gostado, eu pensei que você merecia algo especial. — Ele desviou o olhar por um instante, antes de completar. — Não é nada muito elaborado, mas…
— Mas nada, está perfeito.— Não consegui evitar de sorrir.
Entre conversas e risadas, ele continuava a me oferecer pedaços, eu também oferecia a ele, eu nunca tinha percebido como o simples ato de dividir a comida podia ser tão… íntimo.
— Espero que o casal esteja aproveitando o almoço. — O Garçom que nos atendeu apareceu em nossa mesa.
— Estamos, sim! Obrigado. — Pude ver o rosto corado de Gabriel ao responder.
Quando o garçom se afastou, Gabriel voltou a atenção para mim, com aquele sorriso travesso.
— O que foi? — perguntei, sem conseguir evitar o riso.
— Nada — ele disse, ainda sorrindo. — Só acho engraçado que tenhamos mesmo cara de casal.
— Acho que o fato de ficarmos dando comida na boca um do outro pode ter ter dado essa impressão.— falei, rindo.
— Talvez... Ás vezes… não sei, às vezes penso em você como… você sabe, minha namorada.
Meu coração acelerou, o sorriso desaparecendo aos poucos, aquela confissão, por mais sutil que fosse, despertou uma sensação que eu tentava sufocar.
— Gabi, eu… eu realmente gosto do que temos agora. É simples, está bom assim… não está?
Houve um breve silêncio Gabriel baixou o olhar, a mão deslizando levemente sobre o garfo, como se procurasse as palavras certas.
— Claro… claro, desculpa, não queria te pressionar, só foi um comentário bobo.
— Está tudo bem, de verdade. — Coloquei minha mão sobre a dele, sentindo seu corpo relaxar sob meu toque. — Eu só… preciso de mais um pouco de tempo, entende? Mas quero que você saiba que eu estou curtindo muito estar com você, muito mesmo. — Olhei em seus olhos com toda a sinceridade que podia reunir.
— Aurora, eu espero o tempo que precisar.
Meu almoço de aniversário foi perfeito, embora o medo que se instalou quando ele falou sobre o namoro, mas todo resto estava simplesmente incrível, Gabriel sabia como me fazer sentir especial, assim que chegamos ao meu prédio, a tranquilidade que eu sentia desmoronou.
— Ah, senhorita Aurora! — o porteiro me chamou assim que entrei no saguão. — Chegou mais alguns presentes para a senhorita. Um total de treze, na verdade.
Senti meu estômago se apertar
— Treze presentes? — Gabriel perguntou, claramente intrigado. — Uau!
— Teve mais pela manhã. — O porteiro comentou e eu quis socá-lo por isso.
— Alguém está realmente se esforçando. —Gabriel forçou uma risada.
— É... parece que alguém resolveu exagerar — Suspirei, tentando parecer indiferente.
Com a ajuda de Gabriel e do porteiro, fomos empilhando os presentes em meus braços. Gabriel pegou alguns também, mas pude sentir a curiosidade crescendo nele a cada segundo.
— Aurora, quem... quem enviou tudo isso? — Ele tentou manter o tom casual, logo que entramos no elevador.
— Eu... — Hesitei, tentando encontrar uma resposta que não levantasse mais suspeitas. — Minha família, minha mãe gosta de exagerar nessas coisas de aniversário.
Ele riu, embora a expressão em seu rosto continuasse desconfiada, ao chegar à porta do meu apartamento, ele colocou os últimos presentes no chão e olhou para mim, ainda curioso.
— Bem, sua família realmente sabe como fazer você se sentir especial.
— É, eles são assim. — Menti.
O olhar dele passeou pelos presentes em cima da mesa, percebi que ele tentou pegar um dos bilhetes presos aos pacotes.
Antes que ele pudesse pegar puxei mais perto, pegando o bilhete junto.
Eu sabia que, se deixasse ele ver algum dos bilhetes, tudo ficaria mais complicado, precisava de uma desculpa.
— Então... — disse, virando-me para ele. — Eu preciso me arrumar para o jantar com minha família. Sabe como é.
Gabriel sorriu, ligeiramente desapontado, talvez por sentir que eu estava tentando encerrar o encontro de maneira bruta, mas eu não podia lidar com isso com ele aqui.
— Claro, claro... Não quero atrapalhar. — Ele deu um sorriso um pouco tímido. — A gente se vê depois.
Assenti, sentindo um aperto no peito ao vê-lo assim.
— Com certeza, vou deixar a chave reserva com você, quando chegar, eu quero encontrar uma comemoração digna, hein? — brinquei, tentando aliviar o clima e espantar a tensão do momento assim que dei a chave a ele.
— Pode deixar, vou fazer com que seja o aniversário mais inesquecível de todos.— Ele se inclinou deixando um beijo em meus lábios.
Logo que Gabriel saiu, suspirei, exausta me virei para a pilha de presentes, reuni os pacotes, caminhei até o quarto de hóspedes, nem se quer me dando o trabalho de ler esses bilhetes idiotas desta vez. Fui colocando cada presente novo naquela pilha, um por um, ignorando-os, quando finalmente empurrei a última caixa para dentro, fechei a porta e travei,
então percebi o bilhete que eu tinha tirado da vista de Gabriel, ainda estava entre meus dedos, com um suspiro, passei o polegar sobre o papel, sentindo o papel meio amassado antes de abri-lo.
"1 presente para cada ano que você iluminou o mundo, você continua sendo importante para mim."
Fechei os olhos, tentando controlar a onda de raiva que subia no peito, mas era impossível.
— Importante? Tão importante que ele nem se quer sabe quantos anos estou fazendo! São 24 anos! Porra! Eu estou fazendo 24 anos, seu idiota! — Gritei jogando o pequeno papel longe.
...
Me olhava no espelho dando uma última conferida no meu look de aniversário, escolhi um vestido vermelho de manga longa, justo o suficiente para parecer elegante, mas discreto o bastante para disfarçar a barriga. Adicionei uma meia-calça preta para o frio, botas marrons escuras e um casaco de lã que caia até a altura dos joelhos, brincos dourados e o batom vermelho era a última camada de confiança que coloquei para encarar o jantar.
Georgia surgiu à porta, observando-me com seu sorriso de canto cheio de ironia.
— Você tá pronta, aniversariante? — perguntou, mas seu olhos logo foram para celular ao meu lado. — Quem tá te mandando mensagem? A Lily?
— Não, é... um cara que eu tô saindo. — Dou de ombros, tentando parecer casual. — Lembra do cara da loja de móveis? Então, ele meio que era da minha sala, uma longa história.
— O cara da loja? Olha só! Finalmente você tá saindo com alguém! — Ela sorriu parecia genuinamente feliz. — Quero saber todos os detalhes.
— Eu vou, depois, mas, ó, não vai contando pro papai, tá? Você sabe como ele é.
— Seu segredo está seguro comigo. — Ela balançou a cabeça, concordando.
Minha mãe apareceu à porta, chamando nossa atenção com um sorriso acolhedor.
— Meninas, está na hora. Vamos?
Georgia e eu trocamos um último olhar antes de segui-la.
O restaurante escolhido pelo meu pai era um dos mais renomados da cidade, até meio óbvio, localizado no topo de um prédio com uma vista de tirar o fôlego.
Nós nos acomodamos em uma mesa reservada para a noite, com vista direta para as ruas movimentadas lá embaixo. O garçom apareceu rapidamente, deixando um cardápio luxuoso em nossas mãos. Georgia, ao meu lado, admirava o ambiente, enquanto meu pai, já analisava o cardápio com olhar meticuloso.
Escolhemos pratos dignos de um restaurante Michelin. Para começar, vieiras grelhadas com emulsão de limão siciliano e lâminas de trufas. O aroma era delicado, o sabor impecável, mas o silêncio em nossa mesa era constrangedor.
— Estive conversando com o reitor sobre o seu progresso na faculdade. — Meu pai lançou um olhar para mim. — Ele me disse que suas notas estão subindo novamente, já estava na hora.
Não era um elogio, exatamente, mas também não era uma crítica, então decido aceitar.
— Obrigada.
Por um momento, acho que vi um resquício de orgulho nos olhos dele, mas foi rapidamente substituído por sua expressão usual, rígida.
— Isso é ótimo, Aurora, estou feliz por você estar conseguindo conciliar tudo. — Minha mãe tinha um sorriso caloroso .
— Tenho tido ajuda para estudar… isso tem feito muita diferença.
— O reitor mencionou algo curioso, parece que há rumores sobre um professor da sua universidade envolvido com uma aluna.— Suspirou recostando-se na cadeira com uma expressão pensativa. — Por acaso você está ciente dos boatos?
Por um instante, senti minha espinha congelar.
— Um professor com uma aluna? — Minha mãe, ergueu as sobrancelhas, horrorizada. — Que absurdo! Não consigo imaginar um comportamento mais inadequado.
— Ah, pai, boatos assim surgem o tempo todo... é provável que alguém tenha exagerado só para causar um pouco de drama, sabe como é. — Ri, tentando parecer despreocupada. — As pessoas adoram uma fofoca. — Acrescentei, torcendo para que ele se contentasse com a resposta.
O garçom acabou aparecendo no momento certo, interrompendo a conversa ao anunciar o próximo prato: um filé de wagyu, perfeitamente selado e acompanhado de purê de batatas trufado e vegetais assados em manteiga de ervas.
— Que tal falarmos de outro assunto? — Georgia sugeriu
— Isso! — Concordei.
— Já contou ao pai da criança, sobre sua gravidez? Ou vai preferir que eu interfira?
A comida pareceu ficar ainda mais difícil de engolir.
Meu pai estava realmente determinado a estragar meu jantar.
— Vou contar, pai, eu só preciso de mais tempo. — Tentei manter o controle, mas o peso de suas palavras me deixa desconfortável.
Ele respirou fundo, cruzando os braços sobre a mesa, sem desviar o olhar.
— É bom mesmo que conte logo, porque se acha que vou deixar o sujeito que engravidou a minha filha sair ileso, está muito enganada ou você resolve isso logo ou eu vou ir até onde for necessário para encontrar esse rapaz, se precisar, vou atrás dele até no inferno.
Um silêncio tenso pairou sobre a mesa, enquanto tentava conter a lágrimas.
— Lion, é o aniversário dela, hoje não é o momento para isso, por favor. — Minha mãe colocou a mão encima da dele suplicando.
— Tudo bem. — Cedeu mesmo com o olhar rígido. — Falamos disto depois.
O jantar terminou com direito a um pequeno bolo de chocolate e um parabéns dos funcionários do restaurante e alguns presentes caros demais para apenas uma universitária, depois eles me levam de volta ao apartamento, ao chegarmos à porta, minha mãe segurou minhas mãos.
— Querida, desculpe pelo seu pai, você sabe como ele é.
— Tudo bem. — Menti.
— Nós precisamos voltar ainda hoje, mas prometemos voltar em breve, afinal, logo teremos nosso primeiro netinho. — Sua mão acariciou minha barriga.
— Cuida de você, tá? E qualquer coisa, me liga. — Georgia me abraçou.
— Cuide-se, Aurora. — Meu pai me deu um abraço breve.
Fiquei parada ali, vendo-os ir embora, suspirando aliviada por finalmente ter acabado, entrei no prédio, acenei para o porteiro com um sorriso leve. No elevador, tentei espantar o peso do dia, pelo menos nas próximas horas, teria uma chance de me divertir e me sentir uma universitária comum, como nos velhos tempos. Assim que girei a chave e entrei no apartamento, fui recebida por uma explosão de cores e energia, balões em tons pastel e prateado estavam espalhados pelo chão e presos nas paredes, uma faixa de “Feliz Aniversário” enfeitava a entrada da sala, enquanto serpentinas coloridas desciam do teto, e um arranjo de flores vibrantes ocupava a mesa de centro. As luzes estavam baixas, com algumas lâmpadas decorativas criando um brilho aconchegante e acolhedor.Rostos familiares me esperavam, Gabriel estava no balcão da cozinha, rindo de algo que Josh dizia, enquanto Lily veio correndo ao meu encontro.
— Parabéns! Amiga. —Ela me deu um abraço apertado. — Gostou? — Perguntou, com um brilho no olhar.
— Sim! Ficou tudo tão incrível, eu amei.
— Então, vamos aproveitar. — Me puxou para o meio da sala.
A música começou a tocar mais alto, preenchendo o ambiente com uma batida animada, um cheiro delicioso de pizza se misturava ao perfume doce das flores, no balcão da cozinha estava o tradicional “drink especial” da Lily, com um toque de frutas frescas e guarda-chuvinhas coloridos. Minha casa parecia outra, cheia de vida e energia, era como se cada detalhe tivesse sido pensado para me fazer sentir especial e eu mal conseguia parar de sorrir.
Eu não esperava tanta gente, mas havia algo nessa bagunça animada que me fazia sentir viva. Meu aniversário estava acontecendo ali, naquele momento, eu não queria pensar em nada que pudesse me puxar para baixo. Passei um bom tempo aproveitando a festa. Dancei com meus amigos, ri com eles, comemos e jogamos, eu realmente estava aproveitando e por algumas horas esqueci de todas as coisas que me atormentavam.
— Ei, Aurora. — Senti uma mão pousar suavemente na minha cintura.
Me virei e dei de cara com Gabriel, que estava ainda mais bonito do que eu me lembrava. Talvez fosse o efeito dos hormônios, ou talvez fosse só o fato de eu estar realmente afim dele naquele momento, mas, com aquele sorriso suave e encantador, ele conseguiu desarmar qualquer resistência minha.
— Posso roubar a aniversariante por um tempo? — ele perguntou, antes que eu pudesse protestar, já segurando minha mão com delicadeza.
— Claro eu sou toda sua.
Meu coração acelerou enquanto ele me guiava pela sala, nos afastando do resto da festa até entramos no meu quarto
— Estava te esperando a noite toda, sabia?
— E o que você faria se eu dissesse que eu também estava esperando por isso? — Respondi, me aproximando um pouco mais.
Ele riu, senti minha respiração falhar quando ele segurou meu rosto com as mãos, deslizando os dedos em minha pele.
— Aurora... — ele sussurrou, o olhar intenso, como se estivesse gravando cada detalhe de mim. — Tenho algo pra você.
Ele se afastou, tirando uma caixinha de veludo do bolso, ele abriu-a lentamente, revelando um colar delicado com um pingente de coração prateado, eu mal conseguia acreditar na perfeição do presente, ele era tão atencioso.
— É lindo.
— Agora você vai carregar um pedacinho de mim, onde quer que vá.
Enquanto ele se inclinava para colocar o colar, senti a respiração prender quando seus dedos roçaram a pele do meu pescoço, seu toque deixou um rastro de calor que parecia irradiar por todo o meu corpo.
— Gabriel… nem sei como agradecer. — Sussurrei, a voz um pouco trêmula, sentindo o metal frio sob os dedos.
— Você sabe o quanto eu gosto de você, não sabe? Isso aqui é real para mim.
Essas palavras me acertaram em cheio, tudo o que pude fazer foi assentir, sentindo o coração disparado, eu queria responder, mas eu não sabia o que dizer então me inclinei sentindo aqueles lábios macios mais uma vez, aos poucos, o beijo ficou mais intenso, eu mal conseguia respirar, mas também não queria parar, Gabriel foi me guiando entre o beijo ate me deitar na cama, senti o colchão macio nas costas enquanto ele se posicionava sobre mim.
Eu estava me perdendo completamente nele, as mãos dele desceu para minha cintura tentando explorar meu corpo, senti um frio na barriga, uma mistura de medo e ansiedade, sem saber o que fazer, tomei a mão dele e a direcionei delicadamente para o meu seio direito.
— Aqui. — murmurei, enquanto acariciava sua palma, guiando-a apalpar ainda mais firme, tentando esconder a insegurança que sentia.
A cada movimento, eu sentia um arrepio diferente, uma parte de mim ainda estava tensa, com receio de que ele descobrisse, mas sensações que ele me proporcionava me deixava sem fôlego fazendo esquecer rapidamente qualquer coisa, eu podia sentir ele entre minha pernas, duro, se movendo contra mim e agora eu desejava que o momento nunca terminasse.
Os lábios dele deslizaram pelo meu pescoço, um suspiro escapou de meus lábios antes que eu pudesse me conter, eu mal conseguia processar a intensidade do que estava sentindo, eu precisava de mais.
Eu queria ele.
Eu precisava dele.
Mas então, a porta entreabriu com um ruído leve e ouvimos uma risada suave.
— Nossa… Me desculpem , volto depois. — Era Lily, cobrindo os olhos com um sorriso brincalhão que mal conseguia disfarçar.
— Isso! — Falei frustada, mas Gabriel riu, saindo de cima de mim.
— Tudo bem, acho melhor voltarmos para a festa.— Ele afastou uma mecha do meu cabelo, me encarando por mais um segundo, antes de me ajudar a levantar.
Eu e Gabriel trocamos um olhar, entre sorrisos e respirações ofegantes, a essa altura Lily já tinha nos deixados nós a sós de novo.
— Depois a gente continua. — Ele sussurrou com um sorriso malicioso. — Mas você pode ir na frente eu vou precisar de mais alguns minutos.
— Tudo bem. — Eu ri, olhando para o enorme problema que estava entre suas pernas.
Ainda sentia o gosto do beijo e o calor do toque dele, quando passei pela porta ajeitando minha roupa. Voltei para a sala, onde a música ainda pulsava e a animação se espalhava pelo apartamento.
— Desculpa mesmo atrapalhar vocês, mas o vizinho do 206 apareceu e tava meio irritado, ele reclamou do barulho.
— Talvez a gente deva dar uma desacelerada. — Não queria que a festa fosse interrompida, mas também não queria causar mais problemas. — Eu vou lá pedir desculpas.
— Não demora.
O corredor agora parecia mais silencioso, eu estava prestes a bater na porta do senhor Hippie quando meu corpo congelou, como se um imã me prendesse ali, imóvel, por um segundo, quase acreditei que fosse um sonho ou pior, um pesadelo.
Ele estava ali, de pé, como uma miragem de algo que eu não sabia se queria ou odiava.
Não deveria, não poderia ser ele... não hoje, não no dia que eu passei tanto tempo tentando esquecer.
Eu respirei fundo, tentando encontrar alguma força para me mover, mas tudo o que saiu foi uma voz fraca e trêmula.
— Você... O que você está fazendo aqui? Eu disse para nunca mais aparecer.
Ele desviou o olhar, como se fosse incapaz de me encarar. Mas então, seus olhos encontraram os meus, profundos e inabaláveis, senti que o chão estava sumindo sob meus pés.
— Eu não vim aqui pra me desculpar, Aurora, eu não vim pra pedir perdão ou pra dizer que sinto sua falta. Você já sabe disso.
Ela sabia exatamente o que estava fazendo comigo. Eu queria odiá-lo por estar ali, por fazer meu coração bater mais rápido.
— Então por que veio? Porquê enviou aqueles presentes? E aliás, você me enviou vinte e três presentes, Harry, mas eu completei vinte e quatro anos. Você nem sequer se deu ao trabalho de lembrar quantos anos eu tenho e ainda diz que sou importante para você?
Ele sorriu, sua mão foi até o bolso e de lá tirou uma pequena caixinha.
— Este era o último presente, eu ia deixar na sua porta e ir embora, mas, por algum motivo, você apareceu.
Olhei para a caixinha nas mãos dele, uma onda de emoções esmagou o pouco de controle que eu ainda tinha.
— Por que não mandou junto com os outros? Por que precisa transformar isso num espetáculo?
— Porque... Esse é especial.
As palavras dele me atingiram com força, meu peito se apertou, a dor era quase insuportável.
— Eu... eu não entendo você, Harry. — Minha garganta apertada de dor. — O que espera que eu faça com tudo isso?
— Aurora, eu só queria que você fosse feliz hoje. Que, por um dia, você se sentisse especial, porque você é. Mesmo que a gente... Mesmo que tudo tenha sido tão complicado. Eu só queria fazer isso por você.
— E eu deveria ser grata por isso? — A cada palavra, sentia o gosto amargo da exaustão. — Por você entrar e sair da minha vida quando quer, por me deixar aos pedaços e depois voltar com esses gestos vazios? Eu não aguento mais isso, Harry. — Ele tentou dar outro passo, mas levantei a mão, parando-o. — Por que você continua fazendo isso? Eu já deixei claro que não quero você na minha vida. Por que insiste em cumprir essa promessa idiota, uma promessa que eu nunca te pedi para fazer? Eu não quero isso! Eu não quero mais nada com você. — Ele ficou em silêncio, me observando. — Por que você não consegue me deixar ir? — Continuei, a voz quase um sussurro. — Era só fingir que nada aconteceu. Por que tem que complicar tudo? Por que não pode simplesmente me deixar em paz?
— Aurora, eu realmente não esperava te encontrar aqui. Eu... eu só vim pra deixar o presente e ir embora. Não era minha intenção trazer mais dor pra você. — Sua se tornou um sussurro. — Tudo o que eu fiz foi porque queria te ver sorrir, mesmo que de longe. Eu sei que você tem motivos pra me odiar, sei que tudo o que fiz até agora só te magoou, eu sei o que isso custou pra você e pra mim também, mas eu nunca quis te ver assim, nunca quis que você sofresse. Hoje, eu só queria sentir que fiz algo bom por você, Aurora. Mesmo que você nunca me perdoe, só hoje... será que a gente pode esquecer tudo? Só por um instante? Porque, mesmo que você me odeie amanhã, eu não quero que seu aniversário termine assim, com tanta mágoa entre nós.
De repente, ele deu um passo à frente, antes que eu pudesse reagir, seus braços me envolveram, puxando-me para o seu peito, no instante em que Harry me puxou para aquele abraço, senti meu mundo parar. O calor do corpo dele contra o meu era como uma âncora, me mantendo firme quando tudo dentro de mim parecia estar prestes a desmoronar. Ele estava tão perto que eu conseguia sentir seu coração batendo rápido, cada pulsação ressoando dentro de mim, sua mão subiu até minha nuca, os dedos deslizando com uma ternura que doía, que me lembrava do quanto eu queria, desesperadamente, ficar ali.
Como eu poderia admitir que toda vez que toda vez que ele me abraçava tudo que eu queria era que ele nunca mais me soltasse.
Fechei os olhos, odiando a mim mesma por querer tanto aquele toque, por ainda amar alguém que tantas vezes me feriu, que tantas vezes me fez duvidar de mim mesma, mas eu não queria que ele me soltasse, eu me afundei naquele abraço, na familiaridade do seu perfume, na respiração que eu conhecia tão bem, eu queria que aquele momento durasse para sempre.
Sua mão subiu, deslizando até segurar meu rosto, eu não sabia ao certo se ele estava me segurando ou se era eu que precisava dele para não me desfazer ali mesmo, senti a testa dele se encostar na minha, os olhos fechados, as respirações em sincronia, eu sabia que, por mais que tentasse, não conseguiria desviar daquele momento. Minha garganta apertou, as palavras começaram a se formar antes que eu pudesse contê-las, cada sílaba carregando um pouco da verdade que estava sufocada dentro de mim.
— Harry... eu queria... eu queria te contar... Eu... Eu estou...
Como eu poderia dizer?
Como encontrar coragem para confessar algo que poderia mudar tudo entre nós?
Antes que eu me decidisse, senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, se misturando ao toque dele.
Uma parte de mim queria que ele entendesse, que ele percebesse o que eu carregava dentro de mim, que eu ainda tinha uma parte dele comigo, uma parte que, por mais que eu tentasse, não conseguia renunciar, mas eu tinha medo.
— Eu estou grata! Por isso… por tudo, Harry. — Era o máximo que eu consegui dizer.
Ele ergueu a mão, com um carinho quase insuportável, limpou minha lágrima com o polegar.
— Não era para você chorar, Aurora. — Sua voz estava suave, ele me segurou ainda mais firme. — Eu só queria que você tivesse um dia inesquecível, como eu prometi que faria.
Suas palavras me atravessaram, por um momento, senti uma felicidade estranha e dolorosa.
Ele ainda se importava, de alguma forma, ele ainda se importava.
— Mas eu estou feliz. — murmurei, sem saber se dizia aquilo para ele ou para mim mesma. — Hoje, aqui... Com você, eu estou feliz.
E era verdade.
Naquele abraço, naquele instante, eu conseguia acreditar nisso.
Ele ficou em silêncio por um tempo, eu senti o rosto dele se inclinar até nossos narizes se tocarem, eu sabia que aquele momento estava prestes a terminar, a dor disso era quase insuportável.
Harry inspirou fundo e me afastou um pouco, apenas o suficiente para olhar nos meus olhos.
— Eu preciso ir…
Eu queria pedir para ele ficar, queria dizer que poderíamos fazer dar certo, que talvez fosse possível, mas sabia que as palavras não viriam. Ele se afastou devagar, ainda segurando minha mão, como se também não quisesse deixar aquele instante se dissipar. Por um segundo, nossos dedos ficaram entrelaçados, ele me olhou uma última vez, seus olhos me segurando por mais um momento, então, ele soltou minha mão deixando a pequena caixa, se virou e foi embora.
Fiquei ali, sozinha, vendo-o desaparecer no corredor, com o vazio que me rasgava por dentro, um presente frio na minha mão e minha alma em pedaços
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Ameiii o imagine, confesso que não esperava ser tão surpreendente e por alguns segundos lendo, fiquei com medo por ela, e se não fosse ele?
Aiii muito obrigada pela ask!!! Ficou muito feliz que gostou 😍 esse realmente foi 😃 m desafio pq nunca tinha feito um assim antes.
Essa era minha intenção, ficar realmente essa dúvida kkkk que bom que consegui!!!!
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Pedido: vcs podem fazer um imagine com Harry onde eles saem pra jantar em público pela primeira vez
Harry acabou de chegar aqui em casa falando que vamos jantar, então estou aqui me arrumando pra sairmos
-Amor, o que vamos pedir pra comer na sua casa, o mesmo de sempre? - perguntei pro mesmo que estava jogado na minha cama
-Não, hoje vamos comer algo diferente -
-Serio, o que vamos comer? - perguntei animada
-Na verdade amor, você não precisa se preocupar, já esta tudo resolvido só esperando por nos -
-Ta bom então - falei voltando para o meu closet e escolhendo a roupa - Estou pronta -
-Então vamos - falou se levantando e pegando minha mão
Entramos no carro e logo começamos a conversar sobre assuntos aleatórios, em determinado momento do caminho comecei a pensar no meu relacionamento com o Harry, faz mais ou menos 5 meses que estamos juntos e ainda não saímos em publico, um pouco porque tenho medo do que vão falar de mim e um pouco porque Harry não quer me colocar nos holofotes maldosos da imprensa
-O que será que esta passando nessa cabecinha? - perguntou Harry sorrindo
-Estava pensando sobre a vida - falei sorrindo - Em como estou feliz ao seu lado -
-Eu também estou feliz ao seu lado - falou dando um selinho - E para mostrar isso hoje vamos jantar num restaurante de verdade -
-Como assim Harry? - perguntei nervosa e animada ao mesmo tempo
-Amor, estamos juntos a quase 6 meses já e nunca fomos em um restaurante de verdade - falou pegando minha mão - Sei que tem medo da exposição pra mídia e eu também, mais eu estou tão feliz que não quero esconder você do mundo -
-Tudo bem Harry - falei animada - Espero que suas fãs sejam pacientes comigo - falei e ambas rimos
-Eu te amo S/N - falou me beijando e saindo do carro pra abrir a porta pra mim - Vamos? -
-Eu também te amo Harry - falei pegando sua mão - Vamos -
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