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mishti era sem dúvidas a pessoa que atraia seu olhar em uma sala repleta de gente, mas até alguém tão bobo (e apaixonado) tinha suas fraquezas. no caso de kenny, seu filme favorito, que prendia sua atenção e fazia um bom trabalho em distraí-lo pelos próximos tantos minutos, conforme se permitia mergulhar no mundo fictício em que tudo acabava bem. não que ele pudesse exatamente se enxergar na história de uma garota que descobre ser a princesa de um pequeno país europeu antes mesmo de terminar o colégio, mas (e isso ele não falaria nem para a melhor amiga, pois sabia que beirava o ridículo) a maneira que a personagem excluída tivera uma espécie de glow up repentino e não soubera bem como lidar com a situação fazia um pouco de sentido para o sawyer. em especial toda aquela palhaçada dos populares fingindo serem seus amigos de repente. não era como se kenny odiasse ser bem tratado, mas tudo tinha um gosto meio agridoce. ainda acima disso, tudo parecia frágil demais. chegava a ser assustador. a verdade, que ele também guardava da amiga, era que vivia com medo de fazer algo errado e sua vida voltar ao inferno que um dia fora. afinal, ele nem sabia direito o que tinha feito para que parassem de atacá-lo! era como se a qualquer momento pudesse dar um passo errado e se tornar uma vez mais o alvo de toda aquela gente que agora parecia tentar agradá-lo. de verdade, não entendia o que mishti tanto via naquela galera.
perdido entre o filme e seus pensamentos, a cerveja descia com uma facilidade razoavelmente incomum, até o final do filme enfim espantar todos os pensamentos indesejáveis e permitir que kenneth focasse apenas na adoravel sensação de presenciar seu final feliz preferido. já tinha um grande sorriso no rosto quando a cena clássica começava: o pé da jovem subia, as luzes e fontes do jardim ligavam, e a música romântica tocava. só tirou os olhos da tela quando ouviu a frase da amiga, a testa franzindo em confusão embora os lábios ainda estivessem repuxados em uma sombra do sorriso que estivera ali há segundos antes. “o que?” podia ser o álcool, mas achou graça. “ah, mas isso porque ninguém levanta o pé assim.” ele deu de ombros, terminando o conteúdo que tinha em mãos, muito embora não tivesse exatamente propriedade sobre o que falava. não era como se tivesse beijado antes. mas quando a mahajan prosseguiu, o tom risonho de sua expressão deu lugar ao de atenção, conforme esperava ela terminar sua linha de raciocínio. ficou em silêncio, o rosto geralmente tão expressivo parecia quase anestesiado, apenas observando a garota sob a luz fraca da tela em que os créditos do filme passavam.
ele esperou a mais jovem terminar cada frase, mesmo que misturasse os assuntos. sabia que não funcionava interrompê-la. assim que a pausa veio, e pôde notar nos olhos escuros e enormes de outrem um brilho causado pela ansiedade de resposta, ele ergueu a mão esquerda, que já havia largado a lata de cerveja, e levou até o rosto da morena. a ponta dos dedos já não estavam mais geladas, tal qual o conteúdo da latinha que havia finalizado, e agora esbarrava na lateral do rosto alheio conforme colocava um pouco do cabelo da moça para trás das orelhas. mesmo com a pouca luz, conhecia aquele rosto como um mapa que havia decorado. “não devia.” ele concordou, primeiro. ignoraria a frase que ela disse sobre ele. sempre ignorava. talvez fosse a dinâmica menos saudável dos dois, talvez eventualmente eles precisassem ajustar aquilo; mas kenneth nunca se considerava um assunto importante quando mishti estava diante de si. e não se importava, de verdade “não devia mesmo, mas é. você é um furacão, mishti, sabe disso. como você espera que pessoas rasas encontrem nelas espaço pra alguém como você? você as destruiria.” e não havia um resquício sequer de julgamento em seu tom de voz, pelo contrário. havia plena admiração. “e eu nunca achei que ia ouvir, logo de você, uma coisa tão idiota” deu risada, com sinceridade. “ninguém te beijar? olha pra você! você é a menina mais bonita que eu conheço” ah, o álcool e a sinceridade que o acompanhava! de repente, kenneth pôde sentir as bochechas pegarem fogo, e sequer havia sido pela sua fala, mas porque, de repente, percebeu o quão perto estava da melhor amiga. e de como sua mão ainda estava em seu rosto, como se tivesse vida própria, acariciando a bochecha da garota.
kimberly channing era uma garota muito bonita, e beirava até o suportável, considerando que outras de seu grupo sabiam ser terríveis. a loira não chegava a ser maldosa, só era chata. e que não o entendessem mal: nada tinha contra vaidade, ou assuntos femininos, ou qualquer comum motivo para um garoto da sua idade julgar o sexo alheio. ele afinal tinha irmãs o suficiente para não somente estar acostumado, como imerso naquele mundo (até demais, dizia seu pai). e mishti, ha, era uma das garotas mais vaidosas, fofoqueiras, e qualquer outro estereótipo feminino que conhecia. o ponto era que kimberly era sem graça. sem sal. mishti podia gastar o mesmo tempo que a moça em frente ao espelho, se importar com fofocas de celebridades tanto quanto ela e ter se arrumado para o baile por longas horas tal qual a jovem popular. mas sua amiga era algo além. mahajan era uma força da natureza. sempre curiosa, sempre agitada, sempre esperta. faminta. faminta por atenção, faminta por conhecimento, faminto por sucesso. faminta por conquistar o mundo. e kenneth não tinha dúvidas de que o faria. havia começado muito bem, conquistando o loiro por completo. então sim, kimberly channing era uma garota muito bonita, e alguns de seus colegas se perguntariam como ele tinha coragem de abandonar a mais cobiçada jovem da escola. mas ele sequer precisou pensar muito para estar ali. era simplesmente óbvio. queria estar junto dela. a risada de mishti, contrastando com as lágrimas que caiam dos grandes olhos brilhantes e úmidos, deixavam claro que havia escolhido o certo. "é, eu sou mesmo um cara incrível" concordou, em tom brincalhão. era o único tom capaz de sair em palavras tão positivas dedicadas a si mesmo. kenny era um rapaz maravilhoso e um ótimo amigo, mas deixava a desejar no quesito confiança. tanto que se retraiu imediatamente ao ouvir a aposta alheia sobre quem seria o rei do baile. ha! até parecia que ele poderia ocupar tal cargo (por mais irrelevante que fosse na vida real, longe do reino do ensino médio). era engraçado. kenneth nunca havia desejado ser bonito. havia sim desejado caber em suficientes padrões para que aqueles que atormentavam seus dias o deixassem em paz, mas nunca havia almejando tanto mais que isso. ser popular, então? menos ainda. se via, porém, desejando ser o mais bonito para alguém.
alguém que estava chorando por não ter ido ao baile com logan marshall.
espantou o pensamento o mais breve que pôde, enciumado. até desejou que naquela noite, seu nome fosse anunciado como primeiro colocado pela coroa. apenas para roubar algo daquele que parecia ter roubado algo seu. sorriu sozinho, em resposta aos pensamentos. seu? ela não havia se arrumado para ele. que bobagem.
"bem, o básico funcionou muito bem." concordou por fim, receoso em perder a linha de suas palavras. queria dizer que ela estava sensacional. não, que ela era sensacional. apertou os lábios um contra o outro, como se houvesse real perigo das palavras lhe escaparem, rebeldes. é, precisaria se distrair com as cervejas logo. "titanic é um clássico!" argumentou, falsamente ofendido, e deixou-se ser puxado casa a dentro. já conhecia bem a casa para andar sozinho, mas não fez menção de soltar a mão macia da sua. no quarto, não tardou a focar na procura por um filme e acabou encontrando o que julgou uma ótima opção. e nada, nadinha intencional. após colocar o DVD no aparelho, tirou o paletó e jogou na cama da garota, sentando-se ao lado dela em seguida ali no chão mesmo, enquanto os créditos iniciais de Diário da Princesa começavam. abriu duas latinhas de cerveja, entregando uma a ela, com um sorriso de quem havia acabado de chegar em uma festa, e não saído de uma. “pronto. algo mais alegre, para a princesa”
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The sexual tension of Daisy getting changed in another room with the door open.
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não dar atenção. não ligar. não olhar. tyler repetia os curtos mantras à medida que callisto se aproximava com o imbecil para perto de onde ele e vanessa estavam – ela, orgulhosamente tratando-o como se fosse um marido de anos, levando em consideração a cordialidade e os sorrisos elegantes que distribuía aos vários futuros gênios sociais formados pela UCLA. sabia que nessa não estava agarrada em seu braço porque gostava muito dele; apesar de não negar que conseguia perceber interesse nos olhos castanhos toda vez que os sentia sob seu corpo, mesmo tyler entendia que ele não era o rapaz mais academicamente inteligente daquela sala. o que ele tinha era status, e isso vanessa poderia tirar muito proveito um pouco além de seu físico. estava tudo bem pra ele, desde que ela o mantivesse entretido, assim como mantivesse callisto entretida também. apesar da inteligente e excelente stainfield estar aproveitando um dia de imperadora com a estrela do time de basquete, ela era esperta o suficiente para entender a troca, então a despeito da surpresa inicial, mesmo a inocência de tyler foi consumida pelo ciúme em relação à callaway e pela prática da manipulação quando os braços finos da morena passaram por seus ombros, prendendo-o em um abraço quando o grupo se afastou. tyler tinha os olhos preenchidos pela existência de callisto e todo o afeto dedicado ao desgraçado que a acompanhava, então a única maneira que a presidente do conselho estudantil teve para evitar que o mccoy acabasse com a festa do casal recém chegado de uma forma infantil e constrangedora fora abraçá-lo. "você pode fazer o que quiser lá fora, mas enquanto estiver aqui comigo, mantenha-se na linha. pelo menos por hoje, você é meu, então não olhe pra ela. ou, se olhar, não perca pra ela." as palavras frias de vanessa ao ouvido de ty ditas com o sorriso cordial de sempre enquanto ele inclinava-se um pouco rente à curvatura do pescoço dela fizeram com que o trato finalmente verbalizado com vanessa o auxiliasse a não perder a cabeça e fazer besteira por puro ciúmes.
o toque no braço dele, os dedos encostando no rosto dele, a boca carnuda selando a pele que não era a sua. tyler acompanhara vividamente o menor dos movimentos, mesmo quando os olhos se encontraram com os castanhos da morena. as palavras de nessa fizeram sentido no momento em que aqueles olhos o desafiaram, com uma beleza e um brilho perverso que callisto era detentora por todo o corpo e que ele gostava, no fundo. não deixara de encará-la, mas os braços fortes também rodearam a cintura da stainfield, lenta e possessivamente, como se o perfume da mulher o envolvesse e o inebriasse tal qual fazia o de callisto quando estavam juntos. não fazia, mas queria que callisto entendesse aquele recado como sim, que faria, mesmo não sendo o dela. vanessa aproveitava a altura dos saltos para apertá-lo mais um pouco num carinho que não lhe era muito natural por ser uma pessoa mais discreta e conservadora e, quando percebeu o nariz de tyler encostando em seu pescoço, o leve arrepio que aquela atuação trouxe em sua pele a fez virar o rosto em direção a lateral da cabeça dele, beijando próximo a sua nuca, de forma que callisto também enxergasse a devolução do gesto. o que poderia fazer? se não amava ele, amava o que ele representava ali. tyler poderia não olhar pra ela da mesma forma que fazia com a callaway agora, mas seria bastante interessante – e divertido! – vê-la entender que perdeu. estava de saco cheio daquela vaca toda cheia de si o tempo inteiro. por outro lado, apesar de vanessa ser uma das maiores beldades do campus com a beleza delicada à mostra aos muito interessados, tudo o que podia pensar agora era que, há duas semanas atrás, quem sentia a maciez dos lábios de callisto era ele e, agora, mesmo sendo ela a pessoa a acabar com tudo, o que mais desejava era ele próprio dar fim àquele circo que ela montara em sua frente, então não sabia quanto mais aquele teatrinho com vanessa poderia durar.
sendo filha de quem era, callisto entendia a importância da distância. distância emocional, para que não soubessem nunca o que ela estava sentindo. distância física, quando e como necessário (e a falta desta, também). mas principalmente, uma distância intangível, que acompanhava e garantia seu status. quase uma misticidade. quem era callisto? ninguém realmente sabia. um mistério ambulante, como se nem fosse real. aquilo que era mesmo importante para mantê-la no seu trono fictício. afinal, se achassem que ela era como qualquer ser humano, que graça teria? como atrairia o interesse alheio? não, ela sabia bem. o poder vinha com o distanciamento, uma ideia de que ela era algo tão complexo, superior e diferente que seria simplesmente inevitável se sentir instigado e curioso por sua existência. podiam odiá-la, podiam amá-la, admirá-la ou evitá-la: mas nunca se desinteressar. ela não passava despercebida, não era esquecida. e com toda a certeza do mundo, não seria tyler mccoy que a esqueceria assim, como se fosse uma garota qualquer que pouco tinha impacto em sua vida. fora ela mesma que tomara a decisão do término, e em seguida aparecido com outro acompanhante, mas se permitisse que tyler a dispensasse como se ela fosse facilmente superável, então todos que os assistiam pensariam o mesmo. veriam que a grande callisto callaway não era assim não irresístivel e poderosa. sim; era isso que utilizaria de desculpa para o enorme incômodo de ver a outra garota tão perto dele. não passava de uma mera decisão política! não tinha absolutamente nada a ver com o fato de que, no fim, tyler era mesmo a única pessoa que parecia apreciá-la até nas piores horas, e que ela apreciava de volta (muito embora não admitisse). não importava que ele tinha sido o único a vê-la chorar, o único a escutá-la falar em ocasionais momentos de fraqueza sobre seu pai. nem ligava que eram os braços dele que faziam com que ela dormisse tão tranquilamente a ponto de afastar os pesadelos repetidos com sua mãe. e quem se importava que o sorriso dele era radiante, e ficava meio torto quando ela o elogiava, descobrindo um gracioso resquício de timidez que o deixava ainda mais bonito? céus, tão irrelevante quanto a maneira que ele a rodopiava toda vez que ganhava um jogo, correndo diretamente na direção dela para comemorar como se não pudesse compartilhar sua alegria com qualquer outra pessoa além dela. e daí?
observou a forma como a garota atrevida agora se aproximava do pescoço do rapaz, corajosa a ponto de beijar o local. era piada, né? quem ela pensava que era? ah, callisto a destruiria assim que tivesse a oportunidade. e se não tivesse, criaria uma. mas seu foco não seria a garota, não naquela noite. podia pensar em formas de se vingar depois, porque naquela noite, tyler voltaria para ela. não foi calculada a maneira que apertou o copo vermelho em mãos, uma involuntária resposta do corpo ao ver a cena sem vergonha, mas o ato havia feito com que ela derrubasse bebida em si mesma. uma bobagem daquela poderia ser motivo de vergonha para qualquer ser humano normal com um ajustado senso das implicações de sociabilidade, mas ela não se abalara. olhou para o líquido claro em sua blusa nova, que deixava brilhante o excesso de pele bronzeada que estava à mostra de seu busto. george deu uma pequena risada com o feito, mas não havia deboche no tom, e ele prontamente se disponibilizou a ajudá-la com a bagunça. 'opa! temos um acidente' o rapaz disse, em tom humorado de quem tenta suavizar a situação, incapaz de impedir que os olhos fossem de imediato ao decote molhado que em momentos normais já não era discreto, mas agora, com a camisa clara grudada na pele, ficava ainda mais chamativo. "nossa! estou toda molhada."
"sou tão desastrada" ela disse, sua confiança inabalável diante do acontecido, proferindo a mentira. ela não era desastrada, muito embora o ato não houvesse sido intencional desde o início. instável, imatura e impulsiva, sim. desastrada, não tanto. "pode me ajudar?" perguntou, manhosa, e george olhou em volta em busca de papel. claro, não havia nenhum guardanapo por ali. festas de fraternidade não eram muito bem conhecidas por sua exímia preparação, tanto quanto pela insalubridade. em um timing mais perfeito do que se ela mesma houvesse planejado, george a surpreendeu tirando a própria camisa (não era como se fosse ser o único por ali descamisado), com um sorriso safado, exibindo o físico atraente. ele sabia aproveitar oportunidades, fez uma nota mental daquele detalhe. sem pudor algum, usou o pano de sua camiseta para tentar enxugar a pele alheia, uma desculpa óbvia para tocar em seu decote. "acho que assim não vai funcionar tão bem. melhor tirar isso e me limpar. acha que eles têm um chuveiro por aqui?" distância. aquele, por exemplo, era um momento em que a falta dela faria o papel mais importante. estava tão perto de george que mal podia ver tyler por cima de seu ombro, ainda que imaginasse suas feições diante da cena que beirava o pornográfico. e tão perto de tyler que ele com certeza havia escutado a proposta indecente feita em tom malicioso. "vamos" pegou a mão de george, caminhando - devagar - em busca de um dos quartos, passando na frente do casalzinho, olhando para vanessa enquanto passava. não dizia nada, mas seu olhar comunicava tudo à outra garota. 'assista como você não passa de um personagem secundário no meu mundo. veja o quão pouco você importa para o meu tyler'.
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quase todos os resmungos da morena foram simplesmente deixados de lado por aslan enquanto acompanhava a graciosidade da existência dela. não que os deixasse de ouvir completamente – afinal, já havia entendido muito bem que quase lhe provocara um infarto agindo como um babaca sem senso social, e que agora o adorável rosto dela estava vermelho como uma maçã em meio à neve da pele e dos arredores –, mas ele não conseguia vê-los como um mau começo, porque traçara como novo objetivo transformar aqueles minutos de interação em quanto tempo pudesse passar com ela, apenas pra permanecer em sua presença. o kent não tinha grandes pretensões ou intenções maldosas, ele só não queria deixar de olhá-la, como qualquer ser humano que encontra e admira algo belo na natureza. “não vamos deixá-lo preso. só precisamos de... um plano um pouco mais elaborado pra não corrermos riscos.” comentou, aos poucos prestando um pouco mais de atenção no ambiente em si ao retor da mulher. ela provavelmente estava fazendo o que seu instinto bem feitor estava mandando, coisa que de certa forma o encantava. ninguém de dentro daquele salão se sujeitaria a fazer o mesmo por um animal “sujo e perigoso”. certamente se somente trevor seria um que faria uma grande careta de nojo, então esperava o pior dos outros.
“perdão pelo susto. eu só achei... peculiar. não é todo dia que a gente vê uma mulher tentando pular um muro enquanto fala sozinha.” comentou, com as sobrancelhas levemente arqueadas. “muito embora agora eu saiba que você estava falando especificamente com alguém. ou algo, não sei como colocamos a existência do nosso novo amigo. enfim, não resisti.” assim como também não evitou o curvar de lábios. não quando toda a indignação perdia espaço para o riso e os sorrisos dela. provavelmente eram capazes de deixar qualquer um sonhando acordado o tempo todo ou de fazer qualquer ser humano dormir feliz pensando neles. ele acompanhou a movimentação dela, não só percebendo a diferença da altura, mas também a silhueta quase desprotegida para uma noite fria como aquela. os pés descalços embranqueciam ainda mais com o frio do orvalho molhado e gelado da grama, que se molhavam o couro de suas botas pretas, provavelmente congelavam as solas desnudas. “se o que quer é sair, então o faremos. precisamos acabar logo com isso, gwen.” comentou, um tanto preocupado. por mais que estivessem fugindo dali, devia levá-la pra um lugar quente, no mínimo.
imaginou que a inocência andaria de mãos dadas com a imprudência milhares de vezes, e agora, ela havia sido capaz de confirmar suas hipóteses. “eu-...” teria se apresentado se não fosse a participação do guaxinim na conversa. aslan olhou em direção ao chiado, apertando os lábios um contra o outro. precisava resolver aquilo rapidamente. voltou a olhar pra ela ao que a acompanhava dividir sua ideia. certamente não seria um problema fazê-lo, mas não queria que ela o fizesse sozinha, ainda mais vestida daquela forma. quase cedera por ser o que a morena desejava fazer, mas queria e precisava achar outra forma para poupá-la de riscos maiores. expirou, passando a mão pelo cabelo ao olhar para o muro, e depois para os arredores, como se pudesse encontrar algo que os ajudasse. a expressão até mudou quando identificou o portão para o outro lado a alguns metros de distância, se sentindo um imbecil. a encarou novamente, deduzindo que o frio e o impulso realmente mexiam com a cabeça das pessoas. “me dê a mão e desça daí. eu acho que tenho uma ideia melhor.” ele riu baixo, não aguentando. assim que ela o fez, mesmo que confusa, ajudou-a a calçar os sapatos – deus, ela deveria estar morrendo de frio. a frustração o fez virar-se de costas, abaixando-se o suficiente para que ela subisse por trás de seu corpo. “suba.” indicou. pelo menos, suas costas estariam quentes.
quando sentiu os braços finos envolverem seu pescoço, ajustou-a e segurou-a pela parte de trás dos joelhos, caminhando por alguns metros até que chegassem em frente ao portão. “ainda bem que eu vi o portão. por alguns segundos, eu realmente cogitei a ideia de embarcar nessa loucura de pular o muro com você.” comentou divertido enquanto abria o portão com uma das mãos, curvando-se um pouco mais para frente de forma que ela se mantivesse segura em suas costas. “aposto que esses seu olhar firme e brilhante é capaz de convencer um monte de gente a fazer o que você quer, gwendolyn.” a observação parecera pretensiosa, mas o fizera apenas para provocá-la. aslan andou por mais alguns metros com a morena, de modo que ela não precisasse pisar no chão enquanto estivesse segura agarrada em seu pescoço. e ele, bem, de forma alguma reclamaria. o cabelo dela cheirava a algo gostoso e doce que nem mesmo conseguira identificar. ao chegar em frente ao acidente florestal no meio a seattle, viu o guaxinim mover-se assustado e chiar ainda mais. fazia anos que não desativava uma armadilha. o pai costumava fazê-lo na área mais rural de onde moravam, sempre arranjando encrenca com os vizinhos. “deve ter alguma mecanismo simples de destrava. eu vou tentar soltá-lo devagar. se você tiver habilidades igual às das princesas da disney que falam com animais pra acalmá-los, esse é o momento de usar gwen. é sua hora de brilhar.” o mais alto brincou, soltando-a de suas costas aos poucos, para que ela se equilibrasse na grama com o salto. retirou o paletó e o casaco quente que usava e colocou-os por cima dos ombros femininos. “preciso que você não sofra de hipotermia por agora. agradeceria se fizesse isso por mim.” sorriu breve, ajustando-o sobre o corpo dela ao fechá-lo, silenciosamente pedindo para que ela segurasse as peças assim, de forma que tapassem a parte da frente de seu corpo. serviria por agora.
iniciou a movimentação de dar a volta para trás do guaxinim, mas o pequeno animal se debatia e o acompanhava. talvez o ganhasse no cansaço. arregaçou as mangas da camisa, tentando achar um jeito de soltá-lo sem despertar seu medo. ou o animal o morderia quando tentasse soltá-lo, ou se esquivaria pra fugir e se machucaria mais. aslan precisava ser rápido e muito certeiro no destrave. “aquilo parece um botão, não?” comentou, pedindo pra ela observar a elevação redonda. “é uma armadilha sem dentes por ser menor e feita pra animais pequenos, então ela só prende e pressiona forte. provavelmente faz doer, mas não como aquelas que cravam e ferem animais maiores e mais fortes.” como se isso fosse tranquiliza-la, aslan soltou a informação, imaginando que uma movimentação maior do animal o faria fazer mais barulho pelo forte incômodo. “eu vou tentar, tome cuidado pra deixar o caminho dele livre, ok?”
o olhar escapou na direção do animal indefeso (que agora o muro cobria) em um instinto assim que o rapaz mencionou que poderiam ajudá-lo de alguma forma menos arriscada. idealmente, gwendolyn deveria apenas se retirar e retornar à festa, seguindo as instruções de sua mãe e sendo uma jovem adorável, educada e atraente o suficiente para conquistar a mão de um ricaço. e ela até era adorável, educada e atraente, dependendo do ponto de vista. de um jeito ligeiramente caótico, e nada formal. não condenaria a maioria das mulheres daquele salão por terem sido moldadas de tais modos que as fizessem insuportáveis, mas não tinha a menor vontade de ser como elas. presas a seus maridos prepotentes, que acreditavam ter o mundo nas mãos apenas por conta dos zeros que tinham na conta. que não se davam conta de que a vida era muito mais que festas extravagantes, vestidos caros e viagens em iates exuberantes. claro que não era boba: dinheiro garantia muita tranquilidade e uma qualidade de vida inegável, caso fosse utilizado de modo esperto. mas mesmo as melhores escolas que o dinheiro pudessem pagar não pareciam ter ensinado o que de fato tem valor para aquela gente. o animal desesperado que agora se encontrava em uma minúscula caixa, por exemplo, era de certo mais rico que aquela gente. sabia, sem dúvida, que não havia preço na liberdade. e poderia ela permitir que ele perdesse a maior riqueza? não tinha, portanto, intenção alguma de ignorar os protestos do bichinho há alguns metros de si, muito menos para retornar àquela chatisse recheada de gente fútil que sua mãe tanto insistia em fazer parte. “tecnicamente, eu não estava falando sozinha” corrigiu, o tom de voz leve indicando que não falava tão sério. apontou com o polegar por cima de seu ombro, na mesma direção que olhara meros segundos antes. ela deu de ombros, sem pensar tanto sobre o assunto. “alguém” opinou. parecia fazer mais sentido do que ‘algo’, pelo menos.
a voz dele era bonita — muito bonita. pesada, mas suave. e pareceu ainda melhor pronunciando seu apelido. normalmente preferia o sotaque escocês ao americano, algo sobre como soavam as vogais mais fechadas para pronuncia-lo. mas… ele o fazia muito bem. desejou por um instante que o homem repetisse, apenas para aproveitar a sensação que lhe causara. se fosse um tiquinho só mais romântica, diria ser borboletas no estômago. o que pareceu se intensificar um pouco mais quando ele ofereceu a mão para ajudá-la a descer dali. que bobagem! parecia até uma adolescente. e se o corpo estava frio, o rosto aqueceu um pouco mais quando o moreno se dispôs a auxiliar com o calçado. não que fosse o mais grandioso ato, mas era uma gentileza não apenas bem vinda como não esperada de qualquer homem. não os daquela geração, pelo menos. gwen era tudo menos antiquada; já bastava sua mãe, mas foi inevitável apreciar o gesto. um pequeno riso escapou quando subiu nas costas alheia e foi erguida com facilidade, as pernas envolvendo a cintura larga do mais alto enquanto as partes desnudas de si agradeciam pela superfície quente. “você está quentinho” comentou, os músculos parecendo se encaixar bem demais ali, a ponto dos dizeres saírem praticamente como um ronronar no pé de seu ouvido. se aslan estava naquela festa, certamente era um dos ricaços daquele meio. sua mãe poderia não aprovar que ela estivesse assim tão prontamente tocando um rapaz desconhecido, mas tampouco reclamaria diante do que ele tivesse a oferecer. despistou o pensamento. não poderia se importar menos se ele era o dono do lugar, ou o jardineiro (embora estivesse pendendo a apostar no primeiro, devido às circunstâncias).
por mais despretensioso que pudesse soar o comentário feito com tanta naturalidade na voz por outrem, as palavras a lembraram brevemente de seu pai. ele sempre dissera que sabia que Gwen era sua filha no momento que vira os olhos da garotinha brilhando, ainda no orfanato. sorriu, uma sensação de familiaridade e conforto misturando-se com o estranhamento de se sentir assim com alguém que conhecera há segundos. ou, bem, nem ‘conhecera’ exatamente, já que não ouvira seu nome. “ah, você não…” disse seu nome, era como finalizaria a frase, se não tivesse se surpreendido com o caminhar dele na direção do portão que de repente parecia óbvio. “é claro” soltou, rindo de si mesma. pular o muro? que tonta! alguns metros a mais e ele a colocava no chão, a brincadeira sobre as princesas da Disney a fazendo rir. “gostaria de pensar que sim” devolveu, e antes que a atenção pudesse se dirigir devidamente ao animal encarcerado, o tecido pesado e quente estava sobre seus ombros. teria dito que não era necessário, se não fosse uma mentira tão descabida que nem conseguira pronunciar. ah! como era bom não morrer de frio!! quase havia esquecido. claro que estava acostumado com o inverno pesado, mas o seu vestido era pouco mais que totalmente impróprio para aquela temperatura.
quando o moreno agachou na frente da armadilha, ela ainda tivera dificuldade para desviar os olhos de sua figura. os sons desesperados do guaxinim no entanto forçaram sua atenção, e ela logo se aproximou também. “psiu, calma” sussurrou para ele, como se de fato soubesse se comunicar com o reino animal tal qual sugerido há instantes. bateu as unhas de leve no metal, fazendo um som que chamara atenção do guaxinim, e voltando a falar. “tá tudo bem, a gente vai te tirar daí. bi sàmhsck” pediu, as palavras ‘fique quieto’ no gaélico escocês que tanto ouvira no orfanato pronunciado sem nem perceber. estava longe de falar a língua antiga, mas algumas frases haviam se fixado na mente da jovem. duvidava que fossem os efeitos de suas palavras, mas o animalzinho de fato diminuiu um pouco o barulho, intercalando os ruídos com olhares curiosos para ambos os humanos que o ajudavam. “ok” concordou, afastando-se um pouco para dar espaço ao animal, aguardando a liberação do mesmo. tão logo que a armadilha foi desfeita, o guaxinim não perdeu tempo, correndo para longe. pareceu mancar um pouco, ferido, mas ao menos estava livre. era uma pena que não pudesse levá-lo para casa, para garantir que se recuperasse de alguma eventual lesão, mas duvidaria que o bichinho selvagem gostasse daquilo. bem, o tempo curaria. só esperava que ele se mantivesse longe dali. “aha!!” comemorou, erguendo-se e seguindo com os olhos o caminho feito pelo animal. “tadinho. ele pareceu machucado.” observou, o canto do lábio contraído. “que ideia terrível. esse monte de armadilha! não é culpa dele que resolveram fazer uma casa bem no meio da floresta” resmungou, repentinamente irritada, como se estivesse pessoalmente ofendida pela presença da enorme mansão. “obrigada. pela ajuda. e pelo casaco. devia ter imaginado que teria um portão” riu de si mesma. se fosse um pouco menos impulsiva, talvez tivesse explorado por ali antes da brilhante ideia de pular um muro. “você parece um pouco menos perdido do que eu. já veio aqui antes?”
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racional e fria eram provavelmente os últimos adjetivos a serem utilizados para descrever gwendolyn, sempre impulsiva, sensível, enérgica. mas muito embora seu temperamento fosse colérico, tinha aprendido a se controlar o máximo possível para não explodir por aí e respingar em quem não merecia. no final, tampouco era alguém que carregava energias pesadas; tendendo sempre a enxergar a vida com positividade e leveza dentro do possível. podiam, porém, culpá-la por ter chegado à exaustão, perdendo o controle enfim? a pessoa mais importante de sua vida definhava em uma cama de hospital, dependente de um sacrifício seu tamanho que a fazia sentir mal quando considerava fazê-lo, e pior ainda quando pensava em se recusar. que direito tinha ela de brincar com a sorte da vida de seu pai, com todas as oportunidades de salvá-la ali tão perto? ao mesmo tempo, que direito tinha o universo de pedir tanto de si? trevor tentava muito perto de gwen. tentava ser cordial, cavalheiro, gentil. a enchia de presentes, de promessas, palavras bonitas. comentava, casualmente, como jamais aquela que fosse sua precisaria se preocupar com dinheiro. indicava uma vida de princesa, incluso o tratamento. ele era bom com gwendolyn, com sua família. parecia um velho amigo toda vez que falava com seu pai, e um querido afilhado ao dirigir a palavra à sua mãe. mas havia algo errado, e ela não sabia dizer exatamente o quê. não conseguia sentir o calor de suas ações, não acreditava inteiramente nas palavras bondosas. por vezes, trevor a olhava com um brilho de admiração que mais a fazia se sentir um prêmio, e não mulher.
ela não tinha motivos plausíveis, ao menos a olho nu, para dispensar alguém como ele. o pacote completo, muitos diziam. mas não importava; porque não eram os braços dele que queria em volta de si quando chorava com medo por seu pai. não era a voz dele que queria ouvir em palavras de apoio, e tampouco era para ele que queria correr quando algo - bom ou ruim - lhe acontecia. havia apenas um par de olhos dos quais ela gostava de receber atenção, dois lindos pares de olhos escuros e profundos, como um mar lindo e perigoso que apenas os mais corajosos eram capazes de desbravar. bem, talvez fosse esse o problema, no fim. talvez ela não fosse tão corajosa quanto gostava de pensar. não era corajosa o suficiente para abrir mão da própria felicidade sem pensar duas vezes para garantir o tratamento do pai, tampouco era corajosa o suficiente para tomar as rédeas de seu destino e optar por si mesma o que queria para seu futuro. estava em uma encruzilhada, esperando um sinal de aslan que a ajudasse a tomar a decisão certa. um empurrão, pois aparentemente não conseguia fazer aquilo sozinha. estaria ele partilhando do mesmo receio? ou seria simplesmente ela tão irrelevante que o durman sequer imaginava que tais questões existiam no âmago da moça? aslan era uma muralha, que nem mesmo as mãos delicadas e ágeis de gwendolyn eram capazes de adentrar. às vezes pensava encontrar uma fresta aqui e ali, mas essas tão logo eram fechadas uma vez mais.
conforme a água gelada caía em seu rosto, sentia a garganta doer, como quem tenta engolir algo grande demais. angústia demais, medo demais. raiva demais. era difícil não ter com quem falar, seu único confidente agora numa cama hospitalar. sentia que estava prestes a explodir, mesmo assim não permitiu uma lágrima sequer cair. as gotas na bochecha pálida eram unicamente da chuva, machucando a pele pela força e temperatura. respirou fundo, aproveitando a distração das sensações físicas e de como o desconforto pela chuva ao menos a impedia de pensar na confusão interior que parecia espalhar por cada pequeno espaço de si. então algo puxou sua mão, e muito embora fosse difícil enxergar com a chuva densa, sabia que era aslan. a voz que se seguiu, em tom alto brigando com o barulho da chuva, confirmou o que a familiaridade do toque alheio já havia indicado. "eu não vou ficar mal. é só uma chuva!" argumentou, como se não fosse uma tempestade terrível que em tempo faria sua temperatura corporal abaixar perigosamente. "nada. não aconteceu nada" será que ele não entendia que aquele era o problema? não acontecera nada. nenhuma melhora, nenhum milagre. nenhum príncipe encantado para salvá-la, como prometeram as histórias. nenhuma palavra certeira de aslan ao vê-la, nenhuma jura de amor como as que ela sonhava durante à noite. nada. apenas um dia a menos naquela caminhada lenta e torturante para o destino que ela tinha dificuldade de aceitar. relaxou os ombros; que a chuva a levasse. invejou a água que caía, livre para aparecer como bem entendia, feliz como uma garoa de verão ou irritada como uma tempestade no inverno. capaz de passear pela terra, alimentar a vida, e depois retornar ao lar para recomeçar quando e como bem entendesse. invejou sua força. a chuva era consequencial, gwen era consequência.
assim que aslan insistiu outra vez para que ela voltasse ao carro, percebeu que quanto mais se demorasse, pior seria para ele. desistiu de brigar, sendo levada por ele até o automóvel. dentro do carro, tomou a dolorosa consciência de sua escolha diante do frio que parecia até se agravar ao sair da chuva torrencial. ainda sim, pareciam ter passado apenas poucos segundos até que o rapaz retornasse, talvez porque o corpo tremia tanto que era incapaz de pensar demais sobre qualquer coisa, inclusivo o tempo. não mentiria; era um alívio se ver livre da própria mente, mesmo às custas do físico. só não queria ter envolvido aslan na sua loucura temporária, muito embora ele fosse parcialmente culpado pela jovem estar naquela situação. foi impossível não sentir um pouco de vergonha quando, já dentro da cabana, as mãos grandes do homem encontraram o tecido encharcado na cintura larga, naquela pose acusatória, indagando uma vez mais o que diabos tinha de errado com ela. vamos, gwen. diga! diga de uma vez o que passa na sua cabeça. grite seus medos, explique suas vontades. exija dele o que tanto quer. não. ela não faria. como poderia? não era seu lugar cobrar algo que não lhe era oferecido de bom grado. aslan não a queria, e ela tinha que aceitar e lidar com seus próprios problemas sem culpá-lo por não partilhar de um sentimento que não era obrigação. gwendolyn sempre tinha algo a dizer, mesmo quando não devia. ficar quieta costumava beirar o impossível - e ainda sim, pareceu a única saída. não confiava em si mesma para dizer a coisa certa, e tinha medo de dizer a errada. não diria nada, então. por sorte, aslan desistiu de pressionar por respostas e em pouco tempo se encontrava no modo redução de danos, resolvendo toda aquela situação. assentiu à ordem de tirar as vestes molhadas, devagar compreendendo a proporção das suas escolhas. estavam no meio do nada, naquela chuva, incapazes de voltar para casa com o carro atolado pelo caminho errado que ela insistiu em escolher. estavam com poucas opções de roupa porque ela havia esquecido sua mala, e molhados porque ela havia decidido correr na chuva. tirou o casaco longo do corpo, que sequer havia sido capaz de protegê-la do ar condicionado do hospital, revelando o vestido que outrora fora uma bonita cor creme, mas que agora parecia algo meio cinza, grudado na pele. não que ela estivesse terrível, na verdade. o vestido longo, de tecido leve, grudava na figura esguia como uma daquelas vestes talhadas em mármore em estátuas antigas.
antes de ser capaz de notar a própria situação, os olhos acompanharam conforme aslan ficava apenas com a regata molhada, perdida por alguns instantes naquela visão. trevor era muito bonito e gastava tempo demais na academia, que justificavam os músculos definidos que exibia por aí. mas aslan? céus. os braços grandes eram maiores que seu pescoço, davam a impressão de conseguirem partir lenha no meio apenas com um pequeno esforço. o peitoral grande estava pouco escondido através do tecido branco, e a jovem sentiu o ar lhe escapar. trevor era um pouco mais esguio, mais magro, e se alguém lhe perguntasse, gwendolyn preferiria o físico de duman mil vezes. piscou um par de vezes assim que ele direcionou a palavra a si, tentando se concentrar. até havia esquecido que estava sim irritada com ele. “está bem” concordou finalmente, indo até a mala que estava perto dele, escolhendo a camisa de manga cumprida e arriscando também o par de meias, já que uma calça dele jamais serviria nela. olhou em volta, reparando que não tinha exatamente algum lugar para se trocar. “eu… ahm…” apontou para um canto, do lado oposto da fogueira, indicando que se trocaria ali enquanto ele mexia no fogo, consequentemente de costas. “ah! pode só…?” virou-se de costas, tirando os fios úmidos das costas para que ele pudesse abrir o fecho com laço nas costas, que se assemelhava ao de um corset.
ainda de costas, conforme a mão surpreendentemente quente dele lhe esbarrava a pele fria conforme desfazia os nós, umedeceu os lábios avermelhados, antes de abri-los para que a voz saísse baixa. “desculpe. por gritar com você, por fazer a gente se perder, e por sair na chuva daquele jeito” era mais fácil admitir estar errada de costas, sem precisar olhar nos olhos qualquer resquício de decepção ou irritação.
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talvez se matthew tivesse avisado sobre o quão absurdamente bonita era sua mãe, não teria precisado insistir tanto para aquele jantar; chegou a pensar em resposta a fala alheia. “comentou sobre como pode ser… insistente” admitiu, embora a palavra utilizada pelo amigo havia sido ‘teimosa’, na maioria das vezes. billy também era. chegou a esboçar um sorriso breve, achando graça na instintiva busca por semelhança entre eles. em que afinal poderia parecer com alguém como christine? tão elegante. não precisava de muito para apostar que crescera em condições muito melhores que a dele, capaz de moldar uma mais adequada personalidade. enquanto se destacava pela força e rusticidade, a mais velha se destacava pela graciosidade e imponência. suficiente dizer que vinham de mundos diferentes, e eram raros os pequenos momentos em que estes convergiam, como aquele jantar tão pouco habitual. parecia até um tipo de afronta ao universo, que tão cuidadosamente separava aqueles tipos de pessoas. amizades como a de billy e matt pareciam desafiar a ordem natural das coisas, às vezes. apenas não tanto porque o pouco que faltava para o garoto, era justamente o que sobrava para william. e se podia transformar as consequências de tanta coisa negativa em sua vida em algo bom para alguém, ora, por que não? ao menos a impaciência e agressividade estavam, de alguma maneira, sendo usados para o bem. era melhor que deixar tudo aquilo apodrecer dentro de si, guardado a sete chaves apenas para acabar consigo aos poucos. como, apostaria, havia acontecido com os pais.
não que a vida de matthew parecesse perfeita também. sabia, muito por cima, que o pai do rapaz não era lá o melhor. e muito embora christine aparentasse ser incrível, sabia pelos relatos de matt que vez ou outra pecava por sufocar. billy tendia a ouvir as lamentações do amigo em silêncio (como era de sua preferência em qualquer situação), mas a verdade era que sentia vontade de chacoalha-lo vez ou outra, mostrar o quão ruim sua vida poderia ser. se fosse uma vez só até seu trailer, ah, voltaria para casa sem uma só reclamação. se conhecesse a mãe de william, apreciaria cada tentativa de christine de se envolver em sua vida. e se vivesse uma semana com seu pai? ah, até o almofadinha dono daquela mansão pareceria um pouco menos sofrível. mas escolhia toda vez o silêncio — salvo uma ou outra palavra amiga, algum conselho pontual.
“com certeza não negaria a posição.” as palavras saiam com facilidade incomum, não porque ele tinha pouca desenvoltura, mas porque costumava pensar muito antes de falar. ao menos quando o sangue estava frio. bom, verdade fosse dita, não havia nada frio no rapaz desde o momento em que os olhos pousaram na mulher que falava tão agradavelmente o nome que ele tanto odiava. “se tivesse te conhecido antes, aposto que meu treinador ficaria feliz em me ver ganhar uns quilos assim fácil” aquela frase sim o surpreendera, de fato. não apenas pelo tom íntimo pouco usado até mesmo com o melhor amigo, mas por ter mencionado a época do boxe com tanta tranquilidade. como se, muito embora soubesse com cada fibra do seu ser que ele não era mais do que o amigo esfarrapado do filho dela, queria de repente falar sobre si, porque queria que ela quisesse saber. tão logo racionalizou o próprio comportamento; ora essa, mesmo na remota chance de parecer interessante, o que diria? contaria como perdeu tantas oportunidades com a lesão no ombro, por treinar até à exaustão sem nutrição decente? e que por consequência precisou deixar o esporte e trabalhar como um condenado? ah! e por que não adicionar a cereja no bolo, e falar logo como utiliza os conhecimentos dessa época para um dinheiro extra? melhor ficar quieto. era sempre melhor assim.
“não, não se desculpe. é só…” encolheu os ombros em um breve movimento, quase inexistente. “boas intenções nem sempre são suficientes” tentou explicar. nenhum dos dois ali encararia com maus olhos uma ajuda da mulher, mas não queria dizer que atenuaria as consequências. “é difícil. tanto de fora quanto de dentro da situação, é difícil não se ter muito o que fazer.” concordou, lançando um olhar rápido para o amigo, simplesmente porque pareceu consciente demais de que a conversa desenrolava fácil entre os dois e talvez o mais novo pudesse se incomodar. até porque ele era o tópico, de certo modo. “no fim, acho que é com o que mais precisamos aprender a lidar. impotência” observou, pensativo por meio instante. não queria dizer aceitar, apenas… aprender os possíveis meios de se evitar a impotência. afinal, tanto da própria vida era consequência dos outros. tomar as rédeas à força foi tanto uma escolha independente quanto uma obrigação imposta pela vida. as vezes se perguntava se o universo se deleitava ao vê-lo lutar pela própria sobrevivência. só percebeu que sua frase poderia ser mal interpretada segundos depois, enquanto o amigo respondia a própria mãe para que cortasse o assunto. billy franziu a testa. não queria que parecesse dizer a ela que superasse aquilo, como quem diz ‘a vida é dura, lide com isso’. abriu a boca para dizer algo, mas não soube bem o que dizer. poderia apenas esperar que ela tivesse interpretado como ele queria.
“é, isso é” concordou, inevitavelmente feliz com a forma positiva que ela via sua situação. não que a soubesse por completo, mas normalmente recebia olhares menos animados quando dizia ser mecânico. as vezes o olhavam com pena, outras com desprezo, algumas pareciam dizer ‘calma, logo melhora’, como se ele dissesse ter algum tipo de doença. claro que buscava algo melhor para si, mas gostava de mexer com carros. sabia fazer aquilo muito bem, gostava de ver as peças se encaixando, a forma que a máquina tem tudo tão perfeitamente desenhado, de forma que só funciona se até a mais aparentemente insignificante peça está no lugar. na mecânica, até mesmo um pequeno parafuso tem grande importância. gostava daquilo. mas odiava depender do bom senso alheio para reconhecer sua profissão como algo tão digno quanto ele sabia que era. “sabe, acabaram de demitir um assistente na oficina” comentou, um sorriso brincalhão no rosto, porque não imaginava matthew trabalhando ali. não se oporia a ensinar, se ele quisesse, mas ele não precisava. era só olhar para o tamanho da sua casa, e ficava óbvio que o rapaz poderia terminar tranquilamente a faculdade sem nem tentar um emprego antes do diploma. aceitou o vinho que ele não saberia pronunciar, mesmo não sendo sua bebida favorita, e então as sobrancelhas grossas se arquearam diante do comentário sobre suas notas. “foram boas sim. eu acho” ele sabia. “gosto de desenhar. digo, desenho técnico, gostava da matéria” se enrolou um pouco, sentindo uma leve falta de jeito ao mencionar como gostava de desenhar. que era aquilo, uma apresentação sobre seus gostos? já tinha feito, no entanto, notas mentais sobre certos traços do rosto da mulher que certamente apareceriam em papéis brancos nos próximos dias.
a fala seguinte de christine o pegou desprevenido; mais do que o convite, mais ate do que a sua inesperada beleza. especial? ela achava que ele tinha algo especial? diferente, ok. ele já tinha escutado aquilo. talentoso com os desenhos, também. do tipo que chama atenção, até isso não era lá a primeira vez que lhe diziam. mas especial? procurou uma nota de provocação, de ironia, ou até de inocência. talvez ela só fosse alguém gentil e positiva demais, capaz de esperar o melhor de todos. mas… nao. ela não parecia ingênua. a fala de matthew confirmou de certo modo sua opinião. christine falava com certeza de quem sabia o que dizia. billy duvidou, mas nunca havia chegado tão perto de querer acreditar. sorriu um sorriso esquisito, sem jeito. desejou com igual intensidade que a mulher continuasse e parasse de falar daquele jeito. com algum esforço, transformou o sorriso torto em um riso educado diante da piada dos cristais, esperando que o foco do assunto deixasse de ser ele de uma vez. “advogada” repetiu, interessado. mas sinceramente, teria se interessado até se ela tivesse admitido ser sim a doida dos cristais. ouviria christine falar sobre turmalinas e ametistas por horas, se assim quisesse. mas advogada? “você parece bacana demais para ser advogada” comentou, com a voz divertida, como quem faz uma piada que não é tão pouco verdadeira quanto o humor pode sugerir. “ou eu só tive a má sorte de conhecer gente ruim nesse ramo” não que tivesse conhecido tantos advogados assim. apenas os idiotas preguiçosos que o sistema lhe arranjara de graça vez ou outra, ou os terríveis ratos que salvavam a pele dos playboyzinhos da faculdade. “qual área trabalhava?”
gabsverse:
Billy não saberia dizer se o amigo era um rapaz atraente; pensaria que sim, muito embora nunca houvesse gastado tempo analisando aquela hipótese. não era o maior conhecedor dos níveis de beleza masculina, se fosse sincero mal saberia classificar a si mesmo em algum tipo de escala. sabia que era atraente o suficiente para não ter problema algum em se manter ocupado quando queria, mas também não era um modelo que quebrava corações por aí. pensava, no mínimo, ser melhor que o sem graça Ford. e também apostaria que boa parte do motivo dele mesmo ou Lewis terem um número um pouco mais considerável de mulheres interessadas neles que Matt tinha muito mais a ver com o comportamento confiante (e/ou obstinado) dos dois, quando em comparação à falta de jeito inerente do mais novo, não necessariamente às aparências. então não, Baker nunca havia pensado se o mais jovem era considerado ou não alguém bonito — mas pego de surpresa pela imagem de Christine, sem dúvidas podia dizer no mínimo que a genética estava a seu lado. a mulher, na realidade, não parecia mais do que uma irmã mais velha deste. se não soubesse de quem se tratava, de início suporia que aquele era o caso. certo, dava para ver que Christine tinha mais vivência que os dois universitários, mas ninguém poderia ser capaz de dizer que ela aparentava ter um filho daquela idade. ou filho qualquer, ainda. por um mísero instante, quase que instintivamente, lembrou da imagem da própria mãe. ou do que se recordava dessa. mesmo sendo de pelo menos cinco anos antes, a imagem da própria mãe parecia ser de alguém com pelo menos vinte anos a mais que a Galbraith. não sabia a idade de Christine (e sinceramente, nem da própria mãe), mas apostaria que boa parte da diferença se traduzia muito mais em aparência que em números.
não precisou de esforço algum para que o pensamento logo retornasse à obra de arte diante de si, que pedia que ele a chamasse pelo nome. ficou animado diante da possível intimidade, mas por algum motivo, parecia errado. como se ela estivesse em um patamar que o rapaz definitivamente não chegava. “obrigado outra vez. não precisava mesmo, senhora Galbraith” repetir a formalidade não fora nenhum tipo de afronta ou de mensagem, apenas instintivo. “esperou?” o detalhe o pegou de surpresa, simplesmente porque não se lembrava de alguém mais tão animado assim com sua presença, especialmente em um contexto tão simplista. o mais perto disso eram as garotas da faculdade animadas ao vê-lo chegar com a caminhonete para um encontro furtivo do qual não falariam por aí com tanto orgulho. ele costumava saber seu lugar: era interessante o suficiente, e sabia bem como agradar no sexo. definitivamente não era do tipo ‘namorado de ouro’, e não teria ninguém desfilando com Billy por aí. não que essa parecesse a proposta de Christine (infelizmente), era apenas que a mulher de fato parecia apreciar sua mera presença, como Matthew. e aquilo o deixou satisfeito como não se lembrava de sentir há tempos. agradecera a blusa que escondia o leve arrepiar nos pêlos que sentiu quando a mais velha espalmou as mãos em suas costas, forçando a si mesmo a tentar se recompor ali. ora, o que fazia? ela era mãe de seu melhor amigo! e casada, ainda.
“não se preocupe, eu como até pedra, se temperar” admitiu, rindo um pouco da própria piada em uma tentativa de ser simpático. costumava ser carismático com certa facilidade quando queria, mesmo que estivesse um pouco sem jeito. na verdade, o leve nervosismo provavelmente o deixava mais agradável ainda, já que equilibrava com os traços tão fortes de seu físico. “não é necessário, senhora G… hm… Christine.” oh. gostava de como seu nome soava. “na verdade, acho que se soubessem que a senhora chegou a reclamar, as coisas podiam… sabe, piorar. daqui a pouco eles cansam.“ se não cansassem das brincadeiras, provavelmente cansariam de apanhar em algum momento. “ah.” soltou, baixo. não costumava falar muito de si. o que Matthew sabia era por pura convivência, e não porque o rapaz dizia qualquer coisa de si mesmo. “sim. estou na universidade há alguns anos, eu… não diria que sou o melhor aluno, mas estou bem o suficiente.” deixaria de lado que a suspensão por ajudar o amigo faria com que ficasse de recuperação em uma matéria aquele semestre. “já já acaba. e aí.. bom, hoje eu trabalho como mecânico.” ugh. odiava falar sobre sua vida. “e logo, quem sabe” encolheu os ombros, referindo-se a um emprego melhor. “eu não sei se sou chamativo” riu baixo, brincando com o garfo no prato. ele era, sim, mas só por ser um brutamontes de quase dois metros que estava sempre com ferimentos na face e nos punhos. ou naquele dia específico: no braço. “acho que sou alto demais pra passar despercebido, só isso” comentou, com um pequeno sorriso lateral. “não sei, acho que normais. tem os idiotas pra lidar, matérias pra passar. mas foi bom conhecer Matthew. ele é um bom amigo. a senhora fez um ótimo trabalhando criando ele” talvez fosse um elogio esquisito? não pode deixar de notar a careta do amigo. mas o que diria? não era como se pudesse realmente elogiar nela tudo o que pensava naquele momento. “e a senhora? não me lembro de Matt dizer com o que trabalha”
a descrença de william quanto à valorização de sua presença na casa fora quase adorável aos olhos de christine, o que a fez sorrir e concordar com a cabeça; ela só não achara mais porque ainda estava surpresa com a diferença entre o rapaz e o filho. bem, era bom que fosse assim. significava uma importante quebra de estereótipo pelo qual imaginava que toda mãe acabava passando por em algum momento da vida. seu filho era adulto, logo, os amigos dele também seriam. “se não tivesse aceitado, eu teria continuado a tentar te trazer até mim. matthew já te avisou sobre isso, não?” respondeu-lhe com um curvar de lábios cúmplice, lembrando-lhe como se fosse um segredo que ele havia acabado de recordar.
a resposta dele sobre o paladar nada exigente a fez negar com a cabeça, risonha. “dizendo isso você só está abrindo caminho pra que eu te use como cobaia toda vez que vir aqui. isso vai me fazer contar com você sempre pra guiar a minha jornada gastronômica. palavras tem poder, william baker.” a entonação da última frase viera na mesma de um conselho tranquilo, mas com expectativas, enquanto utilizava do ambiente descontraído que ele também parecia estar disposto a ajudar a criar pra deixá-lo confortável e fazê-lo entender que ali tinha liberdade pra se soltar. se ele risse novamente como havia feito há pouco, ela estaria satisfeita. a forma como billy também pronunciara seu nome a fez adocicar o sorriso pequeno que mantinha nos lábios pela simplicidade que pedia. esperava que ficasse confortável pra ele conforme o passar do tempo, pois desejava que mantivessem esse contato – conforme o possível, claro. não queria se meter na vida de matthew, o amigo era dele, afinal. não dela. “eu entendo... e também peço desculpas pela intromissão. eu só realmente não... é frustrante ter que ver certas coisas acontecendo e não poder fazer nada.” comentou, desabafando um pouco.
“tá tudo bem, mãe, corta esse assunto. estamos bem. isso não vai nos atrapalhar mais. a gente tem coisa melhor pra fazer e pensar.” comentou o jovem galbraith, de forma tranquila, enquanto alcançava o prato com as batatas assadas à billy, o encarando como se dissesse que não iria se arrepender por botá-las no prato. há algum tempo atrás, o discurso de matthew não seria a mesma coisa. ele estava afundando-se bem menos na autopiedade desde que conhecera alguém com quem compartilhar o peso. christine sentia-se um pouco mal. não que achasse que matthew era um estorvo para o baker, longe disso – melhor do que ninguém sabia que matt era um rapaz incrível, sensível e prestativo –, mas seu filho não era uma responsabilidade dele. pelo menos não devia ser. william parecia um jovem bom de coração e com tudo pra seguir em frente, e mesmo com os traços fortes e aparência que denotava uma personalidade fechada, exalava uma modéstia e uma sociabilidade que ela entendia como necessária pra compensar a primeira impressão que provavelmente tinha receito de passar. mal sabia ele que a galbraith que ouvia tudo com atenção e interesse já se encontrava encantada com o baker desde que ouvira falar de sua existência. “o fator experiência prática é muito importante nessa época, então aposto que está indo bem, billy.” comentou, divertindo-se quando o filho comentou que pelo menos billy tinha um emprego, sendo que ele nem mesmo estágio tinha. “tenho certeza de que quando se formar e as coisas estiverem mais claras, você vai estar melhor preparado pra quando o que você decidir escolher, de fato, vier.” christine ofereceu e serviu billy e o filho de vinho tinto, assim que recebeu as positivas, para então servir-se. “fora que você deve estar sendo modesto, o matt fofocou que você ia melhor do que ele vai agora no primeiro ano, e que seu último projeto na disciplina de desenho técnico teve uma das melhores notas. meus parabéns. matt parecia bem orgulhoso de você, inclusive.”
e em meio aos protestos de matthew alegando que fofoqueira era ela por estar falando pra ele o que o próprio filho lhe confidenciou, a galbraith riu, negando com a cabeça com tranquilidade à opinião do mais alto. sim, ele podia ser um homem enorme, mas christine se referia a outra coisa. o elogio também mexera um pouco consigo. fazia tempo que não recebia um, então isso a balançara. “certamente você é um rapaz alto, mas não acho que queira dizer muita coisa. eu acho que é a sua energia. tem gente que nasce com isso. deve ser seu caso. você tem algo aí bastante especial, senhor baker. ” as orbes verdes pareciam tentar ler billy de uma forma que ninguém mais poderia enquanto ela o encarava, mas a morena também não conseguia. só parecia saber que william ainda tinha muito pra desenvolver e mostrar e, por mais que se enganasse com algumas pessoas, ela acertava com a grande maioria. tinha puxado a essa habilidade de seu pai nesse ponto. “não me pergunte, não vou saber explicar. mas basta confiar em mim. eu costumo não errar.”
“ se isso existe mesmo, ela tem uma boa intuição, tenho que concordar.”
matthew deu de ombros, confirmando. por mais cético que fosse e tivesse uma personalidade bem mais prática, concordava que billy era uma pessoa diferente. provavelmente algo que ele só conseguiria se tentasse muito, muito mesmo. de qualquer forma, não queria o amigo sem jeito ou constrangido na mesa, e o conhecia. sua mãe estava animadinha demais. “desculpa. você não tem que se acostumar com isso tá? mãe, para de encher o saco dele, ele vai pensar que você é uma daquelas malucas dos cristais.”
“tudo bem, eu paro. eu paro.” christine levantou ambas as mãos, nada incomodada. “não sou a maluca dos cristais. e respondendo a sua pergunta, billy, no momento, eu sou mãe em tempo integral da peste do seu amigo. mas eu-... bem, eu costumava ser advogada. há milhões de anos atrás.” afirmou. podia considerar-se advogada? fazia tanto tempo.
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o que era amor? tantas vezes kenneth se pegou questionando. era uma cumplicidade duradoura e formal, como a de seus pais? confiança e carinho incondicionais, como o que havia entre ele e suas irmãs? momentos leves e alegres, como os que a irmã mais velha partilhava com seu marido? ou quem sabe a ansiedade confusa que sua irmã mais nova sentia toda vez que sentava do lado do garoto ruivo no recreio? seria a gentileza das palavras mais bonitas de sua mãe, ou a preocupação rígida de seu pai? como ele poderia reconhecer? em várias ocasiões pensou ter se apaixonado. houvera lauren, no emprego de verão antes da faculdade. kirsten, na aula de história da arte. joanne, a assistente do professor. algumas que duraram meses, algumas que só trocara olhares por segundos, sem nunca saber o nome. como um bom romântico que era, encarava os pequenos acontecimentos como sinais do universo. uma vez, havia convencido a si mesmo que uma garota era sua alma gêmea porque estava usando exatamente a mesma camiseta que a sua, enquanto lia exatamente o mesmo livro. pudera ser apenas coincidência? perguntara mentalmente. a resposta veio em pouco tempo, no momento em que a namorada da jovem se juntou à conversa. dentre inúmeras batalhas que tivera de lutar em seus anos de vida, a procura pelo amor parecia a mais complexa. existia alguém para ele, não? tinha que existir!
o que seria, então, indicativo de que tinha encontrado o amor? o amor certo, final, que tanto almejava? correspondido. como saberia que seu coração estava batendo na velocidade adequada, do jeito que os maiores escritores haviam explicado? como ter certeza que os pêlos dos braços estavam arrepiando no momento certo, diante do toque alheio? para alguém tão ansioso por experimentar cada detalhe do amor, todas as vezes que se encontrava em uma situação do tipo, nenhuma experiência parecia bem certa. o alívio após o tempo afastado nunca era tão forte. o coração não acelerava como se fosse explodir. a proximidade não lhe causava cócegas nos lábios como quem antecipava desesperado por um beijo. lauren, kirsten, joanne, e todas as outras. simplesmente nunca tivera certeza. uma vez, após se envolver por pouco mais de duas semanas com uma moça, ela resolveu colocar um fim entre eles. “você oferece muito, kenny, mas mesmo sendo na minha direção, não é pra mim” nunca esquecera aquela frase.
encarou a foto no papel de parede do celular, no táxi. cassandra era linda. os olhos claros pareciam sempre brilhantes, mesmo quando se esperava que estivessem opacos e escuros durante alguma briga. os fios escuros se encontravam lisos na maior parte do tempo, como se lutassem contra qualquer esforço da jovem de fazer cachos artificiais — tão teimosos quanto ela própria. a boca era bonita, grande, dona de um sorriso de tirar o fôlego. nunca fora do tipo exigente na questão física, mas não era cego: cassie tinha um corpo escultural, extremamente atraente. muito embora na foto ela estivesse com sua camisa, larga demais para sua figura esguia, ainda era possível notar as curvas escondidas atrás do alvo e fino pano. tinha ganhado na loteria! ouvia aquilo com frequência, tamanha que seria loucura sua duvidar. ele a amava. era isso. agora tinha certeza! agora o coração acelerava, os pêlos arrepiavam, a boca tremia. agora ele estava convencido de que tinha encontrado alguém. não somente alguém, tinha encontrado ela. a pessoa que todos os filmes de romance o haviam convencido de que estava por aí no mundo o esperando. estava certo daquilo. então por que encarava a foto de cassandra como se tivesse medo de esquecer aquilo tudo? como se precisasse a todo custo evitar por um descuido seu duvidar outra vez? “eu amo minha noiva” a fala em voz alta o pegou de surpresa, logo antes das buzinas que o avisavam que o semáforo já estava aberto há alguns segundos.
desbloqueou o aparelho assim que as portas automáticas do aeroporto se abriram, buscando alguma mensagem que denunciasse a chegada da amiga. nada. pelo horário, deveria ja ter saído do avião, mas provavelmente ainda estava buscando as malas. caminhou tranquilo até a saída de seu desembarque, o ritmo das longas pernas trazendo uma imagem despreocupada que não combinava nem um pouco com o interior turbulento. três anos. até um segundo atrás, parecia ter durado uma eternidade. naquele momento, percebeu lembrar com tanta clareza cada detalhe do último encontro que não parecia ter sido há mais de três dias. depois de londres, ainda havia ido para o reino unido mais outras duas vezes naquele meio tempo, mas as agendas desencontradas não permitiram que os amigos se vissem. ao chegar, juntou as mãos em frente ao corpo, aguardando conforme algumas pessoas saíam. os olhos azuis buscavam mishti em cada pessoa que saia do portão, o coração batendo irregular a cada frustração. devia fazer uns dez minutos que estava ali parado quando notou que as mãos suavam excessivamente, e limpá-las no tecido grosso do jeans não vinha funcionando bem. em algum momento, olhou em volta buscando o barulho estranho que atingia seus ouvidos, até perceber que eram as batidas aceleradas do coração que parecia ressoar com força no interior do loiro. respirou fundo, na tentativa de acalmar a euforia e antecipação. quando os pesados cachos escuros apareceram, ele sorriu. foi o primeiro instinto, tão natural quanto o abrir dos olhos ao acordar. o canto dos lábios, no entanto, caiu aos poucos, conforme ela se aproximava. não por qualquer motivo negativo; mas simplesmente por estar embasbacado. três anos. só faziam três anos que não a via pessoalmente (e se contasse fotos e vídeos, algumas horas). como era possível que ela estivesse tão… “linda” murmurou para si. achou por sólidos dois segundos que o órgão cardíaco sucumbiria.
mal teve tempo de falar o nome da amiga, tão logo a jovem largou a mala enorme de qualquer jeito e correu a seu encontro. com reflexos rápidos, os braços fortes logo a envolveram para garantir sua segurança, um passando em sua cintura, e o outro inevitavelmente precisando apoiar a perna alheia, visto que ambos os membros inferiores da jovem se encontravam em torno de seu quadril. a breve noção de que cassandra o mataria se visse a cena não passou despercebida pelo rapaz, embora tenha espantado o pensamento tão logo quanto este viera. “e tinha dúvidas?” devolveu, sobre ele ter vindo a seu encontro. não somente kenneth era do tipo que estava sempre presente por um amigo — era do tipo que fazia tudo o que mishti pedia. sempre. se tivesse pedido que ele estivesse ali três horas antes, sabia bem que cederia. quando o rosto da jovem encontrou um lugar confortável demais entre seu ombro e pescoço, o corpo inteiro do mais alto arrepiou. e pareceu arrepiar novamente, apenas um segundo depois, quando o perfume doce da garota o atingiu. segura-la não era nenhuma tarefa difícil, não com seus músculos, mas se viu desejando devolver a jovem ao chão com um repentino medo de que ela pudesse ouvir o quão alto seu coração denunciava o alívio de finalmente vê-la de novo. “também senti sua falta” falou baixo. não que tivesse a intenção de controlar a voz, só estava em poucas condições de controlar qualquer coisa. as mãos da jovem então encontraram o rosto do rapaz, e tão logo toda a tensão e ansiedade deixaram o corpo. como se aquele fosse o mais confortável que já estivera em toda sua vida. buscou os olhos enormes da mulher, escuros, intensos. tão alegres, enquanto olhava o velho amigo. nem prestou muita atenção no que ela havia falado sobre seu rosto, estava ocupado demais absorvendo os detalhes do dela. foi o repuxar de algum músculo inconveniente do lábio inferior, em um anseio por maior proximidade, que o fez acordar. endureceu outra vez, bem a tempo de dar o apoio necessário para a jovem descer de seu colo. pigarreou instintivamente, coçando a nuca, sem graça diante das respostas físicas à presença alheia. sabia que era impossível, mas parecia que a qualquer momento alguém enxergaria o que ele sentia perto dela. o que sentia toda vez que a via, desde a primeira vez. por deus, o que estava pensando? que tomasse logo as rédeas dos próprios pensamentos. “discreta, para variar” brincou, olhando em volta e percebendo os olhares curiosos em torno dos dois, dolorosamente consciente de que o cumprimento dos dois ultrapassava alguns limites do bom senso. “estou sempr…” franziu a testa, a lembrança o atingindo de repente, antes que pudesse repetir a frase que tantas vezes dissera. ‘estou sempre livre pra você’ ia dizer. acontece que… dessa vez, não estava. “na verdade, cassie tem um coquetel sábado à tarde e sou seu acompanhante. mas estou livre à noite. só não até muito tarde, porque domingo de manhã temos um brunch. mas também não deve demorar tanto, acho que podemos nos ver depois” afirmou, sorrindo como se não fosse completamente esquisito não dizer sim a ela logo de cara pela primeira vez. sabia, porém, que cassandra não era do tipo que aceitava que desmarcassem compromissos. seu noivo, ainda por cima? impossível. “sua mala!” apontou por cima do ombro alheio, ele mesmo caminhando a passos largos para buscar o objeto antes de retornar para perto dela. assim que o fez, o som característico do celular tocou, e a palavra na tela foi dita em voz alta. “oi, amor. sim, estou aqui no aeroporto. acabei de encontrar com ela… pergunto sim. ok, vou falar com ela e te aviso. beijo” assim que finalizou a ligação, buscou a amiga. “cassie perguntou se está livre para jantar hoje, se não estiver cansada da viagem. ela está ansiosa para te conhecer”
"i've still got something left to prove, prove that there's nothing i won't do, do what it takes so i can bring you back again. all my life, you're the one thing that's always been real. i’m gonna follow my heart right back to you. you’re the one thing i can’t stand to lose."
ela tinha uma passagem de avião e um objetivo.
no passado, mishti costumava ser uma pessoa que constantemente pensava muito mais com o coração e a imaginação do que com a razão, dada a urgência pela vida emocionante que sempre achou que deveria viver. frequentemente sonhara com grandes histórias de amor e os dramas dignos de tramas envolventes reservadas para sua vida adulta, pois não podia acreditar que o resto de sua existência seria condenado ao desenrolar de um caminho medíocre onde não haveria ninguém para amar quem ela era incondicionalmente. era triste pensar que poderia ser assim, então prometera a si mesma que seu futuro seria totalmente diferente da época da escola.
com o tempo, as promessas foram deixadas no sótão da casa na california. a maturidade e a realidade bateram como um caminhão na jovem cheia de sonhos e obstinação, e o objetivo de viver uma vida e um amor extraordinário foi sendo reconfigurado à medida em que suas metas iam sendo alcançadas. não arranjou um namorado no primeiro ano da faculdade? sem problema, fora a aluna destaque dos dois subsequentes. ninguém fizera nenhuma loucura de amor por ela quando ela precisara mudar-se para londres aos vinte e cinco? besteira! havia acabado de conquistar um cargo importante num portal midiático. a maior parte de seus contatos e affairs estavam entrando em relacionamentos sérios, enquanto não se encaixava com ninguém nem se tentasse? ora, ela também estava comemorando os milhares de seguidores nas redes sociais — algo que certamente inflou o ego e alimentou a alma da jovem mishti mahajan de dezesseis anos que lutava para ser aceita entre as pessoas. as emoções pelas quais sempre definhara chegaram em forma de realizações profissionais e pessoais, jogando para escanteio muito do que seu eu romântico havia criado anos atrás. ela era bonita, era competente, era bem quista e era incrível. logo, um de seus planos mais importantes poderiam ser postos em prática. o que mais poderia querer?
nada estava dando errado em sua opinião, até que deu. a notícia do noivado de kenneth abalou profundamente o que sobrara da menina que secretamente acreditava em contos de fadas em seu interior, porque o sawyer era provavelmente a lembrança mais bonita que existia dentro de sua memória. não porque o amara na adolescência; independente de namoros e casos e paixões da atualidade, kenneth sempre seria seu primeiro amor e isso sempre seria importante. o fato era, ainda o amava, e isso havia sido a coisa mais constante em sua vida desde então. era, de fato, um amor reprimido e um amor secreto, brando, violento, latente e enérgico, como a variação das estações durante um ano inteiro, mas sempre presente. às vezes lembrado com carinho, às vezes lembrado com saudade e, na maior parte das vezes, lembrado com arrependimento por não ter coragem de fazer nada sobre. e agora, mais do que tudo, havia se tornado um amor ameaçado pelo futuro que o loiro escolhera para si.
e foi esse amor, explodindo pelo pavor da perda, que foi responsável por abrir a jaula da jovem mishti passional dos anos dois mil, obrigando-a a não raciocinar direito, forçar uma transferência para os EUA em seu trabalho e comprar uma passagem só de ida para casa. tudo porque perder kenny, depois de tantos anos quieta, era algo inaceitável. veja bem, ele nunca ficava muito tempo junto a alguém; se não ele, elas cansavam-se rapidamente da relação. mishti sempre contara muito com a habilidade do sawyer de mostrar-se romântico o suficiente para espantar as mais "independentes", mas evasivo e leal à amizade deles o bastante para decepcionar as mais apaixonadas. e convenhamos, mesmo que considerada egoísta e cruel, ela tinha orgulho de ser uma pedra no sapato na maior parte do tempo. mesmo de longe, era como se certificasse de que elas soubessem que eram menos importantes do que era para kenny, mesmo que simplesmente apenas ocupasse o posto da melhor amiga.
mas kenny noivara. e isso não era nada normal. nunca chegara a esse ponto, não o seu kenny. não o kenny que atendia chamadas de áudio às duas da manhã se ela ligasse em uma emergência-não-tão-urgente-assim sobre não saber o que fazer em um evento no dia seguinte e estar surtando. não o kenny que sempre reservava um momento do dia do próprio aniversário para que comemorassem sozinhos por chamada de vídeo, cada um com um singelo bolinho e chapeuzinhos de festa. não o kenny que enchia de comentários suas postagens mais mal planejadas e programadas, apenas pra que ela não sentisse que fracassara no engajamento. por isso, estava chocada com a audácia de cassandra, a tal namorada de um ano do sawyer, e com a coragem de provavelmente ter feito uma amarração das boas com ele. se ela tivesse usado a simpatia do cuspe... não responderia por si. arrancaria a língua gigante da boca daquela piranha magricela.
mas mishti era mishti e, por mais que cassandra fosse um demônio de primeira classe mimado pelos pais, a própria mahajan era o próprio diabo quando decidia que queria algo. podia estar atrasada por ter esperado tanto o momento perfeito pra dizer algo, mas ainda tinha chance de reaver a oportunidade. era por isso que se encontrava informando toda a sua situação atual para um senhor de cabelos grisalhos e terno marrom que sentara ao seu lado no avião — sobre o qual qualquer um afirmaria com certeza que não deveria estar entendendo muito bem o motivo de uma mulher contar pelos últimos quarenta minutos toda a vida amorosa pra ele — e que bem, a acompanhava e escutava com certo pavor pela exposição desnecessária (mas também trazendo na expressão uma estranha curiosidade sobre os tais kenneth e cassandra enquanto bebia uma xícara de chá). podia ser irritante e também podia não saber quem eram esses seres humanos, mas ainda assim, a fofoca estava mostrando-se um pouco mais interessante que truque de mestre 2 passando na programação do avião.
"e é por tudo isso que eu estou aqui hoje. eu larguei tudo pra vir atrás desse homem! e eu vou trazer ele de volta pra mim. juro por deus, ou meu nome não é mishti. é a minha única oportunidade de ser feliz de verdade, você não acha?" ela perguntou, claramente emocionada com o próprio plano nesse episódio decisivo de sua vida ao encará-lo com as orbes chocolate tão brilhantes que talvez o pobre homem nem conseguisse encontrar a tempo uma forma de expressar sua opinião de uma forma respeitosa — sobre, talvez, ela precisar de alguma ajuda psicológica. bem, a morena não realmente parecia estar esperando uma resposta sensata e cabível de toda forma então, mesmo que confuso, achou que o certo (e seguro, caso ela fosse doida) fosse entrar na conversa.
"eu ach-..."
"eu vou parar esse casamento! é muito óbvio que essa mulher não é a certa pra ele, eu já sei só pelo o que ele me conta dela." ela gesticulava, indignada.
"é kenneth não seja assim pra lá, kenneth não faça isso pra cá, ela critica ele, limita toda a personalidade e a autenticidade dele, sendo que ele é um homem incrível! ela por acaso tem vergonha dele? se você ama alguém, você não precisa se esforçar tanto pra mudá-lo, não concorda? isso me irrita muito. você não se irrita também?"
"eu acho que eu me irr-..."
"tá vendo? o senhor se irritaria também! ninguém quer ver a pessoa que gosta tendo as asas podadas por uma megera que não merece todo o amor que recebe!"
"sim, isso eu concordo, mas você tem cert-..."
"é isso aí. o senhor tem razão. estou decidida. eu vou acabar com esse casamento e fazer ele enxergar que eu sou a pessoa certa. eu sempre fui. eu só demorei um pouco pra perceber que preciso fazer isso rápido."
"eu-... eu tenho razão. eu tenho razão? eu–..." para a infelicidade do pobre homem que não pudera nem mesmo concluir os próprios pensamentos, o pouso havia acabado de finalizar, liberando o desembarque para que os passageiros começassem a sair. a morena, às pressas, apertou feliz a mão de seu ouvido de penico e a balançou em despedida, contente por estar certa todo esse tempo.
"sim! é isso mesmo! você não acha que isso é o destino? claro que é. obrigada por me ajudar a enxergar isso! agora me deseje boa sorte, eu tenho um homem pra recuperar! adeus, senhor poltrona 34!"
ela saíra da sala de desembarque com o coração na mão. em todas as eventuais voltas para os EUA, nunca estivera tão ansiosa e nervosa para encontrá-lo quanto naquele momento. mal podia esperar para ver seu rosto, e tinha certeza que logo iria pois não importava se avisava um dia ou um mês antes, ele sempre chegava para buscá-la, toda santa vez. puxava a mala enorme o mais rápido que podia pelo chão liso do aeroporto mas, quando o sawyer finalmente entrou em seu campo de visão, todo o esforço foi jogado ao léu e mishti não fez menos do que largá-la no meio do caminho para correr na direção do loiro. por alguns minutos, apenas a felicidade em reencontrá-lo superou toda a motivação por trás de sua viagem, e tudo o que ela pode pensar era o fato de que estava abraçando novamente uma das pessoas mais importantes de sua vida, fosse um amor ou não. eram nesses momentos, em que ela se jogava contra o corpo quente e enorme de kenneth num abraço apertado, que a mahajan percebia o quanto fazia falta no seu dia a dia em londres. sentia tanta saudade dele quanto sentia do sol da california. ou mais.
"você veio!" o tom fino e surpreso invadira a voz doce de mishti, muito embora não devesse ser uma surpresa. ela simplesmente havia pulado em cima de kenny no meio do aeroporto, pendurando-se pelo pescoço e firmando-se com as pernas em volta de seu quadril sem se importar com os olhares, ou com o fato de que claramente não era um comportamento tão comum para dois amigos. "meu deus, eu senti muito a sua falta!" comentou, num choramingo sincero quanto o perfume dele invadiu até mesmo sua memória olfativa. não o abraçava há três anos, quando fora ele a visitar londres, mas da forma como falara, até mesmo parecia que não haviam feito uma chamada de vídeo há uma semana atrás. "olha pra você! olha pra você. você não sabe o quanto senti saudade desse rosto." assim que afastou-se um pouco do grude para olhá-lo, as mãos pararam na face do loiro, enquanto ela parecia estudá-lo com um sorriso genuíno antes de encarar as orbes claras. pareceu dar-se conta do exagero quando percebeu que o contato visual e a intimidade exacerbada pareciam estar passando um pouco dos limites por parte dela. apesar de gostar dele e claramente ter chegado lá com segundas intenções, kenny ainda era seu amigo e um homem formalmente compromissado. isso lhe arrebatava como um empurrão da escada. aos poucos praticamente desceu de seu colo, contentando-se, por agora, apenas em segurar sua mão. "você tá com esse fim de semana livre? eu sei que eu tenho que deixar as coisas no novo apartamento, mas-... mas eu queria... eu tenho que ver minha família também! mas eu queria passar um tempo com você. parece que a gente não se vê de verdade há mais de um milhão de anos."
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kimberly channing era uma garota muito bonita, e beirava até o suportável, considerando que outras de seu grupo sabiam ser terríveis. a loira não chegava a ser maldosa, só era chata. e que não o entendessem mal: nada tinha contra vaidade, ou assuntos femininos, ou qualquer comum motivo para um garoto da sua idade julgar o sexo alheio. ele afinal tinha irmãs o suficiente para não somente estar acostumado, como imerso naquele mundo (até demais, dizia seu pai). e mishti, ha, era uma das garotas mais vaidosas, fofoqueiras, e qualquer outro estereótipo feminino que conhecia. o ponto era que kimberly era sem graça. sem sal. mishti podia gastar o mesmo tempo que a moça em frente ao espelho, se importar com fofocas de celebridades tanto quanto ela e ter se arrumado para o baile por longas horas tal qual a jovem popular. mas sua amiga era algo além. mahajan era uma força da natureza. sempre curiosa, sempre agitada, sempre esperta. faminta. faminta por atenção, faminta por conhecimento, faminto por sucesso. faminta por conquistar o mundo. e kenneth não tinha dúvidas de que o faria. havia começado muito bem, conquistando o loiro por completo. então sim, kimberly channing era uma garota muito bonita, e alguns de seus colegas se perguntariam como ele tinha coragem de abandonar a mais cobiçada jovem da escola. mas ele sequer precisou pensar muito para estar ali. era simplesmente óbvio. queria estar junto dela. a risada de mishti, contrastando com as lágrimas que caiam dos grandes olhos brilhantes e úmidos, deixavam claro que havia escolhido o certo. "é, eu sou mesmo um cara incrível" concordou, em tom brincalhão. era o único tom capaz de sair em palavras tão positivas dedicadas a si mesmo. kenny era um rapaz maravilhoso e um ótimo amigo, mas deixava a desejar no quesito confiança. tanto que se retraiu imediatamente ao ouvir a aposta alheia sobre quem seria o rei do baile. ha! até parecia que ele poderia ocupar tal cargo (por mais irrelevante que fosse na vida real, longe do reino do ensino médio). era engraçado. kenneth nunca havia desejado ser bonito. havia sim desejado caber em suficientes padrões para que aqueles que atormentavam seus dias o deixassem em paz, mas nunca havia almejando tanto mais que isso. ser popular, então? menos ainda. se via, porém, desejando ser o mais bonito para alguém.
alguém que estava chorando por não ter ido ao baile com logan marshall.
espantou o pensamento o mais breve que pôde, enciumado. até desejou que naquela noite, seu nome fosse anunciado como primeiro colocado pela coroa. apenas para roubar algo daquele que parecia ter roubado algo seu. sorriu sozinho, em resposta aos pensamentos. seu? ela não havia se arrumado para ele. que bobagem.
"bem, o básico funcionou muito bem." concordou por fim, receoso em perder a linha de suas palavras. queria dizer que ela estava sensacional. não, que ela era sensacional. apertou os lábios um contra o outro, como se houvesse real perigo das palavras lhe escaparem, rebeldes. é, precisaria se distrair com as cervejas logo. "titanic é um clássico!" argumentou, falsamente ofendido, e deixou-se ser puxado casa a dentro. já conhecia bem a casa para andar sozinho, mas não fez menção de soltar a mão macia da sua. no quarto, não tardou a focar na procura por um filme e acabou encontrando o que julgou uma ótima opção. e nada, nadinha intencional. após colocar o DVD no aparelho, tirou o paletó e jogou na cama da garota, sentando-se ao lado dela em seguida ali no chão mesmo, enquanto os créditos iniciais de Diário da Princesa começavam. abriu duas latinhas de cerveja, entregando uma a ela, com um sorriso de quem havia acabado de chegar em uma festa, e não saído de uma. “pronto. algo mais alegre, para a princesa”
se perguntassem ao kenneth do início do colegial como ele via sua noite do baile, a resposta era simples: não via. afinal, naquela época, os filmes de comédia romântica que tanto amava lhe haviam ensinado que garotos que pareciam como ele não tinham um final feliz. que piada esquisita do universo então que de repente — algo entre o final do segundo ano, e o começo do terceiro —, que a puberdade lhe tivesse atingido como um tijolo. não; como uma bomba atômica. claro que era impossível que tivessem acontecido tantas mudanças do dia para a noite, mas de certo havia sido repentino o suficiente para que sua cabeça não conseguisse acompanhar a transformação física. de repente, os garotos que tanto faziam sua vida um inferno, agora o chamavam para festas, e as garotas que o ignoravam agora pareciam rósea-lo e arrumar desculpas para sentar com o rapaz no intervalo. no início, presumiu que aquela mudança de comportamento se tratava de alguma espécie de pegadinha bem elaborada, mas eventualmente aceitou seu novo status. mesmo assim, costumava tentar evitar os convites para festas e reuniões; mishti era quem lidava bem sendo o centro das atenções, não ele. inclusive era pela amiga que havia feito as poucas aparições nas tais festas, talvez porque ela pensasse que se fosse vista vezes o suficiente pelos populares, a aceitassem como uma deles. kenneth duvidava, até porque qualquer um deles jamais chegaria aos pés da sua amiga.
foi após uma daquelas festas sem graça que kimberly channing o havia convidado para o baile. e ele teria dito não, se mishti não tivesse dito que era uma ótima oportunidade para que ela convidasse logan marshall, assim ambos iriam acompanhados dos mais cobiçados formandos. fora um balde de água fria na sua ideia original de convida-la, em um ímpeto repentino de coragem interrompido pelo maldito bilhete em seu armário assinado em tinta rosa com as iniciais k.c. agora lá estava ele, no salão decorado, ao lado da loira que usava um longo vestido verde escuro de paetês e dizia como era divertido que haviam conseguido batizar o ponche. após analisar os arredores pelo que devia ser a décima vez, finalmente avistou logan… acompanhado de martina loyola. ora essa, e mishti? kenneth costumava ser mais sensível e delicado que aquilo, mas não teve escolha senão deixar kimberly para questionar o paradeiro da melhor amiga ao capitão de futebol. cuja resposta (“quem é mishti?”) o fizera saber que definitivamente a garota não apareceria por ali. fazendo a delicadeza de inventar uma emergência familiar, kenny abandonou a formatura e foi direto para a casa da amiga. a imagem da moça sentada na escadaria em frente à porta só não havia sido o maior soco no estômago porque estava ocupado demais admirando o que era provavelmente o look preparado para o baile. “ei” disse alto, chamando atenção da morena conforme se aproximava. “ia roubar um pouco de ponche batizado mas não confio na inspeção de qualidade. então eu parei numa conveniência no caminho e consegui essas cervejas” ergueu o pequeno fardo de seis cervejas para que ela o visse. “não pedirem minha identidade até que compensa a quantidade de vezes que eu bato a cabeça na porta”
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William "Billy" Baker:
Christine (love interest) - Matthew (best friend) - Yohan (enemie) - Advogado Amigo Christine (hate) - Callie (Christine's Neighbour) - Tyler (friend)
Gwendolyn "Gwen" Reynolds Green:
Christine (friend/neighbour) - Matthew (friend's son) - Yohan (hate) - Callie (friend/neighbour) - Tyler (friend/neighbour) - Aslan (love interest) - Trevor (husband/hate) - Mishti (friend)
Callisto Sevda Callaway McCoy:
Christine (friend/neighbour) - Matthew (friend's son) - Yohan (hate) - Tyler (husband/love) - Mishti (friend) - Dottie (daughter)
Demir Ashford:
Yohan (work/dislikes) - Cassie (love interest) - Mishti (friend/fake girlfriend) - Kenny (frenemie) - Liliana (past fling) - Emre (cousin/work) - Gabriel (work)
Kenneth Sawyer:
Yohan (work/dislikes) - Cassie (fiancee) - Mishti (love interest/best friend) - Emre (work) - Gabriel (work) - Demir (frenemie)
Liliana Vega Ortega:
Demir (past fling) - Oliver (love interest) - Charlie (friends) - Gabriel/Yohan/Trevor (work/investigating) - Yvaine (person of interest/case) - gostoso novato (work/friend) - quarteto (work/friend)
Emre Altan:
Demir (cousin/work) - Gabriel (work) - Cecilia (love interest) - Kenny (work) - Mishti (work) - Cassie (work)
Maria Aparecida "Cidinha" Silva/(Yvaine):
Gabriel (love interest) - Cecilia (friend) - Liliana (case) - Trevor/Yohan (clients) - Advogado amigo Christine (client)
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@castlessie
#sex in public places is where it’s at
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a risada da morena podia ser escutada há alguns metros mesmo com a música agradável que ressoava pelo local, não porque ela estava de fato se divertindo tanto a ponto de não conseguir ser discreta, mas porque ela precisava que ficasse bastante claro a qualquer um que a olhasse que Callisto Callaway estava tendo uma noite ótima. porque, bem, se havia uma coisa que aquele bando de universitários sabia fazer bem, era repassar notícias. parecia uma aposta segura presumir que adultos daquela idade teriam tanta coisa para se importar que a vida social alheia lhes fosse pouco importante; mas não era — não nas fraternidades, ao menos. e a notícia mais recente era que o casal capa de revista havia terminado mais uma vez. as fofocas no corredor ganhavam vida própria e se desenvolviam desenfreadas, teorias dizendo que Callaway havia engravidado de outra pessoa ou que Tyler estaria apaixonado pelo próprio colega de quarto chegavam a ser cômicas de tão distantes da verdade. como se os dois fossem um casal televisivo, de alguma série que os telespectadores tentavam adivinhar o futuro nos próximos capítulos. mas a realidade era bem mais complexa, simplesmente porque sequer havia um motivo específico para o vai e vem constante das decisões dos envolvidos (e geralmente, da moça). se prestasse um pouco de atenção nos próprios padrões, notaria que enxergava (ou criava) problemas em seu relacionamento todas as vezes que se sentia vulnerável demais. exposta. na última situação, o medo inconsciente se transformou em auto sabotagem após chorar nos ombros do ex namorado quando seu pai desmarcou de última hora a viagem que fariam juntos no feriado. mas Callie não havia ainda percebido o próprio mecanismo de defesa, ah não! acreditava fielmente que o término era não apenas inevitável como devido, já que o rapaz havia esquecido um compromisso importantíssimo que tinham agendado há um mês e meio (ele a levaria ao shopping pois seu carro estaria no conserto, já que ela precisaria de roupas novas para o evento de April). suficiente dizer que a mulher havia feito uma enorme tempestade em uma mísera gota de orvalho, mas conseguiu extrair da situação uma briga feia que colocara um fim na relação. motivo pelo qual, portanto, era de extrema necessidade que todos vissem como ela estava bem, e radiante, sem Tyler por perto. e com o gostosão almofadinha cujo bíceps gigante ela agora abraçava, um terrivelmente entediante riquinho estudante de direito. mas tudo bem, ao menos ele tinha um metro e noventa e dois. “você é tão engraçado!” disse, após ouvir uma das piadas mais sem graça de toda sua vida.
April lançou um olhar complacente, conhecendo bem a amiga para saber do seu teatro. mas não importava; não era ela quem tinha que acreditar. e a pessoa que precisava interpretar seu sorriso como indicador da melhor noite de sua vida havia chegado… ao lado de uma piranha magrela. que merda era aquela? quem ele achava que era? quem ela achava que era? ah. a audácia! “George, vamos pegar uma bebida?” sugeriu, interrompendo o início de mais um trocadilho com expressões de advocacia. “já volto” disse rapidamente para April, sem de fato ligar se ela havia escutado, e então puxou o rapaz até a mesa onde haviam algumas taças. e, por mera coincidência, encontrava-se há apenas poucos metros da sem sal que acompanhava seu Tyler. ridícula. o olhar lançado na direção do ex foi impassível, mas brilhava com um resquício de irritação. o rosto tão logo se contorceu em mais uma expressão alegre, porém, e Callie voltava a atenção ao almofadinha. “opa, deixou cair um pouco de bebida aqui” com o polegar, tocou o canto direito do lábio do rapaz. “prontinho.” avisou, sem ter realmente limpado nada. ‘na próxima tenho uma sugestão de como fazer isso’ ele brincou, com um sorriso malicioso, passando a língua no local onde ela havia tocado. Callie olhou por cima do próprio ombro, para conferir se Tyler os olhava. então se aproximou, na ponta dos pés, do ouvido do mais alto. “ah é? quem sabe depois você não me mostra” sussurrou, beijando a bochecha dele antes de se afastar para beber um gole da bebida servida, lançando mais um olhar ligeiro para o ex e a piranha.
"ella perdido a mí me tiene. soy su almohada los fines, el lunes no me quiere. aunque el alma me vende, sus balas si me hieren. sí, me duele."
sinceramente, não fazia muita ideia do motivo de estar ali. bem, era natural que tyler estivesse presente em muitos lugares sem que ao menos entendesse a dimensão de suas respectivas importâncias – afinal, era sim um rapaz popular e requisitado na universidade, então não era como se não o convidassem a troco de nada apenas para trazer certa conceituação ao evento ou algo superficial do tipo –, mas dessa vez, seu questionamento interno trazia uma grande irritação ao invés da usual confusão em que se encontrava nesses momentos. e pra falar a verdade, não era uma tarefa fácil tirar o astro do basquete da UCLA do sério, dada a personalidade descontraída e geralmente tranquila que carregava no gentil olhar azul. logo, callisto callaway deveria ganhar um prêmio por conseguir fazer com que o mar da tranquilidade simplesmente virasse uma banheira de óleo quente apenas com a presença de um branquelo fresco fã de polo azul clara sendo utilizado de suporte, já que ela parecia bastante confortável pendurada nele naquele evento beneficente promovido pelo pai de april. que nojo. sua garganta chegou a inchar de desgosto.
por que diabos aquele velho ranzinza de cara chupada tinha que ter criado um evento desses? ele nem se importava com isso – claramente o demônio de olhos juntos que april era tinha a quem puxar. callisto também só se importava com a imagem! aquelas jararacas s eram todas mancomunadas, com certeza aquele era um plano dos dois a favor de sua namorada. ou no caso, atualmente ex-namorada. faria mais ou menos duas semanas que haviam terminado – de novo. fora uma briga imbecil o qual o motivo ele também não entendera tão bem também, mas dessa vez quem baixara as cartas fora ela (assim como quase sempre fazia quando estava irritada com a vida, entediada, interessada em um novo brinquedo ou então em seu período menstrual. o último claramente sempre podia significar um atentado contra sua vida). apostava que, para demorarem tanto pra voltar, dessa vez ele devia ter feito algo errado. não tinha certeza se tinha a ver com vanessa, que inclusive estava ao seu lado agora por ter lhe convidado para o evento mesmo sendo presidente do conselho estudantil e estando sempre tão ocupada, mas se tivesse, seria bem feito pra callisto. ninguém a mandara terminar! que provasse do próprio veneno, afinal, se ele estava mordendo-se inteiro de ciúmes por vê-la apenas tocar aquele braço cheio de bomba, esperava que ela caísse morta de despeito quando o visse segurar na cintura fina de vanessa para guia-la como se tivessem muita intimidade pra isso. queria que ela visse. queria que ela acompanhasse.
pela primeira vez, tyler sentiu-se um pouco como callisto.
se não tomasse o que era seu novamente por bem, tomaria por mal.
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You totally smelled her hair.
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