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A sitação atual do governo é a seguinte: o "mercado", este ente que ninguém sabe o CNPJ e o endereço, exige corte de gastos para que o dólar baixe. O governo monta um plano de redução de gastos e envia para aprovação do congresso. O congresso exige gastos com emendas para liberar o projeto de redução de gastos. O governo não quer liberar mais gastos para conseguir aprovar o projeto de redução de gastos. Com isso o "mercado" aumenta o valor do dólar, que gera inflação e que faz com que o BC aumente a taxa de juros e os gastos do governo aumentam.

Tudo isso noticiado pela grande imprensa com base no que o "mercado" diz. E qual é o interesse do "mercado"? Colocar arroz e feijão na mesa da população é que não é… O interesse do "mercado" é especular e ganhar dinheiro comprando na baixa e vendendo na alta.

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Espinhoso

"Se houvesse um Lula [na Segunda Guerra Mundial], talvez a Alemanha tivesse sido parada antes. Lula será o líder mundial que não se calou diante de um genocídio televisionado" Ualid Rabah, presidente da FEPAL, em entrevista hoje ao @UOLNoticias

Fala cirúrgica do presidente da federação árabe palestina do Brasil. Em 1933 Hitler assume como chanceler da Alemanha. Ainda em 33 é aberto o primeiro campo de concentração na Alemanha, Dachau. Em 35 decretam lei que retira cidadania alemã de judeus residentes há décadas no país. 1936 uma Olimpíada é realizada em Munique com participação de 49 países, incluindo todas as grandes potencias da época. 1938 é assinado um tratado aceitando a incorporação da Checoslováquia pelos alemães… Durante todo esse período judeus eram expulsos de suas casas e assassinados enquanto Chamberlain e Lebrun (líderes de Reino Unido e França que você provavelmente nem lembrava que existiram) colocavam panos quentes e não usavam as palavras certas. Houvesse um Lula na época para dar nome às atrocidades quem sabe ações teriam sido tomadas já no início e o mal cortado pela raiz.

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Na testa de Fabiano o suor secava, misturando-se à poeira que enchia as rugas fundas, embebendo-se na correia do chapéu.

Graciliano Ramos - Vidas Secas

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Urinou abundantemente, contendo a respiração para não sentir o odor amoniacal que lhe arrancava lágrimas

Gabriel Garcia Marquez - A Má Hora

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De que lado?

Essa mania atual (ou nem tanto) de sermos obrigados a escolher um lado é de matar. Quem disse que PC é melhor que Mac? Que FIFA dá de 10 no PES? Que gostosona é melhor que mignonzinho?

E os estudantes da USP, você é contra? Aqueles vagabundos sustentados pelos papais deveriam agradecer por estarem estudando às custas de nossos impostos ao invés de depredar propriedade pública e infringir a lei. Ou é a favor? O reitor e a polícia estão acabando com a liberdade de expressão e asfixiando a criatividade no campus.

Tendo a concordar com um dos lados, acabo por ceder ao outro no meio do raciocínio e, no final das contas, não tomo partido. Me culpo por não escolher um lado. Me xingo/chamo de tucano, maria-vai-com-as-outras, apolítico. Porque um lado está certo e outro errado?

E se eu achar que realmente a PM precisa fazer rondas dentro da Cidade Universitária E que as manifestações dos alunos são um ponto positivo no sentido de trazer de volta uma das características mais importantes das universidades, a contestação do establishment. Dá até uma invejazinha naquele revolucionário que está hibernando dentro de mim há tantos anos (desde sempre?).

Opiniões enlatadas não faltam nos facebooks e orkuts da nossa vida social. Basta alguém postar um link de uma notícia contra ou à favor para uma enxurrada de ‘curtir’/’compartilhar’ tomar conta. Quer ser popular, poste um texto do Jabour, da Clarice, do Dimenstein, da Rubens Paiva. Não que estes estejam errados, se você concorda com um dos lados, apoie, mas saiba que o outro lado muito provavelmente tem suas justificativas e, quem sabe, poderia te convencer, não fosse você tão condicionado a tomar partido de maneira tão definitiva.

E já que é para fazer o crtl+C/ctrl+V (ou cmd+C/cmd+V), então, que seja, toca Rauuul! “Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante; do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

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Jahed

As barras da janela da sala só faziam a sensação de prisão crescer em sua cabeça. Como ele tinha conseguido chegar neste ponto? Claro, o crime perante as leis do homem não era lá dos mais hediondos, mas o peso da culpa pela quarta noite seguida ganhando dinheiro de sua avó na biriba era algo intolerável perante a sua própria consciência.

Dona Zina não parava de olhar. Já estava desconfiada. Era a quinta partida da noite que ele ganhava. A próxima não ia dar mais, tinha que perder. Mas como? Sua avó era péssima na biriba, ainda por cima depois de cinco partidas e cinco blood marys.

- Vó, a senhora tem que parar de beber esse negócio nojento. Tomate se come com macarrão, com alface, não com Vodka.

Do outro lado da sala Seu Hariri olhava sem entender. Desde a fuga do casal iraquiano para o Brasil no início da década de 90 ele não havia aprendido português, achava um desperdício de dinheiro esse negócio de eleições quase todo ano e não entendia de onde vinha o mofo que assolava sua loja de miudezas. Dona Zina dominava o português e fazia todo o trato com o público enquanto Seu Hariri organizava a bagunça da loja.

Jahed era iraquiano de nascença, sua mãe morreu durante o parto e, desde então, Dona Zina cuidava do garoto. Vieram para o Brasil, mais especificamente para a Mooca, em São Paulo, quando ele ainda era um bebê, fugindo da perseguição dos muçulmanos (eram de uma pequena comunidade católica) e das altas tarifas cobradas pelos taxistas locais. “De que adiantou vir para esse fim de mundo Hariri, aqui o taxi é mais caro que lá e ainda temos que aguentar essas novelas na TV”, vivia reclamando Dona Zina.

A única coisa que Dona Zina realmente apreciava por aqui era um torresmo bem sequinho. Seu sonho era voltar para o Iraque e abrir uma ‘torresmeria’, mesmo sabendo que sua clientela não seria das maiores. Havia aprendido o segredo de se fazer um bom torresmo com uma amiga de Minas e desde então seu colesterol nunca foi o mesmo.

- Jahed, pegue outra bebida para a vovó. Estou ficando com sede.  - Chega vó, a vodka já acabou. Não vou sair para comprar bebida uma hora dessas.

Na verdade Jahed não queria sair e correr o risco de encontrar o pessoal. Ainda devia dinheiro para o Boga e não podia pensar na hipótese de encontrar o Gil depois do Juventus ter tomado aquela goleada da Ferroviária na Série B do Paulistão. Não o Juventus, a quinta potência do futebol paulistano, como gostava de ver seu time do coração.

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Buteco do Pedrão

- E se o senhor fechar com a gente agora eu consigo com o gerente uma cane…

Não é possível, mais uma na cara. Essa até que estava indo bem. Ainda não vendi nenhum filtro hoje. O Brandão vai me matar. Acho que vou almoçar e dar um jeito de não voltar mais hoje. É isso! Ótima idéia.

- Brandão, estou saindo para o almoço e já volto, ok?

- Tá bom, mas vê se hoje não enrola no banheiro hein. Essa história de passar fio dental e usar listerine eu já ouvi de outros. Tudo besteira! Eu nunca usei estas coisas e estou aqui, com todos os dentes, sem cáries, cem por cento.

- Tá certo Brandão, posso ir então?

- Vai garoto, vai. Opa, espera aí. Não vendeu nada até agora? De novo? Não é possível. Geraldo, desse jeito você não dura até o fim do mês rapaz. Você está inventando frases fora do script de novo? – Resmunga Brandão me olhando por cima dos óculos. – O Jorge faz tudo certinho, lê o maldito script e todo dia fecha alguma coisa… Já teve dia que o Jorginho vendeu quatro filtros, quatro Geraldo, mais do que você vendeu essa semana inteira!

- Tá bom Brandão, vou tentar melhorar. Posso ir?

- Porque você não almoça com o Jorge hoje? Ele vai sair daqui 15 minutos. Ai você aproveita e pede umas dicas para ele, tenta pegar alguma coisa por osmose, sei lá.

O Jorge era o típico filho de vó. Aquele sujeito mimado, que só pensa no próprio umbigo e faz questão de mostrar para todo mundo que pode mais, mesmo que, na maioria das vezes, não possa.

…

- Eu vou querer um franguinho grelhado com arroz e salada de alface e tomate. – Anúncia Jorginho o seu pedido para o dono do Buteco. – Ah, e não esquece de colocar alguns crutons na salada. – Com biquinho e tudo na parte do cruton enquanto o Pedrão finge anotar tudo.

- Eu vou de fejuca Pedrão, aproveita e traz aquela caipirinha de entrada. – Peço sem o menor pudor enquanto Jorginho observa, com grande discrição, uma tremenda loira que entra pela porta da frente rebolando um micro shortinho que demarcava com perfeição aquela cintura 60, quadril 110.

- Vai lá falar com ela. – Desafio com um tapinha na coxa do infeliz. – Aposto que ela foi com a sua cara, você não percebeu que ela praticamente te deixou pelado só com os olhos? – Mentira deslavada, a safada nem percebeu o saco de ossos sentado todo torto naquela cadeira amarela enferrujada.

Esta era a minha chance, estou em meu território. O buteco do Pedrão eu conheço desde o dia da entrevista para o emprego, parei aqui para comer uma coxinha antes de falar com o Brandão e ser contratado. Esse picareta me paga.

- Não Geraldo, eu não sou esse tipo de homem. Apesar dos fartos atributos, prefiro mulheres com mais classe, essa não me apetece. – Nossa Jorginho, essa é daquelas que não se pode deixar passar, você vai ser arrepender para o resto da vida, vai lá po. Ah se fosse comigo…

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Vietnamita

- …e tinha aquele outro cara também lembra? - O Jorge? - Não Léo, aquele vietnamita que colecionava selos lá do Morumbi… putz, como ele chama mesmo? Retruca Moraes. - Ah, o desgraçado do Chon. - Isso! Ele mesmo. Encontrei com ele semana passada.

E, conforme a conversa seguia, num tom de nostalgia pós show do Paralamas do Sucesso, Leopoldo ia ficando cada vez mais vermelho, daquele vermelho PT. Não que o Léo fosse PTista, era Maluf 11, como ele gostava de falar, mas a cor ilustra bem a situação.

- Rapaz, porque você está assim vermelho? Melhor parar de beber. Se preocupa Moraes. - Toda vez que ouço o nome daquele japonês maldito isso me acontece. - Mas, ele é vietna… - É daquele lado de lá, não importa. Japonês é tudo igual mesmo. - Bom, mas o que aconteceu? - O infeliz me pediu dinheiro emprestado para comprar uma porra de um selo escocês antigo. Estava num leilão online brigando lance a lance com um milionário árabe. Me ligou da casa dele falando que era caso de vida ou morte, que precisava do meu apoio e que me pagaria assim que recebesse uma bolada de indenização do governo norte-americano. Ele está com uma ação contra os gringos por ter perdido 50% da audição do ouvido esquerdo numa explosão durante a guerra. O maldito traduzia as gravações para os americanos. Já era traíra desde aqueles tempos, acredita!?

Nisso chega o garçom com os ‘acepipes’ e mais 2 chopps. Moraes resolve mudar de assunto enquanto Leo toma o primeiro gole e acaba engasgando.

- E como está a mulherada Léo? - Mulherada? Que mulherada? Depois daquele dia do viagra eu não quero mais saber disso. Sem o remédio não consigo, com o remédio quase morri do coração… Melhor focar em outras coisas.

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Ataulfo

- A-ta-ul-fo. Ataulfo, como o Alves.  - Alves?  - Bom, deixa para lá. Escreve ai: Ataulfo da CBG ligou, favor retornar.  - Tá bom.  - Ok, obrigado. Até logo.

Sempre tive problemas com esse nome. Meu pai poderia ter homenageado o Vinícius de Moraes ou o Gilberto Gil. Foi escolher logo o Ataulfo Alves.

O pobre coitado vivia reclamando do nome, desde o colégio a perseguição dos colegas o importunava. No início da faculdade o pessoal não perdoava, mas depois de um tempo todos se acostumaram. Agora era o estágio.

Sejamos honestos, o nome o ajudou a conseguir a vaga. O processo seletivo teve pelo menos vinte pessoas e, na hora do vamos ver, o nome pesou. O chefe é fã do Ataulfo, o Alves. Agora ainda mais, com um estagiário para lembrá-lo disso a toda hora.

O duro é o pessoal do financeiro. Cruzar com um deles no corredor é o suficiente para ouvir: – E a Amélia? Era boa mesmo?

- Ataulfo, vem aqui agora!  - Oi chefe, algum problema?  - Tirando o fato desse relatório estar uma merd#$%… Não consigo ver os dados da filial Rio aqui.  - Mas o senhor pediu só de São Paulo chefe.  - E isso justifica você não incluir o Rio?  - Bom…  - Como assim Ataulfo, está me chamando de burro?  - Claro que não chefe.  - Bom, volta para a sua mesa e termina essa merd#$% direito.

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Unhas roídas

19h33, não é possível que ela vai atrasar de novo!

É, realmente tenho que começar a pensar se ela é a mulher da minha vida. Costumava ser. Até essa coisa de atrasar toda vez. Como é que vou me casar com uma pessoa que nem cumprir horários consegue? Bom, se cumprir horários também fosse a única coisa que me irritasse nela estava bom. Aquele jeito de comer, batendo a faca no prato toda vez que vai cortar algo é foda.

Putz, esse tênis não tem nada a ver com calça jeans.

Para que me preocupar também? Ela não vai vir… Está vendo, da outra vez acabei não falando nada, ela vai achar que é normal. Desta vez não passa.

Onde eu estava com a cabeça quando peguei esse tênis branco?

Ah, se ela aparece agora eu juro que mando para aquele lugar e vou embora. Aproveito e já falo tudo o que engoli até hoje. Calcinha amarela não dá né. Deve ter comprado para passar a virada do ano passado. E nem rica a desgraçada ficou, pelo contrário, toda conta eu que pago. Bem que de vez em quando ela poderia se oferecer pelo menos para dividir. Na hora de pagar a conta ela quer cavalheirismo. Deixa ela comigo.

- Moço, tem um trocado pra comprar remédio pro meu irmão? Pergunta um moleque magricela.

- Sai daqui moleque, não tá vendo que eu tô ocupado?

Era só que o que me faltava, dar dinheiro para moleque cheirar cola.

O filho dela é uma praga, daqui uns dias vai estar fumando maconha, cheirando. Com um pai daqueles também. Como ela foi acabar tendo um filho com ele? É muito burra, só pode ser.

Vou embora, não é possível, queria ver a cara dela chegando aqui e me procurando. Quanto tempo ela iria esperar? Ah, nem cinco minutos, duvido. Cinco? Ia chegar e ir embora. Do jeito que ela é impaciente. Nem unha tem mais, e ainda vem me dizer que corta curta porque gosta. É nada, ela rói mesmo. Certeza.

- Oi amor, demorei muito?

- Não, imagina. Onde você quer comer?