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dramatic-smurf · 9 months ago

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Monjayaki

Das circunstâncias que levaram ao primeiro contato entre Kana Mizuhara e Sou Touma.

Uma fanfic de Q.E.D em um Hogwarts AU.

Q.E.D e Q.E.D iff são de autoria de Katou Motohiro. Harry Potter é de autoria de J.K Rowling.

Não é que ela fosse alguém solitária, ao contrário, praticamente toda Hogwarts a conhecia, mas a primeira parte da viagem de trem sempre era feita em um compartimento vazio. Era como se ela mudasse um pouquinho, junto com a paisagem. Era um bom jeito de processar a troca de mundos feita cada 1° de setembro.

Era mais um ano, mais uma viagem no Hogwarts Express. Mais uma temporada de Quadribol. Mais uma aventura. Mais uma despedida. Kana sempre se sentia muito mal em deixar seu pai para trás por meses e mais meses, sozinho e correndo riscos todos os dias por seu trabalho de policial. Mas era justamente por isso que ela tinha que dar seu melhor na escola. O inspetor havia se mudado do próprio país até um lugar onde não conhecia ninguém, sabendo que sua filha entraria em um mundo que ele nunca entenderia por completo, para que ela pudesse atingir seu completo potencial. É por isso que a grifina fazia questão de se aventurar ao máximo, escrevendo toneladas de cartas sobre tudo e enviando ao pai. Não importa o que acontecesse, ela queria que ele soubesse o quanto era apreciado.

Kana não era muito boa em adivinhação, mas ela previa que, com esse ano sendo o quinto, suas cartas seriam cheias de reclamações sobre os O.W.Ls. E de fato ela era pior em adivinhação do que pensava, já que nunca imaginou que teria outro assunto que apareceria mais que os exames na correspondência. Hogwarts era assim, cheia de surpresas, cheia de pessoas surpreendentes.

O locomotor passando pela ponte e a paisagem se tornando uma enorme expansão de verde marcava o momento em que a introspecção da ruiva acabava. Ela sempre foi mais de ação do que de pensamento afinal de contas. Nunca demorava muito até ela resolver dar a volta e cumprimentar os alunos daquele trem. Isso quando não aparecia algum amigo seu para cumprimentá-la primeiro.

A porta do compartimento se abriu.

--Kana-chan!

--Eva-san! Ellie-san!

Eva Sukta era uma monitora do sexto ano. Uma corvina muito prestativa que fazia questão de usar os honoríficos com os quais Kana estava acostumada. Ellie Francis, também monitora, era do sétimo ano e grifina. Ela era muito organizada e composta. As duas não tinham tanto em comum com Kana, mas isso não as impediam de ter uma amizade verdadeira com ela. Talvez pela alta sociabilidade da mais nova.

Depois dos cumprimentos e dos assuntos de sempre ("Realmente não entendo como você consegue arriscar sua vida num esporte desses, Kana-chan." e "Ellie-san, como foi seu estágio esse verão?") chegou a hora das novidades.

--Kana-chan, eu não sei se você ficou sabendo ainda, mas esse ano vamos ter alunos novos!

--Hein? Todo ano a gente tem aluno novo Eva-san, os primeiranistas.

--Ela quis dizer alunos de transferência. Temos primeiranistas todos os anos, sim, mas alunos transferidos são raros.

--Mesmo!? Como você ficou sabendo? Sabe quem são?

--É um amigo do Loki. Lembra do projeto de correspondência com outras escolas de magia? E a irmã mais nova desse amigo também.

--Aah, então são de Ilvermorny? Me pergunto porque eles vieram para Hogwarts.

--Você também é uma aluna inusual, Kana. Podendo ter ficado no Japão e estudado em Mahoutokoro.

--Ah mas eu estudei lá, lembra? Lá a gente começa aos sete. Só que aí recebi a oportunidade de estudar aqui por minha mãe ter sido alumni e tudo mais.

--Sim, inclusive esse verão eu conheci as amigas da Kana-chan. Você teria gostado delas Ellie.

Assim o tempo se passava pacificamente entre elas.

Hogwarts, 3 de setembro de ××××

Querido Otōsan,

Eu dei realmente muita sorte de o dia primeiro ter sido sexta. São dois dias extras de folga. Mas não se preocupe Otōsan, que eu aproveitei para treinar para os jogos de Quadribol.

Eva-san ainda se preocupa comigo e com o Loki, mesmo depois de tantos anos nos conhecendo. E Loki acha que vai conseguir ganhar de mim esse ano. Eu garanto que vou levar a taça dessa temporada para casa, a Sonserina pode ficar com o segundo lugar mais uma vez. Ele realmente é um jogador muito bom, só deu o azar de ficar contra mim, que teve 4 anos de treinamento em Mahoutokoro.

Falando no Loki, um amigo dele se transferiu esse semestre. Ainda não o conheci pessoalmente. Só vi ele e a irmã dele uma vez, na cerimônia de seleção. O chapéu seletor não demorou nem 30 segundos para colocá-lo na Corvinal. A irmã foi para a Lufa-Lufa. Parece que ela está no terceiro ano e ele está no mesmo que eu. Talvez eu o veja em alguma aula.

E agora falando nas aulas, esse ano eu tenho O.W.Ls. Ellie-san não vai poder me ajudar muito já que ela mesma tem N.E.W.Ts, mas não por isso eu vou desistir. Esse ano eu vou visitar a biblioteca mais um pouco.

Estou falando sério. Não ria Otōsan! Estou falando tão mas tão sério, que agora eu vou terminar a carta e ir dormir. Assim vou acordar cedo para o primeiro dia de aula.

Na próxima carta eu conto direitinho como tá todo mundo, o pessoal do time de quadribol, do clube de 'Exploding Snap' e até os primeiranistas que ajudei esses dias.

Boa noite Otōsan. Com muito orgulho, sua filha,

Mizuhara Kana.

Os dias desse ano passavam do mesmo jeito que os dos anos anteriores. Kana acordava quase, às vezes completamente, atrasada, participava das aulas, fazia a tarefa (raramente em avanço), passava tempo com amigos, se metia em problemas, ajudava alguém quando podia e treinava para o Quadribol.

Haviam apenas duas diferenças; A primeira é que ela estudava um pouco mais. Era um ano importante afinal de contas. A segunda era o novo corvino. Ela ainda não teve a oportunidade de falar com ele diretamente, o vendo apenas em aulas conjuntas. Nesses momentos ficava bem óbvio o porquê do chapéu seletor não hesitar na escolha da casa. E se fosse para escutar o que os rumores diziam, então ele havia inclusive corrigido o professor de aritmância, uma eletiva que ela não fazia, o deixando tão irritado que os alunos receberam dois pergaminhos extras de tarefa.

Foi em um dia de céu limpo, porém frio, que começou a temporada de Quadribol. Grifinória vs Corvinal. Trajada de uniforme e equipamento de proteção, Kana esperava o apito que simboliza o início da partida. Ciente de que uma vez no ar não teria tempo de se distrair, a batedora procurou os amigos na arquibancada enquanto ainda podia.

Ela já sabia que os colegas da própria casa estavam presentes, então focou sua visão na área corvina. Próxima à divisão de casas estava Eva-san, como o esperado. O que a confundiu foi não ver um cachecol verde ao lado dela e sim um amarelo. Loki, que nunca faltava à uma partida e sempre ficava ao lado de Eva quando esta vinha, simplesmente não estava lá. Em seu lugar, havia uma garota de olhos azuis e cabelo preto, estranhamente familiar à grifina.

Seja lá o que tivesse acontecido, isso teria que ficar para depois. O apito tocou. Era hora de rebater alguns balaços.

***

--Eva-san! Eva-san, aqui!

A monitora sempre esperava do lado de fora do campo quando a partida acabava.

--Kana-chan, que bom que você tá bem! As suas jogadas sempre são incríveis de tão perigosas.

--Hehe, obrigada.

--O que eu faço com você...

--Mais do que o que fazer comigo, o mistério real é o Loki. Cadê ele? Ele sempre fica do seu lado.

--Ah, isso...

--Com certeza deve ter sido o meu irmão que quis alargar aquele debate. Devem estar até agora na biblioteca falando de contas e mais contas.

--Não seja assim, Yuu-chan. Loki também tem culpa de não saber quando parar.

E ali estava a dona do cachecol amarelo que Kana avistou antes do jogo. Olhando de perto, ela realmente não era nenhuma conhecida. Ainda assim, parecia ser tão familiar... Yuu... Onde ela ouviu esse nome antes...

--Ah, Kana-chan, essa aqui é a Yuu Touma. A aluna que se transferiu de Ilvermorny. Não acho que tenham se conhecido antes. Yuu-chan, essa é a Kana Mizuhara.

--Um prazer conhecê-la, Mizuhara-san. Você fez um grande trabalho distraindo o apanhador da Corvinal com uma goles no último segundo. Seria incrível te ver em um jogo de beisebol!

Hogwarts, 23 de outubro de ××××

Estimado Otōsan,

Faz uma semana desde o primeiro jogo de Quadribol da temporada. Eu já contei todos os detalhes dele na carta passada. Desde então tenho passado algum tempo com aquela garota, Yuu-chan, que conheci depois do jogo.

Ela é muito animada e divertida. E sabe muitíssimas línguas! Só me preocupa um pouco ela ser meio desastrada. É como eu digo Otōsan, estudar demais também não faz bem pra mente.

Temos a Yuu-chan que se distrai facilmente, a Eva-san que se preocupa demais e o Loki que tem alguns parafusos soltos. Não me leve a mal, eu gosto muito de todos eles. E nem julgo sério porque sei que não são coisas ruins que os põem em risco. Não muito.

Só teve uma vez que a Yuu-chan quase caiu da escada quando ela mudou de lugar, mas enfim.

Aliás, se as coisas tivessem sido um pouco diferentes, nós poderíamos ter nos conhecido no Japão mesmo. Os pais da Yuu-chan são de lá, enquanto ela e o irmão nasceram nos EUA.

Não é uma surpresa Hogwarts reunir gente de lugares tão diferentes em um só lugar, afinal Eva-san é da Índia, e o Silva-san é de Portugal e Clara-chan é- mas sim, é bem louco de se pensar.

Ellie-san está estudando bastante para os N.E.W.Ts e eu me ocupo de fazer ela se divertir de vez em quando. Ah, mas não se alarme Otōsan, eu também estou estudando (Por mais que não entenda tanto).

Eva-san está me ajudando, então se puder me enviar aquela receita de Okonomiyaki Otōsan, eu agradeço. Eu vou fazer pra ela como agradecimento. Principalmente considerando que ela consertou minha espada de bambu.

Eu meio que quebrei ela sem querer...

Era por um bom motivo Otōsan! Tudo o que posso dizer sobre é que Loki vai ser mais cuidadoso daqui pra frente e não preocupar tanto Eva-san. Sério, passar tanto tempo em salas vazias fazendo contas quando tem uma garota fofa como Eva-san atenta com ele...

Espero que se um dia eu me casar, seja com alguém que tenha mais noção que Loki.

Até a próxima Otōsan. Com muito carinho e muita noção, sua filha,

Mizuhara Kana.

Novembro passou rápido. Quando Kana deu por si, já era o fim do mês e todo mundo iria para casa em algumas semanas pelas férias de inverno. Ela gostaria de presentear seus amigos mas, conhecendo tanta gente e sem trabalho de meio período algum, era um tanto impossível cumprir essa parte da tradição natalina.

A esperança é a última que morre e a grifina logo elaborou um plano. Com o dinheiro guardado de seu trabalho no verão, a garota de olhos vermelhos compraria ingredientes na próxima visita de Hogsmeade e usaria a cozinha do castelo para fazer cupcakes. Seriam muitos, mas depois de pegar o pique ficariam prontos em um instante.

Com seu plano em mente ela pôs os pés pra fora da carruagem no dia da visita. Devidamente agasalhada e deixando pegadas na neve, ela havia saído bem cedo, na esperança de poder comprar tudo antes de se esbarrar com alguém do seu círculo de amizade. Principalmente do círculo mais íntimo. Se tudo desse certo, ela até faria algo a mais para eles. Uma torta talvez? Ou um bolo no lugar dos cupcakes? Contanto que todos pudessem se divertir antes de se separarem para o Natal...

--Agora te pegamos. É bom que escute, tampinha.

Foi justamente usando os caminhos menos concorridos, nessa tentativa de evitar algum conhecido, que ela acabou encontrando uma cena inusual. E ao seu ver, injusta. Três pessoas rodeando uma e a encurralando contra a parede. A ruiva não era grifina a toa. Não deixaria que as coisas ficassem assim.

--Você já tava avisado pra parar com isso. Por culpa sua o professor passa tarefa desnecessária. A gente já tem com o que se preocupar, valeu? Ninguém precisa de um sabichão que nem você se metendo onde não é chamado.

--Acontece que eu participo dessa aula. É meu direito como aluno fazer observações e tirar dúvidas. Se o professor comete erros todas as aulas, a culpa não é minha. E se ele não tem a maturidade de aceitá-los sem descontar nos outros, então o problema definitivamente não é meu.

--Ah é? Agora vai ser. Você vai querer nunca ter saído da sua escolinha de metidos!

Antes que ele pudesse atacar, foi atingido. Kana chutou a parte de trás dos joelhos do aluno. Se aproveitando da confusão momentânea, ela pegou a mão do garoto encurralado e saiu correndo puxando-o atrás de si.

'Corrigindo professor? Saído de outra escola? Saído de outra escola? Com certeza esse maluco que não tem noção de perigo é o irmão mais velho da Yuu-chan. Eu achei que ela tava exagerando quando reclamava dele mas, caramba.'

Depois de correrem até a parte mais populada do vilarejo, e um pouco mais para garantir, eles pararam ofegantes. Quer dizer, um deles estava ofegante.

--O quê... o que foi isso?

--Fui eu te salvando.

--Mas precisava, ai, precisava correr assim?

--Eu até podia ter noucauteado eles mas você tava encurralado. E se acabasse te machucando?

--Mas então por que, uff, por que você não usou a, a varinha? Um petrificus bastava.

Isso era porque ela havia se esquecido completamente sobre magia por alguns minutos. Não que ela o fosse deixar saber.

--Vem cá, você sempre questiona assim as pessoas que te ajudam? Custa um obrigado?

--Não que eu precisasse mas, obrigado. Aiminhacostela.

Olhando para ele com mais calma, sua relação com Yuu era bem clara. Cabelos pretos e olhos azuis escuros. Algumas características faciais que eram as mesmas. Era até estranho eles se parecerem tanto e serem tão diferentes. Não é que os irmãos tivessem personalidades opostas. E nem era algo concreto considerando que essa era sua primeira interação direta. Mas as atitudes eram definitivamente diferentes.

--Que tipo de pessoa provoca assim alguém que está prestes a te agredir?

--Quando que eu o provoquei? Eu simplesmente disse o que deveria ser dito. Ah, será que usei o tom errado? Talvez a frase não ficou bem elaborada...

Ah. Outro sem noção.

Hogwarts, 4 de dezembro de ××××

Favorito Otōsan,

Era só brincadeira quando eu falei que estudar é coisa de louco. Então por que não tem uma única pessoa sã nessa escola????

Ontem eu salvei o irmão da Yuu-chan de levar uma surra. Talvez ele precisasse ser salvo, talvez não. A questão é: ele tem menos noção ainda que o Loki.

E temo que eu esteja começando a enlouquecer também. Acabei esquecendo de comprar os ingredientes na visita.

Pelo posso dizer, Otōsan, que a loucura tem seu lado divertido. Foi bem entretido ver o jeito que Touma-kun tinha com outras pessoas. Isto é, jeito nenhum. Ele não tem habilidades sociais. O total contrário de Loki e ainda assim são melhores amigos. Vai entender.

Aliás, é até bem curioso o jeito que nos conhecemos. Estamos no mesmo ano, compartilhamos algumas aulas, temos dois amigos em comum, a irmã dele é amiga minha e ainda assim a primeira vez que conversamos foi em Hogsmeade, sem nenhum deles ao redor.

Era a primeira vez que ele visitava a vila. E como a delicada filha que você criou, Otōsan, eu mostrei todas as lojas pra ele. Em troca, consegui a tutoria dele para os O.W.Ls. Tudo o que precisei foi pedir gentilmente.

Gentilmente Otōsan, eu sei ser gentil sim.

E como já estávamos no espírito de acordos, acabei fazendo um trato com ele no caminho de volta ao castelo. Ele vai me conseguir os ingredientes que não pude comprar e eu faço um prato que ele pedir.

Eu estava torcendo para que fosse algo simples, mas considerando que ele até me emprestou a coruja para te enviar essa carta Otōsan, talvez essa acabe sendo a receita mais complicada da minha vida.

Diga oi à Maryam (esse é o nome da coruja).

Te vejo em breve Otōsan. Com muita gentileza e delicadeza, sua filha,

Mizuhara Kana.

Olhando para aquela coruja não maior que uma régua, de olhos amarelos e face branca com marrom, o inspetor teve o repentino pressentimento que a veria muitas vezes ainda. Ele podia não ter magia, mas tinha seu instinto que para si era tão bom quanto. Nesse caso, era melhor que se dessem bem, sim?

--Olá, Maryam.

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Agradeço a todos que leram minha fanfic. Ela também está disponível no Spirit, no Wattpad, no FF.net e no AO3 com o mesmo nome.

Maryam Mirzhakani foi a primeira mulher a ganhar a medalha Fields.

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