deathdame
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deathdame · 1 month ago
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Factor II [Archive]:
Clair-Obscur
até quando vou sentir essa indiferença nada transitória e a necessidade de matar algo — pessoas em vida?
às vezes, tenho a sensação de que aquilo que existia inda quer fazer algo bom. no entanto, aquilo que se faz seria uma necessidade ilusória de suprir algo que não mais existe e que foi perdido há algum tempo.
eu não me importo o suficiente se você diz querer se matar. acredite, não por maldade.
não sinto algum tipo de desespero ou angústia em pensar nessa inexistência que, a ti, se faz idealizada.
indiferença tão semelhante à falta de vontade ao ato que eu tinha de tirar minha própria vida.
e nisso, vejo que as coisas mudaram, e alguma coisa dentro de mim também mudou.
me impressiona como falsos moralistas que dizem que devo seguir as normas puramente impostas são os mesmos que as seguem quando convém. por este motivo, quando sou chamada de cruel pelos meus atos, sinto como se faltasse algo nesse termo, ou como se não fosse suficiente — por ainda me parecer cômico.
enquanto eles veem como uma forma de crítica, sinto como se fosse um elogio. entretanto, meu corpo se porta de acordo com o que esperam que eu reaja: um pouco perplexa, indignada, talvez confusa...
a palavra "confusa" ressoando como um eco em minha mente de forma satírica, nada satisfatória (com risadas debochadas de fundo em diversos tons) — e que deus me perdoe se o mesmo existir —, de onde surgiram estas malditas vozes que me fazem sentir como uma fraude redundante?
e que não sejam através daqueles sentimentos de culpa e vergonha que, certa vez, exauriram-se internamente pelo excesso — através de uma autoaversão proclamada, enquanto davam vida a algumas das personalidades que se projetaram em minha psique —, guiando este corpo de forma parasitária pela qual passei a fazer o uso do mesmo verme em outros corpos, para minha própria sobrevivência.
minha realidade se altera de acordo com crenças que, ao meu ver, já não é mais possível retroceder; fazendo com que o abismo pareça ser confortável em torno de toda essa construção meramente fenomenológico-existencial, onde a dialética da finitude se instala de forma intrínseca e/ou satânica no Self.
assim como o ventre da baleia parece ser confortável, assim também será o grande vazio inevitável que se expande de acordo com o tempo, fazendo com que o meu corpo padeça, pois ele não é nada além do próprio tempo. (por mais que eu já não goste de basear meus argumentos nestes fatos que, a propósito, chamam erroneamente de "pseudociência").
eu gosto de brincar com a substituição das palavras — como de "relógio" a "corpo" —, pois sei que em algum momento torná-lo-ei Eu, indistintamente. declaro também ser um dos meus melhores hobbies.
meu único pesar seria sobre a vastidão dessa guerra infinita entre dois irmãos, e em como eles nunca conseguirão vitória e permanecerão sobrepondo suas forças um sobre o outro, numa luta sem fim --
quanto mais espessa for a armadura destes guerreiros, maior o peso que carregam, maior o sofrimento que enfrentam, e maior a dor que são capazes de suportar.
esses são pensamentos passíveis de edição. a condição permanece pendente até a obtenção de alguma forma ou "forma de nada", porém se mantendo suficientemente vagos para serem considerados ideias completas ou não.
03/12/24
edit: 09/12/24
30/12
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deathdame · 1 month ago
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Abstrata
diários incompletos congelados num tempo de sentimentos abissais que se encontram desfigurados ao ler, assim como são as pessoas
como se bastassem essas pequenas linhas tortas, desfragmentadas na medida em que as escrevo
pois foi-se o tempo em que minha mente conseguia se separar de meu entorno
assim como a perspectiva que tenho a graça em olhar pelas tuas janelas
tentando sufocar aquilo que tenta te matar por dentro.
sei que em algum momento quando morreres assim como eu, não sentirás a necessidade de injuriar esses teus hiatos de sentimentos
de linha em linha —,
como algo profano na qual se deita com um peso que nos funde ao mais gélido inferno de Dante, que caminho de forma sorrateira em saudação e respeito à um velho amigo —
momentos rompidos que permanecem cravados nesse museu de ressentimentos que se assentam na tua epiderme.
eu não consigo me conter em falar palavras e frases que no dia seguinte já me esqueço e
talvez
tu as esqueça também,
postas nas paredes dessa casa abandonada nas profundezas de um pálido oceano desconhecido
a escuridão segue alastrando-se em meus órgãos de forma a consumir todo sangue que sobrou
pessoas tornando-se lembranças esquecidas
sorrisos tornando-se formas abstratas
e olhares tornando-se dispersos na superfície inóspita onde a carne e as sinapses não mais habitam
sugando tudo o que já fui e o que restou
rendendo-se ao verdadeiro nada que sou.
| Nov 29, 2024
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deathdame · 1 year ago
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aqui, no pós-vida
o desdobramento da realidade faz com que
o meu coração pese mais que uma pena,
apenas para que eu aprenda a tornar
o meu amor mais leve
não por alguma falha,
maldição ou castigo
e sim, pelo escárnio ao me verem
dolorosamente vendada, enquanto
me rebato sufocando em sangue.
esse mar vermelho
só abre a passagem
enquanto durmo, pois
são expressões sutis e sentimentos
desprovidos de medo e de tempo.
olhares que vibram mais que a voz
corpos etéricos mais presentes
à comunicação antecedente
veementemente desbravando
sons que se manifestam no após --
meras são as desilusões onde me encontro
acordada
dos segredos que abrigo, enquanto amor
transbordo
das boas memórias que, de outrora
esqueço e
das palavras que, de-letra em letra
desapareço
contudo, enquanto desperta
sinto que morri, pois o sonho
parece ser mais real que aqui.
a alma se observa adormecida
digladiando interiormente
no mutilar penoso, apenas
zarpando epiderme à fora
onde o peso das asas
como de um anjo caído
desabam no
agora,
Ambra Marques | Dezembro 5, 2023
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deathdame · 1 year ago
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"e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes."
é através das sinapses que enxergo o significado das expressões e das palavras
indo além das concepções difundidas e progredindo na medida em que expando, explorando sua permanência estrutural
satanicamente psicografadas nos escombros sintomáticos do meu subconsciente.
são essas mesmas imagens cravadas, que sussurram como lâminas folheadas em busca de verdades antes jamais pronunciadas
afirmando que a lealdade ao próprio irmão, transcende até mesmo o ouro que tanto almeja.
e ainda risco — salientando sobre os bens e aquilo possuis por mérito — que nem mesmo criam raízes em solo fértil, muito menos te definem como indivíduo.
todavia, os castigos provenientes de suas ações e atos infantilizados ao dar de ombros em negação à realidade, é o que te define e onde mora o verdadeiro pecado
por conseguinte, sendo rejeitado pelo próprio universo através da relutância em aceitar que suas lições e disciplinas são repletas de dor,
e que aquilo que tanto repudia é o que mais carece de amor.
conheço os excessos angustiados, ao golpear o peito com autoengano, proclamando que não se importa com nada
sou igualmente indiferente à forma como tuas frívolas conclusões me reduzem à causa
pois, além de tudo o que me ocorreu, e que das cores me deixou desbotada
pela dor, sei onde minha paz reside, e o meu caminho de volta para casa.
Ambra Marques | Novembro 29, 2023
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deathdame · 1 year ago
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e exclusivamente o Altíssimo detém a sapiência acerca do estado mental do cômico-errante.
seguindo a manada, eles marcham
organizados em fileiras de imagens, posses, máscaras, sorrisos, objetivos, adjetivos e
sem vivacidade alguma, se vendem.
como se uma fachada requintada pudesse disfarçar a vacuidade, transigindo quiméricos pózinhos mágicos dos quais se alimentam
enquanto o valor, ironicamente, escapa até mesmo à sua própria consciência.
vendados pela ambição enquanto o ego diz o que devem fazer ou como devem agir
diante de discursos persuasivos sobre as armadilhas fantasiadas de "regalias do ter e do não sentir", logo sendo ameaçados pelo tédio de possuir e a escassez de zelos obstinados.
e dos medos que sentem em ceder ao mínimo de afeto, amor e importância, colidindo-se em amizades e amores líquidos "pelas circunstâncias".
pois das virtudes perdidas e dos atos que se desumanizam durante a jornada
com minha foice os parto no meio, guiando-os em direção à abismos de paradoxos imanentes
sob olhos arrebatadores, interferindo num destino predestinado àqueles que não vêem ou enxergam as conexões intrísicas à natureza dos homens.
pois meus excessos projetam reflexos que sangram pela sensibilidade às condições iniciais — em efeito borboleta —, de diversas maneiras e formas, abatendo violentamente e sem vingança alguma.
parasitando em diferentes hospedeiros e
manipulando o absurdo e o inevitável, pois
não é pela fé que acredito nessas leis,
mas sim, por observação e experiência.
e me pego, desprevenida, rindo ao vê-los crendo firmemente no acaso raso das condições hipotéticas, rotineiras e
de seus esforços em compreender o que tô fazendo com tudo isso aqui,
na tentativa de expurgar pra fora uma lição e/ou o que sinto, cautelosamente atraindo olhares carinhosamente gentis ou de penitência (?)
logo após eu conseguir desapegar da ideia de importância e aceitar a minha própria
insignificância.
e nisso, não satiricamente, sinto uma vontade gritante em me manter em posição de lótus e de olhos fechados
observando meus risos transformarem-se em sons, piadas de mal gosto perderem a graça, formas-pensamentos tornarem-se nuvens dispersas e --
rostos e pessoas se dissiparem entre si.
Ambra Marques | Novembro 25, 2023
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deathdame · 1 year ago
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Ouroboros
e ele caiu inoportuno na matéria orgânica, assumindo o posto destes corpos
pesando em densidade correspondente
operando na ponta da língua sons estridentes e arbitrários
"esvazie-se e verás quem lidera".
perdidas, serão minhas versões nessa lacuna
sedentas, serão as cobiças pelo Sol
e intensas as expansões dos dois polos.
a angústia devorando raios solares em desespero, enquanto a escuridão cumpre suas profecias.
guerras serão decretadas obrigando a busca por um lado. sem inimigos ou aliados.
trincheiras, serão as entrelinhas destes fatos.
perdidos, serão os véus de Maya nesses danos.
o protagonista repousa asfixiado entre os panos.
fendas em leito são criadas das renúncias de outrora
que, por espasmos, se fez em deleite ao nada.
a única constante é o eterno retorno em que rastejo
como serpente ascendente, despindo minha pele em camadas.
Ambra Marques | Novembro 21, 2023
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deathdame · 1 year ago
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segredos dourados
rasgo o contrato, ímpar
rastejando no chão, procuro vestígios no sangue de como possuir a próxima vítima
unhas arrancadas pela fúria ao tentar abrir a tampa desse esgoto sórdido e maculado
lá em baixo tem um baú repleto de ouro e uma coroa com o meu nome ao lado
e um papel escrito com o nome de outras pessoas e seus aniversários
nenhum propósito ritualístico além de números que algum dia achei que eu pudesse fazer uma boa ação ao lembrar e
talvez o faça
mas os números viraram confusões matemáticas.
"17 de janeiro, 1 e 7..."
1, a origem
as 7 maravilhas do mundo
as 7 cores do arco-íris
as 7 chaves de Salomão
as 7 leis herméticas
os 7 pecados capitais
os 7 chakras
os 7 dias da criação
2 + 5 = 7
o sentido da vida.
12 de novembro, o meu aniversário
1, a origem (eu)
2, a dualidade (te)
1 + 2 = a trindade (amo)
a resposta.
e nos versos das minhas linhas mutiladas
vejo somente cortes sem reparo
e lá dentro da carne eu finco o que sinto
manipulando luz e extraindo pra fora palavras encharcadas de —
"você é muito importante para mim".
me sufocando num mar de sentimentos
essa besta ainda se arrasta aqui dentro
feia e assustadora aos olhos desatentos
talvez eu devesse deixar esse baú de lado
por um tempo.
Ambra Marques | Novembro 19, 2023
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deathdame · 1 year ago
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Death's End(er)
foi num breve momento preambular do sono que te vi chorando, como uma criança
não consegui abster minhas lágrimas após esses milissegundos epifânicos de gnose
pois consegui ver nitidamente cada detalhe, e sentir exatamente tudo.
dias antes eu havia te visto nos meus sonhos pintando uma caveira num quadro
acredite, era lindo
porém teus olhos atravessaram rúbidos, fixamente no fundo da minha alma.
a barba estava grande e o cabelo precisando de um corte, o que nunca me incomodou.
lembro que você tinha talento para arte porém não sentia ânimo de desenhar, e por algum motivo, parou. assim como as poesias.
ao contrário de ti, eu sempre enxergava significado e sinais em tudo
não foi diferente nos meu sonhos.
eu e essa minha tendência obsessiva em decifrar sinais, códigos e significados ocultos
até das coisas que não tinham significado algum e eram puramente fruto da minha imaginação
ou indignação.
ainda continuo vivendo com essas quimeras regularmente, pois já me são bem familiares
é só olhar em volta
o sonho dentro de outro sonho, a vida, o tempo
ou a idealização que criou de mim por muito tempo.
apesar dos meus esforços de cumprir suas instruções de como eu deveria ser e viver a minha vida, eu resisti
reagindo instintivamente ao controle
de forma tão agressiva e imprevisível que
fui me esvaziando numa tentativa de suprimir tudo o que eu era, até não restar mais nada
somente tóxicos sedimentos que se solidificaram num recipiente vazio.
no entanto, essa inquietação já não me afetava, pois à medida que morria, fui aos poucos me purificando nessa dissolução provocada por ti.
hoje, escuto as mesmas vozes que ecoavam em sua mente, com igual intensidade, sarcasmo e crueldade por trás de um raciocínio inegavelmente lógico.
as mesmas vozes que diziam que te levariam para longe de mim, e que logo você iria me perder
pois corrompia tudo o que tocava.
"me deixa ficar, eu amo ela",
e assim o fizeram.
aposto que você não esperava que eu iria dar um jeito de te alcançar
pois sinto-me cada vez mais próxima desse monstro Minotauro, à cada passo que dou neste labirinto.
aprisionada em dezenas de pessoas que, um dia, já foram como ele.
sendo levada por uma correnteza cármica de vidas passadas que nos conduzirão
inexoravelmente
até a morte.
e assim, vou tecendo este quadro ao teu lado por incontáveis éons, para todo o sempre, porque
"por mais que eu me vire melhor sozinho, sei que o ser humano não consegue viver sem companhia".
Ambra Marques | Novembro 17, 2023
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deathdame · 1 year ago
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miragem
em qual momento realmente fui uma ameaça ou uma vítima, se todo o cenário que vejo é indicativo de que sou vítima de mim mesma?
até quando me arrancaram a pureza, as cores e o brilho que aqui dentro existiam
e que me faziam viva,
foi como um julgamento pegajoso de que tudo seria a culpa deles e
do porquê de eu ser assim.
mas até minhas reações me pareciam fugir de algo manipulado pelo ambiente
e até no momento que eu não lembro de ter decidido não reagir aos pensamentos e situações que me acometinham, no fundo sabia que poderia
e que
com culpa, sentiria, não é a minha culpa,
mas sem culpa, sinto, é tudo minha culpa.
são milhões aqui dentro:
a vítima e a ameaça
a luz da morte e a desgraça
a liberdade e o véu
assim na terra como no céu
por um caso, sem acaso
eu me pergunto: "quem sou eu?"
"meu nome é Legião, porque somos muitos",
perdendo tudo o que era meu.
riram de mim através dos meus olhos, esvaíram-se em mim numa longa miragem.
o espelho agora refletido como um silêncio pacífico e irreparável de uma pergunta sem resposta.
viajando internamente de encontro com --
"Deus, arder no fogo e no Sol
não me foi suficiente?
pois ainda me sinto frágil como um vidro
tenho que ter muito cuidado comigo
das coisas que penso, que falo
e que sinto...
a dor aqui já está no limite há algum tempo por tudo o que aconteceu", falei.
"então caminho de forma cautelosa no campo minado da minha cabeça".
e Ele respondeu:
"são esses mesmos ruídos que vagam vagarosamente em sua mente, dizendo:
'sua manipuladora',
ao próprio alvo que se manipula e estipula
de que Eu sou isso,
em desserviço a esse corpo que te prende e
me apreende dentro de ti".
Ambra Marques | Novembro 15, 2023
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deathdame · 1 year ago
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conexões epidêmicas
nesses dias de angústia e desespero
onde me desvencilhei dos apegos que um dia considerei amigos
e que só apareciam quando precisavam de algo ou mostrar algo com o desejo de alcançá-lo,
como se eu estivesse num patamar hegemônico de idealização e de aprovação.
eu me visualizava inconformada com esse objeto na qual fui coroada e que me fazia ouvir vozes de uma suposta queda
e no "tudo bem? como estão as coisas?"
de forma previsível e calculada, sem muita importância
onde entreguei minhas mãos sangrando de respostas e que na mesma medida me deixaram sem respostas.
alí largada com as mesmas mãos que das unhas cravando no peito escalavam e sufocavam minha traquéia
das vozes que me diziam que eu não deveria abrir a boca ou oferecer nenhuma palavra de ajuda, e que do contrário eu vomitaria sangue e o tempo desperdiçado
que acariciavam as entranhas do que me foi comunicado ser esse medo de abandono e rejeição.
começavam com "com o que tu trabalha?", "e isso paga bem?"
e terminavam com "eu trabalho traficando drogas".
astúcia e vampirizacão dada a confiança na qual não me foi correspondida
me poupavam as despedidas
transformando tudo aqui dentro numa desconfiança sem saída.
os que se importam tentam me ajudar e me livrar da prisão que construí para mim mesma
onde faço minhas próprias punições e morro continuamente, sem renascimento.
pois assim como uma criança, não lembro o momento em que nasci
ou da dor da graça, que minha mãe ao me dar a luz, me fez sentir
Ambra Marques | Novembro 14, 2023
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deathdame · 2 years ago
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Gênesis
no dia em que tentei
me encontrar,
a terra era somente mar.
porém as ondas
começaram a ficar tão agitadas
pela mágoa de insuficiência que —
como num sopro de potência —,
elas quebraram próximo à costa,
fazendo-me perceber que eu era
somente uma ilha solitária.
desesperada,
busquei no mar respostas
do porquê de eu ser assim,
mas o mar estava muito escuro
para enxergar.
então, tornei-me um peixe
e mergulhei na escuridão do abismo,
onde descobri ter criado em minha volta
um oceano de ilusões.
mas eu ainda queria me encontrar,
pois eu não aceitara ser somente
um ponto em um vasto oceano.
então, me tornei um falcão
e vislumbrei, de longe,
um fragmento do que eu seria
mas ainda me faltava algo.
me transformei
na Estrela da Manhã
e vi o sol iluminando
as Cordilheiras dos Andes,
todas as ilhas,
todos os peixes,
todas as aves e
todo o resto.
finalmente entendi minha complexidade.
"meu horizonte é tão bonito e abundante,
que parece ser um desperdício", pensei.
Ambra Marques | Maio 3, 2023
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deathdame · 2 years ago
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tarde demais
quando finalmente
entendi
a brincadeira
do bem-me-quer
e do malmequer,
já não havia mais pétalas.
Ambra Marques | Fevereiro 9, 2023
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deathdame · 2 years ago
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o alimento dos deuses
assim, como um rato sujo
vou me esgueirando entre
os hiatos alheios
não era como a toca do coelho
que eu almejava alcançar
eram como esgotos vazios
sórdidos e pútridos
que meus pelos rastejavam
pelos verbos lameados
dicotômicos e insalubres
que eu arranhava
com um certo apreço.
o desespero
desespera a dor
de amar o amor
de qualquer forma
de qualquer jeito
em qualquer leito
e então, com estes olhos
cegamente vermelhos
eu farejava
inebriadas escamas abissais
em busca de algo...
ludibriada pelo canto da sereia,
me vi rodeada de predadores
numa armadilha forjada
vampirizada e amaldiçoada
a vender a minha alma
aos falsos deuses
que pela vulnerabilidade eu
insistia em me converter.
e Eles me disseram,
"seja submissa,
nem hedonista,
nem Eros"
mas se tenho seu amor
a troco do seu prazer
o que mais eu poderia ser?
Ambra Marques | Dezembro 18, 2022
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deathdame · 2 years ago
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O Rugido do Sol
é leão no sol
e escorpião na lua
o rei da selva devora
a minha carne crua
entre os véus
dessa cachoeira
a alma dança nua
sanidade
de um lado
e do outro lado
loucura.
Ambra Marques | novembro 22, 2022
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deathdame · 2 years ago
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às vezes a gente precisa machucar
um pouquinho
pra existir o que o amor mata, pois
onde um se entrega, o outro avança
o medo afasta o que o amor alcança
até tive que me manter distante
pra não perder as esperanças
e já nem sei quantas vezes
morremos pra existirmos
nessa dança.
lembranças.
eu queria nunca ter te conhecido antes
pois assim evitaríamos muitas coisas,
você sabe.
saudades.
passei a ter um apreço pela escuridão
senão
não poderia enxergar a luz
enquanto você se fazia sombra.
me assombra
que
você era
e é,
justamente aquilo que eu
mais precisava e preciso —
impreciso —
como a gota de chuva
de um temporal que
se tornou tão deífico
quando unida ao oceano
— pacífico.
Ambra Marques | novembro 22, 2022
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deathdame · 2 years ago
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youtube
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deathdame · 2 years ago
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independentemente do que eu tenha feito, eu não deveria ter sido abandonada como o rato sujo e morto que eles enterraram pra esconder o cheiro e a culpa.
— eles se enterraram com o rato também.
Ambra Marques | julho 25, 2022
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