cadernoderascunhos
Caderno de Rascunhos
123 posts
Acervo de rascunhos literários, livro de apontamentos e mata-borrão das ideias enodoadas de Jefte Amorim.
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cadernoderascunhos · 3 months ago
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Terrorismo poético
Hoje entendo o meu motivo no gesto inútil de espalhar poesia sem assinatura; de entregar beleza em papéis cortados sem dar espaço para um nome - ou um rosto. Gosto quando o terror, não-violento, veste o espanto da poesia. A utopia vã de um sentimento uno que desperte o encanto, o transcender, sem a necessidade de pódio, palco ou holofote.
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cadernoderascunhos · 3 months ago
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Não
Não me peça sorrisos
Não me peça a porra de um sorriso
Não me peça.
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cadernoderascunhos · 3 months ago
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Artífice
Quantas vezes quis fazer dos miolos fogos de artifício?
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cadernoderascunhos · 5 months ago
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Presentes de aniversário
Hoje acordei com Lenine e Carlos Posada em mente, em Castanho: "o que eu sou, eu sou em par. Não cheguei sozinho". É estranho olhar para trás e tentar decifrar de onde surgem e se conectam tantos fios que desabrocham nos laços que hoje temos. De tão imenso, o emaranhando é quase infinito. E nisso, apesar de não costumeiro, tenho que concordar com Vinicius de Moraes: "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".
Amanhã faço aniversário. Ontem jantei na casa do meu filho (obrigado, Andrea e Paulo, pela dádiva da partilha), um jantar feito por minha nora (obrigado, Bia, pelo afeto e cuidado), com a família dela com quem me sinto em casa - o que é raro (obrigado, Caique, Carla, Lelê, pelo vínculo e acolhida). Hoje, vem ao mundo um sonho que o menino esquisito de Ponte dos Carvalhos, anos antes, jamais sonharia: os versos em cordel escritos sobre a herança do meu solo cabense são parte do disco de estreia da Academia Jovem da Orquestra Ouro Preto, com cada acento poético ladeado por gigantes como Bartók, Ayres, Holst e Alexandre Travassos.
[ Aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/0KbviKfO295CKHBRtVNQEh?si=551e24f48fe64771 ]
O chão que Rosemary nutriu e cuidou e em que Esperantivo plantou poesia deu frutos. E se, como parece, virei árvore de muitos galhos possíveis, quero a felicidade de viver sem cercas ou muros, com frutos que existem para matar não só a minha fome. Afinal, neste tronco que adensa 33 anéis há enxertos de muitas fontes - e não há como crer que tudo que cresce aqui seja meu, ainda que esteja em mim. Por isso, celebro o que tanta gente é naquilo que sou, mesmo aqueles fios cuja origem da trama nem consigo lembrar.
Em 2018, "A Morte do Bode Tião" era um sonho de Rodrigo Toffolo alimentado pelas estórias contadas por Mateus Freire. E tive a honra de que ele compartilhasse comigo, e confiasse a mim, a escrita desse sonho em cordel. Uma missão, aliás, só possível pelo intermédio de Marcos Souza, que conheci pela paixão pela obra de Chico Mário, num fio que leva a uma trama de muitas outras histórias.
O cordel se tornou concerto. O concerto virou disco, com a honra de ter ido a Belo Horizonte, no ano passado, dar voz aos versos. Agora, o disco está no mundo. E tenho a alegria de novos encontros no domingo, 11 de agosto, dia dos pais, no lançamento na Sala São Paulo, eleita uma das 10 melhores salas de concerto do mundo. Com Andrea, minha esposa e parceira de vida que fez com que tudo isso fosse possível; com João, que me permitiu o amor paterno; com meu pai, de quem aprendi a escrever a primeira poesia; e com minha mãe no peito, pois me ergueu com a coragem para que eu seja quem sou.
Que voltas loucas a vida dá…
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cadernoderascunhos · 5 months ago
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deus
Deus é a fantasia que homens vestem para encobrir seu próprio diabo.
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cadernoderascunhos · 7 months ago
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Nexo
Teu sexo É o nexo Entre o desejo E o céu
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Melindre
A dor que dói no outro.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Tornar-me inútil
Há um prazer em quem semeia que desafia a vaidade fútil: crescida e frondosa a árvore, vê-se feliz por ser inútil.
Sabe que a vida lhe transcende e o seu saber não erra: não vem de suas mãos o fruto, têm mérito a semente e a terra.
Por isso não há lamento, e sim profunda alegria: inda que caia no esquecimento, terá sempre a poesia de seu plantio servir ao mundo sabor, sombra e brisa fria.
(Fim de tarde de 17 de abril de 2023, depois de ouvir “Velho Francisco”, de Chico Buarque, e “Um certo João”, de Guilherme Rosa)
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Envelheço na cidade
Que envelhecer te seja sempre um refinar e expandir das perguntas da juventude, e nunca um acreditar que alcançou a plenitude das respostas
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Violas meu coração
Acordas as cordas e os acordes
Violas meu coração
(Do baú. De 2017 ou de bem antes)
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Toda alegria será saudade
Ouvi das folhas ao vento um sopro de verdade: virá outono para a vida, não há estação para a vaidade. Toda alegria, um dia, não será senão saudade.
21 de fevereiro de 2023. 18h07.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Quando a morte vier me abraçar
Quando a morte vier me abraçar, terei semeado o eterno. E ainda que não veja a colheita, sumirei sabendo que são frutos de minhas mãos na terra que alimentarão outras gerações - mesmo quando não houver mais memória de quem fui.
Alimentei-me da Terra. Nada mais justo que, um dia, ela se alimente de mim.
02 de fevereiro de 2023. 11h25.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Sobre Arte
A arte é um meio de viver, do lado de fora, os mundos de dentro que precisamos proteger.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Meu avô também era Mário
Meu avô também era Mário. Nem Sobral nem Andrade, mas Pedro. E não é nenhum segredo que encontrei nas linhas (tortas) dele muito mais poesia.
20/12/2022, 23h11.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Choque hipovolêmico
No pulso de meu peito, quando se contrai o ventrículo, não é o sangue quem faz de veículo a minha válvula aórtica
É a palavra, deusa caótica, que corre em minhas artérias e veias.
Encharca o estômago, perfura o fígado, enauseia.
Não dá trégua, contamina, envenena.
Pois enquanto o silêncio serena, a palavra, bruta, relembra - sem cintilar de alegria - que não há gota - e sim hemorragia - nas linhas de cada poema.
20/12/2022, 22h39
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Esquina
A morte me espera na esquina. É questão de tempo até que eu dobre e a encontre.
Até lá, espero ter me encontrado primeiro.
20/20/2022, 22h22.
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cadernoderascunhos · 2 years ago
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Volume
Quanta tristeza cabe no coração de um homem?
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