bhaktar
plants boy
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Ravi. Herbologist. Potions Master.
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bhaktar · 2 years ago
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lolagenius​:
- Talvez, eu não seja uma pistoleira clichê. Ou vivendo meu pior momento de ser previsível por estar exausta da profissão. Mas pode ser que eu seja uma pistoleira cool e misteriosa, com uma faca presa em uma das minhas coxas e um revólver escondido, só pra me prevenir enquanto assisto algo mais planejado se desenrolar. Afinal, pode-se dizer que gosto de táticas e testemunhar os resultados. E este lugar está repleto de armadilhas. - Lola respondeu com um humor pernicioso. Os braços cruzados e a sobrancelha alteada representavam mais do que sinais da parte de quem passara tempo demais observando Ravi com singela curiosidade. Absorvendo-o. Sua postura era de alerta também, visto que aquele lugar que chamava de cativeiro parecia cenário de Jogos Mortais. Assim que relaxou, seu cérebro a lembrou que poderia agir como uma jovem quase normal e um sorriso brotou lentamente em seu rosto. - Aliás, pode ser que eu esteja preparada para lidar com o que você acabou de enfiar no seu bolso. O que você está escondendo, meu querido bocó? - ela apontou, descendo os curtos degraus que encutaram a sua distância de Ravi. Era inegável a diferença da vida real e de uma foto, pois ele era mais atraente pessoalmente. Ponto que alargou o seu sorriso e que se escondeu assim que mordeu o canto dos lábios para apreciar a vista à seu modo. Só o conhecia pelos chats que acabara inserida em conjunto com o chat que existia entre eles e Luca. Recém-chegada no Reino Unido, ela realmente não mentia ao afirmar que não conhecia muitas pessoas, sendo uma repetição do que praticamente vivenciara na Itália, desde o seu nascimento. Sempre cercada por pessoas mais velhas que se resumiam a mulheres passivas e homens com tratamento nojento para cima dela — e de suas parceiras. Sempre de mudança devido ao que agora tinha plena consciência e sabia que era a razão de ter sido “transferida” pela milésima vez na sua vida. Pontos que fecharam um pouco sua expressão subitamente, especialmente por desconfiar-não-desconfiando de qual era seu futuro ao estar logo na casa de Lorenzo. O famoso Lore. Por enquanto, poderia aproveitar algumas variações, como, finalmente, conhecer a sua irmã ou meia-irmã, nunca sabia ao certo, que acabara conquistando o pódio das lástimas do que sabia ser uma grande máfia. Ambas estavam imersas por nascimento, mas Clarice conseguira um passe — mesmo esse não sendo o argumento correto, mas também descobrira as causas. Afinal, ao contrário dela, terminaria mais cedo como dona de casa e tendo que apoiar o pobre coitado do Luca, não para ser um soldadinho perfeito, mas para não perder os próprios miolos. Suspirou, pensando na própria liberdade. De certo modo, Ravi parecia exalar a liberdade que tanto desejava e isso o tornava ainda mais atraente. Especialmente se pudesse contrariar um pouco o seu fadado destino, complicado de guardar a 7 chaves, ainda mais quando Luca, a quem transitara de um país a outro com ela, também sabia. Mesmo com a sensação de ter um ponto de vista de um narrador observador, sabia mais ao que poderia e não temia o fato de ser considerada uma anomalia. Afinal, sair da máfia somente por causa de morte. Por saber demais, era claro que planejavam algo para que ficasse quieta e a única forma de ficar quieta seria sendo orientada pelo mesmo futuro de Clarice. Revidar parecia sua única batalha e a única forma que vinha conseguindo fazer aquilo era ampliar seus contatos e cuidar de quem não merecia estar naquela posição de fazer o que era óbvio que não queria. Era injuriante, mas conseguia pagar de louca 24 horas por dia, já que parecia a única maneira de viver uma espécie de universo alternativo mais aprazível que toda aquela realidade patriarcal. Até mesmo para não terminar sem a porra da língua, pois, de tanto que era seu saturamento, não havia um só dia desde que chegara que Lorenzo não avisava para tomar cuidado com o que estava disposta a compartilhar — e preferia morrer a perder a língua. E ela sabia que era quase um pedido de socorro, bem no estilo Marina Joyce, só faltando elaborar uma série de vídeos com todas as denúncias. - Pelo seu comportamento, posso confirmar que você é fornecedor das ervinhas do Lore. Sempre me perguntei quem poderia ser essa lenda pelo mero interesse de precisar de alucinógenos para atingir outra dimensão. - ela continuou, revirando os olhos em seguida para si mesma por ter consciência de que jamais chegaria naquele nível de loucura. Para sobreviver no meio da bandidagem, era preciso estar alerta, sóbria e afiada o tempo todo. - Ainda mais porque você está correto, uma casa de vidro nunca foi tão entediante. Tem nem vizinho para brincar de Voyer, sabe? Uma tristeza! Hoje, não tinha ninguém online para rolê, mas eu estava escolhendo meu look para sair com a Jessica amanhã. - Lola se interrompeu, pois, pela quantidade de informações de humanos normais que vinha recebendo desde que chegara, vivia de trocar ou de esquecer os nomes. O que lhe parecia comum dado o fato de que nunca se apegara a ninguém por muito tempo. As pessoas que conhecia tinha a mesma função de um stories, de curta duração e esquecível. - O Luca foi sequestrado, não te falei? - ela relembrou, tateando atrás do celular para recordar Ravi sobre com quem Luca acabara saindo quase como se estivesse fugindo e não tirava a razão dele, pois vivia de fazer o mesmo enquanto era possível. Guardou o aparelho em seguida, mas não sem antes checar o GPS para confirmar que ele não parara em uma vala. - Luca não me dá bola, não sou o tipo dele. Nem se eu me fantasiar de Lolita, ele não vai querer lamber meu pirulito. - lamentou, com a maior cara de falsa. Depois, riu ao som de seita e concordou com um breve aceno de cabeça. - Seita é uma ótima palavra pro que acontece aqui. A diferença é que Lore é meio difícil de causar uma adoração feminina. Mas ele é ótimo em tentar convencer pelo medo, embora precise aprender mais sobre lavagem cerebral. Por enquanto, apenas fazemos as reuniões normais de todas as seitas até decidirmos quem serão os alvos da vez. Pode ser a Bratva, quem sabe. - pontuou, com um russo perfeito. Mais uma vez dando com a língua entre os dentes por fazer referência a máfia russa. Respirou fundo para oxigenar o cérebro e direcionou para Ravi os olhos mais inocentes do mundo. - Não tem nada de interessante para fazer, a não ser você me contar o que diabos faz aqui uma hora dessas. Não tem nada mais útil pra fazer da sua vida não? Transar, quem sabe? - o timbre de Lola era suave, mas se sentiu hackeada de si mesma, pois queria dar um chute na bunda de Ravi para tirá-lo daquele ninho de cobra. Principalmente porque vinha tendo tempo demais para compreender as ramificações familiares de Lorenzo e o rapaz à sua frente pertencia a lista de quem, provavelmente, não sabia de onde vinha toda a grana para uma casa de vidro exageradamente grande para 4 pessoas. Além de ser um dos poucos parentes queridos que viviam com um alvo nas costas sem ter ideia disso por ser o famigerado ponto fraco do conselheiro da famiglia. - Sério, aqui não é um bom lugar para estar, meu anjo. Mas, se fizer tanta questão, terei que te revistar antes de entrar. Como única moradora disponível no momento, terei que ser auror de mentirinha, já que os seguranças são meio burrinhos e preciso me proteger. - mantendo o olhar fixo em Ravi, Lola ergueu um canivete retirado do bolso da calça, em um movimento silencioso e imperceptível. Era seu mimo, um stiletto italiano automático, que usava para se sentir segura, tornando-a colecionadora do que ter em mãos caso algo saísse do controle. Aprendera também, cedo demais, que ninguém da sua família se preocupava com sua segurança corporal, pois era um mero objeto. Sem uma nesga de preocupação, suas sobrancelhas se altearam maliciosamente. - Um desperdício você ser bonitinho assim e eu nem poder arrancar um pedaço.
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Como o indivíduo que poucas vezes era ouvido e levado a sério em meio as questões familiares, especialmente por seu comportamento que por vezes beirava o excêntrico, Ravi aprendera ser um observador razoavelmente bom do comportamento humano. Era assim que conseguia, por vezes, ler o que poderia existir por trás do comportamento robótico de Lorenzo - embora o mais velho fosse realmente um especialista em parecer o mais blasé possível o tempo inteiro. Lola, por outro lado, e possivelmente por ainda ser jovem, era bem mais transparente, o que tornava mais facilmente perceptível que por trás da atitude rebelde existia alguém que vivia sob absoluta tensão. Percepção que o fez pensar em Luca que vivia igualmente tenso, porém potencialmente mais assustado - especialmente por ter Lorenzo enchendo a paciência sempre que possível. O que o fazia considerar que, ao contrário de sua versão mais jovem, que queria vivenciar mais do mundo do irmão mais velho, recebia mais que suficiente apenas com aqueles vislumbres esporádicos. Viver naquele tipo de angústia certamente não fazia bem aos chacras e menos ainda para a pele. Além do mais, gostava da liberdade e todos ali pareciam de uma forma ou de outra presos. - Você soou como o Rei Julian de Madagascar e sinto que estou prestes a levar um golpe! - pontuou com certo divertimento, embora fosse quase impossível não manter-se ligeiramente desconfiado diante de uma postura que exalava alertas dos mais variados. Enquanto refletia, daquela sua maneira por vezes um pouco lenta, o tronquilho em seu bolso colocou a cabeça para fora para que pudesse se fazer visto. - Ah, esqueci de apresentar! Esse é o Raj, meu tronquilho, assistente pessoal em herbologia! - meneou a cabeça de uma maneira que o fazia parecer excessivamente sério, mas o sorriso arteiro em seus lábios logo o traiu. Ravi voltou a retirar o tronquilho do bolso porque o mesmo parecia muito mais interessado em explorar as plantas ao redor que em dar atenção a conversa de ambos. - A família da minha mãe é meio fascinada por animais mágicos. Pensei em magizoologia se herbologia não desse certo, mas a morte do meu tio, pai da Elissa, a namorada do Pipi, traumatizou minha abuela o suficiente para saber que ela surtaria com a possibilidade. Enfim. Tronquilhos são inteligentes e ótimos auxiliares, realmente. - ao contar aquele pequeno fato familiar recordou-se imediatamente de Lorenzo informando categoricamente que jamais deveria falar sobre a família com alguém envolvido nos negócios dele - o que apenas amplificava sua percepção de que lidavam com algo pior que uma seita. Ravi coçou brevemente a testa larga. Um suspiro resignado escapou a ele, mas logo transformou-se em uma risadinha abafada. - Are, do jeito que você fala implica que estou fornecendo algo ilícito para o meu irmão. - e estava, mas adorava fingir que não. - Eu não diria que sou exatamente um fornecedor, mas, bem, ele me avisa quando precisa de algum chá, ou erva para poções e coisas assim. E não me custa ajudar já que ele banca meus estudos e tem sido meu suporte financeiro já que meu querido baba jamais pôde e quis me assumir. Daddy issues. - um ar de falso sofrimento pautou as feições de Ravi. Não sentia, necessariamente, a ausência da figura paterna, mas, em sua infância e início de adolescência aproximara-se da cultura indiana na esperança de que fosse percebido para além de um deslize. Entretanto, no presente momento, o que o divertia sobre aquele tópico era que mesmo casado e constituindo uma família seu genitor não possuía um herdeiro oficial do gênero masculino, e na Índia para as mulheres não eram dados os mesmos direitos em termos sucessórios. Nos últimos meses havia se tornado comum tentativas de contato que Ravi ignorava com muito divertimento. - Ninguém quer transar comigo! Sou um homem sensível, as mulheres me rejeitam. Apenas a masculinidade tóxica as seduz. Até Lorenzo conseguiu descolar um casamento, sabe Shiva como. - o sarcasmo pontuava seu timbre no instante em que dera um passo mínimo em direção a Lola. A distância entre ambos era confortável, mas não o suficiente para impedi-lo de sentir o sutil aroma que emanava de seus cabelos. - Eu sou irmão do dono da casa, normalmente não preciso passar por revista! Especialmente porque tenho sempre um soldadinho de chumbo na minha cola. - revirou os olhos, exasperado, porque morreria achando um exagero tremendo da parte de Lorenzo manter excesso de segurança ao redor de cada membro da família. Embora, considerando o que vinha descobrindo pelos últimos meses, a paranoia do primogênito se tornasse cada vez mais plausível. - Mas me parece que a revista não é bem feita se você consegue manter um canivete. Não recomendo tirar pedaços do meu corpo, nem deixar sua irmã viúva precocemente, porque infelizmente pra você e felizmente para mim e Lorenzo temos uma mãe latina e elas podem ser pior que o capeta na proteção da cria. Chega a ser totalmente constrangedor. - uma careta pontuou suas feições. Não era como se tivesse uma má relação com a mãe, mas ela costumava sufocá-lo, especialmente pela ausência paterna - o que se tornou ainda mais frequente quando Lorenzo resolveu viver na Itália com o pai. - Mas também imagino que nada assuste quem tem reuniões sobre a Bravta, hum? Me preocupa os rumos dessa seita de vocês e me parece que é melhor continuar não sabendo demais ou vou terminar mais envolvido que gostaria. Por Shiva! Odiaria ter que viver em função da seita e não dos meus próprios desejos. - pontuou, calmamente, utilizando-se de um pouco mais de seriedade do que era seu comum. Os olhos castanhos estavam presos aos de Lola como se tentasse enxergar algo a mais. - Respondendo sua prévia pergunta: meu irmão me chamou. Temos nossos próprios negócios. Mas acredito que ele esteja ao resgate do Luca o que me deixa com tempo livre e a mente criativa. - pontuou, com um sorriso artimanhoso ganhando o canto de seus lábios. - Levando em conta que você está entediada, sundar ladakee, posso pensar em uma ou outra maneira de entretê-la. - seu olhar lentamente percorreu o corpo de Lola, demorando-se um instante a mais no trajes finos que ressaltavam as curvas de seu corpo, nos lábios cheios tão característicos aos latinos, antes que seu olhar encontrasse o dela. - Quão disposta a se sujar a rajkumari está? De qual maneira vai depender de seu espírito.
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bhaktar · 2 years ago
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@lolagenius​
Essencialmente Ravi preferia muito mais a privacidade e calmaria do seu recanto no meio do mato que o luxo e o conforto (da também excessivamente privada) mansão onde seu meio-irmão mais velho, e absurdamente rico, residia. Obviamente não lhe caia mal desfrutar das regalias que podia usufruir entre aquelas paredes, além, é claro, das companhias, onde normalmente tentava impedir que a alma de Luca acabasse indo residir no mesmo limbo em que se já se encontrava a de Lorenzo. Embora não soubesse com todas as letras o que realmente o primogênito fazia para ostentar uma vida como aquela, diante dos pedidos que recebia dele (e que tinham muito a ver com sua visita da vez), os comentários que entreouvia aqui e ali, e todos os mais ridículos estereótipos sobre italianos lhe davam ideias que pareciam exageradas ao mesmo tempo que totalmente plausíveis - especialmente depois do inesperado e ainda inexplicável noivado com Clarice. Podia, é claro, questionar com todas as letras, mas estava ciente de que receberia nada além de respostas evasivas. Ravi, por natureza, era o indivíduo que parecia mais alheio da parte da família que residia no Reino Unido: Lorenzo assumia a postura de comando, inacessível, um pai de família tradicional que tudo provêm, mas que o essencial, tempo de qualidade, não podia oferecer. Elissa assumia um papel maternal, empático, as vezes demais, embora soasse meio megera pelas últimas semanas. Ambos não eram assim tão mais velhos, mas Ravi sentia que destoava, talvez pela impressão eterna de que como mais novo na sala sua opinião não seria levada em consideração - e realmente não era. Talvez tenha sido esse o motivo que ainda na infância o tenha levado as estufas da casa materna em Porto Rico, e que, mesmo atraído pelo conforto e a chance de jogar vídeo game no telão da sala de jogos, naquele instante se encontrasse no jardim coberto de Lorenzo observando se as plantas, principalmente as mágicas, estavam sendo devidamente cuidadas. Enquanto caminhava fazia notas mentais do que precisaria trazer consigo em sua próxima visita para garantir que o mais velho teria de rápido acesso plantas curativas de fácil manejo, assim como venenos sutis e não letais. Embora distraído como irmão de um grande paranoico, e alguém que vivia sentindo presença ocultas em seu encalço, o ligeiro arrepio dos cabelos em sua nuca fora o prenúncio de que não estava mais sozinho, tampouco sendo apenas observado a distância. Suspirou, resignadamente, enquanto calmamente retirava de cima de um galho de arruda aromática, uma espécime brasileira que fora seu presente de casa nova para o irmão, seu tronquilho e fiel companheiro Raj para que pudesse acomodá-lo de forma segura no bolso de seu casaco. - Para quem jura que é pistoleira você precisa ser mais silenciosa, Lolita! - pontuou, com certa graça, assim que deparou-se com sua futura concunhada. Aliás, outro fato que ainda soava muito esquisito para Ravi era a presença de Lola naquela casa, reforçando sua teoria conspiratória que Lorenzo estaria devendo até a alma para ter que bancar a babá de dois jovens adultos quando achava um saco a convivência com o próprio irmão caçula. - A princesa está trancafiada nessa casa de vidro? Pensei que estivesse dando um rolê por aí com suas novas amigas ou atormentando o Luca pra tirá-lo do puritanismo. Aliás, cadê ele? Vim resgatar meu bebê, mas não o vi em lugar algum! Minha esperança era descobrir que ele está em um date usufruindo da vantagem de ser o sonho de consumo de toda it girl, mas a realidade me chama para o fato de que provavelmente está enfiado em algum grupo de estudo ou fazendo alguma coisa esquisita em nome dessa seita de vocês. - a palavra seita escapara com a ligeira malícia de quem esperava uma resposta um tanto elucidadora. As orbes castanhas brilhavam em curiosidade enquanto observavam a jovem diante de si. - Are, me diga que há algo de interessante para fazer por aqui, aguardar por Lorenzo solitariamente está me matando de tédio.
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bhaktar · 5 years ago
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consiglierelorenzo‌:
Por mais que soubesse que parte dos comportamentos de Ravi era oriundos de raízes indianas, Lorenzo se deixava entreter visto que cada movimento ou falar vinha pincelado com uma dosagem quase ínfima de teatralidade. Observação que poderia significar muitas coisas, como seu irmão não suportar sua presença ou pelo simples fato de que, vez e outra, o tratava como um pirralho. Ele tinha convicção do último fato, pois era o que o impelia a tratá-lo de tal forma propositalmente, como ocorrera minutos atrás. Sem sombra de dúvidas, Lorenzo poderia deixá-lo partir e continuar envolvido com sei lá o quê, mas um dos prestígios de seu trabalho era ser antenado até quando parecia distraído. Era bom com silhuetas, algo sempre útil por motivos de força maior já que aprendera desde muito cedo a temer até a própria sombra. Um valor profissional que não se orgulhava e que valia o código de silêncio visto que lhe cabia exclusivamente. - Não que me importe com ofensas, bambino, mas eu ficaria realmente chateado de não ter recebido sua dose de amor. - depois de revirar os olhos com a teatralidade de Ravi, um contragosto regado de fingimento, Lorenzo se deixou abrir aos cumprimentos do irmão e retribuiu os dois tapinhas. Depois, segurou-o pelos ombros em uma firmeza orgulhosa característica dos italianos. - Ma’ sempre muito atenta aos meus passos. Não sei se devo ficar lisonjeado ou preocupado. - havia certa legitimidade em seu argumento, pois, devido ao seu papel na famiglia, sempre mantinha a figura matriarcal, que o entrelaçava pelo sangue a Ravi, distante de todos os seus negócios. - Figurati! Minha presença no hospital já foi realizada com sucesso. Me disseram que os ingleses eram extremamente frios, algo que imperiosamente acredito. Porém, é só saber chamar a atenção das pessoas certas que tudo dá certo. Algumas não disfarçam o deslumbramento de carne nova no pedaço. Meio chato, porém, válido. - Lorenzo ajeitou o jornal sobre a mesa e terminou o seu café de um modo quase inquietante. Naquele exato instante, Elissa prestava uma visita ao mencionado local e, por mais que um dos seus estivesse no encalço dela, era como se a tivesse deixado à deriva. Não era dado de assumir tais posicionamentos já que era um conselheiro e conselheiros valiam um tanto mais que os soldados de campo. Contudo, por se tratar da sua família de sangue, Lorenzo quebrara suas regras pessoais. E, profundamente, nada o deixava mais de sangue quente que a sensação de cegueira que o inspirou a consultar o celular antes de continuar dando atenção ao rapaz a quem fez outra mensura para pedir qualquer coisa do menu. - Non, bambino! Você sabe que existem outros meios de verificar onde andam as pessoas e não é necessariamente por meio de suas madres. E, bom, eu gosto de fazer as pessoas da minha família acreditarem que andam por conta, mas, dessa vez, eu não lhe dei uma sombra, pois, como acaba de ver, eu assumi esse papel. - e ele sorriu largamente, satisfeito, especialmente por causa da expressão de quem refutaria até o inferno sobre não ter um de seus homens cafungando no colarinho de seu irmão em algum futuro próximo. - Cosa c'e’? - perguntou Lorenzo, assim que notou Ravi apresentando sinais de que parecia incomodado. - Não posso prometer que eu não vá precisar dos seus serviços. É meu MO fazer o menos de sujeira possível quando estou em outro país e seus venenos me ajudam nesse ponto. O que me faz questionar: você precisa de dinheiro? Remédios? Ainda não continua com aquela besteira de influencer, não é? - Lorenzo gesticulou calorosamente antes de puxar meticulosamente as mangas da sua camisa. - Oh, grazie, Dio, bambino! - suas mãos se uniram em uma prece e se sacudiram energicamente diante da explicação de Ravi estar nas redondezas. - Você acaba de me deixar aliviado. Ao menos algo decente você fará com sua vida, embora eu acredite que seus esforços para me manter longe são inúteis. - Lorenzo sempre gostava de pontuar que as pessoas não podiam ir longe uma vez que cruzavam seu caminho. Apesar de suas considerações particulares sobre aquilo também, sabia que era do feitio de um homem se deleitar com determinada quantidade de poder e ele era um desses. Moderado, mas gostava de se sentir no controle. O poder era uma das piores drogas por se crer ser maior que aqueles que sabia que, em algum momento, explodiriam devido ao peso da sua língua que se atrelava ao natural DNA italiano que cuidava de todo mundo, o tempo todo. Isso valia para sua família sanguínea, mas sem a parte de se usar de motivos para eliminá-los. - Eu estou matando tempo, Bambino! - confessou ele com uma honestidade que poderia ser duvidosa a quem sabia o que ele fazia da vida. - Cogitando passar os dias de Ferragosto por aqui para saber se todo mundo ficará bem sem minhas intervenções. - a afirmação era uma ironia provocativa para tirar de Ravi uma atitude defensiva para ter o prazer de contestar. - E, como deve imaginar, estou aguardando a nossa cugino realizar a visita desnecessária do momento. Eu fico abismado que situações como essa podem ser resolvidas por intermédio de cartas e de mensagens de texto, e Elissa simplesmente fingiu que não. Nunca me senti tão fora da atemporalidade de ser presente, de ir checar se alguém importante, se é que posso pontuar dessa forma, o que já me deixa azedo só de pensar, está vivo quando, inclusive, isso também pode ser verificado via telefone. Ou coruja. - e o desagrado de Elissa estar se expondo diante de um membro referente a uma determinada família, a quem tinha planos seguintes de prestar uma visita territorial, era tão latente quanto sua inquietude de não saber o que estava acontecendo. Certamente, alguém perderia o fígado e não era sua prima. - Como dizem, notícias ruins chegam rápido e, bom, vamos dizer que há mais de 10 pessoas ao redor do Mungus exclusivamente por precaução. - o exagero o fez gargalhar e ficar mais à vontade na cadeira, arrancando os óculos para observar melhor o irmão. - Pode ficar despreocupado que eu não vou colocar ninguém na sua cola. Não me dê motivos, pois inserir homens no seu encalço é chamar a atenção tanto vertical quanto horizontalmente, e alguém precisa ter uma vida normal. - ele silenciou, pois o “vida normal” era um nervo sensível também segredado em seu código pessoal. - Contudo, precisarei que não ignore minhas ligações ou mensagens, pois a última coisa que eu preciso, Ravi, é imaginar que você terminou em uma vala antes de eu te dar um tapa na orelha para deixar de ser distraído. Capisce? - claro que ele não deixaria a distração de Ravi passar em branco, como se fosse obrigação de todo mundo ser meio paranoico. Por ele fazer parte de uma máfia, Ravi era um detentor de um alvo nas costas gratuitamente. Por isso mesmo era melhor ele acreditar que realmente o atenderia caso afirmado responsabilidade e menos distração, pois botaria uma sombra junto ao mais novo de outras maneiras imperceptíveis.
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Ravi deslizou suavemente as mãos pelas bochechas na exata região em que o irmão retribuíra seus tapinhas carinhosos, contudo, ao contrário de si e como um autêntico italiano, Lorenzo colocava um pouco mais de energia no gesto, assim como o fazia quando colocava as mãos em seus ombros com firmeza. Nada que o incomodasse, afinal, quando o irmão o recepcionava de tal maneira significava que não estava em problemas apesar do que Lorenzo considerava como sua irritante habilidade de sumir. - Are! Estou ciente que é minha dose extra de amor que amolece esse seu coração... uh... sólido. – disse com um sorrisinho arteiro pontuando o canto de seus lábios. Era claro que estava apenas brincando, apesar do mais velho agir com uma postura mais firme que qualquer outro membro da família, era também quem mais se preocupava e cuidava de todos. Um dos motivos pelo qual Ravi o enxergava como sua figura de referência. O jovem apoiou um dos pés sobre a cadeira, em uma posição que poderia não parecer confortável aos outros, mas era para si. Ele seguiu naquela posição enquanto ouvia o mais velho e adoçava o chá que o garçom havia acabado de colocar diante de si. Bebericou a bebida para averiguar se estava do seu agrado, e só voltou a pronunciar-se quando o garçom deu as costas a eles. – Oh, bhai, se mamacita possuísse mais detalhes da sua vida diria para ficar preocupado, como ela só sabe o básico então acredito que pode ficar lisonjeado. No fim das contas penso que o excesso de zelo com os filhos é um comportamento materno normal, especialmente para uma matriarca de sangue latino. – Ravi deu de ombros, como se falasse sobre algo sem muita importância, no entanto, era inegável o quão peculiar a mãe de ambos o era, pois mesmo que já fossem adultos, e se encontrassem encaminhados na vida, ela continuava a se preocupar como se ainda fossem crianças necessitando de supervisão constante. – Ainda acho que qualquer dia ela arrancará o cazzo do seu pai por tê-lo colocado “nessa vida” como ela mesma se refere aos seus negócios. – um ligeiro arquear de sobrancelhas, acompanhado de um sorriso arteiro pontuou a expressão de Ravi. Embora não tecesse opini��es sobre os negócios do irmão, uma vez que acreditava que ele sabia o que fazia com a própria vida, em partes concordava com a matriarca. Lorenzo vivia perigosamente demais para o seu gosto. – Are, bhai, é esse seu jeito de me informar que chamou atenção dos indivíduos do hospital com flertes ao invés de dinheiro? – questionou, em um timbre um tanto cômico, mas que não disfarçava sua óbvia curiosidade. Embora acreditasse que fossem próximos, mesmo com as diferenças de estilo entre ambos, a verdade era que Ravi muito pouco sabia da vida íntima do irmão – se é que existia uma. – Theek, fico aliviado em saber que está tudo nos conformes! – disse, com sinceridade ao saber que apesar dos pesares sua prima não estava desprotegida. Ravi pousou a xícara sobre o pires, e em seguida levou a mão ao pescoço, massageando a tensão que vinha se acumulando na região pelos últimos dias. Ao voltar a fitar o irmão, ele estreitou ligeiramente os olhos. – Are, se soubesse de seu interesse em ser minha sombra o teria convidado para me acompanhar em minha viagem recente a Índia. Aliás, sei que deveria ter avisado, mas foi tudo de última hora. – por mais resistente que a princípio o tivesse sido, Ravi raramente conseguia sustentar uma negativa a seus parentes, o que incluía a controversa figura paterna. – De qualquer maneira, imagino que seja de seu conhecimento que meu avô faleceu e que precisei prestar condolências pessoalmente. Feliz ou infelizmente acabei encontrando uma distração em meio ao momento fúnebre. – uma pequena careta pontuou sua expressão. Era claro que tinha respeitado todos os rituais, mas no instante que encontrara uma brecha saíra para explorar. – Are! Em minha defesa, me vi diante do Ganesha Shaturthi e não podia perder a oportunidade de apreciar a festividade uma vez que nunca antes estive na Índia nessa época do ano. – um sorriso largo pontuou sua expressão a lembrança do quanto se divertira no que pudera aproveitar do festival. – Pensando bem, acho que você odiaria. É o tipo de festividade em que se torna impossível ter controle dos arredores. – disse no que poderia soar como uma alfinetada para o mais velho e sua postura controladora. – Theek, voltando ao tópico, não me importo com a segurança desde que saiba quem diabos anda no meu encalço. Os deuses sabem que a última coisa que quero é assumir uma postura defensiva diante de um dos seus solados por confundi-lo com uma ameaça. – disse, o encarando com uma rara seriedade logo antes de dar de ombros. Ravi estava consciente que de nada adiantaria reclamar, Lorenzo levava muito a sério a ideia de manter todos protegidos, mesmo que alguns excessos fossem cometidos. – Como de costume, bhai, estou à sua disposição, embora continue preferindo não ter muitos detalhes do uso que dá aos meus produtos. – novamente uma breve careta pontuou sua expressão. Por mais que soubesse que cada indivíduo visado pelo irmão não possuía uma única fibra inocente, por vezes se via norteado por uma ligeira culpa por sua participação indireta nas infrações do mesmo. – Bhai, ser influencer paga minhas contas! Com poucos posts pagos ganho o dobro do que ganharia sendo professor de Herbologia, ou de Poções, mesmo com toda a minha qualificação. É uma besteira lucrativa e que me deixa com tempo livre o suficiente para investir em pesquisa, que é o que realmente gosto de fazer. Além disso, me poupa da vergonha que é precisar explorar os membros da família em melhor situação financeira. – explicou, ponderadamente, como um filho que tenta convencer um pai tradicional a aceitar que vivia bem com algo que parecia-lhe incompreensível. Contudo, era inegável que se divertia com o fato de que apesar de tão jovem o comportamento de Lorenzo correspondia ao de um ancião. – Estou agradavelmente surpreso com seu conceito de matar tempo. Não combina com o sempre muito ocupado consigliere Lorenzo. – disse, arqueando brevemente uma de suas sobrancelhas enquanto encarava o mais velho. Em sua singela opinião faltava ao irmão permitir-se agir mais como alguém que tinha menos de 30 anos. – Are! Acho que você está deixando passar um detalhe meio óbvio na sua análise do que intitula como visita desnecessária. Não que eu esteja muito por dentro dos pormenores da situação que envolve nossa cugino, mas, considerando o que ouvir de mamacita me parece que Elissa talvez esteja enamorada. Se isso será um problema a mais ou a menos, eu não sei, mas imagino que vá fazer alguma diferença no seu jeito de avaliar a situação. Isso, é claro, se mamacita não tiver exagerado em seu relato. – e não era de surpreender que Lorenzo não enxergasse aquela possibilidade uma vez que, até onde sabia, seu irmão não tivera nenhum arroubo romântico em sua curta vida. Norte de pensamento do qual distanciou-se assim que o ouviu pontuar quantas pessoas deixara responsáveis pela proteção da prima. Uma risada melódica escapou pelos lábios cheios de Ravi. – Lis sabe que você deixou mais de 10 pessoas para protegê-la? – questionou mesmo já ciente da resposta. – Arebaguandi! Espero estar presente no momento em que vocês forem “conversar” a respeito do seu excesso de zelo, bhai. – disse, entre risos, pois poucas coisas o divertia mais que acompanhar o irmão e a prima argumentando um com o outros em dois ou três idiomas de uma só vez, onde ambos gabaritavam com louvor o quesito teimosia. – Theek, deixando o momento contenda de lado, você vai mesmo ficar por aqui no que resta do ferragosto? A lazer? Nada de trabalho além de se assegurar da segurança dos parentes? – indagou, não muito convencido de que Lorenzo algum dia tivesse entendido o conceito de férias. – Sendo assim, já tem onde ficar? Vou precisar de um lugar por uns dias, ao menos até que me arranjem um lugar no dormitório da Universidade. Pensei em ficar com Lis, mas já que você estará por aqui talvez seja melhor me escorar nas mordomias que meu querido bhai pode proporcionar. Lekin, pretendo ajudar nas despesas. – o sorriso arteiro voltou a pontuar o canto dos lábios de Ravi. Ele sabia que fugia um pouco de seu modo de operação se oferecer para morar com o mais velho, mesmo que fosse pelo mais breve dos tempos, especialmente por prezar por sua liberdade e privacidade. Contudo, viver em um país que pouco conhecia e que enfrentava um momento caótico com a ameaça purista o fizera chegar à conclusão que deveria se manter no que era o ambiente mais seguro para si, ao menos até que compreendesse melhor seus arredores, e se suas origens o deixavam ou não em uma posição de risco. – Eu entendo todas as suas recomendações, mas não posso prometer que irei cumpri-las. Você sabe que quando estou focado em algum projeto esqueço do mundo ao meu redor. Além disso, não sou mais criança, Lorenzo, não preciso de supervisão o tempo inteiro. Sei me cuidar, e não sou tão distraído quanto você acredita. Será que é muito difícil confiar na minha habilidade de sobreviver por conta própria? – novamente ele assumia uma postura que envolvia mais seriedade do que o seu dito normal. Embora não fosse muito de reclamar, Ravi prezava por suas liberdades individuais. – O máximo que posso prometer é que tentarei suprir suas expectativas. Nada de sumiços e coisas do gênero. – rolou os olhos exasperadamente, pois sabia que não adiantaria esticar muito aquela corda, jamais ganharia uma discussão daquela natureza com o mais velho, e, de certa maneira, compreendia os excessos dele. 
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bhaktar · 5 years ago
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Era incomum que em meio as férias de verão Ravi estivesse perambulando pelos corredores de uma Universidade, especialmente uma que era o suficientemente distante de ambos os seus países de origem. Contudo, também era incomum que ele passasse mais de uma semana na Índia, país de sua família paterna, como ocorrera muito recentemente. Talvez aquela fosse uma temporada de momentos incomuns para o jovem que havia acabado de receber uma proposta muito tentadora para, depois de dois anos, finalmente se estabelecer em um único país. Embora tivesse enviado sua proposta de projeto de pesquisa para ao menos quatro das cinco melhores Universidades bruxas, fora justamente a que menos esperava que lhe oferecera uma contrapartida que supria em muito suas melhores expectativas. Ainda que costumeiramente desse a impressão de ser um bon vivant sem nenhuma responsabilidade, era na pesquisa e no trato com plantas e poções que Ravi encontrava seu centro. Algo que se iniciara ainda na infância como uma maneira de suprir uma ausência paterna que se tornara constante por volta de seus oito anos de idade. Não que pudesse reclamar da vida que tinha, era o protegido de boa parte de sua família materna e ainda caíra nas graças da família paterna de seu irmão mais velho. Contudo, no que correspondia a sua própria ascendência ele não passava de um erro de conduta de seu genitor. Para a infelicidade dos seus, era também o único herdeiro homem de seu pai, e futuramente seria de sua responsabilidade manter viva a linhagem dos Bhakta e sua posição respeitável dentro da casta que pertenciam. Questões que considerava como detalhes sem importância, mas que trouxeram um novo prisma a sua última experiência na Índia. Nem parecera que estivera lá para um velório quando não parara de ser surpreendido por questões que estranhamente lhe causaram algum divertimento. Não que fosse desprovido de empatia pela perda de seu pai e demais familiares, mas sua falta de apego àquela família o fazia desprovido de emoções pessoais àquele respeito. No que dependesse de si continuariam na mesma; vivendo vidas separadas como se não dividissem uma linhagem sanguínea. Sua ligação com a Índia ficava por conta da cultura e de alguns costumes que aprendera nos anos em que tivera uma relação normal com a figura paterna, e por tudo que absorvera na adolescência em uma tentativa de suprir o vazio surgido da ausência de seu genitor. Questões que gostaria de manter presas no passado, mas que nos últimos dias vinham atormentando suas caraminholas a ponto de fazê-lo sentir uma dorzinha de cabeça constante. Na tentativa de sana-la Ravi buscava por um mix de ervas especiais, de uso exclusivo seu, que usava para relaxar o corpo e a mente. Mix que era bastante diferente do que costumeiramente oferecia a sua clientela diferenciada. Distraído com a busca ele certamente teria passado batido por Lorenzo se o mesmo não o tivesse chamado. Um ligeiro rolar de olhos fora sua resposta inicial, que era claramente impulsionado pelo mais velho insistir em chamá-lo de bambino como se ainda fosse uma criança de colo. Prontamente Ravi deixou de lado sua busca pelas ervas, juntou as palmas das mãos e curvou-se brevemente em um típico cumprimento indiano - que imaginava que faria Lorenzo revirar os olhos -, assim que seu olhar recaiu sobre a figura elegante do mais velho. Um sorriso caloroso pontuou o canto de seus lábios. – Até parece que me atreveria a ofender meu fratello. - Ravi caminhou em direção a ele, emoldurando seu rosto entre suas mãos para que desse dois tapinhas carinhosos antes de beijá-lo na testa. Excesso de afetuosidade que sempre se utilizava para recordá-lo que, para além do conselheiro de la famiglia, ele continuava a ser membro de uma família de porto-riquenhos extremamente apegados ao toque. Ao afastar-se um sorriso arteiro marcava seus lábios cheios. - Mamacita havia me informado que você estaria desse lado do mundo, mas pensei que se resumiria a inspeções hospitalares, bhai! - pontuou, com certo divertimento marcando seu timbre, pois conhecia muito bem o modo de ação do irmão, especialmente quando dizia respeito a cuidar de membros da família. – Então, tudo certo em sua inspeção? – questionou logo antes de se fazer confortável na cadeira indicada pelo mais velho. Embora evitasse se envolver nas questões do irmão quando dizia respeito a outros membros da família ao menos procurava se certificar se tudo correra como Lorenzo intentava. – Aliás, devo crer que foi mamacita quem o informou que também estaria por aqui? Ou ganhei uma nova babá e não fui comunicado? – um ligeiro estreitar de olhos pontuou sua expressão. Ravi não costumava se incomodar com a segurança, mas preferia quando era previamente informado de que seus passos estariam sendo monitorados. Uma respiração profunda lhe escapou enquanto massageava as têmporas em busca de um alívio para sua mente. – Are, não seria nada mal se estivesse atrás dos meus talentos, uh?! Automaticamente saberia o que o trouxe até aqui e ainda seria bem recompensado pelo meu trabalho. Uttam! – disse enquanto deslizava uma das mão distraidamente pelos cabelos longos. – Agora, respondendo seu questionamento; é bem simples, por mais que a Itália seja muito mais atraente do que esse lugar esquecido pelos deuses, não cheguei a enviar um pedido de financiamento de projeto para lá. E como já tenho uma resposta dos britânicos e uma dos americanos, não me parece fazer sentido garimpar mais algum interessado. – informou, dando de ombros, como se a questão inteira não fosse importante para si. – Minha vez de fazer perguntas; O que o trouxe até essa Universidade, bhai? Tenho uma ou outra suposição, mas acredito que sequer sou capaz de chegar perto das reais motivações.  
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@bhaktar​
Lorenzo não tinha a menor intenção de permanecer mais que o tempo do Ferragosto no mundo bruxo britânico. Não estava de férias, embora o Ferragosto se tratasse de um tipo de férias italianas, que se estendia até o primeiro dia de setembro. Um período que não trabalhava muito, dependendo dos casos, e podia se render à temperatura seca, ensolarada e quente que reverberaria em sua potência nas áreas litorais tão sempre lotadas por conta da quantidade de turistas em seu país de origem. Tratava-se de um ínterim de oportunidades também e era essa a grande perda visto que ele se retirara da Itália para resolver o que cabia a uma agenda cheia de praxes - os “motivos de força maior”. Motivos de força maior que nem sempre tinham nome e endereço. Normalmente tinha uma cara, consequentemente um corpo, que, de acordo com seu posicionamento bárbaro e, talvez, minimamente desalmado, no mundo, tinha que se instalar a 7 palmos da terra. Era um serviço, como supostamente qualquer outro, cujo contrato estava cravado em um pequeno anel no mindinho que poderia dizer muitas coisas - como o quanto ele era elegante. Elogio que sempre o fazia sorrir, porque era o mínimo que conseguia fazer sobre. Não que fosse calado, como era fácil supor pela maneira como se isolara nas extremidades de um dos cafés localizados no que sabia ser uma Universidade, pouco movimentada por ainda ser férias. Seu ramo de negócios o tornara exageradamente reservado. O que dava-lhe os ângulos de tudo, como para seus enjoados comparativos arquitetônicos - já que era um enjoado italiano metido a renascentista. Apurava os adornos, os arcos, as cores, os cheiros, os sons. Reconheceu a umidade que tornava o Reino Unido um tanto diferente em ambiência que a Itália. A uniformidade vinha do calor, uma estação da qual preferia, embora não contasse com o privilégio para usufruí-la no momento graças a específicos motivos de força maior que o instalaram não exatamente ali, mas por ali visto que sua parente, Elissa Thorne, carecia de um pouco de auxílio em um esquema que dera conta antes mesmo de anunciar ditos “cuidados aparentemente fraternais” em nome do seu retorno por aquelas redondezas. O transitar dele era quase sempre sobre aconselhar e limpar algum tipo de açougue e o açougue daquela vez era o famoso Mungus, que revistara de cima a baixo, como se procurasse uma jóia perdida. Tudo por causa de um caipiria e sua família que abriram um leque de memórias que, obviamente, colocara na navalha. Em contrapartida, se havia algo do que reclamar, definitivamente seria do jornal. O tal Profeta Diário que não tinha nada de interessante, parecendo um jornaleco de fofocas de pessoas desinteressantes. Ao menos, podia contar com a versão trouxa que estava quase convencendo-o a realmente permanecer os dias de Ferragosto para conhecer o famoso festival de arte da Royal Academy of Arts. Como era raro ter um tempo de qualidade para si, e poderia manter contato com a famiglia independentemente da distância, poderia fingir por aqueles dias que era um ser normal e com alma. - Bambino, passar pelos parentes fingindo que não os conhece é de uma ofensa sem precedentes. - Lorenzo declarou repentinamente, se baseando pela sombra de quem sabia que era o seu irmão. A quem sabia que estaria por ali, dando sopa. Ele ergueu o olhar e sorriu de um jeito afetuoso. Em seguida, dobrou o jornal, bebericando o café antes de indicar a cadeira em uma mensura elegante a quem sabia que adoraria ter passado reto. Realização que lhe afrouxou o sorriso que se transformou em uma risada com esgar de deboche contido. - Juro que não estou atrás dos seus talentos. Entretanto, quero saber por quais motivos você ainda insiste em estudar aqui quando podia se manter na Itália.
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