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asolitudeempoesia · 2 months
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JORNAL
Parece que tenho uma decisão a tomar, parece que eu mesma posso me ferir. Tédio constante, autodestruição, vazio — são meros reflexos da minha condição? Faltei às últimas sessões de terapia, auto-sabotei-me.
Eu dissimulei tanto; podia sustentar essa fachada enquanto ninguém me conhecesse profundamente. Ainda consigo fazê-lo, mas não com você ao meu lado. Sinto-me uma impostora.
Os medicamentos têm surtido efeito, mas há uma tristeza abissal que me consome. Talvez seja o abuso do ansiolítico, a química desequilibrada no meu cérebro, o efeito depressor. Ou a ausência dos meus velhos hábitos nada saudáveis, a compulsão por evadir-me de uma reação enfadonha. Sempre soube que ele me desejava, mas eu só precisava de um amigo. Destinada à tragédia, arruinei tudo. Pessoas recomeçam constantemente, mas acredito que 21 anos seja uma idade tardia para tentar e fracassar. Ainda sou uma sonhadora, mas percebo o que é real e tangível — não é mero pessimismo.
Ele faz a vida parecer melhor.
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Devo partir, libertar-me deste inferno, pegar um carro e começar uma vida nova. Ele me pede para falar, mas nenhuma palavra emerge. Então, peço para que ele se vá. Não há nada a dizer; não saberia o que falar porque não consigo localizar a origem do problema. Sinto-me triste e isso é simples de definir, mas a causa não. Preciso do silêncio absoluto, preciso chorar e seguir em frente. Contudo, desejo afogar-me, prender algo pesado aos pés para meu corpo não emergir no rio, não quero que vejam meu corpo lívido, não quero ser encontrada. Não sei se funcionaria.
No fim, o rio me chama. Suas águas prometem um descanso que a vida me negou. Com um último suspiro, mergulho na escuridão, onde as correntes frias me envolvem. Não há medo, apenas uma aceitação melancólica. Finalmente, encontro a paz na quietude eterna.
Estou do lado de fora, onde tudo parece bom. E agora, sou parte do silêncio que tanto busquei.
11 de Junho de 2024, 23:54.
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asolitudeempoesia · 5 months
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CHARLATÃO, LUIZA, NÃO SEJA ASSIM
Sou assombrada por imagens de meu pai fechando a porta com sua esposa, enquanto eu anseio por seu amor na sala ou, ao menos, por um diálogo. Grito em frente à sua porta porque as palavras no meu caderno começam a se desfazer. Misturo chá com vinho; o gosto é amargo, mas esse coquetel estranho me embolda para encarar a rejeição, para perder o controle. Pergunto-me, será que sempre fui assim? Ou foi aquele que me prometeu alegria e, no fim, me despedaçou?
Revejo contigo um novo estilo de vida; a responsabilidade, admito, é toda minha. As riquezas dele, o charme de minha mãe...
Meu pai sempre enfatizava minha perfeição, assim como todos os rapazes pelos quais nunca me apaixonei, embora soubesse das suas mentiras. Reconheço minha própria imagem: olhos escuros e volumosos, tez pálida, cabelos castanhos, e uma pinta no canto esquerdo da boca — um detalhe que minha mãe celebrava como minha beleza oculta.
Meus sentimentos jamais foram prioridade para eles, desde que eu mantivesse a fachada. A gentileza foi extirpada, restando apenas a insanidade e as palavras que jamais direi ou transcreverei.
Anseio pelo dia em que não precisarei de substâncias para me sentir íntegra, observando o teto girar. O dia 23 parece distante demais; duvido da minha capacidade de manter a sobriedade até lá, e mesmo depois, incerto é se terei sorte para prosseguir.
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Estou cercada por estranhos que, com suas fogueiras e risadas sobre piadas que não compreendo, fazem-me sentir que a vida não é um céu vazio e sombrio. Eu rio junto, mesmo sem entender.
17 de Abril de 2024, 04:33.
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asolitudeempoesia · 6 months
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A VIDA NÃO É UMA CORTINA DE COR TAUPE, ELA É TRANSPARENTE
Estou lutando contra a abstinência, monitorando cada centímetro do meu corpo com precisão, da cabeça aos pés, como se estivesse me segurando com firmeza. Agarro-me à felicidade que sinto com todas as minhas forças, não posso permitir que ela escape hoje, pelo menos não antes dele voltar com o vinho, pois após duas taças, estarei plenamente feliz, mesmo que ao final da noite essa sensação se dissipe com o vômito. Mas isso não importa; mais tarde, vou adormecer sem preocupações com o amanhã.
E assim foi, hoje acordei sem a luz do sol porque você comprou uma cortina nova. Horas depois, meu coração se aperta, minha cabeça fica mais e mais barulhenta, e me vejo novamente tomada pela sensação de pequenez e vulnerabilidade.
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Não posso me permitir sentir assim; se eu me desse o luxo de chorar, não conseguiria parar mais. Lágrimas não são máquinas do tempo, não substituem os abraços de minha mãe que não recebi ao longo da vida, nem garantem um futuro promissor.
E por que eu choraria afinal? Sou uma pessoa terrível; não consigo agir com razão, mas todos nós abrigamos uma crueldade interior, ansiosa por emergir, afiada. Quanto à sua, ainda não a conheço.
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asolitudeempoesia · 6 months
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2031, TALVEZ
Ela seguia em frente, parecia estável, radiante, tal como nos dias que precederam aquela fatídica tarde, onde a serotonina foi cruelmente arrancada de seu corpo, e o pânico, impiedoso, tomou conta dela, naquele Janeiro de 2021. Os meses que se seguiram apenas aprofundaram o terror. Desde então, mergulhou em um ciclo vicioso do qual prometia emergir, mas sempre sucumbia.
4 anos depois ela ainda tenta.
Hoje, deseja desesperadamente arrancar a própria pele
Sua alma tá pobre. Aquele corpo tá apodrecendo de dentro pra fora. Sem casa para voltar, isso foi tirado dela a tapas e xingamentos que ainda doem. Essas máscaras que usa, o tanto que se esconde, eu sei a sua verdade, isso ainda não é suficiente para se amar.
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asolitudeempoesia · 10 months
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EU REALMENTE NÃO SABIA AS CONSEQUÊNCIAS DE IR EMBORA
Eu cresci lentamente, mas após os 18 anos, os relógios aceleraram e as folhas do calendário começaram a cair. Estou por um fio. Não posso juntar meus pedaços e voltar para casa; nunca foi uma opção.
Sinto muito por não atender ao telefone. Enquanto você dorme, passo minhas madrugadas expulsando meus fantasmas, ouvindo um som genérico de chuva junto a Black Box Recorder, pois o silêncio dói tanto quanto as dores de cabeça sobre as quais você falava que viriam se eu não parasse de chorar.
Na última vez que você me visitou, eu desafiava a morte, permiti que ela tomasse conta. Havia um valentão no quarto e um feto abortado; então, precisei de mais pílulas. Mãe, eu nem queria isso.
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"É melhor começar a criar coragem, pois agora você está sozinha". Um dia, não precisarei trancar a porta imediatamente após chegar em casa. Sem preocupações se alguém bater no portão; ele não pode entrar.
Há alguns dias, algo bagunçou meu cérebro. Lembranças ruins, arrependimentos, memórias de coisas que ainda nem aconteceram fizeram-me sair da posição relaxada e confortável que me levava a um sono tranquilo, sem preocupações, e agora direto para o abismo sem respostas, para as coisas que posso fazer, mas não vou.
Não tenho mais receio de que levem minha alma; eu já a perdi pelas mãos de um homem cruel.
Houve dias longos e desperdiçados, levantando de hora em hora para fazer algo para comer, exagerando em chás de camomila para conseguir dormir, por não suportar a pressão de estar comigo mesma, acordando 1h da manhã e limpando o sangue no travesseiro.
Meu lugar na mesa está vazio há tanto tempo.
Apago todas as luzes agora, e nessa escuridão, um dia quase colapsei. Pensei em sair, ligar para os amigos, beber. Eu não saberia o que fazer depois, porque de qualquer forma, teria que voltar sozinha para casa novamente.
Tenho vivido em meio ao rock e ao álcool, meu cabelo agora tem cheiro de cigarro. Não é um mundo bonito.
Quando não há para onde ir ou com quem conversar, então eu te ligo, te ligo porque o frasco de medicação está acabando e eu tenho medo.
Quando vou ser forte e corajosa como você?
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asolitudeempoesia · 1 year
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É SEMPRE NOITE
Tenho experimentado um forte isolamento, uma escolha que fiz conscientemente. Contudo, mesmo se fosse de outra forma, estaria sozinha de qualquer modo.
Me tranquei em casa, a última vez que saí, desconsiderando as jornadas ao trabalho três vezes por semana, foi em uma noite de domingo. Depois disso, fechei todas as janelas, até mesmo a pequena fresta de ar do banheiro, vedada com um tabuleiro de damas. A casa agora é escura e gelada, acho que combina comigo. É pequena também, mas é assim que eu a aprecio.
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Certa vez, disse ao meu pai que desejava uma casa com paredes claras, onde o sol que adentrava pela janela pudesse tocar uma delas e criar uma luminosidade âmbar. Por que mudei? Assemelhava-se àquela felicidade de fim de tarde que poucos sentem, como quando ambos voltávamos para casa ouvindo música, contemplando o sol se pôr. No entanto, mais contida, percebo que minha alma já tomava um tom sombrio, enquanto eu me tornava uma conformista adulta. Hoje, sequer anseio pelo toque âmbar.
Não tenho dormido á noite; quando preciso ficar acordada tomos várias xícaras de café. Os pensamentos também não cessam.
Emergindo como uma memória melancólica, esse sentimento desponta como o sol que passei a repudiar através da fenda da minha porta. A percepção de que há a possibilidade de realizar algo grandioso, embora eu não compreenda o propósito. Os pesadelos têm sido frequentes, tenho conversado pouco com os amigos, e logo eles se esquecerão de mim. Desconsiderei horários de medicação, negligenciei minha nutrição, as memórias que eu aspirava corrigir.
Isso é possível?
Quanto tempo até eu começar a me odiar novamente? A incerteza sobre quem sou é incômoda; permitir que outros conheçam uma parte ínfima me perturba.
Queria ter a total consciência de mim, mas sou efêmera e inconsequente.
Domingo, 20 de Agosto de 2023, 04h47.
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asolitudeempoesia · 1 year
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DECLÍNIO
Só mais dez gotas do conteúdo de um frasco de vidro que mantém minha cabeça no lugar. Mas eu ainda não consigo organizar meus pensamentos em uma linha reta. São muitos. Distorcidos, irregulares e doloridos.
Costumava ouvir que falava muito na infância. Na pré-adolescência quando me calei, o meu tom de voz foi se tornando cada vez mais baixo ao tentar formular uma frase. Na época achava que meu comportamento fleumático traria respeito. Se eu mantivesse a expressão séria o tempo todo talvez fosse vista como alguém preponderante. Que pensamento narcisista.
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Mas isso os afastou, me tornei uma estranha.
No fundo acho que queria ser deixada em paz, nunca tive muita energia para ser aquela que todos amavam pelo discurso.
Calada e com um semblante melancólico. Logo as inquietações surgiram. A solidão, a saudade, a falta e a procura de algo que preenchesse a casca vazia que eu tinha no peito, e por último a tristeza irreparável.
Não me lembro de como enxergava o mundo e as pessoas, não lembro da personalidade que foi perdida, quem eu costuma ser antes de trancar tudo na minha cabeça, não sei a senha. Lembro das piadas, do meu rosto com olhos enormes e baixos que pareciam terem sido desenhados especialmente para uma onda de desprezo. Que crueldade da natureza. A aparência frágil nunca ajudou.
Fiquei fraca porém gentil, cautelosa o suficiente para não magoar as pessoas ao meu redor, mas não esperta para impedir que me ferissem. Nunca me perguntaram o que aconteceu.
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Ao longo dos anos passei a ouvir a máxima fastidiosa: Fale mais alto, pode repetir? Minha voz foi sumindo até se tornar um sussurro ou uma linguagem inexistente em rodas de conversas. Eu sabia que iria ter que repetir tudo de novo e de novo.
Foi nessa época que passei a me odiar. Maldita autopiedade.
Sem conserto.
Domingo, 06 de Agosto de 2023. 18h03.
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asolitudeempoesia · 2 years
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FALTA
Ela se foi. A garota de voz doce e suave, aquela que sussurrava baixinho. Numa roda de amigos sua voz era quase inaudível. Onde ela foi?
Em que ponto a angústia tomou conta daquele coração deleitante? Foi você quem a corrompeu? Foi o amor insuficiente, os amigos inconsequentes ou todas as portas fechadas?
Foram as drogas, o álcool ou ela mutilou o próprio peito sozinha? Eu não sei.
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Mas ela se foi.
Eu a procuro nas ruas quando chove, na livraria que ela tanto amava, no escritório onde ela ria alto, eu não a encontro. Ela não está na minha cama, na minha cozinha ou chorando no banheiro. A propósito, na última vez em que a vi ela já não chorava mais, encontrava-se aceitando todas as aflições que fizeram ela desaparecer aos poucos.
Mas eu ainda ouço os gritos que ela odiava, as intrigas, o medo e a dor. Maldita dor, ela se sufocou com as palavras não ditas? Mudez seletiva, talvez.
Sendo mais radical, ela se atirou da ponte, tomou todos os comprimidos, o ansiolítico que sempre estava na cabeceira, atravessou a rua propositalmente sem olhar pros lados? Ela foi mesmo embora?
Onde ela foi? Me avise quando ela voltar, apesar de que no fundo, eu sei que ela não volta mais.
Sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2023. 05:31 AM
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asolitudeempoesia · 2 years
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OS BENZODIAZEPÍNICOS DA MINHA GAVETA
Ele sabe que eu não vou resistir a mais um ano, virando frascos e mais frascos que deveriam durar um mês. A deterioração do meu cérebro, o efeito rebote. Eu mesma sei disso.
Então veio o carinho, e logo depois, o amor. O que eu acho que é amor. Mas o amor escuta, compreende e faz excessões, ele não magoa, não dói. Ou será se eu nunca o experimentei e moldei essa visão errônea?
Eu sempre estive a deriva, eu tentei não me relacionar seriamente. Meu comportamento receptivo e concordante no início era um indicativo de que eu pouco me importava, eu só queria sentir algo.
Eu sempre quis seguir sozinha, mas agora me enxergo presa nas expectativas de outros. Eu amo. Eu não queria, o afastamento doeria menos. Mas eu amo.
Eu lembro claramente da sensação, do qual reconfortante ela é, amar, olhar para alguém e não conseguir imaginar como seria sem aquela pessoa ali, sentir uma ternura doce com o toque de um sorriso. O brilho nos meus olhos, eu podia saber sem precisar de um espelho, porque o amor era sentindo profundamente. Mas o vazio os faziam brilhar de outra forma. Com gotas prontas para escorrer pelas minhas bochechas.
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Todos os problemas com meu pai, a falta de afeto da minha mãe. Ele nunca se preocupou com isso. Foi uma criança amada.
Por que buscamos algo que nunca nos foi dado na esperança de que isso se assemelhe aquele sentimento furtivo? "Quem eu preciso ser?", "Como eu devo me parecer?". Ele me amaria mais se eu fosse diferente?
Minha cabeça funciona de uma forma distinta, eu enxergo coisas que muitas vezes nem estão lá. Meus pensamentos são intrusivos e gritam tão alto. Sempre odiei gritos, cresci numa casa onde as pessoas falavam alto e magoavam umas as outras com o tom de voz e as frases ditas.
Então eu fugi.
Eu andei por aí buscando o oposto daquilo, do que me faz chorar como uma criança de 8 anos. Eu já o encontrei?
Quinta-feira, 17 de Novembro de 2022, 06h22 da manhã.
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asolitudeempoesia · 2 years
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FUGAS VOLÁTEIS
Existem cartas, estão guardadas no exemplar do meu livro favorito, elas indicam minha partida, até lá talvez se tornem papéis envelhecidos. Segurei meus fones com força hoje sobre os ouvidos pai, eu queria ouvir a música em toda sua intensidade.
Sinto falta dela, sinto falta da forma como ela falava, do sorriso quando a escutavam de verdade falar sobre algo que amava, da alegria nítida naqueles olhos enormes e brilhantes, tão escuros quanto o céu no inverno. Na minha mente ela já não existe, onde ela foi? Ela se tornou tão instável. O que aconteceu? Foram as pessoas ou as decisões que ela tomou que a deixaram assim?
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Eu disse a ela para voar, ela disse o mesmo a alguém
Onde fora parar a dedicação, o objetivo? Ela não sabe, foram dois anos desperdiçados, achei que sua mente havia começado a atrofiar.
Questionamentos e acusações, uma mentirosa, ela sempre odiou mentiras.
Medo.
É tudo que me lembro. Ela sentia tanto medo, mas nunca dizia, queria ser corajosa igual a mãe, forte, mas ela chorava muito e já não conseguia mais esconder a dor, isso a deixava com vergonha.
Ela queria ser tantas coisas. Eu a vi no espelho hoje pai. Ela tem corrido dos pensamentos, ela não chora mais, aceita o amor fati com todo o fardo.
Mas ela ainda pensa na fuga.
Domingo, 06 de Novembro de 2022, 03h21 da manhã.
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