Gabriel Carvalho, 22. Mais conhecido como Galego. Nascido e criado na tenebrosa Itabuna. Desejoso de entender o apocalipse: morte, destino, profano. A poesia é alma: paixão e razão. Espada, abre os caminhos selvagens do coração.
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as estradas da vida nos ensinam as lições mais tortuosas aprendizados terrenos mergulhados no sofrimento intenso penar, caminho de dor – até quando?
atravesso as estradas vejo as matas secas e as árvores sem folhas, mas que projetam sombras sob as cabeças de gado que comem tranquilos a grama seca. vejo o céu azul e a terra vermelha, seres humanos sentados na beira da estrada fumando cigarros e bebendo uma pinga com a roupa do trabalho no corpo. vejo, e a cada olhar atravesso nova profundidade espelho interior mar revolto, vejo nos olhos do mundo o meu ser.
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RAIVA
dentro lá dentro fundo ni mim vislumbro, sobrevoa a sombra do peito. olha pra mim, com olhos tão profundos, a Raiva, cheia de dedos, atos errados e emoções descabidas. que significa raiva? dentro do coração, raiva contra seu próprio sangue, isso já não nos serve e é necessário lavar as feridas. o coração pesa com as mágoas e se não olhamos, afoga na raiva descabida. é necessário sanar os segredos do coração; levantar ele com coragem ver sangue escorrer nos cotovelos e a força do olhar, esperança e rebeldia – a única raiva possível... por vivermos uma mentira na sociedade podre. nunca raiva dos meus irmãos camaradas e amigos. nunca raiva do passado, nem de quem eu sou. nunca raiva da tradição que carrego no seio, dos meus ancestrais.
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Dança dos Rios
A dança dos rios é bonita, flui e leva tudo... Orvalhos, suaves olhares no som dos passarinhos, dos mosquitos escondidos, das folhas se mexendo, nos espíritos passando e flutuando por todos os cantos da floresta. A vida se preserva e avança.
Vivemos o tempo de nado contra as marés. Descendentes bastardos de homens brancos cristãos e fedidos. Devoradores da natureza, exploradores de almas livres em busca do dinheiro e poder. Malditos. Ainda assim, a dança dos rios continua fluindo. E meu coração, pétala no galho, relampeja a verdade sobre a minha esfera, a minha cabeça.
Vivemos tempo de guerra. E desejamos fluir com o mundo, reencantar nossos passos, redescobrir nossa história, reformular nosso futuro. Desejamos falar dezenas de línguas e ouvir as histórias dos que realmente importam. Desejamos findar essa guerra. Existo em busca da finalização da guerra. A última guerra, contra o último inimigo.
A dança dos rios é infinda, mesmo que morram os humanos. A vida transparece para além dos mares; a mente é puro grão de areia dentro do cosmos. Somos o grão de areia com consciência da imensidão do universo. Infinito. A água corre por nossos corações; os barcos passam com os corpos.
Os corpos nas canoas, ainda molhados de sangue de todas as guerras que antecederam a formação do meu eu. Quantos morreram, na luta pelo direito de existir? Quantos ainda morrem? Quantos ainda vão morrer até essa guerra acabar? Pegam fogo; são o passado que nunca se apagou. Sou eu. A chama dos mortos, o grito dos vivos.
Nunca mais arrastaremos as correntes das ilusões terríveis. Abram-se os portões do peito, vísceras pra todo lado; o suor. O passado. A força de continuarmos enfim, batalhando com todas as forças de dominação. O Demônio da Civilização não pegará em nós. O coração do meu povo está sempre aberto – e triunfará se perceber: é necessário, infinitamente necessário, destruir o inimigo.
A água do meu peito não para de jorrar, sou feliz. Tenho coragem, piedade e almejo a evolução do espírito. Se erro, busco reparar. Se sinto dor, sinto ela até curar. Não fujo dos ramos da morte. Não caio nas armadilhas da ilusão. A melancolia é distinta da solidão. E a solidão é apenas um instante, dentro de toda a vida compartilhada.
A dança dos rios me perpassa, eu sou o rio. E nos braços de mamãe oxum eu brinco até o fim. Sou guiado pelos espelhos; triunfo no mundo com meu arco. Sou calmo e tempestuoso. Sou o amor e a guerra. Sou água, terra e fogo. A fluidez da palavra, a beleza do mundo.
A dança dos rios é bonita, não deixa nunca esquecer. Quem sou eu, sem tantos vocês? Quem sou eu, se não abaixo a cabeça aos que morreram? Aos que sangraram para construir o país que temos? Quem sou eu sem a batalha infinita dos escravos contra os senhores?
Eu nada seria se não fosse você. Eu sou a força dos mortos, canto a elegia ressuscitada, a ode desgraçada! A minha vida é transformação infinita. Meu coração transborda os meus erros mostra os espelhos meu caminho se abre. Atrás das florestas me escondo, por dentro das matas me saio subverto as asas dos pássaros – que fluem no ar do amor.
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MÍSTICO
magnífico místico olhar derrete a pele de açúcar venta e molha, chuva inclinada gelando o rosto as marés continuam indo e voltando.
contempla minhas entranhas vivas; devagar... sem ânsia de acabar e julgar os resultados. rasteja a sensação dentro de mim; vontade desejo. atrás do teu olhar o magnífico místico mergulhar; me agrada as profundezas marítimas de teu coração.
- galego
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GALEGO
O que eu sou no mundo? O que desejo ser? Quais são meus objetivos, como estruturar minha vida? O que quero deixar de legado para a humanidade? E, com humanidade, me refiro aos que conheci, aos amigos e a família. E, se Deus permitir, ao mundo inteiro. Mas, antes disso, o que significa ter voz? A minha arte sou eu. Esse é o lugar comum da modernidade: a arte enquanto expressão pessoal. O destino singular do meu próprio caminho, qual é? Essa é a minha dúvida maior, profunda angústia – em busca de respostas concretas.
Não tenho medo de responder. Não tenho medo de chegar a conclusões e transformar o que me cerca. É esse o meu corre. Eu sou a transformação. Meu espírito deseja voar leve como a própria vida. A morte é a nossa mãe, ensina a viver – dita os segredos mais esquecidos, mais desconhecidos; aciona nossos medos, os mistérios, sentimentos etéreos, tudo! A morte guia a minha vida ao dizer, “tudo muda, tudo finda, mas tudo inicia”.
A face da morte é límpida, velha. Carrega os segredos de tudo. Mas, ao seu lado, com o rosto juvenil e os olhos em chamas, repousa a paixão. Os segredos do sexo. O mistério da profundidade de descobrir sua face mais espontânea, não sentir medo ao se descobrir. Não sentir medo da nudez do corpo. Não sentir medo da imersão total no outro. Eu não quero mais esse medo em mim.
Eu sou um destino. Meu caminho, ninguém fará por mim. Não é isso a vida? viver, no fim das contas. Atravessar as tsunamis, os maremotos, os furacões, as desgraças, as relações, conhecer tudo, se deliciar, usar muita droga, ou ser muito de cara, ler milhares de livros, ou só ouvir boas histórias, ouvido sabedor, conhecimento onipresente, tradição oral. Eu quero. Eu desejo apenas viver. É isso que sou. Eterna transformação, contínuo aperfeiçoamento. Eu busco a perfeição. Não sejemos hipócritas. Amanhã desejo acordar melhor que hoje. Com muitas idas e vindas, muitos caminhos desencontrados, labirintos e enigmas, mas mesmo assim. Evoluir. É isso que busco.
Eu sou alguém, com face cheiro e forma. Eu sou alguém com corpo e alma. Eu sou alguém. A minha vida é como todas as outras. O meu coração é comum, genérico. Sentir, antes de tudo. Aprendi essa lição. O coração necessita sempre estar bem. A razão, a funcionalidade racional, as palavras definidoras apenas conseguem funcionar se o coração está bem. Coração e razão são duas faces da mesma moeda. Razão, coração e sexo. Razão coração sexo desejo vontade raiva ódio amor paixão piedade coragem medo medo muito medo distração viagem lombra castelação. Eu sou a humanidade.
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FÉ
se aproximam de mim feito aves de rapina silenciosas cascavéis olhares profanos sob minha carne já a ponto de apodrecer. sou eu, o último gole do vinho podre e o vinagre que se torna antes de tudo antisséptico de frutas. o vento é firme nas terras da bahia. o mar ainda é revolto nas tardes de segunda, temporal faminto por embarcações autoconfiantes e pescadores cheios de si. quem é de verdade respeita as forças da natureza, eles diziam... diziam todos, ao olhar pro céu nublado e branco refletindo a luz oculta do sol irradiante.
eu sou o canto de dor dos que se foram. está em mim a marca inevitável dos dentes vorazes da morte. a morte fez em minha cara cicatriz e meus olhos azuis hoje se desbotam mas descobrem atrás de si a Visão do Mundo. do que adianta olhar se não vejo? do que adiantar cheirar se não espirro? do que adianta tatear se não tenho prazer nem dor? maldição! eterna labuta infernal dentro de mim me dá descanso! permite que eu veja as hodiernas montanhas numa estrada distante na beira do crepúsculo sem uma palavra lançada ao vento mas ávido por uma nova conversa em qualquer cidade. a destruição dos ventos em nossos corações mostra a insólita vontade de nos abandonar perdidos numa tarde escura. não é possível fugir dos segredos dos seres humanos: a língua, ciência ou magia.
antes de tudo, poesia.
se aproxima de mim, o sentimento faminto do amanhecer. minha barriga dói. sou regado com sangue e minhas folhas são perenes. se desfazem ao toque mais sensível e choram se não são olhadas. eu sou o fluxo fluente energia infinita. eu sou a pétala que se despregou da rosa mas no chão firme se encontrou outra vez pó levada pelas águas das cachoeiras escondidas e no fim, outra vez mar maré intempestiva coração.
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ODE AO MUNDO
trago dentro de mim a violenta sensação do aflito o medo do mundo e de falhar...
nos portões internos do coração se escondem traumas mágoas violentas paixões que não ousei enterrar e deixei partirem nas ondas do mar; não, permanecem encalhadas na praia do meu cérebro arrancando a pele de minha sanidade dizendo “qual é o problema, meu amigo?” eu digo, Todos do mundo inteiro!
a liberdade do meu sexo se isenta de sair à luz do sol, nem meu coração parece brilhar a todo instante, vacilo porque sou humano, caio e perco batalhas mas nunca a guerra porque carrego o passado nos ombros e o cântico dos deuses na minha voz o ar da natureza dentro de mim.
a liberdade é viva, grita em som profundo contra o universo em marcha para nos assassinar: são mãos humanas que subtraem nossa felicidade, são mãos humanas que maltratam e oprimem a alma dos vivos verdadeiros heróis cotidianos andarilhos por dentro dos caminhos do samba choro ilexá reggae soul afrobeat funk jazz blues coco maracatu hip hop manguebeat os sons do candomblé das caiporas dos boiadeiros não queremos outra coisa, além da liberdade de ser.
aflito meu coração não cansa aflito! tantas dores do passado, aflito! infinitas vozes apagadas, aflito! a história mal contada e os heróis verdadeiros muitas vezes esquecidos, a face esquecida mas o espírito, a força humana infinita, essa ainda vive e vibra e se supera todos os dias. por vezes sou aflito e pouco calmo. mas não há saídas para o coração além dos arrepios e da energia viva de se entregar ao mundo.
não há espaço para o medo, a aflição, a impaciência. não há espaço ao vermos no calor do sol e na luz da lua o banho do peito se molhando no cosmos de nossas próprias vidas. não há espaço se vivemos lutando por amanhã não esquecidos de ontem.
eu sou. eu sou. eu sou.
e não tenho medo.
eu sou. e não carrego mais aflição no peito aberto. eu sou. e sofro enquanto ainda houver sofrimento, destruição dos meus irmãos e irmãs porque a morte é usada contra o meu povo.
não há tempo para parar e esconder o peito. eu sou baiano e meu coração nunca mais se esconderá.
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faceiro o sentimento de ser fraco contra o vício e permitir ser controlado pelos próprios pesadelos.
não é possível controlar o acontecimento tempo e morte mudança. os mais sábios souberam disso...
meu coração e corpo se retraem ao perceberem as próprias fraquezas, esquisitices caos íntimo. suportar a vida, eis aí o destino de todos nós! conheci sábios que transmutaram suportar em fruição e em sua jornada aceitaram sua imperfeição: humanidade, seres finitos vindos da lama e do pó.
não há controle sobre a vida - consciência significa ouvir aprender e agir retornar ao seio da harmonia; o vício mostra os dentes brancos afiados e no espelho vivenciamos os próprios medos. castelos ideais foram construídos e poeira se tornaram... desejos irreais tornei rei. ser o que não sou desejei intimamente. ser o nada. não ser. a potência da morte ainda geme alto e irradia sua verdade “a realidade, meus amores, a realidade!” e dança! o vício sou eu imperfeito medo de ser vulnerável de não ser suficiente vivo útil. pavores horrores becos sem saída. mas outra vez os sábios me ensinaram corpo fechado é mente fortalecida coração aberto é respiração primordial; entra em nós a todo momento o prazer da energia existencial. somos tudo e a vida urge com seu coração profundo exigindo de nós olhos ouvidos pele nariz língua atentos à flor da pele!
viver o vício cultivar as dúvidas como rubis preciosos é o segredo p tornar a si mesmo Virtude. e perceber se tornar finalmente Sábio transcender não a humanidade, porque seremos sempre autoconstrução; mas transmutar enfim o suportar a cruz pesada em fruição das belezas do mundo.
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Brasil, Covil de Lobos
maravilha mágica a palavra e o ferro tornado em arma;
sacristia fálica os peixes sagrados tornados Cruzadas;
vontades desejos castração constante de quem somos, opressão para vendermos a imagem de perfeição, sorrirmos pras fotos, seguir os caminhos dos pais e da ordem.
nem sempre a criança simula a tradição, às vezes a transcende.
e, junto a ela, outra mil. milhares. milhões. entoando cantos mágicos de antepassados verdadeiros dançando felizes passos da terra livres livres livres redescobrindo o prazer de tornar ferro em Forma, escultura.
a tempestade se alastra por meu interior profundo, e o externo é maré violenta contra as pedra caminho no mundo – caminho lançado.
a Ordem clama por obedecer ao Medo, nos subordinar ao Dinheiro, força a abrir mão de ser quem sou – e ser um outro, estrangeiro, europeu aquele que sustenta a moral impenetrável, incontaminável, a mente não sofre, não torce, nem dói o coração é estrela, fogos de artifício e o teatro está feito.
brasil, fogo condenado, guerra implantada terra entregue aos Selvagens de Veraneio, nos seduzem a todo tempo vestir a Máscara do Lobo mas sou de verdade trabalhador sem minguelagi eles dizem guerra, e a gente diz “palavra e o ferro pra te derrubar desgraça”.
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não sou perfeito, a barriga dói e, de vez em quando, o ciúme me come por dentro, engulo. bebo pouca água, como muito doce, e, por que não?, também não pratico esportes.
tudo isso me incomoda esqueço de mim e busco o outro. me denigro, destruo, aniquilo sem piedade esqueço de quem sou, por medo de enfrentar os pesadelos do meu próprio mundo. todavia, acordei. não mais durmo, sem ver e sentir tudo, os buracos de meu coração.
não me atrevo a dizer que sou muito, solidão. e, dizem, cabeça vazia é oficina do diabo – quantos sonhos desperdicei com o romântico final de minha vida? o fim é destruidor se não estamos com os pés na terra olhando a verdade interna.
em outra face, ainda que pouco, quase pó, veja a força do coletivo. e percebo, por minha própria experiência, que a verdade mora não em mim, mas em todos nós. e, antes da palavra, fazia morada na lama, na chuva, nas árvores e nos pássaros. a verdade faz morada na vida.
a vida não esconde a morte a imperfeição o caos a força brutal isso é fluxo, natureza. não sou perfeito, erro e acerto, rio e choro, tenho cálidos desejos! e, se desejei fugir de tudo, nada disso me domina, sou fumaça – abro mil caminhos me misturo eu no mundo.
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Olhava meu peito, vermelho escorria sangue em cachoeiras, não doía, mas ardia como fogo. Era vulcão, iluminava tudo e nada mais importou. As memórias começaram a correr, sem trilha sonora, só imagens. O amor incompleto, a paixão mal entendida e largada na metade. A briga entre irmãos. A raiva do pai. O medo de ser fraco. De ser infeliz, por não alcançar os objetivos sonhados e almejados. Meu peito corria sangue, é verdade.
Antes, no início de tudo, existia sofrimento? Lá, no momento que Deus criou a existência humana e na hora que o Universo se criou, havia dor? Tenho a impressão que sim, mas não a certeza. Ananda me dizia sempre, “você é um otimista do caralho, Jorge”. Eu ria, por um instante, depois esquecia. E, muitos anos depois, numa noite bruta, sonhei com essa frase e o seu rosto, outrora esquecido. Aonde viveria Ananda, meu primeiro amor? Eu navegava nos mares da Bahia, quando sonhei. Vivia sozinho. E, num dia de tempestade, as ondas se levantaram contra mim e chorei, feito criança. Ali findaria minha rápida existência – e doeu, mais profunda que o pior veneno, o medo da morte. No início, não existia dor e sofrimento, mas existia a morte e o caos. A dor é requinte humano. A culpa, então...
Outra vez, repito: aprendi que nada vale a pena sem o coração. Isso é difícil de entender, mas mais difícil sentir. Quando criança, vi um homem ser esfolado vivo, trabalhador nas terras de cacau. Cresci com medo do homem, memórias marcadas a ferro na minha história. A maldade humana, a que fim serve? Antes de Diabo, somos nós os corrompidos. Somos o vício, a mágoa, a vingança, a inveja, a luxúria, o desejo. Somos nós. Crescemos no barro e nunca vivemos um dia de luz, sem a noite de sombra. A saída? Muitos a encontram de suas formas particulares. Mas todos se encontram no mesmo lugar, a liberdade.
Olhava o meu peito em sangue, vi o Pavão Vermelho no horizonte, prestes a alçar voo. Era o fim da tarde, o céu irradiava laranja e as nuvens eram rosas. Tudo era quente, abafado. Sentia cada segundo, o instante. Muitas vezes esqueci de fazer isso. Passei dias trabalhando, pensando, imaginando, nunca concluindo. Nem mesmo experimentando. Até que decidi partir. E fui vagando pelas estradas, pegando caronas, conhecendo pessoas esquisitas e boas histórias. Viver significa agir no instante em que se respira. A todo instante, eu sou. E é ininterrupta essa voracidade.
Por que a morte veio me buscar nesse instante? O meu peito é quente, afinal de contas. Não tenho nada a esconder. Os medos são pequenos diante da minha vontade de me tornar mais humano, a cada instante que estou vivo. Agora, já morro. É tempo. Fecho os olhos, imagens de Ananda arabescos sincronias sons cheiros fusões, é tempo, vacilante no espaço ddesscompassd atado fim...
Acordei passando mal. A barriga embrulhada e o corpo fraco, o peito suado e os pensamentos velozes como flecha, embarcado numa luz externa da janela, adentrando o laranja do nascer do dia. Abri as cortinas e vi, no céu, o azul cerúleo característico. Pouco me lembrei do sonho, mas o gosto de sangue, ferro vermelho, amargo e terroso, ainda tava na minha boca. Era tempo de voltar pra realidade, sempre há essa hora, retomar o trabalho duro do cotidiano, o trabalho ordinário sem glória e difícil. E, no fim, retirar de suas tetas alguma recompensa, nem que seja o sorriso ou arrepio final de outra pessoa. Tomei um banho, tomei café e deitei de cueca na minha cama. Liguei pra Fino, pedi pra botar esse.
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RIO FLUENTE
a carcaça carcará violento é escolhas erradas caminhos putrefatos de meu coração e o corpo pedindo calma e o tempo urgindo irremediável, é tempo é tempo tempo tempo de não se arrepender, mas pra que agradar aos outros? lança o olhar sobre que passou com compaixão, suas marcas seu destino.
se não haver tempo para deglutir a partida, como irá ficar o coração? indigestão espontânea infrutíferas lições nada penetra – não, não há fuga os pés estão no chão e dói, a mudança dói.
a morte esquálida nos toma nos braços cheira à lua e todo o Espaço; na queda de minha cabeça, lembrei do passado fantasmas dos enterrados, por que me assombram? sou a máscara, tirem de mim, é tempo de olhar nos olhos do mundo e aceitar a passagem dos amores sofrer.
ajoelho sob a égide do universo, no fundo pulsa o brilho eterno do sensível coração gigante, a morte me dá a Visão coração aquático – rio fluente.
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o Pássaro Rasante ainda criança me trespassa;
o muro é gigante e em sua frente dança medos e rancores;
são as dores do passado: memórias imagens o coração pesado.
os pássaros cantam, os gaviões sorriem mas o pavão vermelho rasante me penetra:
sou eu, outra vez criança, viveno o mundo de paixão;
nada conheço, sei muito pouco, mas o amor do pouco me transborda;
sou criança e na nascente lavo as mágoas estendo as roupas do passado;
sou criança. a curiosidade me consome o sensível me apraz;
sou criança! e meu toque é descoberta, sou capaz.
Pássaro Rasante, me ensina a voar por cima dos muros, porque sou criança – e o tempo há de me ensinar.
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Abri o coração ao mundo e, diante de raios fulgurantes de sol, trespassou a minha alma toda a miséria humana. Se, por um lado, caí de amores indecifráveis por uma alma distante, praticamente desconhecida, nada disso parece me elevar. À noite, nas madrugadas em que repouso sozinho e guardo minha cabeça num travesseiro duro, sonhei com os seus olhos e o seu corpo, mais ideia que carne, me tocando e beijando. Quem é essa mulher, que invade todas as minhas privacidades e, mesmo sem saber, me toma o ar? Por vezes, algumas pessoas ultrapassam todas as minhas barreiras...
Não bastasse o romance frustrado, nessa realidade tão mal-acabada e pouco aberta para amores profundos e deliciosos, de resto nada me parece gozar. Às vezes até que o pau fica duro e a vontade de entrega, deixar o corpo e o sexo comunicar nossa força, tudo se torna nítido no coração selvagem. Mas, em geral, meu coração é feito do mais duro mármore e os cantos dos pássaros parecem apenas distantes, vividos, mas distantes. Não bastasse as paixões abestalhadas, todo o resto parece ainda atravessar meu coração como faca cega...
Acendi um cigarro olhando na janela, o que será que cada pessoa ali embaixo está pensando? É inútil, queria apenas saber o que ela está pensando. E levanto o meu computador, na tentativa de quebrar uma – esquecer de tudo. Tudo, eu disse. Das crianças pretas fazendo malabares no sinal, na tentativa de ganhar um trocado pra comer; nas famílias pretas, que buscam abrigo em batentes dos bairros nobres de Salvador. Não bastasse o coração quieto, faminto por paixões ideais, desesperado por conhecer a alma gêmea, farsante com ideias românticos dos mais tóxicos, ainda temos que aguentar a pobreza.
Tudo funciona como um organismo. A sociedade se locomove, nunca para, é um mecanismo incessante – mas, diferente da máquina, traz almas que sofrem e riem, conteúdo sensível, consciência. Eu mesmo, se pudesse, abdicaria de toda reflexão e me tornaria novamente inseto, uno com a natureza e entregue cegamente aos instintos vorazes das necessidades naturais. Mas de nada me interessa esse tipo de coisa, sou humano. Dessa forma, preciso ir na padaria comprar pão e tiro uma nota de 10 do bolso... Ou, na pior das hipóteses, abro minha boca pra comunicar minha miséria, nessa dança cotidiana e, por vezes, cansativa, nem que seja o simples bom dia.
Ora, abrir o coração, para que serve? É doloroso, perceber todas as mazelas do universo. E, diante de tanta miséria, da escassez absoluta das almas pendentes, das bocas com fome e dos corações famintos por amores desconhecidos, necessitamos de novos ares. Ainda assim vibro. Por quê? A paixão nunca morre. E, mesmo sozinho, atordoado por não saber mais me apaixonar ou explorar um romance, por não saber de nenhuma maneira doar o coração, mesmo se obsessivamente ela me toma os pensamentos – ainda assim, acordo suado de noite, no meio da madrugada, após sonhar fartamente. Se, diante de tanta miséria, ainda sonhamos, não há nada a perder.
A escassez é miséria produzida. A miséria humana é real, mais triste que nunca. Entretanto, a força de nossos corações ultrapassa todas as melancolias. Se existo, de nada adianta contemplar. Sou navalha – desejo cortar o mundo com meu peito. E, se as paixões me parecem atordoar, de nada temerei. E, se a pobreza parece nos sugar a felicidade, que acabemos com a pobreza! Nada no mundo me parece triste. Tudo é força. Tudo é vivo. E nós, forjados na profunda destruição, no fogo do fascismo, que faremos? Existiremos, ao menos. E apenas isso basta para ameaçar a existência de nossos inimigos.
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depois do mergulho interior, descobri os mundos do coração desenhados no nado dos peixes e nas correntezas marítimas embarcações cheias de seres conscientes...
exploro a escuridão e jogo fogo nos segredos mais distintos encontro os medos e danço! deixo fluir todos os pesadelos e não mais nego meus vícios monstruosos todos os erros que já fui exploro as matas virgens de quem sou caminhos fechados, poder em minhas mãos: a consciência e o facão, abertura de novas estradas...
Ferve a enseada, ri das feras à solta, nota que é tu, Besta Imortal: mostra os dentes ferozes aos inimigos arranca as raízes das mentiras germina a transformação eu sou a mudança em minhas entranhas o tempo brasileiro e o gosto de ingá na boca da infância passada – sou a imagem da morte, nunca o mesmo sempre eu.
O mar enxagua a lava interior – fogo incessante – e torna em pedra minha força vital abre os caminhos do coração.
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jardins de espinhos 2
os arrepios passeiam delineiam os caminhos da coluna vertebral torna entorta torce minha cabeça bagunça deliciosamente vibra! sintonia magnífica a mente escancarada pro peito no encontro de dedos generosos toques no corpo escondido... descobertas segredos tudo tudo cuspido fora nada mais permanece igual falei ao mundo e pisei nos caminhos de pés descalços jardins de espinhos sem hesitar, cheiro de sangue! não de baratas, mas sangue! arrepios, desejos guardados em Baús de Poeira escondendo a poesia do ser pássaro: não temer foder e confiar.
os arrepios brincam por minha superfície rija e no bruto me descubro flor entregue a sentir, sensação língua corpo paixão eu nu no mundo nu no mundo nu de tudo dos outros libertos dono de mim exposto e portanto vivo.
arrepios por todo meu corpo – mãos desconhecidas em mim logo se tornam nítidas o coração acalma a maré o prazer é parte da carne, jardins de espinhos:
resgatar o corpo do mistério absoluto, entregar as sujeiras de si, ser lama, mas completo.
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jardim de espinhos
“entrega ao túmulo teus antigos e desesperados medos vê ser capaz de renascer quebra teus espelhos sujos tem compaixão com tua vaidade nota tuas origens da lama, ó filho do Pó”, disse o Vento
ser, deixar o rio fluir por seus caminhos labirínticos permitir descobertas dos prazeres carnais da experiência! --
ser, atravessar o Reino da Morte, jardim de espinhos, deliciar da transformação, a troca de pele -- sou serpente cego em sentir meus desejos mestre dos pecados ilusórios!
agito o terror dentro de mim explosões latentes mãos pernas beijos paus bucetas corpos entregues ao vendaval confiantes de si ao entregar ao outro o próprio sangue, troca mística sobrenatural paixões descobertas, almas singulares!
ser, sem medo de ser julgado por ser Eu sem medo de abrir o coração inteiro sem medo de se permitir o prazer: se deliciar com o profano experimentar ser humano entregue à vida, total presente eterna mudança.
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