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sobre nomes, condicionais e torturas
ontem estava conversando com um amigo, que também é trans e assim como eu ainda não retificou o nome no registro civil, e no decorrer da nossa conversa ele fala sobre como o nome de registro dele está morto. no momento aquilo me intrigou por algum motivo, mas eu segui meu dia normalmente. só que refletindo sobre isso hoje eu entendi o que me intrigava: era forma como ele tratava o próprio nome.
meu amigo trata o nome dele como ele deve ser tratado: o nome dele. nada de "nome social" ou "nome de registro", apenas "nome" e "nome morto". para qualquer pessoa que escolha ter um nome diferente daquele que lhe deram ao nascer, isso quer dizer que este está automaticamente morto, assassinado, apagado. ponto.
e que inveja que eu sinto de todas as pessoas que conseguiram matar seus nomes de registro. porque eu não me sinto assim. eu ainda sinto que o nome que eu odeio, sempre odiei, e que me foi forçado goela abaixo ainda está vivo, me sufocando pela garganta.
eu não consegui matar esse nome que não é meu. tenho tentado ferrenhamente por meses, mas sinto que não consegui. é como se ele fosse o assassino do filme de terror que todo mundo achava que tinha morrido, mas do nada reaparece e mata um dos personagens mais importantes. e esse personagem sou eu. e esse filme é minha vida. sinto que minha vida é um filme de terror nesse momento.
e eu cometi o crime hediondo de ter atentado liberdade. tentei me libertar — de quem eu nunca fui — e matar aquele nome que sempre me atormentou. mas fui encarcerado de novo. ao mesmo tempo, é como se eu estivesse sob prisão condicional, sabe? eu saio de casa para ir à escola e sinto o gostinho da minha liberdade na pele, junto com os raios de sol do verão que está chegando. e à noite volto ao meu cativeiro.
e talvez pela sociedade completamente aversa a pessoas como eu, aprendi a chamar meu próprio nome, que é MEU, de "nome social"! olha que coisa, não?
para mim, nesse momento, existem meu nome de registro e meu nome social. só. eu sinto que não tenho nome e ao mesmo tempo sinto que tenho dois nomes.
e além disso tudo, sinto que foi me retirado até o direito a fala. "você tem o dever de permanecer calado". porque, no momento, falar sobre a minha dor é exigir MAIS da minha família. e não posso exigir. é uma situação delicada que muitas pessoas que estão de fora não conseguem entender de verdade. e é difícil julgar tudo ouvindo só um lado da história (nesse caso, eu). e eu realmente não quero cobrar mais da minha família. porra, eles me cultivaram há 18 anos com um nome que eles achavam ser o meu... não tem como mudar a próprias mentes e conceitos de um dia pro outro. simplesmente não tem. não pra quem criou você durante toda sua vida e te conhece desde sempre, entende?
e eu entendo. é claro que eu entendo. mas minha dinda diz que eu só entendo na teoria, que na prática eu faço outra coisa. e eu acredito que ela esteja se referindo às poucas vezes que eu falo o quão mal eu tô me sentindo em ser chamado por um nome que não é meu. e eu não posso falar isso. porque falar isso é exigir mais. e não tem como exigir mais delas.
e é triste isso, né? isso é assustador. é algo que não desejo pra nenhum irmão ou irmã. é algo que nenhum de nós merecia passar. num vídeo que eu postei no Instagram me assumindo trans eu falei sobre o quão cruel é ser quem somos. e era disso que eu estava falando. essa é a crueldade. porque não é uma situação simples. é uma relação entre pessoas que têm suas próprias frustrações, ideologias e limites. e que, no momento, todas elas estão se sobrepondo umas sobre as outras. as fronteiras estão sendo invadidas, os limites estão sendo inevitavelmente desrespeitados. e a culpa não é nossa. talvez seja... sei lá, da vida! mas nessa situação ninguém tem culpa de nada. a gente só tá tentando se acostumar um com o outro, eu acho.
o problema é que, pra mim, se acostumar com ser invalidado todos os dias não é uma opção. e genuinamente acho que não mereço isso. não mereço ser chamado por um nome que não é meu. não mereço ter que limitar minha liberdade por causa de outras pessoas. mas minha família também não merece mais exigências. minha família merece ter o próprio tempo. assim como eu tive e também mereço ter agora.
então... como proceder? a que conclusão chegamos? se você achava que esse texto terminaria com respostas, eu lamento. a vida é cheia de perguntas não respondidas, e não vou ser EU que vou mudar isso, né?
mas acho que o tempo é uma opção. minha psicóloga me disse que o tempo cura tudo. mas o tempo também pode ser muito duro e cruel. é, realmente é cruel ter que continuar aturando uma tortura psicológica como esta que estou vivendo agora, eu e minha família. vai ser difícil ter que lidar com a dor todos os dias por tempo indeterminado, mas acho que dá pra continuar escrevendo pra afogar minhas mágoas...
repetir coisas diariamente te leva a acostumar-se com elas, então acho que vou tentar chamar aquele dito-cujo de "nome morto" mesmo. quem sabe um dia ele apareça finalmente sem vida...
#26122022
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a libertação do reflexo molhado
tu, que apontas para o espelho
e espelhas em si tudo que difamam-te
mesmo que te arranquem os sorrisos,
e, sem falta de aviso, abandonem-te.
entre linhas, tu és drama e persona de pura fama,
que reclama suas entrelinhas
como se fossem o último grito de socorro de tuas entranhas,
que clamam por ajuda,
que chamam de volta os que te deixaram para trás.
que pares!
pares antes que tenhamos que litografar um "aqui jaz",
pares de se expor a tal ponto de se impor torturas internas,
cobertas de arrependimento e desamor.
pares de te submeter dor
como um monstro subversivo fruto da expectação de falsos astros,
os quais tu mesmo havia deixado transgressivos
chega de parar de escrever
e pare de ser agressivo
com os outros e contigo.
chega e prepara-te para te absolver
e finalmente florescer em ti
todas as sálvias inseminadas,
por anos guardadas e regadas com poesias
porque não havia (m)água
eu te absolvo.
dissolvo em ti toda a esperança que me resta
e te presenteio poesia esta,
besta, feita em poucos minutos
e usando fontes dicionárias que nem prestam
para te dizer, idiota,
que do mesmo lugar que o erro de ti brota,
rebentam também
ondas revolucionárias,
maresia, verdade, fruto e prosa.
– ARLindo, #04042023.
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And I wish my name brings warmth to your heart and not a mournful sorrow
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I envy every single one of them who's ever had the chance to be near you, to hear you laugh and see your smile. To touch you and feel you on them. The jealousy I feel has no bounds because I know, I know nobody reveres you as much as I do. And to think it's me who's not in your proximity kills me everytime.
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“stop returning to toxic situations just because you have history with them”
— Unknown
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eu quero que você sinta culpa
eu quero que você sinta culpa sim
porque ela é sua
a culpa é o pior sentimento que existe
e eu acho que você merece isso
então eu quero que você sinta
mas eu nao quero que você a sinta por muito tempo
a culpa é o pior sentimento que existe
e ela te paraliza
ela pode te fazer parar tudo e perder tudo
perder as esperanças na vida e na mudança
e eu quero que você mude
a culpa é um dos maiores combustiveis da mudança
entao eu quero que voce sinta ela
mas não quero que a sinta por muito tempo
eu quero que você mude
sinta culpa e use ela como o combustível pra te fazer mudar
a culpa é o pior sentimento que existe
então eu não quero que você a sinta por tanto tempo
você não merece isso
você merece mudar
e merece perdão também
você merece não se torturar com a culpa
porque eu te amo
e isso significa que você merece merecer o meu amor
você merece (e deve) mudar.
não acho que você merece o meu amor agora
mas acho que você merece merecê-lo.
então estarei aqui
esperando pela sua mudança
e te dando a sua única chance de cumpri-la mesmo
de verdade
e por completo
por que eu acho que você merece que eu espere
e porque eu te amo.
— ARLindo, #07052023.
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