Tumgik
alicz · 3 years
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                    A grande porta de madeira do castelo rangeu quando Alice a empurrou naquela noite. A vampira não tinha consciência alguma dos movimentos que estavam fazendo, se sentia como um fantoche e que alguém estava puxando suas cordinhas. Mesmo que isso fosse apenas uma metáfora, a garota parecia realmente sentir como se tivesse uma corda puxando-a, guiando tudo que ela deveria - e queria - fazer até o presente momento. E apesar que a sensação fosse de estar amarrada numa corda, ela não se sentia presa, ah não, nem um pouco, ela se sentia livre. Finalmente livre.
                    Então, após dar alguns passos para dentro da entrada, Alice pareceu acordar. Um sonho? Um pesadelo? Não sabia ainda. Olhou em volta precisando parar para raciocinar a onde estava, até sentir o peso que possuía na mão direita. Ao olhar para baixo, a Toreadora arregalou os olhos verdes para o que encontrou. Ela era uma bagunça de sangue e terra. O peso em sua mão era uma adaga afiada, de cabo grosso e pesado que parecia ter sido enfiada em um balde de sangue. Todo aquele tom carmesim parecia mais vibrante em contraste com o vestido branco. E o sangue não se limitava apenas ao vestido, estava em suas mãos, seu rosto, escorrendo pelo pescoço e nas pontas de seu cabelo. Seja o que tivesse acontecido, ela havia feito um belo de um estrago. 
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                    Ainda acordando de seu transe ela soltou a adaga devagar. O objeto afiado atingiu o chão, sujando o assoalho de manchas vermelhas, o som da batida ecoando alto em sua cabeça. Ainda em certo choque e sem saber o que estava acontecendo, ela levanta o olhar até encontrar a figura masculina em sua frente. “Lucius?” Não sabia se @tremerae​ estava ali desde que ela havia entrado ou se havia acabado de aparecer. Alice olha para suas mãos cheias de sangue e as esfrega no vestido como se precisasse ajeitar sua aparência. O ato deixou marcas de dedos no tecido, assim como haviam na barra do vestido, as manchas indicando que alguém havia segurado ali para implorar pela própria vida. “Eu não sei o que eu fiz.” Pela primeira vez desde que havia sido expulsa ela se sentia assustada. E se tivesse quebrado a máscara? Sabia que nem Julian poderia protegê-la se fosse o caso. Entretanto, ela não se sentia conectada com seu lado vampiro, com aquela besta, mas definitivamente com a outra, a que estava conectada não só a ela, mas a lua cheia que iluminava o céu naquela noite. “Acho que a lua me fez matar alguém.” Aquela frase pareceria uma brincadeira de mal gosto se o lorde não conhecesse seus poderes, a influência que o astro luminoso exercia sobre as ações dela. Aquele sussurro pareciam gritos aquela noite, tanto que Alice sentiu começar a entrar naquele transe de novo ao se virar para porta aberta atrás de si, aquele pequeno traço de luz a chamando para que voltasse e continuasse o que que quer que estivesse fazendo com aquela adaga antes. 
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alicz · 3 years
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dzrothing​:
                                dorothy   estava   longe   de   ser   uma   pessoa   noturna.   ela   não   tinha   o   costume   de   ficar   acordada   depois   da   hora   e   muito   menos   de   perambular   pelo   convento   em   horário   proibido,   o   máximo   que   a   jovem   fazia   era   ir   até   a   cozinha   durante   a   madrugada   para   beber   água   em   passos   leves   para   não   acordar   nenhuma   das   irmãs   e   chamar   atenção.   em   outras   palavras,   também,   não   fazia   o   tipo   rebelde   ━   não   descumpria   as   regras   impostas   e   com   isso   não   era   nada   comum   para   a   adolescente   estar   na   situação   em   que   se   encontrava   atualmente:   caminhando   pelos   corredores   do   convento   como   uma   sombra   colada   à   parede.   a   sombra   de   alice.  
                                seu   estômago   revirava   e   ela   sentia   calafrios   por   seu   corpo,   ansiosa   e   temerosa   com   a   possibilidade   de   ser   pega   fazendo   algo   que   não   deveria.   a   verdade   é   que   dorothy   sequer   sabia   o   que   estava   fazendo,   uma   vez   que   seu   corpo   apenas   se   moveu   quando   viu   a   morena   levantando   da   cama   naquela   madrugada.   ela   não   tinha   o   costume   de   ficar   acordada   depois   da   hora,   mas   pesadelos   eram   muito   comuns   então   vez   ou   outra   ela   acordava   de   supetão,   ofegante,   assustada   e   suada.   sentia   vontade   de   dar   uma   volta   no   lado   de   fora   do   convento,   tomar   ar   fresco   e   se   acalmar   com   suas   queridas   flores,   mas   sabia   que   era   algo   errado   a   se   fazer   e   por   isso   se   limitava   a   virar   para   o   lado   e   se   forçar   a   dormir   de   novo.   não   naquela   noite.   naquela   noite   ela   viu   o   exato   momento   em   que   alice   saiu   e   depois   de   uma   batalha   interna   de   longos   segundos,   a   loira   decidiu   segui-la.  
                                ela   conseguia   sentir   o   vento   frio,   vindo   das   janelas   abertas,   batendo   em   seu   rosto   e   quase   congelando   a   ponta   do   nariz   que   se   encontrava   avermelhado.   absolutamente   tudo   dizia   para   que   ela   desse   meia   volta   e   retornasse   para   a   cama,   mas   algo   nela   a   fazia   ser   teimosa   como   uma   mula   e   ignorar   os   sinais   de   que   o   perigoso   desconhecido   a   aguardava.   os   lábios   foram   mordidos   quando   quase   perdeu   seu   alvo   de   vista,   apressando   os   passos   para   dobrar   o   corredor   ━   inocente,   achava   que   não   tinha   sido   vista.   seu   corpo   inteiro   gelou   de   dentro   para   fora   e   a   garota   levou   as   mãos   à   boca   para   impedir   que   um   grito   de   surpresa   escapasse   ao   ver   o   rosto   de   alice   de   frente.   seus   olhos   arderam,   quase   formando   lágrimas   com   o   susto   já   que   podia   jurar   que   tinha   sido   pega   no   flagra   por   uma   das   irmãs.   suspirando,   ela   baixou   as   mãos   até   tocar   o   peito.   “   por   deus,   alice!   ”   arfou   em   tom   baixo,   olhando   ao   redor.   as   bochechas   adotaram   um   leve   tom   rubro   que   poderia   ser   disfarçado   com   a   temperatura   gélida   da   madrugada   e   a   escuridão,   mas   a   verdade   é   que   estava   envergonhada.   raio   de   sol.   nunca   se   acostumaria   com   aquilo.   desviou   o   olhar   brevemente,   não   sabendo   qual   resposta   seria   mais   patética.   decidiu   dizer   a   verdade.   “   tive   um   pesadelo.   ”   soava   quase   infantil   e   quis   se   estapear   por   isso,   mas   não   o   fez.   como   fazia   antes,   voltou   a   segui-la.   desta   vez   de   perto   para   não   precisar   falar   alto.   “   vi   você   saindo   do   quarto.   o   que   você   está   fazendo   fora   da   cama?   ”
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                Um vento frio soprou pela janela, parecendo levar o riso que Alice tentava conter embora. Quase sentiu-se mal por tê-la assustado Dory daquele jeito. Quase. Não podia evitar, Dorothy ficava completamente adorável com aquelas bochechas coradas.  “Desculpe, mas se vai seguir alguém desse jeito precisa ser mais cuidadosa, raio de sol.” Talvez aquilo pudesse servir de alguma lição. Alice já estava acostumada a sair da linha, andar pelo convento aquela hora, aprontar o que não devia, mas Dorothy não. Se fosse pensar bem, talvez essa era a primeira vez que via a loira fora da cama no horário que não deveria. Não era comum ver Dory quebrando qualquer regra. 
                As duas poderiam ser consideradas um grande contraste, não apenas no tom de cabelo, mas no jeito, nas atitudes. Se havia uma boa comparação para elas era que, Alice é a noite, a escuridão indomável, e Dorothy era o dia, trazendo luz a tudo que encontrava.
                “De novo?” oferece um olhar acolhedor à amiga “São só sonhos, Dory, não podem te fazer mal.” A jovem sabia, e muito bem, o que era sofrer com pesadelos. Às vezes se perguntava se não conseguir dormir era apenas um mecanismo de defesa de sua mente, assim não teria que enfrentar seus pensamentos, ou o homem da sombra. Alice se encolhe com o frio da noite enquanto caminha, cruzando os braços a frente ao corpo numa tentativa de se esquentar. O ar estava tão gelado que uma fumacinha saía de seus lábios por conta de sua respiração quente. “Não consegui dormir.” Mexe os ombros em um movimento como se dissesse que não era nada demais. “Ainda não respondeu porque estava me seguindo.” Ela se vira para Dorothy, estendendo o braço até que estivesse enroscado no da outra e a trouxesse para mais perto. Assim poderiam se esquentar e não precisariam falar alto. “Essa deve ser a noite mais fria do ano.” O farfalhar das folhas das árvores no vento pareceram concordar com a afirmação feita por Alice, ela não se lembrava da última vez que havia feito frio assim. “Devíamos roubar um vinho da cozinha, tenho certeza que isso nos esquentaria.” A ideia foi acompanhada de um sorriso travesso. Não esperava que Dorothy concordasse, talvez que a amiga dissesse que ela não deveria fazer essas coisas, mesmo assim ficou curiosa para saber a reação da outra.
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alicz · 3 years
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                      Era impressionante como, para Alice, a noite parecia ser muito mais barulhenta que o dia. Haviam as corujas, os corvos, os grilos e o vento balançando as árvores. Melodia noturna, era assim como ela gostava de chamar todo aquele barulho. Achava que era a melodia que não a deixava dormir, porém existia algo a mais. Algo na imensa escuridão iluminada pela lua e as estrelas que a chamava, conversava com ela e a atraia, fazendo-a levantar de sua cama e caminhar até o lado de fora.
                       Alice é uma criatura noturna, sempre fora desde criança. Durante as longas horas da madrugada podia ser encontrada em algum canto do convento, menos em sua cama. Aquela noite não seria diferente, a melodia e o chamado a tiraram de seus lençóis, e agora a jovem vagava pelos corredores vazios. A lua estava cheia, tão redonda e grande que sua luz entrava pela janela e iluminava seu caminho sem sequer ser necessário uma vela para fazê-lo. Se perguntava se algum dia viraria uma lenda daquele lugar, um mito: a garota de longos cabelos escuros que andava pelo convento durante a noite, como um fantasma, atraída por algo que não conseguia explicar. 
                      Seus devaneios foram quebrados pela sensação de estar sendo seguida. Parou por um momento, olhando à sua volta com as sobrancelhas franzidas. Garantindo que realmente estava sozinha antes de voltar a andar. A sensação não foi embora, e ao olhar de canto um vulto confirmou que não era a única que havia decidido dar uma caminhada naquela noite. Não era uma das irmãs, se fosse já estaria sendo arrastada de volta para sua cama enquanto escutava uma boa bronca. Podia julgar que era Louis ou Hector caso um deles estivesse no convento aquela noite. Entretanto, ao olhar para trás e ver o relance de uma mexa loira, já descobriu quem era. Alice sorri de canto, então faz a curva no próximo corredor, escondendo-se nas sombras até que a outra figura se aproximasse. “Bu!” Exclamou quase um sussurro ao sair para a luz, com o intuito de assustar @dzrothing​. Alice solta um risinho divertido, o som se dissipando em eco pelos corredores. “O que está fazendo fora da cama, raio de sol?” Pende a cabeça um pouco para o lado, analisando Dorothy e como seus cabelos loiros pareciam realmente ser um raio de luz no meio de toda aquela escuridão. Havia a apelidado daquele modo pois a Dory parecia ser a mais doce e animada das meninas. “E por que está me seguindo? Você me assustou, achei que era uma das irmãs.” Enquanto falava, a jovem voltou a andar, esperando que a amiga a seguisse. 
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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Ele se recordava vagamente da sensação, como o eco ou a sombra de uma lembrança distante. Infância. Humanidade. Memórias são traiçoeiras, ferem a razão de quem as escava com mãos cruas e o que se encontra do outro lado são fragmentos relapsos; nublados por quem você é, já foi e sentiu toda vez que as revisitava. Para Lucius, a própria fome e apetite se projetavam em sua ambição por poder e conhecimento — pela necessidade de controle e o perfeccionismo inerente à carne e ossos e ao sangue. Quando pensa em si mesmo, é isso que enxerga desde o prelúdio de sua criação, mesmo como um menino, como a criança perdida tão pequena e vacilante que buscava ardentemente entender a implacabilidade da morte. E a aceitá-la — às próprias maneiras.                                 Memórias são traiçoeiras, mas aquele sentimento era imutável. Sempre esteve ali, dentro de si, aguardando e se revirando como uma cobra peçonhenta dentro do peito. Esse era o seu pecado capital. Essa é sua gula.                                 “Não posso afirmar que me lembro de tal coisa.” Ele a ouvia falar, a deixar escorrer com naturalidade seus anseios. Um vislumbre em estilhaços do frenesi, repercutindo o que Lucius enxergava aos poucos da natureza pré-transformação da neófita. Continuou: “Fui uma criança razoavelmente franzina.” Há uma nota de humor que paira entre as sílabas. Não eram vitaminas que lhe faltavam ou tampouco uma má alimentação. Mas com o tempo, uma criança celíaca naturalmente aprenderia a rejeitar aquilo que não entendia o porquê de lhe fazer tão mal — até que enfim suas refeições favoritas cairiam à indiferença depois que cedidas à tentação. Ele passou não mais a comê-las porque eram suas favoritas, mas porque sabia que não podia. Talvez, se refletisse melhor e mais a fundo de seu interior infantil, elas fossem de fato as favoritas por tal razão. Até que não eram mais. “Mas esse frenesi que sente, essa associação que faz com quem já foi e atualmente é, são dois lados da mesma moeda.” O Lorde ainda estuda as feições de Alice. Os cascos do cavalo trotavam pela estrada, entre curvas e sombras e pedra. “Vida é preciosa. Se é a humanidade que a retém prisioneira dos próprios impulsos, pode muito bem usá-la ao seu favor.” Aquilo detinha de significados diferentes para cada um de sua espécie. Alice encontraria o dela. “Me diga, quantos já matou?”                                 Aquilo o intrigava — embora estivesse mais interessado no como. Em quais seriam seus padrões, os hábitos, princípios. “Não é fã de surpresas, milady?” É a resposta para o questionamento dela. O Tremere sorri, uma sombra tênue e breve de diversão no repuxar de lábios. “Madame Du Châtelet tem um jantar organizado para a volta da filha que se casou há alguns meses com um dignitário de tropas americanas.” Ele olha para a janela, para o vilarejo. Atravessaram por um lago tão escuro quanto a noite estrelada. “São vampiras, ambas Ventrue. O marido é humano—assim como vários do jantar o serão.” Uma pausa. “Alguns estão fora do cardápio por diplomacia. É uma noite para estabelecer laços não-convencionais, em sua maioria. Mas quero que aproveite-a como quiser, dentro da Máscara. Te tenho como alguém que apreciaria uma confraternização.”
                        Se perguntou por um momento se Lucius não lembrava pela quantidade de anos que já havia vivido ou apenas daquela sensação específica. A dúvida ficou na ponta de sua língua, ainda não tendo coragem de expressá-la. Talvez não estivesse pronta para a resposta, pois aquilo a fez se questionar o que ela lembraria a quatrocentos anos dali se mal lembrava de certos momentos de sua infância. Memórias se dissipam, ficam nebulosas e embaçadas até irem embora de vez. Tinha certeza que chegaria um momento da sua não-vida que nem lembraria da sensação que havia acabado de explicar com tanta intensidade. 
                        Ela quase conseguia imaginar uma versão infantil de Lucius. Um pequeno garotinho, razoavelmente franzino - como ele mesmo havia posto - com cabelos negros desarrumados e os olhos escuros mais inocentes do que eram agora. “Bom, eu fui uma bem gulosa.” Não que ela não tivesse acabado de admitir aquilo. “O que às vezes me custava muitas horas de orações.” Quando pequena, Alice não entendia porque aquele Deus se importava se ela comia demais, ou dormia demais, ou desejava algo que não era seu. Porque sempre tinham que pagar ajoelhada, orando, pedindo perdão pelo seu ato que era feito tão inocentemente. Sendo obrigada a sentir culpa e vergonha de suas próprias ações, e principalmente de quem era. Foi uma criança gulosa, em um ambiente que a condenava por isso. A vampira franziu as sobrancelhas com as palavras do Lorde, não em confusão, mas em ponderação. Talvez até certo questionamento. “Está sugerindo que posso usar meu lado humano para me impedir de matar?” Ela duvidava. Se sentia tudo menos humana quando estava com as presas cravadas em alguém. “Como vampira, cinco.” Não estava disposta a entrar em detalhes se ele não perguntasse. Queria saber até onde a curiosidade dele ia. Também havia aberto outro questionamento, se já havia tirado a vida de alguém ainda humana. Até uma garota religiosa tinha seus próprios esqueletos no armário.
                        “Sendo sincera, não, milord.” Não gostava de não saber as coisas, principalmente de não saber onde estava sendo levada. Por isso, não retribuiu o efêmero sorriso divertido do Lorde, porém não deixou de repará-lo. Estava pronta para argumentar caso o vampiro decidisse manter aquele suspense quando o mesmo começou a explicar. Teve que fazer certa força para não fazer uma expressão de desgosto ao ouvir sobre o casamento. Nunca entendeu o propósito da cerimônia que juntava duas pessoas onde apenas a morte podia lhes separar, o que perdia o sentido quando se casava com uma imortal. “Por que casar com um humano?” Desviou o olhar pela janela observando o vilarejo. Vilarejo que em teoria era seu lar, sua terra natal, mas que conhecia tão pouco. Havia estado poucas vezes ali enquanto crescia, e mais algumas com Julian. Não conhecia aquelas ruas, muito menos aquelas pessoas. O canto direito dos lábios de Alice sobe em um sorriso divertido e com um quê de aprovação ao ouvir como a noite funcionaria. “Apostos que os humanos que comparecerão não sabem que serão o jantar, huh?” Volta-se novamente para Lucius, ajeitando-se em seu assento e jogando o cabelo sobre os ombros. “Eu gosto de uma boa confraternização.” Ainda mais uma que lhe garantisse uma refeição. “E você, milord? Aquele castelo parece bem solitário.”
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alicz · 3 years
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alice + C O L O R S MOODBOARD ↳ RED
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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Pois ele percebera. Lucius caminha com a graciosidade da Morte, tão silencioso em sua imponência como Ela, porém não fez questão de abafar o som das botas ao seguir até Alice. De fato, devia estar concentrada para não senti-lo ou sequer ouvi-lo chegar. O vampiro se vira, fitando-a nos olhos, a capa maciça do grosso tomo em mãos absorvendo a luz tênue dos castiçais que expunha os próprios estudos de Alice na mesinha de canto. “Não, prefiro fazê-lo de perto.” Mas ele avaliou a bagunça da mesa, o Livro de Agnostos e os volumes que a Toreadora selecionara. Simbolismos do arcano, traduções de runas, registros tirados do catálogo de história de clãs. Gratificante, de certa forma, saber que suas palavras não foram em vão. 
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“Me diga, achou algo que a satisfez até agora?” E ele a observa com genuína curiosidade, os olhos descem até O Quinto Firmamento cujo título se sobressaía meio aos escritos. “Sinto que faria bem ter alguém trabalhando oficialmente aqui para organizá-los e selecioná-los.” Uma mão vai até um exemplar qualquer da mesa e ele o ergue brevemente. “Mas vejo que se saiu muito bem por si mesma.”
                      O olhar verde de Alice subiu até encontrar o do Lorde. Fitando-o do mesmo jeito que ele fazia. Sua famosa postura teimosa, que se eriçava ainda mais quando alguém a encarava nos olhos. Ainda assim, Lucius não possuía um mal par de olhos para se encarar. Um sorriso de canto surgiu nos lábios da neófita. “Você está distante para quem prefere fazê-lo de perto.” Desvia o olhar para o espaço entre eles, Alice ao lado da mesa e o vampiro ao lado da estante. O comentário levemente atrevido não só convidava o Lorde a se aproximar, mas dizia algo como: mantenha sua atenção em mim. Mesmo assim, Lucius mudou o olhar para os livros da mesa. “Não completamente.” Seu tom saiu mais sensual e sugestivo do que ela pretendia e foi acompanhado de um sorrisinho. Alice nunca estava satisfeita.
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                      Permitiu que ele observasse a seleção de livros que ela havia feito, apesar de sentir vontade de fechar seu Livro de Agnostos. Se sentia exposta com ele aberto, mas não quis arriscar um movimento suspeito. “Como alguém que se perdeu diversas vezes entre essas estantes hoje, posso concordar.” Observou ele pegar o livro, se disciplinando para não se inclinar e ler o título. “Diria que estou no caminho certo, milord?” A duvida era genuína, apesar de não ter certeza qual era o caminho que deveria seguir.
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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“Fazendo dever de casa?” A voz do Lorde quebrou o silêncio dos corredores, ainda que baixa e impassível, e diante do sobressalto da neófita ele a lançou um olhar interrogativo — bem humorado, até — conforme se aproximava da estante ao seu lado. “Minhas desculpas se a assustei.” Usava uma simples camisa branca abotoada e um suspensório, mangas erguidas e dobradas; a imagem de alguém que estivera trabalhando em algo. Até as luvas pareciam desgastadas, e em uma delas segurava um livro.
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Guardando o exemplar na prateleira, ele a fita de canto de olho enquanto puxa um outro tomo dali. “Existe algo para espionar?”
                      Alice balança a cabeça, deixando os livros que segurava sobre a mesa próxima, onde também havia uma pilha com outros livros que ela via separado. “Tudo bem. Estava focada, o senhor me pegou de surpresa.” Enquanto fala a neófita coloca uma mexa do cabelo escuro atrás da orelha, aquela noite seus fios estavam completamente soltos, em seu levemente cacheado natural. “E sim, estou fazendo meu dever de casa.”
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Pende a cabeça para o lado, o observando por um momento. Aparentemente ela não era a única que se manteve ocupada aquela noite. “Só se considerar interessante espionar uma garota bonita perdia em meio a tantos livros.”
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alicz · 3 years
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@tremerae​
                      Alice estreitava o olhar para os dois livros em suas mãos, tentando comparar a runa do seu Livro de Agnostos com o outro livro, quando foi surpreendida pela figura masculina. “Pelo Senhor, Lucius!” Abraçou os livros contra o peito com o susto. Aquele maldito medo de tudo que saía das sombras. “Achei que Kestrel era quem espionava.”
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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Alice sorria de canto e brincava com ele, respondendo-o naquele tom aveludado e atrevido que ela revelava e expunha pouco a pouco entre um olhar ferino aqui e ali — entre cada franzir de sobrancelha e escolha articulada de palavras. E Lucius a ouvia num entretenimento crescente, silencioso e oblíquo em sua natureza, como se cada reação, cada dobrar de palavras que se desenrolava de sua língua até a mudança de tom entre as sílabas, de sua síntese, fosse de fato como um livro que ele encontrava prazer em ler. Porque o vampiro podia ter mantido o Livro de Agnostos para si mesmo. Podia, em todo seu direito como Lorde, mentor, Conde e autoridade suprema do castelo e de toda região, ter guardado e lido de cada página, de cada símbolo, as revelações mágicas que o tomo lhe apresentaria acerca da neófita recém-transformada e com um poder que muitos afirmariam não ser dela. Favor ou não para Julian, a existência de Alice ainda era um risco para ela mesma (e, alguns até mesmo diriam, para a Casa Tremere) e aquilo apenas funcionaria se ela cooperasse. Vernon reprovaria. O Círculo reprovaria. A Pirâmide reprovaria. Pelo menos, antes de Lucius lhes apontar as vantagens que aquele tipo de estudo não renderia ao Clã, se feito com cautela. Mas até lá, qual o prazer em pular direto para a última página? Então que sorrisse para ele, que brincasse, que o provocasse até estar segura o suficiente de suas habilidades, poderes ou intenções para que ousasse expô-las — fosse para quaisquer fins que almejasse ou não. Pois Lucius Volhard, por sua vez, possuía ambos, tempo e paciência, de sobra.                                Ele não a respondeu. Aqueles poucos segundos de inocência forjada, dessa vez tão escancarada e satírica em seu timbre adocicado, o fizeram cogitar privá-la de qualquer banquete noturno que os esperava na Residência Du Châtelet. Sua curiosidade e anseio por saber como ela se comportaria no evento, entretanto, falou por cima daquele capricho. E havia algo na proximidade, no erguer de queixo e no desafio que brilhava de suas esmeraldinas, que voltou a agitar os instintos mais primitivos do Caminhante Noturno. Que o trouxeram de volta a imagem da vampira lambendo o próprio pulso e chupando os dedos, um por um, até que não sobrasse nada do líquido carmesim quando ela gemeu baixinho e do fundo da garganta aquele grunhido de satisfação e prazer.                                Não, ele a queria alimentada e satisfeita.                                Lucius voltou a checar o relógio de bolso após a neófita avançar para as escadas — uma viagem de uma hora, se não houvessem imprevistos. A vida noturna os aguardava. “Se beleza lhe serve de parâmetro para uma escolha, duvido que terá dificuldades.” O Lorde ergueu os olhos até os dela, e a sinceridade das palavras não abria brecha para dizer o contrário de que aquilo era, sim, o suficiente. “Meia hora. Nem um minuto a mais.”                                E quando ela enfim desapareceu atrás das portas-duplas, o vampiro enfiou o relógio no bolso e olhou de esguelha para uma das gárgulas. “Pretende espiar a noite toda ou sua intenção é terminá-la como da última vez, batizando a fonte com alcaloides e fazendo-a chover pelo jardim?”                                O gorjear delicado dos pássaros foi amansando, gradual e suavemente, como se dissolvesse em ecos de ruídos pelo ar, e igual sempre acontecia, o Lorde Tremere sentiu como se inúmeras vozes sussurrassem até ele, longe e ao mesmo tempo tão perto, antes da figura feminina se materializar atrás dele: um espectro saído das sombras de alguma dobra de realidade. Lucius não a sentiu até que ela repousasse ao seu lado e dissesse:                               “Não é diablérie. Que engraçado.”                                As madeixas claras de sua mestre-espiã estavam presas num penteado frouxo contra a nuca, o corpo atlético mergulhado em preto e armada até os dentes. Somente preto naquela noite. Ela puxou a máscara iridescente que usava, o adamantino brilhante reluzindo contra as estrelas.                                “Julian, então?”, questionou o Tremere e a fitou de soslaio, uma só sobrancelha arqueada.                                “Não.” Resposta incisiva, curiosa. A longa capa da vampira oscilou quando ela trouxe a mão até a altura do rosto. Uma pétala vermelha pendia entre o indicador e o dedo médio, e ela a ergueu acima dos lábios abertos, deixando que da pétala pingasse aquele mesmo líquido carmesim até sua língua. A mestre-espiã lambeu a boca rubra e carnuda. Parecia reflexiva. “Eu teria detectado na geração. O gosto de Julian é fresco e excêntrico, como uma frutinha doce e cítrica. Mas nada além disso.” Um gesto de desdém com os dedos e ela descartou a pétala agora branca. Lucius assentiu. “Não é detectável assim. Eu precisaria de mais pra brincar.”                               “Ou de um ritual avançado. Está enferrujada, Kestrel?” A vampira o lançou um olhar que teria afugentado o mais destemido dos Cainistas.                               “São suas merdas. Lide com elas ou me deixe fazer meu trabalho em paz.”                                O Lorde riu baixo, e caminhou lentamente de volta para as escadas. “Vá. Esteja aqui no próximo eclipse lunar. Termine o serviço com o algoz e o encaminhe até o carniçal. Depois discutiremos isso. Até lá…” ele subiu os degraus, um por um, até as portas. “Estarei lidando.”
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Lucius vestiu-se casualmente naquela noite — ou, pelo menos, tão casualmente quanto um Lorde Tremere se vestia para uma caçada. Uma de suas usuais sobrecasacas, justas nas mangas e de algodão escovado, caía sob medida até abaixo dos joelhos. Um colete que aparentava ser brocado em padrões finos de cianita negra se escondia sob as fivelas duplas do casaco. Como sempre, cada vestimenta se mantinha elegante mesmo em sua excentricidade de bolsos. A correntinha do relógio também pendia dourada no colete, seu brilho cru tremeluzindo contra o bruxulear das chamas dos candelabros conforme o Lorde traçava seu caminho de volta até o saguão de entrada. A única novidade aparente para Alice seria a bengala com o cabo de ouro em sua mão, o som firme ecoando a cada passo que o vampiro dava — um prelúdio de sua presença, um memorando onde quer que fosse.                                 A carruagem estava pronta. Alice ainda não. Mais que poucos minutos, porém, e então ela surgia do lance de escadas em toda sua harmonia imortal. Lucius a lançou um olhar longo, demorado e indecifrável, e conforme ela se aproximava, o vampiro apenas repuxou a boca em cumprimento, e estendeu-lhe uma mão. “Ao que me parece, eu estava certo no final das contas, não?” Lucius seguiu com ela para fora do saguão, rumando pelo primeiro hall de entrada, e então para o frio da noite até o pátio onde o cocheiro já os esperava. Dali, uma bifurcação os levava para a estrada de pedra, ladeada por árvores de altos galhos retorcidos que seguia direto para uma ponte larga e escura. E para os portões. “Deixarei quaisquer aborrecimentos para imprevistos de estradas. É uma noite longa e sombria. Reze para que tenhamos poucos deles até lá.” Ele abriu a porta da carruagem, apertando a mão de Alice para ajudá-la a subir. Entrou logo depois, recostando-se contra o banco e dando duas batidinhas no teto para que o cocheiro desse a partida. Cascos ressoaram contra pedra, e então a carruagem avançou pela estrada.                              Os olhos ônix se voltaram para Alice. Ele a fitava com cautela, as sombras lançadas pelos galhos além da janela dançando naquele rosto porcelana. Mesmo ali dentro, as íris dela queimavam no mesmo verde que queimavam à luz da lua. Talvez até mais. Uma única mecha caía sobre a testa do vampiro, madeixas pesadas penteadas para trás até a base de sua nuca. Lucius sempre cheirava a sálvia-rubra, ao carvão em brasas que crepita de uma lareira, a sangue e a brisa noturna de uma noite morna. Mas ali, ele se encontrou apreciando o perfume tão singular da neófita, uma fração do jardim caminhando consigo até a cidade. Como Éden espreitando sob um invólucro imortal. “’Eu não sei parar’, você disse”, ele soltou, de repente, a voz grave dentro daquele espaço pequeno. Eram as palavras dela — de mais cedo. “O que sente em momentos assim, à mercê da Besta?” 
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Dígitos enluvados tamborilaram suavemente contra a base do bastão lapidado. “O que é que pensa—quais pensamentos a arrebatam e a roubam de seu controle?”
                      Alice abriu um sorriso, talvez um charmoso demais, para o elogio implícito do Lorde. Repousou sua mão sobre a dele antes de responder em forma de agradecimento: “Você também está bonito, milord.” Só então parou para reparar nas vestes dele. A bengala era algo novo, mesmo assim não perguntou. Sabia que Lucius tinha suas próprias cartas na manga e que descobriria o motivo da presença do acessório eventualmente. 
                      Quando estavam do lado de fora, Alice primeiro olha para o céu. Era uma noite gelada, mesmo assim a noite estava limpa, sem nuvens, permitindo que as estrelas e a lua iluminassem tudo que poderiam alcançar. Depois, ela vira um pouco a cabeça, para olhar atrás de si. Para o castelo, que parecia tão grande por fora quanto era por dentro. Era um tanto intimidante, lembrou-se quando chegou ali a alguns dias atrás, quando desceu da carruagem e fez aquele mesmo trajeto mas no sentido contrário, se sentindo como se estivesse sendo deixada em um segundo orfanato. Pela segunda vez naquela noite, foi tirada de seus pensamentos pela voz do Lorde. Teve vontade de perguntar para qual Deus deveria rezar já que não sabia em que ele acreditava. Entretanto, apenas usou de seu humor mais uma vez. “Usarei meus poderes de freira.” respondeu, enquanto usava a mão dele de apoio e segurava sua saia com a outra para poder subir a carruagem. Ajeitou a capa pesada em seus ombros após sentar-se, sabia que não sentiria frio, mas a sensação ainda conservada pelos seus instintos humanos era que congelaria se não se cuidasse. Mesmo sentada, sua postura era tão ereta quanto quando encarou o vampiro nos olhos, a mesma teimosia que nunca relaxava. Após a carruagem começar a andar, a neófita desviou seu olhar para a janela. Sabia que não veria muito mais ali do que a estrada de pedra e a quantidade abundante de árvores, talvez estivesse evitando olhar diretamente para Lucius. Sabia que ele estava a observando, podia sentir seu olhar sobre si, já esperando ele dizer algo. Alice vira a cabeça para ele brevemente, antes de voltar-se de novo para a pequena janela, observando o lado de fora como se conseguisse enxergar algo além do infinito de tons de verdes da floresta. "Você se lembra de quando era humano?” deu uma pequena pausa e então ergueu um do canto de seus lábios em um sorriso mínimo, como se estivesse lembrando de algo. “Mais especificamente de quando era criança e seu prato favorito é posto na sua frente.” Ajeitou-se em seu assento, se virando completamente para ele com um olhar pensativo, escolhendo suas palavras para que pudesse contar a história. “No começo você está feliz e animado, aproveitando cada mordida da sua comida, então começa se sentir cheio. Você sabe que para seu corpo você já comeu o suficiente, mas mesmo assim não quer parar.” Fez mais uma pausa, voltando a olhar para fora, ela quase conseguia visualizar a sensação que explicava. “Você sabe que deveria parar, pois depois pode se sentir doente, ter uma dor de estômago. Ainda sim, é seu prato preferido e o gosto é tão bom…”  a Toreadora chega revirar os olhos com uma satisfação imaginária “que você sente que poderia comer aquilo para sempre e ainda sim não seria o suficiente, por isso você não consegue descansar até que tenha comido o último grão de seu prato.” Quando acaba de falar, já está virada para ele novamente. Ainda pensativa, agora observando-o, prestando atenção em suas reações. “Eu me sinto assim, mas de uma forma muito mais intensa.” Alice pode sentir a sensação de estar com a garganta seca novamente apenas com aqueles pensamentos. “Eu sinto satisfação, prazer, uma alegria puramente física.” Havia veemência na pronúncia de suas  palavras. Um vigor quase carinhoso. Deixando claro que ela gostava do que estava descrevendo.  “E meu corpo fica implorando por mais, mais e mais até que eu atinja a última gota.” Então, Alice franze levemente as sobrancelhas, como se tivesse acabado de descobrir algo “Acho que eu não penso tanto quanto eu sinto, tem momentos que penso que deveria parar e tem momentos que penso que não quero parar.” Era conflitante, a razão e a emoção, os dois gritando ao mesmo tempo, e um deles ela possuía de sobra. “Eu sempre sinto demais.” A frase saiu em um sussurro, solta pelo ar, um pensamento alto enquanto encarava as árvores como se novamente visse algo além. E naquele momento ela realmente via.
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                       Quando finalmente saiu de seu transe. Alice balança a cabeça, havia falado demais. Aquilo era algo que Lucius estava prestes a descobrir. Alice era faladeira, talvez até mais que Prudence. A pergunta certa poderia tirar histórias completas dela. “Você ainda não disse para onde estamos indo.” Comentou, sentindo uma urgência de trocar de assunto antes que voltasse a falar mais do que deveria. 
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alicz · 3 years
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tremerae​:
A fonte foi deixada para trás. Um mundo novo e banhado pela lua se abria para eles numa pintura à óleo azul, verde e vinho. A noite parecia mais clara, como se quaisquer nuvens que cobriam as estrelas tivessem ousado deixá-las espiar um pouco das duas criaturas noturnas e imortais. O Lorde arqueou uma sobrancelha para Alice, a dualidade de seu tom soprando por ele como o chilrear das árvores. Garota esperta.                                  “Uma ou duas gotas do sangue da fonte não a entorpeceriam, se é o que teme. Sente-se embriagada, milady?” A casualidade nas palavras traçava um limiar satírico entre provocação e condescendência. Então: “Se tal coisa fosse minha intenção, eu não a avisaria do encantamento. Teria lhe deixado beber livremente afirmando que ela serve como refeição.”                                 Em algum lugar entre galhos e pétalas e arbustos do jardim, um rouxinol cantava baixinho, o gorjear disperso entre notas agudas e o soprar das folhas da ramagem do arvoredo. Lucius deixou que aquele silêncio absorvesse a sinceridade de suas palavras e a meia-verdade delas. Uma coisa que Alice logo aprenderia: não havia nada que perguntasse ao Lorde e lhe seria negada uma resposta. Bastava saber fazer as perguntas corretas.                                  No caminho de volta, era mais fácil discernir o contraste da extensão tão viva do terreno verde com a sobriedade soturna do castelo: duas torres se erguiam de cada lado das escadas que os levava para dentro, mais de seis metros separando as duas gárgulas de pedra que escancaravam suas bocas para ele e Alice — para o labirinto de arbóreos e sebes de onde voltavam, as duas bestas acima das torres interligadas à construção da fortaleza tão sublimes em sua magnificência sombria quanto a pedra na qual foram esculpidas. Olhe para elas por tempo suficiente e começará a duvidar se estão vivas ou não. “O que eu queria, e ainda quero”, continuou, “é saber quais são os limites do seu autocontrole. E se seria prudente levá-la para caçar hoje. A escolha do quanto deve beber ainda é sua — tal como as consequências. Dentro e fora da Camarilla. Estou aqui para lembrá-la disso, já que Julian falhou em fazê-lo.” Mais que um aviso, aquilo era um lembrete. Do porquê e para quê estava ali — no castelo dele, dentro de uma fortaleza de um clã oposto, e ao seu lado, caminhando tão despreocupadamente pelo jardim. Lucius olha para o Livro de Agnostos, seu olhar escalando do volume até o semblante de Alice, das madeixas que cobriam parcialmente a bochecha pálida até as sobrancelhas franzidas num sinal tão sutil de frustração. Oh, então ela estava aborrecida? Que gracinha. “Apenas intensifiquei o feitiço que há nele com seu sangue — e o da fonte. Nada mais, nada menos. O livro a servirá como um grimório. Se curvará ao seu sangue, responderá a ele. Te revelará aquilo que sabe e não sabe. Quer respostas? Leia-o. Aprenda. Se permita.”                                  Eles se aproximavam das escadas quando o Lorde avançou dois passos e parou na frente de Alice, barrando seu caminho ao se virar tão rapidamente que não fosse pela destreza imortal a vampira teria esbarrado contra seu corpo. Ele só então diz: 
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                                “Seus segredos ainda são seus, Alice.” Frisou aquilo com a mesma seriedade quiescente; em seus olhos uma exigência e ordem silenciosa para que ela o encarasse diretamente. O livro nas mãos dela, a escolha implícita do Tremere ao deixá-lo ali, era um lembrete do que dizia, também. “Mas honestidade é uma via de mão dupla. Não se exige aquilo que não está disposta a dar de volta.” Reprovação, cautela, interesse — Lucius era todos eles ali.                                  O vislumbre de uma sombra se movimentou rápida como um flash de penumbra atrás de uma das gárgulas. A expressão do Lorde mudou. Ele pressionou os lábios, e então, gesticulou, com o mesmo movimento fluído de minutos atrás, para as imensas portas duplas acima das escadas. “Prudence a encontrará nos seus aposentos para ajudá-la a vestir-se.” Ele abriu o espaço para que ela avançasse. Uma brisa fria voltou a soprar sobre eles, o rouxinol ainda cantarolava ao fundo, quase um ode às estrelas e à noite fria. “Use o que quiser contanto que pareça quente. A carruagem ficará pronta em meia hora. Encontro-a no saguão de entrada.”
                      “Não estou temendo, milord.” Não estava com medo, ou receosa. Sabia que havia tomado da fonte exatamente a quantidade que ele queria. Quis soltar uma risada sarcástica com a resposta dele, porém obrigou-se a se abster, usando o mesmo tom levemente atrevido: “Omitir o encantamento, me deixando beber livremente da fonte e avisar sobre o encantamento, mas me induzir a beber não são ações muito distantes.” A diferença era mínima. Uma pequena sinceridade a mais. A intenção era a mesma. Intenção essa que deixou Alice mais atenta aos passos do Lorde. “Não me interprete mal, não estou brava.” Entretida talvez fosse o adjetivo certo. Novamente, era bom ter alguém para jogar com ela. 
                      O jardim do castelo era imensamente diferente do convento até nos sons. Nas noites do orfanato tudo que se podia ouvir eram grilos, milhares deles que se escondiam pelo campo. Às vezes alguma coruja distante e corvos que acordavam-a assustada no meio da noite. Malditos pássaros barulhentos que adoravam o cemitério. Ali no jardim, tudo parecia música. Melodicamente encaixado. Desde o vento que soprava entre as árvores e arbustos, em assobios agudos que mexiam as folhas que pareciam emitir burburios pela noite. O vento também trazia o aroma doce e agradável das rosas. Seu cheiro favorito. Não havia explorado o castelo inteiro, mas ousava julgar que aquele talvez fosse o seu lugar preferido. Olhando de longe, nunca julgaria que a fortaleza escondia um lugar tão belo e mágico como aquele. Alice sempre gostara da natureza, principalmente nas horas noturnas, a calada da noite trazia infinitas opções para ela. Ah, e tinha sua querida lua, que ainda sussurrava com ela e aquecia sua pele gélida por conta da imortalidade, como se de alguma forma pudesse absorver seus raios. 
                      “A falha não foi de Julian.” Seu tom saiu seco e direto. Não deixaria Julian levar a má fama por suas atitudes. Sua própria falta de autocontrole. Alice levanta um pouco a cabeça para encarar as gárgulas que eram surpreendentemente mais sombrias do que as da igreja onde cresceu. Para demonstrar que o demônio não dorme, está sempre nos observando. Ela duvidava que estivessem ali pelo mesmo motivo. Parece pensativa por um momento, deixando que o silêncio pairasse entre eles antes de continuar “É difícil escolher algo que não sabe fazer.” seu rosto se vira para o Lorde “Eu não sei parar.” Nunca soube. Acreditava que sua insaciabilidade vinha por acreditar que a vida era extremamente curta, como se nunca fosse ter o suficiente de tudo que amava antes de partir. Agora que era imortal, precisava se lembrar que aquela não era mais a situação. Porém, ainda era um pensamento estranho, que viveria para sempre, quase como se fosse um delírio próprio ao invés da sua nova realidade. O sangue parecia ser um vício diferente. O controle parecia estar lá, conseguia ficar perto de uma presa, resistir o cheiro como na fonte, mas quando seus dentes eram cravados em algo, parar não parecia uma opção. Sabia também que neófitos possuíam um apetite aumentado, de modo que sempre ganhava a batalha contra o autocontrole. Tudo que ela precisava era de tempo e paciência, apesar de possuir apenas um dos dois. Nada mais, nada menos. Alice teve que mais uma vez engolir sua resposta malcriada, chegando até morder sua língua para não respondê-lo à altura que queria. Desvia o olhar para o livro, então de volta para ele. “Eu irei.”  Foi o que se limitou a responder, se abrisse a boca mais uma vez não sabia se controlaria as palavras que queriam sair dali. Duvidava que aquilo fosse exatamente um presente.
                      Parou de andar quando Lucius se depôs em sua frente. Levantando levemente a cabeça para que pudesse encará-lo nos olhos. Sua postura perfeitamente reta, um tanto teimosa. A vampira abre um pequeno sorriso com as palavras dele, como se visse alguma graça ali. “Não estou preocupada com meus segredos, Lucius.” balança despreocupadamente a cabeça, seu tom tão sereno quanto a noite “eu cresci para ser uma freira, tenho certeza que meus segredos lhe entediariam.” Havia certa ingenuidade no olhar verde de Alice. Inocência. Como se dissesse: como que uma garota como eu pode esconder algo? Estalou a língua em resposta às palavras dele, quase se sentindo ofendida pelo julgamento. “Esse é seu jeito de dizer que quer saber meus segredos?” A Toreadora pende a cabeça para o lado, analisando-o. Até erguer os cantos dos lábios avermelhados em um sorriso mínimo carregado de sugestividade. “Sou um livro aberto.” Não tenho nada a esconder. Era isso que ela queria dizer. Lucius poderia perguntar a ela o que quisesse, mas se responderia a verdade era outra história. 
                      A mudança de expressão do Lorde fez com que Alice franzisse as sobrancelhas em desentendimento, chegando até dar uma breve olhada em volta. Então, ligou um pensamento no outro. Talvez a mestre-espiã estivesse espionando. Não se preocupou com aquilo, começando a subir as escadas, até que a fala do Tremere a fizesse parar e virar com certa desaprovação. “Use o que quiser não é um código de vestimenta muito específico. Preciso estar bonita para esse lugar na cidade onde está me levando?” Não queria gastar um vestido bom à toa, muito menos estar mal vestida.
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                      Prudence era uma garota jovem, talvez tão jovem quanto Alice era antes de ser transformada. Tinha as bochechas rosadas e cabelos escuros como o céu noturno. Era faladeira, o que Alice gostava, ficaria incomodada se tivesse uma criada muda a tímida. Assim podiam discutir sobre vestidos e penteados, vezes ou outra fazendo fofocas sobre o castelo. Seus aposentos eram esplêndidos, algo que ela nunca imaginou que teria na vida. A cama enorme coberta por lençóis e travesseiros macios quase a faziam se sentir desapontada por não dormir. 
                      Use o que quiser. Mal o lorde sabia que teria poupado tempo se tivesse sido mais específico. Por fim, decidiu trocar seu vestido azul por um verde-broto em cetim brilhoso, o corpete bordado com arabescos florais em um tom de verde mais claro. Apesar do decote generoso que ressaltava seu colo e os seios erguidos pelo espartilho, o vestido possuía mangas compridas, também trabalhadas em bordados delicados, que contrastavam com a saia lisa. Escolheu brincos para compor o vestido ao invés dos seus típicos colares. No seu pescoço ia o laço preto da capa que repousava em seus ombros e seguia até o chão, também possuía um bordado, mais discreto e delicado que o vestido, quase imperceptível quando visto de longe. Alice era vaidosa, nem desse pecado ela havia conseguido escapar. Por isso tomou tempo para se arrumar, escolhendo até seu perfume com cuidado. O aroma do jardim parecia ter impregnado em sua pele, então apenas escolheu algo que acentuasse aquilo, cheirando a rosas, com um fundo de madeira queimada, nem tão doce, nem tão forte. 
                      Um pouco mais de meia hora depois que havia deixado o Lorde, Alice estava descendo as escadas para o saguão de entrada, sua capa se arrastando pelos degraus. “Espero que não fique aborrecido com meu pequeno atraso.” Se aproximou de Lucius “Foi difícil escolher um vestido com ‘use o que quiser’.”
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alicz · 3 years
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alice's moon powers                        "the moon does not fight. it attacks no one. it does not worry. it does not try to crush others. it keeps to its course, but by its very nature, it gently influences. what other body could pull an entire ocean from shore to shore? the moon is faithful to its nature and its power is never diminished."
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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Havia uma linha que o Lorde Tremere não estava disposto a ultrapassar ali. Do contrário, teria lhe rebatido de volta um questionamento que apenas sopraria por sua imaginação: e em quais momentos a conviriam? Ainda assim, aquela era uma Alice que o aprazia. O atrevimento, a curiosidade, a quebra — nem que fosse tão sutil — daquele recato e compostura esperados de uma moça de fé criada pela igreja. O senso de humor de Julian sempre fora uma das coisas que mais o agradavam no vampiro; encontrava nele uma espécie de afinidade sombria dissimulada entre as ironias e entrelinhas de suas escolhas no caminhar da não-vida. Às vezes, era difícil de enxergar, mas olhando para Abernathy ele conseguia desvendar os porquês.
                                                                               Dei sub numine viget, realmente.
                               “Então o reservarei para as lições práticas.” E ali, ele revelava de prontidão que até o momento nada do que faziam era de fato considerado como uma aula. O encantamento era um capricho, de todo modo, tal como o fontanário em seu repouso atual. Toreadores nutriam certo apreço especial por aquilo — por caprichos, pela excentricidade, e Lucius não podia se enganar ao pensar que treinar um seria o equivalente de treinar um neófito Tremere. Alice podia ter sangue de magi nas veias, mas sua natureza permanecia a mesma. Sua alma ainda pertencia ao Clã das Rosas.                                 E para todos os efeitos, não havia representação mais pura de uma Toreadora neófita e artista que aquela: pintar com sangue. “Se assim desejar, é claro.” Aí estava algo que ele gostaria de contemplar em algum momento. “Posso pedir para que tragam-na telas e pincéis até seus aposentos. Agora que já a apresentei ao lugar não há nada que a impeça de vir até aqui quando bem quiser.”
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                                A escolha de palavras de Alice não passou despercebida para o vampiro, e arrancou-lhe um riso baixinho, quase silente ao lado do gorgolejar da fonte. Vicioso. Ora essa. Não seria um adjetivo frequentemente usado dentro da Casa Tremere — ao menos, não na conotação hedonista a qual imaginava que Alice havia empregado. Mas talvez fosse o mais perto que poderia chegar de descrever aquela que havia dado vida à fonte. Lucius limitou-se a soltar, então: “Já provou do pescoço de um humano embriagado?” Ele se voltou para a fonte, como se no reflexo daquele fluir constante enxergasse sua caça. “Nós, por regra, não sofremos sob o efeito de nenhuma droga ou estimulante se o ingerimos sozinho. Mas curiosamente, se consumimos o sangue de um humano uma vez intoxicado e à mercê da própria embriaguez, os efeitos são tão semelhantes quanto.” Tal como os colaterais. “E não se engane, o mesmo acontece com venenos e alucinógenos hostis.”                                 Lucius apanhou o livro, então caminhou até uma coluna em ruínas remanescentes do exterior do mausoléu, curtos degraus de alabastro escondidos sob o cuidado de timo-silvestres subindo para um palanque já inexistente. O vampiro puxou uma das rosas brancas enroscadas no pilar ao escombros, abriu o tomo e continuou: “Um imortal atordoado é mais suscetível a rituais e encantamentos que abordam a quebra e manipulação de realidade — seja como alvo ou como o encantador.” Por isso era tão fácil manipular súditos e anarquistas Brujah viciados. Não existia fraqueza ou despautério que os Tremere não usassem para subjugar ao seu favor. Lucius apertou com delicadeza o botão da rosa acima das páginas abertas e, de repente, quando abriu a mão, uma a uma pétala foi caindo vermelha até elas — como se mergulhadas numa tinta de sangue invisível. “Minha mestre-espiã a quem me referi anteriormente, Kestrel, e a qual imagino que você logo terá a chance de conhecer em algum momento da estadia, se especializa nessa linha de magia. Manipulação de realidade. A fonte é de inteiro mérito dela.” Há certo orgulho nas palavras de Lucius até. A última pétala pousa sobre o livro. O vampiro arranca o carpelo da rosa como se arrancasse seu coração, esfarelando-o em grãos sob seus dedos até que, enfim, ele fecha o livro. “Então quando encontrá-la, lembre de questionar as mesmas coisas. Garanto que quaisquer respostas dificilmente irão entediá-la.”                                 Lentamente, ele caminha até Alice e a entrega o volume de volta. Quando fala de novo, não há mais aquele humor cortês e a graça polida — apenas a sobriedade de um Caminhante Noturno, o espectro de um predador. "Faça bom uso dele, Abernathy. E não se esqueça jamais de que o que lhe foi concedido é um dom — e não há tragédia e sacrilégio maior que desperdiçá-lo.”                                 O Lorde a fita demoradamente, absorvendo e bebendo de cada fragmento de reação e pormenor, e então, faz um gesto amplo e fluído sinalizando para a saída, a barba-de-velho sob o arco oscilando na brisa da noite. “Para a cidade então.”                                 E avançou com ela de volta para o jardim.
                      A vampira quase revirou os olhos ao ouvir a palavra ‘lições’, estava cansada de sentar e aprender. Sabia que não seria a mesma amofinação que estudar no convento, mesmo assim só a ideia já a deixava enfastiada. Porém, se Lucius fosse ensiná-la truques como o funcionamento daquela fonte, talvez as aulas não fossem tão ruins quanto ela imaginava. Era clara a mudança na expressão no rosto de Alice quando ele ofereceu o material de pintura. Uma animação visível no olhar esverdeado, como se tivesse acabado de ganhar um presente. “Oh, sim, eu adoraria.” Voltou-se para o sangue, ansiosa para colocar as mãos em uma tela em branco. Também estava contente que podia passear no jardim mais a dentro. “Obrigada.” Virou-se para ele novamente, o agradecimento quase em tom de alívio. 
                      De início, a neófita não entendeu o riso dele. Ela entendia sobre algumas plantas e substâncias medicinais, afinal algumas freiras também eram enfermeiras. Costumavam receber alguns enfermos na área médica do convento, as garotas acabavam virando ajudantes em uma espécie de treinamento. O aviso sobre o ópio vinha logo cedo. Fiquem longe da dormideira. Alice ainda podia escutar a voz estridente da Irmã Mary no fundo de sua mente, era o que ela gritava toda vez que as crianças iam brincar pelo campo. É uma planta que sempre a deixara intrigada, a flor cor de rosa tão bonita, mas que produzia um líquido tão potente. Sua curiosidade era genuína. Apenas balançou a cabeça, respondendo negativamente o questionamento dele, então Alice se vira igual ao Lorde, como se também quisesse enxergar o que ele via ali. As finas e delicadas sobrancelhas da jovem foram se franzindo conforme a explicação decorria. Bom, estava ali algo que Julian devia ter mencionado. Poderia julgar uma pessoa embriagada como uma presa mais fácil, era bom ter acesso àquela informação antes que cometesse tal façanha. Também pensou que quando sentisse falta da sensação de estar alterada por vinho poderia apenas cravar as presas em alguém que estivesse sob os efeitos da mesma bebida. Ainda sim, não respondia sua pergunta, o porquê. Por que vampiros precisariam estar sob efeito de ópio a ponto de encantarem a fonte? Ou talvez, para quê? Então, como se pudesse ler a sua mente, Lucius continuou a explicação. Aos poucos, algumas peças começam a se encaixar na cabeça de Alice. Ela olha para ele, então para a fonte. Ele queria que ela tomasse dali. Na verdade, ele sabia que ela provaria da fonte. Havia sido um teste e a Toreadora agiu exatamente do modo que Lucius puxava suas cordas. Que isso sirva de lição. Lucius não era seu mestre e seus passos não eram por acaso. Volta-se para ele mais uma vez e no momento que a primeira pétala de rosa torna-se vermelha, Alice sente uma sensação estranha, algo que nunca havia sentido antes. Não pode deixar de associar com a magia que ele estava usando. “Estou vendo.” Foi tudo o que disse de início, olhando para o próprio corpo por um momento, como se o gesto fosse dar alguma resposta do que o vampiro estava fazendo com ela. “Soa como se o senhor quisesse me embriagar, mas não me agradaria ter tais pensamentos sobre sua pessoa.” Seu tom não era agressivo. Quiçá um pouco atrevido. Porém principalmente calmo, como se aquilo não passasse de um pensamento solto pelo ar. Podia interpretar como quisesse, ela não se importava. “Irei questionar.” Talvez Kestrel desse mais respostas a ela do que Lucius dava. 
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                      Alice pega o livro de volta com o canto direito de seus lábios erguido em um sorriso um tanto irônico. Estava levemente irritada. Se sentia dando voltas no escuro e que o Lorde sabia muito mais do que estava compartilhando. E a mudança do tom dele não passou despercebida “Você é sempre tão enigmático assim ou apenas aprecia minhas perguntas?” Usou de seu humor para mascarar a resposta malcriada que coçava na ponta de sua língua. “Pode me explicar sobre o livro? Ou no mínimo o que fez com ele… e comigo.” Sabia que ele havia usado alguma das disciplinas de seu clã nela, apesar de não esperar que ele entregasse tão facilmente. 
                      A vampira abraça o livro como antes e começa caminhar jardim adentro. Lucius podia falar enquanto caminhavam, assim ela poderia parecer irritada enquanto olhava para as flores e não diretamente para ele. 
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alicz · 3 years
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tremerae​:
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Os olhos ônix afinaram e algo ali escureceu numa sombra de interesse e entretenimento, aquela curva de sorriso esmorecendo para um repuxar viperino e dissoluto ao questionar de volta: “Você é uma presa, Abernathy?” Ele está jogando. Diante de seu tom, é difícil reconhecer se aquilo soa como um convite ou um aviso, ainda que o humor paire entre as sílabas como provocação — uma oculta e passageira, mas ainda ali.                                 A imagem evocada pela fala de Alice porém de fato lhe soava terrivelmente tentadora. O Tremere fazia uso de seus poderes com razoável frequência diária, e portanto, o imponente corpo imortal exigia uma alimentação estreita dentre os dias da semana. Cravar suas presas naquele pescoço fino — bem na jugular acima da curvatura exposta de seu ombro — e sugar dali a essência da vampira, prová-la, e descobrir quais mistérios seu vitae escondia o agradaria e abririam seu apetite de uma forma que o sangue narcótico da fonte jamais o teria feito. O Lorde ergueu o queixo e assentiu, uma aprovação silenciosa quando ela repousou ao seu lado e atreveu-se a usar a magia novamente. Alice cheirava a cinzas, orvalho e rosas. Questionava se o sabor de seu sangue era tão doce quanto.                                  “Um ritual de difusão e conservação”, respondeu, o olhar em descanso sobre a neófita, sobre sua mãozinha e o sangue que ela manipulava. Ah, ela seria capaz de muito mais que apenas aquilo se sua linhagem estivesse de alguma forma ligada a Goratrix. “Vê os símbolos cravados em sua base?” Ele gesticulou brevemente para as curvas de duas extremidades da pedra larga. Letras num alfabeto desconhecido e de aspecto semelhante a arabescos desciam até desaparecer na grama escura. Sob o brilho tênue da lua, a gravação mais próxima de onde Alice se inclinara transcrevia letras reconhecíveis como ius augurii. “Elas se interligam com o filtro e a bomba de recirculação. A cada duas semanas é reabastecido com sangue novo. O fluído se multiplica e dilui entre um encantamento de conjuração.” Dispensável explicar que magia também o preservava para que não coagulasse. Em cerimônias ritualísticas, a fonte era usada como recipiente catalisador para a coleta de sangue de Membros do Sabá e para alimentar as aves de Kestrel. Mas aquela, mais que claro, não era o tipo de informação que interessava e que tampouco ele ofereceria a uma Toreadora de mão beijada. “Posso ensiná-la o encantamento futuramente caso tenha interesse.”                                 E então ela fez o que ele já esperava. Lucius quase podia sentir a luta interna e os resquícios de sua tensão de momentos atrás como se fosse palpável. O modo como os olhos dela brilhavam fugazes toda vez que contemplava a fonte, a mão que apertava tão firmemente o Livro de Agnostos contra os seis como se ele fosse protegê-la dos próprios instintos, e algo que talvez ela mesma não percebesse: como reproduzia o hábito ainda tão humano de engolir saliva para uma garganta seca. Neófitos conservavam mais características do que um dia já foram que qualquer outro vampiro. Era aquela fração que fez os instintos do Lorde se agitarem diante das presas de Alice, dela traçando todo o caminho daquele sangue com a língua como um felino faminto. E também foi a mesma fração que fez a sombra de um sorriso repuxar sua boca mais uma vez, a tão igual satisfação traiçoeira de quando contemplava algo que aprovava e o agradava. “Opioides”, disse-lhe simplesmente. “Ou talvez um láudano extravagantemente forte.” Uma pausa, curta e reflexiva, para então puxar o relógio do bolso, os ponteiros num tic-tac baixinho conforme calculava — ponderava. “Pois bem.” Ele fecha o relógio, olha para o livro, para Alice. “O que me diz sobre caçar esta noite? Será uma refeição bem merecida.” 
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Era um elogio, um tanto chulo demais para seu gosto, mas guardaria quaisquer observações para depois. O que no momento importava é que ela cumprira um papel importante com o livro mãos. Por ora, era suficiente. “Ainda é cedo. Há um lugar na cidade que talvez a agrade. Mas antes…” fita o tomo e estende a mão, palma para cima na espera que ela o entregue. “Se importaria?”
                        O sorriso divertido expresso nos lábios da Toreadora apenas aumentou com o questionamento, também ganhando um quê de sugestividade. Alice pisca os olhos verdes vagarosamente, deixando a pergunta pairar pelo ar por um momento, antes de respondê-lo: “Apenas quando me convém, Volhard.” Era bom ter alguém para jogar com ela. Por isso gostou do modo que ele rebateu, independente se fosse um convite ou um aviso, ainda pode sentir o humor ali. Não havia sido mordida por um vampiro após sua transformação, o que a fez se perguntar qual seria a sensação. Talvez houvesse uma sensação de êxtase com o ato, prazeroso para ambos os lados. Ficou curiosa com sua própria indagação, de repente a ideia de ter Lucius com as presas fincadas em seu pescoço parecia inadequadamente tentadora. 
                        Os olhos da vampira brilharam em fascinação conforme entendia o mecanismo da fonte. Observando os símbolos estampados na pedra, juntamente com o dialeto desconhecido, até reconhecer as palavras em latim claro. “Fantástico.” Quase estalou a língua ao dizer o elogio. Estava realmente maravilhada, e algo dentro dela dizia que ainda existia muito mais escondido pelo castelo. “Soa como algo que eu gostaria de saber realizar.” Foi seu modo de expressar que estava interessada. Talvez, com o tempo, o Lorde percebesse que nunca era bom ensinar truques demais a neófita. Entretanto, ela aproveitaria para aprender o que podia enquanto ele não descobria esse fato. Ali, enquanto observa o sangue flutuando sobre sua palma e uma porção muito maior dele sendo jorrado pela fonte, Alice pensa em suas pinturas. Ainda que não se importasse, parecia um desperdício de sangue humano usá-lo para que secasse em uma tela mesmo que em forma de arte. E estava cansada de sacrificar animais, não sentia muito prazer com o ato. “Posso usá-lo para pintar?” Seu lado artístico falou mais alto, quando percebeu já havia realizado a pergunta, olhando Lucius como uma criança que pedia permissão para ir brincar. O que não estava muito longe para Alice, arte também era sua diversão. 
                        Pôde sentir o olhar intenso do vampiro sobre ela enquanto provava o sangue da fonte, e assim que desviou os olhos para ele, conseguiu notar a aprovação em seu sorriso efêmero. O que fez com que novamente um pequeno repuxar sorridente surgisse na face delicada de Alice. Franziu as sobrancelhas, não em confusão, mas em curiosidade com a resposta dele. “Por que encantar a fonte com algo tão vicioso?” Parecia uma travessura, algo que com certeza Alice faria, movida por pura diversão e necessidade de caos. Mesmo que não fosse sua intenção, sabia que não havia modo de negar a sugestão do Lorde. Suas presas que ainda não haviam voltado a se esconder, reclamando para serem usadas, não a deixariam mentir. “Bom, posso dizer que estou com o apetite." A vampira usa de novo o dedo indicador, mas dessa vez para capturar mais um pouco do líquido da fonte, levando aos lábios para chupá-lo. 
                        "Nós vamos a cidade?” Seu tom ganhou um tanto de animação. Havia ido apenas uma vez até a cidade, quando implorou para uma feira permitir que ela a acompanhasse uma das idas onde realizavam compras para o convento. Desviou o olhar para o livro que foi solicitado. Quase havia esquecido da história de seu sangue magus e como ele havia feito as letras do livro aparecerem. O pouco que havia conseguido ler dele na biblioteca a deixara confusa, o texto parecia ser sobre ela, o que não fazia sentido. Não podia negar o pedido dele, então por fim apenas soltou o livro com que estava abraçada desde que saíra da biblioteca, entregando o objeto pesado a ele.
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alicz · 3 years
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Lucius se pegou imaginando uma Alice inquieta caminhando pelo jardim à noite. O vestido longo deslizando pela grama, o sereno beijando a pele tão pálida como uma pérola ao luar, o contraste da aparência imaculada entre as roseiras que se enroscavam nos labirintos de cerca-viva e trepadeiras. Uma ninfa de Waterhouse — não a ménade sombria que ele esperava encontrar sob a superfície imortal. Aquela seria a moradia dela por um período de tempo razoável, e portanto era livre para caminhar por onde (e quando) quisesse no alcance de seus aposentos e além — desde que não ultrapassasse o limite das câmaras particulares. O Tremere encontrou certo agrado e prazer, no entanto, ao reconhecer que ela não tinha explorado o labirinto natural em sua plenitude, pois a imagem da Alice que lhe era apresentada agora seria preferível a qualquer outra.                                 Autocontrole.                                 E lá estava uma das questões e revés das quais Julian havia lhe informado e discorrido sobre. Sua falta uma falha fatal dentro da Camarilla — mas felizmente pouco incomum para recém transformados. Alice, ademais, tinha uma vantagem que poucos neófitos teriam; uma que brincava com sua habilidade díspar do próprio clã: o controle de vitae. Ela logo perceberia isso.                                 “Não há o que temer aqui, Alice”, Lucius disse, a voz soando firme e tranquila no silêncio do jardim. E de fato, não havia. O vampiro inclinou suavemente a cabeça para o lado, as íris fixas no semblante dela como se a avaliasse. Mais uma vez, a auscultasse. Controlar a Besta, ocasionalmente, ainda era um desafio até mesmo para o mais experiente dos vampiros. Não havia vergonha ou demérito algum nisso. “Mas talvez, caso decida provar da fonte, já devo avisá-la de que ela não é um substituto ou tampouco reserva de vitae — apesar do nome.” Uma curva mais ampla em sua boca se alargou num sorriso e o Lorde riu, nada mais que um som grave e breve. “Nós costumamos usá-la para treinos ou rituais, embora tenha começado como um capricho e cortesia de minha mestre-espiã. E geralmente…” Os olhos se voltaram para o fluído escarlate. Lucius puxou uma das luvas para mais uma vez deixar a mão desnuda. Ele mergulhou dois dedos na fonte, então os levou de volta até os lábios e chupou o líquido, o sabor narcótico do sangue ameaçando as presas a crescerem dentro da boca. Ópio. “Ela funciona como um vinho para imortais”, continuou. Ele falava com a mesma serenidade da noite — as palavras fluíam com o único intuito de acalmar, tranquilizar. “Mas hoje, como disse, foi encantada com algo além.” E só conseguia adivinhar o que Kestrel andara fazendo por ali. “E é claro que também não há fonte melhor que o pescoço de uma presa.“ Há certo humor dentre as sílabas quando o Lorde diz aquilo. Seus olhos deslizam involuntariamente do rosto de Alice para seu pescoço, então para ela de volta. Ele ainda espera. Considerando, observando o tempo inteiro. Era inerente ao Volhard: sempre perscrutando, aguardando pelo próximo movimento e ação como um amante das artes astronômicas observa um perigeu.
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“Isso me lembra: quando foi a última vez que se alimentou, milady?”
                        Desde o momento que havia sido Abraçada o controle por sangue havia sido um problema para Alice. Sabia que Lucius estava ciente disso, Julian não omitiria algo dessa dimensão. A jovem nasceu com uma alma insaciável, quando humana aquilo já era mais que óbvio, nunca se sentia satisfeita quando se tratava do que ela gostava. Seja arte, música, vinho, sexo. Sempre sentia desejo de mais. Quando foi transformada, o sangue entrou para essa lista. Tinha consciência que precisava aprender a se controlar, senão nunca seria liberada para seguir com sua vida imortal sem estar sob a supervisão de alguém. Senão conseguia enfrentar uma fonte, quem dirá o mundo a fora. 
                        Quando o Lorde começou a explicação, os olhos da vampira ainda estavam no líquido rubro, até ouvir sua risada, fazendo-a desviar o olhar para ele. Então, o observou com cuidado, acompanhando cada movimento dele. Desde tirar a luva, até tomar o pouco de sangue que havia pegado da fonte. A cena só aumentou a vontade de Alice. A ponto de fazê-la considerar se aproximar. Algo no tom do Lorde ali estava a chamando, como um encanto. A neófita começou a fazer o que fazia quando queria que algo funcionasse ao seu favor. Rezar. Para um Deus que ela não acreditava. Um silencioso Pai Nosso em sua mente. Uma oração egoísta, definitivamente não usada do modo que lhe foi ensinado. Um ato quase supersticioso, se havia a mantido viva até agora, por que não continuar usando? Arqueou uma das sobrancelhas ao ver a mudança do olhar de Lucius. “Sonhando com meu pescoço, milord?” Um pequeno sorriso divertido surgiu dos lábios femininos. Então finalmente decidiu se aproximar, em passos lentos, ainda receosa. Não queria simplesmente atacar a fonte. “Na noite em que cheguei aqui.” Prestes a completar uma semana, sabia que estava perto de ter que se alimentar de novo, talvez fosse por isso que o cheiro da fonte havia a desconcertado. Parou ao lado do Lorde, olhando-o brevemente antes de voltar a observar todo aquele líquido vermelho. Sua cabeça parecia estar mais no lugar, ainda podia sentir a lua conversando com ela, fazendo-a ter vontade de usar seus poderes. Mas Alice possuía um instinto de sobrevivência maior que sua magia, sabia se esconder. Soltou uma de suas mãos do livro, apoiando na beirada da fonte de pedra. “De onde vem esse sangue?” Imaginou que provavelmente fosse magia, quiçá por isso que não podia substituir o vitae. Voltou a olhá-lo, silenciosamente pedindo permissão para usar o líquido. Estendeu a mão a fonte, bem onde o sangue escorria de um andar a outro, como se lhe oferecesse algo. Focou seu poder ali, querendo manipular o sangue e somente ele. Alguns segundos depois uma pequena esfera carmesim se soltou dali - um pouco maior do que a gota da biblioteca, porém tão trêmula e instável quanto. Até um pouco mais por estar usando apenas uma mão. Observou como o líquido a obedecia igual ao sangue que havia saído do corte de mais cedo. Deixou a mão em pé, fazendo com que a esfera ficasse na ponta de seus dedos, enfim permitindo que ela tocasse seu dedo indicador, estourando-a, fazendo com que o líquido escorresse  em um caminho vermelho vivo até seu pulso. Ela aproximou até sua boca, entreabrindo os lábios para capturar o líquido com a ponta da língua. Subindo por sua palma, os lábios roçando contra sua pele até que chegasse na ponta de seu dedo. Onde ela chupou o resto do líquido, um som satisfatório incontrolavelmente sendo escapado de sua garganta. Não possuía o controle de Lucius, por isso suas presas cresceram mais rápido do que ela podia controlar, implorando para serem cravadas em algo. “Como vinho.” O pensamento saiu em um murmúrio, como se falasse consigo mesma. Estava intrigada. Teve que lutar contra vontade de pegar mais, repetindo como um mantra para si mesma que precisava se controlar. “Com o que a fonte está encantada?” Pode sentir o gosto diferente, mas não sabia dizer o que era.
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alicz · 3 years
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Uma coisa que se aprende após passar tempo demais com um Tremere: eles tendem a ser paranoicos. Lucius chamaria de pragmatismo, mas veja bem, há um motivo — mesmo após séculos — para um clã cujos membros já foram apelidados de usurpadores sobreviver por tanto tempo diante de uma coleção tão gloriosa de inimigos. A guerra há muito já traçada dentro da Camarilla cessou, e tudo o que hoje resta para a sociedade vampírica são joguetes diplomáticos e intrigas de poder, ocultos dentre objetivos coletivos para ascensões pessoais. Também há um motivo pelo qual Lucius um dia foi Abraçado por Vernon Volhard �� pelo qual lhe foi dado o sobrenome do Pontífice. Displicência e descuido não eram um deles. Se existe algo que o Lorde entende desde muito cedo é que mesmo o mais próximo dos conhecidos, se houver motivação o suficiente, é muito bem capaz de tramar para sua queda ou apunhalá-lo pelas costas. Traições vinham de várias formas; e quando se fala em Toreadores, um rosto bonito entraria com facilidade quase caricata numa delas. A possibilidade, mesmo que pouco provável quando se pesava e calculava as chances, ainda o divertia.                                  Uma das maiores qualidades de um alquimista: o improvável dificilmente os aborrecia — somente os alentava; provocava.                                O que quer que tenha encontrado no olhar de Alice após a revelação, entretanto, pareceu o suficiente para que ele lhe desse as costas. Por ora. O vampiro parou frente a uma estante, puxando dali um livro de capa grossa. Ele o folheou brevemente, então o fechou, um papel do tamanho de um marca-páginas pairando entre os dedos ao guardar o exemplar de volta. Dobrou-o e enfiou em um dos bolsos. “É o que também anseio por descobrir.” Lucius observou a neófita de volta, um interesse dúbio refletido dali, e gesticulou com o queixo para o tomo na mesinha conforme ela se erguia do sofá. “Por favor, traga-o também.”
                                Esperou que Alice tomasse seu lado para que avançassem para a saída da biblioteca. A noite caía sobre o castelo como um véu — um sereno frágil e soturno banhado pelo brilho de uma lua minguante tão fina quanto o sorriso de um bobo da corte. De dentro dos aposentos, raramente se viam janelas ladeando nem que fosse uma extremidade do cômodo, e as possíveis de se enxergar, ou foram entrincheiradas em pedra adamantino ou cobertas por uma cortina pesada. Alguns corredores da fortaleza eram diferentes. Vitrais se estendiam por metros e mais metros adiante, vívidos e portentosos em padrões coloridos que contavam a história da ascensão e queda de reis e impérios, de fadas e deuses. Refletiam a lua em padrões coloridos nos tapetes do chão de carvalho e pedra escura. Durante o dia, um feitiço que trabalhava como um filtro diluía a luz solar com a mesma naturalidade que a lua a refletia. Mérito puro e absoluto de Astarte, igual muitas das proteções que amparavam e preservavam aquele castelo.                                 “Não tive tempo de apresentá-la ao jardim”, Lucius declarou. Vez ou outra, fitava a neófita de soslaio conforme caminhavam. “A sacada de seus aposentos a concede uma vista formidável dele, caso já tenha se permitido olhar. Mas há algo que as cercas-vivas podem ter escondido de você.” E quando chegaram às altas portas duplas, ele as abriu num empurrar só, a sobrecasaca oscilando contra a brisa noturna. O jardim se abria para eles num labirinto verde de rosas vermelhas, glicínias e madressilvas. O vampiro desceu as escadas e a conduziu pela sinuosidade etérea daquela flora tão díspar do castelo. Eles cruzaram por um caminho que levava até uma ponte estreita, onde um córrego abaixo refletia e corria num brilho translúcido, então avançaram pelo interior do que se assemelhava a um mausoléu em ruínas. Lucius acompanhou a neófita até um arco de pedra coberto por uma cortina natural de barba-de-velho. Foi só quando atravessaram o arco que o Lorde enfim parou. O que se estendia adiante, sublime sob o luar, era como um espaço secreto no limite de um bosque, cercado por sebes e videiras e arbustos. As glicínias ali, ao invés de roxas, chilreavam vermelhas contra o vento. Mas o que mais chamava a atenção não eram as árvores e plantas, tampouco o espaço escondido tão adentro do jardim — e sim a fonte, larga como um verdadeiro chafariz, que jorrava e escorria numa dança contínua até sua base um líquido carmesim. Não água, não vinho, mas sangue. “A Fonte de Vitae.” Lucius caminhou até a pedra, a parte inferior alta até sua cintura, e franziu o cenho ao detectar uma fragrância que ia além do líquido vital. “Não recomendo tomá-la hoje. Está encantada com um teor que vai além do alcoólico.” Agora aquilo era cortesia de Kestrel. Se ela ainda estava ou não no castelo, era um mistério para Lucius. Escorregadia como deveria ser. “Mas imagino que irá agradá-la.” Ele gesticulou com uma mão para fonte, como um convite.
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“Não há limitações aqui, a não ser as que você cria. O que mais consegue me mostrar, Alice Abernathy?”
                        Alice assentiu, voltando a pegar o livro que antes havia deixado na mesa, abraçando o objeto pesado contra seu corpo enquanto caminhava ao lado do Lorde. A vampira gostava de como o castelo parecia muito mais iluminado de noite do que era de dia. Apesar do lugar todo ainda ser um enigma para ela. Nada ali era ordinário, tudo parecia esconder uma espécie de magia, como o livro que segurava, como os vitrais que ela já havia se pegado mais de uma vez se perguntando como funcionavam. Ela achava lindo o modo como as peças de vidro coloridas coloriam o chão escuro conforme a luz do luar refletia nelas. Entretanto, dessa vez não estava prestando atenção nos desenhos nos vitrais e o modo que iluminavam o ambiente. Estava focada observando discretamente e silenciosamente a expressão de Lucius. Tentando descobrir se estava encrencada. O par de olhos negros que pouco tempo antes havia julgado tão comunicativos agora pareciam indecifráveis. Ela se sentia encrencada.
                          “Eu me apresentei ao jardim, espero que não tenha problema.” Havia perambulado durante a noite pelo castelo mais de uma vez, não esperava que Lucius achasse que ela ficaria quieta em seus aposentos. “A vista formidável me coagiu.” Teve vontade de perguntar se eram apenas as cercas-vivas que escondiam algo ali, mas conteve a própria língua. Ela sabia a resposta, haviam mais segredos espalhados pelo castelo do que ela sequer poderia contar. Novamente, o local era completamente enigmático para ela. Ainda assim, ela se sentia melhor ali do que no local em que havia crescido. O jardim era colossal e, no mínimo, encantador. O local havia chamado inteiramente sua atenção quando viu pela primeira vez. Assim que pisaram para fora do castelo, Alice pode sentir os raios lunares contra sua pele, como se fossem raios de sol, em uma sensação excêntrica que ela não sabia descrever, contudo que já era familiar. Mesmo em sua fase minguante e tão fina no céu, podia ouvir a lua sussurrando em seu ouvido, alimentando a magia que corria por baixo de sua pele pálida e fria como porcelana. Já havia visitado o jardim, mas não havia explorado a dentro. Não queria parecer enxerida, ou que estivesse investigando algo. Só queria ver as flores e sentir o luar, então não havia ido muito longe da porta. Por isso, o caminho por onde Lucius a guiava era novo. A neófita prestou atenção em cada detalhe que conseguia, desde a ponte, o córrego, o mausoléu, ao arco coberto de barba-de-velho. Quando atravessaram o arco, o instinto de Alice foi olhar em volta, sua atenção sendo chamada pelas glicínias vermelhas. Até que a fragrância atingiu suas narinas, fazendo-a virar a cabeça quase que abruptamente. Sangue. Aos montes. Abundantemente sendo jorrado pela fonte. Percebeu o vampiro se aproximar da majestosa peça de pedra, mas ela se manteve perto do arco. Seu olhar verde intercalando entre o Lorde e o líquido carmesim. Mal conseguiu escutar o que ele dizia, já que seus instintos estavam gritando em seus ouvidos.
                        Alice o observou pelo que pareceu meio segundo antes de voltar a encarar a fonte. Apreensiva, incerta, um tanto desconfiada. O que ele queria dela? Sabia que era arriscado demais mostrar qualquer poder para ele agora. A lua fina e fraca deixava seus poderes confusos e desconcentrada pelo cheiro de sangue não sabia o que aconteceria. Poderia muito bem abrir os dedos e sem querer fazer com que a iluminação do local diminuísse, ou aumentasse. Podia fazer o orvalho que escorria pelas folhas flutuar no ar em milhares de gotículas. Ou podia fazer uma fração daquele sangue todo lhe obedecer. Eram todas opções que havia realizado sem a intenção mas quando estava concentrada. Não possuía ideia do que poderia realizar se estivesse desconcentrada. Aquele era o grande problema com seus poderes, não sabia do que era capaz, não sabia como controlá-los e muito menos quando e como eles iam se manifestar. “Não consigo.” Deu um passo para trás, apertando seus dedos no couro do livro que abraçava. Seus olhos cravados no sangue espesso escorrendo. “O cheiro é demais para mim.” Não era uma mentira. A vampira pode sentir o incômodo na garganta, como se estivesse seca, com sede. Como não, estava com sede. Sedenta.
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alicz · 3 years
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tremerae​:
Ele a observava, diligente e serenamente. Sob as sombras daquela sala da biblioteca, Lucius era uma penumbra por si só, a sobrecasaca negra caindo sob os ombros como uma capa contra o estofado de veludo. Há mais que curiosidade e a inteligência fria de um ancião imortal espreitando aquele par de ônix — mais que morte e magia e poder. Seu interesse por Alice, desde o que Julian revelara sobre ela, ia além do favor superficial que devia ao príncipe. Ele a enxergava como era e como podia ser — mais que isso, enxergava o potencial que espreitava aquela pele, pronta para ser lapidada como um diamante bruto. Fosse como o rubi de sangue que a entregara, ou a esmeraldina que refletia de seus olhos, duvidava que o resultado o desapontasse. “Não se aborreça com isso. Há poucas coisas tão encantadoras quanto a curiosidade de uma mente inquisitiva.”                                 O Lorde acompanha a aproximação da vampira movimento por movimento, fala por fala. Não há nada que deixe passar — o deslizar do vestido contra o tapete, a postura, o modo como uma ruguinha se formava entre as sobrancelhas e a boca rosada franzia quando algo a confundia ou a intrigava. Mesmo sobre o acolchoado, a diferença de altura dos dois é evidente. “Que bom, então, que a imortalidade se estende diante de você para que possa encontrar quaisquer respostas que deseje.” Ele diz aquilo sem inflexões, o tom não como o de um Lorde, mas de um professor. Procure com cuidado e encontrará uma nota de deleite em sua voz, como se algo por algum motivo além daquela resposta o tivesse agradado. Lucius esperou, os olhos deslizando de Alice para sua mão quando ela a ergueu e fez o pedido. Ele a fita pelo que parecem alguns segundos, boca se repuxando na sombra de um sorriso e nas íris um sinal vivo de aprovação, e estende a própria mão até a dela. A destra enluvada segura seu pulso com delicadeza firme enquanto a outra se ergue sobre a palma, dois dedos apontados traçando um caminho invisível de corte — sem tocá-la — como se mais uma vez segurasse uma lâmina que não estava ali. Lucius concentrou magia o suficiente nos tecidos da pele para que não fechassem tão rapidamente e a desse o tempo que precisava.                                    Era interessante contemplar aquilo pela primeira vez. Olhar para uma Toreadora, para uma cria de Julian — de Julian! — e vê-la praticando com tanta naturalidade, mesmo que amadora, algo que é inerente aos magus sem treino algum. “Admirável”, elogiou, a voz densa e baixa. Ele sentiu a magia fluindo pelo ar como se fosse palpável, e concentrou a própria ali, naquela gotícula de sangue, para senti-la junto de Alice. Auxiliá-la. O sangue oscilante estabilizou no ar, e sem mover os dedos dessa vez, fez o líquido defluir num círculo gravitante e pequeno. Agora girava como se ousasse se fechar numa esfera. “Talvez.” O Lorde estudava, contemplativo, observando, perscrutando-a como se fosse um de seus rituais. Apesar de sua réplica, via a habilidade mencionada mais como sinônimo de treino que habilidade em si. Mas ainda haviam dúvidas a serem sanadas. E com um último olhar para Alice, ele de repente moveu a mão e a gota de sangue deslizou vagarosa como um córrego flutuante até o livro em seu colo. A gota caiu na página. O vermelho se espalhou como tinta no fosco amarelado e, aos poucos, ele foi ganhando vida própria: primeiro, escorrendo num padrão de linha vertical que traçou todo seu caminho até o final para subir num ziguezague circular, arqueado e assimétrico; depois, o símbolo começou a se espalhar como letras, escrevendo e formando parágrafos de textos e marcas cujos padrões abstrusos agora eram mais que visíveis para a neófita. Lucius sorriu, um prazer satisfatório ao contemplar o tomo e as páginas que pareciam mais grossas e pesadas. “Isso aqui, porém, pode ajudá-la a descobrir.” O vampiro então se levantou, repousando o livro aberto sob a mesinha. Caminhou até a cornija da lareira, silencioso e com a graça da própria Morte, e apanhou algo dali de cima. Um relógio de bolso, imperioso e refletindo em ouro, deslizou suas correntinhas sobre as mãos de Lucius conforme ele calçava a luva de volta. “Livro de Agnostos”, enunciou, o olhar sobre Alice, para o livro na mesa. “Um nome pretensioso para o ritual que há nele e pelo qual foi feito. Mas sabe o que mais me intriga?” 
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Ele guarda o relógio no bolso do casaco. Dá alguns passos de volta até Alice, até o livro, então o apanha, fecha a capa e o estende para a vampira. “Ele não se manifesta, e jamais se manifestaria, para quem não carrega sangue dos magus nas veias.” Dos Tremere. O Lorde a fita demoradamente, o rosto límpido e glacial. O brilho sob os cílios escuros buscava e sondava cada ínfima reação dela. Que fosse esperta, e entendesse que aquilo era um teste, quiçá um aviso, para que soubesse de imediato: para conviver dentro da fortaleza, não se escondia esse tipo de segredo (ou até mesmo qualquer um) do Conde — tampouco dos Tremere. Com o clã, havia mais, sempre mais, que reputação a zelar dentro da Camarilla.                                    Ele a entrega o livro, e começa a caminhar para as estantes laterais, um acervo infinito de exemplares se estendendo pela sala. “Fique com ele. Estaria disposta para um passeio, Alice?”
                        Curiosidade. Alice parecia ter aquilo de sobra. Sempre muito atenta, observando tudo que a interessava, tentando cessar aquela coceira que sentia dentro dela quando ficava curiosa com algo. Julian chegou a falar uma vez que ela fazia perguntas demais. Lucius parecia não se importar com suas dúvidas, de um jeito implícito até as incentivava. Ainda sim ela tentava não abusar da boa vontade e paciência do Lorde, por mais que às vezes fosse difícil de controlar sua língua e sua mente hiperativa.
                         E lá estava de novo. O incentivo. Pode até sentir um certo agrado nas palavras dele, um tom diferente do que ela havia escutado na última semana. O vampiro parecia gostar de desvendar enigmas. Incógnitas, igual ela era. Entretanto, duvidava que aquela incógnita em específico ele conseguiria descobrir. Poderia dizer que nem a eternidade parecia ser tempo o suficiente para desvendá-la, porém imaginou que aquilo pudesse confundir o Lorde, deixá-lo curioso. Quando se tem segredos, não despertamos a curiosidade dos outros para si próprio. Aquilo ela entendia bem. Por isso, Alice se limitou a esboçar um sorriso mínimo, assentindo com sua cabeça. Se tivesse sorte, a imortalidade estaria ao seu favor e algum dia entenderia porque consegue realizar magias que não deveria. 
                        A vampira pode sentir sua magia se misturando com a dele no ar. Quase como se pudesse tangê-lo. Era uma sensação nova e estimulante. O jeito como pode sentir ele auxiliá-la sem mexer um músculo sequer, fazendo com que a gota de sangue finalmente se estabilizasse, e então se mover de um modo que sabia que não era ela que estava fazendo. Se aquela fosse uma gotícula de água poderia fazer algo como aquilo sem muito esforço. Fazia alguns anos que treinava com a água, desde que havia descoberto seu poder para ser mais exato. Não era como se fosse capaz de fazer coisas exuberantes, porém bem mais do que uma pequena esfera instável e trêmula. Poder que ainda não pretendia revelar. O ‘talvez’ curto e simples a deixou curiosa. O que ele estava pensando? Então, o líquido saiu de seu controle, seguindo as ordens de Lucius agora. Quando a gota atingiu o livro e se espalhou, resplandecendo todas aquelas letras que agora formavam um texto mais que visível, os olhos da neófita ganharam o brilho da curiosidade de novo. Olhou para ele por um breve momento, antes de se voltar para o livro repousado em cima da mesa. Os olhos verdes famintos passeavam pelas palavras com pressa, como se o objeto fosse se fechar a qualquer momento e ela não conseguiria saciar sua curiosidade.  
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                        Agnostos. A palavra não era estranha para ela. Porém, estava focada demais para prestar atenção no que Lucius estava fazendo em frente a lareira. Só parou de ler quando o livro foi retirado de sua frente, fazendo-a levantar o olhar para Volhard em pé na sua frente. A revelação dele fez com que Alice paralisasse. O que aquilo significava? Não era sangue Toreador que ela possuía? Desviou o olhar para o livro de novo. Ela pode sentir o tom de aviso na voz de Lucius, ele julgava que ela já sabia daquilo? Esperava que sua expressão de surpresa e confusão deixasse claro que na verdade era o contrário. A neófita pega o livro com certo receio, passando os dedos pela capa de couro, confusa demais, pensativa demais. “Eu não entendo.” Se virou no sofá, para que conseguisse olhar Lucius andar pela biblioteca. “Como posso ter sangue magus?” A pergunta era genuína, ela realmente não entendia. E agora ele achava que ela estava escondendo algo, Alice realmente estava, mas não aquilo. Forçou um pequeno sorriso diante da pergunta dele, assentindo em seguida. “Claro, milord.” Devolveu o livro à mesa de centro, colocando seu diamante em cima dele, depois voltaria depois para buscar os dois. Levantou-se para que pudesse se juntar a ele, ainda receosa.
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alicz · 3 years
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tremerae​:
              ( —  ▪  ▪  ▪ ) 
“É uma Toreadora, e sempre será, porque foi Abraçada por um”, respondeu-a com simplicidade. “A magia de gerações deles corre nas suas veias agora.” Julian era um membro poderoso dentro do próprio clã — e seu vitae jamais poderia ser comparado ao de um vampiro da nona ou décima geração. Um lembrete constante do quão próximos estavam de Cain e suas criações. Alice também seria uma herdeira viva desse poder. Dádiva ou maldição, ela escolheria. “São duas disciplinas inerentes ao seu clã. Embora, devo lembrá-la, de que talvez vá encontrar algum Ventrue exercendo o poder da Presença até mesmo em outros imortais. Ou mesmo um Brujah.” Certo desprezo se desenrola nas sílabas ao mencionar o clã. “Sobre eles, recomendo que evite o máximo do desprazer de esbarrar com um.”                                Daquele ângulo, os olhos da neófita refletiam as chamas da lareira num verde esmeraldino febril. Lembravam-no dos cristais de flama que com frequência usava nos rituais alquimistas. Não era surpresa para Lucius que alguém como ela detivesse de certa afinidade com Presença. “Em algum momento futuro, talvez possa ser igualmente capaz de tal coisa — se assim desejar. Me diga, milady, já a testou num imortal?” Há um silêncio quiescente após a pergunta, um que exprime com clareza o que ele sugeria. A lareira estalou um chiado baixinho da madeira queimada e o Lorde fez um gesto breve com a cabeça, uma mecha fina das madeixas ônix deslizando para a testa. “Venha aqui.” A mão enluvada se deteve em mais uma página em branco do grimório. Lucius puxou uma das luvas, dedos desnudos agora traçando o que para qualquer um seriam linhas invisíveis na folha. Quando pareceu achar o que queria, seus olhos se voltaram para a vampira: um desafio; uma pergunta e um convite. Ele ergueu a mão pálida sobre o tomo, palma num ângulo em que Alice pudesse enxergá-la sob o bruxulear da luz quando um corte fino se rasgou dali, descendo e abrindo como se feito por uma lâmina imaterial. Sangue, vívido e carmesim, escorreu da palma. Pingou. Mas a gota que deveria tocar o livro parou no ar, e de repente o líquido rodopiou num espiral crescente ao movimento curto de dedos do vampiro antes da ferida fechar. O vermelho flutuante foi tomando forma — um reluzir de redemoinho translúcido criando vida própria, e então, Lucius capturou com o indicador e o polegar o que se transformara num diamante rubi. Transmutação crua. “Isso aqui, porém, é algo que você não verá um imortal além dos Tremere dentro da Camarilla fazer.” Ele a estendeu o diamante, como se ao mesmo tempo a presenteasse e revelasse um segredo. Brilhava contra as chamas. “É por isso que você ainda é uma incógnita. Para Julian. Para mim. Como foi usar essa magia pela primeira vez?” 
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De novo aquele olhar; a curiosidade serena, o convite. “Veja bem, o que ainda não entende é o de menos. Me mostre o que consegue fazer.”
                      Alice assentiu suavemente com a cabeça com a explicação simples e direta dele. A ideia de que agora pertencia para sempre em um lugar de certo modo aquecia seu peito. Teve muita sorte por ter sido Abraçada por Julian, se não fosse por seu mestre provavelmente já estaria morta em algum beco do vilarejo, ou da cidade, apesar de duvidar que chegaria tão longe. “Julian explicou que algumas disciplinas não são exclusivas dos clãs.” Então sabia que haviam vampiros que não eram Toreadores mas que possuíam os mesmos poderes que ela. O príncipe também havia explicado o mínimo de cada clã, e demonstrado o mesmo desprezo que Lucius pelos Brujahs. “Desculpe caso eu acabe repetindo minhas perguntas, tem sido muito para assimilar.” O esforço de Alice era claro, mas mesmo assim ela ainda se perdia em meio a tantas informações e aprendizados novos.
                       “Ainda não.” O convite implícito de Lucius ficou claro para ela. Entretanto, duvidava que tivesse treinamento o suficiente, muito menos poder o suficiente, para fazer com que um vampiro experiente e poderoso como ele ficasse adepto às suas opiniões, sendo manipulado por ela. Ainda sim, parecia interessante tentar. Alice se levantou após o pedido dele, segurando a saia de seu vestido ao dar uma meia volta na mesa de centro até o sofá onde ele estava, sentando-se ao seu lado. Observou com atenção ele procurar algo no grimório que carregava. Sua expressão mudou para confusa, o cenho levemente franzido quando desviou o olhar para o livro espesso que continha páginas em branco. Desviou o olhar para ele, e em seguida para o livro de novo, se perguntando se estava perdendo algo ali. Mal reparou que estava inclinada em direção a ele quando o Lorde se voltou a ela. Alice recuou, ajustando sua postura mais uma vez. Seus olhos verdes encontraram os dele. Olhos negros, intensos e comunicativos. Pareciam conversar silenciosamente com os dela, não precisando de mais para entender o que ele queria transparecer. Kenna estava certa, Lucius Volhard realmente era um homem muito bonito e elegante. Apenas cortou o contato visual quando a palma foi erguida em sua frente. Se alguém pedisse para Alice explicar o que ela estava vendo, ela não saberia o fazer. O corte se abrindo na pele pálida de Lucius, então a gota flutuando, se transformando em um redemoinho vermelho. Seu olhar era atento. Intrigado. Interessado. Fissurado. Ela estava, de certo modo, encantada. Então, suas sobrancelhas arquearam em surpresa quando a simples gota se transformou em um diamante sólido. Seu olhar desviou para o rosto do vampiro de novo, enquanto pegava o diamante que lhe foi estendido. Alice sorriu analisando a pedra que brilhava contra as chamas, ainda maravilhada. “Sou uma incógnita para mim mesma também.” Encarou suas mãos por um segundo antes de levantar o olhar, deixando com cuidado o diamante na mesa de centro. “Surpreendente. Eu não estava tentando usar magia.” Não possuía ideia que era capaz de manipular sangue quando o fez pela primeira vez.
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                      Alice pensou por alguns segundos no que poderia mostrar a ele. Por fim, estendeu sua mão, a palma erguida para cima. “Preciso de um corte também.” Observou enquanto Lucius abria o rasgo no meio de sua palma, não esperava dor, mas o ato não fez mais do que cócegas ali. Quando a gota densa de sangue vermelho vivo caiu, a vampira abriu os dedos da outra mão, parando-a no ar antes que atingisse o meio deles. Não tinha nem de perto a habilidade dele, o que Volhard conseguia fazer com os dedos, ela precisava da mão inteira apenas para manter o líquido vermelho no lugar. Ainda sim, era completamente instável, a gota teimosa tremia no ar como se quisesse escapar e continuar seu percurso. Assim que a ferida se curou, usou a outra mão também para tentar controlar melhor. “Eu só consigo mover.” Trouxe a gota para altura do rosto deles, a bola vermelha ainda tiritando no ar. “Não sei se posso fazer mais.” Fez com que o líquido andasse de um lado para o outro, fazendo com que ele agisse de forma estranha, andando em partes, como se seus componentes se separassem e depois de se juntassem de novo. “Não sei se isso é falta de habilidade ou simplesmente algo não está certo.”
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