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Cativar
As pessoas chegam, com sorrisos que aquecem e palavras que acolhem. Plantam sementes em coraçÔes alheios, regam com atenção, fazem brotar esperança. E quando vocĂȘ menos espera, elas viram parte do seu mundo â parte de quem vocĂȘ Ă©.
Mas o que ninguĂ©m te conta Ă© que o ato de cativar carrega uma responsabilidade silenciosa. E que, Ă s vezes, quem cativa nĂŁo quer ficar. Vai embora sem aviso, sem explicação⊠como se nada tivesse florescido ali. E o que sobra? Um vazio. Um eco de promessas nĂŁo ditas. Um silĂȘncio pesado onde antes morava o som da presença.
Ă cruel perceber que, mesmo tocando fundo o coração de alguĂ©m, nem todo mundo quer ser abrigo. Nem todo mundo quer permanecer. A dor nĂŁo vem sĂł da ausĂȘncia, mas do abandono disfarçado de liberdade. Como se amar fosse um erro. Como se sentir demais fosse exagero.
No fim, fica a gente. Tentando entender por que alguém acendeu tanta luz se no fim só queria apagar e ir embora. Fica a saudade de algo que foi, mas nunca prometeu ser. Fica a ferida de ser cativado por quem não quis carregar o peso de permanecer.
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Carta, nĂŁo de adeus, mas de perdĂŁo
NĂŁo escrevo estas linhas como um adeus, mas como um gesto humilde de arrependimento. Este nĂŁo Ă© um ponto final, mas talvez uma vĂrgula entre os capĂtulos de uma histĂłria marcada por sentimentos intensos, gestos impensados e silĂȘncios que, por vezes, disseram mais do que eu gostaria.
Peço perdĂŁo a todos os que, de algum modo, feri â mesmo que sem intenção, mesmo que sem plena consciĂȘncia do alcance das minhas palavras ou da ausĂȘncia delas. Aos que sentiram o peso da minha instabilidade emocional, dos meus momentos de fĂșria, das minhas falhas em acolher quando era preciso, eu me curvo em sincera desculpa.
Reconheço que muitas vezes fui tempestade, quando se esperava de mim apenas brisa. Que permiti que emoçÔes Ă flor da pele transbordassem como marĂ© impiedosa, levando com elas a leveza que deveria ter oferecido. Desculpo-me pelas palavras duras, pelos olhares frios, pelo silĂȘncio ensurdecedor que impus quando o diĂĄlogo teria sido mais justo.
E mesmo nos detalhes pequenos â aqueles que a pressa ou a distração me fizeram negligenciar â reconheço agora o quanto poderiam ter sido importantes. Ăs vezes, um gesto que faltou, um cuidado que escapou, tambĂ©m deixou marcas. E por essas marcas, tambĂ©m peço perdĂŁo.
Não justifico meus erros, apenas os assumo com honestidade e um coração disposto a evoluir. Que esta carta sirva como um passo em direção à cura, para mim e para aqueles que, de algum modo, se machucaram nos labirintos do meu ser.
Com humildade e esperança,
eu
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*VocĂȘ faz parte de mimâ
Ainda tenho nossas primeiras palavras guardadas como relĂquias de um tempo que jĂĄ nĂŁo nos pertence, mas que, de alguma forma, ainda me habita. Letras impressas em telas frias, mas que carregam o calor do que fomos â um calor que agora arde de maneira diferente, misturado com a brisa cortante da ausĂȘncia.
Vejo vocĂȘ com ela, e sinto um peso silencioso no peito, uma dor que nĂŁo Ă© afiada, mas tambĂ©m nĂŁo Ă© branda. NĂŁo chega a ser dilacerante, mas tambĂ©m nĂŁo passa despercebida. Ă um aperto que me prende por um instante e depois se dissolve no ar, deixando apenas o eco de algo que nĂŁo sei nomear. DĂłi, mas nĂŁo como antes. DĂłi, mas de um jeito estranho, quase brando, como se minha alma estivesse aprendendo a conviver com sua ausĂȘncia, sem de fato aceitĂĄ-la.
E entĂŁo me pego tentando entender onde vocĂȘ repousa agora dentro de mim. JĂĄ nĂŁo sei se Ă© um fantasma ou uma presença discreta, se ainda Ă© amor ou apenas uma lembrança tatuada na essĂȘncia. Seu nome ainda ressoa no meu peito, mas nĂŁo sei se como uma oração ou um sussurro perdido no tempo. VocĂȘ ainda estĂĄ aqui, de um jeito que nĂŁo sei explicar â um pedaço do passado que se recusa a ser apenas passado.
Talvez seja isso. Talvez algumas pessoas nunca saiam completamente de nĂłs. Elas se tornam parte do que somos, costuradas Ă nossa histĂłria com fios invisĂveis, mas indestrutĂveis. VocĂȘ foi, mas ainda Ă©. E eu sigo, sem saber ao certo se te deixo para trĂĄs ou se apenas aprendo a carregar vocĂȘ de uma nova maneira.

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A ansiedade Ă© um espectro insidioso, insinuando-se pelas frestas da consciĂȘncia atĂ© que tudo o que se conhecia como âeuâ se torne um reflexo distorcido, irreconhecĂvel. Ela erode a identidade em silĂȘncio, fragmentando pensamentos, desvanecendo certezas, transformando o cotidiano em um labirinto de inquietaçÔes e apreensĂ”es sem rosto.
O tempo torna-se um borrão. O passado é uma lembrança enevoada, o presente é insuportavelmente denso, e o futuro, uma promessa de catåstrofe iminente. Cada batida do coração reverbera como um eco de pressågios sombrios, cada respiração é superficial, incompleta, como se o próprio ato de existir fosse um peso insustentåvel.
VocĂȘ tenta reunir os cacos dispersos da prĂłpria essĂȘncia, tenta lembrar-se de como era habitar-se sem essa constante opressĂŁo interna. Mas a ansiedade nĂŁo permite retornos fĂĄceis. Ela apaga rastros, confunde direçÔes, tornando a busca por si mesmo uma jornada exaustiva, quase quimĂ©rica.
E, no entanto, sob camadas de medo e incerteza, ainda hĂĄ algo de vocĂȘ lĂĄ. Um resquĂcio de identidade lutando contra a dissolução. Um sussurro tĂmido, mas insistente, lembrando que talvez â sĂł talvez â seja possĂvel encontrar o caminho de volta.
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HĂĄ momentos em que anseio ser o navio, nĂŁo o farol.
Exaure-me a permanĂȘncia imutĂĄvel, a incumbĂȘncia de iluminar caminhos alheios enquanto permaneço enraizado na solidĂŁo da rocha. Sou a constĂąncia para os errantes, a claridade que guia, mas que ninguĂ©m verdadeiramente vĂȘ. Todos passam, poucos olham para trĂĄs. Resisto Ă s marĂ©s furiosas, aos ventos impiedosos, Ă s noites insondĂĄveisâmas resistir nĂŁo Ă© viver. E viver sem partir Ă© apenas um eco prolongado da prĂłpria ausĂȘncia.
Quero, ao menos por um instante, libertar-me dessa vigĂlia eterna. Quero ser o navio, abandonar certezas, lançar-me ao imprevisĂvel, sentir o peso das ĂĄguas indecisas conduzindo-me para onde eu nĂŁo havia planejado ir. Quero perder-me em correntes desconhecidas, permitir que o sal do mar dissolva as amarras da previsibilidade, errar rotas, deixar para trĂĄs o peso da obrigação de ser Ăąncora para outros enquanto permaneço Ă deriva dentro de mim mesmo.
Ser farol Ă© ser promessa, mas quem me prometeu que eu deveria ficar? Que a minha luz sĂł teria valor se projetada para guiar os outros? Talvez seja hora de apagar o feixe e, por fim, partir.
Que alguĂ©m mais ilumine. Que alguĂ©m mais vigie. Hoje, sĂł desejo velejarâe que o mar decida meu destino.
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NĂŁo mais uma menina
Me peguei refletindo sobre isso na volta para casa, enquanto repassava, quase mecanicamente, o ritual de pegar a chave e o bilhete, como se o simples ato de estar preparada para o que me aguarda fosse uma maneira de acalmar os medos que, silenciosos, ainda se aninham dentro de mim. Agora, sempre desço pela frente, o caminho familiar que percorro jĂĄ mapeado pelo meu corpo, como se cada passo fosse uma tentativa de reafirmar o controle, por mais ilusĂłrio que ele seja. Mas, no fundo, ainda me sinto uma meninaâuma menina frĂĄgil, cujos olhos buscam por refĂșgio no escuro, cujos passos hesitam diante da vastidĂŁo do mundo que se estende alĂ©m da segurança dos muros que cercam minha casa.
Como mulher, esse medo persiste, mas jĂĄ nĂŁo Ă© mais o mesmo. Ele se metamorfoseia, assumindo a forma de uma ansiedade crĂŽnica, um alerta constante, como se cada sombra escondesse um perigo iminente. O mundo, agora, nĂŁo Ă© apenas grande e assustador, mas imprevisĂvel. E a noite, que antes era apenas uma sequĂȘncia natural de horas, se transforma em um territĂłrio hostil, onde atĂ© o som mais simplesâo farfalhar das folhas, o estrondo distante de um carroâse torna uma ameaça velada.
Ă um minuto, ou talvez menos, do ponto atĂ© minha casa. Um minuto que, Ă primeira vista, parece irrisĂłrio. Mas Ă© o minuto mais longo e angustiante do meu dia, o Ășnico momento em que, por mais que eu tente negar, me vejo vulnerĂĄvel, exposta Ă iminĂȘncia de algo que nĂŁo sei nomear. Um minuto que arranca de mim a leveza da juventude e me força a carregar o peso da experiĂȘncia, da desconfiança, da necessidade de estar sempre alerta, mesmo quando o Ășnico reflexo que encontro em mim Ă© o de uma menina assustada.
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SerĂĄ que me veem ou realmente me enxergam?
Habito um corpo que os outros parecem reconhecer, mas que para mim Ă© um enigma insondĂĄvel. Caminho entre olhares que me percorrem, mas nĂŁo me atravessam. Sou presença e, ao mesmo tempo, ausĂȘnciaâum vulto esculpido pelas expectativas alheias, uma silhueta que se molda conforme o espaço que me concedem. E, no entanto, quando a noite desaba e o mundo se silencia, resta apenas a pergunta que me consome: quem sou eu, alĂ©m do que projetam em mim?
Gosto do que aprendi a gostar ou apenas aceitei os desejos que me foram dados? O que, em mim, Ă© genuĂno e o que Ă© reflexo de vozes que sussurraram em meu ouvido por tanto tempo que jĂĄ nĂŁo sei distinguir as minhas das delas?
Talvez eu tenha me dobrado tantas vezes para caber que perdi minha forma original. Talvez tenha me dissolvido em tentativas incessantes de pertencimento, até que me tornei apenas um mosaico de retalhos emprestados, colados com o medo de não ser suficiente.
E se nĂŁo houver nada sob todas essas camadas? Se, ao me despir de tudo que absorvi, restar apenas o vazio?
Se ao menos alguém me olhasse de verdade. Se ao menos eu soubesse como me olhar sem receio do que encontraria.
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"A Chama que Ainda Arde"
Um dia, alguém hå de me amar como jå amei quem nunca soube me segurar.
Carrego essa esperança com a fragilidade de uma chama ao vento, oscilando entre a persistĂȘncia e o apagar definitivo. JĂĄ me desfiz em entrega, jĂĄ depositei afeto em mĂŁos vazias, acreditando que o calor do meu amor poderia preencher o que, no fundo, sempre foi ausĂȘncia. Mas o que restou foi apenas o eco de mim mesmaâuma sombra tĂȘnue do que um dia fui, espalhada em lembranças que nĂŁo me pertencem mais.
Ainda assim, permaneço. NĂŁo por fĂ©, mas porque desaprender a esperar Ă© um fardo tĂŁo ĂĄrduo quanto o prĂłprio vazio. Talvez um dia alguĂ©m enxergue em mim o que tantos olharam sem ver. Talvez me ame sem que eu precise moldar-me em formas irreconhecĂveis. Talvez, enfim, me escolha.
Ou talvez nĂŁo. Talvez esse amor nunca venha, e eu tenha que aprender a existir sem a promessa de um encontro. Mas, enquanto a chama resistir, sigo adianteâmesmo trĂȘmula, mesmo incertaâna esperança de que, se esse amor chegar, ainda me encontre inteira.
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barganha
substantivo femininoinformal
1.
m.q. PECHINCHA.
°O que é barganha no relacionamento?
a pessoa tenta negociar consigo mesma ou com a outra, muitas vezes por meio de promessas de mudança ou esforços para reconquistar, maneiras de trazer o relacionamento de volta.
Viver imersa em vocĂȘ me trouxe muitos sentimentos e sensaçÔes, parte delas inesquecĂveis jĂĄ a outra parte Ă© a que se me fosse possĂvel te tiraria das minhas lembranças tal qual um cirurgiĂŁo com um fragmento alojado, assim foi vocĂȘ para mim um projĂ©til alojado em minha mente por anos, meses e dias.
VocĂȘ trouxe a tona sentimentos dos quais achei que jamais seria capaz de sentir novamente, me cativou e dançou a valsa lenta comigo, mas nĂŁo se fez meu carrasco e sim meu belo lobo em pele de cordeiro, no mundo animal me tornaria facilmente a presa fĂĄcil que sofre com a sĂndrome de estocolmo, esperando que um dia o lobo olhe para mim com amor como eu, apenas um coelho bobo,
Me recordo de suas declaraçÔes e suas belas mentiras disfarçadas de lindas promessas, e como uma apaixonada incurĂĄvel que sou aceitava suas idas e vindas enquanto meu peito se apertava mais a cada noite em que vocĂȘ dormia tranquilo e com bons sonhos, enquanto meu coração se fundava em meu peito, me implorando piedade e que tentasse parar de deixĂĄ lo ser ferido de tal forma, tudo que eu queria em relação a nĂłs era poder respirar fundo e dizer um eu te amo leve e sincero que um dia se fez presente mas agora era uma frase costumeira como um bom dia ou boa noite.
Tentei dessa vez fazer diferente, sair do transe e fazer vocĂȘ feliz de verdade, livre de toda minha obsessĂŁo e toxicidade, no final talvez o lobo fosse eu todo esse tempo ou apenas me olho e sĂł o que consigo ver Ă© vocĂȘ, vestĂgios de vocĂȘ por toda parte e ainda no reflexo do meus olhos cansados e viciados em vocĂȘ.
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Ășltimo ato de amor
NĂŁo consigo me recordar com clareza se nosso fim foi em uma segunda ou em uma terçaânosso fim⊠uma coisa engraçada de se dizer. Em meus sonhos, me via adornada em um longo vestido branco, a cor que sempre afirmei que jamais usaria em um casamento. Mas por vocĂȘ, tudo se tornava fluido, atĂ© mesmo aquilo que nĂŁo me agradava. Eu moveria montanhas e mares, mudaria o mundo em busca de uma utopia por vocĂȘ, alteraria o passado, desvendaria o futuro e transformaria suas dores nas minhas. Suas dores eram as que mais me feriam, seus olhos de criança ansiando por voltar a 2012, um ano que nunca compreendi verdadeiramente.
O motivo pelo qual nĂŁo recordo o dia do nosso fim Ă© que ele se desfez aos poucos, como a luz ao entardecer. Fui despertando para a realidade Ă minha volta, percebendo a essĂȘncia que vocĂȘ realmente era, ou quem sempre foi. A frase "o amor Ă© cego" ressoa alĂ©m da aparĂȘncia; ela fala sobre como nos tornamos incapazes de ver as falhas do outro. Cegos na esperança de que tudo se resolveria, que a dor se dissiparia, e humilhando-nos por alguĂ©m que jamais faria o mesmo.
Vi-me amando sozinha, nĂŁo era a primeira vez, mas foi a primeira em que me retirei antes de vocĂȘ se cansar de me usar e partir com a habitual desculpa: ânĂŁo sou eu, sou vocĂȘ.â Eu fui embora quando percebi que havia outrasânĂŁo uma, nem duas, mas vĂĄrias opçÔes que vocĂȘ poderia escolher, prontos para brincar de prĂncipe encantado com cantadas vazias e elogios repetidos, como se fossem versos de um poema desgastado. Fui tola em grande parte do tempo, ignorando os avisos que me cercavam, convencida de que poderia mostrar a vocĂȘ o que era amar de verdade.
Quando percebi que seus toques jĂĄ nĂŁo tinham a mesma suavidade, que seus dedos se afastavam dos meus, a dor me atingiu como uma tempestade. Seus ouvidos, antes tĂŁo atentos, estavam alheios Ă minha voz, e sua risada, que antes iluminava meu mundo, se tornara um eco distante. As conversas, que antes dançavam entre nĂłs, tornaram-se escassas e frias, deixando um vazio imenso. A amarga consciĂȘncia de ser tĂŁo azarada no amor me consumia. Achei que passaria a vida ao seu lado, mas seria cruel permanecer, sabendo que seus olhos jamais brilhariam novamente por mim. Assim, em um Ășltimo ato de amor, deixei que vocĂȘ partisse, levando consigo a esperança que um dia iluminou meu coração.
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