Trabalhos desenvolvidos no curso de Comunicação Social da UFRJ
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Como lemos mulheres: dois anos do Leia Mulheres
A escritora e ilustradora inglesa Joanna Walsh percebendo a falta de participação da mulher no mercado editorial lançou o desafio #readwomen2014. Nascido nas redes sociais, o movimento tomou força no mundo todo e chegou ao Brasil no mesmo ano. Mas, se foi perdendo força na web, aqui permanece presente. Isso porque, no ano seguinte, três mulheres – as paulistas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques – levaram o debate virtual para o mundo real. E março de 2015 nasceu o clube de leitura Leia Mulheres.
O #readwomen foi essencial para o nascimento do clube de leitura. “Já trabalhava no mercado editorial, justamente promovendo eventos e dá surgiu a análise de tão poucas mulheres eram chamadas para eventos, inclusive os que eu organizava” relatou Juliana Gomes, uma das idealizadoras do projeto. “A partir dessa análise conversei com a Juliana Leuenroth que conversou com a Michele e começamos os clubes”.
O primeiro clube surgiu em São Paulo e logo chegou no Rio de Janeiro e em Curitiba. Atualmente está presente em 22 estados e mais de 50 cidades brasileiras. Os encontros são abertos para o público - feminino e masculino – em rodas de conversa animadas sobre o livro escolhido naquele mês.
O #leiamulheres questiona a falta de destaque para escritoras. Quando Joanna Walsh analisou o mercado editorial em seu país descobriu que as mulheres representam 30% dos autores e muitas, como escritora inglesa J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, ainda usam como subterfúgios abreviações de seus nomes ou mesmo pseudônimos para burlar o preconceito com a dita literatura feminina ou escrita por mulher. A realidade brasileira não está muito longe disso, o que se reflete na participação das mulheres em eventos e premiações literárias. Depois das críticas recebidas nas últimas edições, a FLIP desse ano foi anunciada como a do protagonismo feminino, com as mulheres representando mais da metade dos convidados – 24 contra 22. Essa pode ser vista como uma vitória?
“Com certeza. Foi o primeiro movimento muito claro no sentido da inclusão e divulgação de autoras a ser promovido por um dos eventos literários mais importantes do país. É uma visibilidade importante que vai ocorrer”, opinou Aline Aimée, mediadora do Leia Mulheres do Rio de Janeiro.
#readwomen
Joanna Walsh é ilustradora e no final do ano de 2013 desenhava alguns cartões de ano novo com algumas de suas escritoras favoritas. Sua inspiração veio, curiosamente, de dois homens, os jornalistas literários Jonathan Gibbs, no Reino Unido, e Matthew Jakubowski, nos Estados Unidos, que se comprometeram a ler apenas mulheres por um período de tempo.
Walsh postou imagens de seus cartões no seu Twitter (@balaude) com a hashtag #readwomen2014 como um desafio, mas com o sucesso seus seguidores começaram a pedi-la para postar os 250 que deixou escrito no verso dos cartões. A ilustradora ficou um pouco receosa com a repercussão, lembrando de casos de cyber bullying referentes a campanhas do tipo. Porém, o em minutos, mulheres e homens compartilharam o post.
Além de ilustradora, Joanna Walsh é escritora. Não fosse apenas uma questão pessoal, a forma como a hashtag se apresentava, talvez o início de uma revolução, satisfez sua criadora, que viu como o #readwomen possibilitava diversos usos: incentivo pessoal; oportunidade de reunião; a celebração de conquistas recentes (como o Nobel de Literatura vencido por Alice Munro, em 2013); o fato de autoras terem que ser conhecidas.
Walsh quis deixar claro que seu manifesto não era pela leitura. Ler mulheres era só um passo; o #readwomen era sobre ler com maior consciência, quebrar hábitos antigos, tomar consciência dos temas por trás dos livros lidos. Ela sugeriu que as pessoas lessem por um período de tempo apenas livros escritos por mulheres. A romancista iraniana Kamila Shamsie chegou a falar em ‘um ano de publicações de mulheres’. As editoras britânicas And Other Stories e Tilted Axis se pronunciaram, aceitando a provocação. Mas longe de desejar ver editoras publicando apenas mulheres, Joanna Walsh com o #readwomen2014 gostaria de incentivar as grandes editoras a encorajar as novas escritoras e equilibrar o mercado de publicações ainda tão repleto de escritores homens.
Com tantas imposições criadas ao longo do tempo, como ser dona de casa, mãe, mulher, empregada, vaidosa, etc., podemos encontrar várias mulheres possíveis. Isso confirma uma pluralidade inerente da mulher – o que não pode ser descartado de sua literatura. Para aqueles que acreditam em uma literatura feminina ou escrita por mulher, a mulher como construção é muitas, logo esse mito cairia por terra.
Fica claro que o mercado editorial ajuda a endossar a imagem do livro para mulheres. Apesar de temáticas variadas chegarem às livrarias, as editoras continuam privilegiando projetos gráficos femininos. As “girly cover” (ou capas femininas) são mais um obstáculo para as escritoras, que ficam atreladas a histórias românticas ou água com açúcar. Outro obstáculo apontado por Walsh o mito do fim do feminismo e das questões de gênero. Discutir as diferenças de espaço e publicação para livros de mulheres e homens é essencial para que a ação iniciada por ela se torne um movimento fortalecido.
Clube no Rio
No último mês, decidi presenciar o clube de leitura. O livro escolhido era “Só garotos” (Just boys, no original), escrito por Patti Smith. Conhecida por suas canções, a estadunidense reúne no livro memórias de sua juventude e descoberta artística ao lado do grande amigo, o também artista Robert Mapplethorne. Cheguei um pouco atrasada, mas consegui presenciar as apresentações dos participantes – nome, idade, ocupação e como conheceu o Leia Mulheres. Aberta a roda, o bate papo começa e vai se tornando cada vez mais acalorado, com defensores de Patti e críticos do livro. Movimento hippie, edição da própria vida, ode à amizade, foram questões levantadas por quem estava presente. No final, o sorteio de fotografias Polaroid - parte do material de divulgação da Companhia das Letras, editora que publicou o livro e onde uma das mediadoras trabalha. Foi na editora que conseguiu as fotos e resolveu presentear alguns participantes.
Conheci o Leia Mulheres através dos canais no YouTube das mediadoras do Rio: Luara França, editora da Companhia das Letras e dona do blog (infelizmente) encerrado Ao Rés do Chão; Denise Mercedes, professora de Direito e escritora do Cem Anos de Literatura; e Aline Aimée, funcionária pública e idealizadora do Little Doll House. A quarta mediadora, a produtora de eventos Juliana Spohr só recentemente criou seu próprio canal na plataforma digital de vídeos.
Era de interesse das idealizadoras levar o projeto iniciado em São Paulo para outras capitais. Não demorou muito tempo para que Juliana Leuenroth, uma das criadoras do projeto, convidar as quatro para tocarem o Leia Mulheres no Rio. “A aceitação foi muito positiva”, disse Aline, feliz pela proposta de ler e divulgar o trabalho de mulheres receber o apoio dos cariocas, que consideram o clube “uma iniciativa importante”.
A divulgação do projeto no Rio de Janeiro foi realizada pelas mediadoras em suas redes sociais e blogs. “Acho que o fato de eu, Luara e Aline termos canais literários chamou muita gente que gosta de ler e participa do booktuber literário, no início. Porém, creio que cada mês o grupo que participa é diverso. Tem muita gente que vai pelo tipo de livro escolhido. Autoras que tem mais destaque, como Chimamanda Adichie, naturalmente 'levam' mais gente para o debate”.
Aliás, o encontro que mais marcou as mediadoras cariocas teve como livro “Hibisco Roxo”, da aclamada escritora nigeriana. “Cada debate é único, mas, recentemente, o debate sobre Hibisco Roxo, da Chimamanda Adichie, foi muito interessante, pois éramos 85 pessoas em um ambiente pequeno e todos queriam falar! É muito bom ver que os livros despertam tantas reflexões e que o diálogo é extremamente frutífero quando parte da identificação que sentimos com personagens 'fictícios'” relembra Denise Mercedes.
Aline Aimée também falou sobre o dia, que contou com o maior número de participantes do clube no Rio, com “gente sentada no chão, africanos, gente que morou na África. O debate transcendeu muito o livro, não só pelo carisma e hype da Chimamanda, mas pelos temas, que incluíam violência doméstica e intolerância religiosa. Foi muito intenso”.
As mediadoras perceberam a importância do clube de leitura na formação e desconstrução do leitor. É comum novos participantes relatarem a experiência da percepção de lerem mais homens que mulheres e logo depois sentirem a necessidade de mudar esse quadro. Elas próprias, mergulhadas no mundo da literatura, perceberam mudanças após o início do projeto. “Agora tenho muito mais consciência e vontade de ler mais e mais mulheres de diferentes nacionalidades, culturas e experiências” explicou Denise.
Ao falar sobre o Leia Mulheres, as realizadoras deixaram claro terem noção do sucesso do clube de leitura. Já se foram dois anos de projeto, dezenas de cidades brasileiras e leitoras e leitores engajados, além da repercussão em jornais, blogs e na academia. Mas será que o projeto ainda tem fôlego para continuar mobilizando leitoras e leitores? “Não nos fixamos em metas e sim em sempre pensarmos na formação de mediadoras, futuras críticas literárias e mais mulheres sendo lidas e publicadas” disse Juliana Gomes. Para Juliana Leuenroth, o rápido crescimento do clube de leitura é resultado da necessidade de se discutir gênero e literatura. “Percebemos, a cada nova cidade que entra em contato conosco, como ainda é uma questão que precisa ser ampliada”, finaliza.
As organizadoras sentem que apesar de modesta, houve uma mudança no comportamento das editoras. “Temos visto uma movimentação das editoras, ainda que pequena, para publicar mais mulheres e dar mais destaque a elas em suas divulgações” Michelle Henriques. O projeto não tem parceria com editoras, mas algumas enviam releases e livros que podem ser ou não usados nos clubes de leituras ou ganhar resenhas no site do Leia Mulheres.
A escolha dos livros se dá em cada cidade de forma diferente, por escolha das mediadoras ou por votação, presencial ou pelas redes sociais. “Aqui em São Paulo nós procuramos sempre variar os gêneros literários e também os países de origem das escritoras. Queremos mostrar que não existe literatura feminina, que mulheres escrevem em qualquer gênero, seja no romance ou na ficção científica” conta Michelle. A única regra é a leitura de uma obra de autoria feminina. Assim, o encontro tem data e hora marcada e é só o público se reunir para a discussão.
“A cada clube ou relato dos encontros em outra cidade, aprendemos muito. Vemos como a questão da publicação de mulheres ainda é uma questão que precisa melhorar e ser ampliada para que mais vozes sejam ouvidas dentro da literatura. E perceber que faço parte de alguma forma dessa tomada de consciência, me deixa muito realizada” finaliza Juliana Leuenroth.
Reportagem produzida para a disciplina Técnica de Reportagem I do curso de Comunicação Social da UFRJ.
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Iniciativas de ocupação: Refugiados no Rio de Janeiro
Como é a vida de pessoas em situação de refúgio na cidade
Por Gabriela Silva e Luana Benedito
Campo de Futebol na favela Cinco Bocas em Brás de Pina, Rio de Janeiro
Não é preciso fazer muito esforço para encontrar o “Bar do Angolano”, na Favela Cinco Bocas, em Brás de Pina, na Zona Norte do Rio. O comércio administrado pelo refugiado congolês Gauche Mufundu Paka, de 41 anos, é ponto de encontro de centenas de outros imigrantes da República Democrática do Congo em situação de refúgio, que residem na comunidade e de outras áreas da capital fluminense.
No Brasil, a legislação entende por refugiado todos aqueles que sofrem perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, além daqueles sofrem grave e generalizada violação de direitos humanos, e são obrigados a deixar seu país de origem para buscar refúgio em outra nação.
“Tem pessoa que sente vergonha e se incomoda com esse termo, mas eu já saí do Congo como refugiado. Então, eu nunca me importei com isso”, revela o comerciante congolês. De acordo com informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o Brasil tem 9.552 refugiados de 82 nacionalidades. Já o estado do Rio de Janeiro abriga 4.341 refugiados, de um total de 927 pessoas oriundas do Congo assim como Gauche.
Gauche em frente ao seu restaurante, na Cinco Bocas, favela que tem recebido a comunidade congolesa no Rio
O homem conta que veio sozinho para o Brasil em busca de melhores oportunidades e também para fugir de uma das piores crises humanitárias da África subsaariana. O conflito no país já vitimou quase cinco milhões de pessoas desde 1997.
Gauche fala com pesar sobre os dez filhos que deixou no país. “Eu sinto falta do Congo e dos meus filhos. A gente conversa no ‘zap’, mas não é a mesma coisa. É diferente.” No entanto, ele diz que não há possibilidade de voltar para lá neste momento. “Meu filho me questiona o que eu vim fazer no Brasil e eu respondo que aqui é melhor”, conclui.
Logo quando o comerciante chegou à capital fluminense, ele se instalou na casa de um sobrinho na Cinco Bocas até que arrumasse um emprego. Os trabalhos começaram a surgir e Gauche ocupou as mais diversas funções: pintor, pedreiro, eletricista e bombeiro hidráulico.
vimeo
Certo dia, o congolês decidiu começar a cozinhar as comidas típicas de seu país e o resultado não foi outro, agradou tanto os conterrâneos, como os moradores da comunidade. “Quando abri meu negócio, todo mundo se sentiu em casa. Eu coloco nossas músicas e faço comida congolesa. O pessoal vem comer ou comprar para levar para casa”, conta o homem, que diz ter aprendido a cozinhar com a mãe ainda garoto.
Segundo Gauche, sua mãe tinha um restaurante e cozinhava para muita gente. Por isso, todos os dias após voltar da escola, ele a ajudava no estabelecimento. O comerciante gosta de falar sobre os pratos que prepara. “O primeiro prato que fiz aqui foi um peixe defumado. É difícil achar os ingredientes para nossas comidas aqui no Brasil. A gente cozinha crocodilo e jacaré. Nossa comida é cara”, revela.
O congolês afirma ter sido bem recebido no país tupiniquim, mas se mostra um pouco incomodado com a categorização de uma única nacionalidade para todos os africanos. “Aqui no Brasil qualquer estrangeiro que venha da África é ‘angolano’, infelizmente. O continente tem 54 países e não só Angola.”
Gauche também diz que por vezes é questionado sobre o porque que ele veio para o Brasil. “Eu respondo: por que vocês vão para a Alemanha e para França? Vão fazer o que lá? Estão procurando um lugar melhor e com mais oportunidades, assim como eu”, finaliza.
Números de refugiados reconhecidos no Brasil sobe 12% em 2016
O número de refugiados reconhecidos no Brasil aumentou 12% em 2016, de acordo com dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Segundo o relatório, que marcou o Dia do Refugiado — comemorado no dia 20 de junho — do total de 9.552 pessoas, 8.522 foram reconhecidos por vias tradicionais de elegibilidade, 713 chegaram ao Brasil por meio de reassentamento e a 317 foram estendidos os efeitos da condição de refugiado de algum familiar.
Segundo o Conare, os países com maior número de refugiados reconhecidos foram: Síria (326), República Democrática do Congo (189), Paquistão (98), Palestina (57) e Angola (26). No entanto, os pedidos de refúgio caíram 64% no ano passado, em comparação com 2015. Os países com maior número de solicitantes foram Venezuela (3.375), Cuba (1.370), Angola (1.353), Haiti (646) e Síria (391).
O destaque ficou para os venezuelanos que tiveram o aumento de 307% em relação a 2015. De acordo com o relatório 3.375 venezuelanos solicitaram refúgio, o que representa 33% das solicitações registradas no país em 2016. Em 2015 foram contabilizados 829 pedidos de refúgio de venezuelanos.
O Conselho Nacional de Imigração (CNIg) aprovou, em março deste ano, uma resolução sobre a concessão de residência temporária a estrangeiro de país fronteiriço, com o objetivo de estabelecer políticas migratórias que garantam o respeito aos direitos humanos e acesso dos migrantes à Justiça, à educação e à saúde.
“A nova Lei de Migração garante a proteção ao apátrida e põe o Brasil novamente na vanguarda mundial, ao ter uma lei que expressamente garante a proteção ao apátrida e permite a naturalização de maneira mais célere, com a finalidade de combater a apatridia no mundo”, diz um trecho da nota do ministério.
Refugiados no Rio de Janeiro, segundo Cáritas
Há uma estimativa de que cerca de 15 mil pessoas já tenham passado pela Cáritas — entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos — desde 1976, quando começou o trabalho de atendimento a refugiados da organização no Rio de Janeiro. De acordo com a instituição, atualmente há uma média de 150 atendimentos semanais, o que não significa necessariamente 150 pessoas diferentes.
No seu refúgio, haitiano faz segunda graduação
O professor de origem haitiana Bernardin Pinquiere, de 32 anos, é morador de Irajá, na zona norte do Rio. Antes de se fixar em no bairro no subúrbio carioca, morou em Inhaúma, na Vila Residencial do Fundão, no Maracanã e na Penha. Ele vive no Brasil desde 2010, quando veio para o país para cursar uma segunda faculdade. No mesmo ano, o Haiti foi devastado por um terremoto de magnitude 7, considerada pelas Nações Unidas uma “catástrofe humanitária”.
Mais de 200 mil pessoas morreram e 1,5 milhão ficaram desabrigadas. O Brasil teve papel importante nesse momento, oferecendo apoio no resgate e doação às vítimas da tragédia. O Haiti é considerado vulnerável economicamente e é o mais pobre das Américas. Os problemas naturais. A presença da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, liderada pelo Brasil há mais uma década, transformou o país em ponto de referência para haitianos que desejavam uma vida melhor como imigrantes. Com o aumento de pedidos de pessoas vindas do Haiti, o governo brasileiro respondeu concedendo “visto humanitário” aos haitianos.
Bernardin, o segundo da esq. para a dir., ao lado de Tatiana Rodrigues, coord. da Abraço Cultural; a dir. par a esq., Roberta Sousa, coord. de comunicação
Segundo ele, a adaptação o novo país “foi normal”. Para ele, cariocas foram receptivos e Bernardin já conhecia o português e a cultura brasileira, o que facilitou sua estadia por aqui. O haitiano fez parte do PEC-G (Programa Estudante Convênio/Graduação), programa que permite entrada de alunos estrangeiros nos cursos de graduação. O benefício faz parte do Convênio de Cooperação Internacional, que regula o ingresso na universidade. Sua intenção era entrar em um curso de mestrado na França, quando ficou sabendo da oportunidade no Brasil. Candidatou-se a uma vaga, porém ao passar descobriu que se tratava de uma a oportunidade na graduação. Mesmo com a confusão, resolveu vir para estudar Engenharia de Telecomunicações, na UERJ. “Fiz minha última prova hoje. E já já pretendo começar o mestrado”, explicou.
Vir para o Brasil em condição de estudante não foi uma garantia de estabilidade. O programa do qual participa não oferece ajuda de custo e a universidade em que estuda, a UERJ, enfrenta um grave crise financeira. “Foi difícil para mim durante o curso, até que comecei a dar aula, em março”. Foi quando começou a dar aulas de Francês, língua oficial do Haiti. Mesmo feliz e com planos em solo brasileiro, a saudade da terra natal é permanente. “Gostaria de voltar hoje”, completa o haitiano.
Abraço Cultural aposta em professores refugiados para aula de idiomas
O Abraço Cultural surgiu em São Paulo, em julho de 2015, e hoje conta com dois espaços de atuação no Rio de Janeiro, em Botafogo e na Tijuca. A proposta do projeto são aulas de idiomas — inglês, francês, espanhol e árabe — ministradas por professores refugiados. Ao todo, são 13 docentes: cinco congoleses, três sírios, dois venezuelanos, um haitiano, um marroquino e uma gambiana.
https://soundcloud.com/gabriela-alves-488764620/roberta-sousa-fala-sobre-abraco-cultural
De acordo com Roberta Sousa, responsável pela comunicação do projeto, o Abraço conta com duas frentes. A primeira é gerar renda para o refugiado, além de ajudar na integração social dele no país. Já a segunda é ensinar línguas para os brasileiros em uma perspectiva de quebrar barreiras culturais.
“Além das aulas em sala, todo mês tem uma atividade cultural temática, em que se reúne todos os alunos. Nós chamamos outros refugiados para venderem comida, bebida típica, artesanato. É bem legal, porque a gente consegue ajudar outras pessoas de alguma maneira”, afirma.
Evento organizado pela Abraço Cultural
Ainda segundo Roberta, os professores são selecionados pelos currículos que são enviados para o projeto e também por sugestões da Cáritas. O processo seletivo é composto por uma entrevista com as responsáveis pelo Abraço.
O material do curso também é diferente dos demais ensinos de idioma. “A gente procura ser o menos eurocêntrico possível, com a valorização da cultura das pessoas que estão aqui ministrando as aulas. Por exemplo, em uma aula de francês, em vez de ter uma receita de crepe, vai ter um prato típico congolês.
A Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro é uma das parceiras da iniciativa. No entanto, o projeto não conta com nenhum patrocínio. “Todos os nossos custos e salários dos professores são feitos com o pagamento das aulas dos alunos”, revela a responsável pela comunicação.
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Por trás da reportagem
Gauche é gravado por Luana, enquanto Gabriela o fotografa
O projeto tem como fio condutor a experiência do refugiado ao chegar ao Brasil, em especial a cidade do Rio de Janeiro.
Pondo em prática as técnicas jornalísticas aprendidas em sala de aula, entramos em contato com fontes — pessoas, órgãos oficiais e não governamentais. E produzimos essa reportagem, fazendo uso de recursos básicos, como redes de contato, e-mails e smartphones — e principalmente, a vontade de contar as histórias de quem deixou para trás sua nação e recomeçou aqui uma nova vida.
Conhecemos pessoas engajadas com o processo de acolhimento de refugiados, como a Cáritas e a Acnur; com projetos inovadores, como a Abraço Cultural; e pessoas como Gauche, que um dia foi recebido e hoje é quem recebe brasileiros e congoleses — e quem mais vier.
Reportagem produzida para a disciplina Redação Jornalística I do curso de Comunicação Social da UFRJ.
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Amostra de trabalhos realizados para a disciplina Direção de Arte do curso de Comunicação Social da UFRJ. Primeira imagem: peça como parte da campanha da Arte de Viver; segunda imagem: peça parte da campanha batizada Projeto EduCão, parceria entre a escola BOB e a Suípa. Ambas as campanhas são fictícias e desenvolvidas por uma dupla de criadores publicitários, no caso, alunxs.
(imagens com baixa qualidade)
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Trabalho realizado para a disciplina LAB Design Gráfico do curso de Comunicação Social da UFRJ. Menu do Inhammy Food Truck Vegano (fictício).
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Amostra da revista Plongée, criada para a disciplina Linguagem Gráfica do curso de Comunicação Social da UFRJ. Matéria “O renascimento da musa” e crítica do filme “As pequenas margaritas” são de autoria de Gabriela Silva, coordenadora e redatora.
Para ter acesso à revista completa, clique no link abaixo:
https://issuu.com/juliaribeiro/docs/plongeeissu
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