Don't wanna be here? Send us removal request.
Photo
20 vintage photos of Madagascar women showcasing their beautiful hairstyles in the early 20th century.
1K notes
·
View notes
Text
aprendi a fazer vigílias
a retornar a momentos, lugares, cheiros, pessoas… enfim, tudo que em algum instante da minha vida, me marcou. talvez tenha sido a forma menos dolorida, mas não menos entregue, que eu poderia me permitir, já que por vezes eu viva de reprises, assim como um programa de televisão que mostra os seus melhores momentos (e, no meu caso, os piores também).
e a vigília não se importa com o tempo, não segue a norma que foi imposta quanto a isso. ela acompanha seu próprio caminho de exige seu espaço quando bem entende.
então, não importa se faz um mês, dois anos, ou três minutos... se a vigília quiser ser realizada naquele momento, ela vai ser. e sempre entregue, sempre sentida, sempre presente.
é como se fizesse parte de mim, porque se eu esquecer ou, pelo menos, não rememorar cada momento marcante, irei deixar para trás partes de mim, das quais eu não quero me desfazer. mas, se eu não faço isso, essas partes o fazem por mim.
eu te vi nascer, vir ao mundo. você foi um presente na minha vida, uma surpresa. não esperava que isso fosse acontecer. um dia, a sua mãe chega aqui em casa assustada e com fome, procurando por um lar. depois de algumas horas, você e seus irmãos decidem que é chegada a hora. e decidem isso já de madrugada, com a mãe de vocês deitada na minha cama. foi um tanto desesperador pra mim, mas também bom ver o seu nascimento.
e por isso, eu também te vi crescer, fazer bagunça por toda a casa. te vi ter medo de quem chegasse perto de você; te vi se acostumar com a convivência conosco. te vi não gostar de ser acarinhada, cheirada, abraçada pra, depois de um tempo, sempre vir procurar um cantinho entre meu braço e a cama. te vi aprender a fazer xixi e cocô no lugar certo, depois de fazer nos vários cantos da casa (sempre foi uma aventura (?) sentar no sofá da sala, sentir aquele cheiro e ter a certeza que você aprontou alguma coisa ali).
magnólia. árvore de belas flores grandes. sempre achei que esse nome combinava com você, mesmo ainda pequena. é um nome de grandeza, mas também que me traz gentileza e ingenuidade, assim como você. e, assim como árvore que não precisa de muito para ser bonita, você também tinha o seu lado autônomo. não só quanto a beleza (mesmo que seus pelos estivessem mais amarelos que brancos, por tanto deitar na terra), mas também na personalidade. a rua inteira sabia que você estava nos braços de alguém, só pelo seu miado estridente e incessante.
desde que você aprendeu a pular a janela, eu tive medo. fiz de tudo pra que esse dia não chegasse. fechei as janelas, levantei às cortinas... mas foi inevitável. tive medo de te perder, de não ter mais você comigo nos meus braços durante a leitura. e por várias vezes, você despertou em mim a tristeza em suas várias horas de sumiço, porque, assim como um filho adolescente que prioriza a sua alegria e ignora a preocupação dos pais, preferia brincar com seus amigos. até que o esperado, mas nunca desejado aconteceu. você não voltou pra casa, não veio correndo pro meu quarto enquanto anunciava a sua chegada. você era (eu não sei se essa conjugação do verbo é adequada) tudo para mim, e agora que você se foi, meu coração sente falta de algo, de uma parte importante para que ele se sustente.
mas você não foi a primeira, e temo que também não seja a última.
a perda de um amor é algo inesquecível e exige uma vigília ainda mais forte, mais presente. quando eu tinha quatorze anos, achava a frase 'pain is just a consequence of love' muito linda, pura e sincera. ao longo da vida, fui encontrando problemáticas nessas palavras e entendo-as como besteira. mas, se a dor é apenas uma consequência do amor, é porque me doía os momentos em que eu te tive por perto e soube, graças a deus, aproveitá-los. mas, dói ainda mais saber que eles foram interrompidos com tanta rispidez que eu não pude sequer te dar um muito abraço.
às vezes, eu acredito que tudo não passa de um plano seu, brincando de pique-esconde esperando até ser encontrada. por outras vezes, eu acredito que alguém, um gato malvado, tenha feito a sua cabeça, ao ponto de te fazer acreditar que ninguém se importa contigo e que se esconder e forjar um desaparecimento seria a forma de comprovar o fato. o que é uma inverdade. eu te procurei pelos quatro cantos. gritei o seu nome aos sete ventos na esperança de que eles alcançassem seus ouvidos e te trouxesse para casa. como eu gostaria de ter magnólias perto daqui, talvez elas se sentissem tocadas pela minha dor e me ajudassem a te encontrar.
e o que me resta é fazer as suas vigílias, que são muitas e ainda me doem tanto. ir para o meu quarto e não te encontrar embrulhada nas cobertas se tornou uma vigília. me sentar para comer e não te ter miando ao meu lado pedindo para subir no meu colo só pra ficar deitada se tornou uma vigília. abrir a porta pra você, assim como um mordomo faria, se tornou uma vigília. a saudade que eu tenho de me preparar para ler um livro e você deitar em cima do meu braço e não me deixar virar a página e, portanto, ler já não era mais uma opção, é enorme. como eu queria você por aqui, fazendo suas bagunças. juro que não iria brigar se você estragasse o cadarço dos meus tênis, porque nada mais importa além da sua presença.
mas, eu ainda espero pelo momento em que eu estiver sentado na porta de casa, tomando um pouco de sol, e você surgirá do outro lado da rua, como se nada tivesse acontecido. ainda espero pelo dia em que te ouvirei miar às quatro da manhã, querendo entrar e eu precisarei levantar para abrir a porta pra você, porque ainda não aprendeu a pular a janela de volta. ainda espero o dia em que, pelo menos, poderei me despedir de você.
- vinizei/vnzcs.
1 note
·
View note
Photo
107K notes
·
View notes
Photo
51K notes
·
View notes
Photo
197K notes
·
View notes
Photo
30K notes
·
View notes
Photo
Children climbing on a cable car at Golden Gate Park, San Francisco, 1955. Photographed by Nat Farbman/LIFE.
113 notes
·
View notes
Text
O vento não deve gostar de andar sozinho, se repararem bem, porque sempre quer levantar poeira, dobrar as árvores, soprar as folhas e arrastar as nuvens para longe. O vento deve ter uma casa no tão-longe e está sempre a tentar levar as nuvens para a casa dele.
Ondjaki, poeta angolano.
64 notes
·
View notes
Photo
34K notes
·
View notes
Text
alquimia
um certo dia, você acorda e decide viver a sua vida a partir de suas próprias convicções numa tentativa de olhar para si mesmo antes de virar-se para qualquer um ou qualquer coisa. antes de tudo, somos protagonistas de nossas próprias histórias e se sempre fui tão bom em construir mundos apaixonados com um papel e caneta, talvez fosse possível traçar meu próprio caminho onde a melhor e mais importante companhia eu tenha a todo momento: o velho clichê do eu. seus passos, a sua maneira de enxergar o mundo se transformam e a vida ganha novas cores. é quente, é confortável, tem tons amarelados que se misturam com um rosa quente do fim de tarde num dia de verão. pela primeira vez, em muito tempo, não dói ao respirar. na verdade, já não dói há muito tempo, só você que não se deu conta disso até então. viver sem roteiros, sem lembretes constantes. natural e espontânea. a vida consigo mesmo tem um sabor inigualável e nietzsche tinha razão: não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia. estou bem comigo mesmo e, por favor, não estrague este singelo momento.
até que, um certo dia, caramba… em que momento o seu cérebro decidiu que a definição de paixão se adequaria a um determinado corte de cabelo, uma altura milimetricamente específica, um sorriso desajeitado e, talvez, um certo grau de miopia? qual foi o ponto exato que as suas terminações nervosas decidiram que ali seria um bom lugar para se começar algo? você tem certeza que é ali o melhor lugar para se querer permanecer e partilhar o que tem vivido até então?
a sua cabeça já não funciona como outrora. sua memória não vai precisar de muito pra se apegar a um simples e efêmero momento que vai tomar conta de tudo. sua serotonina vai abaixar e seu corpo vai se sentir mais estressado, porém num sentido bom - suas noites de sono perdidas vão ser encontradas em sonhos semi-acordados emaranhados nas possibilidades do quão macia a pele daquela mão poderia ser. por que eu não consigo parar pensar naquela pessoa? deus, ainda bem que não sou um animal não-humano, senão meus feromônios estariam gritando aqui.
alquimia
pegue um pouco de dopamina
e um punhado de oxitocina
todas as suas aspirações de vida junto das expectativas sobre alguém com quem dividi-las. assim se faz uma paixão. assim se dá os primeiros passos rumo ao amor.
a percepção de estar apaixonado varia de pessoa pra pessoa, de como se enxerga o amor e qual a influência que ele exerce em sua vida. duas vezes, em toda a minha vida, eu soube no exato momento em que me apaixonei. a primeira quando, já na primeira conversa, elogiaram o meu olhar - por foto, já que sempre é fácil gostar e se apaixonar por aquilo que está mais distante. a segunda foi como acender um fósforo ou um isqueiro em câmera lenta, tornando possível enxergar as faíscas surgindo e a flama se acendendo. não se deve brincar de ‘ver com meus olhinhos’ por uma estrada que, saberia eu muito bem, me levaria até você.
a sensação de ter o seu corpo tomado por esses hormônios que levam, antes mesmo do seu coração, seu cérebro às alturas e te fazem contorcer como uma bruxa queimada na fogueira até não conseguir identificar o que são as labaredas e o que é sua própria pele pegando fogo (em amor), derruba qualquer ser humano. talvez, o amor, ou melhor, a paixão, seja nossa melhor arma numa guerra. é avassaladora, fulminante e te domina e te coloca de joelhos por livre e espontânea vontade (e pressão dos vasos sanguíneos, pois já reparou como as pupilas dilatam, o seu rosto fica corado e o seu coração bate tão forte e tão alto que você tem medo de ter um colapso na frente do seu mais intenso desejo? o que não seria ruim, já que amor é cuidado e tudo que se quer e necessita naquele momento é ter aqueles braços em torno de si.).
a vida não segue o roteiro que se cria na cabeça, talvez ela não siga nada além dos encontros e esbarrões que acontecem a cada esquina. sendo assim, é melhor deixar pra lá esse amor. se a modernidade, com todo o seu caráter racional e pseudo-civilizatório, serve pra alguma coisa é sobre isso: ter sob controle o desejo que não se pode ter e, não obstante, realizar. e por alguns dias, talvez semanas, você consiga ter tudo na palma da mão, nada lhe escapa o olhar e você sempre terá a farinha pronta antes mesmo do milho ser plantado. só que nada é tão simples assim e vai chegar o momento em que seu café vai esfriar, o sinal do trânsito vai fechar e você vai se dar conta de que ainda está caindo de amores. deus não poderia te dar um castigo tão contraditório assim, não é?
e qual a saída mais rápida que se tem? atuar! tudo bem, escrevemos nossas próprias histórias, somos protagonistas de nossas vidas… okay, sem problemas. sendo assim, hora de ser atriz e fingir que nada está acontecendo. tomara que não existam superdotados como os x-men, ou então irão perceber que por dentro meu corpo balança. bobeou dançou e você se apaixonou; agora? lide com isso e aguente até o fim. só que, se as coisas seguissem um pouco, só um pouquinho os passos que você quer, talvez seus corpos não se encontrariam numa noite peculiar. afinal de contas, era algo que você já tinha tirado das mais remotas possibilidades e realocado na seção de ‘sonhos e desejos impossíveis mas que é a vida, né, vamo fazer o quê’.
sexta-feira 13, lua nova em peixes. você deveria ter ficado em casa, desde as onze da manhã o mundo te dava sinais que alguma coisa iria acontecer naquele dia. do momento em que você acordou até a virada da meia-noite tudo fora estranhamente intenso, de formas boas e ruins.
vocês se esbarram algumas vezes bem pontuais e rápidas e já parecia que estava traçado (meu deus, será que eu tenho um mínimo de comedimento sobre as coisas que acontecem na minha vida ou tudo só acontece e eu fico estagnado?), quer você queira ou… você sabe que quer. finalmente, o grande encontro. iluminação baixa, música alta no fundo (perfeito pra chegar mais perto com a desculpa pra ouvir o que a pessoa tem a dizer). conversa vai, o desejo vem, a iniciativa acanhada mas corajosa de não dar o braço a torcer.
quando você menos espera já são quase quatro da manhã e uma voz no microfone do palco avisa que é hora de ir embora. sem se dar conta, uma galpão inteiro passado juntos, entre risos e choros, entre tentativas de fazer o que se acha certo e elogios ao perfume escolhido para a noite. entre mãos que finalmente se encontram (e, sim, são macias - mais até do que se poderia imaginar) e bocas que se mordem e se beijam, um caminho, sentimentos, percepções e melodias são compartilhados.
no outro dia, você acorda sem saber se aquilo realmente aconteceu ou se apenas exagerou em alguma coisa (o quão ilícito um instante pode ser?). é difícil de acreditar que um montante de coisa aconteceu num intervalo de tempo tão curto. preciso de um café até processar tanta informação.
dessa vez, você trocou o açúcar pelo sal e não se deu conta de que estragou o café já que sua mente estava longe e seu sorriso frouxo. quanto pode subir o nível de oxitocina, dopamina e endorfina? é possível que seu corpo nunca mais volte a se comportar da mesma forma? pouco importa, porque você está amando e não consegue dominar este sentimento. rotação e translação se aplicam para além do movimento de corpos celestes.
é tolo achar que tem tudo sob controle, ainda mais quando se conhece um mínimo de si. em algum momento, a bomba explode e você não vai aguentar catar tanto caquinho que voa para todas as direções. mas, no presente momento, nada abala e você sente que fez o melhor que podia, que foi sua melhor e mais carinhosa e empata versão. suas ações não foram premeditadas e, agora que o incêndio já foi controlado, talvez não tenha sido uma boa ideia ter dito que gostava quando estava bem em cima dele na cama… mas, eu posso explicar, não é nada disso que você tá pensando.
nada é linear. tudo é cíclico.
então já sabe o que fazer. você merecia ganhar uma estatueta pela sua atuação e pelo seu controle descomunal para não pular no colo da pessoa da mesma forma que fez em outro momento. quando tudo estava apenas na minha cabeça, quando não passava de imaginação já era tão difícil, e agora que de fato aconteceu? como viver sabendo que tem algo do lado direito do corpo dele e que foi gracioso encontrar? você se lembra de tudo muito bem, de cada detalhe, de cada palavra dita. seu corpo insiste em não esquecer a força do toque, o navegar dos dedos e toda vez você se pergunta porquê raios as coisas ainda seguem esse fluxo. e depois aprende uma nova palavra: sinestesia.
o amor é como alquimia
a tentativa de transformar sentimentos e coisas em outras. tentar encontrar ouro no brilho dos olhos de outra pessoa.
amor é constância
de sentimento, de ações, de presença. mas também de mudança.
quando se ama, você vai mudando durante esse percurso e vai compreendendo, amadurecendo (ou não) suas próprias convicções do que é amar e ser amado. carlos drummond de andrade diz que o amor é instruído, sobe nos lugares, se machuca, sangra e se desespera, mas que ainda vale a pena pelo seu lado incompreensível que te preenche e, mais, te transborda. e você se despreocupa ainda menos com o amor e suas feridas quando percebe que talvez tudo não passe de uma grande quadrilha narrada pelo mesmo autor. talvez você chegue no estágio em que não tá tão preocupado com a reciprocidade; você entende que amar está para além da necessidade que te amem. seu amor só quer ser livre e poder existir muito mais do que apenas em seu coração. o único medo que se tem é da possível rejeição, pois seria capaz alguém renegar algo tão bonito que foi forjado somente para si? pense num objeto que você não gosta mas que lhe foi dado por uma pessoa querida… aquele porta-retrato ainda está guardado em algum lugar, porque você tem apreço por quem lhe deu. se te amarem de volta (e pode confiar que um dia irão) que ótimo! levantem as taças e brinde com a mais singela felicidade.
da quadrilha você se desloca para ciranda e quando percebe está girando nisso há tanto tempo que não sabe qual é o sentido que deve seguir, porque seu corpo se acostumou com as voltas que o amor dá e a vida antes disso já parece distante. quanto maior o nível dos hormônios e quanto mais tempo eles durem em você, mais afetados seu cérebro e seu coração podem ficar. é até mesmo, irreversível. quando eu disse que não seria mais o mesmo depois de você, não pensei que isso seria tão sério.
girando
girando
girando
girando
girando
girando
girando
até encontrar você no meio da minha labirintite
(fiquei tonto demais e não percebi que te amava de outro jeito)
seu signo não permite que tudo se desvaneça da sua visão. se você fechar os olhos, é como se cada frame estivesse colado em suas pálpebras com cola de sapateiro (porque te deixa mais mole e visivelmente alterado) e a única coisa que seu corpo deseja é expelir esse sentimento. gritar.
colocar pra fora
mas, nada faz sentido, então você guarda pra si. no máximo, escreve um texto sobre e posta no tumblr na ínfima esperança de que a grande inspiração de suas palavras as leiam e se deleite em prazer ao correr os olhos sobre as linhas. e se nada faz sentido, talvez não haja problema em dizer em voz alta e em bom tom o que se sente. se eu não tenho nada a perder, o jogo é neutro. e você faz isso uma vez, duas vezes, três… como não se cansa? quanto mais se fala, mais é possível organizar tudo e deixar com que as coisas sejam menos latentes em nós.
se você acredita ou tem inclinação para elementos místicos, numerologia, astrologia, o tarot de cada mês, a vida mundana, pragmática, material e secular não te vai ser suficiente. quantos sinais eu posso encontrar que, de alguma forma, confirmem o que eu capto? vejamos o que temos aqui: um copo de plástico, algumas memórias perdidas, um pouquinho de reaproximação e conversas ininterruptas. essas últimas são as piores, e você tá ciente disso e ainda assim quer continuar (convenhamos: é bom por si só e você gosta disso. e tá tudo bem).
retomando
alquimia
pegue um pouco de dopamina
e um punhado de oxitocina
todas as suas aspirações de vida junto das expectativas sobre alguém com quem dividi-las. assim se faz uma paixão. assim se dá os primeiros passos rumo ao amor.
em seguida, um pouco de rejeição
e assimetria de expectativas
um pouco de apatia
e você consegue (fingir que irá) se desapaixonar
nota: se quiser, acrescente um pouco de conhecimento científico e se apegue à informação de que os hormônios ligados à paixão duram em média dois anos. mais que isso, mais que paixão. o que? não sei, mas é outra coisa.
seis meses
um bar
oito meses
silêncio e novos traçados
tudo permanece igual (até pior, se você quiser admitir)
seis meses
as coisas seguem estranhamente bem
um café
duas semanas
três dias
o tic-tac retoma
a bomba explode
e você desaba em culpa
e depois de tanto martírio, noites mal dormidas e pensamentos constantes sobre como você pode errar tanto mesmo após vinte e um meses (caralho?), você se senta na frente de um computador e tenta esboçar o que seria sua maneira de alcançar o perdão (de si? do outro? ambos?) e sua redenção. e talvez dizer em voz alta que sente falta de alguns elementos, pequenos e insignificantes mas importantes da sua maneira, seja um dos maiores passos corajosos. admitir sentimentos, ainda mais aqueles que não deveriam existir, causa enjoo e nervosismo. mas, entre falar e morrer, uma vida inteira seguiu-se calado. palavras sufocam e talvez, a partir de então, seja melhor libertá-las e lidar com as consequências depois. um texto a mais ou a menos de uma história que nem um começo de fato teve não vai fazer diferença.
- vinizei.
[a arte é de debs em exposição na cultural do slam akewí no erecs sudeste, em 30 de agosto de 2019]
1 note
·
View note
Photo
hoje, 19 de novembro, faz um ano que esse projeto pessoal veio à tona, muito em meio a inseguranças, medos e necessidades de se expressar o que eu pensava e sentia. o que penso e sinto. um ano de vinizei — conjugação no passado do meu verbo, vinizar, ou seja, me apaixonar de modo tão cativo e intenso que não me sobra muitas coisas além de escrever e eternizar em palavras sentimentos e pessoas — que tem sofrido tantas mudanças e resignificações, a começar pelo próprio nome. se, na gênesis dessa iniciativa, tudo era uma grande utopia a se pensar e sentir, hoje ela já é algo mais material, palpável.
pra mim, o amor tem três dimensões: a primeira é do âmbito da necessidade. assim, amor é o suprimento de tudo que a gente possa considerar importante e essencial dentro das relações que construímos — pra mim, é muito ligado ao eixo do cuidado, da sinceridade e da permanência. a segunda dimensão trata dessa construção, de um caminho compartilhado que se dispõe a ser feito entre as pessoas. por isso que quando vemos fotos de casais de velhinhos achamos fofo, porque aquilo é o amor no seu sentido construtivo que não ignora todos os altos e baixos que a vida pode e com certeza terá. a terceira e última dimensão do amor pra mim, diferente das duas primeiras que têm um caráter muito material e concreto, essa é mais idealizada, porém não num sentido de ilusão. amor, então, é aquilo que você sente e não consegue muito bem explicar, mesmo que haja o provimento do que você considera importante, mesmo que seja algo construído não importa há quanto tempo… é como se tivesse alguma coisa que foge à materialidade e que te faz ficar. amor.
durante toda a minha vida, eu sempre me prendi a esta última dimensão do amor. vinizei surgiu justamente por isso, por amar alguém que não dava (e ainda não dá) razões materiais para a existência desse sentimento, mas que, sem entrar nas implicações que rodeiam tudo, ainda acontecia (e acontece). e, em meio a tantas resignificações que foram acontecendo ao longo desses 365 dias que correram onde tanta coisa aconteceu, eu fui aprendendo a ser mais leve, tal qual esse sentimento — que se você for no primeiro texto aqui, verá que essa leveza sempre esteve presente. tão leve que consegui ir pra outros lugares, tão bonitos quanto e com certeza mais confortáveis e, porque não, saudáveis também. ao longo desse tempo, fui experimentando e, principalmente, me permitindo a viver esse lado mais material do amor, que por tantas vezes grita alto e pede pra ser escutado.
vinizei tem sido sobre resignificações e ciclos. sobre sentimentos e pessoas que se foram e outrora retornam. é sobre novos sentimentos, novos e velhos amores da vida. é experimentar o amor consigo mesmo, direcionar o carinho para onde é importante e preciso. é sobre mim, mas também pode ser sobre você, basta querer e, talvez, prestar um pouquinho mais de atenção. é sobre amor e perdão para os outros, mas para mim também. vinizei é para que eu, nem você, nos esqueçamos de que nossos processos levam calma e tempo e cabe a nós o autocuidado e o respeito para passar por isso tudo sem dores e sem perturbações.
1 note
·
View note
Photo
se alinhar nos trilhos da vida não é uma coisa tão fácil e, portanto, eu não tenho domínio sobre. às vezes, por me deixar sentir um mundo acima dos meus ombros — amaldiçoado seja aquele que se deixa sentir e experienciar um espectro para além da realidade, quando o mundo exige racionalidade e explicações palpáveis. — é como se esses sentimentos tomassem posse de mim e eles por si mesmos decidissem para onde iriam, quando e como… e eu fico aqui, imerso neste oceano tão profundo quanto conversas às 3 da manhã que fogem do nosso domínio do próprio tempo.
o tempo. já reparou que ele corre paradoxalmente e não temos controle sobre ele? a medição do tempo surge com a finalidade de controlar a produtividade dos seres, na tentativa de otimizar tudo a nossa volta. mas, o tempo é aquilo que menos está ao nosso alcance e é aquilo que mais segue por conta própria. não temos controle de nada nessa vida, temos apenas a ilusão do controle. quanto tempo você esteve em mim?
eu não tive — e ainda não tenho — domínio sobre o que se trata de você em mim. tudo fugiu dos meus planos e eu me vi tendo que começar do zero com um sentimento que eu não tinha meios para lidar, mas que hora sim, hora não, pareciam ter tanto potencial em ser compartilhado. e eu percebo que sua presença no mundo por si só retira minhas poucas certezas de vida e me faz imaginar como nossas linhas nunca foram retilíneas e, depois que se encontraram, deixaram seus emaranhados por aqui.
já faz algum tempo que você tem aparecido nas linhas dos meus pensamentos, dos meus diários, das minhas sessões em terapia. já faz algum tempo que eu deixo uma imagem de você por aqui, pra que eu não me esqueça daquilo que durante uma vida me foi creditado.
amor e medo talvez sejam melhores companheiros do que amor e ódio. sempre tive medo daquilo que pode vir a ser bom, ser tranquilo. suave como a ponta dos meus dedos que descobriu cada parte do seu corpo, que contornou seus traços e terminou em seus lábios. é um processo que leva muito tempo e que precisa ser praticado e repetido constante, a cada segundo, pra que deslizes não aconteçam para que não se retorne ao ponto de partida. que desgastante o conflito dos sentimentos que transparecem ser bons, mas escondem terrores.
alguma parte de mim ainda se alegra com a sua companhia e ainda deseja a sua existência e o compartilhamento de ensejos, não vou negar isso. mas, há diferenças no olhar, no jeito de se referir… talvez, você esteja se tornando alguém normal pra mim, só que com acréscimos que talvez só existam aqui justamente por causa do tempo, aquele que parece que não aproveitamos e que toda noite eu volto até lá. aquele tempo que, nessa incessante tentativa de racionalizar, acaba por ser potencializado o seu caráter mais subjetivo e incontrolável. te deixar aqui é o meu modo de acessar um momento que foi bom e se encerra em si mesmo, tal como um imperativo categórico que me conduz às cegas mesmo que as luzes por aqui sejam tão brilhantes.
o que eu quero dizer é que eu te amo. de verdade. no sentido puro e sem pretensões. eu te amo pelo que eu tenho sonhado e principalmente pelo que eu tenho me tornado. eu te amo, mas eu também aprendi a me amar e principalmente a me permitir ser amado, o que você nunca se propôs a fazer. o que não é um problema ou motivo de culpabilização. é isso e somente isso. não se esqueça disso… eu não posso te dizer essas coisas enquanto tomamos um café e conversamos sobre a vida, então precisei versar isso daqui. me deixe saber da sua ciência.
________________________________________________________________
ao passo, você tem me mostrado o lado mais leve e tranquilo que a vida pode ter. oposto de tudo que eu tenho passado durante esses vinte anos andando sem rumo.
me tem colocado em dilemas sobre o que eu sempre desejei e procurei em tantos lugares. o equilíbrio entre o peso que se carrega nos ombros, peso este que muita vezes não é seu próprio, e a leveza do ser e estar. o quão contraditório pode ser esse sentimento tão leve, mas que leva consigo uma imensidão que importa. o leve que é pesado.
chegar até aqui me exigiu um esforço grande e não é fácil transformar tudo isso em linhas que soassem poéticas de modo satisfatório. meu eu lírico se encontra em escassez quando se trata de você, porque ele não sente que deve se derramar em tintas e papel para externalizar o que leva e guarda no peito. talvez porque já não se carrega sozinho, ou mais profundamente, nem se carrega. não é um peso sentir, não há — ou pelo menos, não deveria ter — medos.
eu te amo, num sentido genuíno que eu não preciso me desdobrar em linhas e versos pra provar o que sinto. eu posso fazê-lo diretamente com você, sem a gramática e sem a sintaxe. apenas com o discurso e a linguagem que emana dos nossos corpos.
você tem me mostrado como a vida é cheia de possibilidades e que tudo isso pode ser levado tranquilamente e sem ter que tornar tudo uma grande questão. às vezes, os problemas são dos nossos eu’s do futuro e eu escolho lidar com o nosso presente, nosso agora. e, ao contrário de todos, você insiste em permanecer, em aparecer e ser alguém que se faz querer estar e que entende a complexidade que esse ato tem em mim.
você é o cuidado, a bolha com pernas que não deixam prender. é a concretização daquilo que eu há tanto tempo tenho dito aos outros que nunca ouvem, que é possível sentir muito(s) sem medo e sem sufocos. você é o lado material do amor que me confunde por ser diferente de tudo que eu havia visto até então. me provoca a pensar que, aquilo que eu sempre tanto senti e desejei e que, outrora pensei que não fosse algo passível de acontecer em minha vida, se volta para mim e me faz entender que também sou merecedor daquilo que é bom.
se antes já era complicado mensurar, pôr em palavras o que é intransponível ao discurso linguístico, agora é ainda mais complicado. não será a organização do mundo através das palavras que irá conseguir dizer o que só o meu corpo aqui se propõe a falar. parece ser algo avassalador, da mesma forma que outrora pareceu, mas, assim como antes, é só um sentimento bom que não quer ser guardado dentro do peito. o contraste que se faz agora é como não há a imposição de fazê-lo sozinho. compartilhemos a vida sem brusquidão.
2 notes
·
View notes
Photo
10 de julho
ei, como tem passado?
essa pseudo-carta nasce da emergência de se falar um pouco sobre a vida. esse período foi incrivelmente sensível pra mim. coisas boas aconteceram por aqui, outras que me fizeram ter novas perspectivas sobre coisas que outrora eu tivera tanta certeza. foi também o tempo em que um mundo caiu sobre meus ombros e eu não soube o que fazer com tanto peso e tantas questões. tudo é um ciclo, na verdade, e se você decide não concluí-lo, ele ainda continuará e de forma ainda mais complicada, eu penso.
eu já passei por uma situação semelhante à nossa quando tava no início da adolescência. déjà vú. tinha por volta dos 15 anos quando um laço importante de amizade fora rompido (por coisas absolutamente pequenas e idiotas, claro). foram meses tendo que lidar com a existência de alguém que em outro momento esteve presente na sua vida e agora vocês dois são obrigados a se tratarem feito estranhos. mas desvincular não foi uma boa escolha. com o passar dos dias, as pessoas voltam pra sua vida, de certa forma. sejam por esbarrões em corredores, sejam pelos seus amigos em comum, sejam por comentários feitos com estes sobre você… as pessoas vem e vão quando não sabem ao certo pra onde ir, pra onde se resolver.
por aqui, não é diferente. da mesma forma que você desaparece incrivelmente, você retoma indiretamente até a mim. sabe quando dizem que se você falar muito sobre uma coisa, o universo traz ela pra você? então, nesse caso, não há nem a necessidade de se clamar ao cosmos pra que você venha. isso acontece enquanto eu sento debaixo de uma árvore e, de alguma forma, intuitivamente te vejo chegar (não a mim, óbvio) perto. é possível que energias que emanam dos corpos possam vincular-se contra a nossa própria vontade? é possível que tudo que eu tenho dito e ainda direi faça parte da realidade? o quanto eu posso estar delirando no meu eu que se afoga no seu próprio mar?
por um longo período, eu procurei maneiras de apagar e dar continuidade a uma trilha que eu sequer conhecia ou tinha vontade de permanecer. mas, é difícil quando se sente que há resoluções que ainda precisam se concretizar, por mais que não façam tanto sentido mais. já são oito meses tapando os olhos e construindo uma nuvem de fumaça que deixa turva a minha visão quando tento enxergar. algumas coisas, alguns sentimentos, por mais que límpidos estejam dentro de mim, estão imersos em questões quanto a sua própria legitimidade.
passei por um processo de negação quanto ao que se pendia sobre você. não queria admitir pra mim mesmo que coisas voltavam e insistiam em não me deixar dormir durante a noite.
tem coisa que não deveria acontecer.
eu deveria ter dito não
eu deveria ter arriscado menos
eu deveria ter pedido menos
sentido menos
pensado menos
gostado menos…
você estará na minha biografia, já que fez parte de momentos ímpares que reescreveram a minha vida? eu seria capaz de escrever capítulos inteiros somente sobre você num livro totalmente confuso e sem um direcionamento comum. certamente não venderia mais que cinco exemplares. nenhum deles teria sido comprado por você.
responsabilidade também é se ausentar, não é?! temos feito isso ou, pelo menos, tentado fazer. porém, se a prática se encontra cheia de vazios de significados e decisões certas, não fazem sentido. é confuso.
você já teve a sensação de que o que se passa dentro de você, na verdade, também é compartilhado com outrem? não num sentido de que cada um tem seus parâmetros e sentimentos que dialogam entre si. mas, como se o meu não estivesse somente aqui comigo. está por aí, talvez com você. isso me causa a dúvida sobre o quão arbitrário, peculiar e até mesmo assombroso pode ser a vida. é difícil dizer o que se sente quando parece que uma parte está solta de você e, para além disso, não se sabe o que ocorre fora do seu próprio eu (como se lá dentro permanecesse um mínimo de ordem).
volte. talvez não. determinadas linhas só fazem sentido quando são pensadas e escritas juntas, dentro do seu próprio consenso. as portas se encontram emperradas, mas ainda estão abertas. um pouco de força as abrem mais fácil do que se pensa. faça das suas vontades direcionamentos para os trilhos que ainda irá percorrer.
por vezes, eu vejo a vida como um tabuleiro de xadrez e nós, as peças. cada um tem seu próprio movimento e o jogo, por mais que tenha seu nível de previsibilidade, sempre é passível de surpresa. nas mãos de armadores feito eu, nem mesmo é latente a possibilidade de se lembrar de todos os movimentos e várias vezes as jogadas são feitas às cegas e cheias de palpites. intuição sempre fora a condução das minhas ações na vida e na maioria das vezes nunca falhara comigo, mesmo que quando cometi meus erros. cedo ou tarde, as faces se revelam. talvez eu tenha dado ouvidos demais à minha intuição e esquecido de escutar o mundo ao meu redor. meu jogo sempre fora perdido, desde o momento em que a corda em torno do pescoço do rei lhe prendia o fôlego e a circulação de sangue. xeque-mate.
já foram sete parágrafos e eu me sinto envergonhado por ter chego até aqui. na verdade, isso já estava dado desde a primeira linha. por que ainda escrever sobre alguém que não se tem certeza sobre nada? eu posso pensar sobre várias coisas, as diferentes possibilidades, sobre tudo que a minha intuição insiste em dizer ao dar de cara com fatos decerto imprestáveis, mas não há coerência quando o meu ponto de referência é um passado que mesmo enquanto presente não se mostrava tão claro. peço desculpas a você e principalmente a mim mesmo por ainda nos tornar um dilema. tenho dificuldades com pontos finais e despedidas. principalmente quando não acontecem.
de todo modo, espero que tenha passado bem. descobrindo novas coisas dentro e fora de si. sendo melhor pra você e pra quem te rodeia. que tenha conseguido voltar para sua trajetória admirando-a com mais carinho e cuidado. somos adultos e é chegada a hora de agirmos feito tal. uma nova partida se inicia.
(carta aberta sobre quem se consome em ausências).
2 notes
·
View notes
Photo
7 de junho
há uma inconstância no meu peito. um anseio em exclamar aquilo que não consigo ecoar ou colocar em palavras. como expressar o vazio que se sente dentro de si?
i
hoje eu acordei e meu corpo continuou preso à minha cama. o frio lá fora já conseguia atingir a ponta dos dedos dos meus pés, fazendo com que meu desejo de ali permanecer fosse ainda maior. sentei na cama e tentei me espreguiçar. o levantar dos meus braços e a força em esticar o corpo fez com que, por alguns segundos, eu perdesse o equilíbrio e assim voltei a deitar. fecho os olhos e desejo que alguma vontade surja pra que eu me fizesse de pé. o dia não para, assim como a vida. lá fora, várias coisas pra fazer. aqui dentro, várias coisas a se resolver. lá no fundo, coisas a se morrer… e que renascem a cada dia que começa. levanto-me, pego uma toalha, roupas e me dirijo ao banheiro. preciso tomar banho e sair de casa antes das 9 da manhã. acordar cedo já é uma tarefa tão árdua e fazê-la mais uma vez por semana resulta em perda (quase) total das poucas energias que ainda me restam. de todo modo, não devo me atrasar. no chuveiro, a água quente bate nas minhas costas e traz o conforto, o relaxamento, o carinho e o calor que há muito eu precisava, mas não conseguia encontrar em mim mesmo. banhos quentes não fazem bem para a pele. não me importo. ficaria ali o restante do dia. saio do banho e volto ao meu quarto para me trocar. ao abrir a porta, vejo a desordem em que o ambiente se encontra. tudo está fora do lugar, onde não deveria estar. me vejo ali e penso “nesse fim de semana, eu arrumo tudo”. “tudo”… talvez faça isso, mas não importa, pois em menos de dois dias tudo estará como antes. não há como arrumar a bagunça do seu quarto se você se encontra imerso em confusão. me entristeço por ter consciência disso e me sentir inapto a fazer qualquer coisa, mas não há tempo para aborrecimentos. a cama desarrumada está ali do lado e o relógio segue seu trabalho. abro a porta de casa e o vento frio bate em meu rosto. de fato, agora eu acordei e o dia está prestes a começar. no fone de ouvido, a última da katy perry. talvez ela tenha razão: as coisas realmente nunca acabam. penso na última vez em que minha mente e meu coração encontravam-se leves. meses atrás. um frio na nuca e na barriga surgem junto do pensamento “eu não posso deixar que isso chegue a durar mais de um ano”. tranco o portão e guardo as chaves na mochila. minhas mãos estão frias e minha cabeça dói. “depois tomo algum remédio, deixe que passe sozinho primeiro”. não passou.
ii
repentinamente, calafrios tomam contam de mim. rememorando meu corpo trêmulo durante horas e dias. nos meus braços, uma linha vermelha escorre. a ponta dos meus dedos formigam. “acho que é a minha hora”. percorro meses no tempo e volto ao presente. a pior sensação ainda está aqui e o mundo continua desmoronado em meus pés. minhas costas doem. como seria bom receber uma massagem neste exato segundo. retomo a postura e direciono o meu foco para outras coisas. pensar tornou-se um privilégio ao qual não tenho acesso. a estética do departamento me chama atenção. o branco contrastando com o vermelho dos tijolinhos, as colunas e vigas expostas que sustentam a estrutura, algumas fissuras nas paredes... o prédio se assemelha a quem passa por ali todos dias: novos, mas com seus alicerces já aparentes e seus calos visíveis. ao menos, o edifício já sofreu com algumas manutenções, mesmo que superficiais. da sala onde costumo ficar, tem-se vista de boa parte do andar, então a todo momento pessoas passam ali na frente carregando seus fardos. outrora, se transformam em vultos e meu corpo paralisa. o notebook bem na minha frente ainda espera que a senha seja digitada. respiro fundo e dígito os códigos. tudo está pronto para começar, contudo, me falta uma coisa: “por onde dar início?” quatro palavras que demorariam dois segundos para serem ditas se transformam em trinta minutos. nada ainda produzido, tudo perdido. como minhas mãos estão gélidas e minha boca seca, pego minha garrafa d’água e me dirijo ao bebedouro. não posso ficar parado diante do que mais tem me assustado: a imprecisão do meu eu. hora de ir jantar e depois ir para aula. não consegui ler absolutamente nada. “tudo bem não ter sido produtivo hoje à tarde”, digo a mim mesmo da forma como tenho feito a meses. o elevador chega.
iii
os passos até chegar em casa são rápidos ao mesmo tempo que devagar. parece estar tudo distante demais para se alcançar. finalmente, em casa. passo pela sala e cumprimento timidamente quem esteja no recinto. na verdade, gostaria que ninguém estivesse ali, pois não tenho vontade nem condição de lidar com outras pessoas. vou para o quarto e fecho a porta. a bagunça mais uma vez se torna um incômodo para mim. respiro fundo. coloco a mochila levemente no chão e sento na cama antes de deitar. a ansiedade começa a ficar mais forte, já que a única coisa que quero é dormir profundamente e isso não vai acontecer naquele momento. olho para o celular. mensagem da minha mãe. a respondo com o máximo de calma que consigo encontrar. não quero deixá-la nervosa ou preocupada. tudo precisa estar em ordem. nos despedimos e me sinto leve por não ter que respondê-la mais. preciso ficar sozinho. me sinto culpado pela leveza sentida segundos antes. egoísmo da minha parte ter este tipo de pensamento. durante o dia todo, pensei na barra de chocolate que está na última gaveta da minha cômoda. abro e pego a sacola que almejei durante horas do meu dia. tento preencher o vazio e a solidão com um pouco de açúcar e serotonina. “drogas controlam tudo ao meu redor”. ataco o pacote e minimamente fico bem. o sabor se esvai mais rápido que os tabletes na palma da minha mão. culpa. “não comerei tanto amanhã, preciso equilibrar”. ainda estou com as roupas que usei durante o dia todo, preciso me arrumar para dormir. no dia seguinte, preciso levantar ainda mais cedo. no relógio já são quase meia-noite e as luzes do quarto ainda estão acessas. espero pelo menos conseguir ouvir o despertador na manhã do outro dia. apago as luzes. o teto do quarto se transforma num grande projetor. os dias correm pela minha mente rapidamente, meus erros insistem em congelar, as melhores escolhas não feitas no momento lentamente se movem. “como pude deixar chegar até este ponto?” são quase uma hora da manhã e, dessa forma, tenho uma média de 4 a 5 horas de sono nesta noite. não sei quando o cansaço e o sono virão. espero que em breve.
1 note
·
View note
Photo
se a cultura teria por objetivo tornar clara a distinção entre o "nós" e o "eles", esta também teria sei caráter funcional, ao ponto em que surge, se concretiza, mas não torna-se estática.
então, pare e pense nestas linhas que seus olhos correm em direção ao mais íntimo que entrego aqui. talvez palavras sejam a minha cultura e a sua função seria propôr alternativas, se não válvulas de escape, quanto a tudo que por ventura passa diante de mim e permanece e fica e se transforma e se movimenta e se morre.
e se da mesma forma que o corpo torna-se objeto de tabu e distinção, revelando as dinâmicas por trás da sociedade e, assim, faz com que percebemos como que não somos tão uno assim quanto pensávamos que seríamos. acontecem fenômenos distintos mas, ao mesmo tempo, tão semelhantes que é fácil parar e perceber que tudo talvez esteja mais próximo de nós e que, no fim, sejamos "nós" os "eles" de nós mesmos.
da forma que o mundo se concebe aos nossos olhos, as estruturas que firmam o que chamamos de sociedade revela como tudo se discorre sem a mínima noção do que se passa. sagrado e profano, da mesma forma que se afastam e dividem-se tal como muro de Berlim já o fez, caminham lado a lado no mundo, pois, não haveria a exclusão de um sem a existência do outro. yin e yang. dia e noite.
faça analogias tanto quanto for preciso. diga que sou o profano, ao mesmo tempo que o sagrado e me mantenha distante, intocável. não ouse negar a simbologia por trás de tudo que rodeia o nosso bem-mal-estar. tudo há de ter um porquê.
normatize suas condutas e veja a vida passar por entre os seus dedos com auxílio de valores e crenças que te dirão exatamente o que fazer e o farão de forma tão sutil que você sequer irá perceber, ao passo que saberá, de alguma forma, que se por algum acaso, desvie-se da norma, além de penalidades em potencial ocorrerão, também tornar-se-ia distante tudo o que trouxesse aquilo de seu maior desejo e sensibilidade. regras são boas, não fuja delas ou então você acordará no seu inferno de dante e nunca sairá dele.
mas, ao avaliar suas condutas, procure estabelecer um equilíbrio entre as sanções da sociedade e as suas próprias convicções, pois "a forma de desculpa, que é um modo muitas vezes socialmente aceitável de se reduzir a culpa" pode não caber no espaço entre-nós, da mesma forma que em tudo há seus elementos (in)conscientes e não há nada de errado na coexistência destes, contudo, acorde que se faz jus reconhecer as propositalidades da vida.
a vida se mostra muito complexa e difícil de se ler, onde há tudo aquilo que não haveríamos de compreender e almejar conseguir seria mera tolice. e se a linguagem e a simbologia estejam e sejam imbricadas à estrutura da sociedade, assim, hierarquizamos e qualificamos durante a vida tudo o que há.
ordem e progresso. se organize e olhe para a frente, não há razões nem tempo para que se olhe para trás e se prenda ao que já passou. quem vive de passado seria apenas museu? o que fazer com as cartas, as palavras ditas, as promessas de mindinho feitas que agora não passam de cinzas? jogai aos quatro ventos e as veja desaparecer em meio à paisagem? ou, sabiamente utilizá-las para o seu próprio renascimento? adubo ao peito para que as flores nasçam mais belas.
se as estruturas dos mitos aqui fosse aplicada, eu poderia lhe dizer que, em mim, a mitologia perpassa Aquiles. calcanhar de Aquiles. sinônimo de força, mas também de fraqueza. talvez, eu fosse capaz de desvendar os mistérios deste mito e compreender as engrenagens que me levariam ao epílogo antes mesmo da trama ser desenvolvida.
talvez o amor seja o meu calcanhar de aquiles, se tornando aquilo que, a qualquer momento, possa me fazer ter o último suspiro e me causar a última dor, a mais insuportável de todas. mas, de todo modo, torna-se aquilo que me transforma num ser, não só vulnerável, mas também humano.
- vinxoliveira.
0 notes