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Quando falarem de mim Não me defenda Faça bom uso do meu maldizer Guarde à mim todos os piores adjetivos Pilantra Mentirosa Abantesma Espurco Grasnadora Bife de rato Já não posso me esponder por de trás da pilastra Ou a pilastra diminuiu com o tempo ou eu que fui crescendo
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Espelho 1 Hoje acordei gooorda Olhei no espelho E me vi inchada “São gases”, sou merilyn monroe Um quadro renascentista em pleno séc XXI. uma gorda anacrônica só pode ser bonita no tempo errado Espelho 2 Hoje vi meu corpo gordo Ele me diz: goza, garota Seu corpo é seu espaço-tempo Aqui & agora Se Gorda és Não deves gozo a ninguém Espelho 3 Levei meu corpo gordo para comer Nos deleitamos num belíssimo fast food Pague um leve dois Peque três leve em dobro Saímos do ambiente climatizado Com um copo de refrigerante de um litro Pra bebermos só nós duas Eu e minha barriga gorda Espelho 4 Ontem eu estava gorda Hoje também A prova quem me dá é meu corpo Que só existe depois do espelho Espelho 5 O meu reflexo quando mostra, só mostra meu corpo gordo Levei no vidraceiro, ele disse que não existe conserto de espelho. O joguei fora Espelho 6 A tarde saí de casa me sentindo estranha Pela ausência de imagem tive que passear por aí sem corpo Nem gordo. Nem magro. Nem eu. Nem ele. Saí na rua e nem saí na verdade Fui na Paranaíba comprar um novo espelho Espelho 7 Me vi mais uma vez depois de vários dias Dei uma espiada no novo espelho Que me deixa ainda mais gorda que o último Espelho 9 O português chega no brasil Pra trocar batismo por terra Espelho por vida O índio de Pindorama pagou caro pra se ver refletido Quase o mesmo preço pago à vista por Eva O custo da imagem é alto Espelho 8 Aproveitei o peso de minhas ancas Pra quebrar o espelho em uma só quadrilzada Satisfatório: Matando meu corpo, matei o espelho Com o bom uso da reciclagem Pude evitar o gasto da gilete de plástico Espelho 9 Morri feliz, fui uma das poucas que pôde assistir ao espetáculo da própria morte Refletida pela arma do próprio crime No fim, concluí: Morrer pelos estilhaços do espelho, me custou menos Espelho póstumo A gilete no fim do século viria a ser veneno de tartaruga Mas mesmo depois de percorrer todo o caminho do ralo A lâmina e as frações do meu reflexo Continuariam dividindo a categoria entre os peritos do IML de “objeto supérfluo cortante”
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mudo-som
O ritmo é um jogo de plano de fundo já no que diz respeito ao som o fundo é silêncio Diz-que-me-diz O silêncio É repouso pra qualquer ritmo que distante reverencio Como aquela pessoa que amei de várias maneiras opa, errata: me precipitei, ainda a amo pelas beiras em várias músicas dissidentes por novos sentimentos remetentes
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Se ainda acorda As seis Com o café quente Gentilmente molhado no pão amanhecido Se os pés pra fora da cama são As sete Um arrependimento tardio As oito já não há retorno Foram poucos trinta minutos de atraso que já não poderiam ter sido Foi uma hora de uma fila que já não é somente Se ontem o trabalho lhe foi inadiável hoje é ontem e ontem já não pode ser mais porque os relógios o amanhã urgem porque o Relógio cortou o pulso pra poder ter um tempo em paz pelo medo de estar sempre preso as mãos. as Oito e Trinta, Às mãos que comem são concedidas o direito ao maquinário: vazio de datas, pobre de ciclos, desprovido de eras o Tempo deu um tiro As nove no velho que, tranquilo, sentado num banco de uma praça pita seu cigarro de palha em uma cidade que mora longe, e nem mais vive preocupado com o etéreo fato de que já são Nove e Trinta
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carnificina
nos braços nesses seus que seguram as metralhadoras como quem empunha um compasso no meu peito-trincheira, nesses que dançam em sinais vermelhos pela cidade, que dançam os atrasos com os dedos de quem vive em espera pra tomar todo meu corpo com as suas longa pernas, ocupando minha pobre balsa inteira poe esse oceano infinito, e n t e d i a n t e em que remamos à beira rio você quer saber pra onde vamos e eu chego sempre atrasada, nunca consigo achar a resposta, mesmo com o agouro das luzes verdes que cultivamos, fazendo lembrança dos seus olhos, que não são verdes como os indicativos dos sinaleiros mas estão sempre meio cheios, sempre permissivos se lançando aos meus, nunca meio vazios. Esse seu tom de quem vigia como um leopardo qualquer pulo meu de gazela dessa minha incontestável posição de presa eu, frágil, forte, presa sangrando na sua boca por entre os dentes, por entre as mandíbulas e você ri pela sua boca avermelhada que me aponta o caminho oposto a sua merda de rosto que bordei a contragosto na cara dos meus filhos, desses filhos que juntos nunca teremos. você me avisa que já vem e eu mórbida, sonsa, sem movimento ignoro os indicativos dos climatologistas de que chegam os vendavais e me ponho em sua frente sem guarda chuvas retornando ao meu estado de alimento pros seus impulsos canibais festas, bacanais haverão com meus restos, momentos seguintes à refeição, mas nada, nada anterior a tua satisfação piscam os alertas em sinais logo após a meia noite e me revisito nas velhas carneficinas que vêm como um lembrete um pouco mais abaixo do umbigo onde se manifestam as vísceras daqui, vendo seu olho as nove em plena noite te anuncio ao sol anuncio você contemplativo me olhando torto à porta do mundo à beira do vácuo quase morto me estendendo a mão para irmos rumo à guerra que já fomos e que ser não mais poderemos
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cloaca
Mulheres vão juntas ao banheiro pra dividirem as coisas controladas pelo esfíncter e que escorrem pelos orifícios: mijo, bosta, lágrima, suor, criança mora, entre o ânus e a vagina, a cloaca que se inflama quando encosta nos pilares judiciais de tudo que finda dentro a cloaca é o último órgão que surgiu com a evolução das mulheres - com ou sem buceta - ela derrama o ovo da musa não fecundada, o ovo fértil, choco, que se vale de expurgar tudo que o útero é incapaz de sangrar
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o fino fio que sustenta a vida é desafiado pelo equilibrista que vive há duas colheres de chá da queda livre foi a passagem obrigatória pelo vale da sombra da morte, sombreado por aquela árvore que vimos da qual comi a fruta madura, cítrica e aveludada é a pele que troco quando já não há espaço pra mim dentro do meu corpo escorro por entre as paredes da cidade do relógio que, seca no inverno, me apunhala com o badalar sincronizado às pontadas da pedra do meu sapato o tempo, é um erro meu, nosso animal rasteiro difícil de acessar sua existência é comprovada por seus sinais, pelos resquícios deixados pra trás com seu passar sorrateiro e o futuro é só mais uma tragédia que ainda aconteceu
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eu vivo em alerta querendo te achar na onda certa mais cedo do que tarde, mas antes ainda tarde do que nunca acaba a parafina antes mesmo que o mar alcance a tempo sua chegada antes mesmo que eu vire a esquina rumo a sua casa pensando que sou gente boa rumo à armadilha
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O amor parado num ponto de ônibus da avenida goiás, com a calça abaixada se masturbava com o espelho voltado pro falo se exibindo aos mendigos que pediam esmola na calçada. Falava pouco: Os gestos falam mais: Amor é prática: talvez por isso ele estivesse enfiando o dedo no cu de todos aqueles que passassem perto balbuciando qualquer coisa que soasse bem aos ouvidos. Subiu a calça, abotoou o cinto, baforou a fumaça do cachimbo de pedra enquanto resmungava que a revolução e a liberdade só vivem bem quando beijam a boca da morte.
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eu não quero seu amor polido não quero o amor sagrado porque ele não alcançaria a nós profanos, distópicos, reais que chegaremos logo após ao cheiro de carne podre daquele tapa na cara durante a nossa briga de ontem eu quero o seu amor fragmentado desse jeito mesmo desse aí que você disse que sabe me dar eu quero o nosso amor com suor de pele sem banho, puro, do jeito que é sem interferência de qualquer odor (sabonetes, perfumes, pretéritos) que não os seus amo você me querendo do jeito que quer com o amor que tem gosto de cerveja quente que tem gesto de dedo na cara, dos nossos orgulhos baratos que vêm com a promessa de tudo que viemos a ser e ainda bem, porque agora sei (antes não) que somos tudo, menos divinos
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O salário do último dia útil do mês anuncia a libertação que é certa asa sem pena faz passarinho voar isso é certo pinguim por preguiça não voa e eu não pago as contas por falta de dinheiro me espelho no pinguim no mais, tudo certo, tudo bem... se o zelador vem de segunda a sábado isso é só mais uma coisa certíssima, bato o ponto de segunda a sexta tudo certo quanto à isso também "bela" é sagrado quando me entoam a "bela" estão certos porque me excomungam “tá tudo certo e por aí?” tudo o certo escrito em plenas linhas tortas descobro o meu problema: a vontade de deus certeiras são, essas sim são, as meias palavras nas linhas médias e o verbo torto em linha reta que saber se quando você me pergunta se estou bem você fala, quero dizer, quando fala, há retórica mas, diga lá, comé que cê tá?
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Jasmim-manga
eu não quero passar a mão no seu rosto e te jurar perdão eterno, tampouco quero teus olhos ardendo em salmoura eu não vou me ajoelhar no dia do julgamento final não vou empunhar o martelo que jura libertação não vou dizer das nossas tardes muito menos de como seu corpo fino vestiu bem meus largos quadris. pouco me importa o saudosismo, querida, eu lhe entrego o passado e espero que ele repouse na concha das mãos porque em nosso compêndio não há pouco mais que história e chorume. você anda por aí e o seu cabelo demodê me atrai os sentidos há algo de pluma e chumbo pairando nos três metros e meio que divide a sua pele e a minha querida, vá, corra de mim, de nós já não há tribunal que nos julgue, muito menos mão que nos afague.
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retorno à mim após uma longa viagem. voltei pra casa. aquela mesma que deixei quando parti as mesmas roupas por lavar e os mesmos pratos sujos, cuspidos intactos, sublimes como os deixei anos atrás misturo pronomes troco verbos destruo paredes a casa ainda é a mesma e o retorno à mim foi inadiável. em qualquer lugar entre o bueiro e o esgoto pairam os vermes que eu mesma me encarreguei de cagar a minha bosta tem o mesmo cheiro de antes e como antes é sutil insuportável as vibrissas do meu nariz aceitaram bem o cheiro impregnado de tudo que me esforço pra deixar no vaso minha ilusão foi achar que a descarga e a nova máquina de lavar pratos e roupas sanariam o meu problema doce sonho que mora na espessa neblina do perfume que ouso em borrifar no meu corpo no mais, toda essa viagem de anos me fez lidar bem com o fedor grave da fragrância que vem junto comigo bem aqui no pé do pescoço me encarrego de alertar a todos que me visitam que depois do martírio aprendi a limpar bem a minha casa com toda bosta de me disponho a fabricar cotidianamente e que o risco de uma possível intragabilidade do odor é palpável só depois de uma faxina intensa e inevitável à base de bolo fecal pude mudar de lar, mas não de casa, muito menos de intestino. durmo tranquila no bidê de mármore que coloquei recentemente no lavabo da sala de estar que me ajuda a lembrar que ainda não há tecnologia que me liberte de qualquer excremento meu. cocô, dejeto, fezes, redenção e eu explorada em todas as partes todos os cus todos os dialetos em toda espessura de todo o meu canal retal que foi gentilmente parido junto ao resto do meu corpo com todo amor do mundo ao pedaço de bosta de sempre
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