verdadenapratica
Verdade na Prática
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verdadenapratica · 4 years ago
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Vaidade
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‪Tudo é vaidade,‬ ‪O corpo em sua juventude,‬ ‪A memória em seu esplendor‬ ‪E a alma em sua jornada.‬
‪Tudo é vaidade,‬ ‪O fogo e o seu ardor,‬ ‪A água em sua força‬ ‪E o vento impetuoso.‬
‪Tudo é vaidade,‬ ‪A amizade que um dia se vai,‬ ‪O amor que um dia se esfria ‬ ‪E a paixão que um dia se apaga‬.
por Luís A R Branco
from Vaidade
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verdadenapratica · 4 years ago
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O sulcador majestoso dos espaços azuis
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Conta-se uma história, que um certo dia, numa manhã ensolarada, que um pássaro aparecera em uma fazenda na minha querida cidade natal, Novo-Horizonte, interior paulista.
Era pequeno e, ao invés da característica plumagem negra de urubu, apresentava-se com o corpo revestido por leve penugem branca, o que lhe dava um aspecto feio e grotesco.
Seu aparecimento provocou intenso alvoroço, entre os moradores. Santiago agarrou-o, acolheu-o carinhosamente, levou-o para casa, deu-lhe alimentos e, num gesto que bem demonstra a sensibilidade de seu coração, trouxe para a cidade.
À medida que o tempo passava, crescia o pequeno pássaro transviado, aumentando na mesma proporção o afeto recíproco entre Santiago e o sulcador majestoso dos espaços azuis.
A primitiva penugem branca fora substituída pelo sombrio e imaculado colorido negro; o bico de ave carnívora delineava pouco a pouco os seus poderosos contornos a procura do alimento preferido.
Em estranha e singela cerimônia, Santiago deu-lhe o nome de Sombra, gravando-o em pequena chapa de reluzente metal que lhe foi amarrado à perna direita.
E desde então, o negro pássaro constitui-se alvo de todas as atenções. Manso e obediente às ordens de seu senhor, enchia a casa toda com o rufar de suas enormes asas; quebrava o silêncio com o seu crocitar característico, afugentava os gatos do telhado, investindo, de outro lado, contra os representantes da raça canina que, furtivamente, procuravam virar as latas que encontravam no fundo do quintal…
Sob o abrigo seguro de seu humano protetor, dormia encolhido no recanto isolado de uma dependência existente numa extremidade da casa.
Acordava aos primeiros albores da manhã, estirava as asas num genuíno espreguiçamento matinal e, com passos lentos e desengonçados, caminhava pela casa toda, a espera da primeira refeição, que não faltaria.
Depois, talvez cedendo aos impulsos do instinto, erguia voo, desaparecendo na linha azul do horizonte. Quiçá encontraria nessas viagens, lá ao longe, no recesso da mata silenciosa ou no cume de uma rocha alcantilada, a doce companheira que, arisca e desconfiada, recusava-se a segui-lo, não acreditando na bondade dos homens.
Horas depois regressava, anunciando ruidosamente sua chegada. Santiago esperava-o sempre, oferecendo-lhe como de hábito, suculentos nacos de carne que Sombra devorava em poucos instantes.
Mas, a maldade humana – certa feita, quando pousara em plena clareira no centro da cidade, garotos travessos o agarraram brutalmente fraturando-lhe uma asa. Santiago, prevendo o desastre, correu apressadamente, levando para a casa o urubu ferido.
Prodigalizou-lhe todos os cuidados, recorrendo mesmo à competência de conhecido médico da cidade para salvar o pássaro que tanto estimava.
Mas a terrível fratura exposta não deixava dúvidas sobre o intenso sofrimento e próximo fim da infeliz ave. Santiago não poderia suportar a lenta agonia do pobre Sombra. Sem coragem para efetuar o golpe de misericórdia , encarregou seu irmão Cândido para desfechar o tiro decisivo. Este, vacilante e comovido, executou a ordem dolorosa.
O estampido da cápsula ao deflagrar-se ecoou tristemente pela casa repercutindo em todas as dependências.
O negro pássaro agitou pela última vez suas imensas asas, como derradeiro agradecimento ao seu benfeitor, quebrando-se depois na eterna imobilidade da morte.
Santiago sentiu um nó na garganta e, no soluço que brotou do coração bem formado consubstanciava-se toda a afeição que, de modo singular, dedicava ao pobre ser alado que certa manhã aparecera na cidade de Novo-Horizonte/SP, provocando intenso alvoroço!…
Nelson Valente (@Escritor4)
É professor universitário, jornalista e escritor
Texto narrado e com sonoplastia
from O sulcador majestoso dos espaços azuis
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verdadenapratica · 4 years ago
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Acordo Ortográfico? O que tem ocorrido até aqui é um grande “desacordo”.
Há algum tempo chegou às minhas mãos a Moderna Gramática Portuguesa do grande gramático, linguista e filólogo brasileiro Evanildo Bechara, publicada primeiramente em 1961, posteriormente numa versão revisada de 1999, e mais adiante numa versão mais recente de 2009. A fantástica obra de Evanildo Bechara foi concebida dentro deste processo de mutação da língua portuguesa que começou em 1987 e veio a ser concluída em 2016. Bechara contemplou nas versões anteriores a 37º Edição o português pré-acordo ortográfico e mesmo com a nova versão seu contributo é riquíssimo.
Em Portugal o acordo ortográfico foi regulamentado, mas não sem protesto dos portugueses que assim como os brasileiros viram-se de um momento para outro estranhos à sua língua materna. Não é incomum ouvirmos em Portugal alguém dizer: “Eu não escrevo segundo as normas do novo acordo ortográfico”. Temos as duas formas em uso, talvez as novas gerações conseguirão unificar a belíssima língua portuguesa, entretanto, até lá teremos que conviver com uma ambiguidade inevitável.
O texto abaixo do professor Nelson Valente traz um rico relato histórico do desenvolvimento da nossa língua brasileira, bem como uma belíssima descrição das características do português brasileiro. Sou grato ao Nelson por este contributo e espero que possa enriquecer os seus leitores.
~Luis Alexandre Ribeiro Branco
A língua portuguesa formou-se como língua específica, na Europa, pela diferenciação que o latim sofreu na Península Ibérica durante o processo de contatos entre povos e línguas que se deram a partir da chegada dos romanos no século II a.C., por ocasião da segunda Guerra Púnica, no ano de 218 a.C(1). 
Na Península Ibérica o latim entrou em contato com línguas já ali existentes. Depois houve o contato do latim já transformado com as línguas germânicas, no período de presença desses povos na península (de 409 a 711 d.C). 
Em seguida, com a invasão mulçumana (árabes e berberes), esse latim modificado e já em processo de divisão entra em contato com o árabe. Na primeira fase do processo de reconquista da Península Ibérica pelos cristãos, que tinham resistido no norte, os romances (latim modificado por anos de contato com outros povos e línguas) tomaram uma feição específica no oeste da península, formando o galego-português e em seguida o português.
Formou-se paralelamente o Condado Portugalense e, a partir dele, um novo país, Portugal. Toma-se como data de independência do condado do reino de Castela e Leão a batalha de São Mamede em 1128. 
Essa nova língua, depois de um longo período de mudanças correspondente a todo o final da chamada Idade Média, é transportada para o Brasil, assim como para outros continentes, no momento das grandes navegações do final do século XV e do século XVI.
PORTUGUÊS: LÍNGUA OFICIAL DO BRASIL
Com o início efetivo da colonização portuguesa em 1532, a língua portuguesa começa a ser transportada para o Brasil. Aqui ela entra em relação, num novo espaço-tempo, com povos que falavam outras línguas, as línguas indígenas, e acaba por tornar-se, nessa nova geografia, a língua oficial e nacional do Brasil. Podemos estabelecer para esta história quatro períodos distintos, se consideramos como elemento definidor o modo de relação da língua portuguesa com as demais línguas praticadas no Brasil deste 1532 . O primeiro momento começa com o início da colonização e vai até a saída dos holandeses do Bras il, em 1654. Nesse período o português convive, no território que é hoje o Brasil, com as línguas indígenas, com as línguas gerais e com o holandês, esta última a língua de um país europeu e também colonizador. As línguas gerais eram línguas tupi faladas pela maioria da população. Eram as línguas do contato entre índios de diferentes tribos, entre índios e portugueses e seus descendentes, assim como entre portugueses e seus descendentes. A língua geral era assim uma língua franca. O português, como língua oficial do Estado português, era a língua empregada em documentos oficiais e praticada por aqueles que estavam ligados à administração da colônia. 
O segundo período começa com a saída dos holandeses do Brasil e vai até a chegada da família real portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808. A saída dos holandeses muda o quadro de relações entre línguas no Brasil na medida em que o português não tem mais a concorrência de uma outra língua de Estado (o holandês). A relação passa a ser, fundamentalmente, entre o português, as línguas indígenas, especialmente as línguas gerais, e as línguas africanas dos escravos. Esse período caracteriza-se por ser aquele em que Portugal, dando andamento mais específico ao processo de colonização, toma também medidas diretas e indiretas que levam ao declínio das línguas gerais. A população do Brasil, que era predominantemente de índios, passa a receber um número crescente de portugueses assim como de negros que vinham para o Brasil como escravos. Para se ter uma ideia, no século XVI foram trazidos para o Brasil 100 mil negros. Este número salta para 600 mil no século XVII e 1,3 milhão no século XVIII. O espaço de línguas do Brasil passa a incluir também a relação das línguas africanas dos escravos e o português. Com o maior número de portugueses cresce também o número de falantes específicos do português. E isto tem uma outra característica: os portugueses que vêm para o Brasil não vêm da mesma região de Portugal. Desse modo, passam a conviver no Brasil, num mesmo espaço e tempo, divisões do português que, em Portugal, conviviam como dialetos de regiões diferentes. Nesse período, ainda, há dois fatos de extrema importância. O primeiro deles é a ação direta do império português que age para impedir o uso da língua geral nas escolas. Esta ação é uma atitude direta de política de línguas de Portugal para tornar o português a língua mais falada do Brasil. Uma dessas ações mais conhecidas é o estabelecimento do Diretório dos Índios (1757), por iniciativa do Marquês de Pombal, ministro de Dom José I, que proibia o uso da língua geral na colônia. Assim, os índios não poderiam mais usar nenhuma outra língua que não a portuguesa. Essa ação, junto com o aumento da população portuguesa no Brasil, terá um efeito específ ico que ajuda a levar ao declínio definitivo da língua geral no país. O português que já era a língua oficial do Estado passa a ser a língua mais falada no Brasil. O terceiro momento do português no Brasil começa com a vinda da família real em 1808, como consequência da guerra com a França, e termina com a independência. Poderíamos utilizar, como data final desse período, 1826, pois é nesse ano que se formula a questão da língua nacional do Brasil no parlamento brasileiro. A vinda da família real terá dois efeitos importantes. O primeiro deles é um aumento, em curto espaço de tempo, da população portuguesa no Brasil. Chegaram ao Rio de Janeiro em torno de 15 mil portugueses. O segundo é a transformação do Rio de Janeiro em capital do Império que traz novos aspectos para as relaçõe s sociai s em território brasileiro, e isto inclui também a questão da língua. Logo de início Dom João VI criou a imprensa no Brasil e fundou a Biblioteca Nacional, mudando o quadro da vida cultural brasileira, e dando à língua portuguesa aqui um instrumento direto de circulação, a imprensa. Esses fatos produzem um certo efeito de unidade do português para o Brasil, enquanto língua do rei e da corte.
O quarto período começa em 1826. Nesse ano o deputado José Clemente propôs que os diplomas dos médicos no Brasil fossem redigidos em “linguagem brasileira”. Em 1827 houve um grande número de discussões sobre o fato de que os professores deveriam ensinar a ler e a escrever utilizando a gramática da língua nacional. Ou seja, a questão da língua portuguesa no Brasil, que já era língua oficial do Estado, se põe agora como uma forma de transformá-la de língua do colonizador em língua da nação brasileira. Temos aí constituída a sobreposição da língua oficial e da língua nacional. Essas questões tomam espaços importantes tanto na literatura quanto na constituição de um conhecimento brasileiro sobre o português no Brasil. É dessa época a literatura de José de Alencar que tem debates importantes com escritores portugueses que não aceitavam o modo como ele escrevia. É também dessa época o processo pelo qual os brasileiros tiveram legitimadas suas gramáticas para o ensino de português e seus dicion��rios. Dessa maneira cria-se historicamente no Brasil o sentido de apropriação do português enquanto uma língua que tem as marcas de sua relação com as condições brasileiras. Pela história de suas relações com outro espaço de línguas, o português, ao funcionar em novas condições e nelas se relacionar com línguas indígenas, língua geral, lá incutem línguas africanas, se modificou de modo específico e os gramáticos e lexicógrafos brasileiros do final do século XIX, junto com nossos escritores, trabalham o “sentimento” do português como língua nacional do Brasil . Esse quarto período, no qual o português já se definira como língua oficial e nacional do Brasil, trará uma outra novidade, o início das relações entre o português e as línguas de imigrantes. Começa em 1818/1820 o processo de imigração para o Brasil, com a vinda de alemães para Ilhéus (1818) e Nova Friburgo (1820). Esse processo de imigração terá um momento muito particular na passagem do século XIX para o XX (1880-1930). A partir desse momento entraram no Brasil, por exemplo, falantes de alemão, italiano, japonês, coreano, holandês, inglês. Deste modo o espaço de enunciação do Brasil passa a ter, em torno da língua oficial e nacional, duas relações significativamente distintas: de um lado as línguas indígenas (e num certo sentido as línguas africanas dos descendentes de escravos) e de outro as línguas de imigração. Essa diferença não é simplesmente uma diferença empírica do tipo: as línguas indígenas e seus falantes já existiam no Brasil quando da chegada dos portugueses e as línguas de imigração vieram depois. A diferença é de modo de relação. As línguas indígenas e africanas entram na relação como línguas de povos considerados primitivos a serem ou civilizados (no caso dos índios) ou escravizados (no caso dos negros). Ou seja, não há lugar para essas línguas e seus falantes. No caso daimigração, as línguas e seus falantes entram no Brasil por uma ação de governo que procurava cooperação para desenvolver o país. E as línguas que vêm com os imigrantes eram, de algum modo, línguas nacionais ou oficiais nos países de origem dos imigrantes. Essas línguas são línguas legitimadas no conjunto global das relações de línguas, diferentemente das línguas indígenas e africanas. As línguas dos imigrantes eram línguas de povos considerados civilizados, em oposição às línguas indígenas e africanas. Enquanto língua oficial e língua nacional do Brasil, o português é uma língua de uso em todo o território brasileiro, sendo também a língua dos atos oficiais, da lei, a língua da escola e que convive, na extensão do território brasileiro, com um grande conjunto de outras línguas (de um lado as línguas indígenas e de outro as línguas de imigrantes). Por outro lado, enquanto língua nacional, o português é significado como a língua materna de todos os brasileiros, mesmo que um bom número de brasileiros tenham como língua materna outras línguas, ou indígenas ou de imigrantes.
CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
A vinda da língua portuguesa para o Brasil não se deu, como vimos, em um só momento. Ela se deu durante todo o período de colonização entrando em relação constante com outras línguas. Por outro lado, o povoamento do Brasil se fez com a vinda de portugueses de todas regiões de Portugal. Desse modo, sua vinda para o Brasil traz para esse novo espaço as diversas variedades do português de Portugal. Estas variedades se instalarão em lugares diferentes do Brasil, mas, em muitos casos, elas convivem num mesmo espaço, como no Rio de Janeiro, por exemplo. O português do Brasil vai, com o tempo, apresentar um conjunto de características não encontradas, em geral, no português de Portugal, da mesma maneira que o português, em diversas outras regiões do mundo, terá características também específicas, em virtude das condições novas em que a língua passou a funcionar. Há que se considerar que, se levamos em conta a língua escrita, vamos encontrar uma maior proximidade entre o português do Brasil, assim como o de outras regiões do mundo, com o português de Portugal, já que a língua escrita está mais sujeita à normatização da língua efetivada através das gramáticas normativas, dicionários e outros instrumentos reguladores da língua. Na língua oral o processo de incorporação de características específicas se faz de modo mais rápido. Meu objetivo não é, neste texto, discutir essas diferenças internas, mas mostrar como o português do Brasil apresenta um conjunto importante de características específicas. A seguir, vou apresentar um conjunto destas características encontráveis no português do Brasil. Vou me limitar a apresentar aqui o que chamarei de diferenças gramaticais e lexicais (de vocabulário). Evidentemente que a caracterização do português do Brasil envolve a consideração efetiva das diversas divisões a que a língua portuguesa está sujeita no Brasil, tanto regionais quanto sociais e históricas (tal como mostram o artigo “Variedades do português no mundo e no Brasil” de Emílio Pagotto, para a questão das diferenças na língua, e o artigo “Língua brasileira” de Eni Orlandi, sobre os aspectos discursivos envolvidos nessa questão). Nas características gramaticais podemos distinguir dois conjuntos de características: o das características fonético-fonológicas, o das características morfológicas e sintáticas.
CARACTERÍSTICAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS 
Neste nível, a grande especificidade do português do Brasil, se comparado ao de Portugal, considerando o que Pagotto nos mostra no seu texto, é seu sistema de vogais. Para observar esse aspecto é necessário distinguir, tal como nos mostrou Câmara (1953, 1970) a vogal na posição tônica (da sílaba com acento de intensidade), a vogal na posição átona final (como o /a/ de fuga), e a vogal na posição pretônica (como o /a/ de até). a) Na posição tônica, o português do Brasil apresenta 7 vogais: /a/ (entrada); /é/ (deve), /ê/ (medo), /i/ (viga); /ó/ (avó), /ô/ (avô), /u/ (urubu). Note-s e que a vogal /a/ é pronunciada, com timbre aberto, com a língua em repouso embaixo, na boca; que as vogais /é/, /ê/, /i/ são anteriores, elas são pronunciadas com um movimento da língua para frente; e as vogais /ó/, /ô/, /u/ são posteriores, pronunciadas com um movimento da língua para trás. Em Portugal (8), além dessas vogais, há também um /ä/, que não é aberto como o /a/. Este /ä/ é pronunciado com uma certa elevação da língua, diferentemente do /a/ aberto pronunciado com língua em repouso, embaixo na boca. Assim é que, na língua falada, se distingue /falämos/, presente do indicativo, de /falamos/ passado perfeito (9). b) Na posição átona final, no português do Brasil, de modo geral, há três vogais /a/ (casa), /i/ (barbante, pronunciado [barbãti]), /u/ (me nino, pr onunciado [meninu] e mesmo [mininu]). Em Portugal são também três vogais, /ä/, /ë/ e /u/. Assim diferentemente do Brasil, /ä/ é pronunciado com a língua mais alta, com timbre mais fechado, /ë/ é pronunciado fechado, mas numa posição mais posterior do que o /ê/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas características fonéticas do /u/ brasileiro. c) Na posição pretônica, há no português do Brasil, em geral, 5 vogais, /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/, enquanto que em Portugal mantêm-se as 8 vogais da posição tônica, com a diferença de que o /ê/ passa a /ë/, numa pronúncia mais central: /a/, /ä/; /é/, /ë/, /i/; /ó/, /ô/, e /u/.
Por outro lado, há no Brasil um conjunto importante de palavras de origem indígena, comumente o tupi, assim como de origem africana. Exemplos de palavras de origem indígena: capim, cupim, caatinga, curumim, guri, buriti, carnaúba, mandacaru, capivara, curió, sucuri, piranha, urubu, mingau, moqueca, abacaxi, caju, Tijuca, etc. São, em geral, palavras relativas à designação da flora, da fauna, de alimentos, assim como de lugares. Exemplos de palavras de origem africana: caçula, cafuné, molambo, moleque; orixá, vatapá, abará, acarajé; banguê; senzala, mocambo, maxixe, samba. São, em geral, palavras que designam elementos do candomblé, da cozinha de influência africana, do universo das plantações de cana, do universo de vida dos escravos, e mesmo outros de aspecto mais geral. Grandes listas de palavras dessas línguas que se incorporaram ao português podem ser encontradas em diversos livros de linguística histórica do português.
Várias outras características podem ser atribuídas ao português do Brasil, mas a melhor forma de tratar disso é observar o modo como o português se divide em falares regionais específicos ou registros distintos de acordo com situações particulares do funcionamento da língua, como o formal ou o coloquial, o íntimo e o público, etc. Por outro lado, fica claro que o estudo do português do Brasil indica para a necessidade de se aprofundarem pesquisas históricas que deem mais relevo à questão das relações do português num espaço multilíngue muito particular.
Acordo Ortográfico: “aberrações”, “arbitrariedades”, “caos” e “fracasso linguístico”.
Um manifesto dos “Cidadãos em Portugal contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990”, que é hoje revelado, afirma que este novo modelo de escrita abriu “uma caixa de Pandora”, criou “um monstro” e “não uniu, não unificou, não simplificou” o uso da língua.
Quantas vezes na vida você já perguntou: Como se escreve tal palavra mesmo? É com z ou com s? Tem acento? (assim mesmo sem circunflexo, pois o chapeuzinho só vai na cabeça antes de plural), tem hífen? Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos, mas só entrou completamente em vigor em 2016, ao invés de ajudar, parece ter atrapalhado ainda mais a escrita.
Quer um bom exemplo? Quando uma criança está fazendo a lição de casa e tem uma dúvida, pergunta para quem? Os pais, é claro. Só que a grande maioria desses pais foi educada na transição do acordo ortográfico, portanto cresceram com as mesmas dúvidas.
Ai a solução é dar um “google” e eis que a quantidade de explicações é tão extensa, muitas citando outras regras gramaticais, que geralmente a dúvida não é esclarecida e ainda aumenta.
Claro que em educação nada acontece em curto espaço de tempo, mas a demora e o sentimento de que o Acordo Ortográfico dos países de Língua Portuguesa se tornou uma nau sem rumo, ou um barquinho de papel, está criando gerações com grave Déficit de Escrita, como alerta o professor Nelson Valente em outro artigo. Outro fator relevante é a importância cultural que a língua de um país tem, como escreve na sequência o professor Nelson Valente.
Quando os jovens são chamados aos concursos públicos, o que, infelizmente, está ocorrendo com frequência cada vez maior, a falta de familiaridade com a norma culta da língua tem levado a resultados desastrosos, como assinalam os famosos Exames de Ordem da OAB. As reprovações acontecem em massa (às vezes o índice é de 80%). Lê-se pouco e escreve-se mal, o resultado só pode mesmo ser deprimente. Isso infelizmente alcança também os exames para o magistério. É fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.
O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política. A língua é uma força biológica: não se pode modificá-la com uma decisão política.  É preciso dizer, com todas as palavras, em alto e bom som: o português brasileiro é uma língua e o português europeu é outra. Muito aparentadas, muito familiares, mas diferentes. Já existe outro sistema linguístico totalmente diferente do português lusitano no português falado hoje no Brasil.
Sabemos que 75% da população brasileira é analfabeta funcional. São 218 milhões de pessoas e, entre elas, estão nossos docentes de língua portuguesa. Não vamos nos iludir.
O Brasil não tem tradicionalmente uma política linguística. A difusão do português brasileiro no exterior ocorre quase por inércia, mais pela importância que o Brasil vem assumindo geograficamente, geopoliticamente e economicamente. Portugal, ao contrário, tem uma política linguística, tem o Instituto Camões, com mais de mil professores espalhados pelo mundo todo, enquanto o Brasil tem 40 leitorados. Cria-se aí, já, uma diferença.
Nós que tínhamos de ter uma política linguística mais agressiva, mas temos uma posição de colonizados, de que, se Portugal já está lá, não precisamos ir. Precisamos, sim. Nós somos 90% de quem fala português no mundo e somos a 7ª economia mundial. Portugal, ao contrário, está no fundo do poço, com essa crise horrível que acontece por lá. Nós que temos de investir e brigar pelo nosso espaço, porque as pessoas de fato querem aproveitar as oportunidades que nós oferecemos.
Não dá para impor uma língua de uma hora para outra a um povo. O padrão da língua no Brasil deve ser a língua falada pela maioria da população brasileira contemporânea, que é o português brasileiro.  A língua geral brasileira foi proibida no Brasil no século 18 pelo Marquês de Pombal, dirigente de Portugal durante o reinado de José I, e ficamos com um saldo de 300 anos sem educação.  Se não tivesse acontecido isso, talvez hoje seríamos como os paraguaios, que falam espanhol e guarani — este também uma invenção dos padres jesuítas como uma língua geral, muito parecida com a língua geral brasileira, com base no tupi. Por uma política autoritária, repressora, foi proibido ensinar e falar qualquer coisa no Brasil que não fosse o português.
O que ocorre com o dito Novo Acordo Ortográfico é que na verdade Portugal “colonizador” quer colonizar a língua portuguesa. Veja o exemplo: A antiga Iugoslávia se fragmentou em seis pequenos países e a língua que, então era considerada uma só, o servo-croata, agora se chama bósnio, croata, sérvio, montenegrino… Mas, para esses nomes aparecerem, ocorreu uma guerra horrorosa, com muitas mortes, uma coisa terrível. Nos Bálcãs, os sérvios e os croatas entendem-se. No passado, os que se revoltavam mais ferozmente contra o colonizador haviam estudado na metrópole. Pode-se massacrar uma população conhecendo-se perfeitamente sua língua e sua cultura.
A miscigenação no Brasil foi muito mais intensa e, evidentemente, a miscigenação linguística também. O português foi língua minoritária no Brasil durante todo o período colonial. Falava-se como língua geral o tupi e nossa população, até a época da Independência, era 75% mestiça. Atualmente, o que ocorre é um conflito entre português de Portugal e português brasileiro nas escolas. Pois quando um aluno diz que não sabe português, na verdade, está dizendo que não sabe as normas da gramática do português ensinado na escola. Uma pessoa que diz que não sabe português é porque acha que saber português é saber o que é uma oração subordinada substantiva objetiva direta completiva nominal reduzida. E isso, quase ninguém sabe. Nem mesmo os professores de português formados e na ativa já há bastante tempo. Então, temos aí um grande imbróglio para resolver, a formação docente.
Não adianta tentar resolver o que acontece na escola, sem resolver primeiro as questões que envolvem a formação dos professores, e claro, as condições de trabalho das pessoas, para que elas não sejam espancadas em praça pública.
Aí vêm uns idiotas que querem realmente reformular a língua, botar tudo com “x”, com dois “s”, com “z”, com uma série de questões que não têm nada a ver, sem nenhuma fundamentação teórica que as sustente. A implementação do dito Acordo é simplesmente uma bagunça, é o caos linguístico; é uma desgraça! É a bancarrota da Língua! E a consequência é o caos linguístico que se está verificando nas escolas, na comunicação social, falada/escrita/ouvida e lida.
Para que não ocorra um desacordo na nossa língua, quem sabe daqui a alguns anos apaguemos o “português” e fique só o “brasileiro”.
Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE  https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/acordo/ha-quem-queira-ficar-com-a-nossa-lingua-e-quem-por-ca-aplauda/3876
Todos concordavam que seria melhor para a comunidade lusófona que houvesse o Acordo Ortográfico, pois o fato ensejaria uma busca oficialização da língua portuguesa em organismos internacionais, a partir da ONU. Ledo engano. O que tem ocorrido até aqui é um grande “desacordo”.
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/aberturas/a-repeticao-da-conjuncao-e-o-substantivo-maestrina-dez-anos-de-acordo-ortografico-o-nacionalismo-lin/2450
Já se passaram dez anos e ninguém aprendeu as regras. A imprensa adotou, mas ninguém consegue entender e a população não sabe usar. Queremos estudar formas de simplificar isso, ao invés de gastar tempo com algo que nunca se vai aprender. Ainda tem todo esse gasto. É melhor pegar esse dinheiro e investir em escola, em merenda. Deixa os livros didáticos como estão. E não é só livro didático, isso vai mexer em toda a literatura. Tudo fica desatualizado e isso tem um custo caríssimo para o país: bilhões de reais.  O governo precisa arcar com mais gastos para atualização de livros?
Nelson Valente (@Escritor4) Professor Universitário, Jornalista e Escritor
from Acordo Ortográfico? O que tem ocorrido até aqui é um grande “desacordo”.
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verdadenapratica · 5 years ago
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Jean Vanier
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Jean Vanier
Resumo: O objetivo desta proposta é fazer uma apresentação de Jean Vanier enquanto filósofo, humanista e fundador do ministério l’Arche e Faith and Light. Comunidades dedicadas ao desenvolvimento espiritual do indivíduo à medida que este coloca-se a disposição de ir ao encontro das pessoas mais vulneráveis do mundo. No caso de Jean Vanier, no cuidado de pessoas mentalmente incapacitadas. A obra de Jean Vanier começada humildemente na França, logo espalhou-se para várias partes do planeta mobilizando não apenas católicos, mas protestantes e inclusive hindus. Jean Vanier conseguiu mobilizar pessoas como Henry Nouwen entre outras pessoas profundamente dedicadas ao cuidado de pessoas deficientes mentais. L’Arche tornou-se um símbolo renomado de compaixão e esperança, atraindo membros de diferentes contextos religiosos ou sem nenhum contexto religioso, sem contudo comprometer a compaixão e a espiritualidade que envolve cada comunidade. O objetivo desta apresentação é portanto, despertar uma consciência espiritual e de justiça social num mundo atribulado.
Palavras-chaves: Jean Vanier, L’Arche, Espiritualidade, Justiça Social
Grupo Temático: Filosofia da Religião
Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco
Filiação: Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Como já falamos Jean Vanier foi um filósofo, escritor, líder religioso e fundador de duas grandes organizações comunitárias internacionais, L’Arche e Faith and Light, que existem para pessoas com deficiência intelectual. As 154 comunidades L’Arche estão estabelecidas em 38 países e 1.450 comunidades Faith e Light que estão em 83 países. Esta comunidades são laboratórios vivos de transformação humana. Dentro e fora dessas organizações, Jean passou mais de quatro décadas como um advogado radicalmente envolvido na luta pelos pobres e fracos em nossa sociedade. Ele nos convida a reconhecer os profundos dons e lições que as pessoas que foram rejeitadas pela sociedade podem oferecer quando são adequadamente apoiadas e incluídas.
Os depoimentos daqueles que conviveram com Jean Vanier o descrevem-no como um homem visionário, como um defensor da humanidade, moldado por seu compromisso com pessoas marginalizadas. Foi um homem singular e segundo ele próprio, foi transformado pelo relacionamento com pessoas com deficiência intelectual. Trata-se de um homem de compaixão e um homem de letras.
Em 1964, Jean Vanier deixou uma vida de prestígio como professor universitário, oficial da marinha e filho do Governador Geral do Canadá – para morar em um vilarejo na França com alguns homens que ele recebeu de uma instituição para pessoas com deficiência intelectual.
Com o tempo, Jean descobriu que seus novos companheiros estavam levando-o a uma maior liberdade e alegria. Eles tinham muito a oferecer às suas comunidades e na criação de um mundo mais justo, vibrante e atencioso.
Por mais de 50 anos, Jean viajou pelo mundo, encontrando muitas pessoas e compartilhando o que estava descobrindo em entrevistas, palestras públicas e mais de 30 livros que ele publicou. Ele tornou-se uma voz de liderança no que significa ser humano – com todas as nossas diferenças, forças e limitações, e com nosso profundo desejo de união, amor e pertecenimento.
Jean Vanier foi um católico piedoso durante toda a sua vida, embora sua espiritualidade tenha ultrapassado os limites do catolicismo e atraído pessoas do protestantismo, hinduísmo e islamismo. Nunca negou ou escondeu sua devoção a Cristo, pelo contrário, foi sempre enfático na sua fé. Entretanto, nunca deixou de reconhecer o valor humano de cada indivíduo independente de sua crença. Foi portanto, esta mesma vida de devoção a Cristo que atraiu pessoas de diferentes confissões religiosas. Foi também um arauto ao condenar atos de injustiça contra os mais fracos, principalmente dentro do seu próprio catolicismo. Quanto aos abusos sexuais cometidos contra menores Jean Vanier escreveu o seguinte: “… a pedofilia é um crime que não pode ser acobertado, mas que precisa ser denunciado e seus perpetradores entregues a justiça”.
No encontro com os mais vulneráveis, Jean Vanier, via a nossa própria cura. Se nos aproximamos de alguém como quem tem o poder para solucionar os seus problemas e dramas, na verdade não conseguimos fazer muita coisa. Mas quando nos aproximamos com humildade, com aquilo que Vanier chama de “o encontro”, seremos capazes de ver a cura acontecer dos dois lados, em nós e em nosso próximo. Vanier diz que “cada encontro verdadeiro expõe-nos à nossa própria vulnerabilidade…”. Portanto, na perspectiva de Jean Vanier não há privilegiados, todos são de alguma forma incapacitados, seja esta incapacidade física, emocional ou espiritual. E é justamente neste encontro que reconhecemos a nossa vulnerabilidade e nossa possibilidade de cura através da nossa disposição humilde de ir ao encontro do outro. Vanier diz: “Fazer o bem ajuda-nos a manter o poder, mas no encontro verdadeiro nós perdemos todo poder e todo preconceito”.
Nas comunidades estabelecidas por Jean Vanier concentram-se um número pequeno de incapacitados, aproximadamente dez pessoas. Um outro grupo de Staff unia-se ao grupo onde viviam como família. Certamente que os incapacitados exigiam mais cuidado, paciência, dedicação e amor, mas todos igualmente serviam como instrumentos de cura e objetos do amor uns dos outros dentro da comunidade.
Vanier pergunta: “O que é uma comunidade?” E ele mesmo responde: “Comunidade é um lugar onde a comunhão é manifestada e onde nós crescemos em comunhão. É um lugar de profunda humanidade”. Comunidade é o lugar onde nossa humanidade aparece, onde compartilhamos nossas fraquezas, nossas preocupações e nossos medos. Desta forma, os mais vulneráveis na comunidade não sentem-se sozinhos em suas angústias e reconhecem em nós não um ser superior, mas um próximo. O próximo do qual falou Jesus: “…Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (S. Mateus 22:39).
A comunidade para Jean Vanier é qualquer ambiente onde os mais fracos e vulneráveis podem conviver com os mais fortes e invulneráveis. No entanto o ser forte e invulnerável não significa ser superior ao outro, mas apenas uma condição física sem os impasses enfrentados pelos mais fracos e vulneráveis. Na comunidade acontece o encontro e neste encontro percebemos que embora possamos ter uma condição privilegiada, ainda assim continuamos de certa forma vulneráveis devido ao nosso medo e preconceitos. A ideia de “fazer o bem à alguém” coloca-nos na condição de manter o nosso poder, mas no encontro verdadeiro nós perdemos todo poder e preconceitos. Obviamente que isto exige de nós uma certa dose de humildade. Cada um de nós é temeroso, cada um de nós somos ignorantes sobre o que dizer ou fazer no encontro com o próximo. Então passamos a reconhecer que precisamos do outro para a nossa própria cura.
Não adianta-nos falar sobre ecologia e ignorar a humanidade. Vivemos numa época onde manifestamo-nos sobre as árvores derrubadas ou queimadas na Amazônia, mas ignoramos os 41 milhões de abortos realizados somente em 2019. E poderíamos incluir nestes números as milhares de pessoas perseguidas por sua fé em diferentes nações, os milhares de migrantes retidos em campos de refugiados mundo à fora e tantos outros problemas como a fome, a pobreza, a falta de educação, a falta de trabalho justo, a intolerância para com as mulheres, crianças e homossexuais. Jean Vanier chama-nos à sensibilidade ao pensarmos nestes assuntos. Na casa comum precisa haver espaço para todos.
E termino com uma declaração de Jean Vanier:
Nossas vidas são momentos fugazes em que são encontradas tanto as sementes da paz, unidade, amor e também as sementes da guerra, da dissidência e indiferença. Quando iremos levantar-mo-nos e despertar-mo-nos para o desejo de regar e cuidar das sementes da paz, unidade e amor? Quem irá se atrever?
Com uma escuta sã, encorajamento sábio e perdão mútuo, podemos caminhar juntos no caminho da paz. Através de nossas relações uns com os outros e com Deus, que nos mantém próximos em nossa pobreza, podemos ser transformados, curados e trazidos para a plenitude da vida. Juntamente com os mais marginalizados do mundo, nós podemos tornar-mo-nos um sinal de esperança para a humanidade.
Faleceu no Canadá, no dia 7 de maio de 2019, aos 90 anos de idade. No entanto, seu trabalho e legado continua vivo, inspirando e mobilizando pessoas em todo o mundo.
from Jean Vanier
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verdadenapratica · 5 years ago
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A ABAFABANCA E OUTRAS COISINHAS DE ANTANHO
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Neste texto, reverencio a tradição gráfica do Português europeu admitida nos limites do Acordo Ortográfico de 1990, e assim o faço em homenagem ao dileto amigo, Doutor Luís Alexandre Ribeiro Branco, a quem agradeço a gentileza de abrir-me as portas do seu blogue VERDADE NA PRÁTICA, dando-me a oportunidade de publicar este modesto texto.
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Em 1959, a minha família mudou-se de Jequié, BA, Brasil, para a capital baiana. A minha primeira escola foi a Escola Paroquial Nossa Senhora da Conceição da Praia, que funcionava nalgumas dependências internas da Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia, sobre a qual quero comentar um bocadinho, antes de atacar o tema proposto.
Thomé de Sousa, o primeiro governador-geral do Brasil, aportou na então Baía no dia 29 de março de 1549, data em que hoje se comemora a fundação da Cidade do Salvador. Imediatamente após a sua chegada, essa autoridade portuguesa mandou construir a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Na altura, as suas instalações eram bem mais simples. No atual templo, cuja construção iniciou-se em 1736, as paredes são majestosamente erguidas com pedras de cantaria numeradas em Portugal. A sua inauguração se daria 29 anos depois, em 1765, portanto. Ora, muito bem, foi no convívio com os coleguinhas na Escola Paroquial Nossa Senhora da Conceição da Praia, que eu comecei a sentir os primeiros choques culturais.
Recém-chegado de uma cidade do sudoeste baiano, não me demorei a ter o primeiríssimo impacto. Em Jequié, chamávamos genericamente sedã a qualquer automóvel; quem o conduzisse seria o «chauffeur». Bem, a palavra francesa «chauffeur» até que era usada em Salvador, porém o termo aportuguesado sedã não. Quando eu o utilizava para nomear um ligeiro, os miúdos da minha idade riam-se de mim. Atónito, eu não percebia o porquê de ser caçoado a esse motivo.
Em Salvador, havia os bondes elétricos, conhecidos simplesmente como elétricos em Portugal. Para caracterizar algo de grandes dimensões, os soteropolitanos cunharam a a expressão comparativa «grande como um bonde». Hélio Machado, cuja gestão no cargo de prefeito da Cidade do Salvador findou-se em 1958, importou da Itália uns tróleis [ónibus elétricos] muito confortáveis. Em virtude da irregular topografia da cidade, os tróleis circulavam apenas na Cidade Baixa, onde quase não há caminhos inclinados. Eu mesmo viajei muito neles.
Outra expressão a ser destacada é «pegar o boi». Em quase completo desuso na atualidade, era usada por quem quisesse referir a um intento de final proveitoso. Dir-se-ia então que o ganhador de um prémio lotárico teria «pegado o boi». Não tenho a mais pequena ideia de como essa expressão surgiu. Convém notar que àquela época usava-se unicamente o particípio passado regular do verbo pegar [pegado], exatamente como ainda hoje se pratica em Portugal.
No início da década de 60, os ónibus tinham o popular nome de «marinetes». Consultados sobre a etimologia de «marinete», os meus dicionários olharam-me espantados. Mantiveram-se calados. Entretanto, os motores de busca na internet informam-nos que, na primeira metade do século passado, um italiano chamado Marinetti veio ao Brasil proferir umas palestras sobre a arte do futuro e, «como o ónibus apareceu como uma novidade, uma coisa do futuro», o povo nordestino o associou ao futurismo, passando a chamá-lo «marinete». Outra fonte internética nos diz que «A visita do poeta italiano Marinetti ao Brasil, exatamente em 1927, provocou um grande reboliço no Sul e em especial no Nordeste, onde os recém-lançados ónibus passaram a ser conhecidos como marinetes.»
Na capital baiana, não se usavam as expressões «meninos de rua» nem «meninos na rua», cujas conceituações doutrinárias são distintas, muito embora alguns possam afirmar que se trate da mesma coisa. Sinto-me em dificuldade para admiti-lo porque, ao estudar a disciplina Direito Constitucional da Criança e do Adolescente, no curso de Direito da Universidade Católica do Salvador, aprendi que os primeiros vivem vulnerável e definitivamente desassistidos nas vias públicas, onde improvisam as suas «moradas» sem teto. Os seus responsáveis são omissos, ausentes ou mortos. Em princípio, os «meninos na rua» são trabalhadores mirins com vínculos familiares tendentes à fragilização progressiva, livres para sair e retornar à noite à casa dos respetivos responsáveis. Com o tempo, todavia, podem perder o receio de estar na rua, com alta probabilidade de se converterem em “meninos de rua”.
Esses meninos em situação de rua são os atuais «pivetes», assim nomeados pejorativamente por serem crianças ou adolescentes em estado de risco social a conviver na rua. Nos anos 50 e 60, em Salvador, os «pivetes» eram chamados «capitães de areia» [ou da areia]. A propósito, o renomado escritor baiano Jorge Amado escreveu um romance intitulado «Capitães da Areia».
Dando um salto para a atualidade, enquanto em março de 2019 eu estava confinado num quarto a convalescer de uma cirurgia, fazia incursões mentais no tempo e no espaço. Numa dessas, não sei por que cargas d’água, o termo abafabanca veio-me repentinamente à mente. Tive, então, a ideia de provocar no Twitter os meus amigos espalhados pelo Brasil, concitando-os a me informarem se conheciam a abafabanca, se não a conheciam ou, ainda, se a conheciam com outro rótulo. 
Do amigo Marcel Ribeiro [@Marcelhenriquem] chegou-nos a primeira importante colaboração: a abafabanca tem origem nordestina e «é o nome de um sorvete feito de frutas em cuba de geladeira, vendido em casa.»
Na Região Nordeste estão os Estados do Maranhão [MA], Piauí [PI], Ceará [CE], Rio Grande do Norte [RN], Pernambuco [PE], Paraíba [PB], Sergipe [SE], Alagoas [AL] e, evidentemente, a Baía [BA], o berço do Brasil. Vê-se, portanto, que estamos diante de uma vastíssima região. Por coincidência, o amigo Marcos Mairton [@MarcosMairton], atualmente a viver em Brasília, porém oriundo da nordestina Fortaleza, assegura-nos:
— Magno, caro amigo, não faço ideia do que venha a ser ABAFABANCA. De modo que, se vi alguma em Fortaleza, chamei-a por outro nome.
De outro lado, ante os esclarecimentos fornecidos pelo amigo Marcel Ribeiro, a nossa colega microcontista Cynthia Santana Nogueira [@Upenalista], residente em Goiânia, GO, informou-nos: 
— Em Goiás não existe tal iguaria.  
Entrementes, o escritor Nelson Valente [@Escritor4] interveio:
— Abafabanca é gelo com sabor de frutas. 
Não só. Com o seu saber enciclopédico, deu-nos a receita e um segredinho do passado:
— É muito simples de preparar porque é só colocar o suco em forminhas de gelo. Era o sorvete dos pobres de antigamente, fiz muito quando eu era criança. 
Surpreso com os esclarecimentos acima, o amigo Marcos Mairton pediu a palavra para fazer um aditamento à sua declaração inicial. Informou-nos que a abafabanca tinha livre curso na casa da sua vovó, mas não com essa designação. Era preparada em cubinhos e conhecida por «doce gelado». Complementou que, às vezes, essa felicidade das crianças era servida em saquinhos de plástico, caso em que era apelidado «dimdim».
Surpreendi-me com o onomatopaico «dimdim» — que nada tem a ver com dinheiro — e entreguei-lhe outra novidade:
— Em Jequié, a minha quentíssima cidade natal, chamam «apolo» ao que em Fortaleza é conhecido por «dimdim». Nem me perguntes o motivo…
Lá do Passo Fundo, RS, o notável mestre José Carlos Bortoloti [@profeborto], que a tudo escutava, disse-nos que os gaúchos não sabem o que é a abafabanca. Do mesmo modo, a capacitadíssima professora Zi Carloni [@Profzi] relatou-nos que os mineiros também a ignoram.
Conciliando a minha experiência pessoal com a recolha desses preciosos contributos — porque, à semelhança do nosso Nelson Valente, eu próprio me deleitei com as abafabancas — posso testemunhar que a abafabanca soteropolitana é uma mistura feita com água, açúcar e sumo ou polpa de fruta, ou simplesmente com qualquer soluto adocicado, natural ou artificial, que se deita em formas [ou cuvetes] internamente dispostas com divisórias quadradas ou retangulares, ou em pequenos compartimentos redondos, destinados originalmente à formação de gelo. Em seguida, as tais formas são levadas aos congeladores dos frigoríficos, onde, após algum tempo, a mistura nelas distribuída se solidifica. Nunca tive notícia de que as abafabancas fossem vendidas em estabelecimentos comerciais. Conforme bem referiu o nosso Marcel Ribeiro, elas eram produzidas no âmbito doméstico e consumidas nas próprias residências, onde também eram vendidas ao público.
Já que estamos a falar de regionalismos, gozemos com as curiosas designações em ambos os lados do Atlântico. A pessoa que se delicia com um gelado em Portugal fará o mesmo com um sorvete no Brasil. Em Cascais, Portugal, há uma curiosa geladaria a anunciar a venda do melhor gelado do mundo. Já entrei numa fila relativamente longa para experimentar um dos tais. Quanto a esse gelado ser o melhor da face da Terra, há sérias controvérsias. Entanto, atire a primeira abafabanca quem, nesta vida, ainda não cometeu hipérboles ou não praticou uma mentirinha inofensiva. Enfim, quem se apetecer de um sumo fresco em Portugal certamente gostará de um suco gelado no Brasil e quem comprar um sorvete de pau em Portugal adquirirá um picolé no Brasil. Pode ser a mesma coisa, contudo, por convicções pessoais, prefiro o picolé ao sorvete de pau.
Magno R Andrade @magnoreisand – siga-me no Twitter
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verdadenapratica · 5 years ago
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Tua glória de ser mulher
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Teu olhar profundo,
Tua boca rosada,
Tua pele macia,
Teu cabelo sedoso,
Tua glória de ser mulher.
Tua alegria,
Teu sorriso cativante,
Tua mão branca,
Teu rosto de menina,
Tua glória de ser mulher.
Tua fala doce,
Teus ouvidos atentos,
Teu dorso formoso,
Teu beijo fogoso,
Tua glória de ser mulher.
Tua vitalidade,
Teu bom humor,
Tua alegria contagiante,
Teu corpo e a música,
Tua glória de ser mulher.
Teu pé firme,
Tua decisão tomada,
Tua força escondida,
Teu amor disfarçado,
Tua glória de ser mulher.
por Luis A R Branco
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verdadenapratica · 6 years ago
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Errantei
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Como uma adaga aguda, meus temores atravessam-me o peito, Não adianta dizer-me: “Acalma-te tudo ficará bem!” Sou simplesmente escravo destes pensamentos. Não queria ser, mas simplesmente negar o que sinto não faz esta nuvem escura desaparecer. Não adianta disfarçar vestindo uma veste branca, Meus dias são cinzas, minhas canções são fados, minha esperança tão frágil. Não procuro tribulações, sou caçado por elas como um animal silvestre, totalmente entregue aos meus algozes. Deus? Ele é esta força invisível que segura-me a mão insistentemente evitando uma queda livre num poço sem fundo. Deus? É o amor com o qual e o qual amou a minha alma. Deus? É o caminho seguro no qual dou meus passos trôpegos. Deus? Ele é a compreensão do meu ser incompreendido. Deus? É a esperança última na qual se apegou a minha alma. Sigo na escuridão! Milhões de anos viveu Deus na escuridão antes de dizer “haja luz”. O meu Deus conhece o caos e as trevas por onde transita a minha alma. Sinto-me cansado! Sinto-me perdido! Sinto-me ninguém! Forças internas e externas, casualidades da vida, compreensíveis e incompreensíveis levam-me a este estado. Orar? Minha vida é só oração! Meditação? O silêncio é o que mais me rodeia. Ler? Devoro os livros como a traça devora o papel. Estou doente, reconheço. Deus é somente Deus é o remédio que necessito.
por Luis A R Branco
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verdadenapratica · 6 years ago
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A chuva que não veio
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Já há algum tempo que não chove,
A terra secou, o ar poluiu-se, a flor murchou.
O ar pesado, meu peito cansado, meus olhos molhados.
Meu Deus, o que foi que me deu?
O efémero não me atrai,
A vaidade me aborrece,
As falas vazias não me convidam,
Na sala sozinho, meu esconderijo.
Quando eu ando escuto o arrastar dos meus passos,
Mas ainda oiço o cantar dos chora-chuva,
Dizem que o cantar destes seres anunciam a chuva,
Que ela venha meu coração regar.
por Luis A R Branco
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verdadenapratica · 6 years ago
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A PROFESSORA DA VIDA
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Vivi o tempo em que estudávamos o latim no antigo curso secundário brasileiro. Gostaria de o ter estudado mais, entretanto essa disciplina foi abolida do currículo escolar precisamente no ano em que eu voltaria a estudá-la. Quando muitos pensam que apenas as línguas neolatinas é que vão beber na fonte do latim, temos como certo que, apesar de o idioma inglês ter por base a língua dos anglo-saxões, cerca de sessenta por cento [ou mais] do léxico inglês provêm diretamente do latim, ou deste descendem por via oblíqua mediante o francês.
Foi com muita avidez que estudei o latim. Encantavam-me as explicações da minha mestra, demonstrando-nos a origem do termo ónibus, que tem parentesco direto com o caso dativo plural de “omnis”, i.e., “omnibus”, cujo significado em português é “para todos”. Se forem remexer o inglês, encontrarão lá o “omnibus“, que depois se reduziu para “bus”. Pessoalmente tenho profundo apreço pela variedade europeia do português. Sem desejar, contudo, criar braço-de-ferro entre as duas variedades da língua portuguesa [europeia e brasileira], creio que, neste exemplo, o ónibus brasileiro ultrapassa em etimológica vantagem o autocarro lusitano.
Aprendemos lá no nosso curso de latim como surgiram as formas divergentes e convergentes existentes no português. Aquelas partiram do mesmo étimo e desembarcaram no português com formas diferentes. Exemplo disto é o termo latino “macula”, que, pelo caminho erudito, trouxe ao nosso idioma a palavra mácula, e, pela via semierudita, mágoa; mas não só: há também malha, mancha e mangra. No caso de palavras convergentes, rio é um exemplo; na sua aceção verbal, descende de “rideo”, tomada como substantivo, resulta de “rivu”.
A nossa professora fazia-nos estudar porções dos “Commentarii de Bello Gallico”, um texto escrito pelo vitorioso Júlio César, no qual ele relata as operações militares desenvolvidas nas Guerras da Gália [58 a.C. a 52 a.C.]. Dissecava-os cirurgicamente a fim de retirar deles os conhecimentos essenciais do latim. Usava as máximas ditas em latim pelos pensadores da antiguidade, para assim nos transmitir lições de vida e minúcias do idioma, como, por exemplo, “Historia magistra vitæ est”, isto é, a História é a mestra da vida [Cícero]. No meio desse caldo todo, impregnou-se em meu espírito uma inesquecível e significativa frase latina: 
“Non scholæ, sed vitæ discimus”, que em português significa que nós “não aprendemos para a escola, mas para a vida”.
Com esta visão de que o conhecimento adquirido no meio académico deve ter aplicação finalística na vida, penso ter chegado o momento oportuno para lhes dizer o porquê do título do nosso texto. Ei-lo:
Uma professora habituada a paraninfar turmas de formandos comoveu-se numa solenidade de formatura. No específico caso, tratava-se da colação de grau de uma turma do curso de Letras. Em tais alturas, é previsível que os oradores enalteçam as boas qualidades da pessoa eleita paraninfa, especialmente se se tratar genericamente de um mestre, pois pode não o ser. Com efeito, ao assomar o púlpito, a representante da turma – referida pela professora homenageada como uma mui aplicada e destacada aluna – passou a tributar honras e reconhecimento à mestra madrinha. Esta, à sua vez, estava razoável e emocionalmente preparada para os receber, por ser este um procedimento de praxe.
A professora homenageada estava realmente preparada para ouvir os elogios? Não, não o estava! No máximo, ela nutria a expectativa de ser declarada a “Professora Feliz”, ou talvez a “Professora do Ano”. Entanto, a oradora da turma foi além, bem mais além. A plenos pulmões, declarou que a mestra homenageada era a “Professora da Vida”! 
Para fundamentar tão justo louvor, a representante da turma esclareceu que nos primórdios do curso provocou a querida professora a dar pistas do que seria a felicidade. Em resposta, ouviu que “a felicidade não estaria no estabelecimento de uma posição social, nem mesmo na criação de filhos e muito menos na aquisição de bens ou fortunas, mas na ampla compreensão de outra alma humana. Se entendêssemos o ser humano, nada mais precisaríamos na vida.” 
Lá no seu íntimo, a professora não se continha de emoção. Conjeturo que os seus humedecidos olhos ganharam um brilho especial, em simultaneidade a um invisível laço compressor que se deve ter formado à volta do seu pescoço, deixando escapar tão-somente involuntários e fartos soluços que a deixavam sem voz. Entrementes, uma súbita e crescente alegria invadia-lhe o ser, ao perceber que a estudiosa aluna apreendera o “verdadeiro sentido da vida”, qual seja “a ampla compreensão de outra alma”, que, ao sentir da sensibilizada mestra, era “a mais difícil, porém a mais bela de todas as tarefas.”
Vê-se, portanto, que a lição romana alcançara a jovem oradora, pois, indubitavelmente, em pleno ambiente escolar e mediante a instrumentalidade da capacitada professora, ela absorvera importante ensinamento, cuja repercussão positiva se irradiaria ao longo de toda a sua existência. Por outras palavras, nós “não aprendemos para a escola, mas para a vida.”
No ocaso deste texto, elucido nunca ter tido contacto com aquela ilustre e inteligente oradora. Não a conheço nem tenho a mínima ideia de quem o seja. Quanto à professora, porém, não é difícil encontrá-la entre nós. As interações no ambiente do Twitter renderam a este escrevinhador o privilégio de aceder a essa bela história. Estou concretamente a falar da capacitada professora Zilda Carloni, registada nos meandros do Twitter com o designativo @ProfZi. Ademais, aproveito o ensejo para render-lhe merecida homenagem pela transcorrência do seu aniversário de nascimento, que se comemora no dia 25 de fevereiro.
Embora sem mandato expresso outorgado pelos colegas microcontistas do blogue Umas Linhas – do qual a digna professora é colaboradora – ouso falar em nome de todos eles, para assim expressar à distinta professora aniversariante os nossos votos de vida longa, saúde, paz e felicidade.
Magno R Andrade @magnoreisand – siga-me no Twitter
from A PROFESSORA DA VIDA
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verdadenapratica · 6 years ago
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A PROFESSORA DA VIDA
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Vivi o tempo em que estudávamos o latim no antigo curso secundário brasileiro. Gostaria de o ter estudado mais, entretanto essa disciplina foi abolida do currículo escolar precisamente no ano em que eu voltaria a estudá-la. Quando muitos pensam que apenas as línguas neolatinas é que vão beber na fonte do latim, temos como certo que, apesar de o idioma inglês ter por base a língua dos anglo-saxões, cerca de sessenta por cento [ou mais] do léxico inglês provêm diretamente do latim, ou deste descendem por via oblíqua mediante o francês. Foi com muita avidez que estudei o latim. Encantavam-me as explicações da minha mestra, demonstrando-nos a origem do termo ónibus, que tem parentesco direto com o caso dativo plural de "omnis", i.e., "omnibus", cujo significado em português é "para todos". Se forem remexer o Inglês, encontrarão lá o "omnibus", que depois se reduziu para "bus". Pessoalmente tenho profundo apreço pela variedade europeia do português. Sem desejar, contudo, criar braço-de-ferro entre as duas variedades da língua portuguesa [europeia e brasileira], creio que, neste exemplo, o ónibus brasileiro ultrapassa em etimológica vantagem o autocarro lusitano. Aprendemos lá no nosso curso de latim como surgiram as formas divergentes e convergentes existentes no português. Aquelas partiram do mesmo étimo e desembarcaram no português com formas diferentes. Exemplo disto é o termo latino "macula", que, pelo caminho erudito, trouxe ao nosso idioma a palavra mácula, e, pela via semierudita, mágoa; mas não só: há também malha, mancha e mangra. No caso de palavras convergentes, rio é um exemplo; na sua aceção verbal, descende de "rideo", tomada como substantivo, resulta de "rivu". A nossa professora fazia-nos estudar porções dos "Commentarii de Bello Gallico", um texto escrito pelo vitorioso Júlio César, no qual ele relata as operações militares desenvolvidas nas Guerras da Gália [58 a.C. a 52 a.C.]. Dissecava-os cirurgicamente a fim de retirar deles os conhecimentos essenciais do latim. Usava as máximas ditas em latim pelos pensadores da antiguidade, para assim nos transmitir lições de vida e minúcias do idioma, como, por exemplo, "Historia magistra vitæ est", isto é, a História é a mestra da vida [Cícero]. No meio desse caldo todo, impregnou-se em meu espírito uma inesquecível e significativa frase latina: "Non scholæ, sed vitæ discimus", que em português significa que nós "não aprendemos para a escola, mas para a vida". Com esta visão de que o conhecimento adquirido no meio académico deve ter aplicação finalística na vida, penso ter chegado o momento oportuno para lhes dizer o porquê do título do nosso texto. Ei-lo: Uma professora habituada a paraninfar turmas de formandos comoveu-se numa solenidade de formatura. No específico caso, tratava-se da colação de grau de uma turma do curso de Letras. Em tais alturas, é previsível que os oradores enalteçam as boas qualidades da pessoa eleita paraninfa, especialmente se se tratar genericamente de um mestre, pois pode não o ser. Com efeito, ao assomar o púlpito, a representante da turma – referida pela professora homenageada como uma mui aplicada e destacada aluna – passou a tributar honras e reconhecimento à mestra madrinha. Esta, à sua vez, estava razoável e emocionalmente preparada para os receber, por ser este um procedimento de praxe. A professora homenageada estava realmente preparada para ouvir os elogios? Não, não o estava! No máximo, ela nutria a expectativa de ser declarada a "Professora Feliz", ou talvez a "Professora do Ano". Entanto, a oradora da turma foi além, bem mais além. A plenos pulmões, declarou que a mestra homenageada era a "Professora da Vida"! Para fundamentar tão justo louvor, a representante da turma esclareceu que nos primórdios do curso provocou a querida professora a dar pistas do que seria a felicidade. Em resposta, ouviu que "a felicidade não estaria no estabelecimento de uma posição social, nem mesmo na criação de filhos e muito menos na aquisição de bens ou fortunas, mas na ampla compreensão de outra alma humana. Se entendêssemos o ser humano, nada mais precisaríamos na vida." Lá no seu íntimo, a professora não se continha de emoção. Conjeturo que os seus humedecidos olhos ganharam um brilho especial, em simultaneidade a um invisível laço compressor que se deve ter formado à volta do seu pescoço, deixando escapar tão-somente involuntários e fartos soluços que a deixavam sem voz. Entrementes, uma súbita e crescente alegria invadia-lhe o ser, ao perceber que a estudiosa aluna apreendera o "verdadeiro sentido da vida", qual seja "a ampla compreensão de outra alma", que, ao sentir da sensibilizada mestra, era "a mais difícil, porém a mais bela de todas as tarefas." Vê-se, portanto, que a lição romana alcançara a jovem oradora, pois, indubitavelmente, em pleno ambiente escolar e mediante a instrumentalidade da capacitada professora, ela absorvera importante ensinamento, cuja repercussão positiva se irradiaria ao longo de toda a sua existência. Por outras palavras, nós "não aprendemos para a escola, mas para a vida." No ocaso deste texto, elucido nunca ter tido contacto com aquela ilustre e inteligente oradora. Não a conheço nem tenho a mínima ideia de quem o seja. Quanto à professora, porém, não é difícil encontrá-la entre nós. As interações no ambiente do Twitter renderam a este escrevinhador o privilégio de aceder a essa bela história. Estou concretamente a falar da capacitada professora Zilda Carloni, registada nos meandros do Twitter com o designativo @ProfZi. Ademais, aproveito o ensejo para render-lhe merecida homenagem pela transcorrência do seu aniversário de nascimento, que se comemora no dia 25 de fevereiro. Embora sem mandato expresso outorgado pelos colegas microcontistas do blogue Umas Linhas – do qual a digna professora é colaboradora - ouso falar em nome de todos eles, para assim expressar à distinta professora aniversariante os nossos votos de vida longa, saúde, paz e felicidade. Magno R Andrade @magnoreisand – siga-me no Twitter
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verdadenapratica · 6 years ago
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Novo Livro: Orvalho
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Orvalho é um livro novo, cheio de frescor, que fala das coisas da alma. Um livro com poesias recentes e que são expressas de forma diferente, sem preocupação com métricas e rimas. O texto vai para o leitor, tal como veio para o autor.
Minha expectativa é que o leitor possa encontrar-se numa das poesias escritas neste livro. O livro está disponíveis nas maiores lojas online!
Boa leitura!
Luis Alexandre Ribeiro Branco
Lisboa, Dezembro, 2018
from Novo Livro: Orvalho
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verdadenapratica · 6 years ago
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Orvalho
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Nevoada e gélida manhã, Ainda molhada pelo orvalho da noite, Traz-me a lembrança de outros tempos, Onde mora a saudade.
Um coração arrefecido Com a indiferença da morte. Uma pedra de mármore fria e dura Molhada com o orvalho da manhã impregnada de saudade.
Um botão de rosa se abriu Das flores que aqui deixei. Abre-se em mim um sorriso ao lembrar-me dos beijos que te dei. Descansa mãezinha descansa que muito feliz já me fez.
por Luis A R Branco
from Orvalho
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verdadenapratica · 6 years ago
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Trendy Deal Store uses Instagram to cheat people
On October 15 of 2018 I have purchased an item from Trendy Deal Store (https://thetrendydealstore.com) after seeing their add on Instagram. I have paid for it with my credit card the amount of $38 for an item that was not delivered. This online store is a scheme using Instagram to promote their business. The item wasn’t delivered and they have not replied to any of my e-mails sent to them at: [email protected] I have purchased their product just because it was advertised on Instagram and I thought it was safe, guessing that Instagram checked their advertising costumers before allowing them to promote business online. They have a website which is down and there is none to contact to resolve this matter. It is a scheme and someone must respond to it! Instagram must help by providing these people’s contact so we can get our money back.
Reason of review: Problem with delivery.
Monetary Loss: $38.
Preferred solution: Full refund.
by Luis A R Branco
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verdadenapratica · 6 years ago
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A Morte
Na Bíblia Sagrada, em Hebreus 9:27 nós lemos: ”Está determinado que os homens morram uma só vez e que depois sejam julgados por Deus”. É um texto curto, iremos refletir apenas sobre a primeira parte do verso: “Está determinado que os homens morram uma só vez…”.
Na verdade a morte é um assunto sobre o qual nós não desejamos falar. Isto porque a morte é um ponto final na existência, onde tudo termina. É quando as cortinas da vida se fecham de uma vez por todas. Há aqueles que não gostam de falar sobre este assunto por terem vivido de forma traumática a morte de alguém querido. E há ainda aqueles que acham que falar na morte dá azar, portanto, é um assunto que deve ser evitado.
Acredito que todos nós já tenhamos passado pela experiência da dor de perder alguém querido, portanto, sabemos o quanto é doloroso. E quem nunca passou por esta experiência, pode ter a certeza de que ela uma hora chegará. Portanto, refletir sobre este assunto na perspectivas da pessoa que morre e um pouco na perspectiva da pessoa que perde um ente querido é fundamental.
É interessante observar que a pessoa que morre, seja de uma forma ou de outra, parece dar indícios da sua percepção, ainda que muito vaga, sobre a aproximação do momento da morte. É algo inexplicável. Já vi e ouvi diferentes casos sobre pessoas que demonstraram esta percepção de forma muito clara. Lembro-me em especial da minha mãe, quando cheguei em sua casa para acompanhá-la na sua doença, dias que vieram a ser finais para ela, embora achássemos que tratava-se apenas de mais um episódio de doença dentre os vários que ela teve. Quando cheguei em sua casa ela me disse: “Filho, acho que desta vez a mãe não escapa!” E com aquele ímpeto de minimizar seus sentimento de decadência ou para afugentar a sombra terrível da morte eu disse logo: “Mãe para com isso, você tem muito tempo pela frente!” Não, não tinha, a morte estava ali na esquina.
Eu queria poder voltar àquele momento, queria tê-la ouvido em silêncio, quem sabe ter permitido que ela externasse aquilo que estava dentro da sua mente. Quem sabe conversar com ela sobre estas coisas, ser alguém que caminhasse junto com ela por este vale tenebroso. Mas, não foi isto que fiz. Na verdade estamos insensíveis a qualquer sentimento que seja contrário ao nosso. Nossa percepção nega qualquer ideia que seja contrária a nossa.
O que quero encorajar aqui é que possamos desenvolver uma sensibilidade maior com relação as pessoas que nestes momentos críticos da sua existência tenham a liberdade de ser aqueles que eles desejam ser. Que possam ser livres para falar do que lhes toma o pensamento, dos seus medos, dos seus desejos, dos seus sentimentos, etc. Vivi uma experiência destas, quando o Hospital de Stavanger, na Noruega, me chamou para acompanhar um doente terminal nos seus últimos dias de vida. A falta de proximidade parentesca e amistosa com o doente, fez com que a pessoa falasse comigo sobre a morte de uma forma aberta, sem rodeios e sem tabus. No auge do seu sofrimento ele falou comigo sobre a possibilidade do suicídio, o que discutimos de forma honesta e franca. O contato frequente com aquela pessoa fez-me estar ao seu lado até algumas horas antes da sua morte, quando o deixei sozinho no quarto do hospital com seus familiares. Foi uma experiência sem igual.
É uma experiência inexplicável, por isto tão difícil de experimentá-la. O que quero dizer com tudo isto é que devemos permitir que as pessoas possam ser livres para externar suas convicções sobre a morte, seja ela algo próximo ou remoto das suas realidades. Não ajudamos quando dizemos para a pessoa: “Deixe de dizer bobagens!” Mas devemos ouvir, talvez em silêncio, se houver oportunidade dialogar com o outro, mas sem dar o assunto por encerrado.
A história nos conta a experiência de Sócrates, o famoso filósofo grego, condenado a morte por envenenamento e que se recusa a fugir, mas enfrentar a morte com todas as suas faculdades. Os momentos que antecederam a morte de Sócrates foram momentos de um profundo diálogo entre o filósofo e seus discípulos. Sócrates escolhe o momento exato da sua morte e depois de tomar o veneno passa a descrever a sua experiência da morte que ia tomando o seu corpo até que por fim silenciou-se. O mesmo ocorre no livro A Morte de Ivan Ilitch escrita pelo russo Liev Tolstói publicado em 1886. Neste livro a personagem principal, Ivan Ilitch, narra toda a sua trajetória desde a doença até os momentos da sua morte. O livro termina com a seguinte frase: “Aspirou profundamente, deteve-se a meio, inteiricou-se e morreu.”
A realidade é que a morte é uma experiência certa para todos nós. Aliás, de todas as experiências, a mais certa é a morte. Como enfrentar a realidade da sua proximidade é o que faz toda a diferença para nós, os que acompanham a pessoa neste percurso ou para a pessoa que trilha este percurso. Jean Vanier aos escrever sobre o seu percurso ele diz:
“No entanto, tenho a certeza: os desafios do futuro levar-me-ão a uma maior paz interior. Uma felicidade nova ser-me-á danada minha idade avançada. Tenho a esperança de viver nessa felicidade a experiência da minha fragilidade última – ou seja, ao morrer – acolhido nos doces braços de Deus, que me virá buscar e me preencherá como um amigo bem-amado.” (Vanier, 2018).
O SENHOR Jesus viveu esta experiência dos momentos que se aproximavam, o momento da sua paixão e os momentos da sua morte. Seus discípulos não queriam ouvir sobre esta fatalidade, a semelhança dos discípulos de Sócrates esperavam que o SENHOR fugisse, que de alguma forma evitasse a sua morte. Jesus disse: “se um grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto. Mas se morrer dá muito fruto”. (Jo 12:24) É importante para nós compreendermos que o passar pela morte é uma necessidade inevitável e que nunca é infrutífera. Em algum lugar, aliás creio que tanto nesta vida como na outra há de frutificar.
E para concluir faço uma citação de Rubem Alves:
“A Morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. A branda fala da Morte não nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por nos falar da Vida. Na verdade, a Morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria Vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos. Embora a gente não saiba, a Morte fala com a voz do poeta. Porque é nele que as duas, a Vida e a Morte, encontram-se reconciliadas, conversam uma com a outra, e desta conversa surge a Beleza… Ela nos convida a contemplar a nossa própria verdade. E o que ela nos diz é simplesmente isto: “Veja a vida. Não há tempo a perder. É preciso viver agora! Não se pode deixar o amor para depois…” (Alves, 2014).
Assim como os rios desaguam no mar e ali tornam-se infinitamente maiores que eles mesmos, assim é a vida do ser humano que desagua na morte tornando-se algo maior que ele mesmo.
por Luis A R Branco
VANIER, Jean. Ouve-se um grito: o mistério da pessoa é o encontro. Prior Velho: 2018. Paulinas Editora. ALVES, Rubem. Do universo à jabuticaba. São Paulo: 2014. Planeta Brasil.
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verdadenapratica · 6 years ago
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Vazios
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Versos vazios surgiram da minha lavra, Versos ocos, Versos que não dizem, Versos que ninguém lê, Versos escritos sem se saber o porquê.
Uma vontade imensurável de falar, Uma vontade de querer explicar, Uma vontade de não sei o quê, Uma vontade de dizer adeus, Uma vontade estranha antes mesmo d’eu chegar.
Olhei e vi-te sentada no canto, Olhei e vi teus olhos vazios, Olhei o cigarro que se consumia entre teus dedos sem ser levado a boca, Olhei e achei-te parecida comigo, Olhei e vi um pedaço de papel em branco e uma caneta sobre a mesa.
Quisera escrever versos? Quisera afogar tuas mágoas numa taça de vinho, cigarro e versos de poesia? Quisera ter mais luz na tua mesa ao canto? Quisera escrever nossas semelhanças? Quisera simplesmente estar só?
Sou versos nem sempre expressos, Sou palavras nem sempre ditas, Sou silêncio que chega, que está e que se vai, Sou aquilo que imagino ser, Sou sombra, sou ilusão, sou solidão.
por Luis A R Branco
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verdadenapratica · 6 years ago
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O Pessimismo Nacional, a moda brasileira
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por Professor Doutor Luis Alexandre Ribeiro Branco E-mail: [email protected] Blog: https://verdadenapratica.wordpress.com
Uma grande parte da população brasileira anda insatisfeita com a maneira como as coisas correm no Brasil. Digo isto pelas conversas que tenho, pelos textos e notícias que leio, e a “abortada primavera brasileira” que levou milhares de pessoas às ruas do Brasil há não muito tempo mostra esta realidade. Lembro-me que no auge das manifestações no Brasil, quando vimos a Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro ocupada por centenas de milhares de pessoas, o mesmo acontecia em São Paulo e em Brasília onde os manifestantes subiram sobre Congresso Nacional, ter ouvido uma pessoa dizer: “Olha, será que é agora que muda? Estou até arrepiada!” O arrepio passou e a tão sonhada mudança brasileira foi abortada na base da porrada e dos gases de lacrimogéneo e pimenta das polícias brasileiras e das articulações governistas. E voltamos exatamente onde estávamos, o governo desceu o valor da passagem, mas subiu o valor da gasolina e outros produtos ficando “elas por elas.”
O tema desta apresentação é: “O Pessimismo Nacional”, que é tomado emprestado do livro do intelectual português do início do Séc. XX, Manuel Laranjeira. A apresentação é uma pequena parte do livro que publiquei com o mesmo título. Portanto, desejo nestes poucos minutos usar alguns dos pensamentos de Manuel Laranjeira para repensar o que se passa no Brasil.
A obra de Manuel Laranjeira não apenas faz um diagnóstico da problemática nacional, como também propõe uma forma terap��utica para sanar o problema. Não possuo a desenvoltura intelectual deste grande escritor português, portanto, não posso com a mesma firmeza fazer propostas semelhantes, mas como cidadão educado, fui capaz de ler centenas dos cartazes com as reivindicações do povo naquelas manifestações e também de assistir algumas entrevistas onde as pessoas falavam das suas insatisfações com o Governo Brasileiro, como cidadão, tenho minhas próprias queixas e expectativas, portanto, não ocupando o espaço do grande intelectual português, mas fazendo uso de sua inspiração espero refletir um pouco sobre o pessimismo nacional a moda brasileira.
Manuel Laranjeira fala da sociedade tripartida: o povo, a minoria intelectual e a classe dirigente. Acredito que a sociedade brasileira também se vê fragmentada, não apenas tripartida, mas multipartida em diferentes fragmentos, entre os quais vale destacar o povo, os intelectuais, a classe dirigente, os religiosos e outros grupos, em especial aqueles que tentam impor seu comportamento como norma na sociedade. O povo é apático, de mente curta desiste fácil. Os intelectuais parecem cansados, outros comprados e outros silenciados.
Os dirigentes nada mais querem do que sugar os recursos do Estado e se perpetuarem no poder. Os religiosos apenas querem ver uma espécie de casamento entre a fé e a política.Somos um país com um sistema de educação pobre, que não educa, não ensina e não mantém as crianças interessadas no aprendizado. Forçadas pela vida pobre abandonam os estudos sem que ninguém se dê conta disto, e muitas vão fazer suas vidas no tráfico de drogas, assaltos ou simplesmente mendigarem pelas ruas das nossas cidades. Estima-se que exista 23.973 crianças vivendo nas ruas do Brasil. [1] Será preciso esperar por uma nova chacina como a que aconteceu na Candelária em 1993, no Rio de Janeiro, para que voltemos a pensar nestas crianças? A mente curta e a apatia do nosso povo parece esperar por isto, para lamentar, fazer o teatro dramático típico do brasileiro para simplesmente voltar ao esquecimento.
Somos um país sem espírito cívico coletivo, a não ser na Copa do Mundo de Futebol. Fora isto somos um povo tribalizado, que só pensa nos seu próprio interesse e vantagem, que para conseguir o que quer, é capaz de barbaridades. O grande mal do brasileiro é achar que ele tem uma excelente natureza interior, chegando ao sacrilégio de dizer que Deus é brasileiro.
Manuel Laranjeira diz que: “A vida dum povo, como a vida de qualquer ser organizado, apresenta na sua curva representativa uma parte ascensional, de evolução, de progresso, e uma parte descensional, de dissolução, de decadência.”[2] No entanto, parece que no Brasil vivenciamos uma espécie de tobogã social, de altos e baixos, de curvas sem fim, um país onde temos estádios de futebol de primeiro mundo, e escola e hospitais em condições inimagináveis. Somos o país que melhor paga os seus políticos e deles recebe o pior serviço, mas como o povo tem mente curta, os reelege fazendo que na direção do país exista um troca-troca infindável de cargos políticos com os personagens de sempre.
A religião que deveria ocupar-se de influenciar positivamente a nação, tornou-se uma maquina de fazer dinheiro e seus líderes tanto protestantes quanto católicos e cederam ao protagonismo. Quem poderia imaginar pastores evangélicos na capa da Forbes? Quem poderia imaginar um padre cantor disputando protagonismo com Maria, mãe de Jesus, na missa? E como se não bastasse terem ocupado a telinta para extorquir dinheiro do povo, descobriram o caminho de Brasília. Desculpem-me o palavreado vulgar, mas não encontrei substituto melhor: “Quando a religião e a política se juntam vira uma orgia de todo tamanho.”
Infelizmente nossos intelectuais cansaram-se de falar para um povo de mente curta e apático, outros se venderam para imprensa e só falam o que lhes é permitido, e outros foram silenciados. Não há no país vozes da razão e do conhecimento alertando o povo dos perigos que se aproximam. Vejamos o que escreveu o filósofo brasileiro Émilien Vilas Boas Reis:
No Brasil não vem sendo diferente, muito pelo contrário. Enfatizado pela nossa falta de tradição no campo das ideias, o que vem ocorrendo é que o intelectual com algum renome aceita cargos burocráticos nos governos vigentes, o que lhe faz calar ante as calamidades ocorridas. Criam-se situações absurdas, pois o intelectual, preso a ideologias e governos, não tem coragem de explicitar os erros cometidos, calando com certa conveniência.
Há intelectuais que, apesar de estarem presentes em veículos de comunicações de massa, acabam adequando seu discurso em prol daquilo que aparece como mais palatável para a opinião pública. Outros intelectuais, por sua vez, com necessidades de “mudar o mundo” se entregam ao pragmatismo vigente, atuando no campo prático.
A própria academia contribui para que o intelectual se esqueça do campo das ideias, ao dar uma importância ímpar a publicações que, em sua maioria, não passam de remendos de textos já publicados (já dizia um antigo sábio professor que excelentes textos dependem de tempo e reflexão!). [3]
Toda sociedade saudável precisa de uma classe intelectual ativa, corajosa, analítica e autónoma. Sem a qual a sociedade tende a sofrer na escuridão. A classe intelectual não é em espécie alguma uma classe superior ou elitizada, se ela se considerar superior terá seu julgamento afetado e sua perspectiva e análise sofrerá de algum tipo de cegueira. Um intelectual que não conhece o povo é um intelectual incapaz de falar sobre o povo e para o povo.
O intelectual é aquele que analisa as situações e em posse de dados e informações, observa o desenvolvimento das coisas e com sua perspicácia e conhecimento emite opinião para a sociedade com advertências sobre os riscos e alternativas. Os filósofos franceses Gilles Lipovetsky e Jean Serroy fazem uma séria avaliação sobre a vida intelectual, sobre a qual eles chamam de “o desencanto da vida intelectual:”
A noção do declínio do valor da cultura é sem dúvida verdadeira, pelo menos no que diz respeito às humanidades, à literatura: a fama que possuíam e o entusiasmo que as rodeavam diminuíram notavelmente. Os debates de ideias e entre escolas adversas, as posições e as controvérsias filosóficas viram a sua aurora diminuir e o seu poder de fascinar e influenciar enfraqueceram rapidamente. Já não há -ismos, já não há pensadores influentes. Há todo um sector da cultura intelectual que está agora não só desabitado, digamos assim, mas também funcionalizado e comercializado. [4]
Se é assim em sociedades mais desenvolvidas, imagina no nosso Brasil entalado num desenvolvimento que se arrasta. Não podemos negar a existência de grandes intelectuais brasileiros, alguns já se foram e deixaram grandes saudades como Paulo Freire e Darcy Ribeiro, etc.
Qual foi o absurdo quando um professor de filosofia que elaborou uma prova em Taguatinga, chamou Valesca Popozuda de “grande pensadora contemporânea” [5] Imaginarmos que um professor de filosofia seja capaz de chegar a esta absurda conclusão simplesmente porque a moça popozuda não têm papas na língua, é o caos.
E para concluir cito novamente os filósofos franceses que escreveram: “Por um lado, a esfera intelectual está cada vez mais institucionalizada e “burocratizada”, por ser constituída por professores e universitários para os quais a carreira é muitas vezes mais importante do que a questão das ideias.” [6]
Vivemos na era negra do intelectualismo, onde muitos poucos querem dar as caras e enfrentar o sistema, denunciar as suas falcatruas e elevar o espírito humano ao inconformismo. Como bem disse Laranjeira: “Não nos iludamos. Ou nos salvamos nós, ou ninguém nos salva.” [7]
Fico aqui, portanto, com a minha análise na esperança de que possamos ver dias melhores para o nosso tão amado Brasil.
[1] Bruno Paes Manso (24 February 2011). “Grandes cidades têm 23.973 crianças de rua; 63% vão parar lá por brigas em casa”. Estadao.com.br/Sao Paulo (in Portuguese). Grupo Estado. Retrieved 30 November 2012. [2] Manuel Laranjeira, O Pessimismo Nacional: Ou de Como Os Portugueses Procuram Soluções (Lisboa: Padrões Culturais, 2008), 57-58. [3] Émilien Vilas Boas Reis, “Colunas émilien Vilas Boas Reis,” Dom Total, August 26, 2013, accessed May 7, 2014, http://www.domtotal.com.br/colunas/detalhes.php?artId=3789. [4] Gilles Lipovetsky and Jean Serroy, A Cultura-Mundo: Resposta a Uma Sociedade Desorientada (Lisboa: Edições 70, Lda., 2010), 127. [5] Ana Paula Lisboa and Mariana Niederauer, “Valesca Popozuda é Chamada de Grande Pensadora Em Prova de Escola Pública,” Correio Braziliense, 07 de Maio de 2014, accessed May 17, 2014, http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/ensino_educacaobasica/2014/04/07/ensino_educacaobasica_interna,421852/valesca-popozuda-e-chamada-de-grande-pensadora-em-prova-de-escola-publica.shtml. [6] Ibid., 127. [7] Ibid., 92
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verdadenapratica · 6 years ago
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Simplesmente
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Viver sem ter pelo que lutar, Simplesmente viver e das flores desfrutar. Viver sem ter que explicar-me, Simplesmente viver e ser eu, claro ou confuso, que importa? Viver sem ter que possuir, Simplesmente viver e gozar o que livremente vir. Viver sem ter que competir, Simplesmente viver e deixar quem quiser seguir. Viver sem ter a todo tempo que sorrir, Simplesmente viver e deixar o choro e a lágrima fluir. Viver sem ser tão sofisticado, Simplesmente viver e simples ser.
por Luis A R Branco
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