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a carta mais idiota de todas

22 de outubro de 2018

[planos, metas, objetivos e sonhos]

É o seguinte, amor:

Como não vou ao Rio fazer EEAR, os concursos desse ano acabaram (a não ser que abram DETRAN, SEJUS e um outro lá, que estavam para abrir, mas que eu não sei se animo de fazer porque têm “conhecimentos específicos”). Logo, como não passei em nenhum, tenho um longuíssimo ano pela frente. Posso até continuar estudando e tentando esses concursos, mas será em segundo plano. O meu objetivo maior: tentar terminar a faculdade.

Eu tenho um total de 19 disciplinas deixadas para trás, um total de 7 disciplinas pela frente. Fora isso preciso de 7 laboratórios (se não me engano a quantidade é essa, não sei exatamente, mas eu tenho 1 laboratório já concluído) e 3 optativas (também não sei a quantidade exatamente, procurarei saber mais sobre isso), e mais umas horas de palestras assistidas e estágio obrigatório. Meu curso tem duração de 9 semestres e duração MÁXIMA de 12 semestres (ou períodos). Sou praticamente “obrigada” a terminar o curso em no máximo 12 períodos, 6 já passaram, tenho mais 6 para concluir tudo que falta, mas o ideal seria concluir em 3. 6 períodos seriam 3 anos, mas farei de tudo para terminar bem antes disso.

Próximo semestre, o de número 7, não posso pegar nenhuma das únicas 2 disciplinas obrigatórias do período pois outras matérias que eu não fiz bloqueiam essas, sendo assim, começarei a cumprir com matérias atrasadas, TODAS as que eu conseguir (incluindo matérias no período da noite). Tentarei não deixar nenhum horário vago, estarei na UFES de segunda a sexta das 7h até sei lá que horas que eu conseguir encaixar matéria no horário. Como isso acaba me impedindo de trabalhar porque meu horário livre será de 13h às 18h (a aula à noite começa 18h), voltarei a trabalhar no restaurante aos fins de semana SEM RECLAMAR ou encontrarei outro trabalho nos comércios aqui do meu bairro. Não gastarei NADA do dinheiro que eu ganhar. Serão (no máximo) 3 anos na faculdade e me matando de trabalhar nos finais de semana até de madrugada em algo que não me agrada.

Motivos? 1) Deixar meus pais satisfeitos com meu diploma e assim largarão do meu pé; 2) querendo ou não, ter um diploma me dá um acesso mais fácil para arranjar um emprego, mesmo que seja para ser professora, não deixa de ser um emprego; 3) juntar dinheiro (e apoio dos meus pais e família) para o meu principal objetivo:

Quando eu surtei essa semana ao pensar estar grávida, eu percebi duas coisas: a primeira é que eu sou uma criança completamente imatura e irresponsável, sem condição alguma de ter um namoro sério e uma vida sexual ativa; a segunda coisa é que eu não quero mais fingir que sou uma mulher forte e desejo conquistar minha independência. Quero sim ter a capacidade de ser autossuficiente e independente SE EU QUISER (o emprego que um diploma pode oferecer é capaz disso, principalmente porque eu tenho contato com muitos professores que podem me indicar em escolas), mas eu não tenho mais qualquer necessidade de provar para alguém que sou capaz de alguma coisa, porque foi isso que me fez começar a encarar os concursos militares; mas isso ficou no passado agora. Você chegou aqui pra mudar, pra me dar a oportunidade de seguir meus projetos iniciais, os que eu tinha antes de ser tão machucada. E esses projetos eram, inegavelmente, me formar em Letras, ter uma família e escrever livros nas horas vagas. Esses sempre foram os meus sonhos. Só isso, nada diferente disso e nada mais do que isso. Mas as coisas mudaram e eu comecei a fugir de tudo.

Essa semana de puro pavor me fez abrir os olhos. Eu fui dividida em duas partes completamente opostas. A primeira parte de mim era a parte que vou apelidar de “chá de canela”, sim, essa parte que não queria um filho, que via isso como um fim do mundo, a destruição do sonho de entrar em um concurso militar, a destruição de ser uma mulher moderna, independente e bem sucedida. Mas eu me afeiçoei à segunda parte. Essa parte que queria fazer um teste e se deparar com um resultado positivo, era a parte que torcia para a menstruação não descer e o corpo mudar cada vez mais. Essa parte já se sentia mãe do seu filho. Mas eu só abri os olhos para essa parte quando uma decepção e uma tristeza muito grande tomaram conta de mim de manhã quando me deparei com os primeiros sinais do “negativo”. E esse negativo significou um enorme vazio. Aí eu me dei conta de tudo isso.

Eu quero ser sua mulher e mãe dos seus filhos. E entre eu e esse sonho só existe esse diploma pra consolar a minha família de que eu não farei nenhuma grande coisa no mundo. Então eu poderei ser sua, do jeito que sempre sonhamos. Eu te achei um pouco estranho comigo hoje, não sei de foi só pelo seu dia ruim ou se algo mudou pra você, mas pra mim mudou. E eu quero que você saiba dessa mudança. Se quiser embarcar comigo nessa, você me fará a mulher mais feliz do mundo. Caso contrário, se você quiser uma mulher militar e fodona, podemos conversar mais uma vez, quantas vezes forem necessárias para nos entendermos. Mas se você aceitar, temos no máximo 3 anos pela frente. E antes mesmo de pegar o canudo, eu assino os papéis e me faço sua mulher. Mas preciso que você também se comprometa com isso.

Se eu estivesse grávida, você ia mudar, você disse isso. Então mude. Isso pode acontecer antes do que você imagina. Nós temos um relacionamento de 6 meses longe um do outro por falta de dinheiro, nos vimos 3 vezes, tivemos recaídas, mas fomos bem sucedidos no geral. Se minha ID Jovem sair, podemos sentar com meus pais, conversar de verdade e convencê-los a me deixarem ir ao Rio te ver, nos veremos muito mais. Mas você precisa se comprometer de verdade comigo, poupar todo dinheiro que puder, assim como eu também estarei fazendo tudo o que eu puder, eu preciso que você se empenhe no trabalho, que comece a fazer exercícios e coma melhor. Preciso que você saia do navio o mínimo possível para evitar me trair, chega de doenças e infidelidade, amor. O seu jogo está liberado com moderação, mas em dias de alta probabilidade de traição, não saia, conversa comigo, tira um fim de semana pra me ver (poupando tanto você poderá fazer isso), faça qualquer coisa para sermos um casal o menos problemático possível, por favor. Vou conversar com meus pais para eu ir conhecer os seus pais quando você quiser (no final desse ano ou no meio do próximo).

Eu quero ficar com você, Giulliano. É uma vontade e uma certeza ABSURDAS. Não vou mais me fazer de difícil, o que eu mais quero nessa vida é ser sua mulher e mãe dos seus filhos. No sentido mais real dessa sentença. E eu só quero que você queira também. E, se você quiser, volto a repetir, em menos de 3 anos podemos estar casamos e esperando nosso primeiro filho.

Ps: não faço nenhuma questão de uma casa dos nosso sonhos, de um quintal grande ou um apartamento novo, só quero qualquer quartinho alugado onde possamos criar o nosso filho com muito amor (e os filhos que seguirem, vamos nos adaptando de acordo com nossa condição financeira). Eu quero (preciso) saber o que você acha de tudo isso, porque essa foi a declaração de amor mais sincera que eu já escrevi em toda a minha vida.

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mais uma carta

02 (quase 03) de dezembro de 2018

Querido Giu,

Já faz quase um mês que venho tentando escrever isso pra você, mas todas as minhas tentativas me pareceram forçadas demais e perdi a conta de quantos inícios foram descartados. Agora corro contra o tempo faltando apenas 1 hora para o dia do seu aniversário e em um clima nada agradável entre nós dois (observe tudo isso e tenha a resposta do que me levou a abandonar de vez a escrita: um bom escritor nunca fica sem palavras e recentemente as que me aparecem não andam sendo muito satisfatórias). Porém você deu sorte. Sempre faço um esforço por pessoas especiais e, longe do meu controle, você é a mais especial de todas (e essas palavras continuam não me agradando nem um pouco, mas preciso começar em algum lugar e agora não tenho mais tempo para jogar nada fora). E, pensando bem, você merece sim todas essas palavras, todas essas folhas rasgadas, merece cada um desses parênteses dessa conta. Porque você merece o meu melhor, mas também merece todos os meus esforços para atingi-lo, afinal, eles só acontecem por sua causa, não é mesmo? (Perdoe também os parágrafos longos, falha minha por não conseguir quebrar nenhum desses raciocínios, e você também merece minha escrita “fluxo de consciência”, pois são as palavras de cara limpa – ou muito suja por coisas não importantes, depende do ponto de vista). Sei que nos últimos dias (ou dia? Já nem lembro mais) atingi um grau de estresse e irritabilidade que e levou de volta para o abismo. Em um dia eu lembrava claramente da promessa que fiz a mim mesma de não mais terminar por qualquer coisa ou fazer tempestades em copo d’água e, no dia seguinte, estava terminando com você e tirando a aliança (uma promessa que te fiz também quebrada). Só sei que isso às vezes vem e eu me sinto péssima. Sem contar tudo o que você me falou que só piorou as coisas. Porque pouco tempo atrás estava organizando todo o meu próximo ano e os próximos anos de faculdade, toda animada e motivada para terminar isso de uma vez e ficar livre para você, então você me deu aquele banho de água fria e me mostrou que não valia muito a pena tudo aquilo, porque tentar ajeitar as coisas só faria com que eu te perdesse de qualquer forma. Isso acaba comigo, mas sei que os meus atos seguintes não fizeram nenhum sentido levando em consideração que te perder é a última coisa que eu quero no mundo. Acho que sou mesmo uma confusão e você é extremamente corajoso por resolver encarar tudo isso. E nos últimos dias e horas eu não dei muito valor a isso, mas só agora consigo admitir. Mas eu realmente não tenho nenhum controle quando o assunto são os meus sentimentos por você, talvez por eles serem também essa confusão intensa. Também já nem sei onde estou querendo chegar com tudo isso, a questão é: quero pedir perdão. Me perdoa por todos esses últimos momentos que eu fui uma idiota, mas o que você me disse realmente me magoou profundamente. Me perdoa por ter me mantido inabalável mesmo quando você voltou atrás. Me perdoa por ter ignorado todas as vezes que você declarou o seu amor por mim, por ter te ignorado tantas outras vezes e por ter sido tão seca. Eu não mudei, amor. Sou a mesma de sempre, apenas extremamente chateada pelas suas palavras. Me perdoa por não ter dado ouvidos a nenhuma das suas tentativas de reconciliação quando aqui eu estava morrendo por dentro de tanto sentir a sua falta. Me perdoa por qualquer coisa que eu tenha dito que possa ter te magoado, ou qualquer outra coisa que tenha te magoado porque eu posso sim imaginar o quanto deve ter doído em você quando eu quis terminar, eu fui idiota, realmente não pensei no que você poderia sentir, estava doendo em mim e eu só queria que você se sentisse da mesma forma, mas foi estúpido e infantil, me perdoa por isso. Me perdoa por não ter levado em consideração que estava tão próximo do seu aniversário, e um aniversário que você nem vai passar com a sua família nem comigo. Me perdoa também por agora já ser 00h02 e eu ainda não ter te enviado nenhum feliz aniversário porque ainda estou escrevendo isso graças à minha mãe que já me interrompeu umas 50 vezes. E eu poderia agora começar o textão de aniversário, mas desejar felicitações pré-moldadas e clichês já perderam o encanto. Então só quero que você saiba que hoje, seu aniversário, é apenas o primeiro de MUITO que eu pretendo estar do seu lado, porque eu sei que posso fazer de tudo, te dar milhões de motivos e provas do quanto tudo pode dar errado e ainda assim, exatamente como eu, você está disposto a continuar. Então não vou gastar todas as minhas palavras de parabéns agora porque ainda vem por aí quase uns 80 anos que vou ter que ficar inventando palavras, literalmente inventando palavras, para tentar dizer o quanto você é uma pessoa especial e que eu te daria o universo inteiro se pudesse. Giulliano, você realmente é tudo para mim, e eu não sei onde estava com a cabeça quando quis terminar. Certamente não era em nós dois, porque quando penso em nós dois não consigo nem cogitar a ideia de uma separação. Só quero estar com você, hoje e nos próximos 80 aniversários (e você deve pensar “caramba, 100 anos é muito”, mas fiquei meio traumatizada no dia que vi uma reportagem sobre a Xuxa, quando ela recebeu o Ayrton Senna no programa dela de ano novo e começou a dar beijos no rosto dele falando os anos que viriam e ele morreu no exato ano do último beijo que ela deu nele, bizarro, eu sei). E apesar desses momentos ruins, desses sentimentos horríveis que podem aparecer no meio do caminho, tenha a certeza de que independente do que eu diga, dentro de mim eu só te amo de uma forma avassaladora. Acredito que hoje, depois de 7 meses juntos, você já saiba disso, então sempre tenha em mente que a minha maior vontade é ficar. Ficar e sempre fazer o que estiver ao meu alcance (e ao meu humor) para te fazer sorrir sempre. E sobre os votos de aniversário, dinheiro suficiente para construirmos nossa família, muita saúde nos momentos que eu não puder cuidar de você (mas resfriados estão liberados quando eu estiver por perto) e amor nós dois já temos de sobra né (mas nunca demais que não tenha espaço para quando nossos filhos chegarem). Ah, e não podemos esquecer felicidade, para a qual não contribuí muito recentemente, mas ainda temos o resto das nossas vidas para que eu conserte isso. Já passou 20min do seu aniversário (e você acabou de mandar mensagem), então por hoje paro por aqui porque não quero que passe muito mais tempo. Por fim, eu amo você, meu amor ainda é o mesmo (com as pequenas variações de amores que naturalmente crescem com o passar do tempo) e eu ainda sou a mesma.

Completamente sua,

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livro perdido

Terminei meu café, comi waffles com geleia de framboesa e fui até o caixa pagar a conta. Ao sair, olhei discretamente para o garoto, ele atendia uma ou outra mesa e parecia mais simpático do que era comigo. Ou talvez fosse apenas coisa da minha cabeça e aqueles clientes podiam ser mais antigos. Apaguei aquela banalidade da mente e andei na calçada reparando tudo ao redor, alguma coisa ali podia me trazer a inspiração de volta. A maioria das pessoas voltava para casa após um longo dia em escritórios, havia muitos homens de ternos e mulheres com suas roupas sociais de marcas caras. Pessoas apressadas com celulares no ouvido, levando trabalho para casa ainda que seus companheiros reclamassem todas as vezes. Alguns nem tinham tempo para os filhos. Era meio deprimente, para falar a verdade.

Atualmente eu não era muito diferente deles. Deixei família e amigos em outra cidade para me aventurar em um lugar enorme que eu não conhecia. Minha vida se resumia a trabalho e meu círculo de amizades se resumia a Vinicius, o garoto que sentava ao meu lado e era inevitável ficar um dia inteiro sem trocar ao menos meia dúzia de palavras. A intenção era ter uma nova vida, ser outra pessoa, mas as coisas não andavam muito bem. Eu só estava mais solitária. Apenas mais solitária em uma cidade lotada de outras pessoas solitárias também.

Entrei no apartamento, larguei as chaves sobre a bancada, a bolsa no escritório e fui direto tomar um banho. Apenas uma ducha rápida mesmo, pois não tinha coragem nem para preparar um bom e relaxante banho na banheira, mesmo que viesse a calhar. Só me dei falta do livro que estava lendo na cafeteria quando fui busca-lo para uma última leitura antes de dormir. Minha mãe nunca gostou que eu lesse à noite, mas as palavras reunidas em papéis me enfeitiçavam e era justamente quando a lua estava alta no céu que tudo fazia mais efeito. Agora eu precisava começar outro livro se quisesse ler, pois com certeza havia esquecido o outro na cafeteria. Eu só esperava que alguém o encontrasse e eu conseguisse recuperá-lo.

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não sei porque coloquei tanta expectativa em algo que não tinha nem começado

Doeu, doeu muito quando você foi sincero, mas eu ri, ri porque deveria achar aquilo tão engraçado. Eu, interessada demais em você? Um cara que nem conhecia direito? Só podia ser uma piada e das mais engraçadas. Eu ri porque tive medo de te perder ali, naquele momento. Era o fim, a hora que você ia sair correndo e nunca mais voltar. E eu perderia você. Perderia a chance de começar aquilo que eu sabia que tinha tudo para ser intenso e explosivo. E eu sei que você também sentia isso em algum lugar lá no fundo. Você sente, não sente? Eu sei que algo te diz que você sabe que nascemos em chamas. Nas você tem medo, não é? Tem medo do fim, tem medo das cinzas. Eu também tenho medo. Mas somos fênix, amor. Não podemos deixar o medo nos impedir de queimar juntos.

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o cara errado

Sabe, eu já pensei que você fosse o cara errado. Principalmente quando você me fez chorar desesperadamente no dia da sua formatura. Eu ficava pensando por que tinha me deixado levar, por que tinha me permitido ser iludida pelas suas palavras de amor quando claramente era só mais uma mentira. Mais uma daquelas mentiras que eu já tinha ouvido tantas vezes e devia ter me acostumado a reconhecê-las. Porém eu insistia sempre em acreditar, tinha essa necessidade em acreditar que alguma coisa podia ser real. Então eu acreditei em você e quebrei a cara. A culpa nem foi sua, mas eu não admitia que tinha procurado por aquilo, na minha visão perfeita de um amor perfeito você devia largar tudo para ficar comigo, o que não aconteceu e claramente indicava que mais uma vez eu tinha sido docemente iludida por um sentimento que nunca existiu. Até hoje não sei se existia alguma coisa, não consigo ainda saber em que momento as coisas mudaram para você. E não importa muito, mas nos meses seguintes eu não consegui pensar em outra coisa. Você era o cara errado. Mais um cara errado. E até consegui me manter indiferente a você por bastante tempo, não lembro quem chamou quem primeiro, mas consigo lembrar da vontade desesperada que eu tinha de estar com você, de falar com você a todo segundo, de inventar qualquer coisa, mesmo que fosse apenas para dizer o quanto você era um babaca. Eu precisava das suas palavras e lembro de quando você disse que ainda me queria. E eu queria você, nunca deixei de querer. Mas também queria que você tivesse percebido isso antes, quando tudo ainda tinha uma chance de dar um pouco certo. Irônico não? Eu que perdi o ano inteiro, fugi de você o ano inteiro sem conseguir enxergar o que começava a sentir por você. Mas tudo bem, no fim você era só o cara errado. E eu tentei seguir minha vida, mas quando fui me deparando com outros caras errados, só então enxerguei a diferença. Mas até no início do nosso relacionamento eu dava muita pouca coisa por isso, não era possível que você realmente sentisse o que dizia e a cada vez que você me traía eu continuava achando isso, que no fim você era o cara errado, continuava sendo. Eu admito que não levava esse relacionamento a sério até ir pro Rio, tinha medo de tudo acabar de uma hora pra outra, podia acontecer. Então eu fui pro Rio e foi perfeito, nos conectamos de uma forma incrível e aquilo era tão real. Quando eu voltei e você não destruiu tudo o que tínhamos construído, eu percebi o quanto estava sendo boba. Você era sim o cara certo e, se não fosse, pelo menos poderia ser por um bom período de tempo. E eu já amava você, mas passei a amar de uma forma ainda mais absurda, fui conhecendo seus defeitos, seus medos, mas nada disso conseguiu abalar esse sentimento. Fomos construindo esse relacionamento entre diversas idas e vindas, mas cada vez que voltávamos eu nos sentia ainda mais unidos e apaixonados. E hoje eu me sinto completa com você. Já fiz a minha escolha, quero casar com você e construir uma família com você. Nada nem ninguém pode mudar isso. Eu sou completamente sua, de corpo, alma e coração. E você é o cara mais certo pra mim, eu não poderia pedir melhor. Quero que você saiba que o nosso amor é o que tenho de mais precioso no mundo (e para fazer uma brincadeirinha: também não vejo a hora de trazer nossa pedrinha preciosa ao mundo). Eu te amo demais, meu amor.

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medo

Eu nunca quis me apaixonar mais uma vez e, algumas vezes, já até amaldiçoei esse sentimento. Até hoje, em todas as vezes, tudo que ganhei do amor foram dores, sofrimentos e cicatrizes profundas, os pouquíssimos momentos de alegria nunca valeram todas as trevas que os acompanharam logo em seguida. E eu tentei me tornar uma pessoa fria, distante de todas essas coisas que sempre me deram a aparência ‘de boas’, mas das quais só colhi amarguras. Pouco tempo atrás eu tinha decidido de uma vez por todas, coloquei, até então, o último dos meus amores contra a parede, despejei toda a sinceridade que fui capaz, mas antes da resposta chegar, antes que eu pudesse trancar todas as portas e fechar todas as janelas, apareceu alguém. E eu, tola, resolvi dar uma chance, mas dei uma chance e um decreto. Aquela era a última vez que eu tentava, a última vez que entregava meu coração a alguém. Não deu certo e foi aí que eu comecei a querer tentar os concursos militares, queria uma nova eu e uma nova vida longe de tudo, queria esquecer que um dia tive um coração. E foi nesse caminho que você apareceu. A partir daí você já sabe a história. Mas eu tenho medo. Tenho medo de, como todas as outras vezes, depositar minhas esperanças nisso e, no fim, passar por tudo novamente. E as cicatrizes, profundas, não de deixam confiar completamente, não me deixam ser confiante o suficiente e, às vezes, tenho recaídas. Como agora, que perguntei diversas vezes a Deus porque Ele permitiu que mais uma vez eu passasse por tudo isso, que mais uma vez eu tivesse meu coração despedaçado por palavras como “acho que não vamos dar certo”, “eu estaria com ela se você não tivesse aparecido” ou qualquer uma das coisas que você disse com esse teor. Estou exausta. Exausta de tentar, de querer ser perfeita, de querer agradar o tempo inteiro e falhar constantemente. Estou cansada de pensar a todo instante se você está sendo sincero, me repreender no momento seguinte e em ambos os momentos me sentir uma boba. Uma boba por confiar e uma boba por desconfiar. Não sei mais como agir, não sei mais até que ponto sou capaz de me doar sem que minhas partes descolem. Tenho medo de todas as palavras de amor que digo, tenho medo de um dia elas deixarem de fazer sentido, tenho medo de um dia elas se juntarem ao cemitério de textos para amores que eu pensei serem os maiores da minha vida e não eram nem um grão de areia perto de como eu os via e os encarava. Tenho medo de precisar retirar várias coisas que digo, como já tive que fazer tantas e tantas vezes. E também tenho medo de usar as mesmas palavras que sempre usei pensando que você pode ser algo muito maior, e medo de te considerar algo muito maior e no fim você ser só mais um do mesmo. Tenho um medo constante. De ser magoada de novo, de mais uma vez me decepcionar, de jogar minhas palavras, meus sentimentos, minhas ações e meus carinhos no lixo. Tenho medo de perder você, medo de que você simplesmente aceite que não temos mesmo nada a ver e desista de tentar, medo de que você encontre outra pessoa ou que você perceba que o amor da sua vida é outra pessoa. Tenho medo de te perder. E também tenho um medo absurdo do que sinto por você, um medo maior ainda do absurdo que sei que ainda posso sentir por você. Então me perdoa se às vezes pareço estranha, mas nessas horas só penso que qualquer um dos meus medos pode estar acontecendo bem naquele minuto. E aí tenho medo de me entregar demais e me envolver demais. Porque eu já tive experiências de chorar por sua causa, não esses choros no travesseiro porque fomos dormir brigados, mas toda a dor e o desespero que eu senti no dia da sua formatura e uma outra vez que eu lembro bem do choro, mas não lembro em qual das vezes que você terminou comigo que ele aconteceu. E eu realmente não quero passar por nada disso de novo, então quando me sinto assim, eu me fecho, na tentativa de estar o mais distante possível se você resolver quebrar o meu coração. E nessas horas eu sinto uma certeza absurda de que a qualquer momento isso vai acontecer. E esse é o meu maior medo.

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sobre o incêndio do Museu Nacional

Quando em junho de 2018 o visitei, não foi o seu conteúdo o que mais me chamou a atenção. Já quase no horário de fechar, enquanto percorríamos as últimas salas, nos deparamos com um dos vigias. Logo no primeiro momento pensei que ia nos expulsar ou nos apressar, mas tudo o que fez foi perguntar o que estávamos achando, comentar conosco sobre a beleza do lugar e nos atentar para detalhes que, na pressa, não havíamos visto e, muito provavelmente, não teríamos reparado se não tivessem nos sido mostrados por aquele senhor. Ele nos indicou o teto e nos fez admirar a beleza escondida ali. Mas não foi só a beleza dos detalhes que admiramos. O amor que aquele homem sentia pelo lugar e pelo seu trabalho era também admirável e claramente visível para qualquer um que desse poucos minutos de atenção ao que ele tinha a dizer. Ele fazia a diferença ali. Mesmo vendo todos os dias, ainda parava para observar o lugar e não se contentava em ter aquela consciência só para si, fazia questão de compartilhar com os visitantes. Não era obrigação dele, não fazia parte do seu trabalho. Quando saímos, até brincamos que ele havia nos lembrado o vigia do filme “Uma Noite no Museu”, tão forte era o vínculo que percebemos entre ele e o Museu Nacional. Agora, enquanto lamentam a perda dos pesquisadores, da ciência, do Brasil e do mundo, nós, que tivemos o prazer de ouvir as palavras daquele vigia, lamentamos o que ELE perdeu. Ele sim, que se importava e amava aquele lugar, pode lamentar por isso. Porque aquele vigia é o beija-flor que, sozinho, enche de água seu pequeno bico para apagar o incêndio. E, no fim, morre queimado. Nesse momento é nele que pensamos. Estamos com ele.

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carta três

Querido Alexandre,

Se todas as cartas de amor são ridículas, já o deixo avisado que as coisas aqui contidas serão as mais ridículas já escritas. É mesmo ridícula a forma como você se tornou especial para mim em tão pouco tempo. É essa ridicularidade que nos faz tão únicos. Não sei você, mas eu amo ser ridícula. Ridiculamente apaixonada por ti.

Deixarei aqui registrado que nos conhecemos dia 22 de outubro, domingo que você enfeitou com tuas palavras. Falei tantas vezes para você parar dizendo que eu ia acabar me apaixonando, mas já estava tudo acabado antes que eu dissesse isso pela primeira vez. Fui atingida pela flecha do Cupido no momento que me deparei com aquela tua foto.

Você foi me atraindo mansamente e com tamanha maciez que mal senti tuas plumas me aquecendo. Quando fui perceber, meu corpo inteiro já tinha adquirido o teu calor e o formato que se encaixaria em você. Mas é claro que nem tudo é perfeito e nos notamos distantes um do outro.

Notamo-nos.

Você passou a ser o novo universo no qual escolhi habitar. Reparei em cada característica tua só para ter certeza de onde estava pisando. Não precisava, a tua gravidade era ideal para mim e todas as tuas imperfeições se encaixavam naqueles lugares onde me faltava algo.

Descobri em você o meu melhor lado, aquele exato que eu procurava. Descobri em você a firmeza de amar e ser amada. Além disso, você reacende minha esperança nos doces sentimentos do mundo. Você é minha própria esperança.

Mas te esperar dói. Todas as minhas partes inseguras, vazias e quebradas clamam por paz, querem apenas desistir, virar as costas e viver com a Solidão. Contudo, conforme o tempo passa, você inspira segurança e preenche todos esses espaços.Você me reconstrói porque o “colar os cacos” é frágil demais e me queres por inteiro, disposta a lutar ao teu lado.

Nossa 1 semana virou 6 meses, minha vida inteira virou só você. Instalei-te no melhor cômodo da casa e com a melhor vista, mas todas as outras portas estão abertas para o teu livre acesso. Quero que me passeies, que teus passos me façam melancolias de amor.

Sei que a nossa intensidade instantânea assusta e é estranha. Mas eu amo cada coisinha que nos faz estranhos aos olhos dos outros. Essa coisa de nos apaixonarmos por palavras, por demonstrações tão cheias quando o mundo está lotado de vazio, essa nossa entrega de alma e poesia, a nossa mania de sermos tão ridículos.

É pensando em todas as palavras que ainda escreverei para você e em tudo que já escrevi até hoje que percebo que não tive palavras ridículas. Todas as cartas que eu imaginava serem de amor, não passavam de belos substantivo. Agora, sendo ridícula, vejo que nunca antes o fui. Agora o meu amor é verbo e posso dizer em qualquer conjugação que por você sinto um amor ridículo. O mais ridículo de todos.

Declaro e assino a minha primeira carta ridícula para o meu amor verdadeiro, seja por uma vida inteira ou o quanto nos aguentarmos ridículos amantes.

Eu.

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