thesoulnyara
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thesoulnyara · 18 days ago
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【 The Dream 】
O quarto de Nyara estava imerso em tons suaves de azul e lilás, refletindo a luz aconchegante de um abajur em forma de lua. As paredes eram adornadas com desenhos que ela mesma tinha feito, retratando criaturas fantásticas e paisagens de contos que sua avó adorava narrar. 
-Boa noite, minha pequena estrela. - disse sua mãe, Gianna, inclinando-se para deixar um beijo carinhoso em sua testa. -Durma bem e deixe seus sonhos te levarem para lugares lindos.
-Vou sonhar com a história que a vovó contou hoje, mamãe. Aquela da princesa que falava com os ventos. - Nyara sorriu, abraçando o lençol que cheirava a lavanda.  
-E se algum vento te visitar nos sonhos, peça para soprar de volta para casa. - brincou Felix, o pai de Nyara, se aproximando com passos largos e sorridentes. Abaixou-se, dando um beijo afetuoso na testa da filha, a barba rala fazendo cócegas leves em sua pele. -Prometa que vai descansar bem, ok? Papai e mamãe estarão logo aqui se precisar de nós.
-Eu prometo, papai. - Nyara assentiu, com os olhos já meio fechados.
Felix ajeitou o cobertor ao redor dos ombros dela e apagou a luz do abajur, deixando apenas uma fraca luminosidade de uma pequena lâmpada de parede em forma de estrela. - Boa noite, meu amor. 
-Boa noite, meu anjinho. - acrescentou Gianna, enquanto os dois pais se afastavam da cama, a porta do quarto se fechando lentamente, com um último olhar trocado entre eles.
O silêncio da casa era um convite à tranquilidade, e Nyara fechou os olhos, deixando a mente vagar nas histórias que tanto amava. O mundo parecia seguro, protegido.
(...)
A escuridão me envolvia como um abraço cruel, arrastando-me para um lugar onde tudo parecia errado. Quando a cena se formou, o pavor tomou conta de mim. Eu estava em um carro preto, minhas mãos grandes e frias apertavam o volante com força. Cada detalhe era vívido: o couro desgastado do assento, o cheiro amargo de gasolina misturado com metal. Mas não eram minhas mãos, nem minha respiração controlada e impiedosa. Eu era alguém diferente, alguém terrivelmente familiar e distante ao mesmo tempo.
O carro parou na frente da minha casa, a mesma casa onde me sentia protegida, onde risadas e histórias antes ecoavam. O motor silenciou, mas o barulho em minha mente não. Saí do carro, sentindo cada passo como um golpe seco contra o chão de cascalho. Meus olhos percorriam a fachada da casa em busca de uma entrada. A noite estava silenciosa demais, como se o próprio mundo prendesse a respiração.
Uma voz infantil escapou de dentro do carro, cortando o ar frio e me atingindo como uma lâmina. Meu coração, ainda trancado dentro de mim mesma, gritou para que eu parasse, para que corresse na outra direção, mas minhas mãos — aquelas mãos traiçoeiras — se moveram. A arma saiu do coldre, fria e pesada. Eu a apontei para a maçaneta da porta, e o disparo quebrou a noite, levando com ele qualquer resquício de esperança.
O som de gritos de terror ecoou pela casa, e senti um aperto sufocante na garganta. Queria gritar que era eu, que não queria fazer isso, mas estava presa, uma prisioneira em minha própria mente. Meu pai apareceu, olhos arregalados, a expressão de um homem que sabia que o impossível estava acontecendo. Ele se moveu rápido, trancando a porta rosa avermelhada que escondia o quarto da sua garotinha — eu.
O confronto foi inevitável, e em um segundo que se estendeu por toda a eternidade, o som de um disparo preencheu o espaço entre nós. Vi meu pai cambalear, os olhos castanhos se voltando para a porta rosa, para o último lugar onde ele sabia que eu estava segura. A vida escapou dele como um sussurro, e uma dor indescritível me dilacerou por dentro, uma dor que não pertencia à figura que eu habitava, mas a mim, Nyara, filha dele.
Meus passos me levaram até o quarto principal, onde minha mãe estava. Gianna, a mulher que me abraçava com amor incondicional, que cantava para me acalmar, agora olhava para mim com um medo terrível. Ela tremia, as palavras escapavam de seus lábios trêmulos. -Por favor... minha filha... - Cada sílaba era uma faca cravada no meu peito, mas meu corpo não cedeu. Meu dedo, impiedoso e cruel, pressionou o gatilho. O som abafado do tiro preencheu o quarto, e o brilho nos olhos dela se apagou.
(...)
Nyara acordou com um grito que rasgou a escuridão do quarto, o corpo todo tremendo e banhado em suor frio. Os lençóis estavam enroscados ao redor dela, como se tivessem sido uma prisão durante a noite. A luz fraca da lâmpada em forma de estrela na parede mal iluminava o ambiente, mas os ecos do pesadelo ainda reverberavam em sua mente — os disparos, os olhos sem vida de seus pais. A realidade e o sonho se misturavam, deixando-a à beira do desespero.
A porta do quarto se abriu de repente, batendo contra a parede. Gianna foi a primeira a entrar, os olhos arregalados de preocupação. Logo atrás vinha Felix, a figura alta e forte, mas com um olhar que Nyara nunca tinha visto antes — medo profundo.
-Nyara, querida, estamos aqui! - Gianna correu até a cama e a envolveu em seus braços, a voz carregada de um desespero terno. O calor familiar do abraço da mãe trouxe um alívio momentâneo, embora o corpo da garota continuasse a tremer. Nyara se agarrou ao tecido do robe da mãe como se sua vida dependesse disso, o rosto enterrado em seu peito.
Felix se ajoelhou ao lado da cama, suas mãos grandes e protetoras pousando suavemente no ombro da filha. - Estou aqui. Foi só um sonho. Estamos bem, você está segura. - ele disse, a voz baixa e cheia de convicção.
O som das palavras dele ecoava na mente de Nyara, tentando empurrar as imagens terríveis para longe. Mas ainda era difícil. - Eu... eu vi vocês... - murmurou, a voz afogada em soluços enquanto a lembrança do pesadelo pulsava como um ferimento aberto.
Gianna continuava acariciando seus cabelos, depositando um beijo na testa da filha com uma ternura que tremia um pouco. - Shhh, está tudo bem, Nyara. Nós estamos aqui. - O abraço dela era firme, prometendo que nada a arrancaria dos braços da mãe.
Felix e Gianna trocaram um olhar que falava mais do que qualquer palavra, um reflexo de preocupação e determinação. Ele se inclinou mais perto, seus olhos castanhos fixos nos de Nyara, repletos de amor e promessas silenciosas. 
O pavor ainda se agarrava ao coração de Nyara como sombras insistentes, mas o calor dos pais começou a dissipar a escuridão, empurrando-a lentamente para longe. O som da respiração deles, a presença sólida ao seu lado, começaram a trazer de volta um pouco de paz. Eles estavam ali, reais, vivos.
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thesoulnyara · 25 days ago
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【  Days Gone 】
O sol da tarde se derramava suave sobre o quintal, tingindo tudo com uma luz dourada. Nyara, uma garotinha de bochechas rosadas e olhos curiosos, aproveitava cada segundo do calor e do vento morno ao lado de sua avó. Havia algo especial em estar ali, cercada pelas flores de seu jardim, enquanto mexia na terra com as mãos pequeninas, sentindo a textura entre os dedos.
A senhora, com uma voz gentil e cheia de histórias, contava sobre os espíritos das sereias e as criaturas mágicas que, segundo ela, vagavam pelo mundo. Nyara ria e ouvia com atenção, encantada com as aventuras de criaturas místicas. Enquanto ouvia, colhia algumas peonias, as flores preferidas de sua mãe, e as organizava como se fossem tesouros preciosos. A avó olhava para a garotinha com olhos brilhantes, aproveitando cada momento com a menina. 
- Conta mais vovó, conta mais! Eu quero aquela sobre a princesa das estrelas de novo, por favor, por favorzinho… - Ela dizia com uma expressão fofa, aquela que tinha certeza que a vó não conseguiria resistir, ela conseguia sentir a mente de sua avó sorrir e desistir de apressar a garota. 
Do outro lado do quintal, seus pais observavam a cena em silêncio, com sorrisos radiantes nos rostos. Gianna, com seus longos cabelos vermelhos refletindo o brilho do sol, olhava para Nyara com uma expressão de carinho e orgulho, enquanto Felix, com seus olhos castanhos profundos, tinha um olhar tranquilo e protetor, como se cada risada da filha fosse uma música que ele nunca cansaria de ouvir.
- Tudo bem, tudo bem… eu irei contar novamente, mas apenas se a senhorinha prometer que será o último conto. - Sua vó dizia enquanto fazia cosquinhas leves na menina. A senhora contou a historia como se fosse a primeira vez, a magia e a tensão florescendo por suas palavras como se fossem verdades.
Nyara prestava atenção na avó e escutava como seus pensamentos se formavam, a menininha sabia que toda vez que pedia esse exato conto sua vó fazia uma pequena mudança, sutil como uma pétala, para que ela pudesse descobrir antes mesmo de ser contada, utilizando suas habilidades.
- E…. Ela…. Uhm.. - A pequena se aprofundava em seu evol, procurando por uma pista, uma dica para que pudesse completar a nova historia. - Ela se tornou uma estrela! É isso vovó?
- Correto minha flor, você esta evoluindo muito bem. - Nyara sentia uma emoção distante naquelas palavras, não sabia dizer… era medo? antecipação? Mas antes que conseguisse distinguir, foi tomada por uma onde de calma e leveza. - As estrelas tem vozes que apenas os corações puros e corajosos podem ouvir. A princesa era muito corajosa não acha? 
- Sim! Eu também tenho um coração puro não tenho? Eu consigo escutar as estrelas vovó!  - Nyara, com um sorriso sapeca, fingia ouvir uma estrela e brincava de  "traduzir" a mensagem que vinha do céu, arrancando uma gargalhada sincera da avó.
Quando a luz começou a suavizar, os pais de Nyara se aproximaram. Gianna chamou as duas para o jantar com uma voz suave, e Nyara olhou para a mãe com um sorriso radiante, enquanto Felix, com um brilho nos olhos, estendeu a mão para ajudá-las a se levantar.
- Vamos pequena estrela,” disse ele, em um tom carinhoso, enquanto pegava Nyara no colo.
E ali, cercada por amor, Nyara se sentia segura e feliz, esquecendo por um instante o cansaço e dor que seu coraçãozinho fraco sempre lhe lembrava. Os dias passados no hospital, as tardes nem um pouco aconchegantes que já haviam se repetido tantas vezes, as noites em claro, tudo valia a pena. A família seguiu em direção à casa, iluminados pela última luz do dia.
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