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Sobre ser uma professora em formação
(texto escrito como relato de experiência para uma aula de didática)
Quando eu era criança, eu queria ser professora ou princesa. Rapidamente, percebi que um deles não iria funcionar, quando eu brincava de escolinha com a minha irmã e uma amiga, elas eram alunas tão difíceis que eu desisti desse emprego.
Pergunta-se então: por que eu estou numa aula de didática?
Entrei na faculdade de Letras Inglês porque eu gosto de literatura, passava horas na escola lendo, perdia horas de sono para terminar livros e me afogava em universos criados por palavras. Também percebi, depois de aprender inglês, que eu não podia existir numa língua só, que sempre tinham diversas vozes compondo meus pensamentos. Todas essas questões identitárias me levaram a escolher Letras na inscrição do vestibular, porém, o curso que eu queria, Letras Português-Inglês, Bacharelado, não estava na lista. Entendendo a segunda língua como aquela que eu conquistei e tornei minha, acabei em Letras Inglês, Licenciatura. Durante meus cinco anos aqui (e em casa na pandemia), nunca pensei em ser professora, claro que é sempre uma carta na manga já que o capitalismo demanda dinheiro antes de qualquer coisa, mas não tive a intenção de seguir carreira na docência. Mas num curso de licenciatura, inevitavelmente, precisa-se performar o papel de professora, o que, para mim, veio a acontecer no estágio obrigatório. Acabei sendo contratada como estagiária na escola em que eu estudei quando criança (e aluno de licenciatura não nega estágio remunerado), então agora sou professora.
Vale ressaltar aqui que sou introvertida, quieta e canso de gente muito fácil, então me colocar numa sala de aula de criança, em que (eu infelizmente aprendi) o silêncio é impossível, não favorece a minha natureza. Por outro lado, eu adoro crianças. Acho elas fascinantes, divertidas, interessantes, provocadoras e criativas, amo observá-las e conversar com elas. No fim das contas, não odeio cada segundo e valorizo ainda mais o trabalho de professora.
Um dos impasses que me surgiu durante essa experiência é o de usar essa palavra “trabalho” para descrever o que as professoras (de ensino básico, devo deixar claro) fazem. Nada de um trabalho é refletido no dia a dia de uma professora. Num trabalho, às seis horas da tarde, o trabalhador pega as suas coisas e volta pra casa ou quem sabe vai para um happy hour. Num trabalho, o trabalhador tem a liberdade de não se apegar às pessoas com quem trabalha e mudar de empresa sem sentir culpa. Num trabalho, o trabalhador não é visto como essencial para a mudança da sociedade e das pessoas influenciadas pelo seu trabalho. Num trabalho, o trabalhador bem formado não é acusado por pessoas sem formação na área de estar fazendo o seu trabalho errado ou de doutrinar. Num trabalho, o trabalhador recebe um valor justo pelo que faz e não é questionado por isso. Enfim, ser professora não é um trabalho, é uma missão humanitária.
Pensa-se talvez, que o lugar onde formam-se esses professores traria um pouco de conforto para essas almas forçadas a fazer o bem quando elas só queriam sobreviver, mas isso não acontece. Quando pedimos ajuda para professores que não tem mais espaço na parede de casa para colocar diplomas e livros, percebemos que a academia é uma mentira. Esses professores (que talvez a distinção do inglês entre teacher e professor aqui faça mais sentido) falam que devemos considerar cada aluno, mas nunca deram aula para uma turma de 30 alunos. Falam que devemos ser inclusivos, mas nunca interagiram com uma criança autista. Falam que devemos criar nosso próprio material didático, mas nunca estiveram em uma rotina em que não dá tempo de almoçar.
Infelizmente, o mesmo acontece quando eu procuro respostas em livros. Diversos homens brancos escrevem e escrevem, mas, na escola, quem está vivendo mesmo são as mulheres. Como vou aprender algo se não me sinto representada, se questões que me acontecem em sala de aula são diretamente relacionadas a meu ser mulher? Será que alguma aluna já disse a Paulo Freire que, aos 22 anos, ele está velho para morar na casa de seus pais e deveria achar um namorado e se casar?
Ainda, lendo bell hooks, concordo com cada palavra e sonho também com uma educação que considera o amor, que é antirracista e feminista. Mas saber que os alunos dela criam dívidas para a vida toda quando decidem frequentar a universidade, ou seja, valorizam muito a educação, me faz questionar se eu posso aplicar as mesmas ideias numa sala de ensino fundamental.
Quem sou eu pra discordar de Paulo Freire? Nem quero, já que me identifico com o que ele escreve, mas eu queria muito ver todas essas teorias e pensamentos acontecendo numa sala de aula, uma sala de aula de verdade, em que as multiplicidades dos alunos criam tantas tensões que todos esses pensamentos acadêmicos são esquecidos e tudo o que se passa a pensar sobre é “como que eu vou fazer essas crianças aprenderem preposições se o Joaquim acha que é burro, o Leandro está discutindo com a Bárbara, o Mateus tá jogando a borracha do Gustavo pela janela, o Ronaldo está focado em fazer esculturas de massinha, a Luana brigou com a Erika, o Murilo entrou na escola um mês antes do fim das aulas, a Nayomi esqueceu o livro, a Marta está chorando e ainda tem uns cinco alunos que não participam da aula?” (isso tudo sem mencionar os pais, as diretrizes da educação, a relação com a coordenação, o material didático, os recursos e muito mais que permeia uma aula).
Diversas vezes, nesses poucos meses como professora, me senti frustrada porque não consegui completar nem metade do meu planejamento, culpada porque alguns alunos não estão aprendendo, cansada porque precisei gritar tanto que perdi a voz e triste porque não estou conseguindo passar adiante meu amor pela língua. Na sala das professoras, quando elas relatam sentir muitos conflitos parecidos com os meus, penso “será que vale a pena?”.
Pelo menos eu posso dizer que conquistei meu sonho de infância e sou professora.
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Love without Sex
I’m doing a Philosophy paper on Asexuality. Please reblog if you think Love without Sex is possible! I really need the data. Like if you think love has to have sex.
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I'm thinking about researching the impacts of fanfiction in the solidification of a new wave of feminism and queer liberation
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can someone please make a study about the relevance of larry stilinson to the literary development of 21st century romance novels?
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