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ouviaduto · 4 years ago
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Elos perdidos do Xarpi
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Numa sexta-feira, no entorno do Viaduto, fui conversar com GG (1968-2021), o membro mais antigo do bonde Pixadores de Elite (PE). Foi num encontro semanal de pixo debaixo do Viaduto Santa Tereza , o “Pixurrasco”, que nem acontece mais. Representantes das maiores bancas estavam presentes, gente como Goma, Kola, Napo, (locais), Cripta Djan, Afrika (de São Paulo) e o Tira Irreverentes (do Espírito Santo). Qualquer um ali sabia que o sujeito presente em atividade há mais tempo era o GG.
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Naquele época, GG pesava cerca de 150 Kg, isto depois de fazer uma cirurgia de redução de estômago. Morador decano do Floresta, era piolho da Praça de Santa Tereza e lembra que quando lek pirava no “Leia Celton” (*). É um dos fundadores da Máfia Azul e diz que pixa desde 1984. Dava rolê com o pessoal do Sepultura, com quem começou a curtir uns black metal. Naquele tempo, GG tinha o apelido de Peitola/Tim Maia. Bibica, ex-roadie do Sepultura, lembra que ele e João Gordo amarraram Peitola no poste como um rito de iniciação na música barulhenta; queriam saber se ele era metal ou punk, no que ele escolheu a primeira alternativa.
Já nos anos 1990, GG passou uns bons anos no xilindró “para encobrir merda da Máfia”, defende. Quem questiona seus feitos de tinta é o pessoal da Galoucura. Por pura picuinha ou pelo fato de ele ser o mais antigo pixador da cidade - até sua morte em 20211. Teve gente da Galoucura que me relatou respeitá-lo pois, em determinada delegacia de parede branquinha, só tem a preza do GG.
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A imagem acima foi encontrada no acervo do próprio GG.
Em meados de 2015, vários membros dos Pixadores de Elite foram em cana porque moeram os “Quatro cavaleiros do Apocalipse” em tinta e frases de protesto. As quatro estátuas de Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Helio Pelegrino e Paulo Mendes Campos residem num banquinho defronte à Biblioteca Luiz de Bessa e foram foscadas por umas prezas e uma frase de descontentamento com a política brasileira. Um jornaleco local fez uma matéria sobre o assunto e botou foto, mas pixelizou as prezas. Bem ali na “Praça da Liberdade”, onde TODOS os museus têm nome de empresa.
Já vi um velho amigo de um dos escritores comentando: “Se o Otto Lara Resende soubesse que iam fazer sua estátua, seria o primeiro a se levantar contra tal ideia”. Os pixadores mineiros, mesmo almejando uma visibilidade a todo custo, têm código de ética. Numa enseada toda muída, só não se picha uma igreja evangélica. Não é como em Salvador, onde até o exterior de catedrais barrocas é totalmente capotado de preto fosco. Nos grandes centros Brasil afora, é tudo filho da vida loka escrita em caligrafia maloqueira. Tem mano do pixo que é comerciante, que se deu bem na vida, mas outros de sorte oposta.
Noutra sexta-feira, debaixo do Viaduto em reformas encontrei um morador de rua que foi pixador e ainda sabe os nomes de todas as galeras que dominaram BH no início dos anos 2000. Ali ele é Kavêra, mas assinava Iago. Pegou cana dois anos e quando saiu, quis morar na rua. Diz que gosta de uma cachaça e tem vontade de se livrar da pedra. Quer criar família, trabalhar e só fumar um de boa. “Não que a rua seja ruim mas é muita humilhação”, diz ele. Provavelmente ele teve bastante oferta de ir pro xadrez desde que o encontrei. Há o risco de Iago morrer na rua e virar estatística. Talvez entrar na igreja, casar e ter uma vida certinha — também estatística.
(*) a revistinha do Celton é editada por Lacarmélio Alfeo desde 1991, quando pichava o nome do título por BH. Esta pichação chegou a ser tão onipresente em BH quanto “Cão Fila 20 Km” em São Paulo ou “Celacanto Provoca Maremoto” no Rio de Janeiro (1970/1980).
Texto originalmente publicado no fotozine #ouviaduto (eh xaina!!!)
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