#weekendbybike
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montanhacima · 7 years ago
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#microadventure em 2 rodas 1.0
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A família partiu rumo a Portugal e eu, com um número de dias de férias mais limitado fiquei para trás. Pelo meio da espera até à data do meu voo para me juntar a eles estão dois fins de semana.
É desta que me vou pirar de Antuerpia e dar uso às pernas e à bicicleta.
Preparei a bagagem toda durante a semana: saco de cama, tenda, colchão, fogão, comida, água e alguma roupa sem esquecer o equipamento de protecção contra a chuva. Sim é verão eu sei, mas isso aqui pela Bélgica e Holanda só quer dizer que está menos frio do que no inverno.
Saí do trabalho na sexta, pedalei até casa, mudei de roupa, coloquei os sacos-alforge na bicicleta e parti rumo à Holanda. Nesse dia previa fazer cerca de 45 km até ao parque de campismo onde tinha planeado ficar.
O céu estava cinza mas isso aqui não assusta nem demove ninguém que viva por estas bandas. É frequente que assim esteja por longos períodos de tempo por isso não se deixa de sair por causa da chuva.
Uma meia hora depois de ter saído de casa, já tinha eu percorrido cerca de 12 km começa a chover. O vento esse esteve sempre contra mim mas aumentou a acompanhar a chuva. Isto já passa, pensei eu. A app “buienradar” dizia chuva “licht” (leve) nas próximos 30 min.
Não era bem assim e já bem dentro da Holanda começou a cair com mais força e sem tréguas. Abriguei-me num pequeno refúgio para caminhantes instalado sobre o dique de protecção da Zeeland.
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A chuva e o vento lá fora não davam tréguas mas era demasiado tarde para desistir e voltar para casa. Deviam ser umas 19:00 e ainda ponderei dormir ali.
Mas cheirava mal lá dentro e havia restos de cigarros num cinzeiro que empestavam o ar.  Como a chuva não parava resolvi tirar o meu livro e ler para me distrair.
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20 minutos depois a chuva abrandou. Consultei o google maps no meu telefone (viva o 4G e o fim do roaming!!!) e estava a cerca de 3 km de um parque de campismo. Devia estar tudo ensopado mas mesmo assim arrisquei.
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O parque não estava assim tão molhado e até me deixaram usar uma carroça construída para as crianças brincarem e fazerem actividades como apoio à minha tenda. Ao menos tinha onde me sentar e uma mesa para jantar ou ler. Até deu para carregar o telemóvel.
Montei a tenda, fervi água para o jantar e comi enquanto lia mais umas páginas. Deitei-me cedo.
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Acordei deviam ser umas 6:30. No parque só se ouvia o vento nas copas das árvores. Parece que vou continuar a ter que lutar com ele mais uma vez.
Tomei um duche, fiz um café, empacotei tudo de novo e fiz-me à estrada. Ainda não eram 8:00 quando deixei o parque. O gps marcava 39km. Tinha uma longa jornada pela frente se quisesse cumprir o plano previamente estabelecido. Vlissingen ficava a cerca de 50 km. Teria de apanhar o ferry para Breskens e ainda pedalar mais uns 20 km para não comprometer o meu regresso a Antuérpia no domingo.
O corpo foi aquecendo e o acordar das pernas sempre custoso ao início depressa passou a uma pedalada ritmada e constante. O vento contra não me deixava passar de uma média de 18 a 20 km/h. Apanhei rajadas que me empurravam literalmente para trás.
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O céu continuava cinzento e não levou mais de 45 min até que voltasse a chover. É nesta altura que os planos B de voltar para casa de comboio começam a fazer todo o sentido. Praticamente não se viam ciclistas na rua. Dei por mim a pensar consultar o mapa para ver onde era a estação mais próxima mas isso implicava parar, tirar o telemóvel da mala, abrigar-me da chuva e depois voltar a arrumar tudo de novo e retomar o ritmo novamente. Deixa lá estar isso e pedala mas é!
A península da Zeeland na Holanda é uma vasta área agrícola com muito poucas casas por isso percorrem-se largas distâncias vendo apenas uma e outra quinta entre os famosos polders.
Mas a bicicleta tem esta coisa de ser suficientemente rápida para percorrer largas distâncias sem darmos muito por isso e suficientemente lenta para podermos apreciar a paisagem e pedalar distraidamente. Ajuda também o facto de ser um país onde grande parte da população se  movimenta de bicicleta e os poucos carros que passam por ciclistas, quando não há ciclovia, o que é raro, abrandam e respeitam as distâncias e as velocidades.
Por volta das 12:00 e quase sem me aperceber da distância percorrida, estava em Vlissingen no cais de embarque dos ferries para Breskens. Chovia outra vez mas aqui eu já não era o único cicloturista. Estamos na Holanda onde a bicicleta é raínha faça chuva ou faça sol.
No terminal de ferries aproveitei para me reconfortar com um café, um biscoito e água.
O ferry leva meia hora até Breskens e eu adormeci no banco. Acordei com o solavanco da manobra de acostagem.
Saí do barco e o céu ameaçava chuva. Breskens é uma vila piscatória com alguma graça. Atravessei a vila e mal saí recomeçou a chover mas agora como ia em direção a leste o vento já não me empurrava para trás mas sim para a frente.
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Passei a barreira dos 100 km debaixo de chuva e em breve estaria no ponto onde tinha decidido pernoitar mas era cedo demais. Deviam ser umas 13:30 e pensei que faria eu com tantas horas de luz até dormir. Decidi continuar e tentar a minha sorte mais à frente.
Passei por Terneuzen, uma cidade relativamente pequena na Zeeland do sul onde, a pensar ir a um supermercado abastecer-me para almoçar dei de caras com uma “frituur". Hmmmm acho que com tantos kms nas pernas posso comer umas batatas fritas com mayonnaise e uma coca-cola sem sentir o peso do pecado.
- Een klein pakje frietjes met mayo en een cola, alstublieft!
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Voltei à bicicleta com os níveis de gordura no sangue a bater no “red line” mas satisfeito. Vamos a isto!
Perto dos 135 km procurei no googlemaps um sitio onde dormir. Havia um “natuurcamping” a cerca de 6 km de onde eu estava.
Na Holanda estes “natuurcampings” são quintas cujos proprietários disponibilizam uma zona relvada com electricidade e balneários para campistas. Obtém a licença para alojar pessoas mas não são um parque de campismo tradicional. Não há bar nem supermercado, nem barreiras à entrada nem espaços delimitados.
O meu GPS marcava 140 km. Tinha pedalado 100 km num dia. Os meus joelhos acusavam o excesso mas agora era tarde para me queixar.
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Montei a tenda num cantinho depois de ter falado, no meu limitado neerlandês, com um casal que estava sentado em frente da sua autocaravana. Os donos do camping não estavam mas o casal disse-me para escolher um sitio e que mais logo os donos, assim que voltassem, tratavam da papelada.
Montada a tenda tomei um duche e preparei um lanche. Deitei-me na tenda a ler e acabei por adormecer com a porta da tenda aberta. Fui acordado pela dona do parque que tinha acabado de chegar e vira um novo campista. Fizemos o registo, paguei 11€ pela estadia e voltei para o meu canto no parque.
Comecei a preparar o meu jantar quando entrou também uma cicloturista solitária. Era holandesa e devia ter mais uns 10 anos que eu. Já andava a pedalar há 10 dias. Aqui é normal.
Jantei, arrumei a tralha da janta e enrosquei-me no saco de cama. Ainda li mais umas páginas do livro que estava a terminar (Fall of Giants do Ken follet) e ferrei o galho.
De manhã só a bexiga me fez sair da tenda. Tive um ataque de preguiça que, depois de ir ao WC me fez voltar a enroscar no saco de cama e adormecer outra vez. Eram 9:30 quando achei q estava na hora de me começar a mexer. Os joelhos estavam melhores mas hoje também só faltavam 40 km até chegar a casa por isso podia ir ao ritmo que quisesse: devagar entenda-se.
Arrumei tudo de novo, a dona do parque ofereceu-me um café e quando estava sentado numa cadeira no terraço da casa dela a saborear o café vi que tinha um pneu furado. Bem afinal não vou sair já a seguir ao café!
Tirei os sacos da bicicleta, voltei-a de pernas para o ar e substituí a câmara de ar por uma nova. Como a câmara de ar velha já tinha dois remendos achei que não valia a pena levá-la comigo e deixei-a no caixote do lixo. Tinha acabdo de colocar uma nova e tinha um conjunto de remendos caso furasse no caminho.
Voltei a arrumar tudo e parti.
Não devo ter feito nem 1 km e o pneu estava outra vez em baixo. Burro! Devia ter qualquer coisa no pneu e como não verifiquei furei a câmara de ar nova. Estava neste momento numa estrada elevada e rodeada de árvores. As rajadas de vento faziam abanar as árvores e o barulho era incrível. Voltei a tirar a carga, virar a bicicleta de pernas para o ar.
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Descobri uma pedra minúscula cravada no pneu que tinha furado a câmara de ar. Se tivesse feito a verificação, obrigatória e que vem nos livros, quando se tem um furo, de meter o dedinho ao longo do interior do pneu a ver se existe algum objecto que possa furar a câmara de ar isto não teria acontecido. Mas não fiz. Tirei a pedrinha e comecei a meter cola e a tentar colar um remendo. O vento era tão forte que a cola secava instantaneamente. Estraguei 4 remendos e não consegui tapar o furo. Enchia a câmara de ar para verificar se saía ar mas o barulho do vento não me deixava ouvir o ar a escapar. Comecei a duvidar se não haveria outro furo.
Tirei o fogão do saco, enchi a panela com água e procurei mais furos. Era só aquele com o remendo que teimava em não colar. Já devia estar nisto há cerca de 45 min quando começou a chover.
- AAHHHH, raisparta!
Empacotei tudo e dirigi-me a uma quinta que estava a cerca de 200 m. Abriguei-me do vento por trás de um enorme celeiro e aí, sem vento e com mais calma, voltei ao princípio. Meter cola, deixar a cola actuar por um minuto, meter o remendo, pressionar… Enchi a câmara de ar e … parece que é desta. Remontei tudo, carreguei de novo a bicicleta e lá fui embora. Perdi mais do que uma hora neste processo todo mas ao menos a chuva tinha parado.
Furos, chuva e vento são ingredientes que fazem parte da aventura.
O regresso a casa fez-se sem percalços de maior. Ainda parei num supermercado a abastecer-me com alguma comida e um sumo para repor os níveis de açúcar.
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