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dreamycritics · 27 days ago
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Genevive - Where There's Smoke, There's Fire
Não é segredo que Genevive é uma das artistas favoritas da Dreamy. Este ano, além do espetacular Helter Skelter, fomos agraciados por uma mixtape lançada um dia após o Halloween: Where There's Smoke, There's Fire. O fato de não ter um EP de Halloween, mas ainda ter sido lançado próximo a essa data tão emblemática, deixa o projeto ainda melhor, pois desprende-o de algumas obrigatoriedades que álbuns temáticos normalmente têm e assistimos a uma Genevive mais livre para tratar dos temas que ela quiser, como seus medos, inseguranças e traumas. Sabemos que em uma mixtape não é requisito que todas as músicas tenham conexões entre si, pois normalmente são feitas a partir de um compilado de faixas descartadas ou que não haviam se encaixado em nenhum outro projeto do artista, mas Genevive simplesmente ignora isso e entrega uma mixtape coesa onde todas as músicas se conversam, e extremamente fluida.
Como a própria descrição sugere, a primeira faixa, Rogue, soa como a introdução a um sonho. A sensação que temos ouvindo a essa música é de que estamos dormindo e sendo lentamente puxados pela escuridão para um sonho que não queremos ter, mas não temos controle da nossa própria mente ou corpo para lutar contra isso, somos apenas um boneco, talvez um espectador de nossas próprias falhas, controlados pelo nosso subconsciente. Com uma letra que se utiliza muito da metalinguagem, Genevive discute como é importante para ela colocar os seus sentimentos no papel, ou seja, escrever músicas para que sua tristeza vá embora e para que ela consiga lidar melhor com o peso da vida.
A segunda canção é a que dá o título ao projeto e simplesmente é genial a forma como parece que cada vez mais estamos sendo puxados para esse sonho ruim, que não chega a ser um pesadelo, mas ainda não conseguimos escapar dele. É como se estivéssemos amarrados a uma poltrona numa sala de cinema assistindo a um filme dos nossos maiores medos. Aqui, Genevive revela um comportamento de síndrome do impostor, questionando se ela própria é uma fraude - gostaríamos de entender mais sobre de onde vem esse sentimento. A cantora fala que onde há fumaça, há fogo, e ela mesma quem está criando essas chamas, então talvez seja hora de ela se quebrar e juntar suas próprias peças novamente para formar uma nova figura. É perceptível que estamos falando de uma possível crise de identidade, apesar de a letra ser confusa, afastando um pouco o ouvinte dessa experiência, não é suficiente para nos desprender do material, visto que suas produções continuam impressionando.
Saint aparece na terceira posição da tracklist e é uma negativa de Genevive às pessoas que a enxergam como uma mártir, talvez uma negativa até para ela mesma. Este é um sentimento que provavelmente todo artista já teve: o de ser colocado em um pedestal e sob muita expectativa das pessoas. A percepção que temos é que Genevive não fala somente como artista, mas também como um ser humano, afirmando que não vai curar as cicatrizes de outrem e que não vai se manter no caminho que as pessoas esperam porque ela não é uma santa imaculada. É muito bom ver uma artista abordando esse tipo de assunto de uma forma tão aberta.
Worst In Me é uma continuação de Saint, conectando-se diretamente com o tema explorado em sua antecessora, mas de uma forma mais delicada e empática. É interessante o verso em que Genevive diz que "talvez estamos ambos perdidos no espaço", indicando que ela está tão desesperada tanto quanto a pessoa que espera que ela seja uma salvadora. Ela questiona se esse amor sobreviverá ao pior lado dela, que pode ser ainda mais sombrio do que este que ela já está nos apresentando. A contraparte de Worst In Me é a faixa eM nI tsroW, que é simplesmente a mesma música ao contr��rio. Esta é uma escolha confusa, mas que não chega a prejudicar a mixtape. Partindo do ponto de vista de que este é um projeto surrealista, faz sentido que essa faixa exista.
Então mergulhamos ainda mais fundo nesse mundo onírico. A quinta faixa, Medals, traz uma sonoridade ainda mais sombria e uma letra que acompanha essa soturnidade. Genevive relata o quanto ela teve que se moldar para se encaixar no padrão de amor de uma outra pessoa, trazendo metáforas que tiram o fôlego, como "quebrei meus ossos para ficar do seu tamanho". A cantora menciona que todas as memórias possuem um filtro azul, uma cor fria que representa a tristeza, indicando os seus sentimentos em relação a tudo que ocorreu. É impressionante como essa música se conecta com as anteriores, mas gostaríamos que ela viesse antes de "Saint" para que a narrativa fosse mais linear, mas também entendemos que uma das propostas do disco era exatamente não ser linear.
A mixtape se encerra com uma faixa de mais de 7 minutos: Dark Knight. Esta é uma canção mais fácil de se identificar pois trata de uma reflexão sobre a vida adulta que todos nós temos, e nos traz uma nostalgia melancólica quando Genevive nos lembra que não temos mais tempo para as borboletas, pois temos uma vida para viver em meio ao concreto, ou melhor, uma batalha para sobreviver, como a própria artista descreve. Nesse sentido, a cantora se chama de cavaleiro negro, lutando numa guerra contra algo, talvez contra tudo, talvez contra nada, mas sempre lutando. É genial que existam críticas suaves ao capitalismo aqui, mas esse está longe de ser o ponto principal da música, na verdade esse nem deveria ser o ponto principal da nossa vida. Em determinado momento, Genevive se questiona: onde eu estava?, e então vai tentar pegar as borboletas, mesmo que seja a noite, ou seja, tarde demais, mas ela ainda vai tentar, e isso é muito bonito. A música segue com mais 2 minutos de ruído que foram suficientes para que digeríssemos tudo o que acabamos de ouvir e despertássemos desse sonho ruim.
Genevive segue se provando como uma das artistas mais inovadoras da atualidade e uma potência da música alternativa. Esperamos que ela posa continuar nos presenteando com obras tão boas quanto esta nos próximos anos de sua carreira. Se Where There's Smoke, There's Fire, fosse um álbum completo, poderia facilmente bater de frente contra outros gigantes da indústria, e até mesmo contra o seu próprio álbum Helter Skelter, dado tamanho seu brilhantismo.
Nota: 92
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 3 months ago
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Hina Maeda - Electronic Samurai
Electronic Samurai é o quarto álbum de estúdio da cantora nipo-irlandesa Hina Maeda. O nível de pessoalidade que é dado a essa obra é invejável: Hina mergulha em seus pensamentos mais íntimos, desenterra suas raízes e expõe seus sentimentos mais profundos, externalizando-os com uma clareza límpida como as águas de um rio cristalino. Às vezes, sentimentos podem parecer muito complexos quando tentamos expressá-los verbalmente para outra pessoa ou quando tentamos compreender o relato de outrem, mas a forma com que a cantora escreve suas dores é tão simples e ao mesmo tempo direta, que é fácil para entendermos o que se está passando na mente da artista; tudo se torna descomplicado e o álbum acaba se tornando mais fluido.
O disco é predominantemente de rock, mas há algumas influências, principalmente o eletrônico e o experimental, nada de novo para a carreira de Maeda, então é seguro dizer que ela definitivamente se manteve em sua zona de conforto nas produções do Electronic Samurai. É interessante que haja nuances na sonoridade dentro de um álbum muito longo para evitar que ele soe chato e eventualmente desinteressante, mas é necessário saber aplicar as transições de uma forma que estas nuances se tornem mais naturais e fluidas, e não pareçam tão bruscas. Este é um trabalho que o Electronic Samurai não executa tão bem assim. Abaixo, vamos destrinchar as nove faixas do projeto e procurar apontar em detalhes o que ocorreu de positivo e negativo nessa obra.
Começamos o álbum com o icônico single Seppuku, que tem seu nome inspirado em um famoso ritual tradicional de suicídio da época feudal japonesa, que era praticado por samurais. O ritual é um processo extremamente lento e doloroso e que exigia muita coragem e força para ser finalizado; na música, é uma metáfora para um suicídio social, ou seja, um rebranding - mesmo com sua reputação sendo completamente prejudicada, Hina canta que nunca renunciou a sua honra, que é mais importante que qualquer fama ou dinheiro. A música é fortemente influenciada pelo J-Pop do começo da década de 2.000, e ainda traz elementos do heavy metal que funcionam muito bem para a proposta da faixa, servindo também como uma excelente introdução para o que virá a seguir.
Suki Suki Daisuki surge como uma obra-prima do kawaii metal, mesclando perfeitamente os elementos que compõem esse gênero tão nichado e difícil de executar com um bom resultado: vozes fofas, guitarras distorcidas e guturais estrategicamente colocados em algumas partes da música, criando um contraste que é gostoso de ouvir. A música também possui muita influência do eletrônico, o que a torna verdadeiramente única e, possivelmente, somente Hina Maeda seria capaz de cantar algo assim. Essa é uma das melhores produções de todo o disco, mas não é somente sonoramente que Suki Suki Daisuki se destaca: sua letra é quase uma carta aberta de arrependimento; Hina canta sobre um processo de se fechar emocionalmente para outras pessoas devido a uma decepção que sofreu. Apesar dessa pose, Hina Maeda ainda sente algo e ela sabe que sente. Essa dinâmica de conflito interno é muito interessante de se acompanhar.
A terceira faixa é Tomino's Hell, uma referência a uma lenda japonesa sobre um poema que ao ser lido em voz alta, condena a pessoa a morte. Hina Maeda coloca-se na posição desse poema, cantando sobre como seu comportamento destrutivo afeta as pessoas ao seu redor. Aqui, nos distanciamos consideravelmente do kawaii metal, mas a faixa ainda consegue abraçar a estética sonora de Hina, que é bem ampla, então essa transição ocorre de forma amigável. Liricamente, alinhada às duas antecessoras, Tomino’s Hell segue uma mesma linha de raciocínio que nos permite entender melhor sobre a personalidade e o notável complexo de inferioridade do eu-lírico desse álbum.
The Nowhere Girl começa a falar de um tema diferente: os problemas de não-pertencimento que Hina enfrenta em relação a sua dupla nacionalidade, pois nenhum dos países em que ela vá, seja Irlanda ou Japão, parecerá um verdadeiro lar para ela, podendo esta ser a raiz do complexo de inferioridade mencionado anteriormente. Para Hina, é como se sempre estivesse faltando algo ou talvez ela própria não fosse suficiente. Apesar de ser uma temática bastante específica e de que possivelmente somente pessoas que também têm dupla nacionalidade de países tão diferentes culturalmente vão conseguir se identificar, ainda é um assunto que podemos facilmente entender devido ao quão objetiva Hina é em seus versos. A produção segue com um nível muito alto de qualidade, ajudando a desenvolver o personagem.
A mudança de assunto pode ter parecido abrupta na última faixa, mas She consegue fazer uma curva ainda maior com uma letra que fala sobre os problemas que a cantora vivenciou com uma outra mulher na indústria. Criticando o fato de que as mulheres sempre são colocadas umas contra as outras como se estivessem em um ringue, Hina canta que não quer se sentir forçada a odiar outra pessoa, por mais que realmente a odeie; o sentimento de obrigação é algo que a incomoda e isso está bem representado na letra. Em relação a sonoridade, a mesma linha de j-rock é mantida e a música realmente não traz nada de inédito, podendo soar até um pouco repetitiva em comparação ao que tivemos até aqui.
Surpreendentemente, o mesmo problema da sensação de repetição na produção musical acontece em Borderland, parceria histórica com as cantoras X e Miroslava Tsukumo. Apesar de a música estar repleta de variações dentro de si própria que a deixam ligeiramente mais interessante, é difícil não ter a sensação de você já ouviu tudo aquilo nesse mesmo álbum, e que Borderland apenas condensou todos esses recortes. A faixa pega inspiração do famoso mangá Alice in Borderland e coloca as três artistas como as inimigas mais poderosas de um jogo de videogame, as final bosses. O conteúdo lírico é simples e ainda consegue ser interessante, além de trazer essas três vozes tão peculiares juntas, que tornam a música uma das colaborações femininas mais lendárias deste ano.
Cockroach é, possivelmente, a música que mais destoa do restante álbum, sonoramente falando, mas isso está longe de representar um incômodo, pois a essência de Hina é vista claramente aqui, principalmente se comparamos com seus trabalhos mais antigos os quais são, inclusive, referenciados na letra. A faixa se aprofunda no pop eletrônico com uma pitada de música alternativa, e faz isso de uma maneira esplêndida, é claramente uma das melhores músicas da carreira da artista. Liricamente, Cockroach também se destaca pela metáfora bem construída pela cantora, comparando a si mesma com uma barata e justificando em todas as linhas o motivo disso. Apesar de baratas serem vistas normalmente como asquerosas e nojentas, conseguimos sentir uma simpatia pela persona de Hina.
De repente, é como se um carro que estivesse em alta velocidade freasse subitamente. O impacto causado pela transição de Cockroach para Broken Hard Drive é, de certo modo, negativo. A nova faixa traz uma sonoridade bem diferente de sua antecessora e até nos primeiros segundos parece completamente oposta a todas as outras músicas do disco. No entanto, descobrimos em seguida que também é uma música de rock, mas mais emocional. Aqui, Hina abre seu coração em relação ao seu término com Sky White, que é a única pessoa que consegue enfrentar essa barata que a Hina é e realmente afetá-la de algum modo. A letra é muito bonita e faz um acréscimo interessantíssimo ao projeto, mas era desejável que a transição não tivesse ocorrido de uma forma tão brusca e talvez reposicionar Broken Hard Drive para o começo do álbum, ou pelo menos para longe de Cockroach, fosse a melhor a opção.
Terminamos essa magnífica obra com Electronic Inquisition (Act I & II), que são duas faixas em uma só. Ambas as faixas são bem distintas sonoramente, então acaba parecendo que ela simplesmente pegou duas músicas diferentes e uniu em algum programa de edição de áudio, e não que realmente criou uma peça dividida em duas partes, visto que simplesmente não há transição entre uma e outra e o corte é seco. Deixando esse ponto de lado, ouvimos Hina Maeda mergulhar com tudo no experimentalismo eletrônico que já sabemos que ela faz bem. A letra, apesar de ser bem simples e literal, consegue ser muito interessante, pois narra uma perseguição virtual contra o eu-lírico, o samurai eletrônico. A segunda parte tem uma letra mais complexa para compreender, é como se o samurai tivesse morrido, mas não Hina, como se ele fosse um espírito ou entidade que habitasse o corpo da cantora. Pode significar que Hina visa uma mudança pessoal e que a pessoa que ela costumava ser já não existe mais.
Chegamos ao final do Electronic Samurai com uma sensação agridoce: é um álbum incrível, mas que ainda poderia ter sido melhor, principalmente na distribuição das faixas, tendo em vista que alguns temas semelhantes ficaram distantes na tracklist, bem como sonoridades muito diferentes vindo logo em seguida uma da outra. Apesar disso, esse é um dos melhores álbuns de música alternativa do ano, e certamente também um dos melhores de Hina Maeda.
Nota: 84
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 3 months ago
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Plastique Condessa - In a Sunny Day, Everything Can Happen
A cantora Plastique Condessa lançou no dia 11 de Setembro de 2028 o seu sexto álbum de estúdio. O In a Sunny Day, Everything Can Happen, ou, como iremos apelidá-lo, In a Sunny Day, deixa em evidência que Plastique chegou em um momento da sua carreira que não precisa mais se provar. Após tantos discos aclamados pela crítica e bem sucedidos comercialmente, como o seu antecessor Stories Of The Night, a cantora ostenta um patamar na indústria onde qualquer coisa que fizer será vista como refinadamente conceitual e o suprassumo do experimentalismo. Apesar disso parecer verdade, não é.
O In a Sunny Day não é um álbum difícil de entender, na verdade ele é muito claro devido a ser extremamente objetivo. Tão objetivo e com uma linguagem tão direta que às vezes suas letras soam meramente estranhas, como diversos casos que serão citados ao longo da review. Basicamente, o álbum é de uma crítica social envelopada em trinta e cinco minutos de música eletrônica experimental com influências do europop e alguns gêneros de música latina; e o selo desse envelope é um reggaeton que funciona tão bem quanto uma faca cega para encerrar um projeto tão medonho. Plastique faz críticas ao aquecimento global, aos bombardeios no Oriente Médio, a homofobia, aos Estados Unidos da América, à forma em que a sociedade enxerga dependentes químicos, dentre outros. Quando você pega todos esses temas e os mistura em um único projeto, as chances de soar cansativo são altas, e realmente foi o que ocorreu.
O disco começa com Cold War que, como o próprio nome diz, fala sobre a Guerra Fria, um período que durou de 1947 a 1991. Como introdução, a faixa faz um excelente trabalho, visto que a sua sonoridade consegue condensar bem o que vamos ouvir em pelo menos 80% das músicas que sucedem a esta. Com influências claras do europop dos anos 2.000, adicionando uma grande quantidade de autotune e uma batida experimental, Plastique debate sobre a insegurança em relação ao que virá depois da Guerra Fria, visto que ela foi decorrência de uma série de eventos ruins (as duas primeiras Grandes Guerras). A cantora fala que vê fogo no céu como se fosse uma premonição, como se algo ruim estivesse por vir - e realmente está: a próxima música.
Future Discotheque 2, surpreendentemente, é a música mais complexa de se entender. A parceria com o DJ americano Rhys Roux fala sobre a artificialização do mundo e das pessoas, quase como se estivéssemos vivendo uma simulação computadorizada. Colocando esse cenário no contexto geral do álbum, é possível presumir que é uma música sobre controle de massas através de meios eletrônicos. A faixa termina com um diálogo entre os dois artistas em que Plastique diz que todo o mundo é plástico, alimentando essa ideia de simulação, como se nada do que vivêssemos fosse real, e sim criado para que acreditemos que seja a realidade. A produção dessa faixa é generosamente ruim, principalmente pela voz de Rhys parecer não se encaixar no instrumental de forma alguma, provocando um sentimento de estranheza que é quase constante.
A música que vem em seguida é Experimental Drugs, que traz uma sensação de falta de esperança em relação ao mundo, como se este já não tivesse salvação. O refrão é como se fosse um comercial para drogas experimentais, prometendo um futuro feliz, já que o mundo já está perdido. Plastique canta "sorria e volte ao trabalho", que é a realidade inescapável de uma maioria massiva das pessoas de todo o mundo. Apesar de ser uma crítica social, é extremamente problemática a maneira com que isso é abordado, como um incentivo ao uso desse tipo de substância que, posteriormente no disco, também é criticado.
Se o In a Sunny Day fosse um livro, nesse momento Plastique teria simplesmente rasgado cerca de cinquenta páginas do meio e pulado do capítulo 2 direto para o 18. Essa sensação ocorre com uma mudança brusca no tema, como se tivéssemos dormido no meio de um filme e quando acordamos já na metade ou próximo ao final, vemos uma cena totalmente diferente do que havíamos assistido no começo, e a confusão acaba sendo o que prevalece. Com uma clara referência ao atentado do dia 11 de Setembro às Torres Gêmeas, Plastique faz uma reflexão sobre como as coisas podem mudar drasticamente de uma hora para outra na quarta faixa de seu álbum, trazendo os bombardeios no Oriente Médio movidos pela corrida pelo petróleo como um exemplo disso. Chega a soar cômico que ambos assuntos tenham sido tratados em uma mesma faixa.
Com mais um salto significativo em relação aos assuntos abordados no disco, Hot Like Europe surge como uma crítica ao aquecimento global. Apesar da boa intenção de possível conscientização ambiental, é difícil de levar a canção a sério quando no meio da música temos o verso "This is so dinosaurs coded" quando se fala sobre o aquecimento global ser uma seleção natural. E se torna ainda mais difícil levar todo o álbum a sério quando lemos o título da próxima faixa: Sexy On Global Warming. Mas fica pior! É uma parceria com o grupo Dream Dolls. Nessa faixa, elas falam sobre o lento processo de morrer devido ao aquecimento global e ver o mundo sendo destruído.
Bubblegum America é uma música simples cujo único propósito é falar mal da nação americana exatamente do ponto de vista de um nativo do país, que é controlado politicamente e midiaticamente para ter uma falsa sensação de liberdade. A faixa ainda aproveita para zombar da má educação pública e dessa ignorância dos Estados Unidos. Apesar de ter uma letra bem simples, é uma das efetivas em relação ao seu objetivo. A produção novamente deixa a desejar por ser extremamente fraca e muito similar em certo nível às anteriores, não trazendo nada de novo.
Aproximando-se do final, a música Crack Rock aparece e podemos fazer uma ponte direta com Experimental Drugs. Aqui, Plastique fala do ponto de vista de um dependente químico que é visto como uma aberração pelos demais cidadãos de Nova York. A forma como ela incorpora a mente de uma pessoa nesse estado é uma interpretação tão fiel que é impossível não se sentir desconfortável enquanto se ouve o relato em meio a cacofônica produção que transmite uma sensação desesperadora de confusão psicológica.
Absolutamente do nada, a faixa Letter To Italy, uma parceria com o cantor italiano Lucca Lordgan, surge para criticar especificamente a homofobia na Itália, possivelmente vivenciada durante o período ditatorial que o país passou. Nesse momento, o único pensamento que passa em nossa mente é o desejo de que esse álbum termine logo. A música também muda bruscamente a sonoridade do disco e nos faz questionar o motivo de uma música cuja tradução do título é "Carta Para a Itália" ter sido escrita em inglês e espanhol e não ter nem um verso em italiano, principalmente quando essa é a descendência de um dos artistas que participou da canção.
A música Feels Like Hell resgata o europop clássico e teria tudo para ser um dos destaques sonoros do álbum, o que chega a ser um alívio após a produção maçante da faixa anterior e as repetições cansativas de todas as outras, mas ainda assim esta consegue ser uma das músicas mais esquecíveis de todo o projeto. Isso porque tanto no quesito sonoridade quanto em sua composição, não há nenhum elemento que seja realmente memorável, além de Plastique Condessa mencionando o submarino que implodiu com diversos bilionários em uma expedição para ver os destroços do Titanic. Mas nesse ponto, já é tão difícil de levar o projeto a sério que nada do que vier será uma surpresa.
O álbum termina com uma faixa bônus: 11 de Septiembre. A música escrita inteiramente em espanhol narra os sentimentos de uma viúva que perdeu seu marido, um guerrilheiro chileno, no golpe da Ditadura Militar Chilena de 11 de Setembro de 1973, contrariando a obviedade do nome da canção. A música entrega um reggaeton completamente fora do ritmo de qualquer outra faixa desse projeto, mais uma vez nos deixando cair na vala da estranheza.
Quando finalmente terminamos de ouvir esse CD, parece que os 35 minutos se passaram em uma hora. Este é um álbum exaustivo que está frequentemente mudando seu eu-lírico para fazer diversas críticas sociais. Na verdade, são tantos pontos de vistas que Plastique incorpora nesse álbum que é quase como se ela fosse o próprio Kevin do filme Fragmentado. A sonoridade barulhenta e por vezes confusa também é um outro fator que contribui para tornar a experiência do ouvinte maçante. É como se fosse um grande dedo do meio para tudo e todos, o que é bastante demarcado nas letras que falam sobre como o mundo já está perdido.
Apesar de tudo, o álbum ainda tem a audácia de nos fazer questionar se ele é ruim mesmo ou se apenas não o entendemos - mas esse questionamento só existe por ser um álbum da Plastique Condessa. Poxa, como ela poderia lançar esse tipo de atrocidade à música? Mas lançou, e talvez esta realmente tenha sido a intenção da artista o tempo todo. Para um projeto tão carregado em críticas sociais, não seria uma grande surpresa se ela tivesse o produzido propositalmente ruim em alguns aspectos para confirmar se as pessoas estavam atentas ao seu trabalho ou se apenas seguiriam aclamando-a por ela ser quem ela é, em um efeito manada que faz parte da simulação discutida em Future Discotheque 2. Ou talvez só tenhamos ficado tempo demais pensando sobre esse álbum e encontrando coisas que não existem. Pode ser que nunca entendamos totalmente a ideia por trás de In a Sunny Day, Everything Can Happen, mas é certo que não é possível dar uma nota que não seja amarela.
Nota: 52
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 3 months ago
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GENEVIVE - Helter Skelter
Helter Skelter é como abrir um antigo livro de drama em um domingo a tarde. Você começa a ler as primeiras páginas e se sente interessado pela narrativa, mas conforme se aprofunda, se sente completamente preso à história e pensa "só mais um capítulo" diversas vezes até terminar de ler o livro inteiro já no final do tarde. Quando terminamos de ler, um sentimento muito peculiar ocorre. "Então é isso? Já acabou? O que eu vou fazer agora?" - é impressionante como a experiência de ouvir o Helter Skelter consegue replicar exatamente essa mesma sensação.
Este é o segundo álbum de estúdio da cantora GENEVIVE, a qual já demonstrou seu estrondoso potencial artístico em seu álbum de debut, o Twisted Twilight. Um dos pontos mais elogiados no primeiro disco foi a autenticidade da compositora - é fantástico assisti-la criando uma sonoridade única e tão própria que se torna difícil imaginar qualquer outra pessoa fazendo aquilo. E é ainda mais fantástico ver que ela conseguiu continuar na exata mesma linha no álbum sucessor. Helter Skelter é uma obra que se assemelha a andar em uma montanha russa quebrada: há altos e baixos, mas o carrinho passeia tão devagar que essas transições são quase imperceptíveis, o que torna o projeto extremamente fluido e coeso sonoramente. Isso ocorre pois apesar das nuances, todas as faixas ainda possuem similaridades umas com as outras em suas produções, além de as letras contribuírem para a criação do que parece uma história.
Helter Skelter conta uma história de decepção e sofrimento. Cada faixa parece uma continuação da anterior e a narrativa é interessante, além de o eu-lírico tem um desenvolvimento pessoal muito grande. Tudo isso alinhado às produções alternativas de alta qualidade, tornam o Helter Skelter um disco impossível de não se ficar vidrado. É difícil pausá-lo enquanto se escuta pois você quer descobrir o que acontece em seguida, e o melhor é que coisas realmente continuam acontecendo, o que torna um álbum que seria potencialmente chato por falar apenas de dor e sofrimento, uma obra-prima da música alternativa.
A faixa que abre o álbum é Fear. A intro tem alguns trechos interessantes que justificam alguns comportamentos do eu-lírico conforme seguimos pelas músicas. Aqui, Genevive canta sobre ser viciada em pessoas, que não se importa de ser usada mesmo que perca uma parte de si, e tem uma autoestima baixa o suficiente para aceitar qualquer coisa que a deem, ou seja, qualquer migalha de atenção, trazendo um sentimento de dependência implícito que nos ajuda a entender a mente na qual vamos mergulhar nas próximas 9 faixas.
Logo em seguida, temos os 3 singles da era na sua ordem de lançamento: Deadly Words, a parceria com Plastique Condessa; STAB!, com o cantor Stefan Lancaster; e o single solo Leave You On Hold. Essas três músicas são uma introdução a tudo o que virá a acontecer nos próximos capítulos dessa história: Genevive foi decepcionada por um ex-amor que a matou com palavras, ou seja, falou alguma coisa que a deixou profundamente magoada. Entendemos que esta pessoa, provavelmente arrependida, continua voltando a Genevive, mas ela se recusa a perdoar pois sabe que pode ser esfaqueada pelas costas novamente. Essa metáfora, apesar de ser simples, auxilia na criação de uma atmosfera de terror combinada à produção das faixas. Genevive ainda canta que vai deixar essa pessoa esperando por um encerramento, como se nem isso ela merecesse após tê-la matado da forma brutal que a matou. A cantora comenta que nunca vai dizer todas as razões pelas quais decidiu seguir em frente, implicando que há mais além do que conhecemos e criando uma profundidade para esse ex-relacionamento.
Who Held The Gun? possui uma das produções mais fracas e menos memoráveis do álbum, mas também tem uma das letras mais interessantes. Aqui, já sozinha, Genevive continua remoendo o que aconteceu no passado, e se pergunta quem estava segurando a arma que matou ambos, mas em alguns versos ela canta que se recusa a aceitar a culpa, como se tivesse alguma parcela de responsabilidade pelo que aconteceu. Este é um ponto bastante importante de se observar pois estamos conhecendo a narrativa através da perspectiva de um eu-lírico que, até onde sabíamos, foi morto pelas palavras de seu ex-amado, mas que possui um temperamento cruel o suficiente para deixar a pessoa sofrer sem uma conclusão digna, então existe uma possibilidade de mais detalhes sobre esse relacionamento terem sido ocultados propositalmente por Genevive, pois ela está tentando não ficar com essa culpa toda para ela e a joga para a outra ponta da relação.
Devil's Door representa o momento de recaída. Ela começa se chamando de anjo, reforçando indiretamente a sua inocência perante tribunal, mas um anjo que teve suas asas rasgadas por outra pessoa e agora não consegue voar. Quando Genevive questiona ao seu ex-amante se ele é imortal pois nunca morre, ela se refere às lembranças que provocam uma inevitável saudade após o fim de um relacionamento. E essas lembranças levam Genevive de volta até a porta de seu ex, ou, como ela o chama, o diabo, onde ela bate, envergonhada, mas ainda incapaz de seguir em frente. Ao término da música, ela canta que fechará a porta do diabo.
A amargura cresceu tanto dentro da cantora que se transformou em um sentimento de ira. Agora Genevive solta a sua fera em Release The Beast. É perceptível que há uma raiva impregnada nessa faixa, possivelmente provocada pela vergonha de ter tido uma recaída. Talvez essa raiva seja sobre ela mesma e tenha sido mau direcionada, mas claramente ela canta para esse ex.
Babel surge com uma das sonoridades mais únicas de todo o projeto. Nesse ponto, é perceptível que a raiva já se esvaneceu e agora Genevive está cantando sobre o quão difícil manter aquele relacionamento que acabou desmoronando como a torre de Babel. Com um coração desesperançado, ela diz que não adianta tentar reunir as peças e encaixá-las novamente pois não tem como reviver o amor. Essa é uma música profunda e realmente tocante.
Golden Cage tem a pior produção do álbum e traz um sentimento agridoce onde o eu-lírico começa a pensar no futuro do pretérito: ela se questiona o que aquele relacionamento poderia ter sido e o que poderia ter feito para que ele não se arruinasse, mas agora só restam ideias. A metáfora que Genevive traz é muito interessante: uma gaiola continua sendo uma gaiola, mesmo se for feita de ouro. Ou seja, mesmo se o relacionamento for bonito e alguns pontos dele melhorassem, ela ainda se sentiria presa a ele. E agora que já experimentou a liberdade, definitivamente não quer voltar.
O disco se encerra com Pangea, que remete ao nome do super continente que existia na Terra há 300 milhões de anos. A música soa apocalíptica, a sensação que temos é a de que o mundo está acabando enquanto a suave voz de Genevive narra o fim de seu relacionamento. Os polos magnéticos da Terra remodelando-a são uma forma de falar sobre a separação da Pangeia e a formação de outros super continentes, o que está longe de ser um fim do mundo, mas sim um recomeço. Genevive ainda pensa na possibilidade de reencontrar a sua pessoa amada, talvez em uma outra vida, nem que seja em bilhões de anos, já que não houve uma conclusão clara do relacionamento.
Após essa experiência, conseguimos perceber que Genevive passa claramente pelos cinco estágios do luto que podem ser adaptados para o processo de superação de um fim de relacionamento. 1- A negação acontece na primeira música, Fear, onde Genevive canta sobre sua dependência e sobre aceitar qualquer coisa, com essa fala ela já demonstra que possivelmente sabia o que estava ocorrendo, mas simplesmente aceitava ou ignorava pois se negava a perder seu amor. 2- A raiva pode ser vista em músicas como Deadly Words, STAB!, Leave You On Hold e Release The Beast, onde a crueldade de Genevive é perceptível para com a pessoa que a machucou, fazendo-a sofrer sem dar-lhe uma conclusão clara sobre o fim do relacionamento. 3- A barganha surge em músicas como Who Held The Gun?, Devil's Door e Golden Cage. Genevive ainda remói toda a situação e procura culpados na história, além de ter a sua recaída que a fez voltar à casa do ex e ficar imaginando o que poderia ter feito para que o relacionamento tóxico no qual ela vivia pudesse ser melhor. 4- A depressão ocorre em Babel, onde apesar de não haver uma tristeza profunda, há a forte presença de um sentimento de falta de esperança. 5- Por fim, a aceitação se dá em Pangea. Apesar de tal aceitação não ser tão precisa assim, visto que Genevive ainda está falando sobre a possibilidade de um reencontro, o que mostra que nem ela superou completamente o que aconteceu, possivelmente devido a sua forte dependência que foi tratada na faixa inicial. Apesar de os estágios observados não ocorrerem de maneira ordenada, isso não tira a qualidade artística do álbum, apenas aprofunda a confusão mental pela qual Genevive estava passando.
Esse é um disco muito forte e, definitivamente, o melhor de 2028 até o momento. Genevive conseguiu captar os seus sentimentos e os transformou em uma obra de arte. Sem dúvidas, uma das artistas mais promissoras da década.
Nota: 94
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 4 months ago
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MØX - CYBRLiFe
"CYBRLife" de MØX é um projeto underground que nos faz questionar o motivo de ser tão pouco comentada, já que traz colaborações com gigantes da indústria como Harmon Moore, Hina Maeda e KJ. Entendemos, ao longo da experiência, que é um material totalmente morno: apesar de ser uma excelente forma de apresentar MØX para a indústria e estabelecer o seu estilo musical com produções interessantes e de alta qualidade, ainda sentimos que é um álbum para se ouvir enquanto lavamos pratos ou fazemos alguma outra atividade que não exige tanta concentração, já que é difícil se manter preso às canções e, o mais preocupante, não existe o desejo de voltar a ouvir a mixtape completa após terminá-la, talvez algumas faixas em específico.
Mixtapes são compilados de canções que, diferentemente de um álbum, não precisam necessariamente ter alguma conexão entre si. Nesse sentido, a coesão é um dos critérios menos pontuados quando ouvimos e avaliamos uma mixtape. Liricamente, CYBRLife é um projeto que trata de muitos temas, trazendo um eu-lírico ora apaixonado, ora deprimido, ora animado, porém esse fator não chega a incomodar quando analisamos as faixas individualmente. É possível visualizar que cada música foi criada em um momento diferente da vida de MØX e é perfeitamente válido contemplar tudo isso em uma mixtape cujo título traduz como "vida cibernética" pois, realmente, são os sentimentos de uma vida inteira compactos em pouco menos de quarenta minutos de música.
As produções nos permitem enxergar o estilo de MØX com muita clareza: cada música, apesar de diferente, ainda soa semelhante à anterior de algum modo. Mesmo que comparemos algumas faixas aparentemente distantes na sonoridade, como a introdução da mixtape, CYBRLIFE=interlude, e a colaboração com a Claire Camaraderie, HOT GRL, ainda há todo um caminho que é percorrido durante as faixas para chegar naquele momento em específico e, no fim das contas, faz sentido. É um projeto muito fluido e o tempo passa rapidamente enquanto estamos ouvindo-o.
Apesar disso tudo, é uma mixtape que não possui nenhum tipo de âncora, nenhum momento que nos faça realmente pular do sofá para dançar, ou, apesar das composições melancólicas, nada que nos arranque lágrimas. O sentimento é de que este é apenas um compilado de faixas avulsas, e talvez seja mesmo este o caso. É uma pena que após um ano de lançamento, elu não tenha liberado nenhuma outra música para nos manter interessados em seu trabalho.
Nota: 70
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 4 months ago
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Chelsea - Mother Road
Em um quente dia de domingo, Chelsea decide abandonar tudo - ela pega seu carro, coloca um óculos de sol e um lenço na cabeça, liga o rádio bem alto com os maiores sucessos do Caleb Roth e começa a dirigir pela estrada mais famosa dos Estados Unidos, a Rota 66, saindo de Chicago, em Illinois, em direção a Los Angeles, na Califórnia, percorrendo todos os 3.939 quilômetros da rodovia. Esta é a sensação que temos ao ouvir Mother Road pela primeira vez, o álbum de debut da cantora texana Chelsea. Se tem algo que esta viagem não é, é chata.
É importante contextualizamos que a Rota 66 é uma das importantes dos Estados Unidos por cortar o país de leste a oeste, por esse motivo foi apelidada de Estrada Mãe por John Steinbeck em seu livro The Grapes of Wrath, de 1939. Chelsea faz uma profunda conexão com as suas raízes enquanto viaja por todos estes quilômetros de asfalto: as letras da música soam tão pessoais que parecem ter saído diretamente de uma conversa em um bar no meio da estrada, no momento em que você pede uma porção de batata frita e uma cerveja e uma completa desconhecida sentada ao seu lado no balcão puxa assunto e começa a contar toda a vida dela para você, suas mágoas e alegrias, traumas e sonhos.
Chelsea nos prometeu um álbum country e definitivamente soube entregar. O disco explora a sonoridade de diversas formas, não deixando-o maçante: há o country tradicional que ouvimos em California Stars, o country animado presente em It All Comes Out In The Wash, o country lento e melódico de Travelers, dentre outros estilos. A artista ainda soube mesclar o gênero com outros, como no country rock de Mother Road, e o pop country de The Worst Part Of Me, que utiliza ainda, o som de gaitas na produção, o que eleva o nível de qualidade ainda mais. Os destaques negativos do álbum são You Wouldn't Know Me e Peace que, sonoramente, não combinam em nada com o restante das faixas, além de terem uma produção muito inferior, destoando completamente e quebrando, nesses momentos, a magia imersiva do Mother Road. Como um dos destaques positivos, mencionaremos a icônica Insterstate Gospel, que emula um couro de igreja cantado por uma pessoa só, possuindo uma das produções mais interessantes de todo o projeto.
Liricamente, é um álbum que poderia ter sido melhor organizado e também melhor construído. Teria sido melhor manter músicas que tratam de temas semelhantes mais próximas, como por exemplo a parceria com o Caleb Roth, The Worst Part Of Me, e a faixa Peace, visto que ambas retratam fins de relacionamento; ou as faixas Traveler de Crossroads, que falam sobre meter o pé na estrada. Apesar disso, há composições muito boas e que tornam a experiência ainda mais interessante. Temos que considerar ainda que também há algumas letras que, por utilizarem um palavreado muito requintado com termos raros, sua interpretação se torna difícil, como é o caso do próprio single que carrega o nome do disco, Mother Road. Mas também devemos glorificar as pérolas escondidas como o magnífico verso de Agatha Melina em Truck Stop Angels e a linda letra de La Luna.
Concluindo, o Mother Road é um álbum de alta qualidade, mas que ainda poderia ter sido melhor lapidado e aperfeiçoado, principalmente em sua coesão lírica. Este é um começo promissor para a estrela country que promete dominar o cenário do gênero nos próximos anos.
Nota: 80
by Teodor Ciobanu
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dreamycritics · 4 months ago
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GENEVIVE - Twisted Twilight
A cantora europeia Genevive faz o lançamento de seu segundo álbum de estúdio, o Twisted Twilight, e entrega uma verdadeira obra-prima. Este disco é quase um diário em que a artista fala sobre seus sentimentos e traumas de uma forma muito clara e sincera, é realmente como se estivéssemos lendo os rabiscos de seus pensamentos mais íntimos e, apesar de muitas vezes as músicas tratarem sobre temas divergentes, é notável que em nenhum segundo saímos da cabeça de Genevive. A produção é assinada por MSyndrome que faz um trabalho excelente, mergulhando na música experimental e alternativa, e sendo responsável por criar uma atmosfera verdadeiramente única para esse álbum.
A faixa introdutória carrega o título e tem pouco mais de 1 minuto de duração, é a maneira mais ideal de apresentar o tema do álbum de forma sucinta e direta: traumas - que inclusive é a primeira palavra dita em todo o projeto. E, nesse crepúsculo distorcido, Genevive nos afunda cada vez mais em um disco cujas letras parecem tornar-se mais pesadas conforme o tempo passa, como se fosse uma âncora nos arrastando para o fundo do mar.
A sensação que temos ao ouvir as músicas seguintes é a de que estamos sentados no terraço de um prédio exatamente um dia após um apocalipse nuclear; o céu ainda está com uma coloração rosa alaranjado devido a radiação das bombas e o mundo está em um silêncio tenebroso que é ironicamente barulhento. Nesse cenário, pegamos nosso rádio de bolso e ouvimos Love is a Lie e Hour by Hour, os dois singles da era, enquanto observamos a destruição que fora causada. Apesar de parecer algo ruim de se dizer, é uma característica realmente peculiar e é raro sentir algo assim somente ao ouvir uma sequência de músicas. Ambas são incríveis, a cantora definitivamente escolheu as faixas certas para lançar como single na era.
Com a icônica White Roses, que teve seu momento de glória despontando na Hot 20 Europa após ser performada no Europe Music Awards desse ano, Genevive fala sobre as consequências de um trauma, usando metáforas como "enterrada em uma avalanche" e "como uma queimadura de terceiro grau". É uma música pesada e tem um dos melhores conteúdos líricos de todo o álbum.
Seguimos com Daylight e aqui parece que após passarmos a noite inteira no terraço do prédio, chorando e ouvindo gritos silenciosos de desespero e agonia que talvez sejam apenas internos, o amanhecer finalmente está chegando - mas isso não muda muita coisa. Genevive canta sobre se sentir como uma Lua cheia durante o dia, evidenciando uma sensação de não pertencimento. Nesta faixa, encontramos o maior ponto de vulnerabilidade da cantora: a necessidade de amar alguém para preencher um vazio, que é causado pela sua baixa autoestima, fato explicitado ao ela se comparar ao Sol, dizendo que não é tão brilhante quanto ele.
Abrindo a segunda metade do disco, Icarus traz uma referência clássica às asas de cera de Ícaro, que voou tão próximo do Sol que elas derreteram. A partir daqui, fica claro que todo o sofrimento de Genevive tem como ponto de partida o fato de amar alguém que não a corresponde como ela gostaria. Apesar de essa música soar mais como um conselho do que como um relato, ainda é possível enxergar os vestígios do trauma que ficaram com a cantora. O mesmo ocorre com as faixa seguintes, OwnReality e Perpetual Goodbye, mas que tratam as coisas de um ponto de vista mais pessoal.
Ao chegarmos em Sad Serenade, parece que o álbum alcança um ponto alto novamente - e tão próximo de seu encerramento! A faixa definitivamente é uma das melhores de todo o projeto e a sua sonoridade experimental contribui para ser uma experiência única. Nesse ponto, Genevive já está falando sobre o término do relacionamento que não a satisfazia. O encerramento do disco é por conta de All Your Sins, uma música que soa ligeiramente diferente do restante do álbum, mas ainda se conecta de maneira eficaz às demais produções; falando da parte lírica, a eurostar deixa clara a importância de expressar seus sentimentos com clareza, ao invés de prendê-los. O sentimento em questão que a música aborda é uma raiva internalizada, quase uma vingança contra uma pessoa que a fez mal no passado. E finalmente os tais gritos de agonia se cessam.
Desse modo, Genevive deixa queixos caídos com a perfeição de seu segundo álbum. Estamos ansiosos para descobrir mais desse universo em seu terceiro álbum.
Nota: 95
by Teodor Ciobanu
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