#sobre ser um lixo acadêmico::: eu
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omanddo · 11 months ago
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Necessidades, Desejos e Demandas
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Nesse segundo post sobre marketing eu estou me aprofundando em pontos bem importantes para entender as necessidades do cliente, ou melhor da persona que estou almejando. De acordo com o que é muito difundido no Marketing, existem três pontos cruciais em uma interação social para compreender o que o Cliente deseja, estas são, a Necessidade, o Desejo e a Demanda.
Começando pela Necessidade, ela pode ser dividida em algumas categorias bem simbólicas que atualmente estão graficamente  estruturadas em algo que foi batizado de Pirâmide de Maslow, diga-se de passagem, que Maslow nunca construiu pirâmide alguma em seus trabalhos acadêmicos sobre essas necessidades, mas enfim, para fim de ilustração ela é bem eficaz.
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Como podemos verificar, a imagem da pirâmide se baseia em descrever que antes de buscarmos suprir necessidades de alto nível, precisamos estar com as com as necessidades de mais baixo nível supridas.
Por exemplo, antes de nos preocuparmos com necessidades como reconhecimento, conquistas pessoais e se vamos ter um carro topo de linha, primeiros nos preocupamos se tem algo para comermos ou se estamos com saúde, dessa forma podemos categorizar da seguinte maneira, mas mais prioritária para a menos prioritária, as nossas necessidades como humanos:
- Fisiológica: Se trata de algo diretamente ligado com o nosso físico e nosso corpo, como comer, beber água, respirar.
- Segurança: se vamos ter segurança financeira, segurança familiar ou mesmo se nós estamos seguros. Essa necessidade se torna inferior que a fisiológica, uma vez que quando estamos com muita fome podemos acabar quebrando leis da sociedade e pode inclusive partir para práticas perigosas, como comer comida do lixo ou roubar.
- Social: Se trata da nossa relação com outras pessoas, como interesses amorosos, amigos, familiares e o pertencimento a um grupo.
- Auto-estima: São as relações que impactam na sensação que temos relacionada a nossa posição social, seja o status social, posição dentro de uma empresa ou mesmo o reconhecimento por parte da sociedade por algum motivo.
- Auto-Realização: Estas se tratam de feitos pessoais e cujo possui o único intuito de aprimorar capacidades como pessoa em particular.
Já os desejos se referem a maneira com qual as necessidades serão supridas, e dependente totalmente de cultura e ambiente socioeconômico. Por exemplo, quando desejos matar nossa fome que se trata de uma necessidade Fisiológica, é possível se desejar muitas coisas, por exemplo, uma marmita com arroz e feijão e um bife, já no Japão seria preferido um Sushi, já em países árabes poderias e preferir um Shawarma.
Esses exemplos se conectam diretamente com as demandas, as demandas nada mais são do que os desejos de uma determinada parte da sociedade. Se no meio da noite você quiser comer um lanche e não possuir um estabelecimento aberto, você terá uma demanda que não foi suprida, que nada mais é que o desejo de comer um lanche e a necessidade fisiológica de se alimentar.
Por fim, é possível compreender que as necessidades, desejos e demandas estão diretamente conectados e se encontram em uma linearidade onde, uma demanda é gerada por um desejo que surge de uma necessidade.
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opensar · 5 years ago
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“A liberdade está acima da vida”
Um documentário, ainda na época do videocassete, se tornou muito conhecido nas escolas, faculdades, movimentos sociais e ambientais, a partir do ano 1989. O filme de Júlio Furtado, narrado por Paulo José, contava a história de um tomate, desde seu plantio até a chegada na mesa das famílias, passando por toda a sua cadeia produtiva, para, em seguida, terminar em um lixão – ainda não havia o conceito de aterro sanitário, como ainda hoje em várias partes eles não existem. Lixão esse que era chamado de Ilha das Flores e que nele coexistiam, além do lixo, famílias e porcos. A ideia subjacente ao filme é mostrar o quanto porcos em um lixão tinham prioridade na aquisição de alimentos apodrecidos, que famílias inteiras, mesmo essas sendo diferentes dos animais, por possuírem o polegar opositor, o telencéfalo altamente desenvolvido e a liberdade. Liberdade? Sim, pois os porcos possuíam donos e as famílias não tinham nem donos... e nem dinheiro. O que é liberdade, então? Como diria Cecília Meirelles, citada no final do filme, liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.
Ainda que os antigos gregos já asseveravam diferentes concepções para a liberdade e o livre arbítrio, prova disso é a própria origem do pensamento filosófico (depois, científico), em oposição ao pensamento mítico, a ideia de liberdade ganha grande destaque mesmo a partir do liberalismo clássico, com o famigerado laissez-faire, do século 19, que se notabilizou por ser uma filosofia política cuja doutrina econômica principal era a defesa da liberdade individual, a limitação do poder do estado pelo critério da lei, destacando a igualdade de todos perante a lei, o direito de propriedade e a livre iniciativa. Essa esboçada radiografia tem por finalidade mostrar como, de fato, o liberalismo, de alguma forma, se tornou traço característico da sociedade moderna e capitalista. A sociedade dos fluxos de mercadorias e, secundariamente, dos fluxos migratórios. Não cabe aqui destrinchar a fundo esse período, apenas demonstrar que o desdobramento a isso se deu com o neoliberalismo, já no século 20, que diminuiu ainda mais as ações do estado, elegeu o mercado como praticamente uma figura mítica, acima de tudo, como inclusive o organizador das relações humanas e sociais.
Com a chegada do século 21, mercadorias e pessoas vão perdendo espaço para os dados, para as informações, que ocupam bem menos espaço e são transportados de forma mais rápida. Agora, não apenas mercadorias, pessoas e informações dão a volta no planeta numa velocidade como nunca se viu antes, os patógenos assim também o fazem. O mundo unido pela globalização econômica e financeira, continua dividido pelas desigualdades sociais, que não deixaram de existir. Desigualdades sociais estão absolutamente associadas às desigualdades de oportunidades e de saúde, cabe dizer, que o neoliberalismo cisma em não querer as resolver. Nesta nossa época, cada vez mais se produz conhecimento, sem isto querer dizer que é sempre um conhecimento voltado para o desenvolvimento humano ou que todos tenham acesso a ele e aos seus benefícios. A agenda neoliberal não tem pessoas e políticas sociais como prioridade, são vários os exemplos que atestam a afirmação. O limite orçamentário com o teto de gastos sociais e de saúde, em meio a uma pandemia, precedida por uma crise econômica, são um destes.
Em relação às mídias e a informação, mesmo com todo o rebuliço ocasionado pelo espalhamento das redes sociais, em especial na última década, em quantidade, principalmente, permanecem no Brasil cinco, seis famílias dominando praticamente toda a mídia do país, onde já não é de hoje que se relativiza, nessas condições, que a opinião pública na verdade passa a ser a opinião publicada e, muitas vezes, compreendida como fato inconteste, sem chance de questionamento. Só não contávamos que os últimos anos seríamos apresentados meio que sem entendermos muito bem, de início, o tempo da pós-verdade, que de alguma forma, parece escrever em tintas indecifráveis, a pós-história. O que marca esse contexto são as narrativas feitas não para se opor a outras narrativas, mas para desqualificar e destruir a outra, com um detalhe: com a utilização de notícias ou falseadas ou inventadas. Coube no meu discurso, vou atingir quem eu quero com ele, não importa que não seja fato verdadeiro. Que amanhã teremos por vir, dessa forma?
Amanhã, não sabemos, ainda está na lógica do devir, do vir a ser. No entanto, o que temos para hoje já é algo que chama bastante atenção, e chamará por muito tempo, pelo menos, aos que se debruçarem sobre a nossa história: o bolsonarismo. Não farei aqui nenhuma anatomia física, análise filosófica nem tampouco estudo comportamental sobre este movimento, mas ele se edificou, dentre várias possibilidades narrativas e políticas, graças a falta de empatia de seus seguidores e às fake news. Dessa maneira, aquilo que é concreto, plausível, razoável, não interessa mais. E, por isso, faz-se necessário trazer à tona a grande personagem do não combate à pandemia do Corona vírus no Brasil, fato inclusive noticiado pela imprensa e mundo acadêmico internacionais: o nosso presidente.  Que diz que a liberdade está acima da vida. Imagino, porém, fora da doutrina do espiritismo, que a morte não torna ninguém livre, para consumir e impulsionar a atividade econômica. Ou seja, de que liberdade e para quem ele se refere?
Na maior pandemia do século, no pior momento da economia mundial e local, influenciados diretamente pela crise sanitária que o planeta atravessa, no caso brasileiro, a cada dia são desnudadas fraturas sociais e estruturais mais expostas que osso e carne de um trauma físico. O momento empurrou a necessidade de termos estadistas, líderes, humanistas, responsáveis para lidar sóbria e tecnicamente com os desafios e as ações necessárias para o combate aos efeitos da pandemia. E o que temos? Temos um homem cujo inconsciente demonstra às escâncaras um egoísmo narcísico, que faz com que sua vaidade não assimile a sombra de ninguém, que tem predileção por embates, conflitos, por vezes, imaginários e que precisa ser manchete, de qualquer forma. Que defende a sua fraqueza de espírito assim como a de seus filhos, com fantasmagorias cada vez mais cafonas. Por outro lado, do ponto de vista consciente, vê-se um presidente usando de seu expediente de criar cortinas de fumaça, o tempo todo, todo o tempo, para esconder sua incapacidade e incompetência nas mais diferentes áreas. E isso pode ser explicado pelo pré-requisito para compor este governo: pessoas delirantes, fanáticos, cruéis, negacionistas e silentes aos desvarios do presidente. São como ele. Outra função das cortinas de fumaça é deixar sempre as milícias digitais e físicas atiçadas, e sempre prontas a usar seus robozinhos a defender seu chefe. Não é coincidência profissionais de saúde e do jornalismo estarem sendo agredidos de todas as formas, inclusive fisicamente.
A disfunção cognitiva como projeto elaborou uma falsa simetria da vida e da economia, como se fossem equivalentes. Não há nada que prospere em termos de atividade econômica sem pessoas vivas. No entanto, o presidente insiste em combater o isolamento, no lugar de combater a pandemia, quer agredir o carteiro, por trazer mensagem que não o agrada. E toca apenas o samba de uma nota só, se é que de música gosta, que é a defesa da atividade econômica – em especial, de seus aliados. Sabota, reiteradamente, a única possibilidade de se poupar vidas, sobretudo as mais vulneráveis, que é o isolamento, com o devido e forte apoio também de renda por parte do estado para os mais vulneráveis, quer dizer, não faz uma coisa, nem outra. O isolamento precário estica sua duração, pois casos e óbitos aumentam, e aumenta o impacto na atividade econômica. Não é o isolamento que afeta à economia, mas a pandemia. O presidente se assume como um agente da necropolítica, e tenta transformar seu ideário de liberalismo econômico em genocídio, em particular, das camadas mais pobres da sociedade. É este o motivo para seu silêncio mórbido, embora devesse ter a hombridade e a decência de pelo menos fingir condolências aos mortos e seus parentes. Mas, nada falou. E nada falará a esse respeito. Pois é disso que ele e seu movimento se nutrem, infelizmente.
A esperança, equilibrista, me faz torcer que a pandemia não encontre aqui seu ambiente mais propício para o seu avanço, cruel e devastador. Pois, até churrasco pra dezenas de pessoas, o presidente já marcou. Possivelmente, para comemorar milhares de vidas ceifadas pela sua miopia ética e política. Acreditemos, nós somos condenados a ser livres, lembraria Sartre, mas não para seguirmos como porcos ou gado na direção de uma morte cruel e evitável. Termino com a segunda parte do trecho sobre a liberdade, citado no início: Liberdade...de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser.
Filme: Ilha das Flores https://www.youtube.com/watch?v=KAzhAXjUG28
 Leandro De Martino Mota
Maio de 2020
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brasilisnet · 5 years ago
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O DIÁRIO DE RENIA SPIEGEL.
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Traduzido do polonês pela primeira vez, o diário de Renia Spiegel nos apresenta uma impressionante narrativa em primeira pessoa da vida como jovem judeu durante a Segunda Guerra Mundial. Para conhecer a história de fundo da vida de Spiegel e como suas palavras chegaram às nossas páginas, convidamos você a ler esse prólogo do jornalista Robin Shulman. Juntamente com os trechos do diário abaixo, adicionamos o tipo vermelho com datas contextuais da história de como a Segunda Guerra Mundial chegou à Polônia, quando os nazistas invadiram o oeste e os soviéticos do leste, deportando, aprisionando e matando judeus nas cidades. como Przemsyl, onde Spiegel viveu e pereceu.
31 de janeiro de 1939
Por que decidi começar um diário hoje? Alguma coisa importante aconteceu? Descobri que meus amigos estão fazendo seus próprios diários? Não! Eu só quero um amigo. 
Alguém com quem posso conversar sobre minhas preocupações e alegrias diárias. 
Alguém que vai sentir o que eu sinto, acreditar no que digo e nunca revelar meus segredos. Nenhum ser humano poderia ser esse tipo de amigo.
De qualquer forma, prometo sempre ser honesto com você. Em troca, você ouvirá meus pensamentos e preocupações, mas permanecerá em silêncio como um livro encantado, trancado com uma chave encantada e escondido em um castelo encantado. Você não vai me trair.
Primeiro de tudo, permita-me apresentar-me. Sou estudante da Escola Média Maria Konopnicka para Meninas. 
Meu nome é Renia, ou pelo menos é o que meus amigos me chamam. Eu tenho uma irmãzinha, Ariana, que quer ser uma estrela de cinema. (Ela já esteve em alguns filmes.)
Nossa mãe mora em Varsóvia. Eu morava em uma linda mansão no rio Dniester. Eu adorava lá. Havia cegonhas em velhas tílias. Maçãs brilhavam no pomar e eu tinha um jardim com fileiras de flores elegantes e encantadoras. 
Mas esses dias nunca retornarão. Não há mais mansão, nem cegonhas em velhas tílias, nem maçãs nem flores. 
Tudo o que resta são memórias, doces e amáveis. E o Rio Dniester, que flui, distante, estranho e frio - que zumbe, mas não para mim.
Agora eu moro em Przemysl, na casa da minha avó. Mas a verdade é que não tenho um lar real. 
É por isso que às vezes fico tão triste que tenho que chorar. Sinto falta da minha mãe e do seu coração caloroso. Eu sinto falta da casa onde todos nós moramos juntos.
Mais uma vez a necessidade de chorar toma conta de mim Quando me lembro dos dias que costumavam ser As tílias, casa, cegonhas e borboletas Foram para algum lugar e ... longe demais para os meus olhos Eu vejo e ouço o que sinto falta O vento que costumava embalar árvores velhas E ninguém mais me diz Sobre a neblina, sobre o silêncio A distância e a escuridão do lado de fora da porta Eu sempre ouvirei esta canção de ninar Vejo nossa casa e lagoa deitados E tílias contra o céu... 
Mas também tenho momentos de alegria e são muitos. Muitos! Deixe-me apresentar alguns dos meus colegas de classe para você.
Minha melhor amiga, Nora, senta-se ao meu lado. Compartilhamos todos os mesmos pensamentos e opiniões. 
Na nossa escola, as meninas costumam ter “paixões” por nossos professores, então Nora e eu temos uma queda, uma verdadeira queda (algumas meninas fazem isso apenas para encher os professores) pela nossa professora de latim, Sra. Waleria Brzozowska, nee Brühl .
Nós a chamamos de "Brühla". Brühla é a esposa de um oficial bonito que vive em Lwow. Ela vai vê-lo todos os domingos. Tentamos obter o endereço dele na agência de endereços, mas não obtivemos sucesso porque não sabemos o nome real dele. (Nós o chamamos de "Zdzisław".)
A próxima garota da nossa fila é Belka - gorda e atarracada como 300 demônios! Ela tem um talento excepcional para acadêmicos e um talento ainda mais excepcional para ganhar aversão. 
A seguir vem Irka. Eu não gosto de Irka e está no meu sangue. Eu herdei esse ódio: minha mãe não gostava muito da mãe de Irka quando estava no ensino médio. 
Comecei a não gostar mais de Irka quando ela começou a me prejudicar na escola. Isso - combinado com sua nojenta conversa doce, mentira e falta de sinceridade - me fez realmente odiá-la.
Estamos planejando uma festa há meses. Nós brigamos e discordamos, mas a festa está marcada para o próximo sábado.
5 de fevereiro de 1939
Estou tão feliz. Foi uma grande festa e todos, especialmente Brühla, se divertiram muito. Mas pela enésima vez, pensei: “Gostaria que mamãe estivesse aqui”.
A mãe de Irka, a Sra. Oberhard, era toda Brühla, conversando com ela o máximo que podia, o que certamente beneficiaria Irka e sua irmã mais nova no futuro próximo.
Ah, querido diário, se você pudesse saber o quão difícil é querer algo tão mal, trabalhar tanto para isso e então lhe ser negado na linha de chegada! 
O que foi realmente que eu queria? Eu não sei. Brühla foi muito legal. Mas ainda não estou satisfeita.
11 de fevereiro de 1939
Está chovendo hoje. Em dias de chuva, fico em pé junto à janela e conto as lágrimas escorrendo pela vidraça. Todos correm, como se quisessem cair na rua molhada e lamacenta, como se quisessem torná-la ainda mais suja, como se quisessem tornar esse dia feio, ainda mais feio do que já é. 
As pessoas podem rir de mim, mas às vezes acho que objetos inanimados podem falar. Na verdade, eles não são inanimados. Eles têm almas, assim como as pessoas. 
Às vezes, acho que a água nos canos ri. Outras pessoas chamam essa risada de nomes diferentes, mas nunca passa pela cabeça que é apenas isso: uma risadinha. Ou uma lixeira:
Uma página saiu limpa De uma revista semanal de cinema. “Eles só me compraram ontem e eu já estou no lixo, de jeito nenhum! Pelo menos alguma coisa que você viu. Pelo menos no mundo você tem sido. Você levou uma vida pacífica quando estava na banca de jornal Enquanto eu tive que correr nas ruas, gritando o tempo todo. É melhor ser um semanário do que um diário que passa rapidamente ”.
15 DE MARÇO DE 1939 - As tropas alemãs invadem a Tchecoslováquia, mostrando que a estratégia de apaziguamento da Grã-Bretanha fracassou. 
28 de março de 1939
Deus, estou tão triste, tão triste. Mamãe acabou de sair e quem sabe quando eu vou vê-la novamente. 
Eu estive passeando com Nora por vários dias, então eu preciso sair com Irka, o que não está ajudando.
E depois há as lembranças. Mesmo que elas partam meu coração, eles são memórias dos melhores momentos da minha vida. 
Já é primavera! A primavera costumava ser tão boa lá. Pássaros cantavam, flores desabrochavam; era tudo céu, coração e felicidade! 
As pessoas lá estariam pensando nos feriados agora. Tão tranquilo, caloroso e amigável; Eu adorei tanto.
Nas noites do Sêder de Pessach (jantar cerimonial judaico em que se recorda a história do Êxodo e a libertação do povo de Israel), eu costumava esperar por Elias. 
Talvez tenha havido um tempo em que esse velho santo veio ver as crianças felizes. Mas ele tem que vir agora, quando eu não tenho nada. 
Nada além de lembranças. Vovô está doente. Mamãe está muito preocupada comigo. Oh! Estou tão infeliz!
31 DE MARÇO DE 1939 -A França e o Reino Unido se comprometem a defender as fronteiras da Polônia do ataque nazista. 
2 de abril de 1939
Estou aprendendo francês agora e, se não houver guerra, posso ir para a França. 
Eu deveria ir antes, mas Hitler assumiu a Áustria, depois a Tchecoslováquia, e quem sabe o que ele fará em seguida. 
De certa forma, ele está afetando minha vida também. Eu quero escrever um poema para Ariana. Ficarei muito feliz se sair bem.
18 de junho de 1939
Hoje é meu aniversário. Não quero pensar em nada triste. Então, em vez disso, estou pensando em todas as coisas úteis que fiz até agora na minha vida.
UMA VOZ: "Nenhuma". EU: “Eu tiro boas notas na escola”. VOZ: “Mas você não trabalha duro para ganhar isso. O quê mais?" EU : “Nada. Eu realmente quero ir para a França”. VOZ: "Você quer ser famosa?" EU: “Gostaria de ser famosa, mas não serei. Então, eu quero ser feliz, muito feliz”.
Amanhã é o fim do ano letivo, mas não me importo. Sobre qualquer coisa. Qualquer coisa. Qualquer coisa.
23 DE AGOSTO DE 1939 -  A Alemanha e a URSS assinam o Pacto Molotov-Ribbentrop, comprometendo-se a permanecer neutros entre si e a dividir a Europa entre eles.
25 de agosto de 1939
Minhas férias de verão estão quase no fim. Fui ver minha tia no campo, fui a Varsóvia, vi mamãe e agora voltei. Mas você não sabe nada disso. Você estava deitado aqui, deixado sozinho.
Você nem sabe que os russos assinaram um tratado com os alemães. Você não sabe que as pessoas estão estocando comida, que todo mundo está em alerta, esperando a guerra. 
Quando eu estava me despedindo de mamãe, eu a abracei com força. Eu queria contar tudo a ela com aquele abraço silencioso. Eu queria pegar a alma dela e deixar a minha, porque - quando?
1º DE SETEMBRO DE 1939 -  A Alemanha invade a Polônia, a centelha que acenderá a Segunda Guerra Mundial na Europa.
3 DE SETEMBRO DE 1939 -  A Grã-Bretanha e a França, tendo emitido ultimatos a Hitler para retirar tropas da Polônia, declaram guerra à Alemanha.
6 de setembro de 1939
A guerra estourou! Desde a semana passada, a Polônia vem lutando contra a Alemanha. Inglaterra e França também declararam guerra a Hitler e o cercaram em três lados. 
Mas ele não está sentado à toa. Aviões inimigos continuam sobrevoando Przemysl, e de vez em quando há uma sirene de ataque aéreo.
 Mas, graças a Deus, nenhuma bomba caiu em nossa cidade até agora. Outras cidades como Cracóvia, Lwow, Czestochowa e Varsóvia foram parcialmente destruídas.
Mas todos nós estamos lutando, desde garotas jovens até soldados. Eu tenho participado de treinamento militar feminino - cavando trincheiras de ataque aéreo, costurando máscaras de gás. 
Eu tenho servido como uma mensageira. Eu tenho turnos servindo chá para os soldados. Eu ando por aí e distribuo comida para os soldados. 
Resumindo, estou lutando ao lado do resto da nação polonesa. Eu estou lutando e vou ganhar!
10 de setembro de 1939
Oh Deus! Meu Deus! Estamos na estrada há três dias. Przemysl foi atacada. Tivemos que fugir. Nós três escapamos: eu, Ariana e vovô. 
Deixamos a cidade em chamas no meio da noite a pé, carregando nossas malas. Vovó ficou para trás. Senhor, por favor, proteja-a. Ouvimos na estrada que Przemysl estava sendo destruída.
17 DE SETEMBRO DE 1939 -  Os soviéticos invadem a Polônia a partir do Lado Oriental.
18 de setembro de 1939
Estamos em Lwow há quase uma semana. A cidade está cercada. A comida é escassa. Às vezes levanto-me de madrugada e fico em uma longa fila para pegar pão. 
Além disso, passamos o dia todo em um bunker, ouvindo o terrível assobio de balas e explosões de bombas. Deus, por favor, salve-nos. 
Algumas bombas destruíram várias residências e, três dias depois, desenterraram as pessoas vivas. Algumas pessoas estão dormindo nos bunkers; aqueles que são corajosos o suficiente para dormirem em suas casa precisam acordar várias vezes a cada noite e descer as escadas para os porões. 
Essa vida é terrível. Estamos amarelos, pálidos, desta vida na adega - da falta de água, de camas confortáveis ​​e de sono.
Mas os pensamentos horríveis são muito piores. Vovó ficou em Przemysl, papai em Zaleszczyki e Mamma, minha mãe, está em Varsóvia. 
Varsóvia está cercada, defendendo-se bravamente, resistindo a ataques repetidas vezes. Nós poloneses estamos lutando como cavaleiros em um campo aberto onde o inimigo e Deus podem nos ver. 
Não como os alemães, que bombardeiam casas de civis, que transformam igrejas em cinzas, que envenenam crianças pequenas com doces tóxicos (contaminados com cólera e tifo) e balões cheios de gás mostarda. 
Nós nos defendemos e estamos vencendo, assim como Varsóvia, como as cidades de Lwow e Przemysl.
Mamãe está em Varsóvia. Eu a amo mais que tudo neste mundo, minha mais querida, minha mais preciosa alma. 
Eu sei que se ela vê crianças agarradas a suas mães em bunkers, ela deve estar se sentindo da mesma maneira que sentimos quando a vemos. Oh meu Deus! O maior, o primeiro e o único. 
Deus, por favor, salve mamãe, dê-lhe fé de que estamos vivos. Deus misericordioso, por favor, faça a guerra parar, faça todas as pessoas boas e felizes. Amém.
22 DE SETEMBRO DE 1939 -  Tropas soviéticas entram na cidade de Lwow.
22 de setembro de 1939
Meu querido diário! Eu tive um dia estranho hoje. Lwow se rendeu. Não para a Alemanha, mas para a Rússia. Os soldados poloneses foram desarmados nas ruas. 
Alguns, com lágrimas nos olhos, simplesmente jogaram as baionetas no chão e viram os russos quebrando seus rifles. Sinto tanta dor, tanta dor. 
Apenas um pequeno punhado ainda está lutando. Apesar da ordem, os defensores de Lwow continuam sua luta heroica para morrer por sua terra natal.
28 de setembro de 1939
Os russos entraram na cidade. Ainda faltam alimentos, roupas, sapatos, tudo. Filas compridas estão se formando na frente de cada loja. 
Os russos estão especialmente ansiosos para comprar coisas. Eles estão organizando saques para roubar relógios, tecidos, sapatos etc.
Este Exército Vermelho é estranho. Você não pode falar mal de um oficial. Todos usam os mesmos uniformes castanho-acinzentados. Todos falam uma língua que não consigo entender.
Eles chamam um ao outro de "Tovarishch" ["Camarada"]. Às vezes, os rostos dos policiais são mais inteligentes. A Polônia foi totalmente inundada pelos exércitos alemão e russo. A única ilha que ainda luta é Varsóvia. Nosso governo fugiu do país. E eu tinha muita fé.
Onde está Mamma? O que aconteceu com ela? Deus! Você ouviu a minha oração e não há mais guerra (ou pelo menos eu não a vejo). Por favor, ouça também a primeira parte da minha oração e proteja Mamma do mal. 
Onde quer que ela esteja, o que quer que esteja acontecendo com ela, fique de olho nela e em nós e ajude-nos em todas as nossas necessidades! Amém.
28 DE SETEMBRO DE 1939 -  Varsóvia se rende aos alemães.
 29 DE SETEMBRO DE 1939 -  O presidente polonês Ignacy Moscicki renuncia e transfere o poder para um governo polonês exilado em Paris.
27 de outubro de 1939
Estou de volta a Przemysl há um tempo. A vida voltou à sua rotina diária, mas ao mesmo tempo é diferente, muito triste. Não há mamãe. Nós não temos notícias dela. 
Eu tive um sonho terrível de que ela estivesse morta. Eu sei que não é possível. Eu choro o tempo todo. 
Se eu soubesse que a veria em dois meses, até um ano, desde que soubesse que a veria com certeza. Não, deixe-me morrer. Santo Deus, por favor, me dê uma morte fácil.
28 de outubro de 1939
As mulheres polonesas se revoltam quando ouvem pessoas saudando Stalin. Elas se recusam a participar. 
Elas escrevem mensagens secretas dizendo "A Polônia ainda não pereceu", embora, para ser sincera, tenha perecido há muito tempo.
Agora estamos sob o domínio do comunismo, onde todos são iguais. Dói-lhes que eles não possam dizer "Você é péssimo Yid". Eles ainda dizem isso, mas em segredo.
Esses russos são garotos tão fofos (embora nem todos). Um deles estava determinado a se casar comigo. 
França e Inglaterra estão brigando com os alemães e algo está se formando aqui, mas com o que eu me importo? 
Eu só quero que a mamãe venha ficar conosco. Então eu posso enfrentar todas as minhas provações e tribulações.
NOVEMBRO DE 1939 -  Sob Stalin, os judeus em Lwow são despojados de seus empregos e licenças comerciais.
1 de novembro de 1939
Há um novo clube aqui agora. Muitos meninos e meninas estão indo para lá. Eu não tenho mais uma queda por Brühla. Finalmente contei a Nora e ela me disse que se sente da mesma maneira.
Agora, de acordo com os estágios do desenvolvimento de uma garota, eu deveria “me apaixonar” por um menino. Eu gosto do Jurek. Mas Jurek não sabe disso e nunca descobrirá.
O primeiro dia no clube foi divertido, mas hoje eu me senti como um peixe fora d'água. As pessoas jogaram esse jogo de paquera e eu não recebi nem uma carta. 
Tenho vergonha de admitir isso até para você. Um garoto chamado Julek (não Jurek) supostamente gosta de mim, mas por quê? Talvez porque eu sou tão diferente das minhas amigas.
Não estou dizendo que isso é uma coisa boa - pode até ser uma coisa ruim -, mas sou muito diferente delas. Eu nem sei rir de um jeito paquerador. Quando eu rio, é real. Eu não sei como "me comportar" em torno dos meninos.
É por isso que sinto falta dos velhos tempos, quando mamãe ainda estava comigo, quando eu tinha minha própria casa, quando havia paz no mundo, quando tudo era azul, brilhante, sereno.
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A Alemanha e a URSS anexaram a Polônia em 1939, reduzindo seu território (inserido). Ocupantes nazistas logo confinaram judeus poloneses em centenas de guetos. Em julho de 1942, Renia foi detida no gueto de Przemysl; Os nazistas mataram a maioria de seus moradores ou os enviaram para campos de extermínio. (Ilustração de Lauren Simkin Berke. Fonte: holocaustresearchproject.org)
JANEIRO DE 1940 -  Os estudantes de Przemysl são transferidos para escolas mistas; Os soviéticos se opõem à educação entre pessoas do mesmo sexo que os burgueses.
9 de janeiro de 1940
Estamos saindo da nossa escola. Agora vamos estar em uma escola com meninos. Ugh, horrível. Eu odeio tudo. 
Eu ainda vivo com medo de buscas, de violência. E agora essa coisa toda de ir à escola com garotos! Bem, vamos esperar e ver como isso funciona. 
A tortura começa no dia 11. Tchau, meu querido diário. Mantenha seus dedos cruzados para mim. Vamos torcer para que tudo corra bem!!!
12 de janeiro de 1940
Os meninos são jovens inocentes; eles não sabem muito e são muito educados. Eles não são particularmente atraentes, com exceção de um, Ludwik P., muito fofo, e do doce Majorko S. 
Você sabe, eu passo por essas diferentes fases em que escolho maridos diferentes. Eu devo ter tido cerca de 60 dessas fases na minha vida. Tchau, beijos, Renia.
17 de fevereiro de 1940
Papai veio aqui (ele nos trouxe provisões) e agora ele se foi novamente. Uma carta de mamãe chegou. Ela já deve estar na França. Eu me matriculei em aulas de piano.
Enquanto isso, não estou mais apaixonada por Ludwik. O que não significa que não gosto dele, mas também gosto de Jurek Nowak. 
Irka começou a ir atrás de Ludwik de uma maneira impossível. Uma vez que me sento bem perto deles, posso ver e ouvir tudo. 
Por exemplo: "Irka, pare de me beliscar ou eu vou beliscar você de volta com força”. Eles flertam um com o outro como loucos. 
Nossa turma é a melhor de nossa escola, embora nossa presença seja terrível. Já falamos de física três vezes.
Mamãe disse em sua carta que pensava em nós o dia todo em seu aniversário. Ela disse que estava arrependida por não ter recebido nenhum dos meus poemas. 
Eu não escrevi nenhum; Eu sou tão horrível. Vovó e Vovô são bons para mim, mas é tão difícil ficar sozinha com meus próprios pensamentos. 
1 de março de 1940
Quarta-feira foi um dia bonito, então nossa turma brincou às 11 da manhã e fugiu para o castelo. Jogamos bolas de neve, cantamos canções e escrevemos poesias. 
Eu escrevi um poema que já está no jornal da escola. Nossa aula é realmente agradável e doce. Nós nos tornamos muito próximos.
16 de março de 1940
Nora e eu decidimos que daqui a dez anos, onde quer que estejamos, se ainda formos amigas ou mesmo bravas uma com o outra, com boa saúde ou má saúde, vamos nos encontrar ou escrever uma para o outra e comparar o que mudou em nossas vidas. Então lembre-se: 16 de março de 1950.
Eu comecei a gostar de um garoto chamado Holender. Nós fomos apresentados um ao outro, mas ele já se esqueceu de mim. 
Ele é bem construído e de ombros largos. Ele tem lindos olhos negros e sobrancelhas que parecem falcões. Ele é lindo.
PRIMAVERA DE 1940 - Os soviéticos começam a deportar 7.000 judeus de Przemysl para campos de trabalho na Rússia e na Sibéria.
24 de abril de 1940
Coisas terríveis têm acontecido. Houve incursões noturnas inesperadas que duraram três dias. 
Pessoas foram reunidas e enviadas para algum lugar no interior da Rússia. Tantos conhecidos nossos foram levados embora.
Houve gritos terríveis na escola. Garotas choravam. Eles dizem que 50 pessoas foram acomodadas em um vagão de trem de carga. 
Você só podia ficar de pé ou deitar em beliches. Todo mundo estava cantando "A Polônia ainda não pereceu".
Sobre aquele garoto, Holender, que mencionei: me apaixonei, persegui-o como uma louca, mas ele estava interessado em uma garota chamada Basia. 
Apesar disso, eu ainda gosto dele, provavelmente mais do que qualquer outro garoto que conheço.
Às vezes sinto essa necessidade poderosa e avassaladora ... talvez seja apenas o meu temperamento. Eu deveria me casar cedo, para que eu possa suportar.
1 de maio de 1940
Eu nunca teria pensado, há um ano, que marcharia, não no dia 3 de maio [Dia da Constituição da Polônia], mas no dia 1º de maio [Dia Internacional dos Trabalhadores].
Apenas dois dias separados, mas esses dois dias significam muito. Isso significa que não estou na Polônia, mas na URSS. Isso significa que tudo é tão ... Eu sou tão louca por Holender!
Ele é divino, adorável; ele é incrível! Mas o que isso importa, já que eu não o conheço? Diga-me, algum dia vou me contentar? 
Terei alguma notícia feliz para contar a você sobre um garoto? Oh, por favor Deus. Eu estou sempre tão descontente!
14 DE JUNHO DE 1940 -  Os trens transportam 728 prisioneiros poloneses para Auschwitz - os primeiros presos transportados para o campo de extermínio nazista na Polônia.  
17 de junho de 1940
É meu aniversário amanhã. Estou completando 16 anos. Esse deveria ser o melhor momento da minha vida. 
As pessoas sempre dizem: "Oh, aos 16 anos de novo!" Mas eu sou tão infeliz! A França capitulou. O exército de Hitler está inundando a Europa. 
Os Estados Unidos estão se recusando a ajudar. Quem sabe, eles podem até começar uma guerra com a Rússia?
Estou aqui sozinha, sem mamãe ou papai, sem casa. Oh, Deus, por que um aniversário tão horrível tinha que vir? Não seria melhor morrer? 
Então eu teria um funeral longo e triste. Eles podem chorar. Eles não me tratariam com desdém. 
Eu só sentiria pena da minha mãe, minha mãe, minha mãe ... Por que você está tão longe de mim, tão longe?
JULHO DE 1940 - Stalin continua a deportar judeus poloneses para a Sibéria e para Birobidzhan, uma cidade soviética perto da fronteira chinesa que era o centro administrativo de um estado autônomo judeu formado em 1934. Os moradores foram submetidos a trabalho duro e condições adversas durante a guerra. 
6 de julho de 1940
Que noite terrível! Horrível! Terrível. Deitei lá com os olhos bem abertos, meu coração batendo forte, tremendo como se estivesse com febre. 
Eu podia ouvir o barulho de rodas novamente. Oh, Senhor Deus, por favor nos ajude! Um caminhão passou. 
Eu podia ouvir uma buzina de carro apitando. Isso estava vindo para nós? Ou para outra pessoa? 
Eu escutei, esforçando-me tanto que parecia que tudo em mim estava prestes a estourar.
Ouvi o tilintar das chaves, um portão sendo aberto. Eles entraram. Eu esperei um pouco mais. Então eles saíram, levando muitas pessoas com eles, crianças, idosos. 
Uma dama tremia tanto que não podia suportar, não podia se sentar. As prisões foram lideradas por uma bruxa gorda que continuava gritando em russo: "Sente-se, sente-se agora!" 
Ela carregou crianças na carroça. A noite toda foi horrível. Mal podia esperar pelo amanhecer.
Algumas pessoas estavam chorando. A maioria das crianças estava pedindo pão. Eles foram informados de que a viagem levaria quatro semanas. Pobres filhos, pais, idosos. 
Seus olhos estavam cheios de medo insano, desespero, abandono. Eles pegaram o que puderam carregar nas costas delgadas. Eles estão sendo levados para Birobidzhan. 
Eles viajarão em vagões fechados e escuros, com 50 pessoas cada. Eles viajarão em condições sem ar, sujas e infestadas.
Eles podem até estar com fome. Eles viajam por muitas semanas, crianças morrendo enquanto passam por um país supostamente feliz e livre.
E quantos chegarão ao seu destino? Quantos morrerão no caminho de doenças, infestações, anseios? 
Quando finalmente chegarem ao final da rota desses deportados em algum lugar distante da Ásia, ficarão presos em cabanas podres de lama, famintos, exaustos, ironicamente forçados a admirar o paraíso dos trabalhadores felizes e cantar esta canção:
Um homem permanece como o mestre Sobre sua vasta pátria
8 de agosto de 1940
Nossa visita ao papai foi adiada dia após dia. Agora não temos mais muitas férias de verão, mas ainda estamos indo.
O que importa que eles tenham destruído terras, que tenham dividido irmãos, enviado filhos para longe de suas mães? 
O que importa que eles digam "Isto é meu" ou "A fronteira está aqui"? As nuvens, os pássaros e o sol riem dessas fronteiras, dos seres humanos, de suas armas. 
Eles vão e voltam, contrabandeando chuva, folhas de grama, raios de sol. E ninguém sequer pensa em bani-los. 
Se ao menos tentassem, o sol iria explodir em gargalhadas e eles teriam que fechar os olhos. 
As nuvens, os pássaros e o vento seguiriam. O mesmo faria uma pequena alma humana, e muitos dos meus pensamentos.
21 DE AGOSTO DE 1940 - Cerca de um terço dos moradores de Horodenka, uma cidade de cerca de 9.000 habitantes, são judeus. Alemães e ucranianos vão atirar na maioria deles; apenas uma dúzia ou mais escapará.
21 de agosto de 1940
Papai veio nos buscar em Horodenka. Tivemos que andar quatro horas em uma carroça puxada por cavalos. Eu senti tanto a falta dele. 
Você não pode chamá-lo de outra coisa senão saudade. Eu tenho saudades de alguém próximo! Estou envolvido por essa ternura estranha.
22 de agosto de 1940
Passei metade da noite chorando. Sinto muito pelo papai, mesmo que ele continue assobiando alegremente. Eu disse a ele, quase chorando: "Eu sei, papai, que você teve os melhores sonhos, mas este não é o seu lar".
21 de setembro de 1940
Eu conheci um garoto chamado Zygmunt S. hoje. Nora admitiu que gostava dele, mas como sabia que ele era o meu tipo, deixou para lá. 
Nora tem Natek fofa e doce e Irka tem Maciek. E? Não sei no que vai dar e realmente não tenho muita confiança em mim. 
12 DE OUTUBRO DE 1940 - Os alemães decretam a construção de um gueto judeu em Varsóvia.
12 de outubro de 1940
Hoje é Yom Kipur, o Dia da Expiação. Ontem todo mundo saiu de casa; Eu estava sozinha com velas acesas sobre a mesa em um enorme castiçal de latão. 
Ah, um único momento de solidão. Eu era capaz de pensar em todas as coisas que se perdem no turbilhão diário.
Eu me fiz a mesma pergunta que fiz no ano passado: mamãe, quando eu vou te ver de novo? Quando eu vou te abraçar e contar o que aconteceu e Bulus [apelido de Renia para a mãe], como estou me sentindo terrível? 
E você me dirá: "Não se preocupe, Renuska!" Só você pode dizer meu nome de maneira tão calorosa e terna.
Mamãe, estou perdendo a esperança. Eu olhei para aquelas velas acesas - mamãe, o que você está fazendo aí? Você também pensa em nós, em nossos corações partidos?
Vemos os meninos na cidade. Estamos perto. Vemos Maciek quase todos os dias. Zygus voltou da escola conosco hoje. 
Ele olhou diretamente para mim. Ele tem olhos muito poderosos e eu fiquei vermelha no rosto e não disse nada. 
Planejamos ir a uma festa em breve - vou me divertir? É mais provável que Nora se divirta do que eu, já que alguém está apaixonado por ela. Eu não acredito em nada. A menos que Bulus venha.
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19 de outubro de 1940
Sentamos um em frente ao outro no clube russo esta semana. Ele olhou para mim, eu olhei para ele. Assim que desviei os olhos dele, pude sentir seus olhos em mim. 
Então, quando ele me disse duas palavras, fiquei louco, cheio de esperança. Eu senti como se um sonho estivesse se tornando realidade, como se o cálice estivesse bem nos meus lábios.
Mas o cálice ainda está longe. Muita coisa pode acontecer antes dos lábios tocarem nos lábios. Tantas coisas podem acontecer para impedi-los de se tocar. 
Este é o mais próximo que eu já experimentei de um amor verdadeiro, porque minha vítima está realmente olhando para mim e dizendo duas palavras. (A propósito, Holender vai se casar! Bem, eu não estou mais interessada nele. Não tenho há muito tempo).
23 de outubro de 1940
Esta é uma semana de competição, então estou pensando nisso mais do que em Zygus. Não tive sorte com ele, mas se tudo mais falhar, sempre terei você!
31 DE OUTUBRO DE 1940 - O oficial do governo polonês Jan Stanczyk afirma que "os judeus como cidadãos da Polônia serão, na Polônia libertada, iguais em relação aos direitos e responsabilidades de todos os poloneses".
NOVEMBRO DE 1940 - A construção é concluída no muro de três metros de altura em torno do gueto de Varsóvia. Um pé adicional de arame farpado acabará por coroar a parede.
6 de novembro de 1940
Ganhei o primeiro lugar na competição! Zygus me parabenizou. Ele era simplesmente lindo. Todas as minhas esperanças reverberaram em mim. Oh, que triunfo.
Então eu fui para aquela festa miserável. Eu fiquei lá sozinha enquanto Nora estava dançando. Eu deixei. Andei pelas ruas molhadas, tentando não chorar alto. Pensei: 
"Hoje à noite venci no nível espiritual, mas perdi na vida". Jurei que nunca mais iria a uma festa. 
Mas não, eu vou! Tímida ou não, preciso vencer nesta outra arena. Mesmo que isso signifique que minha alma perderá, deixe a vida ganhar!!!
18 de novembro de 1940
Hoje estou sob o feitiço de um filme chamado Jovem Pushkin. Pushkin é meu novo herói. Estou começando a me perguntar se talvez seja melhor ser famosa do que feliz depois de tudo.
Quando Pushkin estava no ensino médio, ele não estudou nada. Ele se encontrava com as outras crianças, passeava à luz da lua em noites perfumadas, pegava nenúfares brancos para sua amante. Ele chorou, sonhou, amou. Pushkin! Pronuncio o seu nome com reverência.
Mas eu nunca poderia me tornar famosa assim. Eu tenho sido como um diabrete de rua há quatro anos. Tudo o que vejo são paralelepípedos cinzentos e rachados e lábios rachados e sedentos.
Eu não vejo o céu, porque o céu é apenas um pedaço de nuvens empoeiradas e mofadas. 
Tudo o que vejo são cinzas e fuligem que sufocam, que corroem os olhos, que sufocam a respiração. Nenhuma revolução será capaz de consertar isso. Nada será capaz.
Mais tarde naquele dia
Meu romance parece ter terminado. Que idiota estúpido, bruto e arrogante. Ele gosta de brincar comigo. Mas você sabe o que? Ele não vale a pena que eu escreva sobre ele. 
20 de novembro de 1940
Eu tive minha vingança hoje. Escrevi para ele um poema ofensivo. Ele ficou irritado. Agora ele vai me deixar em paz. Eu não suporto ele.
"Rhymester" é o que ele me chamou hoje. Eu queria estar morto! Não, isso não importa. Estou tão triste ... tão triste.
DEZEMBRO DE 1940 - Um relatório do governo polonês no exílio estima que 410.000 pessoas foram trancadas dentro do gueto de Varsóvia.  
8 de dezembro de 1940
De repente, eu o amo como uma louca. Apenas pense, tudo estava prestes a ficar adormecido e hoje voltou à vida. 
Nada aconteceu - mas ainda assim! Ele brincou com meu capuz, acariciou-o e chegou mais perto! Zygus maravilhoso, maravilhoso, tão maravilhoso!!!
Ei, vamos beber nosso vinho Vamos beber de nossos lábios E quando o copo secar Vamos mudar para beber sangue Querendo e desejando Inspiração e amor ardendo Deixe-os começar um fogo Deixe a raiva queimar como pira Mas lembre-se, garota, que chamas viajam em suas veias que sangue pode explodir você por dentro Querendo e desejando Inspiração e amor ardendo Deixe-os começar um fogo Deixe a raiva queimar como pira Tanto vinho e lábios são vermelhos Uma vida antes de você estar morto Nossos corações estão famintos, jovens, em chamas Somente um para o outro bater . Lembre-se, garota, que chamas viajam em suas veias
10 de dezembro de 1940
Sabe, quando vejo Zygus, tenho uma sensação agradável e feliz que é desagradável ao mesmo tempo. 
Algo me paralisa. Ah, esse idiota, se ele soubesse o quanto eu o amo. Há um fio invisível nos conectando. 
Pode quebrar, mas não ... Se pudéssemos realmente ficar juntos, seria maravilhoso e terrível ao mesmo tempo! Eu não sei. Não tenho ideia do que está acontecendo comigo. 
18 DE DEZEMBRO DE 1940 - Hitler assina a Diretiva 21, a primeira ordem para invadir a União Soviética. A diretiva enfatiza a necessidade de "esmagar a Rússia soviética em uma campanha rápida" e evitar ser arrastada para o leste no vasto interior da URSS. A invasão não ocorre até junho de 1941.  
25 de dezembro de 1940
Ontem foi seu aniversário Bulus. Este foi o seu segundo aniversário que não passamos juntos. Quando esta tortura finalmente terminará?! Meu desejo fica mais forte, me sinto cada vez pior. 
Às vezes me sinto tão vazio que parece que minha vida está quase acabando - quando, de fato, minha vida está apenas começando. Não consigo ver nada à minha frente. 
Não há nada, apenas sofrimento e luta, e tudo vai acabar em derrota. Eu rio durante o dia, mas é apenas uma máscara (as pessoas não gostam de lágrimas).
28 de dezembro de 1940
Zygus vai estar no show de variedades! De fato, ele e eu estaremos na mesma cena, lendo da mesma página. 
Irka diz que ele ouviu com admiração quando cantei dísticos. (Eu pensei o contrário, mas tudo bem!)
Quando fomos para a aula, ele pegou minha mão! Parecia que minha mão não me pertencia. Ou foi, mas parecia totalmente diferente da minha outra mão. 
Alguns calafrios subiram e desceram. Mais cedo, quando ele estava lá lendo sua parte, eu não conseguia desviar os olhos de seus maravilhosos lábios vermelhos, tenho vergonha de admitir.
31 de dezembro de 1940
Véspera de Ano Novo! Nós colocamos no show de variedades. Eu recebi uma ótima resposta da plateia. Nos bastidores, Zygus tirou minha capa e desembaraçou meu cabelo.
Ele é tão maravilhoso, divino, tão charmoso. Quando eu estava indo embora, ele correu até mim e perguntou se eu iria a uma festa com ele amanhã. 
Foi tão emocionante; Eu contei tudo para Nora. Mas ela e Maciek não estão mais tão perto, então ela me inveja. Eu sinto muito por ela.
Hoje é o último dia de 1940. Amanhã é o começo de um novo ano, que trará novos arrependimentos, novas risadas (talvez), novas preocupações, novas lutas.
Meu maior desejo é recuperar minha pobre e amada mãe. Também desejo boas relações políticas e que "algo" aconteça com Zygus. Quero que este novo ano seja alegre e feliz.
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Os nazistas forçaram os judeus que moravam no lado alemão de Przemysl a atravessar a ponte ferroviária sobre o rio San e a se mudar para o lado ocupado pela Rússia. (Ilustração de Lauren Simkin Berke)
3 de janeiro de 1941 
Então, como foi a festa? Tudo foi doce. Qual foi o melhor momento? Foi quando ele falou comigo enquanto estávamos dançando? 
Ou quando ele passou o braço em volta de mim enquanto eu tropecei durante uma valsa? 
Ou quando ele sorriu maravilhosamente e perguntou: "Renia, por que você está fugindo de mim?" Ele cheirava tão incrível! E quando ele me tocou ... brrr ... ah ... que ótimo! Tão doce, tão bom! Sentamos e conversamos juntos. 
Que noite. Está nevando o dia todo. Mas eu passaria por qualquer tempestade de neve, furacão, chuva com ele - desde que estivéssemos juntos. 
Meu maravilhoso, meu menino de ouro, meu amante. Preciso terminar um trabalho para entregar amanhã, mas só quero ver Zygus. 
Eu estou ficando louca. E, ao mesmo tempo, não quero vê-lo, porque estou com tanto medo de que algo dê errado, que essa lembrança maravilhosa, doce e perfumada seja estragada.
9 de janeiro de 1941
Hoje uma bola acertou meu maravilhoso e querido Zygus na mandíbula; Foi tão ruim que ele se agachou de dor. Meu pobre querido! 
Depois disso, eu disse a ele que estava chateada durante a partida. Ele perguntou: 
"Por quê?" Eu disse: "Porque sim." Ele insistiu: "Por quê?" Eu disse: "Eu estava apenas chateada. Deixe me ser assim!"
Ele estava otimista o tempo todo, murmurando algo em iídiche. Ele está planejando estudar medicina e disse: 
“Renia, o que faremos no próximo ano? Você virá para Lwow e nós estudaremos juntos". 
Se pelo menos mamãe estivesse aqui, eu poderia facilmente contar esses dias como os meus mais felizes até agora. (Ele é apenas um pouco malcriado, não como os outros garotos, que são vulgares.)
20 de fevereiro de 1941
Eu sonhei com Mamma a noite toda. Zygus e eu estávamos resgatando ela, procurando por ela em Varsóvia. Hoje lembrei-me de todas aquelas coisas dolorosas e ardentes.
Estou preocupada com o fim de semana; as coisas sempre dão errado então. Ajude-me, Deus Todo Poderoso. Ajude-me, meu único e verdadeiro amigo, minha maravilhosa, distante e próxima Mamma ...
26 de fevereiro de 1941
Eu não deveria mais duvidar dele. Ele não me perguntou hoje, tão docemente, se eu estava indo para o clube? Ele não veio apenas porque eu estava indo também? Ele não carregou minha mochila e me ajudou a descer as escadas?
Ele não esperou do lado de fora da escola? Quando compartilhei minha halvah com ele, ele pegou um pedaço sem perguntar - era tão íntimo. Mas você sabe o que eu mais gosto de pensar?
Um momento doce quando meu Zygus me comprou um pãozinho e colocou um pedaço dele na minha boca. Além da doçura, havia algo de tão masculino, tão parecido com o marido.
Mamãe e você, Deus maravilhoso, me levem.
7 de março de 1941
Hoje, depois da aula, ele me empurrou (gentilmente) contra a parede e aproximou seus lábios dos meus. Ele disse: "O que devo fazer com esses olhos?" Eu disse a ele para me pegar óculos de sol.
Ele perguntou por que eu era tão malvada. Eu disse: “O que, Zygus? Eu sou malvada?” Ele pegou minhas mãos e repetiu docemente não, não, não! E ele perguntou sobre meus planos para amanhã.
Me sinto estranha. Eu poderia ir para o lugar dele. Tudo vai dar certo, pelo menos um pouquinho? Eu oro a Deus e Bulus. Peço sinceramente que cuide de mim.
18 de março de 1941
Zygus me pegou hoje às 18:00. Primeiro fomos ao Socialist Club, depois ao de Irka, depois voltamos para casa. Parecia que havia algo pairando entre nós, algo indescritível, algo não dito. Fiquei pensando em uma sinfonia inacabada.
Eu mal sou capaz de me controlar. Estou fervendo, estou fervendo, mal consigo parar de ... ah, sou tão descaradamente vulgar! 
Z. disse: "Eu esqueço tudo quando olho nos seus olhos." Ele fez um beicinho com seus maravilhosos lábios - tão, tão, tão doce! A sinfonia será concluída?
19 de março de 1941
Estou me sentindo culpada. Eu posso sentir algo poderoso crescendo dentro de mim. Preciso confessar para alguém ou ficarei louca. Todos os meus sentidos estão agitados:
Eu me sinto tão feroz, tão feroz com o amor O sangue quente está fervendo em minhas veias Eu estou tão bêbado de proximidade com cabeça quente, atordoada com chamas desejosas Meus sentidos me mandam se contorcendo Eles estão me amarrando, enredando Eu sei que sou como uma fera Meu auto-respeito diminuiu Eu desprezo, me degradei tanto Mas ainda assim eu entendo que como um cachorro, como um lince ferido, eu não posso mexer Meu coração se contorce, eu uivo por dentro, em um piscar de olhos Eu vou pular e partir selvagem chacoalhar tudo e bufar e gritar. Aqueles lábios vermelhos vão pelos meus lábios serem devastados. Eu estou em um frenesi, meu desejo e medo não são suaves Eu estou viva agora, eu não vou embora e eu quero ... Eu não posso ir ...
Isso é nojento, repulsivo, animalesco.
28 de março de 1941
Hoje fizemos uma longa caminhada. Foi tão bom - nós apenas conversamos, conversamos, conversamos. Ele me disse que iríamos juntos para a Riviera um dia, em algum lugar distante de outras pessoas, com "céu azul" - ao qual acrescentei "" e mar azul "- e ele terminou" e olhos azuis ". Uma caminhada longa e amigável como essa talvez seja ainda melhor do que ... Mas o que eu sei?
ABRIL DE 1941 - A taxa de mortalidade de prisioneiros judeus no gueto de Varsóvia excede 2.000 por mês pela primeira vez. Seu pico será em agosto, com 5.560 mortes.
27 de abril de 1941
Mamãe, eu estou tão triste. Você sabe, às vezes eu acho desculpas para Zygus. Por exemplo, ele não veio me ver e eu disse que era só porque ele estava se sentindo tímido (ele fica facilmente envergonhado!). 
Hoje, a pobre e querida Vovó fez uma tentativa desajeitada de me ajudar a me sentir melhor, mas, em vez disso, apenas dilacerou meu coração já sangrando. Vai demorar um pouco para curar. Não sei por que esse dia está tão sujo.
ABRIL DE 1941 - As forças do Eixo se aprofundam na Europa Oriental, conquistando o Reino da Iugoslávia e dividindo-o entre si.
30 de abril de 1941
Eu sou a pessoa mais infeliz. Por que Zygus providenciou para levar Irka para uma festa? Por que ele quer me irritar? 
Você sabe, eu vou de qualquer maneira. Vou me deixar torturar. Eu não posso simplesmente desistir completamente.
10 de maio de 1941
Viva o mês de maio! Estou me sentindo renovada. Fomos ao cinema e nos sentamos estreitamente entrelaçados. Zygus gosta de ler meus poemas. Ele diz que um dia serão publicados. Ele é geralmente maravilhoso e eu o amo! Isso me sufoca tanto.
13 de maio de 1941
Toda a minha vida está inflando em mim, todos os meus 17 anos. Todas as minhas emoções estão se acumulando em um monte de folhas secas, e Maio é como combustível derramado naquele monte.
E está crescendo, crescendo, apenas uma faísca e vai explodir, as chamas vão estourar no céu. 
Deixe o coração, o cérebro, a mente, o corpo pegarem fogo, deixe que haja apenas conflagração e calor - e desejo de queimar, lábios em brasa ...
Eu perdi o controle da minha mente? Faltam apenas três dias para o final do semestre! Estou vagando por aí, sonhando acordada, ruminando. 
Eu não estou estudando para os meus exames. Eu não posso! Os olhos de Zygus são verdes, mas seus lábios são os mais bonitos. Que lábios incríveis!
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18 de maio de 1941
Eu tive a mais maravilhosa noite de maio. Subimos as colinas ao longo dos caminhos. O San estava fluindo - poderoso, cintilante, vermelho no pôr do sol.
Nossos espíritos estavam tão conectados que não tenho certeza se algum contato físico poderia ter nos aproximado. É difícil até lembrar do que falamos. 
Eu só sei que quando eu mencionei algo sobre sua reputação, ele respondeu: "Então você não gostaria de um marido famoso?"
Eu estou realmente sem palavras, então apenas imagine silêncio, vegetação, maio, pôr do sol e fogos de artifício, e nós dois, apaixonados.
Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
11 de junho de 1941
Zygus passou no exame final da escola hoje! Ele estava tão maravilhoso hoje! Muito, muito terno e muito querido.
20 de junho de 1941
Tivemos outra noite maravilhosa. As estrelas começaram a surgir, a lua flutuou e nos sentamos um ao lado do outro e conversamos. 
Quando partimos, estava escuro; não conseguimos encontrar o caminho. Nos perdemos. Foi tudo tão repentino e inesperado, doce e intimidador - ele disse: 
"Renuska, me dê um beijo" e, antes que eu percebesse, aconteceu. Ele queria mais tarde, mas eu não podia, estava tremendo por toda parte.
Z. disse: "Podemos fazer isso de novo agora ou amanhã". Eu me sinto tão estranho e agradável. 
Era tão leve, ilusório, etéreo, delicado. Como isso aconteceu? Agora não preciso mais pensar e sonhar.
21 de junho de 1941
Eu amo aqueles olhos verdes. Nós nos beijamos pela segunda vez hoje. Era tão bom, mas você sabe, não era ardente ou selvagem, mas de alguma forma delicada e cuidadosa, quase com medo - como se não quiséssemos extinguir algo que estava crescendo entre nós. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
26 de junho de 1941
Eu não sei escrever. Estou fraca de medo. Guerra de novo, guerra entre a Rússia e a Alemanha. 
Os alemães estavam aqui, depois se retiraram. Dias horríveis no porão. Querido Senhor, me dê minha mãe, salve todos nós que ficamos aqui e aqueles que escaparam da cidade nesta manhã. Salve-nos, salve Zygus.
Eu quero tanto viver. Estou me humilhando diante de você e implorando em nome de todos nós. Esta noite vai ser terrível. Eu estou assustada. 
Acredito que você vai me ouvir, que não vai me deixar nesta hora terrível. Você me salvou antes, me salve agora. Deus, obrigado por me salvar.
Não sei o que vai acontecer conosco. Quase toda a cidade está em ruínas. Um pedaço de estilhaço caiu em nossa casa. Foram dias terríveis. 
Por que tentar descrevê-los? Palavras são apenas palavras. Eles não podem expressar como é quando toda a sua alma se apega a uma bala zunindo. 
Quando toda a sua vontade, toda a sua mente e todos os seus sentidos pairam nos mísseis voadores e imploram: "Não nesta casa!" 
Você é egoísta e esquece que o míssil que sente sua falta atingirá outra pessoa.
Querido Diário! Quão precioso você é para mim! Quão horríveis foram os momentos em que te abracei no meu coração!
E onde está Zygus? Eu não sei. Acredito, fervorosamente, que nenhum dano lhe ocorreu. Proteja-o, bom Deus, de todo o mal. 
Tudo isso começou quatro horas depois do momento em que ele me mandou o último beijo até a varanda. 
Primeiro, ouvimos um tiro, depois um alarme e depois um uivo de destruição e morte. Também não sei onde Irka e Nora estão, onde está alguém.
É isso por hoje à noite; Está ficando escuro. Deus, salve a todos nós. Faça com que a mamãe venha e deixe que não haja mais miséria.
30 DE JUNHO DE 1941 - As forças alemãs capturam Lwow e seus arredores dos soviéticos. Os judeus são obrigados a usar braçadeiras estampadas com a Estrela de Davi.
JULHO DE 1941 - Os massacres do Ponary começam em Vilna, uma cidade judia predominantemente polonesa. Nazistas e lituanos juntos acabarão matando 70.000 judeus lá. 
1 de julho de 1941
Estamos todos vivos e bem. Todos nós, Nora, Irka, Zygus, meus amigos, minha família. Amanhã, junto com todos os outros judeus, terei que começar a usar uma braçadeira branca. 
Para você, continuarei sempre a mesma Renia, mas para outros me tornarei alguém inferior: uma garota usando uma braçadeira branca com uma estrela azul. Eu serei um Judeu.
Não estou chorando ou reclamando. Eu me resignei ao meu destino. Parece tão estranho e triste. 
Minhas férias escolares e meus encontros com Zygus estão chegando ao fim. Não sei quando o verei novamente. Nenhuma notícia sobre Mamma. Deus proteja a todos nós.
Adeus, querido diário. Estou escrevendo isso enquanto ainda sou independente e livre. Amanhã serei outra pessoa - mas apenas do lado de fora. 
E talvez um dia eu te cumprimente como outra pessoa ainda. Conceda-me isso, Senhor Deus, eu acredito em você.
3 de julho de 1941
Nada de novo até agora. Usamos as braçadeiras, ouvimos notícias aterrorizantes e consoladoras e nos preocupamos em sermos selados em um gueto.
Ele me visitou hoje! Eu pensei que iria enlouquecer de alegria e ... confusão. Ele está trabalhando na clínica,  fazendo curativos. Ele é doce e maravilhoso, como sempre.
É uma pena que ele não possa ir para a universidade agora. Ele seria um excelente médico. Mas ele será um de qualquer maneira, você verá. 
Nós combinamos de nos encontrar amanhã na clínica. Parece um pouco estranho, mas porque não? Mesmo agora que estamos usando essas braçadeiras - a coisa é estar com ele.
Eu quero que Bulus venha com todo o meu coração. Deus, traga mamãe, deixe-a estar conosco para melhor e para pior. Zygmunt é maravilhoso. Você vai me ajudar, Bulus e Deus!
9 de outubro de 1941
Eu estava com mamãe e parecia maravilhoso, extraordinário. Para outras meninas, é natural passar tempo com as mães. 
Mas, novamente, minha mãe também é diferente. Ela é como uma amiga, uma colega. Agora estou de volta ao outro lado, desejando-a novamente.
Eu acredito em Deus, em você e em Mamma. Eu acredito que será como Zygus diz. Nós vamos sobreviver a esta guerra de alguma forma, e mais tarde ... ah, será realmente como ele diz?
Sou apenas uma das milhões de garotas caminhando por este mundo - mais feia que algumas, mais bonita que outras, mas ainda assim, diferente de todas elas. 
Zygus também é diferente de todos os outros. Ele é tão sutil e sensível. Mamãe, por que você me diz que eu não deveria me afogar em seus olhos verdes? Você não vê que eu já me afoguei?
15 DE OUTUBRO DE 1941 - Os nazistas começam a deportar judeus austríacos para guetos na Polônia ocupada. 
 OUTONO DE 1941 - Em Przemysl, os nazistas declaram uma área chamada Garbarze como o distrito oficial dos judeus. É delimitada por três lados pelo rio San e por outro por linhas ferroviárias. As autoridades finalmente obrigam judeus de outros bairros a se mudarem para lá. 
7 de novembro de 1941
Gueto! Essa palavra está tocando em nossos ouvidos. Não sabemos o que vai acontecer conosco, onde eles vão nos levar. 
Fomos obrigados a deixar nossos apartamentos antes das 14h com 25 kg de pertences. 
Talvez haja um gueto, mas parece que definitivamente teremos que sair das ruas principais de qualquer maneira.
Às 10:30 da noite passada, de repente a campainha tocou e quem estava lá? A polícia! Pressionei minhas mãos no meu rosto e te liguei, oh Deus, e você me ouviu. 
Era um policial da nossa antiga vila e ele se deixou subornar. Lembrei-o dos bons tempos, dos amigos, dos prazeres e, de alguma forma, funcionou. 
E agora estou perguntando a você, ó Grande, estou perguntando a você - eu, um grão de poeira, eu, sem pai ou mãe aqui ... ouça a minha súplica!
24 de novembro de 1941
Bulus chegou na sexta-feira e saiu hoje! Ela não gosta de Zygus, talvez porque prefira que ele seja ariano. Ela me avisou para não levar esse relacionamento muito a sério.
É estranho, mas depois desses conselhos, sinto que estou me afastando dele, que simplesmente não gosto dele e tenho medo dele. Às vezes Bulus está errada, e ela não o conhece. Mas às vezes ela está certa!
Porque sua natureza assertiva - que agora acho tão atraente - não me atormentará um dia? Ele não fará o que bem entender comigo e consigo mesmo? 
Alguma Halina ou Lidka não envenenarão minha vida? Tudo acabaria então. Eu só teria mais uma casa pela frente: a sepultura.
Por que estou tão brava, sério? É por causa do que Bulus disse? Não, ainda quero que ele seja meu marido. Mamãe diz que você não deve querer tanto, porque pode não conseguir.
Acho que talvez Deus ouça meu pedido sincero e feminino. Sim, pode acontecer! 
Deus, que meus sonhos continuem se tornando realidade. Eu serei muito grata. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
26 de novembro de 1941
Depois que Bulus partiu, sonhei que tinha uma discussão a noite toda com Zygus. Eu nem sei do que estava com raiva. 
Z. estava muito doce e terno hoje e fiquei irritado comigo mesmo. Ou talvez seja como mamãe diz. Talvez eu seja infeliz. Mas estou pronto para desistir do meu sonho?
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Renia com Zygmunt Schwarzer. “Agora me chamo Sra. Schwarzer o tempo todo, mesmo na frente de Zygmunt”, escreveu ela feliz em 1941. (Ilustração de Lauren Simkin Berke)
19 de janeiro de 1942
Era o aniversário dele hoje. Dei-lhe uma coleção de poemas e ele ficou tão emocionado! Eu não sabia que isso o agradaria tanto. 
Perguntei o que ele gostaria que eu desejasse. Ele disse para nós sobrevivermos a essa guerra sem nos separarmos. Eu também quero isso? Não quero que nos separemos. 
Como Z. colocou, os poemas nos conectam. Que bom que ele entende isso. Os poemas conectam almas e elevam o amor. Deus, obrigado e que meus sonhos se tornem realidade.
25 de março de 1942
Eles estão fechando nosso trimestre; eles estão levando as pessoas para fora da cidade; há perseguições, ilegalidade. E acima disso - há primavera, beijos, carícias doces, o que me faz esquecer do mundo inteiro.
20 de abril de 1942
Hoje é o aniversário do Führer. Eu quero gritar com todas as minhas forças.
Como você pode se apaixonar por 18 meses? Tudo é real, pulsante, fervilhando de vida, amor e juventude. 
Sinto como se estivesse andando de carruagem ou correndo contra o vento e a chuva. Não consigo recuperar o fôlego, não consigo encontrar palavras. 
Eu posso dissolver em minha própria ternura, meu próprio carinho. Hoje eu estava realmente pronto para estrangulá-lo, mas o que eu faria então? 
Zygus, eu estou realmente escrevendo isso para você e você! Eu abri meu coração para você e você é muito querida para mim! 
Estou feliz, feliz e leve e ... Sonhos! Sonhos estúpidos, loucos e maravilhosos!
MAIO DE 1942 - A cerca de 595 quilômetros de Przemysl, em Treblinka, os nazistas ordenam a construção de um campo de extermínio. Nos dois anos em que os nazistas operam, 870.000 a 925.000 pessoas serão mortas lá.  
11 de maio de 1942
Passei o dia com Nora hoje. Sua atitude em relação ao amor é leve, enquanto a minha é séria. Ela diz que isso vai me deixar infeliz. 
Talvez, mas sei que não posso fazer de outra maneira. Depois da nossa conversa, eu estava exausta e tive uma dor de cabeça. E esse gueto, essa situação, essa guerra ... Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
12 de maio de 1942
Algum tipo de febre tomou conta da cidade. O espectro do gueto voltou. Fico feliz por estar chorando agora, quando ninguém pode me ver. 
Eu gritei hoje: "Oh, Deus, eu quero que o momento deles me levarem embora chegue logo!"
Não, eu não quero isso! Senhor, perdoa-me! Mas minha alma estava tão amarga que eu senti que isso talvez fosse o melhor. 
Mamma nos escreve que as crianças estão sendo levadas para o trabalho forçado. Ela me disse para fazer as malas. 
Ela quer estar conosco e, ao mesmo tempo, quer enviar uma carta oficial a papai pedindo divórcio.
Eles nunca vão consertar isso. Mamãe se casará novamente e eu nunca mais voltarei à porta da casa dos meus pais. 
O marido dela será um estranho. E papai me escreveu dizendo que não tinha certeza se iria me ver de novo!
Papai, você é um judeu azarado, assim como eu, trancado no gueto. Santo Deus, você pode me salvar? Você pode salvá-los? Todos eles. Oh, por favor, faça um milagre!
A vida é tão miserável. Mas meu coração ainda se enche de tristeza, quando penso ... vou morrer? O que nos espera no futuro? 
Oh, Deus Todo-Poderoso! Muitas vezes perguntei a você e você me ouviu - por favor, ponha um fim à nossa miséria.
Eu me sinto melhor agora; é tão bom chorar. As pessoas dizem que agora a comida é a coisa mais importante. 
Eu jantei bem e me sinto muito mal. Não estou com fome, mas estou com fome pela proteção de alguém.
E Zygus? Sim, talvez seja por isso que não quero me despedir da vida. Mamãe, não se prenda por mim. Você terá sua própria vida agora. Você pode até ter mais filhos.
Eu realmente não contava que teríamos uma casa juntos no futuro; Eu apenas tive esse sonho tímido e ingênuo. 
Não estou realmente desapontada, apenas olhei em volta para o mundo e isso me assustou com o seu vazio.
E mamãe, tão querida, estará com um homem que é um estranho para mim. Não estou mais chorando. 
O homem com quem estarei será um estranho para ela. A vida une as pessoas e depois as separa.
20 de maio de 1942
Ontem, Z. veio me buscar no meu trabalho na fábrica e saímos de mãos dadas. Os pomares estão florescendo, maio está brilhando com seu céu azul e eu também estou brilhando de alegria. Eu me sinto como sua filha e eu gosto muito!
23 de maio de 1942
Algo tem me incomodado terrivelmente nos últimos dias. Eu sei que Nora está pensando em como será quando meu romance terminar. 
Ela está me acusando de levar isso muito a sério e (ela tem uma visão clara disso?) ela faz meu coração doer. 
Eu sei que ela duvida se Z. realmente me ama. Eu sei isso; Eu posso sentir isso.
E Zygus às vezes diz algumas coisas sem perceber e isso me machuca tanto. Às vezes, quando me incomoda demais, penso em fugir. 
Mas quando eu o seguro com força, quando ele está perto, tão perto, sinto que não seria capaz de me separar dele nem por todos os tesouros do mundo. Isso significaria desistir da minha alma.
Nora, você está errada. Você é diferente, mas eu ficaria sem nada.
Quando Z. é bom para mim, tudo é bom, brilhante e cheio de sol. É uma pena que o mês esteja prestes a terminar. 
As noites estão cheias de estrelas. Elas são tão apaixonantes e eu sonho tanto, eu sonho, eu sonho.
2 de junho de 1942
Agora eu sei o que a palavra êxtase significa. É indescritível; é a melhor coisa que duas criaturas amorosas podem alcançar. 
Pela primeira vez, senti esse desejo de me tornar um, ser um corpo e ... bem ... sentir mais, eu poderia dizer. 
Morder, beijar e apertar até o sangue aparecer. E Zygus falou sobre uma casa e um carro e sobre ser o padrinho para mim.
Senhor Deus, sou muito grato a você por esse carinho, amor e felicidade! Estou escrevendo essas palavras de maneira diferente, sussurrando-as em minha mente para não assustá-las ou explodi-las. 
Não quero pensar em nada, só quero tanto, tão apaixonadamente como ... você sabe. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
3 DE JUNHO DE 1942 - OS nazistas matam todos os residentes judeus no bairro de Zasanie, em Przemysl, no lado oeste do rio San.
JUNHO DE 1942 - Cerca de 5.000 judeus de várias outras cidades polonesas são deportados para Przemysl.
6 de junho de 1942
Eu desejo com cada pedacinho do meu corpo, meus pensamentos, minha imaginação. Até o livro mais inocente me excita. Ah, eu luto com esses sonhos nojentos. 
Eu não vi Zygus hoje, ele está sobrecarregado, cansado e fraco. É muita sorte, porque agora estou cheia de energia. Minha ganância pela vida me torna feroz. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
7 de junho de 1942
Estou em paz. Nora e eu fizemos uma longa caminhada até o fundo do quarto e conversamos. 
Ela foi a primeira pessoa a quem eu contei. Percebi que esse fardo estava me atormentando. Eu me senti em paz.
Onde quer que eu olhe, há derramamento de sangue. Que pogroms terríveis. Há matança, assassinato. 
Deus Todo-Poderoso, pela enésima vez que me humilho na sua frente, ajude-nos, salve-nos!
Senhor Deus, vamos viver, eu te imploro, eu quero viver! Eu experimentei tão pouco da vida. Eu não quero morrer Eu tenho medo da morte. 
É tudo tão estúpido, tão mesquinho, tão sem importância, tão pequeno. Hoje estou preocupada com a minha aparência; amanhã eu posso parar de pensar para sempre.
Pense, amanhã nós podemos não ser Uma faca fria de aço Deslizará entre nós, você vê Mas hoje ainda há tempo para a vida Amanhã o sol pode ser eclipsado Balas podem rachar e rasgar E uivar, calçadas inundadas Com sangue, sujo e fedido escória, lavagem de porco Hoje você está vivo Ainda há tempo para sobreviver Vamos misturar nosso sangue Quando a música ainda avança A música da inundação selvagem e furiosa Trazida pelos mortos-vivos Ouça, todos os meus músculos tremem Meu corpo por sua proximidade atrapalha Supõe-se para ser um jogo de estrangulamento, essa não é a eternidade suficiente para todos os beijos.
14 de junho de 1942
Está escuro, não consigo escrever. Pânico na cidade. Tememos um pogrom; tememos deportações. Oh Deus Todo Poderoso! Ajude-nos! 
Tome conta de nós; nos dê sua bênção. Vamos perseverar, Zygus e eu, por favor, vamos sobreviver à guerra. Cuide de todos nós, das mães e crianças. Amém.
18 DE JUNHO DE 1942 - A Gestapo reúne mais de 1.000 homens judeus em Przemysl e os envia para o campo de trabalho de Janowska. Os agentes assassinam inúmeros membros das famílias dos prisioneiros.  
19 de junho de 1942
Deus salvou Zygus. Oh, estou fora de mim. Eles levavam as pessoas a noite toda. Eles reuniram 1.260 meninos. Há tantas vítimas, pais, mães, irmãos. 
Perdoe-nos nossas ofensas, ouça-nos, Senhor Deus! Foi uma noite terrível, terrível demais para descrever.
Mas Zygus estava aqui, meu doce, doce e amoroso. Foi tão bom; nos abraçamos e nos beijamos sem parar. 
Foi realmente tão deliciosamente agradável que valeu a pena todo o sofrimento. Mas às vezes acho que não vale a pena, que uma mulher amorosa tenha que pagar um preço muito alto. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
23 de junho de 1942
Ontem houve uma esp��cie de pogrom em nosso trimestre. Bulus escreveu e me disse para deixar a cidade com Zygus. 
Ela escreveu "juntos". "Juntos"! Seria tão delicioso, tão doce! Embora seja absurdo por enquanto. Mas hoje em dia, mesmo o maior absurdo pode se tornar realidade.
27 de junho de 1942
Bom, tranquilo, tranquilo, abençoado sábado à noite. Minha alma se acalmou. Por quê? Porque eu me aconcheguei contra ele, ele me acariciou e me fez sentir como sua pequena filha. 
Eu esqueci tudo de ruim. É uma pena que Zygus se foi agora. Eu poderia continuar deitada contra ele por um longo, longo tempo.
29 de junho de 1942
Zygus me diz coisas ruins. Ele me diz coisas doces também. Sou sempre mais bonita depois - com olhos brilhantes, lábios ardentes e bochechas coradas. Zygus também é o mais bonito da época. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
JULHO DE 1942 - A Gestapo estabelece um Judenrat , ou Conselho Judaico, para executar ordens nazistas na comunidade judaica de Przemysl. O Judenrat inclui médicos, advogados, rabinos e líderes empresariais.
5 de julho de 1942
Temíamos e finalmente aconteceu. O gueto. Os avisos saíram hoje. Supostamente, eles estão planejando deportar metade das pessoas. 
Grande Senhor Deus, tenha piedade. Meus pensamentos são tão sombrios, é um pecado sequer pensar neles.
Eu vi um casal de aparência feliz hoje. Eles estiveram em um passeio; eles estavam voltando, divertidos e felizes. 
Zygus, meu querido, quando iremos a um passeio como o deles? Eu te amo tanto quanto ela o ama.
Eu olhava para você da mesma maneira. Mas ela é muito mais feliz, é a única coisa que sei. 
Ou talvez - oh, Santo Deus, você está cheio de misericórdia - nossos filhos dirão um dia: "Nossa mãe e pai moravam no gueto". Oh, eu acredito fortemente nisso.
14 DE JULHO DE 1942 - Os nazistas estabelecem um gueto selado em Przemysl, ordenando que 22.000 a 24.000 judeus da cidade se movam dentro de seus limites no dia seguinte. Somente membros do Judenrat e suas famílias podem permanecer temporariamente em casas fora do gueto. Qualquer pessoa que ajude ou dê abrigo aos judeus está ameaçada de execução.
15 de julho de 1942
Lembre-se deste dia; lembre-se bem. Você dirá às gerações vindouras. Desde as oito horas de hoje, estamos trancados no gueto. 
Eu moro aqui agora. O mundo está separado de mim e eu estou separado do mundo.
Os dias são terríveis e as noites não são nada melhores. Todo dia traz mais baixas e eu continuo orando a você, Deus Todo-Poderoso, para me deixar beijar minha querida mãe.
Oh, Grande, nos dê saúde e força. Vamos viver. A esperança está murchando tão rápido. Há flores perfumadas na frente da casa, mas quem precisa de flores?
E Zygmunt - eu o vi à distância hoje, mas ele ainda não apareceu. Senhor, por favor, proteja sua querida cabeça. 
Mas por que não posso me aconchegar ao lado dele? Deus, deixe-me abraçar minha querida mãe.
16 de julho de 1942
Você provavelmente quer saber como é um gueto fechado. Bastante comum. Arame farpado por toda parte, com guardas vigiando os portões (um policial alemão e uma polícia judaica).
Deixar o gueto sem passe é punível com a morte. No interior, existem apenas nosso povo, entes queridos. 
Lá fora, existem estranhos. Minha alma está muito triste. Meu coração está tomado pelo terror.
Senti muita falta de Zygus hoje. Eu pensava nele o tempo todo. Eu ansiava tanto por suas carícias, ninguém sabe quanto. Afinal, enfrentamos uma situação tão terrível. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
18 de julho de 1942
Os dias passam. São todos iguais, como gotas de chuva. As noites são as mais agradáveis. Sentamos no quintal em frente à casa, conversamos, brincamos e - respirando a fragrância do jardim - consigo esquecer que moro no gueto, que tenho tantas preocupações, que me sinto só e pobre, que Z. é um estranho para mim, que, apesar de todo o meu desejo, não posso me aproximar dele.
Aqui, no quintal, as pombas arrulham. O crescente da lua flutua silenciosamente no céu. Eu estava à beira das lágrimas três vezes hoje. 
Culpei as condições de vida, mas o amor pode florescer em qualquer lugar. E, no entanto, sombras sempre voam no meu caminho. De onde vêm essas sombras? Meu coração dói tanto.
Não quero pedir a Deus mais nada, apenas a nossa sobrevivência. Sonho em colocar minha cabeça no peito de mamãe e chorar docemente. 
Mamãe não está aqui. Nora esta, então eu vou até ela e choro. Ela é uma alma querida, ela vai entender.
Não quero ver mais nenhum amigo. Irka disse que iria passar por aqui. Pra que? Eu não a suporto. É tudo estúpido, calculado, artificial. 
Tchau, querido diário, meu coração está pesado, como se fosse chumbo. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
19 de julho de 1942
Zygus, meu amado Zygus, é meu coração batendo novamente; ele é tão deliciosamente doce. 
O mundo é bom para nós, mesmo no gueto. Então hoje eu estou muito mais calma. Agora terei bons pensamentos sobre tudo!
Amanhã Nora completará 18 anos. Gostaria de dar a ela algo mais que um álbum e flores, algo que ninguém mais dará a ela. 
Prometi comprar-lhe uma câmera maravilhosa quando sairmos daqui e fazer caminhadas nas montanhas, para fazer a minha amiga feliz. Isso também me faria feliz.
20 DE JULHO DE 1942 - As autoridades alemãs exigem 1,3 milhão de zloty (aproximadamente US $ 250.000 em moeda de 1942) dos moradores do gueto de Przemysl para garantir "paz e sossego".
22 de julho de 1942
Eu tenho que escrever para silenciar a dor. Um tempo tão terrível e sombrio. Não sabemos o que o amanhã trará. Esperamos que as famílias sejam levadas embora.
Nem uma palavra de mamãe ou papai. Também não é bom com Zygmunt. Eu realmente não queria admitir que estou fervendo de raiva. 
Mas não consigo me conter. Tenho lágrimas nos olhos de dor e as pontas dos meus dedos estão formigando de raiva.
Não quero escrever sobre os detalhes, como posso escrever palavras ranzinzas, clamando, e qual é o objetivo? Será sempre o mesmo. Estou ressentido e impotente no amor.
Quando penso nisso, fico tão furiosa que não quero mais vê-lo novamente. Já tive o suficiente disso tudo. 
Cubro meus ouvidos com as mãos e fecho os olhos. Eu gostaria de usar meu sofrimento para criar sofrimento, para me tornar doente.
Mas nos meus sonhos, é completamente diferente. Meus sonhos são doces. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
24 DE JULHO DE 1942 - O Judenrat em Przemysl está autorizado a emitir 5.000 licenças de trabalho carimbadas que salvarão temporariamente os residentes do gueto da deportação.
24 de julho de 1942
Querido Deus, ajude-nos. Precisamos pagar nossa contribuição amanhã às 12 horas. 
A cidade está em perigo. Mas ainda tenho fé. Minha fé é profunda e eu imploro. Você nos ajudará, Bulus e Deus.
25 de julho de 1942
A polícia do gueto judeu veio ontem à noite. Ainda não pagamos tudo. Oh! Por que o dinheiro não pode chover do céu? Afinal, é a vida das pessoas. 
Tempos terríveis chegaram. Mamãe, você não tem ideia do quão terrível. Mas o Senhor Deus cuida de nós e, embora eu esteja terrivelmente assustado, confio nele.
Confio, porque nesta manhã um raio de sol brilhante atravessou toda essa escuridão. Foi enviado por minha mãe em uma carta, na forma de uma maravilhosa fotografia dela.
E quando ela sorriu para mim da foto, pensei que Deus Santo nos tem sob seus cuidados! 
Mesmo nos momentos mais sombrios, há algo que pode nos fazer sorrir. Mamãe, rogai por nós. Eu te mando muitos beijos. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
À noite!
Meu querido diário, meu bom e amado amigo! Passamos por momentos terríveis juntos e agora o pior momento está sobre nós. 
Eu poderia ter medo agora. Mas Aquele que não nos deixou então também nos ajudará hoje.
Ele vai nos salvar. Ouça, ó, Israel, salve-nos, ajude-nos. Você me manteve a salvo de balas e bombas, de granadas. Ajude-me a sobreviver! 
E você, minha querida mamãe, reze por nós hoje, reze muito. Pense em nós e que seus pensamentos sejam abençoados.
Mamma! Meus queridos, primeiro e único, tempos terríveis estão chegando. Eu te amo com todo o meu coração. Eu te amo; nós estaremos juntos novamente. 
Deus, proteja a todos nós e Zygmunt e meus avós e Ariana. Deus, nas tuas mãos eu me comprometo. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
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Anotações de Zygmunt no Diário
27 DE JULHO DE 1942 - O tenente Albert Battel, da Wehrmacht, toma uma posição incomum contra a deportação de judeus de Przemysl. Ele usa caminhões do Exército para resgatar até 100 trabalhadores armados judeus, juntamente com suas famílias, protegendo-os da deportação para o campo de extermínio de Belzec.
27 de julho de 1942
Está feito! Primeiro de tudo, querido diário, por favor, perdoe-me por entrar em suas páginas e tentar continuar o trabalho de alguém de quem não sou digno. 
Deixe-me dizer-lhe que Renuska não recebeu o carimbo de permissão de trabalho que precisava para evitar ser deportada, então ela precisa ficar escondida.
Meus queridos pais também foram recusados ​​com carimbos de permissão de trabalho. 
Juro por Deus e pela história que salvarei as três pessoas que são mais queridas para mim, mesmo que isso me custe minha própria vida. Você vai me ajudar, Deus!
28 de julho de 1942
Meus pais tiveram sorte de entrar na cidade. Eles estão se escondendo no cemitério. Renia teve que sair da fábrica. 
Eu tinha que encontrar um esconderijo para ela a qualquer custo. Eu estava na cidade até as 8 horas. Eu finalmente consegui.
29 de julho de 1942
A Aktion [deportação em massa] foi impedida por causa de uma disputa entre o exército e a Gestapo. 
Não consigo descrever tudo o que aconteceu nos últimos três dias. Não tenho energia para isso após 12 horas de corrida pela cidade.
Esses eventos me abalaram profundamente, mas não me quebraram. Eu tenho uma tarefa terrivelmente difícil. 
Eu tenho que salvar tantas pessoas sem ter nenhuma proteção para mim ou qualquer ajuda de outras pessoas. 
Esse fardo repousa apenas nos meus ombros. Eu levei Ariana para o outro lado.
30 de julho de 1942
Hoje tudo será decidido. Reunirei toda a minha força mental e física e alcançarei meus objetivos. Ou eu vou morrer tentando.
5 horas
Ao meio-dia, eles levaram nossos cartões para carimbar (junto com os cartões das esposas). Decidi arriscar meu documento, porque pensei que era minha última chance de salvar Renuska. Sem sorte! Eles ameaçaram me mandar para a Gestapo.
Depois de muito pedido, eles finalmente retiraram essa ameaça. Mas essa falsificação me custou meu trabalho gerenciando quartéis militares. Às 8 horas, vou descobrir se vou ou não ficar.
Na noite
Oh, deuses! Que horror! Foi tudo por nada! O drama durou uma hora. Não recebi meu cartão. Acabei de me matar ?! Agora estou sozinho. O que vai acontecer comigo?
Eu queria salvar meus pais e Renia, mas, em vez disso, acabei me metendo em mais problemas. Parece que o fim do mundo está aqui. Eu ainda tenho esperança.
31 de julho de 1942
Três tiros! Três vidas perdidas! Aconteceu ontem à noite às 22:30. O destino decidiu tirar meus queridos de mim. Minha vida acabou. 
Tudo o que posso ouvir são tiros, tiros tiros ... Minha querida Renusia, o último capítulo do seu diário está completo.
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afsiqueira · 5 years ago
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Mil Palavras
Por A F Siqueira
Comecei, a algum tempo escrever um romance que intitulei A inteligência do Lagarto. O que eu pensei era escrever sobre como duas pessoas com hábitos e gostos diferentes poderiam atingir os seus sonhos que tinham algo em comum, ter sucesso naquilo que faziam. De como suas escolhas eram feitas de modo a atingirem seus ideais de trabalho e posição na sociedade em que estão encravados.
É interessante porque parece que não tenho conseguido avançar na minha escrita. O que me passa pela cabeça é que um bom escritor deve sentar e de uma vez só escrever. Quando digo de uma vez só, não estou querendo dizer que ele só vai levantar quando o trabalho estiver concluído. O que estou dizendo é que ele deve dia após dia sentar e escrever até que em poucos dias a obra está concluída. Estou dizendo isto porque durante um tempo escrevia uns contos. E alguns deles escrevi em dois ou três dias. E só gastava esse tempo porque tinha outros afazeres.
Lembro de um autor francês, na verdade uma autora com nome de homem, George Sand, que escreveu um romance, penso que o título é A pequena Fadette, em quatro dias. Quando li isso fiquei simplesmente maravilhado. Penso que ela já tinha o livro,  escrito em sua mente.
Às vezes quando alguém perguntava como eu escrevia, eu brincava dizendo que estava tudo escrito em minha cabeça. E era como um fio que saía da cabeça. Quando eu puxava um pouquinho, o escrito começava a sair. E eu ia puxando e escrevendo. Puxando e escrevendo. Penso que foi isso que aconteceu com este romance particular de George Sand. Ela foi puxando o fio do romance e escrevendo. As coisas de fato fluem. Já experimentei este estado de criação. É simplesmente fantástico. Não existem palavras que possam descrever o estado de êxtase que você experimenta. Você parece ser ao mesmo tempo o personagem, a ação, o enredo, o escritor, enfim tudo. Sua mente se amplia sem limites e você é ao mesmo tempo tudo e nada. Nada porque você sequer nota que está imerso em um mar de pessoas e coisas e sons e luzes. Você é tudo isso e ao mesmo tempo não sente nada à sua volta. Penso que isto é a essência da arte da criação humana. Nada pode descrever. Palavra alguma pode externar o sentimento de êxtase de que o autor é possuído. É isso o que está me faltando para escrever meu romance A inteligência do Lagarto. Quando ele estiver terminado em minha cabeça, basta puxa o fiozinho e vem todo o resto, como aconteceu em alguns contos que escrevi ou outro tipo de texto. Mas o que falta para eu ter escrito na minha cabeça o romance?
Eu tenho sempre e de forma sistemática, colocado a responsabilidade por todo atraso nos meus projetos à falta de tempo. É bem verdade que quando me envolvo com algo do meu trabalho procuro vive-lo tanto quanto possível. Não consigo fazer uma coisa ou outra. Porque penso que para você algo bem feito tem de estar envolvido de corpo e alma. E para mim existem atividades que são prioritárias e que não podem ser alinhavadas. O meu trabalho acadêmico, por exemplo. E dentro do trabalho acadêmico tem ainda o envolvimento com os alunos. O trato com o aluno é uma função precípua do professor ou professora, o que seja. Não tem lógica se referir ao trabalho do professor como simplesmente restrito à sala de aula. Um equívoco perigoso para a formação do jovem. Pode-se jogar com um simples gesto desse tipo, uma mente brilhante na cesta do lixo.
Então, voltando ao que me referia anteriormente, de fato o tempo que dispenso aos meus alunos e à preparação da sala de aula representa uma parcela significativa do meu tempo diário. E este tempo inclui um tempo para pensar nas atitudes. Um tempo para elaboração de atividades. De preparação de material para o trabalho na disciplina. E ai falta tempo para pensar outras atividades. E as atividades que são deixadas de lado são aquelas que estão distantes do seu olhar. Aquelas não vistas ou não ouvidas. E neste campo está este romance que quero escrever.
Vez em quando abro o armário onde o guardei dou uma olhada, como agora escrevendo estes fatos sobre romances e como escreve-los, e digo-lhe que não o esqueci. Mas não adianto nada mais. Talvez quando terminarem minhas atividades acadêmicas desse semestre eu o retire da estante onde está e abasteça com algumas ideias mais. Ou quem sabe eu decida termina-lo. Afinal serão mais de vinte dias que me sobrarão para escrever com certa liberdade. Sem dúvida é um tempo muito maior do que o que teve George Sand para escrever A Pequena Fadette. Mas se o romance estiver sendo escrito em minha mente não precisarei todos os vintes dias para terminar de escreve-lo.
Um dia ouvi em um documentário sobre o que definia o homem como um ser vivo com características especiais. Algumas pessoas pensam que é o fato de reconhecer-se a si próprio. Mas alguns animais como os chimpanzés dão forte indicação desse fato. Há os que dizem que a compaixão é inata ao homem. Mas assisti a um documentário também onde dois leopardos irmãos, em uma caçada, um deles é ferido gravemente. Eles fogem se separando um do outro. O que está sadio vai em busca do irmão ferido. Ao encontra-lo um dia depois vê que o estado do irmão é grave. De fato ele se deita à uma sombra para morrer.
Mas o irmão não quer abandona-lo. Fica. O animal ferido rosna como a avisa-lo que ficando ali corre perigo. Ele sai.  Caminha. Mas a cada passo se volta para o irmão ferido. Continua e se volta até perder-se entre as árvores. Não é isto compaixão? E se é, a compaixão não é um atributo exclusivo do homem.
Mas tem uma atividade humana que sem sombra de dúvida é única no reino animal. A criação e gosto pela arte nas suas mais variadas formas. Desconfia-se de que as pinturas rupestres feitas pelo homem tinham não apenas o intuito de registrar a presença de outros animais, mas principalmente o de ornamentar as paredes das cavernas. Alguns artefatos na forma de animais, feitos de ossos encontrados em cavernas habitadas pelo homem primitivo, parecem confirmar tal assertiva já que aparentemente não há outra razão para tal. Em certo sentido ele registrou nas paredes das cavernas o mundo exterior e as criaturas que nele habitavam. Além do registro de seu próprio corpo através das pinturas de mão.
Ampliou a sonoridade da natureza ou tentou copia-la para dentro do lugar onde habita criando a música. Embalou seus filhos nessa sonoridade. Alegrou seus momentos de tédio ou reforçou seus instantes de tristeza, e se reanimou no calor da luta pelos sons de mazurcas e cânticos que impeliam à vitória.
Aprendeu a escrever seus pensamentos. Posso conhecer o pensamento de alguém que viveu dois milênios antes que eu chegasse por aqui. Do mesmo modo gerações futuras lerão os pensamentos que deixaremos hoje. Ao ler os escritos de Platão ou de outro filósofo, posso me imaginar conversando com ele, mesmo que duzentos, ou quinhentos ou mil anos nos separe. Ele ou ela será minha convidada em minha sala de leitura. Do mesmo modo posso ler algo de alguém que está a vinte mil quilômetros de mim. Converso e vejo como pensa o autor. O arrepio que sinto ao ler uma ideia ou ao ouvir um trecho de uma ópera só será sentido por quem tem a capacidade de sentir a arte. O homem. Esta espécie animal que habita este mundo.
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sigajeff-blog · 5 years ago
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Cuidado: há zumbis na sua internet!
Ah! Você já pode ter virado um zumbi completamente descolado da realidade! Ah! Socorro! 
Leia ouvindo: John Murphy — In the House, In a Heartbeat
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Se você nasceu até 1994, você deve ainda se lembrar do frenesi que foi a popularização da internet nos anos 2000, lembra? Bom, se você nasceu depois disso ou não se lembra, eu te conto um pouquinho.
Basicamente, os professores entravam eufóricos na sala de aula contando dessa nova ferramenta que agora estava disponível para nós pobres mortais das periferias do mundo! Seus amigos e irmãos mais velhos apareciam com revistas e cartas com CD-ROMs com incríveis discadores UOL/AOL/IG para você se conectar ao fantástico mundo da internet. Aquela placa de rede trazida da Santa Efigênia (bairro paulistano com diversas lojas de tecnologia) com aquele barulhinho clássico (ouça aqui). Amigo, não sei se foi o êxtase que somente a juventude pode gerar ou se realmente foi um daqueles momentos nos quais você abre os olhos e não consegue mais fechar (igual a Sandy). Era um novo mundo! Esperávamos ansiosos até meia-noite ou domingo onde se cobrava apenas um pulso para acesso a internet e se soltava o famoso: “Ô, mãe, não mexe no telefone!” (caso alguém tirasse o telefone do gancho, a internet caia).
Agora eu podia baixar músicas (levava um dia inteiro para baixar uma única musica) e conhecer bandas que jamais eu teria acesso antes. Podia acessar cursos e aprender manipular os softwares mais complexos que tinha instalados no 486 do meu irmão. Logo depois começou chegar a internet “banda larga” com seus incríveis 256kb/s. Nessa época, eu criei meu primeiro site HTML no famigerado Microsoft FrontPage, lá pelos meus 11 ou 12 anos.
Meu deus! O que poderia dar errado?…ZUMBISSSS! AH!
Um dos meus escritores favoritos é Umberto Eco e o italiano não segurou a língua para praguejar contra a internet logo nos seus primórdios, ainda mais com o advento das redes sociais. Dá uma olhadinha como o saudoso escritor de O Nome da Rosa gostava da internet:
“As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho, e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”.
Ahhh, é a invasão dos Zumbis!! Aaahhh…Eco falou também:
“A internet não seleciona a informação. (…). O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”.
Outro que tinha opinião semelhante a Umbetinho (desculpa, crio intimidade com meus “ídolos”) é o ganhador do nobel e meu escritor predileto José Saramago falando sobre o Twitter:
“Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência ao monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”
AHAHAHA
Desculpa, sempre gargalho com esses parágrafos porque são tão geniais e tão proféticos que, embora tanto “Umbertinho” quanto “Maguinho” já tenham ido dessa para melhor, parece que foram escritos ontem.
Só que sabe o que eu pensei quando li essas frases há 5 ou 6 anos atrás? Achei que eles estavam com inveja e medo de perderem seus postos de intelectuais super cotados ... (pausa dramática) … Tudo bem, você tem o direito de ser idiota às vezes, mas tem o dever de buscar parar de sê-lo.
Óbvio que não era nada disso, Saramago já tinha seu Nobel na estante, assim como Eco, seus escritos estavam adaptados para sucessos do cinema e já eram ambos estudados em todas as universidades do mundo, estavam no fim da vida preocupados somente em ser o que são e ponto, aquele desprendimento que somente a velhice trás.
O que ocorria na realidade era que eles viveram uma vida inteira no analógico, buscando informação de maneira cirurgia pois cada informação obtida era um processo penoso de pesquisa e estudo. Para cada referência e assunto que eles procuraram se aprofundar, tiveram que no mínimo frequentar ambientes acadêmicos de qualidade, conversar com outros especialistas, ler autores consagrados e ir galgando um caminho onde não podiam errar, tinham que curar muito bem a informação para não gastar seu tempo com inutilidade, afinal isso podia significar anos de estudo jogados no lixo.
E uma coisa que eles entendiam muito era comunicação.
Claro que eu pessoalmente adoro o mundo da internet (tirando o Twitter, pessoalmente não gosto. Eu geralmente não sou fã das seções de comentários de qualquer rede e o Twitter é basicamente uma seção de comentários gigantesca onde todo mundo parece se digladiar por atenção. Nessa eu fico com o Saramago. Eu realmente sugiro que parem de usar), e eu só sou quem sou graças a internet. É onde mais aprendo e onde mais passo meu tempo consumindo conteúdo. Não estou aqui propondo uma guerra contra a web, seria até irônico, estou dando um toque para repensarmos um pouquinho nossa relação com ela.
Vou destacar esse trecho das frases de Umberto:
“Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”.
E você? Tem selecionado bem suas referências? Você sabe o caminho que quer seguir? Onde quer chegar?
A internet é este vasto mar de informação só que ainda mais poluído que nossos mares da vida real, onde é 1 milhão de vezes mais fácil pescar um papel higiênico usado do que um peixinho mequetrefe.
É muito difícil chegar em algum lugar sem que tenhamos, ao menos, ajustado nosso norte.
O que proponho é que trace um caminho intelectual para sua vida, escolha os assuntos e habilidades que deseja dominar e vá atrás dessa informação em locais curados (incluindo a internet) lecionados por gente que é respeitada intelectualmente em diversos espectros.
Se você absorve e segue informação de pessoas e veículos respeitados (ou nem isso) somente em uma bolha muito restrita, é bem provável que você esteja sendo enganado. Se não está sendo enganado, você está sendo enviesado. Quando você abrir os olhos, pode ser que você já tenha perdido anos de sua vida sendo um zumbi! (aaaah!)
Hoje temos uma geração já maior de idade formada sob a influencia da internet que já não sabe direito onde termina seus próprios pensamentos e começam os pensamentos implantados pelas mídias sociais.
É importante que todos deem um passo para trás, reaprendamos a aprender e a nos organizar para que então, aos poucos, comecemos a nos livrar do enviesamento de nossos Youtubers ou Twitteiros favoritos para que, ai sim, comecemos a adquirir conhecimento concreto.
Construa uma relação saudável com a internet, se você sabe porque a está usando, consegue começar a ignorar todo o chorume nela contido e focar nos resultados.
Conhecimento é um projeto de longo prazo e não uma pílula instantânea que se consome em um post do Facebook.
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bolsonaristaarrependido · 5 years ago
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A verdade que aprisiona
Eu a mais ou menos 8 anos comecei a acompanhar o trabalho do nosso atual presidente, me lembro que fiquei encantado pela sua coragem de falar aquilo que pensava, que “bandido bom é bandido morto”, mas ao mesmo tempo triste porque ele não conseguiu vir candidato na eleição onde a Dilma foi eleita, mesmo tendo uma boa porcentagem nas intenções de voto, o PP, seu atual partido na época, não quis lhe dar a legenda. Para mim era claro que existia um complô da esquerda que não queria aquele homem na presidência, um verdadeiro patriota, não aquele lixo “esquerdopata”.
Nos anos seguintes eu não desisti, fiz campanha de graça, falei com meus amigos, briguei com vários outros por causa dele, vi vários vídeos do professor Olavo de Carvalho onde ele mostrava tão claramente as artimanhas da esquerda. Tudo fazia tanto sentido, comecei a pensar como tinha gente que não conseguia enxergar a verdade, como poderiam ser tão cegos e incapazes de enxergar o óbvio.
Pouco depois veio a lava jato, os vários casos de corrupção dentro do PT e de outros partidos do Centrão, aquilo era a prova legitima que eu tinha razão, que a esquerda era podre e tentava atacar os valores do nosso país, nossos valores religiosos, morais, nossas crianças com o kit gay, esse que eu insistia em dizer a todos os que eu conhecia que era o que meu candidato combatia, afinal ele tem vídeo elogiando o Clodovil, não dava para falar que ele era homofóbico, era mais uma invenção da esquerda comunista que queria transformar o Brasil em uma Venezuela através do Foro de São Paulo, afinal chamavam ele de homofóbico porque não podiam chamá-lo de corrupto. O professor Olavo me mostrou várias evidências da existências sobre o Foro de São Paulo muito antes dele vir a público, isso deixava claro que o Olavo era alguém que sabia da verdade e por isso era perseguido, por mais que ele não tivesse um título acadêmico, isso no final era uma grande besteira, afinal de contas nossa educação estava toda contaminada pela ideologia marxista através do lixo chamado Paulo Freire, o grande responsável pela nossa educação ser ruim do jeito que é, afinal, ao invés de aprendermos coisas importantes como português e matemática, nos aprendíamos apenas lixo ideológico de esquerda, éramos doutrinados o tempo todo, tudo era parte do projeto nefasto de poder da esquerda embasado nas ideias do gramscismo. Estava claro que ele fez uma releitura do marxismo, ensinando que para a revolução era mais importante pegar na caneta do que no fuzil, a ideia era ruir a democracia através dos instrumentos da própria democracia. Tudo era tão claro, agora eu possuía a verdade, por mais que eu não havia lido eles estavam me dizendo.
Chegaram as eleições nesse momento tentaram matar nosso presidente que já tinha uma vitória eminente anunciada, aquele bandido chamado Adélio Bispo já havia sido filiado ao PSOL, maldita esquerda nojenta, já haviam apagado o Celso Daniel agora com certeza iriam tentar apagar o mito, bem que mais uma vez o nosso profeta Olavo já havia nos alertado da possibilidade disso acontecer, isso me deu mais certeza na hora de apertar 17 na urna eletrônica, essa que a esquerda também tentou manipular, várias urnas estavam votando 13 sozinhas, eu vi vários vídeos na internet sobre isso gravado por pessoas espertas que conseguiram entrar com o celular na cabine de votação. Mais uma vez nós já havíamos sido alertados previamente que isso aconteceria, porque esse é o modus operandi da esquerda nojenta.
Veio o segundo turno e nosso capitão ganhou a eleição, nosso Messias, o homem que resgatou em nós o orgulho de ser brasileiro, que mostrou que o lixo comunista seria derrotado, que nossa bandeira jamais seria vermelha mas continuaria sendo verde amarela, as nossas cores! Agora eu tinha tempo de ler os livros que eu havia separado, a campanha já havia acabado, nós vencemos, agora poderia usar meu tempo até então dedicado boa parte para ajudar o capitão, para outras coisas.
Nesse momento eu li Adam Smith, Mises, Hayek, Rothard, Maquiavel, Gramsci, Marx, Paulo Freire, George Orwell (eu precisava conhecer o inimigo, e na verdade eles não eram aquilo que o professor Olavo falava, na verdade muita coisa dita por eles fazia sentido), entre diversos outros.
Começou o mandato, logo de cara veio o caso Queiroz, mas isso era bobeira, se alguém tivesse envolvido era o Flávio, não podemos responsabilizar o pai pelos erros do filho, não é? Pouco depois veio o caso de candidatos laranjas no PSL, mais uma vez não tinha como ser culpa do mito, foi o presidente corrupto do partido o responsável, e a mídia podre que não queria deixar o meu presidente governar. Ele mais uma vez, junto com o Olavo, já havia nos alertado sobre isso, que viriam todos esses ataques a figura dele, afinal ele havia comprado briga com a rede esgoto de televisão (globo), e é óbvio que eles iriam começar com os ataques para não perderem a mamata.
Pouco depois vieram os vazamentos da lava jato, aqueles malditos esquerdistas que hackearam os nossos heróis e colocaram aquelas mensagens no ar, tudo bem que existiu um ativismo judicial, mas era justificável, afinal de contas estávamos em guerra, não tinha outra forma de enfrentarmos a máfia que havia assolado o país em seu projeto maligno de poder, nivelar as pessoas por baixo, deixar todos pobres dependente do governo recebendo uma esmola como o bolsa família, transformando vários em vagabundos para ter uma base de voto de cabresto, acabando com a meritocracia, tudo que bem que as condições da população são muito diferentes, que até hoje existem pessoas da família real que são bancadas pelo governo, tudo bem que o filho de um juiz tem educação de qualidade paga pela sociedade através de um auxílio maior que o salário de mais da metade dos brasileiros, mas o cara estudou, ele merece, mesmo que ele tenha vindo de uma família rica que fez fortuna grilando terra de propriedades vizinhas, ainda assim ele não tem culpa, ele fez a parte dele, temos que honrar a meritocracia, mesmo com os nossos filhos precisando estudar em escola pública assim como eu fui obrigado, claro que se não fosse o lixo do Paulo Freire ela teria qualidade, vide as escolas militares, tudo bem que o custo de um aluno lá é 3 vezes o custo de um aluno da escola regular, mas isso não tem importância, o problema é o lixo do Paulo Freire.
Depois disso veio a reforma da previdência, um remédio amargo, mas que deveríamos tomar, deveríamos fazer isso pelo nosso capitão, todo mundo iria sentir, porém por algum motivo, isso não afetou todo mundo como disseram que iria afetar inicialmente, os políticos ficaram de fora, o judiciário, os militares e vários outros que recebiam supersalários, mas claro isso foi manobra dos ratos do congresso, só podia ser. O ministro Guedes ter feito reunião com os presidentes de diversos bancos para falar sobre previdência privada também foi apenas coincidência.
Depois vieram os cortes em educação e pesquisa, mas tinha que cortar, afinal as universidades públicas são redutos de esquerdistas e maconheiros, um verdadeiro antro de balbúrdia onde o que impera é dedo no cu e gritaria. Claro que o fato da irmã do ministro Guedes, a senhora Elisabeth Guedes ser presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), não tem nenhuma relação com isso, essa ideia que onde o público falha o privado lucra é coisa de esquerdista conspiracionista.
Os cortes sucessivos no SUS também são algo inevitável para conseguirmos contingenciarmos os gastos, estamos quebrados em função da corja que assaltou o país por 16 anos, não podemos querer por tudo que está acontecendo na culpa do mito, acreditar que querem sucatear o SUS para vender plano de saúde é baboseira, além do mais nos EUA eles não tem saúde pública e o sistema deles funciona super bem, tudo bem que o pessoal de lá vem fazer tratamento dentário no Brasil por ser mais barato custear as passagens do que fazer os procedimentos, mas isso também é bobeira. Muitos deles irem para o Canadá que possuí um sistema de saúde pública também não diz nada, devem ser os vagabundos acostumados com vida fácil que existem lá e não gostam de trabalhar e se esforçar o suficiente.
Agora veio essa pandemia, nosso Mito nos disse que isso se trata de coisa de uma “gripezinha”, eu li em vários locais que isso é uma conspiração da China para comprar o mundo, mesmo que eles tenham sido o país que mais teve perda na bolsa de valores após o vírus. Na Itália estão morrendo 700 pessoas por dia, mas eles são um povo velho, o clima é diferente, mesmo não existindo evidências que o vírus não se propague em país tropical. Querem nos manter em casa para quebrarmos o país e assim darmos um golpe no nosso mito, já tinham nos dito que isso aconteceria, mesmo o mundo inteiro falando que o vírus surgiu de forma espontânea, que ele é muito mais letal que a H1N1, que ele está colapsando os sistemas de saúde pelo mundo, que o Reino Unido do conservador Boris Johnson havia adotado isolamento parcial, mas agora decidiu pelo completo porque entendeu que não estava sendo suficiente para conter a pandemia, apesar de tudo isso, é apenas um golpe, quando a crise chegar será pior, nosso mito só quer nos proteger da fome, embora ele e o Guedes já assumiram que o Brasil por ano só com juros da dívida gasta o equivalente a um plano Marshall, ou seja, só com juros da dívida se reconstrói uma Europa devastada pela guerra por ano, mas o governo não tem como ajudar seus cidadãos a ficarem em casa e evitarem a morte de seus entes queridos.
Os empresários coitados, poderão pagar apenas a metade dos salários, afinal eles não têm como arcar com as perdas, ao contrário do mundo inteiro que os trabalhadores vêm sendo resguardados, o nosso mito sabe a nossa força, sabe que nos sacrificaríamos por ele ao menor sinal, e se ele está chamando nos responderemos o seu chamado. Mas ainda assim ele vai injetar nos empresários 55 bilhões de reais, dando 50 aos grandes e apenas 5 aos micros e médios. O mundo inteiro mandando os seus cidadãos ficarem em casa de quarentena, mas o nosso mito nos manda ir salvar a economia, porque nós temos coragem de nos sacrificarmos pelo nosso capitão, nosso líder, nosso Messias.
Eu teria me sacrificado por ele e ido trabalhar sem pestanejar se não tivesse tido tempo para ler os autores que citei anteriormente, eu fui um bolsonarista dos mais ferrenhos, hoje eu me envergonho disso, me envergonho de ter sido enganado tanto tempo por alguém que nunca esteve nem aí para o povo, sempre pensou em benefício próprio, que só pensa nos ricos e poderosos e manda o seu povo para o abate em nome do lucro de uma minoria, alguém que claramente vai contra todas as recomendações do mundo inteiro e incentiva o povo em rede nacional a pôr em risco seus pais e avós ou qualquer outro ente querido que possua uma doença crônica só para que os empresários que continuaram isolados continuem a lucrar,  simplesmente substituindo aquele que vier a óbito na outra semana. Alguém que não valoriza a vida de seu povo, a vida daqueles que se sacrificaram para que ele chegasse onde chegou não merece ser chamado de líder desse povo.
Você que também defendeu o nosso atual presidente provavelmente se identificou em vários pontos que eu citei, então te deixo algumas reflexões: Você leu algum dos autores citados pelo presidente e por seus apoiadores ou apenas está reproduzindo algo que te disseram? Já pensou que enquanto o atual presidente corta do trabalhador, o dólar dispara, o combustível bate preço recorde, e ainda por cima manda o trabalhador para o trabalho no meio de uma pandemia que assola o mundo inteiro, o que sobra para você contar é o SUS composto em grande parte pelos mesmos maconheiros formados nas universidades federais?
 Aconteceram várias outras coisas que sempre foram culpa dos outros seja da câmara, do senado ou do congresso, que não irei falar aqui para não me estender mais do que já me estendi. Talvez seja a hora de repensar em que lado da luta você se encontra, afinal, o lobo mau sempre será culpado se você ouvir apenas o lado do chapeuzinho vermelho.
Nós queríamos uma revolução, nos livrarmos dos parasitas que nos sugavam, o problema foi que no lugar elegemos porcos que possuem muito mais apetite.
  Assinado: M. S. A. (Um bolsonarista arrependido e envergonhado)
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kilpp · 4 years ago
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arte vs mídia
anotações de leitura quanto aos textos “arte e mídia: aproximações e distinções” de arlindo machado e de “declarações sobre a intermídia” de dick higgins
apesar de estar estudando artes a muito tempo, parece que sempre me falta algo que divida o que é a arte e o que é a mídia. penso que a distinção de arte e mídia é importante para conseguir definir minha própria “carreira” como artista, mas as vezes me pergunto se a divisão é tão importante quanto alguns adultos fazem ser. racionalmente, sei que existe uma linha muito definida na mente de algumas pessoas do que é considerado arte e o que não é. ainda sim, sinto que toda vez que eu preciso explicar aonde eu vejo a divisão dessa linha, noto que a trajetória é um circulo que volta para o mesmo ponto.
talvez as pessoas não entendam a dificuldade que é para uma pessoa nascida cravado nos anos 2000 de dissociar as mídias de qualquer outra expressão. meu pai, como técnico de ti, sempre esteve em contato com as últimas tecnologias. mesmo que nós fôssemos uma família de classe média/média baixa durante a minha infância, sempre houve interesse em comprar os equipamentos que nós conseguíssemos e de estar em contato com essas tecnologias. logo cedo, herdei o playstation 1 de meu primo quando minha tia se mudou para a itália, e meu irmão mais novo mesmo foi criado com um controle na mão. aos meus 11 anos, minha maior obsessão além dos livros era os animes, e o que me motivava a desenhar (e que me fez querer uma carreira dentro das artes) foram obras como fullmetal alchemist e soul eater. por apreço emocional, não consigo chamar elas apenas de “mídias”. o anime sempre apareceu como uma possibilidade de arte, mesmo sendo um processo com uma indústria altamente restritiva e capitalista.
arlindo machado questiona logo no início de seu texto "dizer artemídia significa sugerir que os produtos da mídia podem ser encarados como as formas de arte de nosso tempo ou, ao contrário, que a arte de nosso tempo busca de alguma forma interferir no circuito massivo das mídias?”. creio que a pergunta seja mais para a audiência que, como ele, viveu em um mundo em que a internet não era sequer uma fantasia de possibilidade. para mim, parece muito mais importante se perguntar qual o propósito em sequer separar as duas coisas. o autor parece, constantemente, preocupado com a manutenção de uma ideia de arte. apesar de aberto a possibilidade da ampliação do termo, ainda existe a questão: é ou não é arte?
parece preguiçoso, também, adaptar a frase de que “a beleza está nos olhos de quem vê” para “a arte está nos olhos de quem vê”, pois nega a característica massificada de diversas produções que estão disponíveis quase como um lixo tóxico contaminante. certos trabalhos, mesmo com todos os malabarismos mentais que uma pessoa possa fazer, não conseguem se enquadrar dentro da arte, mesmo se foram concebidos de maneira criativa. nesse aspecto, o texto pontua de maneira muito sensata que é parte da subversão e da autoconsciência do meio no trabalho que vai fazer com que ele se separe das obras de consumo fácil, mecânico e submisso da lógica capitalista.
me parece, as vezes, que há uma insistência muito grande em subverter a tecnologia de maneira de confrontação, como se não fosse possível usar as regras de maneira crítica. um pintor pode se adequar aos naturalismos acadêmicos tradicionais mas, pela temática abordada, ainda ser considerado subversivo. por que a arte midiática precisa lutar contra a implementação da própria tecnologia para ser considerada crítica? enfatizo o ponto que arlindo faz com a frase “o fato de determinadas formas artísticas serem criadas no interior de regimes de produção restritivos, estandardizados e automatizados, com o suporte de instrumentos, know how e linguagem desenvolvidos pela ou para a indústria do entretenimento de massa, âs vezes até mesmo encomendadas e/ou financiadas pelas mesmas instâncias econômicas que sustentam ou promovem essas formas industrializadas de produção, não as torna necessariamente homologatórias dessas estruturas. pelo contrário, elas podem estar sendo produzidas sob forte conflito intelectual e com inabalável capacidade de resistÊncia contra as imposições do contexto industrial.”
para mim, um exemplo interessante e extremamente contemporâneo da apropriação do mainstream em forma de arte é o hyperpop. gênero completamente queer, liderado por artistas trans, amplifica o gênero do pop e utiliza de todas as regras mais batidas e clássicas do mainstream maneira tão fulminante que cria músicas totalmente fora de frequência com o que os músicos consideram “arte”. a atitude quase que punk do hyperpop em desagradar todas as gerações anteriores, mas usando as regras do jogo capitalista para isso. “a artemídia deve, pelo contrário, traçar uma diferença nítida entre o que é, de um lado, a produção industrial de estímulos agradáveis para as mídias de massa e, de outro, a busca de uma ética e uma estética para a era eletrônica”.
outro exemplo de subversão das regras dentro de mídias mainstream é o caso do drama “word of honor”. adaptado de uma história cujo os protagonistas vivem um romance homossexual, o processo de censura do governo chinês causou com que todo o roteiro fosse adaptado para se conformar com os novos padrões que xi jinping tem instaurado desde 2012, especialmente culminando na censura de histórias lgbt em 2016. para contornar a censura, o áudio do drama é 100% dublado. apesar de na versão que vai ao ar as falas serem todas apropriadas (ou ousadas só o suficiente para passar na censura), as frases que os atores falaram em cena eram muito mais explícitas e com subtextos homossexuais. assim, os espectadores que prestaram atenção puderam, a partir de leitura labial, acessar outra camada desse conteúdo (1 - 2). além disso, o personagem wen kexing tem diversas falas que vêm como referências a poesias românticas ao longo da história, onde as pessoas mais familiarizadas com literatura poderiam captar o contexto romântico das falas. essas maneiras criativas de contornar a censura podem ser consideradas arte? ainda sim, é uma produção feita para entretenimento “vulgar”, sem pretensões de ser lida como uma obra de arte, feita por uma grande empresa. se existe altos níveis de subversão sem ser arte, então o que de fato separa a arte da mídia?
tenho ressalvas quando o autor afirma “ao ser excluída dos seus guetos tradicionais, que a legitimavam e a instituíam como tal, a arte passa a enfrentar agora o desafio da sua dissolução e da sua reinvenção como evento de massa”. não consigo dizer até que ponto a arte estar sendo amplificada seja um problema - parece que ainda existe uma pequena relutância em se associar a massa, como se isso tornasse esses trabalhos algo “menor”, como se gostar da mesma coisa que o público geral gosta fosse um sinal de inferioridade intelectual. talvez eu esteja interpretando suas razões de maneira desonesta, mas creio que qualquer mídia de massa pode ser consumida de maneira crítica se o espectador estiver disponível intelectualmente a isso, e qualquer obra de arte pode ser negligenciada se o mesmo não estiver disposto a ver além do que está na sua frente. o protecionismo em manter uma linha absoluta entre os dois é uma atitude que minha geração não parece fazer questão de manter que nem as anteriores.
tenho certeza que a maioria dos adultos que acha que as mídias são consumidas pela juventude de maneira acrítica nunca adentrou um espaço de fandom. qualquer pessoa que cresceu com contato com esses espaços foi exposta a todo tipo de debate (comumente chamado, as vezes de maneira pejorativa, de discourse na internet) e sabe como o público jovem cada vez mais engaja de maneira crítica com as mídias que consome. os padrões para as narrativas que são construídas são cada vez mais altos, com questões morais cada vez mais complexas. as gerações mais antigas temem a “cancel culture” (com alguma razão), mas não veem que ela é origem de um grupo de jovens que, geralmente de maneira bem intencionada mas infantil, está tentando criar pautas políticas em cima de mídias que não foram criadas para serem políticas. e é essa extrema politização de todos os aspectos da vida que mostra que, talvez um dia, não seja necessário se preocupar tanto com as divisões de arte e cultura de massa. o publico geral, não especializado, ainda é visto como animais selvagens pelos intelectuais da arte que se colocam acima dos outros. o vácuo geracional que existe entre todas as gerações e a gen z é fruto do fato que mais ninguém entende o que é ter crescido imerso na tecnologia e nas mídias de massa exacerbadas.
citando higgins, nossos inimigos não são as mídias e a cultura de massa per se, mas os que comandam esses espaços e ditam as regras. “temos que encontrar os modos de dizer o que tem de ser dito à luz de nossos novos meios de nos comunicarmos. para isso vamos precisar de novas plataformas, organizações, critérios, fontes de informação.”
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solidando · 4 years ago
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Dis-ease
Eu não me lembro da última vez que escrevi sobre mim. São tantas ideias e tantos sentimentos experienciados nos últimos tempos, eu apenas não tenho tido tempo para falar sobre mim. O que não impede, porém, de ainda haver a grande necessidade de estar aqui. Este é mais um desses momentos.
Tenho me sentindo cansada. Não é apenas um trabalho de exaustivas 8 horas pedalando uma bicicleta com uma enorme caixa de som. Há cansaços que ultrapassam a expressão físico-corporal. O meu eu está cansado e em estado de desgaste de diferentes formas e por múltiplas razões.
Estou quase chegando a incrível marca de 5 anos morando exatamente no mesmo lugar. Para quem passou a vida trocando de casas, ruas e bairros, habitar o mesmo endereço é digno de nota, além de apresentar novas problemáticas. A minha situação de moradia não é fácil de ser explicada (e talvez por isto eu tenha perdido aquela bendida bolsa), eu tenho um teto que é bancado pela boa vontade de um outro. Eu não pago o aluguel, pelo menos não como é usualmente feito. É algo como uma troca de serviços, misturada com grande dose de exercício de caridade. E assim tenho vivido. Para ser mais direta e excluir os rodeios, eu não tenho condições para pagar um aluguel integralmente, logo troco moradia por serviços. E é bem por aqui que o tema do cansaço se apresenta: eu não tenho prestado os serviços como deveria, eu os atraso ou simplesmente não os faço. Isto me choca quando percebo, nos meus anos iniciais eu sempre fazia tudo da forma mais completa possível e estava sempre me atarefando em cuidar de tudo por aqui. Agora não, o cansaço está comigo.
E há também uma razão para isto: eu não me sinto confortável vivendo aqui. Primeiro por não ser algo digno, o ato de pagar com seu dinheiro por um serviço faz toda a diferença na forma como você aprecia as coisas. Todos os dias é como se eu estivesse crescendo como uma parasita nas costas de alguém e parece ser uma dívida que sempre terei e que jamais conseguirei quitar. Eu não me sinto digna da minha moradia. Mas não se resume ao desconforto do não pagar, eu não gosto nada das pessoas que vivem aqui. Eu me sinto apagada convivendo com cada pessoa que está aqui e com algumas pessoas em específico, o sentimento de apagamento consegue ser assustador. Ter de conviver todo dia, ter de cumprimentar, ter de ouvir as mesmas conversas, ser exposta à certas situações e ter de ver essas caras todos os dias é completamente desconfortável. Eu poderia me estender mais sobre o desconforto de conviver com as pessoas daqui, mas isto me levaria às razões e daí é um texto que não me sinto psicologicamente preparada para escrever. Eu só não gosto mais de viver aqui e isto já faz uns 3 anos. Todo dia o meu pecado me encara com uma faca, em um lembrete de que enquanto o meu corpo estiver habitando esse lugar, a minha alma jamais será livre.
Eu estou cansada da faculdade. Aqui há razões óbvias, eu estou no meu quarto ano de graduação, a chegada do cansaço é um resultado natural. A energia universitária só dura os dois primeiros anos e isto nem se aplica à todos, há quem chegue cansado ao fim do primeiro semestre. A questão das políticas de contenção do vírus afetaram a educação em um nivel que só poderá ser avaliado daqui alguns anos, o ensino remoto tem apresentado seus demônios. A modalidade de ensino remoto aos poucos vai matando meus sentimentos pelo ato de estudar, a energia que me movia aos poucos se esvai e eu a tenho percebido me abandonar. O fato de estar longe do espaço acadêmico, de me preparar para ir até a faculdade e de estar cercada por mentes pensantes (pulsantes) me empobreceu em amplos sentidos. Eu não tenho tido o estímulo tão necessário para a motivação de estudar, tão necessário para o estudante baixa renda e sem grandes exemplos na família. Estar na universidade é o maior passo que dei e o mais importante, dói estar longe da minha única e verdadeira casa e minha alma almeja todos os dias conhecer o dia em que finalmente poderei retornar. Sinto tanta falta das aulas em que parecia que o mundo parava, em que o conhecimento entrava pelos meus órgãos dos sentidos e causava um alvoroço em todo o meu ser, me transformando em outra pessoa. Estar longe da minha universidade está aniquilando meu objetivo em ser pesquisadora também. Eu não mais pretendo ser neurocientista, algo que eu dizia em plenos pulmões e com toda a energia possível.
Todos os dias eu vejo minha vontade de estudar se ausentando. Eu não tenho interesse nem ao menos em ler materiais sobre meu tema de monografia. Poderia redigir outro texto só tratando do impacto emocional provocado pela chegada não tão esperada desse momento, em que tive que decidir às pressas o ponto de partida, mas eu não tenho interesse nisto. Eu escolhi uma graduação que exige estudos constantes e ampliados e nem mesmo consigo ler um pequeno artigo sobre fobia social ou redigir um texto sobre depressão. Eu tenho perdido muito conhecimento que parecia ter sido solidificado na memória de longo prazo, todo dia é uma regressão e só eu sei o quanto isto me custará na prática. A prática está chegando, mas não da forma como deveria e talvez nem chegue por completo e este é o motivo da redução da minha energia para o futuro nas últimas semanas. É duro, doloroso e angustiante ter que informar para mim mesma que talvez eu só me forme quando estiver perto dos 30. Talvez os meus sonhos só comecem a se realizar quando a primeira ruga se apresentar em meus rosto e aí talvez eu nem tenha mais os mesmos sonhos ou talvez nem tenha tantos sonhos assim, por que já terei desistido o bastante.
Eu estou cansada de estudar e de não ver os resultados. É exaustivo tentar provar para mim mesma que sou alguém consideravelmente inteligente, sendo que não consigo ao menos explicar o que é a psicologia sem gaguejar ou fazer um rodeio, em que a única coisa clara é que provavelmente eu não li nada. E este é o problema, a minha expressão é tão dura de sair que parece que eu nunca toquei em um único livro. Na minha cabeça tudo faz sentido e eu entendo muito bem das coisas, mas na hora de jogar para o mundo e de trocar com os outros o que sai é sempre algo muito ruim e vergonhoso. Eu não me sinto preparada para absolutamente nada que cobre algum conhecimento proveniente da graduação, nem mesmo fazer um simples comentário em alguma aula sobre algo que tem relação com o que já li em algum momento, não consigo me ver numa seleção de estágio sem estar passando por um conflito gigante sobre o valor da minha bagagem teórica. Daí me resulta um histórico acadêmico completamente medíocre: estou caminhando para o sétimo período da graduação e sequer fui monitora, apresentei algo na semana acadêmica ou escrevi um trabalho digno de apresentação em congresso. Eu também não sei falar sobre as coisas que me ensinaram, que estudei sozinha, que vi ou que experienciei. Eu passei 2 meses estudando o básico de autismo (o que deve ter me rendido um total de 15 artigos lidos e uns 3 pequenos livros), mas na hora de comentar sobre o autismo do meu irmão em um meet com colegas de curso, a única coisa que saiu foi "ele era grau avançado e praticamente não falava". Surpreendentemente, a mesma pessoa pretendia entregar um pré-projeto de monografia, em que discutiria o papel do psicólogo escolar no auxílio aos professores para a consolidação da educação inclusiva de crianças com TEA. Falhei, a disciplina foi trancada e agora estou tentando cumprir com o que prometi: estudar novamente nas férias e escrever sobre, para pegar a disciplina novamente e entregar logo a porra do projeto. Mas o cansaço, meus amigos. Todo dia é uma luta incansável para conseguir ler ou assistir alguma coisa sobre o tema.
Eu estou cansada de estudar e ver que vai demorar muito para conseguir ver o retorno financeiro dessas longas horas. Eu estudo direto desde 2016 e até o presente momento, consegui um total de zero reais com isto tudo. Eu nunca ganhei um único centavo estudando e é algo muito cansativo para mim. As vezes eu acabo caindo na conversa amargurada das pessoas que dizem que estudar não dá dinheiro e quem estuda ganha menos de quem empreende. É claro que dói e me sinto ao ponto de partir ao meio. Os estudos são a única certeza que tenho em uma vida inteira de inseguranças, eu me agarrei aos textos como quem se agarra ao único fio de sobrevivência e eu criei um laço de dependência total. Estudar é a única coisa que me define como uma pessoa que vale a pena, antes de começar a me preparar para o ENEM e de descobrirem que eu pretendia fazer faculdade, os olhares para mim eram outros. Eu tomei uma outra definição, estudar é importante e quem estuda muda de vida. Mas aos poucos as coisas foram tomando outros contornos, os dizeres da incerteza do futuro após a graduação estão mais presentes do que nunca e eles estão chegando até minha moradia. Há alguns meses atrás, uma moça de 17 maquiados anos jogou um balde de água congelada em meu rosto e praticamente jogou minhas convicções no lixo. Foi uma noite terrível, Kim Seokjin sabe mais do que ninguém. Eu chorei desesperadamente por longas horas e apenas "awake" estava comigo. Eu só conseguia me imaginar chegando na universidade e caindo aos prantos, tanto de saudade, quanto de tristeza, por que naquele momento o que ela tinha me prometido estava sendo anulado. Eu levantei no dia seguinte com os olhos inchados e eu jamais esquecerei desta noite. As pessoas costumam possuir grande facilidade em destruir as pequenas fontes de esperança dos outros, a hora da queda é que ninguém vê.
Foi uma experiência tão terrível que a depressão começou a rodear meu ser todos os dias, se a única certeza da minha vida era apenas ilusão, do que vale viver? Em outras palavras, se eu não conseguir comer e pagar meu lar com o dinheiro que conquistar por conta do meu diploma, de que vale sofrer todos os dias e direcionar todas as minhas energias para os estudos? Eu sou a única pessoa da família a entrar na universidade e eu tenho tomado isto como a coisa mais bonita que eu pude fazer. Se isto não fizer diferença, então qual a razão? Eu tenho sonhos maiores do que minha vontade de viver a a maioria deles dependem do que acontecerá comigo após a faculdade. Eu quero correr pelo mundo, falar 6 idiomas, trazer perspectivas outras para crianças com TEA e suas famílias, eu quero dançar em algum palco e surpreender pessoas com o meu conhecimento. Eu quero trazer existência digna e escuta aos outros, eu quero chegar em algum lugar. Eu preciso de um lugar e eu tenho me preparado para ele. Aqui não é meu lugar e só continuo aqui por conta das condições que não me permitem ultrapassar as linhas, mas eu não nasci para este lugar. Eu não pretendo acreditar que um lugar em que a solidão me asfixia é o lugar reservado para mim. Eu não pretendo passar tantos anos escrevendo neste idioma e nem gosto da ideia de continuar o ouvindo por anos a fio. Eu quero estar longe daqui e dessas péssimas constantes memórias de um desenvolvimento injusto, violento e desigual. Eu quero chegar em um lugar em que a solidão e o desamor não se façam presentes e eu gostaria de estar com eles.
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diariodocarioca · 4 years ago
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Mulambö e as imagens feitas para brilhar
A exposição Mulambo todo de ouro começa com Costão, foto que mostra o pai de Mulambö segurando o irmão caçula do artista no colo. Sobre as costas de ambos, uma coluna vertebral contínua pintada em dourado. A pintura, aplicada como um carimbo ou decalque sobre a foto, une os dois troncos em um só, transformando-os em uma estrutura ancestral, um corpo-continente cujas curvas lembram a encosta do litoral brasileiro. Em cartaz na galeria Portas Vilaseca, localizada em uma casa de vila em Botafogo, a mostra conclui seu percurso no terceiro piso, com uma obra que se comunica diretamente com a primeira: em Massa, pintura dourada sobre couro, vemos a multidão retirada de uma foto da extinta Geral do Maracanã. O trabalho atiça a memória (quantos rostos vimos gritar, sorrir e chorar ali, no lugar dos ingressos mais baratos e da emoção arrebatada?). E também alude à técnica de garimpo que mergulhava a pele de boi no curso dos rios, para que o pó de ouro grudasse na superfície, facilitando a coleta de qualquer vestígio de um possível tesouro.
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“Costão”, obra que une os dorsos do pai e do irmão caçula do artista: coluna ancestral e relevo litorâneoRafael Salim/Divulgação
Entre a verticalização e a unidade de Costão e a multidão horizontalizada de Massa, os pontos em comum que poderiam fazer uma síntese desta poderosa reunião de trabalhos de Mulambö, assim como das inquietações que tem transformado o artista, de apenas 26 anos, em um dos mais instigantes criadores de sua geração. Sua obra é um garimpo de imagens fragamentas – e frequentemente descartadas, deprezadas. Elas são ressignificadas como pedras preciosas e colunas de sustentação de nossa ancestralidade múltipla, bem como de suas reverberações na cultura popular.
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“Massa”: multidão importada de uma foto da Geral do Maracanã pintada sobre couro de boiRafael Salim/Divulgação
O título da individual na Vilaseca abre mão da trema na letra “o”, que consta da assinatura artística de Mulambö, estendendo o banho de ouro a todos os outros mulambos, e apontando para uma operação constante em sua obra. Ele pode interferir sobre fotografias pré-existentes ou reproduzir retratos de reis e rainhas  – os vindos da África, os dos povos originários da América Latina, os de nosso futebol ou carnaval. Neste último caso, usa materiais de refugo, como o papelão, e tintas baratas, que podem ser compradas em lojas de construção – o que diminui o escopo de sua paleta aos tons básicos, especialmente vermelho, preto, amarelo, branco.  Ao selecionar seus retratados, Mulambö demostra que muitos dos que são tratados como lixo, numa escala social de valores que ainda são filtrados pelo nosso passado colonial, podem revelar sua importância quando recebem um “banho de ouro”. Trazida à luz, a nobreza da cultura preta e popular brasileira não deixa dúvidas de que foi “feita para brilhar, não para morrer de fome”.
Banho de ouro nos farrapos e restos
Com origem na região onde hoje está Angola, o termo “mulambo” significa “farrapo” e foi sendo associado também às roupas velhas e mal ajambradas. Não demorou muito para que a palavra ganhasse contornos pejorativos e ser associada aos pobres e pretos.  Um fulano “mulambo”, “mulambento” ou “amulambado” seria alguém mal vestido, muitas vezes em situação de rua, e tanto no século XIX quanto 200 anos depois o contingente dos sem-teto é formado majoritariamente pelos descendentes de africanos. No livro Sobre o autoritarismo brasileiro (Companhia das Letras), Lilia Schwarcz lembra que uma pessoa escravizada, além de jamais possuir sapatos, recebia do senhor branco apenas uma muda de roupa por ano. Quando a Lei Áurea foi assinada, em 1888, este traje surrado era o único patrimônio que os cativos recém-libertos possuíam.  É bem possível, penso enquanto escrevo, que a ameaça “Você vai sair daqui com a roupa do corpo!”, geralmente dita com tanta violência pelos brasileiros, tenha origem nessa circunstância (se alguém souber, por favor, me conte).
A situação de menos-valia do termo “mulambo” não demorou a ser subvertida pela cultura popular sedimentada a partir das religiões afro-brasileiras, com a irradiação da figura da pomba-gira Maria Mulambo. Na coletânea Arruaças – Por uma filosofia brasileira (Bazar do Tempo) feita em parceria com Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, o filósofo e professor Rafael Haddock-Lobo lembra, no texto Pedacinhos de Mulambo, um ponto de terreiro dedicado à entidade: “Todo lugar tem rainha, lá no lixo também tem / Mas ela é Maria Mulambo, acredite você também”. Haddock-Lobo compara a pomba-gira à catadora de lixo Estamira, imortalizada no documentário de Marcos Prado. Esta é uma analogia que também estará presente no futuro enredo da Acadêmicos de Grande Rio sobre o orixá Exu, em que os talentosos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad lembram Estamira – aquela que encontrava riquezas e sentidos no lixão de Gramacho, naquilo que é descartado por uma sociedade de excessos – é lembrada por seu poder de seleção e seu desejo de comunicação.
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Vista da exposição de Mulambö: artista faz pinturas sobre papelão e usa tinta que compra em lojas de material de construção, optando por paleta reduzida – preto, branco, amarelo e vermelho predominamRafael Salim/Divulgação
Ao falar da vontade comunicar, reponho a trema no “o” e volto a Mulambö, o artista, e sua importante exposição. Se Haddock-Lobo defende em seu artigo que Maria Mulambo e Estamira reconhecem o poder da “beira”, e nela se estabelecem, digo que este também parece ser o interesse deste artista tão instigante, da adoção de seu apelido como nome artístico à condução de sua curta, mas já fértil trajetória. Nascido como mais um João, na cidade de Saquarema, Região dos Lagos, Mulambö cursou alguns períodos de História, migrou para a faculdade de Artes na UFF e se formou quando já participava de exposições. O sampler que tem feito com farrapos de imagem demonstra, acima de tudo, seu interesse pelas histórias que esses retalhos podem conter e contar.
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“A experiência que passa de boca em boca é a fonte a que recorreram todos os narradores”, nos ensina Walter Benjamin, e Mulambö parece saber que agenciar e modificar as imagens é exercer um poder sobre o simbólico que auxilia na subversão e na redenção das histórias. Na escolha daquilo que pinta e das imagens nas quais interfere, o artista demonstra sua opção pelas beiradas e por todos aqueles que quiseram aprisionar ali. Ele amplia a pressão que as margens e os marginalizados podem fazer sobre o curso do rio de histórias oficiais, até conseguir modificá-lo um pouco.
Com Garrincha e João Candido, a transgressão libertária
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“Taça”: um drible imaginário de Mané Garrincha em um policial da ditadura militar brasileiraRafael Salim/Divulgação
Isso fica evidente em Super herói, múltiplo de técnica mista em destaque no cabeçalho deste texto, no qual o artista se apropria de uma foto do João Candido, líder da Revolta da Chibata (1910) e pinta uma capa vermelha saindo de suas costas. Os punhos cerrados do marinheiro, artífice do movimento que afirmou categoricamente que o açoite não era mais aceitável neste país, ganham novo significado a partir da roupagem fictícia imaginada por Mulambö.  João Candido, um dos fundamentos de um Brasil que quis ser moderno antes do Modernismo, é o homem preto que exige liberdade e igualdade para si mesmo e para os seus; é o promotor da verdadeira alforria, arrancada a bala de canhão, e não concedida pela princesa branca. A capa vermelha dada por Mulambö faz a síntese poética desse protagonismo, que é luta e é voo.
Outra imagem refeita a partir de retalhos é Taça, em que o artista une o jogador Garrincha na hora de um drible a um policial partindo para o ataque durante as passeatas contra a ditadura civil-militar brasileira, em 1968. Aos pés de Mané, a bola de ouro e, algo que está além da captura de uma possibilidade de “resistência” – palavra que talvez precise ser repensada, por dar àquilo contra o que resistimos um poder superior. Garrincha e seu drible estão mais afinados com aquilo que Luiz Antonio Simas chama de “adequação transgressora” – algo que, em vez de esmurrar a ponta da faca do hierarquicamente estabelecido, vai ludibriando a lâmina, infiltrando-a com ferrugem. A figura de Chico Rei, lembrada em retrato pintado com acrílica e adornado com fita de cetim, lembra que os desfiles de carnaval frequentemente tomaram para si esta transgressão calcada no jogo de cintura.
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“São Sebastião do Rio de Janeiro”: o santo mártir e o martírio do “micro-ondas’ de pneusRafael Salim/Divulgação
Disse logo no início deste texto que a obra de Mulambö é sobre imagens, mas também sobre corpos que são refeitos no tempo e no espaço a partir de seus andrajos, seus retalhos esgarçados, seus restos. São Sebastião do Rio de Janeiro (edição dourada), uma pintura do mártir feita sobre uma pilha de pneus, é talvez o trabalho que
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“Eu queria um pincel e me deram uma vassoura”: obra-sínteseRafael Salim/Divulgação
demonstre isso de forma mais poderosa – e ao mesmo tempo mais elíptica. Ainda de mãos dadas com Simas, e sua insistência numa História das encruzilhadas e das vozes do povo, lembro o que o escritor chama de “esculhambação criativa” para qualificar nossas misturas culturais. Sebastião, santo cruzado que ajudou a derrotar os tupinambás, tornou-se o padroeiro da cidade, mas acabou sincretizado com o orixá Oxossi, “baixando” nos terreiros cariocas como caboclo. Um gesto de antropofagia redentora, que engole o corpo do inimigo como elogio de sua força. É emocionante perceber o entendimento de Mulambö dessa mescla, e também perceber como o artista sobrepõe tempos ao unir o martírio de Sebastião à pilha de pneus, usada como lugar de extermínio e micro-ondas para os corpos carbonizados nas favelas e periferias desta cidade.
O mesmo tipo de dobra temporal fica evidente em Queria um pincel mas me deram uma vassoura, obra em que o artista sobrepõe a imagem de um tridente – insígnia de Exu e de Netuno – sobre uma piaçava. O estandarte da festa e da fé, a mobilidade mágica das bruxas, a coleta dos garis: a poeira de tantas imagens e tantos brasis varrida por esse artista na direção das histórias que ainda quer contar.
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hiper-focos66 · 7 years ago
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Tentando ser racional
Hoje busquei entender tudo o havia acontecido, confesso que só agora conseguir colocar minha cabeça no lugar, em terra de mente racional quando tem sentimento perde o controle.
Enfim, entrei em questões, sei que o mundo LGBT sofre muito preconceito de todos os lados, sou a prova viva disso Quem sou eu para julga-la, bom, quero que ela me veja alem disso né, apenas uma reflexão...
Será que ela perdeu o controle? Talvez ela estava em busca de alguém para conversar, conhecer novas pessoas, procurar alguém que entendesse ela,  que mal tem né? Mas pela minha visão, ou sei la, posso está errada, quando nós, nos encontramos pela primeira vez, e nos beijamos ela pode ter criado sentimentos e assim se apaixonando, como eu, ou sei la. E nisso fomos nos envolvendo mais a cada dia, mas as vezes nós deixamos o sentimentos nos levar e quando pedi ela em namoro, ela se viu em pressão, mas escutou o coração e aceitou, porém no fundo ela estava com medo, e foi assim que surtou quando meu mundo e do “namorado” dela se colidiu, o medo dela se concretizou e ela não tinha a menor ideia do que fazer, pois pessoas caíram em cima dela, inclusive eu (meu erro, minha ansa da verdade). E ela apenas desejou morrer, simplesmente ela não sabia e não sabe o que vai fazer.
Ela me disse que tem vergonha dela, e sobre sua família ser mega preconceituosa, e ela não quer se sentir um fardo, e não quer magoar o tal “namorado” .
Sinceramente ela poderia ter dito pra mim logo, eu não iria julga-la, como não restou fazendo isso agora, só quero realmente entender tudo, fato por fato! Ela aceitou namorar comigo, se envolveu até o talo, me fez ficar perdidamente apaixonada, e quando tudo estourou eu simplesmente também surtei, entrei em parafuso, comecei a imaginar, ele e ela transando, se beijando, rindo de mim, eu um grande fantoche nas mãos dos dois, e ainda me pego pensando, mesmo depois dela ter me contado a verdade, eles juntos, eu virei egoísta quando o assunto é ela...
Meu medo é ela não lutar por mim, por nós, e nem tentar se ajudar. Se ela soubesse o quanto eu a amo, e como isso tudo me deixou esquisita sabe, tipo muito pensativa, criando diversas “conspirações mentais”, e a prima dela no meu ouvido, falando e falando, e querendo me influenciar a fazer coisas extremas... 
Cara eu não tenho dinheiro, tenho 99% do Fies, e ainda me mato todo mês pra pedir 100 conto pro meu pai, para pagar a faculdade, e o dinheiro q eu tenho é tudo soado, de bicos, de trabalhos acadêmicos feitos, de limpar quintal dos outros, mas ainda vou ser grande, e queria levar ela comigo, sai do lixo pro conforto, mas e se ela amar ele, e se ela simplesmente desistir de mim, e se ela tiver me enganando novamente, pois eu to confiando nas palavras dela, mas quero olhar no olho dela pessoalmente ver e ouvir tudo de novo.
Juro que se ela quiser pega na minha mão e encarar tudo, eu vou até o final, eu juro, sem mentiras, sem omitir nada, eu e ela contra o mundo. Se ela soubesse que vou até o inferno por ela, será que ela iria por mim?
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sadico-aristocrata · 7 years ago
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Lucas
A exatos um ano atrás eu apenas alimentava minha sensação de ódio com desejos de vingança, assassinato e sexo com pessoas aleatórias. Alimentava minha sensação de desprezo com textos duros. Alimentava minha sensação de tristeza com textos reflexivos, minha sensação de saudades com olhadas rápidas no aplicativo de fotos e com dois segundos de brincadeiras com a bolinha amarela de um smile impresso.
Eu engoli essas sensações com muito tempo e pesar. As digeri com certa dificuldade e as superei um tempo depois em um conjunto de fases e etapas que se somaram em meses. Depois de alimentar as sensações, tentei me livrar delas e encarar com frieza e naturalidade o que ainda restava. O presente que nunca consegui entregar virou um item da minha coleção de CD’s. Os textos belos viraram motivo de algum orgulho, assim como os textos bregas e mal escritos foram apagados pela oposta sensação de vergonha. A bolinha amarela virou lixo, assim como tudo deveria ter virado.
No começo as sensações foram contraditórias. Eu queria negá-las. Fiquei feliz por instantes com o fim do namoro deles (que depois voltou, e depois acabou, e depois voltou...). Voltei a conversar com ele, a recobrar sensações de amor e depois novas pequenas sensações de decepção que me motivaram a terminar o que comecei.
Tentei substituí-lo como se substitui qualquer sentimento, até que encontrei alguém e, meses depois, fui substituído. Tentei ser mecânico e acadêmico, e nada além disso. Tentei ser frio e desapegado. Tentei ser comum. Tentei reencarar tudo o que me ocorreu como a manifestação da loucura de um adolescente, e talvez essa seja uma das poucas conclusões corretas que obtive. Tentei me entregar a pequenas e boas sensações. Tentei tudo e com o tempo consegui.
A mente e a memória dele pairava sobre mim só como um lapso de algo ruim, como a lembrança de um enorme engano que cometi, e segui como se nada houvesse, com um vazio enorme em mim, vazio esse que sempre me acompanhou e acompanha, mas tudo havia cicatrizado afinal. Tudo isso até o momento em que tive a brilhante ideia de falar com ele de novo, e tudo desmoronou de forma ilógica.
Tornei a sentir as mesmas coisas que possuía por ele antes dele me tratar da forma que tratou, antes dele fazer comigo o que fez, toda essa sensação de forma ainda maior e como se nada tivesse acontecido, como se tivéssemos nos conhecido ontem e tudo até então tivesse sido perfeito. Tudo continua crescendo em mim como crescia, e apesar dos toques de alerta que minha consciência me dá, matar tudo isso como uma erva daninha está longe das coisas que sou capaz de fazer nesse momento.
Agora, toda essa aura de sonho começa a demonstrar falhas de novo. Ainda gosto dele de maneira inigualável e a inspiração que ele me trás é uma das melhores coisas que posso sentir, mas ainda me sinto como um mero algo pra ele, um mero acessório descartável que logo ele descartará por algo realmente vivo, realmente intenso, realmente importante.
Sinto que apenas aguardo o momento em que vou observar que ele me bloqueou em tudo de novo, que iniciou um novo namoro como se ele nunca tivesse sentido nada por mim, e efetivamente nunca o teria, e eu seria apenas, novamente, o pedaço de lixo que ele joga pela janela do ônibus, que nada tem a acrescentar ao seu destino junto de quem ele realmente ama e se importa.
No fundo sei que cometo agora os mesmo erros que cometi antes, e que dentro de alguns dias isso tudo se tornará uma profunda sensação de tristeza e melancolia. Sei que tudo isso vai perdurar na minha cabeça por meses de novo, até tornar a sentir-me da mesma forma que antes, como o mesmo vazio que sempre me acompanha e me faz seguir nesse universo muito além dos Skywalkers.
Sadico-aristocrata
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leogpn · 5 years ago
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Qual é o QI médio de alguém que escuta e gosta de Olavo de Carvalho?
QI médio de alguém que escuta e gosta de Olavo de Carvalho: 110
Para chegar nesse valor eu considerei o seguinte:
As ideias de Olavo de Carvalho são conservadoras e existem estudos que mostram uma correlação inversa entre conservadorismo e nota de QI.
Os conservadores brasileiros não são os rednecks americanos, o brasil não tem por natureza valores conservadores ele importa estes valores de fora. As pessoas que costumam ter contato com essas ideias precisa ter um mínimo de interesse intelectual.
A renda do conservador no Brasil é acima da média, e existem estudos que mostram uma correlação direta entre renda e QI.
Olavo de Carvalho não produz ideias complexas e frequentemente se repete, ainda assim o cunho de tudo que ele fala é intelectual.
Olavo de Carvalho tem um forte apelo emocional.
A partir dessas informações eu cheguei a conclusão que o seguidor médio do Olavo é inteligente o bastante para ativamente procurar estímulo intelectual mas não inteligente o bastante para aprender coisas novas sem se sentir mentalmente exausto. Ele consegue fazer a maioria das graduações e assimilar conceitos complexos depois de repetidos várias vezes. No entanto em uma discussão mais séria ele vai recorrer à ferramenta de apelo emocional que o Olavo da para evitar um desgaste mental mais profundo. O perfil de classe média alta no Brasil por cultura se sente diferenciado dos outros, por ter uma inteligência razoavelmente acima da média ele provavelmente teve por parte da família estímulos para se aprimorar intelectualmente.
No entanto no meio acadêmico a inteligência do seguidor do Olavo não se destaca e pode até ser abaixo da média, por isso as ideias olavistas de que o reconhecimento intelectual da sociedade por meio de Universidades está fraudado é tão atraente para essas pessoas. Elas acharam nele algo para manter acesa a chama do ego intelectual deles. Não importa se na faculdade não acham eles inteligentes, são todos esquerdistas. Não importa se eles não fizeram conquistas intelectuais reais, eles sabem mais sobre o mundo de verdade que os outros que são alienados. E se eles entrarem em uma discussão com alguém que mostra superioridade intelectual, não tem problema, eles saem da discussão, não porque perderam mas porque o tio Olavo ensinou que não se pode levar esses lixos a sério.
Uma outra hipótese seria que são pessoas realmente inteligentes que não se adequaram aos padrões acadêmicos. No entanto lendo relatos de pessoas superdotadas vi que quase sempre existe uma contradição entre uma imaginação absurdamente fértil que cria expectativas absurdas na pessoa e uma objetividade lógica igualmente absurda que a obriga a se frustrar com as próprias expectativas nascidas dessa imaginação. E eu não vejo alguém com essas características conseguindo mentir para si mesmo no nível de superficialidade que o Olavo de Carvalho trabalha. Esse perfil estaria mais interessado em reptilianos ou nos Rothschild e dificilmente teria ideias conspiratórias atraentes para o público leigo.
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berensaats · 5 years ago
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alt!
eu suei um pouco pensando em ocs que você não conhecesse… e decidi que vou chorar pelo meu brasilo-sul-coreano do tik tok favorito o único, joão vitor han. jungkook fc, eu fiz ele pro taipei, e, como todo char de rp em grupo meu, não tem neurônios. fun fact: eu surgi com a ideia dele depois de ver um daqueles lomotifs do jungoo com funk, e acabou como um dos meus chars mais complexos, a que eu sou mais apegada, e com uma das piores backstories – então deixo aqui o aviso de tw para homofobia, agressão homofóbica e abuso emocional. enfim, he’s the purest, strongest, bestest boy que não dá créditos o suficiente a si mesmo por ser um anjo e ser forte pra caralho. ele cresceu numa família de imigrantes que sofreram trauma o suficiente pra não passar a cultura pros filhos, tipo, falar coreano em casa? proibido. mas, apesar de terem sofrido, não dá pra passar a mão na cabeça deles. os pais dele conseguiram se estabilizar e virar classe média alta e já viu, né, engoliram o discurso conservador e meritocrata até o talo, além de serem evangélicos da universal (sem meme), homofóbicos pra porra (vitor voice: cortaram a criança viada que eu era). os filhos sempre foram chaveirinhos pra mostrar pra sociedade e eles sempre cobraram muito, fornecendo pouco. questionar eles também tava sumariamente proibido e acarretava em briga. em suma, pra não adentrar muito, abuso emocional.  e vitor sempre pisou meio fora da linha, nunca foi bom aluno, era a criança das artes que curtia um funkão e que se destacava no vôlei na hora do intervalo, diferente da irmã que era a filha de ouro, então boa parte das repreensões caíam sobre ele. apesar de tudo na escola ele era o aluno popular, mas porque todo mundo amava ele, porque ele sempre foi amigo de todo mundo e respeitou todo mundo, e a partir da adolescência sempre foi um dos biado na paulista. até aí tudo certo, até o pai pegar ele aos beijos com o best bro forever (leia-se: namorado) dele. vitor apanhou. foi quando ele se fechou mais em casa e fez de tudo pra sair de lá. foi assim que passou a economizar dinheiro e definitivamente se negou a fazer cursinho; foi fazer aqueles cursos de comissário de bordo pra ter emprego pra rapar da casa dos pais. perdeu o emprego. em pânico por não querer voltar pra casa ele gastou todos os créditos de bordo dele e é assim que acabou morando em taiwan, no improviso, sem visto nem nada. mas, se tem uma coisa que o vitor é, é forte, mesmo com a depressão e os traumas comendo o cu dele. ele tá sempre lutando pra sobreviver de alguma forma. na superfície não leva nada a sério, e tem muita coisa que não leva mesmo; aparece como o clichê do brasileiro de bem com a vida, divertido e acolhedor, que são coisas que ele é mesmo. é outro que tá sempre fazendo piada, tentando fazer os outros rirem; que tenta nunca demonstrar tristeza. mas a autoestima dele é um lixo e ele se sente muito perdido na vida. ele ama dançar, e cantar, mas já não quer ser idol (”tá doido? todo mundo sabe que eu sou viado”). o histórico de notas não ajuda, mas ele é inteligente demais fora do meio acadêmico; aprendeu coreano por iniciativa própria e japonês vendo hentai anime. também é muito prestativo, um amigo pra todas as horas; nunca perde um bom rolê, tá sempre  fazendo piada com todo mundo, flertando com tudo que passa, porque, se tu atira pra todos os lados, uma hora acerta, né? mistura fala de hétero e as melhores gírias pocs, manda a melhor sarrada no ar e o melhor quadradinho de oito (”bissexual raiz”) e realmente perde tempo fazendo vídeo pro tik tok (geralmente com vine energy, mas he sure hit the woah). 100% carente de afeto 24/7 mas nunca vai admitir. um filhote de golden retriever que de algum jeito comeu cogumelos alucinógenos. amo ele.
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send me “alt!” and i’ll introduce you to a character i’ve rped in the past, want to play in the future or are currently playing somewhere else!
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brocolisachocolate · 6 years ago
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#Abril
Em tempos passados, o ano começava em Abril. Por este motivo é que se chama Abril, que dia primeiro de abril é o dia da mentira e que Dezembro faz referência a 10. Se for pra fingir que abril é o primeiro mês do ano, então merece um gás de virada de ano. Não racionalmente, mas coincidentemente, em abril, eu li mais livros que a meta de um livro por mês.
O objetivo inicial era “O Que Nietzsche Faria?” De Marcus Weeks. Livro SENSACIONAL. Uma visão filosófica sobre temas recorrentes da vida moderna. Uma dose de conhecimento para fortalecer argumentos de discussnões banais. Um divertimento inteligente. Uma reflexão por dia, porque não dá para digerir tantos pontos de vista de uma só vez.
Se eu gostava de filosofia na escola, ter lido esse livro despertou meu jeito questionador, que sempre esteve aqui, com a diferença que agora eu teria acesso a outras opniões. Acrescento que valerá como uma consulta esporádica, uma vez em que eu não li com uma intensidade de estudos e eventualmente vou esquecer nomes e datas. Ainda assim, é muitíssimo bom e também desperta outras leituras. Já quero me desbravar pelos escritos originais de alguns filósofos citados, ou no mínimo outros escritos sobre eles.
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Li também “ Os Segredos da Mante Milionária”, do T. Harv Eker, para alimentar meus interesses econômicos e financeiros. Apesar de que muito do que é mencionado no livro, é facilmente aplicável a qualquer outra área da vida, pois ele apresenta formas de se levar a vida, de pensar e de interpretar a realidade, que possibilitáram que os milionários chegassem aonde estão. Não que ele repudie pessoas de baixa renda, mas que muitas vezes essas pessoas cometem padrões semelhantes. Vejo o livro como uma mudança de mentalidade muito mais do que em formato de valores concretos na conta bancária. Afinal de contas, pessoas de “bem com a vida” e responsáveis pelo próprio caminho, têm mais chances de conseguir o que querem, seja este desejo valores financeiros, seja um romance mais seguro, um conhecimento acadêmico...
A melhor forma de traduzir esse livro é como vários tapas na cara de racionalidades. E quando se percebe que ele tem razão e se submete a testar as sugestões, você vê mudanças reais. Me propus a usá-lo como um manual de estudo pra vida. Pegar o caderno e a caneta e colocar pra fora e visualizar os escritos como mudanças reais. Claro que qualquer mudança depois dos 10 anos começam a demandar mais tempo para serem concluídas, mas como no livro de felicidade de Harvard, ainda é possível. Tenho pra mim que aliar as 3 leituras, “O Jeito Harvard de Ser Feliz” com “O Milagre da Manhã” e “Os Segredos da Mente Milionária”, trazem boas mudanças no estilo de vida. Entender que a realidade que vemos é uma interpretação e que com os filtros certos é possível alcançar grandes objetivos.
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No meio de abril, me envolvi novamente as questões de lixo e não consegui me segurar para comprar o livro da Cristal Muniz, “Uma Vida Sem Lixo”. Ela já possuía um blog que eu vinha acompanhando, mas as relações com internet e livros são bem distintas. O livro trás um compilado, com outras explicações mais focadas e reeditadas, enquanto o blog é uma primeira visão sobre o que está sendo feito. Portanto é um guia, uma consulta. Vale a leitura direta, que levei menos de um dia, para ter essa noção global do que ela trata, além de ela trazer outras referências desse estilo de vida.
Sendo guia, consultei várias vezes e ainda volto vez ou outra para conferir as sugestões, como lavar o cabelo com vinagre e bicarbonato (funciona, melhor que shampoos convencionais) e o sérum de tratamento para acnes de óleo de amendoas com óleo essencial de melaleuca (as espinhas hormonais ainda aparecem, mas senti com menos intensidade). Claro que eu ainda tenho muuuito a mudar dentro de casa para levar uma vida sem lixo, sem contar que não é inteligente jogar os produtos que se tem fora para fazer outros menos impactantes. Já estão em casa, vou usá-los até acabar, dar-lhes melhor destinação para as embalagens e não comprarei mais.
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Fiquei bem satisfeita com as leituras de Abril. Comecei a ler “Do Mil ao Milhão” do canal do Primo Rico, mas ainda não terminei. Cheguei em uma parte com termos muito mais técnicos que eu conseguia absorver então deixei para terminá-lo como um estudo pro próximo mês. Então esse review vem depois.
Nota para as leituras de abril 10 *-*. Não conseguiria dar menos para um livro que aguça o intelecto, um que ensina a ter uma vida mais consciente do planeta e um livro de mudança de pensamento para melhor. Os três possuem estilo de escrita beeeem diferentes um do outro, o que é interessante pois mostra que o interesse pelos assuntos falam bem mais alto que um estilo de escrita, e mesmo assim, muito claros e compreensíveis. 3 livros sobre temas complexos e ainda assim leves e divertidos, com suas intensidades diferentes. Acho que é como amar 3 filhos, não tem como amar da mesma forma e ainda assim ama com a mesma intensidade. RECOMENDO
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A era da manipulação escancarada
 Até que ponto decidimos com autonomia? Pensamos escolher o sentido de nossa própria vida – mas será que isso é verdade? Se você ou eu tivéssemos vivido 500 anos atrás, nossa visão de mundo, e as decisões tomadas em decorrência dela, seriam totalmente diferentes. Nossas mentes são formadas pelo ambiente social, particularmente pelos sistemas de crenças projetados por aqueles que estão no poder: antes, reis, aristocratas e teólogos; agora, corporações, bilionários e a mídia.
Humanos, mamíferos sociais por excelência, somos esponjas éticas e intelectuais. Inconscientemente absorvemos, para o bem ou para o mal, as influências que nos envolvem. Na verdade, a própria noção de que podemos formar nossas mentes é uma ideia herdada que, cinco séculos atrás, teria causado estranheza à maioria das pessoas. Não quero sugerir que somos incapazes de pensamento com independência. Mas para exercitá-lo, temos de – conscientemente e com grande esforço – nadar contra a corrente que nos carrega, na maioria das vezes sem nosso conhecimento.
No entanto, mesmo formados no meio ambiente social, será que controlamos as pequenas decisões que tomamos? Às vezes. Talvez. Mas também aqui estamos sujeitos a influências constantes, algumas das quais vemos, a maioria das quais não vemos. Uma grande indústria procura decidir em nosso nome. Suas técnicas tornam-se mais sofisticadas a cada ano, aproveitando-se das últimas descobertas da neurociência e da psicologia. Seu nome é publicidade.
Novos livros são publicados todo mês sobre o assunto, por exemplo com o título “O Código de Persuasão: como o neuromarketing pode ajudar você a persuadir alguém, em qualquer lugar, a qualquer momento” Embora muitos sejam evidentemente exagerados, descrevem uma disciplina que está capturando rapidamente nossas mentes, tornando o pensamento independente ainda mais difícil. Publicidades mais sofisticadas misturam-se a tecnologias digitais projetadas para eliminar as mediações.
No começo de 2018, o psicólogo infantil Richard Freed explicou como novas pesquisas psicológicas têm sido usadas para desenvolver mídias sociais, jogos de computador e telefones celulares com qualidades assumidamente viciantes. Cita um tecnólogo que se vangloria, aparentemente com justiça: “Podemos, ao manipular alguns botões no painel do aprendizado de máquina que construímos, levar centenas de milhares de pessoas, em todo o mundo, a mudar silenciosamente seu comportamento de maneira que, sem saber, imaginam repetir um hábito, mas estão sendo conduzidas.
O propósito deste “hackeamento de cérebros” é criar plataformas mais eficientes para a publicidade. Mas o esforço é inútil se retivermos nossa capacidade de resistir. Essa é a razão pela qual o Facebook, segundo vazamento de um relatório enviado a um anunciante, desenvolveu ferramentas para determinar quando adolescentes, ao usar a rede, sentem-se inseguros, com baixa auto-estima ou estressados. Estes parecem ser os ótimos momentos para atingi-los com uma promoção micro-segmentada. (O Facebook nega que ofereceu “ferramentas para segmentar as pessoas com base em seu estado emocional”.)
Podemos esperar que empresas comerciais lancem mão de todo e qualquer truque. Cabe à sociedade, representada pelo governo, detê-las por meio do tipo de regulação que até agora falta. Mas o que me intriga e desgosta ainda mais do que esse fracasso é a disposição das universidades em sediar pesquisas que ajudam os anunciantes a invadir nossas mentes. O ideal do Iluminismo, que todas as universidades dizem endossar, é que todos devem pensar por si mesmos. Então, por que mantêm departamentos em que pesquisadores exploram novos meios de bloquear essa capacidade?
Faço a pergunta, enquanto observo o frenesi do consumismo que eleva além dos níveis habituais o lixo do planeta neste final de ano, porque esbarrei num artigo que me deixou pasmo. Foi escrito por acadêmicos de universidades públicas na Holanda e nos EUA. Seu propósito me pareceu completamente em desacordo com o interesse público. Eles procuram identificar “as diferentes maneiras pelas quais os consumidores resistem à publicidade e as táticas que podem ser usadas para combater ou evitar essa resistência”.
Dentre as técnicas “neutralizadoras” destacam-se “disfarçar a intenção de persuadir ou o emissor da mensagem”; distrair nossa atenção usando frases confusas que dificultam perceber as intenções do anunciante; e “usar o empobrecimento cognitivo como tática para reduzir a capacidade do consumidor de questionar as mensagens”. Isso significa nos atingir com um número de propagandas suficiente para exaurir nossos recursos mentais, quebrando nossa capacidade de pensar.
Intrigado, comecei a buscar outros artigos acadêmicos sobre o mesmo tema, e encontrei uma enorme literatura. Havia artigos sobre cada aspecto possível da resistência à publicidade, e dicas úteis para superá-la. Por exemplo, um artigo que ensina anunciantes a reconstruir a confiança do público quando a celebridade com quem trabalham se mete em problemas. Em vez de abandonar esse ativo lucrativo, os pesquisadores aconselharam que o melhor meio para melhorar “o autêntico apelo persuasivo de uma celebridade” cujo prestígio tenha caído é fazer com que exiba “um sorriso de Duchenne”, conhecido também como “sorriso genuíno”. Eles detalham esses sorrisos com precisão, mostram como identificá-los e discutem a “construção” da sinceridade e da “franqueza”: um exercício magnífico de autenticidade inautêntica.
Outro artigo sugere como persuadir pessoas céticas a acatar as afirmações sobre responsabilidade social corporativa de uma empresa, especialmente quando essas afirmações entram em conflito com o conjunto dos objetivos da empresa. (Um exemplo óbvio são as tentativas atuais da Exxon Mobil de convencer as pessoas de que é ambientalmente responsável, porque está pesquisando combustíveis de algas que poderiam um dia reduzir o CO2 – mesmo que continue bombeando 10 milhões de barris de óleo fóssil por dia). Esperava que o jornal recomendasse que o melhor meio de persuadir as pessoas é a empresa mudar suas práticas. Ao invés disso, os autores da pesquisa mostraram como imagens e declarações podem ser habilmente combinadas para “minimizar o ceticismo das partes envolvidas”.
Outro artigo discutia anúncios que trabalham com o estímulo ao medo de perder [fear of missing out, FOMO]. Notava que essas publicidades funcionam através da “motivação controlada”, que é um “anátema para o bem-estar”. Anúncios FOMO, explicava o artigo, tendem a causar desconforto significativo àqueles que o recebem. Depois seguia mostrando que melhorar o entendimento da resposta das pessoas “oferece a oportunidade de melhorar a eficácia do FOMO como disparador da compra.” Uma tática proposta é continuar estimulando o medo de perder, durante e depois da decisão de comprar. Isso, sugere, tornará as pessoas mais suscetíveis a outros anúncios na mesma linha.
Sim, eu sei: trabalho num setor que recebe a maior parte de seus recursos financeiros da publicidade, então sou cúmplice também. Mas assim somos todos nós. A publicidade e seus impactos destrutivos no planeta vivo, em nossa paz de espírito e nosso livre arbítrio está no coração da economia que se baseia no “crescimento”. Isso nos dá ainda mais motivos para desafiá-la. Dentre os lugares onde o desafio deve começar estão as universidades e sociedades acadêmicas, que supostamente estabelecem e mantêm padrões éticos. Se elas não podem nadar contra as correntes do desejo construído e do pensamento construído, quem poderá?
 Fonte: Por George Monbiot|Tradução: Inês Castilho, em Outras Palavras
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Foi em 2011 quando comecei a ter contato com a vida acadêmica. Entrei na Universidade Federal do Ceará no curso de Ciências Sociais e me esbanjei na Antropologia e na Sociologia. Batia-se muito na tecla de “é importante ler clássicos” e lembro até de um ou dois textos cedidos pelos professores reforçando que, em relação a Marx, Weber, Durkheim, Kuper, Lévi-Strauss, Maquiavel… em todos eles, era essencial lê-los em suas próprias vozes, e não comentados por outros pesquisadores.
Acontece que um contato forçado com esses grandes pensadores é um tanto… bruto demais. Nem todos assimilam as ideias desses caras de primeira e é necessário e essencial que haja um catalisador, um intermediador nesse processo de aprendizado. Quando li Um Toque de Clássicos, de Tânia Quintaneiro, (PDF disponível na internet) foi instantâneo o meu entendimento do pensamento de Durkheim, que era um tanto travado para mim ao ler As Regras do Método Sociológico, do próprio Durkheim.
>> Clássicos na Literatura >> Que elitismo é esse? >> O caso de Carolina de Jesus >> Leitura extra
Um dos textos que citei anteriormente é Por que ler os clássicos, do Ítalo Calvino (também com PDF disponível na internet e livro físico na Amazon BR). Propondo algumas definições para o que, afinal, pode ser considerado um clássico, Calvino expõe o que eu considero o cerne desse pensamento todo:
“Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado.” – p. 10
Ou seja, antes de falar que Fulano de Tal é clássico porque é base de um estudo, porque é antigo, porque é berço filosófico, vale considerar se a pessoa em questão condensa o que você, de fato, pensa sobre o assunto. Na faculdade, por mais que os professores nos empurrem goela abaixo os clássicos deles, a gente vai pegando uma lasquinha de cada um pra ir montando o nosso próprio repertório, com a nossa lista de clássicos dos assuntos que nos interessam.
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Clássicos na Literatura
Como temos contato com a Literatura desde cedo, é mais acessível que a gente tenha noção dos clássicos literários. Na escola, ouvimos falar de Machado de Assis, José de Alencar, Jane Austen, as irmãs Brontë, Shakespeare, Victor Hugo e Homero. No comecinho dos estudos, lemos adaptações lindas de Ruth Rocha e Ana Maria Machado. Depois, somos encorajados (na verdade, forçados) a ler esses autores na íntegra, principalmente os nacionais, pra que a gente identifique as marcações do momento literário de cada um.
É isso que acontece. Mas não é como a maioria dos estudantes recebem. Porque não é atrativo ler uma linguagem que não é usada num espaço de tempo entre décadas e séculos. Porque boa parte dessa literatura não vai contribuir tanto assim para o repertório do estudante naquele momento. E isso pode ser questão de timing, pois como o próprio Calvino falou:
“(…) ler pela primeira vez um grande livro na idade madura é um prazer extraordinário: diferente (mas não se pode dizer maior ou menor) se comparado a uma leitura na juventude.” – p. 10
A maturidade psicológica e “estudiosa” só dedica atenção real e definitiva a esse tipo de literatura quando estamos pra lá dos 20 anos. Até lá, cai no velho discurso da leitura por obrigação e da falta de interesse dos currículos escolares em tornar a leitura um hábito cotidiano acessível.
Que elitismo é esse?
Vamos fazer jus ao título do post, né? Dia desses, um Beltraninho abriu uma discussão no grupo do Wattpad no Facebook. Wattpad é uma plataforma onde pessoas publicam textos, profissionais ou não, submetendo esse trabalho à opinião dos leitores. É uma das grandes formas que os escritores iniciantes têm de ganhar confiança no seu trabalho, recebendo constante feedback de quem lê.
Enfim, o cara falou em vários caps lock que bom escritor precisa ler clássicos. E, por clássicos, ele quis dizer exatamente os autores que citei, de décadas e séculos atrás. E sabe por que isso é um pensamento nocivo? Porque é determinista e segregador, e dissemina a ideia de que, pra alcançar um patamar de sucesso, o escritor iniciante necessita ler e estudar nomes que, talvez, nem façam parte do seu próprio conjunto de clássicos. Trazendo Calvino mais uma vez:
“O ‘seu’ clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.” – p. 13
Quer dizer, o cara chega, joga uma dessas e sai como se nada tivesse acontecido, e desconsidera que as pessoas têm vivências e repertórios diferentes. Se ela escreve bem ou mal, cabe aos leitores julgar. A criação de uma história envolvente não precisa estar relacionada à experiência do autor em ter lido Tolstói ou Dickens e pode, muito bem, ter base em James Dashner (Maze Runner) ou Mary E. Pearson (The Kiss of Deception).
O caso de Carolina de Jesus
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No dia dessa presepada, lembrei na hora da Carolina de Jesus. Ela foi uma escritora negra, de periferia que nasceu em 1914 em Minas Gerais e radicou-se em São Paulo. Mesmo tendo estudado durante pouco tempo na escola, Carolina se apegou à leitura. Em São Paulo, viveu na favela e escrevia, em forma de diários, a vivência e o cotidiano da vida em cadernos que encontrava no lixo. Quarto de despejo: Diário de uma favelada, de 1960, foi um dos diários de Carolina lançados como livro, que a impulsionou a ser publicada em mais de 20 países.
Atriz e escritora Elisa Lucinda
Em abril passado, dia 17, a Academia Carioca de Letras homenageou Carolina de Jesus. Estavam presentes no evento o cantor Martinho da Vila e a atriz e escritora Elisa Lucinda (que fez um relato do acontecimento, publicado no portal PublishNews). Eis que, no evento, tem a palavra o professor de literatura Ivan Cavalcanti de Proença. Com a primeira fala da homenagem, o professor afirma categoricamente: “Isso não é literatura.”
“Isso pode ser um diário e há inclusive o gênero, mas, definitivamente, isso não é literatura. Cheia de períodos curtos e pobres, Carolina, sem ser imagética, semi-analfabeta, não era capaz de fazer orações subordinadas, por isso esses períodos curtos.”
Ou seja: como disse a própria Eliza Lucinda, no relato à PublisNews, ele parecia exigir de Carolina a rigidez e o domínio pleno da morfossintaxe portuguesa, o mais puro formalismo acadêmico para que Carolina fosse considerada literatura. Mais do posicionamento barato do tal professor: “É o relato natural e espontâneo de uma pessoa que não tinha condições de existir por completo. (…) Ouvi de muitos intelectuais paulistas: ‘Se essa mulher escreve, qualquer um pode escrever’.”
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Então tá, né? Vale lembrar que Virginia Woolf, Sylvia Plath, Tolstói, Anaïs Nin, Susan Sontag, todos escreveram diários e todos têm total relevância editorial, literária, artística e comercial. Afinal, qual a base desse cara pra dizer o que é literatura? Porque se ele afirma que diários não fazem parte desse nicho, ele também exclui boa parte das produções de vários autores, incluindo obras póstumas de milhares deles.
Ou será que isso é mais uma daqueles preconceitos mascarados de opinião? Eu aposto mais nessa opção, sinceramente. De toda forma, é bom que, de vez em quando, cheguem brutamontes desses pra falar as barbaridades da vida, pra que a gente lembre que tem gente alimentando esse tipo de pensamento mesquinho, hipócrita e segregador. Afinal de contas,
doutorado e Lattes não dizem nada sobre caráter.
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Leitura extra
O número 23 da revista Conexão Literatura, edição desse mês de maio, destaca justamente a escritora Carolina Maria de Jesus, homenageando e celebrando sua vida e obra. Vale a pena a leitura, conhecer essa revista online de distribuição gratuita, assim como ler um tantinho a mais sobre a mulher negra de periferia que ganhou o mundo através das letras nos seus cadernos. Para outras edições, clique aqui.
Conexão Literatura – Nº 23
  Elitismo, academicismo e literatura na palavra da mulher negra da favela Foi em 2011 quando comecei a ter contato com a vida acadêmica. Entrei na Universidade Federal do Ceará no curso de Ciências Sociais e me esbanjei na Antropologia e na Sociologia.
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