#pronto calei-me a boca já falei demais beijos e abraços
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itsautumnstein · 4 years ago
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𝐼 𝑟𝑒𝑚𝑒𝑚𝑏𝑒𝑟 𝑡𝑒𝑎𝑟𝑠 𝑠𝑡𝑟𝑒𝑎𝑚𝑖𝑛𝑔 𝑑𝑜𝑤𝑛 𝑦𝑜𝑢𝑟 𝑓𝑎𝑐𝑒 𝑤𝘩𝑒𝑛 𝐼 𝑠𝑎𝑖𝑑 𝐼'𝑙𝑙 𝑛𝑒𝑣𝑒𝑟 𝑙𝑒𝑡 𝑦𝑜𝑢 𝑔𝑜 𝑊𝘩𝑒𝑛 𝑎𝑙𝑙 𝑡𝘩𝑜𝑠𝑒 𝑠𝘩𝑎𝑑𝑜𝑤𝑠 𝑎𝑙𝑚𝑜𝑠𝑡 𝑘𝑖𝑙𝑙𝑒𝑑 𝑦𝑜𝑢𝑟 𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡 𝐼 𝑟𝑒𝑚𝑒𝑚𝑏𝑒𝑟 𝑦𝑜𝑢 𝑠𝑎𝑖𝑑 𝑑𝑜𝑛'𝑡 𝑙𝑒𝑎𝑣𝑒 𝑚𝑒 𝘩𝑒𝑟𝑒 𝑎𝑙𝑜𝑛𝑒 𝐵𝑢𝑡 𝑎𝑙𝑙 𝑡𝘩𝑎𝑡'𝑠 𝑑𝑒𝑎𝑑 𝑎𝑛𝑑 𝑔𝑜𝑛𝑒 𝑎𝑛𝑑 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑒𝑑 𝑡𝑜𝑛𝑖𝑔𝘩𝑡
𝐽𝑢𝑠𝑡 𝑐𝑙𝑜𝑠𝑒 𝑦𝑜𝑢𝑟 𝑒𝑦𝑒𝑠, 𝑡𝘩𝑒 𝑠𝑢𝑛 𝑖𝑠 𝑔𝑜𝑖𝑛𝑔 𝑑𝑜𝑤𝑛 𝑌𝑜𝑢'𝑙𝑙 𝑏𝑒 𝑎𝑙𝑟𝑖𝑔𝘩𝑡, 𝑛𝑜 𝑜𝑛𝑒 𝑐𝑎𝑛 𝘩𝑢𝑟𝑡 𝑦𝑜𝑢 𝑛𝑜𝑤 𝐶𝑜𝑚𝑒 𝑚𝑜𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡, 𝑦𝑜𝑢 𝑎𝑛𝑑 𝐼'𝑙𝑙 𝑏𝑒 𝑠𝑎𝑓𝑒 𝑎𝑛𝑑 𝑠𝑜𝑢𝑛𝑑
𝐀𝐔𝐓𝐔𝐌𝐍 𝐑𝐎𝐒𝐄 𝐒𝐓𝐄𝐈𝐍 — 𝐓𝐀𝐒𝐊 𝟎𝟎𝟓.
𝐎𝐎𝐂:
primeiro de tudo, créditos a @fameili pelo edit mais que perfeito de presente! obrigada mesmo, aninha linda <3
𝐚𝐯𝐢𝐬𝐨𝐬 𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚𝐢𝐬
este pov não contém godmodding. todas as frases utilizadas foram retiradas de headcanons planejados previamente com as players de cada char envolvido. nenhuma fala foi combinada entre elas, os diálogos foram ditos separadamente antes mesmo do pov ser escrito. então sim, são de fato lembranças da autumn e não foram forçadas para se encaixar na task em questão.
o link acima dá acesso ao pov em docs, porque formatei com muito amor e carinho para dar aquela vibe de livro e ser uma leitura gostosinha (se estiverem pelo computador, principalmente, recomendo o docs porque a parte em itálico não é legal no theme). a opção de ler o texto corrido por aqui está logo abaixo.
inspos: safe and sound (música - taylor swift) // don't walk gentle into that good night (poema - dylan thomas) // dementadores (criatura - harry potter) // capitã marvel (filme).
e, claro, a qualquer sinal de gatilho não taggeado, por favor, me avisem!
𝐚𝐯𝐢𝐬𝐨𝐬 𝐢𝐧𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚𝐢𝐬
hoje eu tô aquela dos informes, hein. usando esse espacinho só para agradecer desde já a quem se interessar pela leitura do pov, fico muito feliz de escrever algo que desperte o interesse de alguém! também agradecer a @devlishsmile, @fameili, @lleroisoleil e @arendstein, obrigada por me emprestarem um pouquinho os personagens incríveis de vocês (e pelo apoio moral na escrita, @sorenotsore inclusa nesta parte). e claro, agradecer às mods, pelo plot fantástico que me permitiu desenvolver a personagem melhor que o esperado. acho que é isso, né? tá bom de leitura já, enchi muito o saco até aqui (:
𝐓𝐀𝐒𝐊 𝟎𝟎𝟓: 𝐍𝐀̃𝐎 𝐓𝐀̃𝐎 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐐𝐔𝐀𝐍𝐓𝐎 𝐏𝐄𝐍𝐒𝐎𝐔.
𝑛𝑎̃𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑑𝑜𝑐𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑛𝑎𝑞𝑢𝑒𝑙𝑎 𝑏𝑜𝑎 𝑛𝑜𝑖𝑡𝑒, 𝑎 𝑣𝑒𝑙𝘩𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒𝑣𝑒 𝑎𝑟𝑑𝑒𝑟 𝑒 𝑑𝑒𝑙𝑖𝑟𝑎𝑟 𝑎𝑜 𝑓𝑖𝑚 𝑑𝑜 𝑠𝑒𝑢 𝑑𝑖𝑎; 𝑟𝑒𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒-𝑠𝑒, 𝑟𝑒𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒-𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎 𝑜 𝑎𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟 𝑑𝑎 𝑙𝑢𝑧.
𝑒𝑚𝑏𝑜𝑟𝑎 𝑜𝑠 𝑠𝑎́𝑏𝑖𝑜𝑠, 𝑎𝑜 𝑚𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟, 𝑠𝑎𝑖𝑏𝑎𝑚 𝑞𝑢𝑒 𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑢𝑟𝑖𝑑𝑎̃𝑜 𝑒́ 𝑜 𝑐𝑒𝑟𝑡𝑜, 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑢𝑎𝑠 𝑝𝑎𝑙𝑎𝑣𝑟𝑎𝑠 𝑛𝑎̃𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑜𝑐𝑎𝑟𝑎𝑚 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑒𝑙𝘩𝑎𝑠, 𝑒𝑙𝑒𝑠 𝑛𝑎̃𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑚 𝑑𝑜𝑐𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑛𝑎𝑞𝑢𝑒𝑙𝑎 𝑏𝑜𝑎 𝑛𝑜𝑖𝑡𝑒.
[...]
𝐷𝑌𝐿𝐴𝑁 𝑇𝐻𝑂𝑀𝐴𝑆
𝐎 𝐈𝐍𝐈́𝐂𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐔𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐒.
Para qualquer pessoa, seria difícil, praticamente impossível, definir com precisão qual foi a primeira lembrança que guardou de sua vida. A memória de seus anos iniciais se perde, é lançada ao vento como palavras soltas. Numa clássica expressão de entrar por um ouvido e sair pelo outro, a mente funcionaria de mesma forma. Esse fato, claro, nos priva de muitas vivências felizes que possamos ter tido, como também nos poupa de tristezas e dores sentidas. Um infortúnio e uma graça.
Recordações nos constroem. São elas responsáveis por nossa personalidade, pelos nossos julgamentos, pelas atitudes que tomamos. Baseamo-nos em experiências prévias, na expectativa de não cometer erros anteriores, de repetir momentos felizes. Somos construídos através delas e, talvez por isso, cair no esquecimento do seu próprio conto seja tão terrível. Ou, ainda, esquecer-se você mesmo do que viveu, tornando-se um personagem ambulante, vagando sem rumo pelas histórias alheias.
Às vezes, Autumn gostaria de esquecer suas memórias.
A primeira de sua vida era transparente como água cristalina, nítida como se ocorrida no dia anterior. Tão dolorosa quanto tantas outras que se seguiram. Mas aquela, aquela, viria a deixar uma marca profunda e incurável dentro de si. Nos contos, filhos de heróis e mocinhos cresciam com medo de grandes vilões, de vinganças assombrosas, de retaliações imperdoáveis. Tal medo passava conforme cresciam e viam que nada era tão preto e branco quanto julgavam ser. Não com a Stein. Seu maior vilão, diferente do esperado, era outro. Algo que a acompanhava diariamente, a assombrava diariamente. Dormir.
E era no ato de dormir que pairava sua lembrança. Quando, aos três anos de idade, acordou subitamente ao som de gritos desesperados de sua mãe chamando por ajuda, implorando pela presença de seu pai ali, afastando um Arend confuso para que não entendesse o que ocorria. Fora esse seu primeiro apagão dos incontáveis pelo resto de sua vida, longe de estarem perto de entender o problema. A figura diminuta assustara a todos com o desmaio repentino, não era costumeiro de crianças, afinal.
O trauma se concretizara, no entanto, ao recobrar a consciência e bater os olhos em um dos guardas que naquele momento ajudavam. Moritz. O rapaz era uma imagem presente para a princesa e seu irmão mais velho, pois, sendo ele um de seus guardiões, estava sempre a brincar divertido com os jovens membros da realeza. Ela o encarava assustada, aterrorizada, a vontade de gritar entalada em uma garganta já fechada da vontade incontrolável de chorar. E chorou.
Nunca haviam lhe contado sobre a morte. Aquela, até este tempo, não era um fato em sua vida tão recente e inocente, sequer era sabido qual o conto de seus pais com detalhes e clareza. Era uma história relatada por cima, com pinceladas de realidade e, como esperado, a menininha apenas aceitava contente o que ouvia. Era encantada pelos contos de fadas, apaixonada por cada narrativa lhe contada com animação e brilho no olhar. Naquele apagão, no entanto, presenciara o terror.
Em seus sonhos, um Moritz caído ao chão. Sangue cobrindo suas vestes, uma mão estendida sobre um peito que arfava com dificuldade. Era o suficiente para uma criança, de menos de meia década, entrar em desespero, sendo acalmada por uma Aurora e um Phillip recitando palavras tranquilizantes de que tudo não passara de um pesadelo.
Em algumas semanas, ele se concretizou. Moritz tão cedo entrara em sua vida, tão cedo se fora.
De fato, não passara de um pesadelo. Um pesadelo que trazia uma visão do futuro e, junto dele, o assombro nos olhos de seus pais. Não demoraram a juntar dois mais dois e entender o que tinham diante de si. Sua filha, ainda jovem e ingênua demais, carregaria o fardo de um poder que a atemorizaria pelo resto dos seus dias.
Não a levaram para o enterro de seu guardião. Não queriam que gravasse na memória a concretização do que vira ao dormir. Só não contavam, evidentemente, com aquele sendo o primeiro registro de recordação em sua mente, ela entendia o que vira e jamais esqueceria.
Todas as noites, Aurora e Phillip narravam mais e mais histórias fantásticas dos contos moldados pelo Narrador, na esperança de trazer alívio e sonhos bons a sua filhinha, a qual lidaria com o risco eternamente à espreita de não ver o mundo de um jeito tão bom assim. Ela tinha sim uma visão positiva dos contos, fora o que aprendera com o passar dos anos tanto a ter quanto a demonstrar.
Mas Autumn sempre fora boa em disfarçar.
𝐄𝐂𝐎𝐒, 𝐄𝐂𝐎𝐒 𝐌𝐄𝐍𝐓𝐀𝐈𝐒.
Se seus pais soubessem dos últimos acontecimentos em Aether com detalhes, com certeza teriam dito que sua inscrição fora um erro.
O instinto de proteção de ambos era tamanho que, apesar de ser a filha do meio, fora a última a entrar como aprendiz no instituto. Era angustiante o sentimento de ter seus irmãos, tanto o mais velho quanto o mais novo, voltando ao reino para as férias de verão e contando alegremente sobre suas aventuras e amigos feitos. Queria ter as mesmas experiências, fazer amigos que não fossem os pré-determinados de sua convivência na realeza. Não que não gostasse deles, longe disso, só considerava cansativo. Entediante, diria. Enquanto sua mãe, aos dezesseis anos, cumprira o destino de uma profecia cruel, Autumn, na mesma idade, recebera o que considerava ser o melhor dos presentes. Enfim seria parte de Aether. Aprendiz do instituto, membro da casa Aderem com alegria e orgulho. Comemorara junto dos irmãos, prometera aos pais o maior cuidado possível em estar sempre atenta de não se machucar durante seus apagões.
Ah, se a vissem agora.
Parte da cabeça enfaixada por uma queda que sequer recordava com clareza. Dores pelo corpo. Durante um ataque de ogros comedores de gente, lá estava Autumn Rose apagando pelos cantos e dependendo de um Soren Fitzherbert já muito ferido por conta própria para garantir sua sobrevivência. Não poderia proclamar-se a maior cumpridora de promessas do universo, claramente.
Aurora e Phillip terminariam por saber do desastre do jogo, mesmo porque Merlin não os deixaria às escuras a esse ponto, mas sua situação em específico? Que o Narrador a salvasse de nunca passar pela mente dos dois o ocorrido. Ocorrido esse que apenas piorava quando considerava os sonhos que tivera naquela noite. Escutara vozes assustadoras, fazendo-a acordar repentinamente num grito exaltado. Não era do feitio de seus sonhos, em todos aqueles anos, dirigirem-se a ela de maneira tão clara, ameaçando-a tão diretamente. Cabia-lhe sempre a missão de interpretar o que via, o que, naquela noite, parecia já não ser necessário.
A mensagem era explícita. Conforme os dias passavam, continuava a se repetir em sua consciência adormecida e, para alguém acostumada a ter visões pessimistas e cheias de desgraças sobre o futuro, existir uma voz no seu inconsciente fazendo-se de intimações e avisos era, definitivamente, algo a preocupá-la. Porém, como de praxe, não compartilhou de seus sonhos com os demais. Ultrapassara a cota, determinada por si mesma, em sua estadia na enfermaria.
"Venha até mim... Venha até mim..."
Silêncio, ela ralhava em seus próprios sonhos. Nos pesadelos habituais, ao menos ninguém a incomodava.
                        ❦❦❦❦
"Ah, Autumn Rose, você não vai se livrar de mim tão fácil."
Diferente dos últimos dias, a voz estranhamente se fazia mais presente.
Ela penetrava sua cabeça, ecoava por seus ouvidos, estremecia seus ossos, vibrava seu corpo inteiro. Era metálica, como gosto de sangue fresco na boca, trazendo a sensação gélida de alma vazia. Podia sentir cada parte de si e, ao mesmo tempo, era como se nada estivesse ali. Ela era nada mais que um espectro tomado por aquelas palavras vindas do desconhecido. Sua visão estava escura, tanto fazia estar de olhos abertos ou fechados.
O próprio corpo era uma ilusão. Ela era uma atriz num palco vazio, num teatro vazio. Todas as luzes apagadas, toda a vida sugada, o eco existente por ser a única ali presente, um solitário holofote iluminando seu rosto assustado. Estavam ali, ocupando aquele espaço, ela e… quem?
Quem estava ali?
Não adiantava mais fingir que era algo a passar logo. Quantas noites de sono não já tivera com aqueles dizeres a perturbando? E, naquela noite em específico, a perturbavam ainda mais. A sensação era muito, muito pior que de outrora.
"Q-quem… é v-você?" Uma sentença tão curta já demonstrava todo o medo a lhe atravessar agora, estremecia inteira. Abraçava os próprios braços numa tentativa inútil de impedir o frio, a sensibilidade muito mais psicológica do que física naquele momento. Nada era físico ali, na verdade.
Poderia condenar sua curiosidade por agora. Ela não gostaria de ter ouvido a resposta que ouviu, talvez o silêncio tivesse-lhe sido um melhor retorno.
"Eu sou a escuridão nos seus sonhos, filha de Aurora. Eu sempre estive lá, te vi crescer, te acompanhei por toda a sua vida. No fundo… você sabe disso, não sabe?"
Ela não queria concordar.
A cada frase dita, seu coração esfriava mais. O sangue parava lentamente de bombear, como se gelo o cobrisse e o tomasse por inteiro pelos segundos que se passavam.
Ela sabia, sabia.
Quando tentava esconder seu próprio terror em ser colocada para dormir por seus pais, ela sabia. Poderia vê-los morrendo, poderia ver os irmãos morrendo. Poderia ver desgraças, o caos se espalhando, os reinos ruindo. Quando apagava repentinamente, mesmo sem se ferir fisicamente, ela sabia. Qualquer minuto que fosse apagada em sua mente seria de tormenta. Enquanto crescia e fingia que dormir não era grande coisa, não era nada demais… ela sabia.
Suas noites de sono nunca seriam de paz.
"Eu sinto seu medo, Autumn Rose. Ele me é tão… doce. Não quer adormecer. Não quer ver ninguém morrendo em seus sonhos. Que lástima seria…"
Frio percorreu-lhe a espinha. Uma brisa gelada subia em seu interior.
"O-o q-que… o-o que quer d-dizer?"
E então as palavras que faria de tudo para não ouvir. Que, repetidas naquele pesadelo, traziam um peso maior do que em qualquer outro momento. O tom de ameaça era imensurável. A voz era cortante, podia sentir no seu âmago que estava diante de algo muito pior do que poderia imaginar.
"Venha até mim… Venha até mim resgatar seus amigos… Venha até mim ou os que ama serão os próximos…"
𝐍𝐀̃𝐎 𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐃𝐎𝐂𝐄𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐍𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐀 𝐁𝐎𝐀 𝐍𝐎𝐈𝐓𝐄.
Acordou de súbito num susto.
Seu coração batia tão forte que ecoava por seus ouvidos, a respiração acelerada, tentando recuperar o fôlego. O nervosismo sentido no próprio sonho era bem verdadeiro agora, num nível nada habitual de seus terrores da madrugada. Sentada em sua própria cama, observou o cenário ao seu redor, esperando ser o suficiente para recobrar os sentidos e se acalmar de vez.
Meili dormia tranquila em sua cama, a expressão serena — ela definitivamente teria gostado de ver como seus cabelos repousavam bonitos no travesseiro. Louis, rotineiramente de anos a fio, com sua faca escondida, e a posição, ainda que adormecida, sempre em guarda. A familiaridade da cena num todo permitiu que as batidas do seu coração seguissem um passo um pouco mais leve, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Fora apenas um sonho ruim, como de praxe.
A sensação daquele sonho, no entanto, queimava em sua garganta. Algo nele se diferenciava dos demais, mesmo sem nenhuma imagem formada em sua mente, sem nada a ser visualizado, ele era real demais. A voz nunca se comunicara daquela maneira até então, dessa vez recitando palavras tão direcionadas a Autumn, que mesmo acostumada com seu poder, sentia algo de pior a envolvendo naquele momento. Seus medos… seus medos estavam ali. Escancarados.
E quanto à escuridão? Que tal voz dissera sempre estar— não, preferia sequer pensar. Estava apenas numa maré de pesadelos, provavelmente agravados por todos os eventos no dia do jogo, nada mais que isso. Era apenas isso.
Iria passar, repetiu mentalmente como num mantra.
Iria passar.
"Venha até mim…"
O quê?
"Eu disse, eu disse que você não iria se livrar de mim tão fácil."
Olhou ao seu redor, girando o corpo na tentativa de entender se estava de fato ouvindo o que ouvia. Havia alguém ali? Não, estavam somente ela, Meili e Lou, nenhum tarado às vistas. O amigo francês já teria cuidado disso, se fosse o caso. Se não era nenhum tarado, então…
Como era possível que a voz sussurrasse em seus ouvidos mesmo acordada? Uma nova categoria do seu poder que não estava sabendo? "Tem alguém aí?" Seu tom era baixo, quase inaudível, na esperança de não acordar nenhum dos colegas de quarto. Não precisava assustar mais pessoas do que já havia feito anteriormente por conta de seus despertares repentinos.
"Eu sempre estive." Uma risada perversa ressoou em sua própria mente, fazendo-a tremer. "Não vai vir comigo, Autumn Rose?"
As palavras ditas poucos minutos atrás ainda em sonho lhe eram vívidas, recitavam-se em sua cabeça como um poema macabro. A pergunta feita agora não era em vão, considerava-se praticamente retórica em seu prenúncio, sabendo do que implicava por trás. Não ir junto significava, consequentemente, a vida de seus amigos e familiares em perigo. Era-lhe dada a chance de resgatá-los… algo que nunca fora possível antes. Em todas as suas visões, tudo o que podia fazer era aceitar o destino perverso, sabendo que o futuro estava definido de uma forma que nem a maior de suas tentativas seria capaz de desfazer o nó.
Deveria acreditar naquela chance? Não, não seria necessário, seus amigos estavam tranquilos, adormecidos, em suas respectivas camas. Todos os outros estariam bem, também. Seguros. Seu medo não se concretizaria pois nenhuma ameaça daquelas era real. Numa tentativa de afastar os pensamentos ruins, piscou forte, balançando a cabeça. Abriu os olhos e…
Ninguém se encontrava mais ali.
Tudo estava vazio e revirado, apenas Autumn permanecia na cena, ainda em suas roupas de dormir. A janela se escancarou de repente, fazendo com que o ar gelado da noite tomasse o ambiente por completo. O mesmo frio que sentira em sonho, novamente lhe atingia. Seu coração estava disparado, quase na boca. O que haviam feito à Meimei e Lou? E aos outros? Teriam sido igualmente levados? Para onde haviam sido levados? Aquilo tinha que ser fruto da sua imaginação, tinha que ser, tinha que ser. Levantou-se da cama e, trêmula, disse: "Isso… isso é um jogo. Você 'tá brincando com a minha mente."
"Quer mesmo arriscar? Quer mesmo… pagar pra ver? Você vai pagar caro se quiser ver com os próprios olhos."
Ela não queria arriscar. Não seria ela a causa do perigo a seus amigos quando tanto desejava, ao longo dos anos, ter a seu alcance a possibilidade de protegê-los de suas visões terríveis. Dormia todos os dias desejando com afinco jamais ver nenhum deles nas suas premonições, era sua prece silenciosa, e acordava todos os dias respirando aliviada quando não os encontrava em pensamento. Quem quer que achasse bonita e poética a ideia de ter alguém sonhando consigo, de modo nenhum ansiaria o mesmo vindo de Autumn Rose.
"O q-que eu p-preciso fazer?"
Entenda, em nenhum outro momento a princesa teria feito o que fez. Teria recorrido a todos os lugares possíveis da sua mente para questionar com maior destreza o que se passava diante de seus olhos. Teria discutido com a voz — vindo da nossa querida protagonista matraqueira, sabemos que, de fato, faria isso —, apelando a tudo para descobrir mais informações. E, o mais importante: não teria acreditado no que ouvia. O que ali a colocava em maus lençóis era, em sua completude, não poder ver os amigos. Não poder tocá-los. Não poder se certificar de que eles estavam são e salvos. A mera possibilidade da concretização das ameaças era o que a paralisava e impedia de ter pensamentos plenamente racionais, qualquer discernimento ou convicção estavam sendo deixados de lado.
"Venha."
Como no mais absoluto transe, a garota sequer precisou questionar até onde deveria ir. Seus pés descalços moveram-se inconscientemente, a pele tocando o chão frio, guiando-a pelo castelo afora. Ela não era mais ela, puro medo apenas. Esforçava-se em não refletir para onde estava sendo levada por seu corpo, sabia que qualquer resposta a aterrorizaria, principalmente quando já estava fora do seu possível território seguro — seu quarto em Aderem.
Não fora assim que sua mãe se destinara à roca?
Não, Autumn Rose, você não vai pensar nisso agora, refletiu.
O piso frio de pedra da majestosa construção logo fora substituído por grama gelada, úmida de carvalho. A sensação, que em outro dia lhe faria cócegas e ocasionaria um sorriso afável no rosto, era terrivelmente arrepiante agora. Provocava-lhe pequenos espasmos em calafrio, e tentava não se ater ao fato de que trajava apenas uma fina camisola branca, que em nada a protegia. A lua iluminando seu caminho era a única coisa a qual se agarrava de não abandonar a sanidade de vez, era sua luz em meio a uma caminhada lenta e sofrida de suspense. O seu destino, no entanto, não era mais mistério.
Naquela escuridão, ela entrara. Naquela noite, ela entrara.
Havia adentrado na Floresta Assombrada.
"Eu estou aqui! O que quer de mim agora?" Esforçou-se no melhor tom firme que pôde, não era hora de baixar a guarda e deixar sua voz vacilante. Sequer sabia para onde deveria olhar, a escuridão a tomava quase que completamente conforme embrenhava-se por entre as árvores.
Se aquele era um pesadelo ou não, Autumn não saberia dizer. Tudo parecia ser fruto de sua mente e ao mesmo tempo tão real. Teria ela acordado apenas em sonhos e entrado em outro pesadelo? Infelizmente, nem essa seria uma alternativa reconfortante. Ver quem quer que fosse em perigo ou morrendo, implicaria numa realidade tão trágica quanto. E aquilo, justo aquilo, deixava-a infinitamente mais temerosa. Não havia uma boa opção.
Mais uma vez, a voz profunda. Vibrando em seu corpo.
"Eu tenho aqueles que você ama, Autumn Rose. O que acha que deveria me dar em troca?"
Então de fato levaram todos. Seus temores se confirmaram ali, apesar de nenhuma prova realmente concreta — coisa que apenas em transe se permitia não questionar. O rosto de todas as pessoas que amava passou por seus olhos numa questão de milésimos de segundo, o coração acelerando mais e mais conforme cada familiar ou amigo querido era lembrado. Ela não podia perdê-los, nenhum deles.
O que ela deveria dar em troca? O que tinha a oferecer? Mal seus questionamentos começaram, imediatamente terminaram, interrompidos por uma figura que, mesmo em meio à escuridão, se destacava. Encapuzada, um manto preto a cobrindo, a criatura nem mesmo tocava o chão, seu rosto impossível de ser visualizado — talvez por não haver um. Não sabia nomeá-la, mas a sentia. Sentia sua energia e toda a falta dela na atmosfera a seu redor, quase como se tudo estivesse perdendo a vida simplesmente por estar em sua presença.
Autumn tinha a impressão, a leve impressão, de algo tocando-a em seu interior. Tocando-a em um lugar nunca antes visitado, escondido, reprimido. Um lugar que a voz sabia existir quando nem a própria Stein se permitia ter verdadeira noção. Ela sabia e não se permitia? Sabia e não queria? No fundo, ela sabia e negava a existência. Nunca entraria em contato, nunca deixaria tocá-la.
Em todos aqueles anos, desde o terceiro de vida, algo colorido em si tornara-se preto, obscuro, opaco. Não possibilitava nenhuma passagem de luz. Era invisível aos olhos, impossível ao toque, fácil de negar aos pouco incrédulos — incredulidade essa maior ainda conforme crescia e sua personalidade era tão, tão doce. Ninguém acreditaria no que havia ali. Nem mesmo a jovem princesa, que não via o lado bom dos contos de fadas em vão. Tinha de ver ou se entregaria a algo obscuro demais para o que se julgava ser capaz de controlar.
E, naquele momento, ela entendeu. Era justamente o que a criatura desejava. Ao dizer estar sempre lá. Sentir seu medo. Ter aqueles que amava. A resposta, tão simples, tão curta numa sentença, era seu pior pesadelo. Ela queria tanto acordar. Queria tanto.
Aquela era sua troca.
Sua mente.
"É isso que você quer, não é?" Não precisava dizer em voz alta, a confirmação meramente formalidade, considerando que a criatura já estava ali, fazendo-a companhia em seus pensamentos.
"E você não vai se negar a isso. Eu e você, nós dois sabemos."
Ela não iria. Não iria negar sua mente em troca da sua família, dos seus amigos. Não pensaria duas vezes a respeito e, mesmo que tivesse de pensar um milhão de vezes, a resposta, a conclusão, seria eternamente a mesma: estava entregue.
"Boa escolha."
Imediatamente, uma dor de cabeça insuportável a tomou. Explodia seus nervos, cada pontada era uma agulha quente perfurando seu crânio. Gritou em agonia, levando as mãos a cabeça, caindo sob seus joelhos, o corpo indo de encontro ao chão logo em seguida. Era feita de dor, dor era tudo que conseguia sentir, os pensamentos se exauriam. Ela chorava, chorava copiosamente. Na noite escura e silenciosa daquela floresta, apenas o choro de Autumn Rose era ouvido.
Passara a vida tendo a mente nunca pertencendo a si. Nunca fora sua e jamais seria. Era invadida por visões ruins, por pesadelos, por presságios de mortes e tragédias. Era obrigada, forçada, a entrar em contato com um lado sombrio dos contos o qual nunca gostaria de ver. Seus pensamentos a torturavam, eram uma prisão que não permitia quietude. E se esforçava tanto, tentava tanto, fazia de tudo para nunca mostrar seu terror. Era invadida diariamente, incessantemente.
Se tivesse de ser invadida, então, que fosse para salvar aqueles que amava. Se o seu maior medo era dormir para não lidar com os pesadelos e ver pessoas queridas morrendo, sentir-se impotente ao ver a tragédia com seus próprios olhos, aquele era o momento em que se faria útil. Que sua mente servisse agora. Que a tomassem, estraçalhassem, pegassem-na para si e tornassem nada.
Ela nunca fora sua.
Seus pais poderiam tentar se enganar, poderiam tentar enganá-la. Seus irmãos poderiam tentar protegê-la, poderiam prometer que ficaria sã e salva. Seus amigos sequer poderiam fazer algo, pois mentia, mentia que estava tudo bem. Sempre fora boa em disfarçar, afinal. Ninguém imaginava o quanto. Crescera sendo uma mentirosa nata, mentindo com um sorriso no rosto que seus apagões não eram nada — quando eles eram tudo, tudo. Tudo o que a destruía.
Quão ingênua fora de achar que poderia levar uma vida minimamente normal? De se iludir a ponto de achar que Aether poderia ser sua casa, que poderia encontrar um novo lar nos amigos que faria, quando tudo o que lhe restava agora era sua mente reduzida a pó? Tanto desejara se desfazer de suas recordações e era exatamente o que acontecia agora. Mas faria de novo, de novo e de novo, sem hesitar, se aquilo significasse salvar a quem amava.
Foi então que, com os pensamentos já se exaurindo, com toda a sua felicidade sendo sugada, palavras começaram a ressoar por seus ouvidos. Lembranças que ecoavam vívidas em sua memória, praticamente inaudíveis em meio ao seu próprio choro de soluçar. Ela se encolhia em posição fetal, tomada por terra e folhas secas, toda a sua angústia se traduzindo em lágrimas salgadas.
"Não precisa ter medo, Rosie. Você sabe, lá no fundo, que nunca vai estar sozinha de verdade. Dá pra sentir a quantidade de pessoas que te amam, não dá? Isso nunca vão tirar de você." A voz de Arend, numa cena de anos atrás, se repetia naquele momento. Era tão difícil não sentir medo, El. Tão difícil não se sentir sozinha. Estava fraca, tão fraca. Queria sentir todos ali, com ela. Precisava disso. Em meio ao pranto, tentou. Tentou não ter medo. Tentou pensar nos que tanto amava como um último refúgio, um último suspiro de sua mente minimamente sã. Uma despedida.
"Autumn Stein, seu coração é tão grande que me surpreende ele caber em seu corpo." Ah, Phelie. As doces palavras de Ophelia traziam um afago, a própria amiga era um grande afago para a princesa. Pensar em seu coração no momento em que este estava tão gélido quase… quase o aquecia novamente. Uma pontada de calor o tomava. Mas ela conseguiria se salvar? Não parecia possível, era tão distante. Tão inalcançável.
"Quer saber? Não há como sentir que algo é impossível de ser feito quando se está ao seu lado, Stein." Louis. Seu irreconhecível sotaque agora ressoava por seus ouvidos. A frase, dita num contexto tão diferente, ali a energizava. Lembrava do seu sorriso estupidamente grande na época em que ouvira o que ouviu. Seria mesmo verdade o que ele dissera? Seria capaz de provar isso? Seria capaz de se provar?
"Dá o primeiro passo." Uma voz baixa reverberou dentro de si.  Uma voz única em sua vida. Meili. "Dá o primeiro passo, o resto da coragem vem depois." A sentença, que num primeiro momento parecia tão elementar e simplória, era o impulso a lhe faltar naquele momento. A coragem da amiga a inspirava. Respirando fundo, aguentando a própria dor infindável, ergueu-se sob os próprios pés. A voz, fraca de tamanho sofrimento, se fez firme, soltava centelhas no ar.
"Eu não vou te deixar vencer."
Da pouca luz que naquele momento havia dentro de si, ela não deixaria se apagar. Não momentaneamente, não de vez. Revoltava-se contra o apagar da luz. Não seria tomada pela escuridão, pelas trevas, pelo preto, que tão pequeno dentro de si, tentava se alastrar. Permitiu-se, enfim, encarar a figura encapuzada. Os punhos cerrados, os dentes rangiam em controlar as expressões de dor. Ela iria aguentar.
Iria.
Em questão de segundos, a criatura soltou um som estrangulado, um grito agudo, esganiçado. Seu rosto, apesar de não haver algum, se contorcia, mexia-se em agonia, em desespero. Era uma imagem horrenda, angustiante.
Em sua frente, se desfez. Reduziu-se a pó.
Autumn tremia da cabeça aos pés, incrédula. Seu rosto era um misto de terror e alívio, absorvendo o que acabara de acontecer diante dos seus olhos e em sua mente. Estava livre da escuridão, ela não era o certo.
Suas memórias foram sua âncora. Os que amava, sua salvação.
Mas... até quando aquilo seria o suficiente?
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