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151 pessoas trans morreram no Brasil em 2022, segundo dossiê
@AntraBrasil
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) realizou um levantamento apontando que, em 2022, 131 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, enquanto outras 20 tiraram a própria vida. Os dados constam no “Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras”, entregues ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) no dia 26 de janeiro. Dessas 151…
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Natural de MG; Influencer e policial trans, Paulo Vaz morre aos 37 anos
Natural de MG; Influencer e policial trans, Paulo Vaz morre aos 37 anos
O policial civil trans Paulo Vaz, de 36 anos, morreu na segunda-feira (14). As causas da morte não foram divulgadas. Investigador da Policial Civil desde abril de 2018, Paulo também era influencer e participava ao lado do marido, Pedro HMC, do canal LGBTQIA+ Põe na Roda, que tem mais de 1,2 milhão de seguidores. Nas redes sociais, políticos, ONGs e famosos lamentaram a morte de Paulo Vaz. “A…
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Influencer e policial trans, Paulo Vaz morre aos 36 anos em São Paulo
Influencer e policial trans, Paulo Vaz morre aos 36 anos em São Paulo
Morreu na noite desta segunda-feira (14) o policial trans Paulo Vaz, de 36 anos. O agente também era muito conhecido nas redes sociais onde era uma das vozes mais ativas da militância transexual. As causas da morte não foram informadas. "Acabamos de saber que Paulo Vaz nos deixou. Infelizmente perdemos mais um de nós que não suportou continuar em uma sociedade tão violenta e desumana. Obrigada…
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Paulo Vaz, influencer e policial trans, morre aos 36 anos em SP
Paulo Vaz, influencer e policial trans, morre aos 36 anos em SP
Pelas redes sociais, políticos lamentaram a morte do influencer. Ele era um dos poucos homens transexuais que trabalhavam na polícia. A causa da morte não foi divulgada. Paulo Vaz Reprodução/ Redes Sociais O policial civil trans Paulo Vaz, de 36 anos, morreu na noite desta segunda-feira (14), segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Paulo ficou conhecido por ser um dos…
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Euphoria: Hunter Schafer comenta futuro de Jules na 2ª temporada da série
<span class="hidden">–</span>CAPRICHO/Divulgação
A 2ª temporada de Euphoria ainda é um mistério. Apesar do lançamento de dois episódios especiais, não há sinais de quando a nova temporada da série da HBO chegará. Mas, enquanto os fãs aguardam ansiosos, Hunter Schafer, que interpreta Jules, comentou o que espera do futuro de sua personagem.
Hunter refletiu sobre a jornada de Jules, principalmente após o lançamento do seu episódio especial, no início deste ano, em que ela comenta bastante sobre gênero e identidade. “[Espero que] este crescimento e interrogatório de Jules … e o que ela quer e, finalmente, encontrar intimidades mais novas e saudáveis em seus relacionamentos, que espero que sejam mais queer e saudáveis…[espero] que continue”, disse a atriz e modelo em entrevista ao IndieWire.
<span class="hidden">–</span>Divulgação/Divulgação
A atriz também comentou que a temática do especial, que, segundo ela, é “sobre Jules se questionando e levantando questões válidas sobre por que ela está passando por sua transição da maneira que está. O que é um processo saudável, verificar a si mesmo e se perguntar: ‘Por que estou fazendo isso, como isso me faz sentir e quem estou tentando ser?’”.
O episódio, inclusive, foi escrito pela própria Hunter junto com o criador de Euphoria, Sam Levinson. A experiência foi importante para ela, como revelou ao Entertainment Weekly. “Parecia uma oportunidade segura de mergulhar nisso e ter controle sobre aquela narrativa e abordá-la com uma sensação de liberdade”, afirmou.
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Mesmo com a história de Jules e seu desenvolvimento sendo uma importante representação para a população trans, Hunter quer ver ainda mais progresso nessa área. “Eu quero ver pessoas trans dirigindo, não apenas porque eu acho que elas podem fazer um trabalho melhor nos representando…Mas eu acho que há um certo nível de criatividade que é inerente à transgeneridade e muito especial ao transgênero que é único, e não recebeu o financiamento nem a oportunidade de ser feita que eu acho que merece”, disse ao Indie Wire.
Já em relação às pessoas trans na frente das câmeras, Hunter acha que todos os tipos de histórias devem ser contadas, e não só aquelas que se encaixam em certos padrões. “Em termos de representação, ainda estamos trabalhando para conseguir mulheres trans que se encontrem em muitos extremos diferentes do espectro da beleza convencional e atração convencional e formas convencionais de navegar pelo gênero e sexualidade “, afirmou. “Há uma infinidade de maneiras de fazer isso. E muitas pessoas trans passam por tudo isso de inúmeras maneiras, incluindo eu mesma. ”
Estamos torcendo para que essas questões sejam aprofundadas na 2ª temporada de Euphoria.
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Morre mulher trans que realizava cirurgia em clínica que pegou fogo em SP; marido diz que ela foi abandonada durante incêndio
Lorena Muniz, de 25 anos, se recuperava de um procedimento estético quando o incêndio teve início. Ela foi internada em estado grave no Hospital das Clínicas por ter inalado fumaça e morreu na madrugada desta segunda (22), de acordo com o hospital. Lorena Muniz em foto publicada nas redes sociais Reprodução/Instagram Uma mulher trans, de 25 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (22), em São Paulo. Ela estava internada no Hospital das Clínicas, na Zona Oeste da cidade, desde a última quarta (17). Lorena Muniz passou por uma cirurgia de implante de silicone em uma clínica onde ocorreu um incêndio. Segundo Washington Barbosa, marido de de Lorena, ela foi abandonada dentro de uma sala da clínica estética, no Centro de São Paulo, após o imóvel pegar fogo na quarta (17). Lorena Muniz estava sedada para a realização de uma cirurgia de implante de silicone quando teve início o incêndio. Ainda de acordo com Barbosa, ela inalou fumaça e ficou inconsciente por sete minutos antes de ser retirada do local. Lorena foi levada ao Hospital das Clínicas e teve a morte confirmada pelo hospital nesta segunda (22). Em postagem nas redes sociais, Washington disse que o ar condicionado da clínica de estética pegou fogo e todos os funcionários saíram, deixando Lorena inconsciente em uma sala. De acordo com o Corpo de Bombeiros, três viaturas foram acionadas na quarta-feira (17) para conter um incêndio em um prédio comercial na Rua da Glória, no Centro de São Paulo. Em nota, a corporação diz que “o incêndio se alastrou e a vítima, que estava dentro do local realizando um procedimento estético, foi socorrida ao hospital”. O boletim de ocorrência do caso diz que uma equipe de uma agência de energia elétrica realizava uma manutenção na rua quando ocorreu uma explosão dentro da clínica, dando início ao incêndio. A Secretaria de Segurança Pública alega que foi solicitada perícia no estabelecimento e também um exame de corpo de delito. O caso foi registrado como incêndio e lesão corporal culposa no 1º Distrito Policial (Sé), que investiga o caso por meio de um inquérito policial. Um vídeo que circula nas redes sociais de ativistas mostra pacientes da clínica na calçada, relatando que um incêndio havia ocorrido e que ainda havia uma pessoa dentro do local. Imagens de redes sociais mostram pacientes de clínica de estética no Centro de SP, onde ocorreu um incêndio nesta quarta-feira (17) Reprodução/Instagram Também em posts nas redes sociais, Washington disse que as equipes das parlamentares trans Erica Malunguinho (PSOL) e Erika Hilton (PSOL) se mobilizaram para ajudá-lo a ir para São Paulo acompanhar a esposa internada, já que os dois moram em Recife. Ele chegou à capital neste sábado (20). Nas redes sociais, a clínica informa que está localizada em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. No entanto, segundo a SSP, o incêndio ocorreu em um endereço comercial na Liberdade, região central da capital. Procurada pelo G1, a clínica Paulino Plástica Segura não respondeu até a última atualização desta reportagem. Washington Barbosa, marido de Lorena, fez desabafo em redes sociais sobre situação em clínica de SP Reprodução/Instagram Vídeos: Tudo sobre São Paulo e região Metropolitana
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Monografia
Problema
Como abordar os dilemas da identidade enfrentados por jovens na contemporaneidade?
Hipótese
Através da representatividade - o poder da identificação do leitor com as personagens - e uma metáfora baseada num universo de baixa fantasia, abrirei espaço para a discussão desse colapso de mundos no processo identitário contemporâneo.
Referencial teórico
- Desvendando Os Quadrinhos, de Scott McCloud - Narrativas Gráficas, de Will Eisner - Desenhando Quadrinhos, de Scott McCloud - A Identidade Cultural Na Pós Modernidade, de Stuart Hall - Identidade, de Zygmund Bauman - O desafio das identidades, de José Manuel Oliveira Mendes - O poder da identidade, de Manuel Castells - As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricas, de Luciano dos Santos - The A to Z of Fantasy Literature, de Brian Stableford
Objetivo geral
Fortalecer pessoas que possam passar por diversas questões e dilemas quanto o processo de identidade nos contextos da atualidade.
Objetivos específicos
- Explorar questões políticas, sexuais, raciais, mentais, entre outros, lado a lado com a temática fantástica. - Trazer à tona a importância da unidade em tempos de crise. - Buscar uma linguagem coesa específica para o meu público alvo através da arte sequencial. - Fazer bom uso da baixa fantasia para explorar questões realistas. - Construir um universo diverso para que meu público consiga se identificar.
Justificativa
Esse projeto é pertinente porque trata de questões extremamente atuais que decisivamente devem ser mais, senão exaustivamente, exploradas.
I. Casos
Falar de identidade, conceitualmente, pode soar um pouco nebuloso e nos distanciar dos reais efeitos dos dilemas identitários que a humanidade passou ao longo desse século, e outros séculos passados também. A grande questão não está no passado, mas sim nos pesos que carregamos desde lá até os dias atuais. Não pretendo voltar muito na história, podemos só avaliar os acontecimentos deste século mesmo.
Entre eles; em 1968, em plena época de ditadura militar, foi comandado pelo governo a construção da BR-174, rodovia que cortaria o território dos waimiri-atroari. Não era a primeira vez que um projeto desses tinha sido posto na época - projetos esses que passavam por cima dos direitos indígenas, “principalmente o direito deles saberem o que estava acontecendo”, como diz o jornalista Leonardo Cazes. Em junho desse mesmo mês, os índios da região, que já viviam em conflito com seringueiros, posseiros ou militares que se punham a construir obras em seu território, aparecem próximo aos canteiros da obra. O diretor do até então Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Manaus, coronel Manuel Carijó, pediu ajuda à Funai.
Em tentativa de contato com os waimiri-atroari, nove membros da equipe foram mortos. Quatro anos depois, sob o governo Médici, a Funai abriu quatro pontos de atração nesse mesmo território. Obviamente, os índios se encontraram numa situação tensa; sem respeito com seus direitos, viviam em conflito com empreiteiros. Afinal, o território era, sim, deles. Mais de uma dezena de funcionários da Funai morreram em chacinas entre 1973 e 1974. O exército foi acionado e respondeu à balas.
Esse exemplo é apenas um dos milhares de ocorrências somente durante o período de ditadura para com as comunidades indígenas. Voltando um pouco mais no tempo, em 1910, quando foi criado o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), o marechal Rondon cunhou o seu slogan; “Morrer se preciso for, matar nunca”. Interessantemente, esse dito ecoou até os anos 60 e 70, mas apesar disso a ação mais comum do governo nessa época foi o massacre de tribos inteiras. Em Os Fuzis E As Flechas: A História De Sangue E Resistência Indígena Na Ditadura, o jornalista Rubens Valente relata que funcionários do SPI, e mais tarde da Funai, eram convocados para “amansar” os indígenas toda vez que erguia-se obras faraônicas sem a aprovação das tribos. O próprio contato com os homens brancos, relata, provocavam epidemias de doenças como gripe e sarampo. Sem remédios, os funcionários que deveriam ajudar acabavam por exterminar tribos inteiras.
Antes fosse somente esses os problemas que as comunidades indígenas enfrentam; confessaria mais tarde um coronel que todos os documentos para com pelo menos os waimiria-atroari foram incinerados. Valente vê uma ação deliberada dos militares de abafar todos esses casos ou casos relativos à indígenas durante a ditadura. Os generais sabiam, disse, que haveria uma pressão internacional muito forte caso milhares de mortes viessem à tona. O resultado é o que vivemos hoje em dia; o silenciamento dessa e várias outras violências.
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Aqui, vemos o cacique guarani Marçal de Sousa denunciando ao Papa João Paulo II os assassinatos cometidos contra o seu povo no Mato Grosso do Sul, durante visita do pontíficie ao Brasil.
Podemos, ainda, explorar casos mais recentes com grupos alternativos. Em 2016, o Grupo Gay da Bahia, responsável pelo levantamento do Relatório de Assassinatos LGBT no Brasil, fechou com aproximadamente 340 mortes - maior número registrado nos últimos anos.
Segundo Luiz Mott, antropólogo fundador do grupo, o aumento se deve à diversos fatores, como a coleta mais sistematizada de informações e a reação conservadora ao maior número de pessoas que vem assumindo sua sexualidade. Isso os deixa mais expostos à situações de violência, o que diretamente leva ao aumento generalizado de crimes.
A notificação das mortes é, ainda, um desafio para as entidades que monitoram o problema. Entretanto, de acordo com o último relatório, a ONG relata que um indivíduo LGBT morre a cada 28 horas no Brasil. Se a tendência for aumentar, esse intervalo pode cair para 24 horas. “É apenas a ponta do iceberg, porque muitos são assassinados e as testemunhas escondem”, diz Mott.
Entre um dos casos contabilizados está a morte de Luís Carlos Ruas, espancado na noite de Natal por dois homens dentro da estação Pedro 2º em São Paulo, ao defender moradores de rua e travestis. Apesar do “Índio” - como era conhecido Luís Carlos Ruas - ser heterossexual, o GGB arquivou o caso como crime LGBTfóbico por se tratar da defesa de uma travesti.
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Luís Carlos Ruas, o “Índio”. Vendia doces em frente à estação onde foi espancado até a morte após defender travestis.
“99% dos crimes contra LGBTs tem como agravante a intolerância, além da vulnerabilidade de grupos como travestis, que geralmente estão nas ruas em condições mais marginalizadas, envolvidas com prostituição e o uso de drogas devido à exclusão sofrida em outros espaços da sociedade”, explica Mott. Essa opinião é compartilhada em várias outras instituições que cuidam da defesa de pessoas LGBT, principalmente transexuais.
Outro dado alarmante é o fato de que o Brasil leva a liderança do ranking mundial de pessoas trans em 2016; sem sombra de dúvidas um efeito direto do alto indíce de violência. Das 295 mortes registradas até setembro de 2016 em 33 países diferentes, 123 ocorreram no Brasil, de acordo com a ONG Transgender Europe. O relatório europeu mostra que, de janeiro de 2008 a setembro de 2016, foram registradas 2264 mortes de transexuais e transgêneros em 68 países. Nesses oito anos de pesquisa, o Brasil contabilizou 900 dos casos, o maior número absoluto da lista.
Mais recente ainda só o caso do Queer Museu, onde o Movimento Brasil Livre (MBL), famoso movimento conservador brasileiro, acusou uma exposição voltada ao público LGBT de ser “ofensiva”, que “desrespeita religiões” e “incita atividade criminal”. De certa forma, houve uma reação histérica conservadora de dimensões tão grandes que o Santander, que bancou a exposição, reagiu e cancelou tudo; até mesmo se oferecendo a devolver o dinheiro que recebeu para bancá-la. Mais uma vez, em pleno ano de 2017, somos obrigados a testemunhar o silenciamento de minorias - apenas a censura em mais uma de suas formas.
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Um dos quadros acusados de “estímulo à pedofilia” durante a atual onda de histeria conservadora sobre arte.
Há ainda uma terceira esfera que gostaria de explorar; em uma notícia da BBC de junho de 2016, é relatado como a Comissão Parlamentar do Inquérito (CPI) lançou, no relatório final do Senado sobre Assassinato de Jovens, um dado revelando que, todo ano, somente no Brasil, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados. 63 por dia; um a cada 23 minutos.
O assassinato de jovens é tão frequente que especialistas usam o termo “epidemia” para se referir à essa mortandade, principalmente quando se trata de jovens negros. De acordo com o Mapa de Violência do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz (que toma como base os dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde), a taxa de homicídios entre jovens negros é quase quatro vezes a verificada entre os brancos (36,9 a cada 100 mil habitantes, contra 9,6).
A CPI vai mais a fundo e destaca a responsabilidade do Estado, por ação ou omissão. “Em um ambiente onde a omissão do poder público suscita o aparecimento de grupos organizados de traficantes, bem como de milícias, os índices de violência contra a juventude negra atingem o paroxismo. De outro lado, o crescimento da violência policial contra esses jovens também é uma chocante realidade. Situações envolvendo a morte de jovens negros, sobretudo aquelas cujas justificativas da ação policial se apoiam nos chamados autos de resistência”.
Autos de resistência, no caso, são registros de mortes ocorridas em supostos confrontos nos quais o policial afirma ter atirado para se defender. Nesses casos, o Código de Processo Penal autoriza o uso de quaisquer meios para que o policial se defenda ou vença a resistência. Determina também que seja lavrado um auto, assinado por duas testemunhas - daí o nome “auto de resistência”. Muitas vezes, tais registros escondem execuções em “confrontos” que nunca aconteceram. Ainda sobre esses autos, a Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) aponta que, somente entre 2009 e 2013, as polícias brasileiras mataram 11.193 pessoas em casos listados como autos de resistência - seis mortes por dia, sabendo que o total é subnotificado, pois alguns estados não repassaram dados ao FBSP. O professor e sociólogo da UFRJ Michel Misse, numa pesquisa realizada em 2005, no Rio de Janeiro, indica que, entre os inquéritos de autos, 99,2% foram arquivados ou nunca chegaram à fase de denúncia.
Em sua tese de doutorado de Ciências Políticas na UFF (Universidade Federal Fluminense), o delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone fez dos autos de resistência seu tema. Ao analisar 314 casos de autos entre 2003 a 2010 no Rio, Zaccone aponta a responsabilidade não só da polícia mas também do Ministério Público na construção de um sistema onde a maior preocupação é saber se o morto era ou não ligado ao tráfico ao invés de esclarecer as circunstâncias de sua morte. “A folha de antecedentes penais do morto é usada sistematicamente para pedir o arquivamento. Várias instituições se articulam nesse processo, o que caracteriza uma política de Estado na qual se admite que há pessoas extermináveis”, analisa Zaccone.
A PEC 51 (que, entre outras medidas, desmilitariza e unifica as polícias) e o projeto projeto de lei 4.471/2012, que extingue os autos de resistência, determina a abertura de inquérito e abre a possibilidade de prisão em flagrante do policial em caso de auto de resistência enfrentam a oposição de parlamentares mais ligados a corporações policiais. Muitos argumentam que o projeto 4.471 pode acabar amedrontando o policial que está em campo, em confronto real com criminosos.
Outro tema muito pouco discutido nessa CPI foi a morte de jovens infratores abrigados em unidades para ressocialização. Em uma audiência pública realizada em 15 de junho de 2015, foram apresentados os dados oficiais do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo): em 2013, 29 adolescentes infratores morreram sob custódia do Estado.
A causa mais comum é o “conflito interpessoal” (59% do total), seguido de conflito generalizado (17%) e uma proporção estarrecedora de suicídios dentro do sistema - 14%. No Brasil há cerca de 24 mil adolescentes em “situação de privação de liberdade”, ou seja, mantidos em unidades de ressocialização. Segundo o Sinase, 57,41% deles são pretos ou pardos, enquanto em 17,15% dos casos não houve resposta sobre cor ou raça.
II. Identidades
Aqui escolhi falar de somente três esferas e casos relevantes para meu projeto, mas é claro que existem muitos outros que eu poderia abordar também. Porém a parte realmente importante é saber o que, nesses casos, os unifica com os conceitos dos dilemas da identidade na contemporaneidade.
Em seu artigo As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricas, Luciano dos Santos chama a atenção para as diferentes categorias de tipologia identitária. Segundo Roger Chartier em seu livro A história cultural - entre práticas e representações, “a construção das identidades sociais seria o resultado de uma relação de força entre as representações impostas por aqueles que têm poder de classificar e de nomear a definição, submetida ou resistente, que cada comunidade produz de si mesma”.
Dentre as quatro formas de distinção identitárias, a primeira é conhecida como identidade de legitimação-dominação, cuja Dos Santos define como a identidade que “tem como objetivo central a expansão e legitimação da dominação de certos atores sociais sobre outros membros, ou de um povo sobre outro”. De acordo com Mendes em seu livro O desafio das identidades, essa dominação pode ocorrer nas identidades étnicas, em que um povo, ou grupo dominante, possui uma posição no espaço social que o leva a ter o poder simbólico de definir a “realidade”, condicionando, assim, a construção, legitimação e as representações das identidades. Nesse caso, se um determinado grupo é simbolicamente marcado como diferente, ele será socialmente excluído e terá desvantagens na partição de bens materiais. A afirmação da identidade, e simultaneamente a enunciação da diferença, permite que certos grupos da sociedade consigam garantir privilégios sobre os bens sociais.
Talvez seja óbvio agora as identidades de legitimação-dominação nos três exemplos que levantei inicialmente. Primeiro temos o governo durante a ditadura sob o caso da dizimação indígena - apesar de que, vale lembrar, até os dias de hoje comunidades indígenas sofrem nas mãos do governo. Em segundo, a maioria intolerante, violenta e histérica responsável pela marginalização da comunidade LGBT. Em terceiro, o Estado e a polícia, além de outros grupos racistas responsáveis pela epidemia de jovens negros no Brasil, assim como no mundo afora.
A segunda identidade vem como efeito direto à primeira, uma vez que vimos que os “dominado” não podem ser compreendidos como elementos passivos da sociedade. Isso porque vemos, até mesmo pelos exemplos que trouxe, que muitos buscam construir representações para deslegitimar não só as representações, mas também as práticas dominadoras. Essa identidade é conhecida como identidade de resistência-libertação. Geralmente criada por atores sociais que estão em condições de exploração, desvalorização, dominação e/ou exclusão dos bens simbólicos e materiais. Se relacionarmos a identidade de legitimação-dominação à ideologia (aqui representado como um falseamento, ocultamento e distorção da realidade, para além das formas de dominação de classe; aqui também estando em formas de dominação étnica, sexual, colonial, etc.), a identidade de resistência-libertação pode ser relacionado a utopia - não na forma de fantasia como é muitas vezes representado, mas sim da forma explorada por Eugênio Rezende de Carvalho em Nossa América: a utopia de um Novo Mundo: a realidade social desejável, necessária, todavia, inexistente. Logo, cria-se um projeto de resistência/libertação que dá unidade ao grupo e ao movimento para lutar contra o opressor.
Novamente, essa identidade é a mais fácil de se identificar nos exemplos que dei. As comunidades indígenas no primeiro, a comunidade LGBT no segundo e as famílias negras no terceiro.
Em terceiro lugar vem a chamada identidade de permanência-essência, a identidade que abarca todos os projetos de identidade que buscam afirmar um essencialismo das configurações culturais. Essas identidades se fundamentam em um discurso de um “ser coletivo e uno”. Alguns rápidos exemplos seriam a “britanicidade” na Era Thatcher, fundamentalismos religiosos dos anos 90, a xenofobia europeia, entre outros.
A quarta e última categoria é conhecida por identidade de mudança-transformação, que vem em oposição à permanência-essência. Essa identidade, também conhecida como não essencialista ou histórica, vê identidades como social e culturalmente construídas, logo, mutáveis e dinâmicas. Pois história é mudança, construção e reconstrução.
Embora essas duas últimas identidades sejam mais difíceis de relacionar com os meus três exemplos, é importante lembrar o que o próprio De Santos levanta em seu artigo que “esses quatro tipos (...) não podem serem compreendidos como o próprio real. Quando analisamos um projeto identitário, percebemos que é necessário utilizar mais de um tipo para poder compreendê-lo em sua complexidade”.
III. Conclusão
O processo de identificação é essencial para o meu projeto. Como afirma Stuart Hall, indivíduos pós modernos estão conceituados como isento de identidades fixas, permanentes ou essenciais. “A identidade tornou-se uma ‘festa móvel’”, ele afirma. Entretanto, Mendes, um pouco mais de vinte anos depois, nos traz a luz de que o que vemos é o contrário. De acordo com ele, as identificações pessoais e sociais estão continuamente procurando a estabilização, mesmo que provisória.
Concluímos que, na verdade, se por um lado a identidade não é uma ‘festa móvel’ - até mesmo por serem impossibilitadas pelos vários fatores que fazem minorias identitárias tornarem-se dominadas - por outro ela também não é uma essência imutável. Logo, por mais que concordemos que as identidades sejam construídas e reconstruídas, e que, de igual modo, na vivência social, muitos grupos a sintam e a defendam nos seus processos de luta política como sendo fixas e imutáveis, não acredito que seja nessa dicotomia entre essencialismo/não-essencialismo que se tire o melhor conhecimento das construções identitárias. Possivelmente, assim como De Santos escreve, creio que somente um estudo que traga esse processo como fruto desses dois elementos indissociáveis poderá melhor compreendê-lo.
Metodologia
Pesquisa
Referência bibliográfica (identidade, quadrinhos e fantasia)
Projetos análogos
Público alvo
Roteiro
Primeiros esboços
Prototipagem
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