Tumgik
#misun: descending into madness
gmsmisun · 4 years
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❥   𝐎𝐁𝐋𝐈𝐕𝐈𝐎𝐍    [ 𝙿.𝙾.𝚅 ]
𝑓𝑙𝑎𝑠𝘩𝑏𝑎𝑐𝑘 . sexta feira.   tw. violência, sangue, gore.
                em todas as ocasiões, seres vão observar o que querem observar, sempre. seja segura e saiba o que eles estão pensando. 
                 ouvia os gritos de clamor da arquibancada, entre rezas e xingamentos, sentia o mundo ao seu redor ecoar dentro de si, uma emoção maior, a êxtase nos gritos, a catarse, a ânsia por mais do qualquer que fosse aquela coisa que sujava o chão batido de sangue de mutante . . . claro, não que tudo aquilo agora passasse muito de um barulho branco entre as orelhas. depois de duas semanas sem dormir e repetidas pancadas, cortes, fraturas e até mesmo uma singular mordida nas seis partidas passadas, as coisas começavam a ficar um pouco fora de sintonia. mas a mente humana, assim como a mente de qualquer animal, é um ressonador, e ela respondia as ressonâncias do ambiente. sentia os gritos dentro de si, batendo contra as paredes internas, vazias, mesmo que não pudesse realmente vê-los do recuo, respondia a esses como respondia a vontade do instituto. era feita assim, por design. também não queria exatamente saber o porquê do instituto deixar alguém como ela, em penitência, guardada ali, fechar o último dia do festival, com a última batalha. muitos civis nem ao menos sabiam de sua existência ou das razões que a colocaram bem ali, mas presumia que poucos eram os espectadores convencionais que ficavam ali até a última luta, presumia também que havia alguns rumores sobre certos mutantes arredios de sexta-feira, que rondavam a arquibancada, ( mesmo que não exatamente preocupados com a veracidade daqueles rumores totalmente inventados ) dando um frenesi a mais a toda a arquibancada, estavam ali amontoados apenas para observarem o quão monstruosa uma espécie igual ela poderia ser. e misun deixaria que eles observassem.  
                   não era a estratégia mais inteligente, sabia, na verdade a mente computava que era uma estúpida escolha, porém a raiva que queimava dentro de si e agora não era restrita por uma coleira, transbordava. o que não deixava de ser irônico, sendo que essa era que tentou afastar por muito tempo, ainda que ela quisesse dar um basta na mania aprendida, a raiva não estava pronta para deixá-la.
              adentrou a arena com a adrenalina ainda pulsante em seu corpo de sua última batalha, mas era impassível enquanto os gritos abafados e sol da tarde agora lhe banhavam. não ouvia exatamente o que o apresentador falara, já havia escutado seis repetições das mesmas palavras,  e duvidava muito que as regras haviam mudado. tomava o tempo para fazer o que melhor sabia. estudar.  tantos os arredores quanto a sua oponente, a menina, do outro lado, diferente de si, claramente não contava com nenhum arranhão, os fios se eram devidamente presos em uma trança e a postura altiva. até mesmo em sua primeira luta, quem olhava a misun de cima, via um caso esquisito, a menina pequena que marchava sob o solo como um marechal, não assumia postura dessa, e sim de um soldado, cabeça baixa até o momento necessário. era uma das lições do tio, havia momentos e momentos, e quem você apresenta para o mundo, no final, acaba sendo mais importante do que seu interior. misun parecia um ser onírico. aguardou na retaguarda, de cabeça baixa. sabia que não mais poderia colocar um adversário para dormir sem cair no sono também, sabia que agora só poderia lutar. devido a lentidão da mente por fatores já citados, misun ainda deduzia centena de resultados daquela luta, assim como os próximos dez movimentos de sua adversária, e o que ela poderia fazer com a habilidade que possuía, quando o alarme de início soou.  
                   então, o olhar da menina mudou. repentinamente, era serena e assumia posição perigosa como já vista antes, ainda quieta com seus passos, esperava o primeiro movimento da adversária, já que essa parecia fazer tanta questão. conseguido ser rápida o suficiente para desviar de ação já prevista contra si, aproveitando para cotovelar as costas da outra, a empurrando, finalmente alcançando campo aberto, ao retornar, recepcionou a menina com um chute de calcanhar na costela que a faria perder o ar tempo o bastante para que pudesse ganhar vantagem. seus métodos agora, não eram exatamente o que aprenderam em aula, visto que ainda era uma iniciante, sabendo aplicar poucos golpes de krav maga, estava cansada demais para fazer aquilo, então, recorria ao estilo kang. o que seu tio lhe ensinara desde pequena, que era encravado profundo demais em seu código genético para esquecê-lo.  sua habilidade não era sentida, e sim calculada, não precisava de impulsos, bastava ser ensaiado, seus movimentos eram precisos e sabia se mover com graça, força de vontade e dedicação podia ser vista enquanto continuava na ofensiva. afastou-se assim que deixara a menina no chão, em busca de ar. seus ossos doíam, sentia que o corpo estava a minutos de parar de funcionar, sentido o gosto do próprio sangue na boca, bom, talvez depois de dois anos, finalmente estava ficando mole. a concentração na fisionomia, a impediu de perceber o que estava acontecendo quando apenas uma flecha passou raspando em seu braço, rasgando seu uniforme e um pouco da pele   ‘  merda.  ’   transmutação era uma habilidade irritante demais por ser formidável. ao que viu a menina reerguendo novamente um nova flecha, reacendeu todo o corpo, alvoroçado, misun disparou em direção a outra, derrapando ao desviar de mais uma flechada, chegando em tempo para impedir outro disparo   ‘   tsc, tsc   ’   comunicou em uma desaprovação divertida. puxou o fio do arco com força, o enrolando na mão e trazendo a garota contra o corpo, a imobilizando o braço direito, e finalmente agarrando a flecha para si. não sendo rápida o suficiente para se afastar ou desviar, foi chutada pela outra em sua barriga, depois em sua costela, estava perdendo o terreno, finalmente foi levada ao chão, mas todos os sentidos estavam acesos, estava plenamente atenta e a consciência formulava estratégias perigosas, então prendeu a mão que a levou ao chão, e em gesto rápido demais para ser analisado a esfaqueou com a flecha roubada. ouviu o grito de dor da outra, e por um momento achou que a plateia se silenciou, mas não tinha a certeza, poderia muito bem ser coisa de sua cabeça. sem tempo para pensar, levou a menina ao chão com as pernas, subindo em cima da mesma, com a pernas em volta do quadril alheio, impedindo qualquer movimento.   ‘  seja forte  ’   falava para a garota que gritava de dor.
                   por favor não, ouviu a menina sussurrar. misun fez a única coisa que sabia quando ouvia aquele tipo de palavra, discretamente, pressionou ainda mais. sentindo a flecha atingir alguns nervos da mão alheia, pois não estava sendo gentil, não estava deixando tudo indolor e rápido, não estava realmente mais utilizando o método que fora treinada, mas era por aquilo que havia sido feita. anos e anos, nunca totalmente acordada, aplicando e recebendo agonias de todos os tipos, sem alguma saída. esteve dançando com o diabo por tempo demais. era uma arma, feita para infligir dor. e de repente não via mais a menina embaixo de si, e sim se via, gritando por misericórdia, desesperada enquanto uma flecha lhe perfurava a mão. misun sentiu os olhos marejados enquanto via sua cópia embaixo de si, desesperada. sabia que era uma alucinação, visto que a outra não era capaz de mudar a própria aparência.  não importava se estava se defendendo ou atacando, sabia que tudo que fizesse acabaria se voltando contra si mais tarde. a mente formulava o inicio de uma nova estratégia, abrindo um caminho para si que não achava possível. então o estômago embrulhou quando viu como o sangue se espalhava entre as mãos, lhe sujando os braços, as pernas, e até o rosto, não conseguindo mais nem ao menos distinguir de quem era. ela não queria mais fazer isso, ela nunca quis fazer isso. ela sentia tanto. e antes que pudesse desistir, deixou uma brecha em sua defesa enquanto atordoada com a própria mente, não sabia mais chorar por culpa ou arrependimento, não sabia como pedir perdão por ser fraca, logo, deixou a menina lhe nocautear.
            saiu da arena mancando, limpou o rosto com as costas da mão, espalhando ainda mais o sangue alheio respingado nesse. apenas precisava de uma noite de sono. e isso foi exatamente o que fez, desviando da enfermaria, cambaleando até seu quarto, deixando um borrão carmesim em sua cama, misun dormiu horas completas pela primeira vez no mês.
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