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teevitando · 1 year ago
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               ❛ ₍  𓂃 ₎  …   𝒑𝒐𝒊𝒏𝒕 𝒐𝒇 𝒗𝒊𝒆𝒘 —  𝘥𝘳𝘢𝘨𝘰𝘯 𝘳𝘢𝘤𝘦 ❜
And from (( pulling )) you down W I T H me here I can almost hear you 𝑺𝑪𝑹𝑬𝑨𝑴
𝐓𝐖: afogamento, fundo do mar.
uma popular alegoria é a ideia de que humanos possuem sobre os ombros uma boa criatura e uma má criatura, que lhes sussurram conselhos por mor de interferir na tomada de decisões. a dualidade entre bem e mal — e a existência de frações de cada dentro dos indivíduos — é recorrente no termo que se refere à moral. e diz-se que a verdadeira intenção só é mostrada quando humanos são colocados à prova, restando a escolha do egoísmo ou altruísmo.
quando o tumulto começou havia acabado de descer da montanha úrsula, os olhos semicerrados tentavam entender o que acontecia antes de sua visão ser tomada pelo fogo. os gritos, antes alegres e entusiasmados pela corrida, tornaram-se de puro desespero e temor, e preenchiam os ouvidos de evita enquanto ziguezagueava pelo ambiente. haviam pessoas penduradas no brinquedo pedindo por socorro, pessoas caídas no chão apresentando queimaduras pedindo por socorro, pessoas apenas correndo e pedindo por socorro. e evita apenas as deixava passar ao seu lado, priorizando a si mesmo ao notar que seu coração palpitava em ritmo frenético, e ela podia sentir a preocupação agoniante de argyros tentando encontrá-la em meio ao caos. enquanto traçava seu caminho até onde havia deixado o daemon, parecia pouco afetava ao terror que a circundava, parecendo nada comovida pela palavra ajuda. naquele momento, a única salvação que preocupava-se além da própria, era a do seu dragão.
a balbúrdia, contudo, não ajudava em nada na sua locomoção, sendo levada pela massa que dirigia-se ao navio de hook numa provável tentativa de proteger-se do fogo, pulando na água. seu corpo pequeno era espremido, sentia pés pisando nos seus e tinha certeza de que se lutasse contra, acabaria no chão pisoteada. tencionava, porém, ir para a beirada, esperando que assim pudesse desvencilhar-se da multidão. tarde demais, encontrava-se já no breve cais, o barulho dos descendentes cortando a superfície da água para afundarem soando quase como tortura. ❛ saiam da frente! ❜ a exclamação desesperada não combinava com a imagem que ela sempre tentava passar: controlada, impassível, sem medo, sem conflitos. sem traumas. 
o som dos corpos pulando na água fazia com quem evita lembrasse da fatídica noite, anos antes, quando decidiu aventurar-se sozinha em busca da mãe também, acabando por naufragar a pequena embarcação e afogar-se. a ansiedade se intensificava conforme o barulho das pessoas pulando na água aumentava, e sentia os respingos em seu calcanhar, indicando que estava perto de ser a próxima; perto de cair e afundar.
encarou o pequeno espaço no chão, contou os passos até a divisão entre madeira e água. um frio na espinha se passou, estremecendo o corpo em reflexo enquanto assimilava que não tinha saída. foi em um segundo que não tinha mais espaço, como postergar seu mergulho, quando sentiu a textura espessa e pegajosa se enrolar em sua perna, e então puxá-la. mera ilusão, quando ela própria pulou, ou melhor fora empurrada, para dentro d’água. os gritos dos outros descendentes sumiram de sua audição, e tudo o que podia ouvir era aquela voz, entoando uma trágica canção.
você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. você pertence ao mar, você pertence a mim. 
em uma ilusão decorrente do trauma, tentáculos a alcançaram, se enrolando em sua perna e cintura, puxando-a para baixo. mesmo que se recusasse a afundar, parecia inevitável ser puxada para o mais profundo e sombrio lugar daquele reino que agora pertencia a úrsula. a resistência parecia inútil, e aos poucos, a água entrou pela boca e o nariz, inundando seu interior, uma sensação conhecida por acontecimento do passado. outro tentáculo subiu para seu pescoço, o aperto de aço dificultava a passagem de ar e ao mesmo tempo em que se sentia desesperada para escapar dali, ela sentia o corpo relaxar de uma forma tentadora para entregar-se, mas lutava contra ao debater do corpo, desferindo tapas na figura imaginária que era representada a sua frente, já que a sensação lhe sugeria desmaio.
você pertence a mim, você é assim: má!
os olhos se abriram com rapidez, ao escutar a velha frase, o coração acelerado em um susto. o sofrimento e desespero eram velhos amigos, assim como a sensação de estar perto da morte. o ar escapava pelos pulmões, formando bolhas que eram levadas a superfície, e por breve instante ganharam sua atenção, fazendo com que olhasse para cima. o corpo leve, quase entregue, ainda forçou-se contra os tentáculos imaginários, removendo de seu pescoço, desvencilhando aqueles que prendiam sua cintura, conforme batia os pés, tencionando aproximar-se da claridade acima de sua cabeça. pareceram longos minutos de nado até que a cabeça se sobressaísse da água para respirar, enfim, entregando a sensação de flutuar.
estava desorientada, em consequência do agarre de aço que se mantinha em seu pescoço, e contava então apenas com a maré para lavá-la para fora da água salgada que outrora compreendia por lar. dependia do altruísmo de alguém para se salvar.
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