#kappaphi100

[edouardlermite]

starter aberto (fechou) Baile 100 anos da Kappa Phi

Descia as escadas do segundo andar para o saguão principal do casarão, o cabelo brilhante, a barba feita há alguns dias ainda não impunha aquele ar desleixado que Edu costumava transmitir, hoje ele estava completamente alinhado, refrescante... o caimento da calça perfeitamente alinhado ao sapato lustrado, o tecido fino da gravata borboleta, uma fivela bonita. Parou por alguns instantes analisando o corrimão pelo qual escorregava a mão; de cima, em vista privilegiada de todos que passavam pelo saguão, avistou um rosto familiar, não era o primeiro da noite, sorriu tímido e, tomado de vergonha pelo tempo que permaneceu em completa reclusão daqueles que algum dia dividiram casa com ele, engoliu o sorriso e abaixou a cabeça por alguns instantes. Talvez não fosse mais reconhecível para os demais, talvez o olhar cansado e a barba o tornassem indistinguível. Tornou a olhar novamente. Decidiu ir de encontro, seguiu o rastro das vistas cruzadas até o ponto que poderia falar sem que as batidas da caixa de som anulassem sua voz. - Quanto tempo, hein! - coçou a nuca e sorriu meio sem jeito. - é... o que tem feito? - não sabia o que falar para aquela pessoa que, talvez, não fosse mais a mesma de outrora.

[devilindisguisc]

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[edouardlermite]

@devilindisguisc Baile 100 anos da Kappa Phi

Saiu para sacada da sala de estudos, banhou-se de lua e brisa fresca enquanto respirava fundo o ar do campus, puxou a cigarrilha do bolso da calça de lã, dois estalares do isqueiro e uma fita de fumaça se formava na ponta dos dedos. Chegara naquela temendo os possíveis encontros, encontraria alguém de seu tempo? Os dedos escorregavam pela lata úmida de cerveja que apoiara no parapeito daquela espaçosa sacada, a outra mão performava um lento, porém consistente, movimento de trazer e afastar o cigarro do rosto de Bonhomme, que revezava os tragos entre o álcool e o tabaco.

Mal chegara e já evadira dos espaços cheios: entrou, pegou sua bebida e de pronto correu para seu antigo esconderijo noturno, palco de inúmeras insônias, algumas boas conversas e até alguns beijos; aquela varanda era um lugar de isolamento naquela casa e poucos eram os que sabiam como abrir a porta emperrada que dava acesso à varanda mais íntima daquele prédio. Escutou o ranger da porta, mas decidiu não se virar. Estava disposto a vencer uma interação social, qual fosse! - se você chegou até aqui sem me seguir então você é uma kappa phi da minha época... poucos alunos tiveram o privilégio de desbloquear essa parte da casa, muitos provavelmente formaram sem descobrir que esse lugar existe - sentiu-se eufórico pela memória, que agora pairava fresca pelas molduras de pedra daquela sacada gelada, sorriu e virou-se para emitir mais um comentário nostálgico sobre sua turma, mas antes que pudesse começar a formular palavras deparou-se com um rosto, que outrora desejou nunca mais rever, que sugou-lhe a alegria por completo. Quedou silencioso, atento aos passos daquela pessoa como ficam atentos os antílopes na presença de um caçador.

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perfume herbal - gel no cabelo - cigarreira de couro - zip latão - caderno de bolso - documento e cartão

[devilindisguisc]

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flashback

Depois de tanto tempo fora; tanto tempo em fuga da violência do passado em Des Moines, agora que estava finalmente perto de uma recuperação total, depois de todo esse tempo estava ali novamente e revivendo, com a mesma adrenalina, um completo desarranjo do clima mental. Novamente a sensação de perigo na sombra, o pavor noturno, a boca seca e as mãos frias. Não queria acreditar que estava vivendo aquilo, mas teria que lutar dessa vez.

Iris parecia absolutamente segura e estratégica, Édouard julgou que estaria mais seguro junto à ela do que sozinho em crise. - O melhor lugar para levarmos as pessoas para conversar é na área externa. Quase não tem gente lá e a saída é discreta. - conversavam e traçavam um plano discreto para entrar em contato com o máximo de colegas - Estou com você. - olhou para dentro dos olhos da mulher e estendeu uma mão, queria selar com um firme aperto de mãos a aliança que travava ali naquele momento, não se tratava mais da cena universitária performática, nem das panelas e rixas; agora o inimigo era real e estava por perto, suas vidas estavam em perigo. - Eu estou pronto. Sei que vamos conseguir sair dessa. - apontou para um pequeno grupo de ex-colegas. - Você começa falando? Não sei se todos vão lembrar de mim. -

flashback.

escutou  as  palavras  de  édouard  com  uma  expressão  de  intensa  concentração.  sua  mente  trabalhava  rápido,  avaliando  as  possibilidades  e  os  riscos.  “  édouard,  você  pode  estar  certo.  se  quem  quer  que  esteja  por  trás  disso  realmente  arquitetou  tudo  com  tanto  cuidado,  eles  estarão  atentos  aos  nossos  movimentos.  e  sim,  provavelmente  estão  aqui,  misturados  entre  nós,  observando  cada  um  dos  nossos  passos.  ”   mordeu  levemente  o  lábio,  ponderando  as  próximas  ações.  “  quanto  a  reunir  todos...  ”  ela  fez  uma  pausa,  olhando  ao  redor  como  se  tentasse  identificar  possíveis  ameaças.  “  pode  ser  arriscado.  reunir  todos  de  uma  vez  pode  colocar  todos  nós  na  mira.  além  disso,  podemos  não  saber  em  quem  confiar.  é  possível  que  um  de  nós  esteja  colaborando  com  essa  pessoa,  voluntariamente  ou  sob  coerção.  ”  voltou  a  olhar  para  édouard,  seus  olhos  refletindo  uma  determinação  feroz.  “  acho  que  o  melhor  a  fazer  é  abordar  as  pessoas  individualmente,  discretamente.  precisamos  descobrir  quem  está  do  nosso  lado  antes  de  fazer  qualquer  movimento  mais  ousado.  ”  pegou  o  isqueiro  de  édouard  e  acendeu  um  novo  cigarro,  suas  mãos  firmes  contrastando  com  a  tensão  evidente  no  ar.  “  devemos  nos  dividir  e  conversar  com  as  pessoas  em  pequenos  grupos,  de  preferência  longe  dos  olhos  curiosos.  e  precisamos  ser  sutis,  não  podemos  levantar  suspeitas.  vamos  descobrir  quem  está  do  nosso  lado  e,  a  partir  daí,  planejar  nossos  próximos  passos.  ”  deu  uma  longa  tragada  no  cigarro,  soltando  a  fumaça  lentamente  enquanto  seus  olhos  varriam  a  sala  mais  uma  vez.  “  édouard,  isso  é  perigoso,  mas  é  a  única  maneira  de  garantirmos  que  não  estamos  sozinhos  nessa.  você  está  comigo?  vamos  começar  a  abordar  nossos  antigos  colegas  e  tentar  entender  o  que  está  acontecendo,  com  cuidado  e  inteligência.  e  se  algo  parecer  errado,  recuamos  imediatamente.  ”  ofereceu  um  sorriso  encorajador,  embora  seus  olhos  revelassem  a  seriedade  da  situação.  "  vamos  sair  dessa,  édouard.  mas  precisamos  ser  espertos  e  unidos,  mesmo  que  de  maneira  discreta.  está  pronto?

[edouardlermite]

flashback

Ao lado de Hana os melhores sentimentos de Edu fluíam leves, a amiga era um oásis tranquilo em meio às dunas mutantes do tempo, aquele momento juntos percorreu as horas preenchendo um espaço de tranquilidade e sentimentos nostálgicos, era o interlúdio ameno entre as implacáveis sinfonias cacofônicas dos últimos ocorridos. Não reparou na passagem do tempo, tampouco no fluxo de convidados que diminuía cada vez mais até chegar no ponto em que estavam praticamente a sós no salão principal.

Édouard falou sobre o tempo, sobre a textura das coisas, discorreu sobre os minerais, lembrou e listou todos os dias que mataram aula para passear pelos bosques da universidade e de quantas vezes precisaram correr de gansos selvagens. Para Edouard, Hana protagonizava as memórias mais agradáveis daquela vida que existiu ali. Considerava Hana a irmã que nunca tivera, mas sabia que depois de todo aquele tempo não eram mais as mesmas pessoas, nem tinham mais os mesmos objetivos, muito menos os mesmos dramas e obstáculos que vêm com o fardo de estarem vivos e mais velhos. Ainda sim Edu via, pelas cortinas dos olhos de Hana, a mesma luz que o embeveceu anos atrás naquele mesmo lugar. - Quero me desculpar com você por todo esse tempo, por ter sumido... Eu sei que você não est�� brava comigo por isso, mas eu queria ter sido mais presente esse tempo. Eu pensava estar fugindo de Des Moines, mas hoje eu vejo que fugi de mim mesmo... de várias coisas que me faziam bem também. Talvez eu pudesse ter ficado e lutado contra toute cette merde, ... - o tom de voz baixo, o olhar profundo - ... mas as coisas não poderiam ser diferentes, também o sei, todos nós fugimos de alguma forma, eu só queria não ter fugido de você, era a única coisa que eu mudaria se pudesse. -

Uma luz baixa e colorida preenchia o salão, as músicas francesas dançantes tocando mais baixo, quase ninguém acordado. Estendeu a mão para Hana, convidou para que dançassem aquela música. - Pour étouffer la timidité... Un rendez-vous improvisé... - Seria a última daquela noite.

FLASHBACK

Hana se lamentou ao perceber que estava jogando todos os seus problemas nele depois de anos sumida, não era justo. Decidiu que era melhor tentar levantar o ânimo da conversa, antes que pudesse pensar em qualquer assunto, Édouard começou a falar e lhe ofereceu uma taça, para logo em seguida proferir as palavras mais confortadoras que recebera em muito tempo, um sorriso sincero surgiu em seus lábios conforme as ouvia. Ela brindou de volta e experimentou a bebida, descartando a outra que tinha em mãos. " — Obrigada, de verdade. E se, de fato, existem pessoas raras, você com certeza é uma delas também. Um diamante entre zircônias. " respondeu ela, ainda sorrindo. Hana voltou a tomar outro gole da bebida laranja que era infinitamente melhor do que o uísque de procedência duvidosa que encontrara antes. " — E, sim, é mimosa. Onde será estavam escondendo as as bebidas boas? Porque mais cedo só tinha opções ruins, como uma festa de fraternidade comum. " disse, por fim, dando sua opinião sobre o drinque.

Ela ouvia atentamente Édouard discorrer sobre o local que morava e sobre a sua arte, ao mesmo tempo que assentia e fazia perguntas conforme surgia curiosidade. Hana chegou a conclusão de que ele parecia contente e realizado, torcia para que fosse verdade. Era uma pena que tivesse estragado o momento descontraído falando demais. " — Eu sei, eu sei que você seria todo ouvidos... E agradeço, mas eu meio que falei tudo que tinha para ser dito, acredite. " tentou tranquilizá-lo ao mesmo tempo que esperava que fosse o suficiente para colocar uma pedra no assunto. " — Talvez um dia eu revisite minhas composições e tente escrever letras novas, mas, no momento, eu sinto que perdi o timing. Se por acaso esse dia chegar, eu te chamo para trabalhar comigo na parte visual do projeto. Seria um motivo pra você voltar para Paris depois da sua exposição, porque de boa vontade eu sei que você não volta depois de ver a loucura da cidade. "

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Flashback

Escutou a colega ligar os pontos que temia serem ligados, não era novidade, porém não adiantaria mais negar que Iris sabia o mesmo tanto, ou mais, que o homem. Eram fatos inevitáveis que apontavam para um mesmo resultado: tudo estava conectado e estavam em perigo. - Seria algum parente de Fiona? Estamos falando de uma vingança, alguém que teve quase uma década para arquitetar tudo isso... - falava baixo, quase cochichando. -... e a pessoa deve estar nesta festa, certo? - esfregou as mãos que começavam a adormecer, as pernas espasmavam suavemente - Nos observando... - Os olhos tremiam com a constatação de que estava, possivelmente, sendo vigiado. - Se a pessoa que arquitetou este reencontro for a mesma que assassinou Victor não cometeria o vacilo de fazer algo contra nós nessa noite, não na frente de todos... então, provavelmente estaremos bem por enquanto, mas sobre permanecermos juntos... - olhou para os lados em busca de algum observador e falou mais baixo ainda -... não seria exatamente o que a pessoa quer? Todos juntos... - O cigarro esquecido no cinzeiro consumira-se sozinho. - Acha que devemos reunir todos para falar sobre isso? -

flashback.

iris  manteve  o  olhar  fixo  em  édouard  enquanto  ele  falava,  absorvendo  cada  palavra  e  observando  suas  reações.  ela  notou  a  ansiedade  crescente  no  colega  e  a  hesitação  em  suas  palavras,  o  que  apenas  aumentava  sua  convicção  de  que  havia  algo  muito  maior  acontecendo  ali.  “  eu  entendo  sua  relutância  em  conectar  os  pontos,  édouard,  mas  há  algo  que  você  precisa  saber  sobre  mim.  ”  deu  uma  última  tragada  no  cigarro  antes  de  apagá-lo  com  elegância  no  cinzeiro  próximo.  “  eu  sempre  fui  boa  em  ver  padrões  onde  os  outros  não  enxergam  nada.  é  por  isso  que,  na  kappa  phi,  eu  sempre  soube  quem  estava  tramando  o  quê.  e  agora,  esses  padrões  me  dizem  que  nada  disso  é  uma  coincidência.  ”  fez  uma  pausa,  dando  tempo  para  que  suas  palavras  se  assentassem.  “  concordo  com  você  sobre  a  natureza  fragmentada  do  destino.  estamos  tentando  juntar  os  cacos  de  um  vidro  quebrado,  e  algumas  peças  podem  nunca  ser  encontradas.  mas  aqui  estamos,  e  alguém  nos  quer  aqui  por  uma  razão.  ”  deu  um  passo  atrás,  cruzando  os  braços  e  olhando  ao  redor  da  sala  cheia  de  ex-membros  da  fraternidade.  havia  um  brilho  frio  em  seus  olhos,  um  sinal  claro  de  sua  determinação.  “  quanto  à  morte  de  victor...  sim,  acho  que  é  tudo  parte  do  mesmo  jogo.  e  sim,  acredito  que  estamos  em  perigo.  mas  a  questão  é:  de  quem?  e  por  quê?  ”  descruzou  os  braços  e  colocou  uma  mão  suavemente  no  braço  de  édouard,  um  gesto  de  solidariedade  e  força.  “  o  medo  é  natural,  édouard.  mas  não  podemos  deixar  que  ele  nos  cegue.  precisamos  ser  inteligentes,  cuidadosos  e,  mais  importante,  precisamos  estar  juntos  nessa.  se  estão  nos  testando,  que  vejam  que  não  seremos  intimidados  tão  facilmente.  ”  ela  sorriu,  um  sorriso  que  misturava  confiança  e  um  toque  de  desespero  bem  disfarçado.  "  então,  o  que  você  me  diz?  vamos  juntar  os  cacos  dessa  história  e  ver  se  conseguimos  descobrir  quem  está  nos  manipulando?  e  se  for  preciso,  vamos  nos  proteger,  um  ao  outro  e  aos  nossos  antigos  colegas.  porque  se  tem  uma  coisa  que  aprendi  na  kappa  phi,  é  que,  no  final,  somos  todos  irmãos  e  irmãs.  e  eu  não  vou  deixar  ninguém  cair  sem  lutar.

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Sorriu com o acolhimento de Hana para com seus devaneios; perto daquela pessoa o sorriso vinha suave, leve, os olhos do homem flutuavam na face e seu corpo relaxava. Escutava a amiga que, pouco a pouco, entregava fragmentos de suas mágoas no decorrer da última década, Édouard escutava atendo a tudo que Hana tinha a dizer, buscava compreender naquelas palavras o que estaria a seu alcance para que pudesse ajudar. - Eu acredito na existência de pessoas raras... acho que, assim como os minerais, as pessoas também podem ser valiosas, mas só quem tem o olhar atento sabe identificar uma joia entre as pedras. - enquanto falava observou um calouro passar com uma bandeja cheia de drinks coloridos, pegou duas bebidas laranjas que aparentavam ser refrescantes, ofertou uma a Hana, brindou e deu um pequeno gole - bem gostoso não é? Acho que é uma mimosa! - Sorriu - Eu me considero atento... e eu vejo que você é uma pessoa rara. Não deixe que a terra, que os outros jogam sobre você, faça com que se esqueça de sua essência... eu conheço você, sei que você é diferente dos demais. -

Conversava sem pressa com a amiga, falava de Denise, dos processos criativos, descrevia a paisagem, os pássaros. Mostrou pelo celular a chamada para sua exposição no perfil da galeria de arte, escutou Hana descrever brevemente seu hiato criativo. - Não pesa em nada... da mesma forma que você sempre foi toda ouvidos comigo, eu também sou e estarei aqui se quiser conversar. - Não queria pressionar a amiga para que falasse, mas tentava deixar claro que aquela conversa era um porto seguro, uma ilha fora da realidade que enfrentavam. - E você já pensou em fazer essas coisas escondida dessas pessoas? Só pra ver se realmente é algo que você quer ou não fazer? Digo... porque se for algo que você realmente ama, talvez seja a deixa de mostrar pra todos do que é capaz e se eles te amam vão ver você feliz e aceitar isso, mas caso seja algo que você realmente não gosta tanto mais serve de despedida, pra falar que tentou mesmo! - Edu sabia que a situação não era tão simples, mas pensava que mostrando suporte poderia dar o mínimo de conforto para a amiga.

" — Uau... é um jeito bonito de descrever a situação. De verdade, soa até um pouco otimista pensar o passado e o presente estão sendo escritos ao mesmo tempo, porque isso significaria que existe a chance de corrigir alguns erros. " respondeu, os olhos castanhos alternaram a atenção entre Édouard e os demais convidados enquanto Hana ponderava sobre essa chance de reparar o que havia sido feito. Talvez, de fato, houvessem erros remediáveis, algumas escolhas que pudessem voltar atrás sem consequências, mas... Desconsiderando os arrependimentos pessoais de cada uma dos convidados ali presentes e entrando na questão do erro que todos eles eram responsáveis - de uma forma ou outra -, poderia existir uma chance de corrigir o que havia sido feito a Fiona? Ou, pelo menos, recompensar o silêncio que sucedeu o acidente? Eles sequer mereciam a possibilidade de redenção? Hana bebeu outro gole da bebida horrível, estava indo longe demais em pensamentos. Sentiu um alívio quando o amigo lhe trouxe de volta a realidade. " — Não, não precisa se desculpar! Eu gostava de ouvir seus pensamentos altos, isso não mudou com os anos. " declarou ela, voltando a encará-lo e oferecendo um sorriso mais sincero dessa vez. No entanto, o sorriso esmaeceu tão breve quanto surgiu ao pensar sobre o que ela julgava ser um elogio de Édouard. Meio que não existe muita gente como você, Hana conseguia pensar em várias mulheres do seu círculo social que eram exatamente iguais a ela: vazias, solitárias e desinteressantes que iludiam a todos com uma imagem de vida perfeita; mas não compartilhou o pensamento. " — Talvez seja uma boa coisa que não exista. " foi o que limitou-se a responder, com um dar de ombros. " — Desine, uh? Nunca estive lá, pela descrição parece ser um local agradável para passar um tempo. Não sei se seria capaz de viver em uma cidade pequena que todo mundo se conhece, mas fico feliz que Desine lhe fez bem. " abriu um sorriso, esquecendo seus próprios dramas para se contagiar com a empolgação alheia. Hana estava genuinamente contente pelas conquistas de Édouard, ela sempre desejou o melhor para ele. " — Sério? Você precisa me avisar quando tiver a data fechada da exposição. Eu gostaria de prestigiar o seu trabalho. " lá estava ela, fazendo promessas que não tinha certeza se cumpriria. A vida seria diferente quando voltasse para Paris, disso estava ciente, porém, decidiu que faria um esforço para não isolar novamente. " — A música... esse assunto é complicado. Eu me formei, mas logo em seguida eu casei e fui deixando para depois. Eu engavetei todas as composições e demos antigas, as novas eram simplesmente um lixo. Não havia inspiração. Jinyoung, meu marido, também não gostava muito da ideia de eu seguir carreira musical. Ciúmes bobo, eu acho. E eu só... deixei quieto. Foi mais fácil. Desculpe, falei demais, eu não queria pesar a conversa. "

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Teceu um breve discurso sobre a passagem do tempo e sobre como era estranho estar novamente naqueles corredores, chegou a grande cozinha da fraternidade, um caos de copos, bebidas e comida derramada no chão, gavetas e armários de portas abertas. - Parece que chegaram antes de nós, nem petit four seco deixaram passar - disse avaliando as embalagens de guloseimas vazias -Bem, parece que terei que saciar a fome com mais bebida - disse terminando de virar sua lata. Tentava pensar em algum assunto que não remetesse a Fiona ou Victor, porém em sua mente aqueles eram os únicos pensamentos que passavam, também sentia que Mia não estava tão preocupada com bebidas e petiscos, afinal não eram mais jovens, como aqueles ao seu redor, despreocupados, interessados apenas em interações excitantes e bebedeira. Pairava uma densa nuvem de mistério e dúvidas no ar. Decidiu que deveria falar sobre. -Hey, mia... sobre a morte de Victor... você acha que pode ter a ver com essa festa de alguma forma? - coçou a testa com uma expressão desajeitada por tocar no assunto de forma tão abrupta - Digo, não o baile em si, mas o fato de termos sido a única geração de ex alunos da Kappa Phi a estar presente? Sei que você acha isso estranho também, mas ao mesmo tempo não consigo pensar no que alguém ganharia nos trazendo aqui. Talvez pra deixar a gente desconfortável? Sei lá, uma forma de pesar nossa onda depois de todo esse tempo. - Suas palavras transmitiam possibilidades mais brandas que as que teorizava em mente, queria ouvir mais de Mia antes que pudesse realmente expor suas inseguranças.

não pôde deixar de sorrir quando edouard deixou o dedo do meio exclusivo para angel. as duas eram o terror da faculdade quando estavam juntas e sabia que metade das pessoas ainda odiavam sua amiga, o que causava uma certa animação em mia. "that's what i'm talking about" comentou, além de que era muito estranho ser a mesma turma de alunos que estavam, supostamente, envolvidos no acidente de fiona. não proferiu o pensamento em voz alta. sorriu um pouco com a ponderação dele sobre os biscoitos, mas era difícil que deixassem. "eu sinceramente acho que não, mas podemos ver se descobrimos alguma coisa escondida por lá" deu de ombros e seguiu em direção a cozinha. "acho que não passo por esses corredores tem uns bons anos" comentou mais para si mesma que para o homem, o comentário veio porque mia estava arrepiada, tanto pela nostalgia, mas alguma coisa a fazia ficar em estado de alerta.

[edouardlermite]

Pela primeira vez em anos, Édouard ouvira aquele nome ser pronunciado em voz alta; Fiona... uma descarga de adrenalina tomou conta do rapaz que precisou de mais alguns tragos para que passasse a ansiedade, em silêncio escutava o que Iris tinha a dizer, não a conhecia muito, mas sua honestidade e sua forma direta de falar sobre assuntos tão delicados despertavam seu interesse pelo assunto, ainda que tivesse esse medo fossilizado em sua cabeça, sentia que estava pronto para encarar os fantasmas do passado. Até então a notícia do falecimento de Victor não tinha sido abordada por ninguém e não seria Edu a provocar tal discussão, afinal a carta ameaçadora que recebera dias atrás era motivo de suas mais recentes insônias. Decidiu que não iria, por hora, revelar a carta que mantinha sempre próxima, dobrada no bolso da calça. - Não tenho certeza se todas essas coisas estão conectadas - mentiu - o que aconteceu com Fiona... - a voz falhou proferindo seu nome pela primeira vez em anos -...faz muito tempo... e o que aconteceu com Victor... bom, não sei ao certo, mas será que tem alguma relação? - com tamanha certeza que Iris demonstrava ao ligar os pontos, surgiu uma pulga na cabeça do homem, talvez Iris também tivesse recebido uma carta, ou talvez tivesse informações que o rapaz não tinha. Achou perigoso se expor e preferia manter a pose de que não estava ciente de qualquer detalhe ou relação de Victor com Fiona. -Não acredito no destino como descreve o mito grego das moiras, eu acredito num destinado não linear, na confluência dos sinais e das imagens... como se o destino fosse um fractal... uma taça como essa em suas mãos que cai no chão e se parte em mil pedaços. - fez com as mãos o gesto de algo se partindo - Vejo que no chão há vidro e se eu juntar todas as partes terei uma taça, mas se não soube em algum momento o que aquele vidro era... então só descobrirei se tratar de uma taça quando tiver montado a mesma... mas... mesmo assim existem aquelas partes que nunca encontrarei. Sobre nossa situação eu vejo fragmentos de uma mesma história; no passado, no falecimento de Victor, no olhar dos nossos colegas, mas não sei dizer sobre o que se trata tudo isso. Acho que vim aqui essa noite para juntar o máximo de "cacos" para entender no que estamos metidos. - sentiu um calafrio, olhou novamente ao redor, dessa vez em busca de algum olhar suspeito e retomou - Ou talvez seja tudo um grande mal entendido, uma brincadeira de mal gosto ou apenas nada... - deu um gole em sua bebida, de fato não acreditava que era mero acaso ou embromo, mas Edu era precavido demais para sair expondo tudo que passava em sua cabeça tão prontamente.

Mesmo assim a mulher prosseguiu insistindo em ligar os pontos e colocando Édouard para pensar mais afundo sobre todas as pistas. -Também me sinto como uma peça num jogo que não dito as regras, mas acho que sempre me senti assim... - interrompeu o raciocínio, não queria transformar aquela conversa em desabafo. Escutou o aviso da colega e consentiu com a cabeça concordando - Talvez seja o medo de obter resposta que esteja embaçando minha visão para enxergar a realidade dos fatos. - secou a testa que suava, toda aquela adrenalina, tanta gente ao redor. - Concordamos então que é estranho todos que estavam presentes naquela fatídica noite terem sido convidados hoje, mas você acha que isso possa ser uma armadilha? Você acha que quem enviou os convites também é responsável pela morte de Victor? Será que estamos em perigo? - sua voz tremeu. O tom daquela conversa invocava um sentimento de insegurança no homem que agora intercalava seu diálogo com olhares desconfiados para todas as direções.

deu  um  sorriso  contido  ao  ver  a  hesitação  de  édouard,  notando  a  familiaridade  daquele  gesto  de  levantar  a  lata  de  cerveja.  lembrou-se  de  como  ele  sempre  se  destacava  de  maneira  sutil,  diferente  da  maioria  que  tentava  chamar  a  atenção  a  todo  custo.  quando  ele  sugeriu  que  caminhassem  até  a  janela,  ela  assentiu  com  um  leve  aceno  de  cabeça  e  o  acompanhou,  aceitando  o  isqueiro  que  ele  ofereceu  para  acender  seu  cigarro.  ela  observou  édouard  enquanto  ele  falava,  tentando  ler  nas  entrelinhas  de  suas  palavras.  quando  ele  mencionou  estar  em  busca  de  respostas,  iris  sentiu  um  leve  arrepio  de  excitação.  talvez,  finalmente,  encontrasse  alguém  que  pudesse  ajudar  a  desvendar  os  mistérios  que  a  rodeavam  há  tanto  tempo.  “  respostas,  é?  ”  ela  soltou  uma  risada  leve,  mas  não  sem  uma  ponta  de  amargura.  “  parece  que  todos  estamos  em  busca  de  algo,  especialmente  esta  noite.  ”  ela  deu  um  trago  profundo  no  cigarro,  deixando  a  fumaça  escapar  lentamente  de  seus  lábios,  os  olhos  escuros  fixos  nos  de  édouard.  quando  ele  perguntou  qual  era  a  pergunta  dela,  iris  parou  por  um  momento,  ponderando.  “  minha  pergunta...  ”  disse  ela,  finalmente.  “  minha  pergunta  é  por  que  tudo  isso  aconteceu.  por  que  fiona,  por  que  victor...  por  que  nós?  ”  ela  deu  mais  um  trago  no  cigarro,  a  expressão  séria.  “  não  sei  se  você  acredita  no  destino,  édouard,  mas  tenho  a  sensação  de  que  tudo  isso  está  interligado.  a  festa  de  hoje,  os  convites  seletivos,  os  incidentes  do  passado...  é  como  se  alguém  estivesse  puxando  as  cordas  nos  bastidores.  ”  ela  fez  uma  pausa,  olhando  para  a  fumaça  que  escapava  de  seus  lábios  e  desaparecia  na  noite.  “  estou  cansada  de  ser  uma  peça  no  jogo  de  outra  pessoa.  quero  saber  quem  está  por  trás  disso,  e  por  quê.  ”  ela  voltou  os  olhos  para  ele,  com  uma  determinação  feroz.  “  se  você  está  em  busca  de  respostas,  talvez  possamos  encontrar  algumas  juntos.  ”  o  tom  dela  suavizou  um  pouco,  permitindo  uma  vulnerabilidade  rara.  "  mas  cuidado,  édouard.  às  vezes,  as  respostas  que  encontramos  não  são  as  que  esperamos.

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Foi de encontro à antiga colega, como sempre uma figura central de qualquer evento que contasse com sua presença. Quando novo, Edu a via como a protagonista daquela fraternidade e sentia-se como um figurante às sombras, (inclusive criara um curta metragem na graduação para uma matéria de composição cênica usando de Iris como inspiração para personagem central) mas não sentia-se menos por isso, de fato não tinha problemas com a menina e pouco conhecia da vida dela, quanto às fofocas que circulavam sem a supervisão dos fatos e das provas, essas não recebiam palco do rapaz que as interpretava como calúnia e intriga. Mesmo assim não era alguém por quem lançaria as mãos ao fogo. -Está ocupada, mas pelo visto parece estar colhendo bons frutos! - sorriu e levantou a lata de cerveja sinalizando um brinde com a mulher, tentava ser simpático, embora não soubesse exatamente quais assuntos a interessariam. - Não sei se diria "generosa", porém tenho colhido alguns frutos maduros também, mas te digo que demorou bastante. - reparou no cigarro apagado nas mãos de Iris e ofereceu para que caminhassem até a janela mais próxima. Ofertou seu próprio isqueiro para que ela pudesse acender seu cigarro e acendeu o próprio em sequência.

Surpreendeu-se com a direção que aquela conversa começava a tomar, não havia discutido com mais ninguém sobre os reais motivos de ter aceitado estar ali, em verdade tinha mais dúvidas que respostas e as pistas se dispunham de forma aleatória e faziam pouco nexo, embora falassem da mesma coisa; Edu não conseguia decifra-las. - Eu vim porque sentia sim um pouco de saudade... mas... agora que você comentou eu realmente sinto que vim em busca de respostas... - deu um longo trago no cigarro e desviou o olhar para ver ao redor quando um calouro derrubou uma gigantesca caneca de metal no chão, que lhe dera um pequeno susto, retornou o olhar para os de Iris e soltou pelas narinas uma espessa nuvem que escoou pela brisa para a escuridão fora da janela. - ...eu não sei nem qual a pergunta para essas respostas que eu tô procurando... qual é a sua pergunta? - reparava no tom de voz da mulher, mas queria testar não responder às sutis provocações, considerava-as inofensivas, talvez uma peculiaridade da personalidade da ex colega que só agora estava tendo a oportunidade de conhecer.

iris  sage  observava  o  saguão  movimentado  da  kappa  phi  com  uma  sensação  de  déjà  vu  misturada  a  uma  ligeira  pontada  de  ansiedade.  apesar  do  ar  de  confiança  que  exibia,  sua  mente  estava  em  constante  alerta,  analisando  e  calculando  cada  movimento  ao  seu  redor.  vestida  em  um  deslumbrante  vestido  preto  chanel,  justo  e  elegante,  que  ressaltava  sua  figura  impecável,  e  com  seu  cabelo  perfeitamente  alinhado,  ela  parecia  uma  figura  intocável,  quase  etérea.  os  olhos  escuros  escaneavam  o  ambiente  enquanto  ela  segurava  uma  taça  de  champanhe  em  uma  mão  e  um  cigarro  na  outra,  não  aceso,  mas  ali,  apenas  como  um  acessório  de  sua  persona  cuidadosamente  construída.  quando  édouard  desceu  as  escadas,  ela  o  notou  de  imediato.  não  era  apenas  a  aparência  dele  que  havia  mudado  com  os  anos,  mas  algo  mais  profundo.  uma  leve  ruga  de  curiosidade  se  formou  em  sua  testa  enquanto  ela  observava  o  antigo  colega  de  fraternidade  fazer  seu  caminho  até  ela.  iris  sorriu  de  volta,  um  sorriso  que  era  ao  mesmo  tempo  genuíno  e  calculado.  ela  deixou  a  taça  de  champanhe  deslizar  suavemente  para  a  outra  mão  antes  de  responder.  “  édouard,  realmente,  quanto  tempo.  ”  sua  voz  era  suave,  mas  carregada  de  uma  confiança  inabalável.  “  tenho  me  mantido  ocupada,  como  sempre.  projetos,  consultorias,  você  sabe  como  é.  ”  ela  deu  um  gole  na  bebida,  mantendo  os  olhos  fixos  nos  dele,  tentando  ler  nas  entrelinhas  da  sua  expressão.  “  e  você?  vejo  que  a  vida  também  foi  generosa  com  você.  parece  bem.  ”  ela  inclinou  a  cabeça  ligeiramente,  permitindo  que  um  fio  de  cabelo  caísse  suavemente  sobre  o  rosto,  um  movimento  que  ela  sabia  ser  encantador.  “  esta  noite  é  uma  verdadeira  viagem  no  tempo,  não  acha?  tantas  lembranças.  ”  ela  fez  uma  pausa,  a  expressão  ficando  mais  séria  por  um  momento.  “  mas  estou  curiosa,  édouard.  o  que  o  trouxe  de  volta,  além  do  convite?  sente  falta  dos  velhos  tempos  ou  apenas  está  em  busca  de  respostas,  assim  como  eu?  ”  sua  voz  carregava  um  toque  de  provocação,  mas  também  uma  genuína  curiosidade.  afinal,  todos  ali  tinham  um  passado  compartilhado,  e  alguns  mistérios  ainda  não  resolvidos  pairavam  sobre  suas  cabeças  como  nuvens  escuras.  ela  sabia  que  aquela  noite  poderia  trazer  revelações  inesperadas  e  estava  pronta  para  cada  uma  delas.

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Yoon não era a pessoa mais próxima nas épocas de faculdade, mas sempre fora um bom aluno. Sua maturidade, seu caráter e responsabilidade eram tributos que Édouard respeitava muito, mas talvez sentisse que fosse pouco interessante ou que sua área de estudos fosse "caótica" demais e pouco interessante para alguém tão estudioso e comprometido; ainda sim, ver o mais velho conquistar notas e o respeito até dos professores inspirava algo dentro da alma bondosa do artista. - Poxa, parabéns! Realmente nunca duvidei que conseguiria o que quisesse, você sempre foi o "fodão", cara. - Sorriu com honestidade para o colega. - Você não parece estar muito feliz com esse sabático né? O que tá pegando, gosta tanto assim do hospital? - massageou o ombro de Kim, olhou seus olhos; conhecia aquela nuvem que pairava quase invisível entre os cílios do homem, já a vira inúmeras vezes no espelho, deixou que o outro desconversasse e respondeu à pergunta - Ah... eu fazia cinema, não sei se lembra... acabou que eu me deparei com um trabalho de cinema mudo que me inspirou muito e... digamos que eu tive um retiro sabático para produzir uma série de fotografias e alguns desenhos multimídia com intervenção fotográfica... - notou que estava falando muito de um assunto que talvez fosse parecer bobo para o diretor de um hospital -... enfim, estou com uma exposição que inaugura em Paris mês que vem, mas é um lance pequeno, sabe?- deu um gole em sua lata. - Ei, tá um pouco quente aqui dentro, não anima ir pra sala de jogos? lá tem ar condicionado e fiquei sabendo que estão servindo sorvete com vodca! - convidou Kim para acompanha-lo.

⠀⠀⠀⠀⊱ㅤㅤera   estranho   pensar   que   havia   dividido   a   mesma   casa   com   uma   parcela   daquelas   pessoas.   longos   anos   na   companhia   de   almas   que,   honestamente,   preferia   esquecer.   claro   que   isso   nunca   tinha   acontecido,   pelo   menos   não   com   as   pessoas   que   continuaram   morando   na   cidade   e,   consequentemente,   o   visitaram   alguma   vez   no   hospital.   mas   mentiria   se   dissesse   que   odiava   todos.   havia   exceções,   eddie   era   uma   delas.   não   tinha   nada   contra   o   rapaz,   portanto   seu   sorriso   foi   genuíno,   um   dos   poucos   da   noite   ❝   alguns   anos,   com   certeza   ❞,   observou   os   trejeitos   do   rapaz,   achando   graça.   alguém   parecia   mais   desconfortável   que   ele   ❝   eu   virei   diretor   do   hospital   como   era   de   se   esperar,   mas   agora...   ❞   ele   travou   por   um   momento.   dessa   vez,   não   fingiu;   de   fato,   tomou   um   gole   da   bebida   ❝   estou   tirando   um   ano   sabático   ❞,   completou,   as   palavras   pesadas   e   recheadas   de   uma   mentira   que   ele   não   aguentava   mais   repetir   ❝   e   você?   ❞

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Ria achando cômico ser confundido por um antigo amigo, sorria para Lee, correspondeu ao meio abraço também pousando sua mão sobre o ombro do rapaz - eu fiquei com medo de ser barrado na porta usando minhas túnica e sandálias - parou por um breve momento em silêncio, mas logo rendeu-se a uma boa risada (como a muito não soltava) lembrando da relação antiga com Lee, destilando acidez e dividindo cigarros na varanda secreta do segundo andar, Édouard e sua plasticidade para adaptar à diferentes situações e pessoas havia desenvolvido nos anos de jovem uma proximidade nem sempre constante, mas singular a sua maneira, com Wonsik. Eles tinham assuntos próprios, comentários secretos e partilharam naqueles anos boas doses de rebeldia. Édouard sentia que, na companhia de Lee, havia espaço para testar alguns limiares da delinquência, apenas por curiosidade, adrenalina e um pouco de expurgo das dores da alma.

Reparou no copo vazio do sul coreano e estendeu sua lata para que o outro pudesse molhar a garganta. - continua fazendo bagunça, parceiro? - usou a mesma voz cômica que usavam no passado quando estavam de embromação. Nessa altura o álcool começava a também fazer efeito na cabeça de Edu.

Enquanto observava os convidados desfilarem em seus looks complexos dignos de noites de gala, Lee considerou a sorte de seu usual estilo profissional encaixar-se minimamente no conceito - sapatos e calça sociais, suéter de gola alta e o sobretudo de caxemira feito sob medida lhe concediam a casual elegância europeia, estilo também muito típico em Seoul, onde morava. Os acessórios, nada além de um cinto de couro legítimo e o leal Rolex em ouro branco e diamantes que ganhou do pai ao retornar à Coreia do Sul, é que tratavam de disfarçar a simplicidade da composição ao trazer um toque aristocrático para o visual todo preto. Já estava na terceira bebida, diferente das duas primeiras, e antecipava o trágico fim de suas escolhas ao girar o copo de uísque e observar os cubos de gelo colidirem. O álcool subia-lhe rapidamente à cabeça uma vez que tinha o estômago vazio, mas não estava embriagado. Apenas... mais sociável. Após virar o último gole, seu vagante olhar encontrou resposta e Wonsik replicou o sorriso, acenando ainda com o copo vazio embora não o reconhecesse. Parecia jovem demais, mas não conseguiu desviar o olhar enquanto suas engrenagens giravam, tentando solucionar o incômodo que se instalou em seu cérebro, mas foi apenas a voz que forneceu a peça-chave para aquele quebra-cabeça. "Edu?!" O coreano pousou a mão livre sobre o ombro do outro e avaliou o rosto "limpo" do colega. "O que aconteceu com você?" Questionou ao medi-lo dos pés à cabeça. "Gravata e tudo - não esperava que também acabasse engomado pela sociedade moderna." Indagou com um leve puxão da própria lapela a indicar que se referia à sua metamorfose.

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Sentiu os pelos da nuca levantarem com a última pergunta da ruiva. - Então, agora que você comentou isso, é um tanto quanto curioso mesmo... eu já vi Hana, Lee, Iris, Yoon até a Angel! - a medida que citava os nomes dos colegas contava com os dedos, reservando o do meio para Angélique - São todos ex alunos da nossa época, e o restante das pessoas parece bem mais jovem... fica parecendo que nós somos os únicos ex alunos mesmo - riu um pouco nervoso realizando-se de que tinha algo realmente estranho, para além do contexto no qual aquele convite chegara. - Você acha que... - interrompeu com medo de assustar a menina com uma teoria tensa que surgia e sua mente. -... que eles ainda deixam aquelas caixas de biscoito de chocolate no armário da cozinha? - apontou para direção do arco que dava acesso à cozinha enorme da casa, convidou mia a acompanha-lo.

por algum motivo a atmosfera da festa e da "reunião de ex alunos" que estava acontecendo parecia muito estranho, mia ainda não tinha completa certeza do que era, mas sentia que havia alguma coisa de errado em tudo aquilo. por hora tentava se re-enturmar com o pessoal, os reencontros eram desajeitados e, por vezes, um tanto quanto constrangedores, embora tentasse ao máximo não manter aquele desconforto no ar.

havia um certo medo por trás dos olhos inquisidores de mia, por pensar em como as pessoas haviam mudado, como elas iriam reagir com ela e como poderia reagir ao saberem de seu casamento com um dos colegas. tudo isso gerava um pequeno nó na cabeça da ruiva e uma preocupação latente que não se dissipava nem quando preenchia o ambiente com uma conversa amena e descontraída. era fato que não tinha sido uma pessoa completamente legal na faculdade e andava com pessoas descoladas, enquanto para si isso era ótimo, outras pessoas deveriam a achar rude e mesquinha - ou qualquer outro adjetivo que encontrassem. era um dos motivos por estar naquela festa - sem contar que recebera o convite quase que lhe obrigando a comparecer -, para mostrar ao mundo que as pessoas mudam e que ela mudou. "vou avisá-la. ela sempre fica contente quando meus colegas de faculdade lembram dela" e sorriu verdadeiramente. sabia que a nova geração mal sabia quem era céline, mas ela conseguiu construir uma legião arrebatadora de fãs e era sempre bom saber que alguém se lembrava dela com carinho.

não era muito de beber, apenas socialmente e quando sentia vontade. cerveja era sua repulsa e, por tanto, optou por pegar alguma outra bebida que viu no cooler, embora o movimento tivesse saído pela culatra quando percebeu que era uma cerveja e fez uma careta, deixando a latinha quase cheia de lado. "fico pensando a mesma coisa. é estranho ver todas essas pessoas mais velhas" comentou olhando para os lados e vendo um ex aluno no meio de tantos jovens alunos. "como se sente relembrando tudo? não te dá uma sensação de calafrio?"

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À medida que a voz de Hana preenchia o ambiente, para além de toda cacofonia daquele saguão, Édouard ia tranquilizando-se e identificando quase imediatamente todos os sinais de que algo não estava bem com a mulher. O homem conhecia as expressões e tonalidades da voz daquela que um dia fora sua grande amiga e confidente. - Concordo com você; também sinto como se estivesse vivendo em um universo paralelo... - vagueou por um devaneio momentâneo e retomou -... como se hoje e aquele tempo estivessem sendo "escritos" ao mesmo tempo. - retomou o foco nos olhos da amiga e respirou fundo - Desculpa, Hana - soltou um sorriso largo e meio sem jeito - com você nunca precisei esconder as viagens da minha cabeça... isso fez muita falta, meio que não existe muita gente como você nesse mundo lá fora! - disse sem pesar as palavras, buscando na memória afetiva o tom de voz que usava quando a amiga precisava de uma dose de alto astral. - Voltei recentemente para cá, estive morando em Desine... aquela lá... que tem o riacho e a praça triangular. - gesticulava com as mãos o movimento do rio e a geometria dos lugares - Bom... passei os últimos anos lá e foi... interessante. Era algo que eu precisava muito e me fez superar algumas coisas... e até consegui criar uma coleção de fotografia! Ainda esse ano vou estar numa galeria em Paris, da pra acreditar? - o coração apertou com o pensamento de estar frente a muitas pessoas com sua obra sendo exposta. - e você, lembro que música era sua paixão, como está isso, quero saber de tudo que tem feito. - olhou com carinho para a amiga.

Por diversas vezes Hana imaginou como seria estar de volta na Kappha Phi, o que ela sentiria e o que faria. Em todos os cenários havia um certo desconforto, mas nenhum deles conseguiu prever que, mais uma vez, ela se sentiria deslocada em um local que já foi seu lar. Para afastar o sentimento - e conseguir permanecer na celebração por mais um tempo -, Hana decidiu que precisava de uma bebida forte. Ela caminhou até a mesa de bebidas, servindo-se com um copo de uísque de marca duvidosa e de gosto pior ainda. Não havia terminado o gole quando uma voz conhecida soou ao seu lado. Ela virou para encarar a companhia inesperada, permanecendo imóvel por segundos antes de reconhecer Édouard e levando um pouco mais tempo pela incerteza de como agir naquele reencontro. Afinal, ele era uma das pessoas que Hana havia cortado da vida sem nenhuma explicação. Um silêncio constrangedor se instauraria entre os dois se não fosse as vozes dos convidados se juntando a música da festa. " — Nove anos... " respondeu ela, limpando a garganta e apertando os lábios em um sorriso fraco. " — Falando assim nem parece tanto tempo, mas eu sinto como se tivesse sido outra vida. " adicionou, sendo sincera. De fato, havia sido outra vida para Hana, visto que ela era uma pessoa completamente diferente agora. " — O que tenho feito? Nada de interessante, eu acho. " riu amargamente, levando o copo aos lábios mais uma vez. Ela não conseguia pensar em nada da sua vida que fosse relevante o suficiente para ser compartilhado e, definitivamente, não queria se aprofundar nisso. " — Estou morando em Paris, você continua em Des Moines? E o que tem feito? Por favor, me diga que sua vida nesses últimos anos foi mais interessante que a minha."