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wzlfsbane · 4 years ago

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· 𝐌𝐈𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍 ≀ hyperborea — 3O DE MAIO até O2 DE JUNHO.

— GRUPO: Aaron, Anushka, Bomi, Devon, Dominic, Egan, Nate, Riley, Yohan. — GATILHOS: Nenhum. — MISSÃO: Hiperbórea.

Sábado, 30 de maio.

Havia protelado até o último momento para arrumar a mochila, por pura preguiça e desinteresse, e por sorte Kasper tinha resolvido — mais uma vez — salvar sua vida. Apenas por isso Phelix conseguia acompanhar seu grupo agora, assobiando distraído enquanto passavam pelo portal rumo à imensidão álgida do Ártico. Ele não esperava que sua primeira viagem, após tantos anos, seria para a tundra desértica… Mas tentaria enxergar tudo como experiência e desenvolvimento.

Suas primeiras horas foram preenchidas por longas conversas em sua linguagem natal com Dominic, o que serviu para matar a saudade de seu país, já que Phelix não planejava voltar à Romênia tão cedo. O filho de Apolo até que não era uma má pessoa, mas sua inflexibilidade não combinava com a adaptabilidade de Phelix. Ainda assim, eram primos, portanto não tão diferentes. Poderia resistir a algumas horas de diálogo, ainda mais com o vinho que Bomi trouxera.

Depois auxiliou a estruturar o acampamento com os colegas e sentou-se à fogueira junto deles para planejarem suas próximas ações. Permaneceu a maior parte do tempo calado porque não costumava falar muito, exceto por uma brincadeira e outra. Também sacou um pacote de jujubas e ofereceu-as a todos da roda antes de derramar seu conteúdo na boca, temendo que seus doces acabassem congelando.

Quando propuseram a demonstração de habilidades, optou por ser o último por simples indecisão. Criaturas comuns — feras selvagens, mascotes domésticos e animais rurais, por exemplo — eram mais fáceis porque poderia encontrar informações com maior facilidade e utilizá-las em suas transformações, visto que o modo de uso nem sempre vinha incluído nas capacidades. Mas o filho de Ártemis gostava de explorar as possibilidades e pesquisar sobre entomologia e biologia marinha. Pensou por um momento se deveria mostrar uma daquelas formas, mas provavelmente não as usaria tanto em batalha.

Anushka, Dominic e Devon pareciam os mais desenvolvidos e bem treinados ali, mas o romeno acreditava que o ego de Dominic ainda poderia representar um grande obstáculo a ser transposto — tal qual sua própria falta de vontade de viver, por exemplo. O soco de Riley lhe forneceu grande divertimento por isso. Apreciou particularmente a demonstração de Egan, chegando a bater palmas animadas quando o minotauro de três metros surgiu em seu campo de visão. Aaron parecia fantástico também, e Yohan era praticamente um pequeno Legolas correndo de lá para cá.

Sua vez chegou rapidamente e Phelix optou por levantar-se e se concentrar antes de tomar a forma de um largo urso polar, de pelos tão brancos quanto a neve que os circundava. Como a criatura, trotou ao redor da fogueira e fez algumas gracinhas apenas para não perder a viagem, antes de voltar ao seu corpo original. Provavelmente poderia ter mostrado algo melhor, mas teve preguiça. Como sempre.

Domingo, 31 de maio.

Seu sono da beleza deveria durar até às 14:00 — nos dias em que não trabalhava, claro — e Phelix tinha decidido que seus hábitos não seriam interrompidos nem mesmo por uma missão. Se recolheu cedo como lhe era de costume, abrindo o livro que trouxera para fazer companhia. De maneira incomum, não levou muito tempo para que caísse no sono.

Acordou com gritaria e confusão do lado de fora. Poderia ter virado algum animal para captar as vibrações no solo, mas não foi necessário, visto que Dominic tratou de especificar o problema em um trocadilho infame: GIGANTES. Considerando que aquela deveria ser a terra deles, estavam até meio atrasados para protegê-la. Os gigantes de hoje em dia já não são mais os mesmos… De qualquer forma, a situação indicava o primeiro combate de Phelix. Ele estava super ansioso, sim: a parte pela qual mais aguardava era o final!

Poderia muito bem tomar a forma de algum animal grande o bastante para atacar os monstros, mas não queria entrar em conflito direto e correr o risco de se machucar. Assim como a esperança de humanidade em Phelix, seu espírito de equipe também havia ido parar na puta que o pariu. Mas se ele iria se manifestar sobre? Não, nunquinha. Simplesmente pensou em uma estratégia que não o tornaria o maior alvo de dano, olhando ao redor e tendo uma ideia desgraçada.

“DEVON, ‘CÊ VAI TER QUE ME ATIRAR!” Berrou, e no mesmo instante estava correndo desenfreadamente na direção do filho de Hermes. Por sorte os reflexos de Devon não falharam e ele se dispôs a auxiliar na empreitada maluca com eficácia. Parecia bastante acostumado a jogar pessoas, na verdade… Detalhe interessante, deixaria para pesquisar mais depois.

Phelix voou e nem precisou de asas para tal. “IUPIII!” Comemorou, sentindo a adrenalina tomá-lo e alguma alegria pela batalha, finalmente. Era uma criança feliz… Isto é, até chegar às costas do gigante, sem nenhum plano realmente formado em mente. Pensa rápido, Phelix…, demandou a si mesmo em pensamentos, agarrando-se às costas da criatura com as mãos parcialmente transformadas em patas de gecko para utilizar das forças de Van der Waals. Gecko… Que era uma espécie de lagarto… Réptil… Réptil! Eureka! Uma lâmpada acendendo acima da cabeça do filho de Ártemis foi a única coisa que faltou na cena.

Em um minuto, transformou-se em uma sucuri grande o suficiente para deslizar até o pescoço do gigante e envolvê-lo com todo seu corpo. Não era a cobra mais indicada para tal, mas utilizou seu poder de constrição para apertar. Phelix estranhou que o gigante não houvesse tentado removê-lo com agressividade, mas agradeceu, tendo tempo suficiente para cortar quase que completamente o suprimento de ar do monstro.

Antes que despencasse, o filho de Ártemis adquiriu a forma de águia e voou graciosamente de volta ao chão, pousando sem maiores dificuldades. Como efeito da força exacerbada, seus músculos pareciam mais tensos que o normal, e provavelmente ficariam assim pelo resto do dia.

Ainda auxiliou Yohan a encontrar um caminho para montarem a base perto dali, e naquela noite dormiu como uma pedra.

Segunda, 01 de junho.

Como sempre, semideuses não poderiam ser felizes por muito tempo. Phelix acordou, mas preferia não tê-lo feito, visto que deu de cara com a situação da comida roubada enquanto dormiam. Ele não se prestou a xingar Aaron por dois motivos: 1) não sabia se sua forma de enguia estava suficientemente boa para se proteger de descargas elétricas tão grandes; 2) estava com preguiça. Invés disso se dedicou a pensar em algum animal que pudesse passar muito tempo sem alimento sem tantos problemas… Cobras? Crocodilos? Sapos? Talvez pinguins pelo clima…

No final um trio se destacou para caçar: Egan, Yohan e Nate. Yohan e Nate eram bons arqueiros, ele sabia, mas teve que se esforçar para conter um risinho imaginando Egan caçando peixes com socos. Por precaução, Phelix resolveu lembrar de sua fé e rezou silenciosamente para Ártemis antes deles começarem.

Felizmente, a empreitada deu certo e o grupo almoçou sem maiores problemas, seguindo sua viagem em seguida até a gruta de gelo onde encontrariam o pegasus. Lá também encontraram algumas EQUIDNAS que lançaram arrepios pela espinha do filho de Ártemis… Ele realmente não queria lidar com elas.

Enquanto seus colegas concentravam-se na luta, Phelix seguiu Devon até a criatura alada que precisava de socorro. A presença do romeno era o bastante para acalmar os ânimos do animal, parando ao lado de sua crina para tocá-lo com cuidado e gentileza. Mantendo o contato ocular, Phelix ainda se dispôs a murmurar palavras calmantes ao pegasus, o suficiente para que não se mexesse tanto e facilitasse o trabalho do filho de Hermes.

Uma vez solto, preocupou-se em ajudar o pegasus minimamente como sabia com seu raso conhecimento sobre medicina veterinária. Ele não poderia lhe prover o socorro suficiente no Ártico, porém, e no Olympus encontrariam melhores equipamentos e pessoas mais capacitadas para lidar com os ferimentos do animal.

Enfim, conseguido seu objetivo, Phelix estava ansioso para sair daquele lugar. Não que sua bunda estivesse congelando — ela estava impermeável, na verdade —, mas queria conseguir dormir sem medo de acordar com outra catástrofe.

Terça, 02 de junho.

Os semideuses cansados acabaram dormindo pelos arredores da gruta antes de partir. Phelix até tinha sorrido uma ou duas vezes naquele ínterim, mal esperando para ver sua cama novamente quando voltasse ao Olympus. Ficou assustado quando acordou no último dia, mas rapidamente constatou que os gritos não eram de desespero ou agonia, e sim de felicidade. Ele juntou sua voz ao coro animado de seus colegas, e as coisas estavam indo muito bem, obrigado… Mas hamartia é sempre mais forte nos heróis gregos. Está nos livros: eles vão cair por sua arrogância.

Uma avalanche desceu rapidamente morro abaixo, fazendo com que o grupo se separasse em busca de proteção. O próprio filho de Ártemis se viu amaldiçoando os deuses e todo o mundo, acreditando que aqueles seriam seus últimos momentos e ele morreria soterrado por uma montanha de gelo. Era por isso que Phelix não era feliz, cacete, felicidade só trazia merda.

Por um momento, Phelix viu apenas uma imensidão branca, sem conseguir encontrar seus colegas. Ele gritou e ouviu vozes ao longe, mas não conseguiu distingui-las com exatidão. Suspirou, ativando os poderes mais uma vez. Os olhos de águia lhe ajudariam a enxergar com maior eficácia e encontrar seus parceiros.

O primeiro que localizou foi Devon, o líder, e para ele Phelix correu. “Dev, alô… Terra para Devon, a gente precisa encontrar o resto do pessoal…” Tentou, mas o filho de Hermes parecia deveras confuso. Se Phelix possuísse o mínimo de conhecimento médico (ele não tinha), poderia reconhecer com facilidade que o alemão estava ferido gravemente. Ele não via sangue e, no momento de tensão, nem lembrou que não precisava de ferimentos expostos para acarretar um quadro grave. Phelix poderia ser muito inteligente, mas seu intelecto faltava quando se deixava tomar pelo nervosismo.

Como poderia ativar os poderes regenerativos de Devon? Ah, claro! Fazendo com que trabalhassem! Quem sabe estivessem apenas meio congelados? Então Phelix não hesitou antes de agarrar o ombro do mais velho com uma das mãos e estapear sua face com a outra. O olhar ainda mais confuso de Devon indicou que a estratégia não tinha funcionado. “Cacete… Desculpa, bro. Vem, vou te levar para encontrar os outros.” Agora estava culpado por tê-lo agredido sem necessidade. Ótimo.

Antes que tivesse de utilizar suas habilidades novamente, os sinalizadores foram usados. A partir disto foi fácil fazer com que o grupo de reunisse novamente e Phelix entregou Devon aos cuidados de Nate, já que este aparentemente sabia lidar melhor com suas habilidades de cura.

Phelix acreditou que este seria o último percalço na aventura, mas não contava que uma ESFINGE aparecesse. Ele jurava que esfinges eram exclusivamente egípcios, mas pelo jeito teria de prestar mais atenção às aulas dali em diante. Contudo, sabia que era apenas questão de responder uma charada e estariam liberados, certo? Por sorte, tinham uma filha de Atena no grupo, pronta a lidar com aquele incômodo.

A esfinge — Phelix apelidou-a mentalmente de Albertinha, ela tinha cara de Albertinha — os seguiu, porém, desgostosa com a resolução de seu enigma. Mas o que ela esperava se nunca mudava aquela merda? Todo mundo já sabia a resposta. Agora era apenas mais um monstro que teriam de lidar, mais uma chance de morrer ou se machucar gravemente...

Phelix pensou em fugir e correr até o portal, mas Kasper provavelmente iria matá-lo se fosse tão desleal com seus companheiros. Portanto foi com grande mau humor que retirou o arco das costas e roubou algumas flechas de Yohan para executar o plano de Dominic, enrolando a ponta da seta com uma corda e mirando uma das asas.

Particularmente, o romeno não apreciava armas e preferia se escorar em suas habilidades animais. Todavia, a maternidade lhe dava uma ótima mira e precisão, maximizada pela capacidade que seus olhos poderiam alcançar quando transformados, tornando fácil a tarefa de imobilizar uma das asas da criatura colossal.

Ele, porém, se refreou de fazer mais depois do acerto. Tinha certeza que a surra que a coitada levou já tinha lhe traumatizado para toda a vida. Deixou que os outros integrantes do time a finalizassem e, finalmente, pudessem seguir para o portal.

Phelix não aguentava mais o Ártico e esperava nunca mais ver neve em sua vida.

#selfparas.#selfparas: missões.

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