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sobreviversp · 7 years

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e aí, ganhamos!?

Cinco meses que não publico nada por aqui… não por falta de coisas vividas nessa paulicéia frenética, acho que foi só a falta das palavras certas mesmo. Mas, mano (pois é… mano... essa palavra já se incorporou sozinha ao meu vocabulário, assim, sem nem pedir licença), essa não tinha como não escrever. O dia começou vagaroso e gostoso, bem do jeito que um domingo que começa ao meio-dia deve ser. Mesmo com a barulheira da Negona, Cachorrão, Passarinho e companhia - personagens do cortiço em frente à minha janela - jogando dominó, ouvindo os clássicos mais barulhentos da música alta, espremidos debaixo de dois guarda-sóis no quintal e gritando muito mais alto do que o razoável para os meus ouvidos que queriam continuar dormindo. O dia estava lindo, o alarme tocava incessantemente, a realidade invadia meu quarto. Eu queria continuar perdida ali naquele dia fora do calendário, mas já era domingo.

Fiz meu almoço enquanto conferia as mensagens no celular deixado de lado desde a noite anterior. Ralar abobrinha, cortar cebola, Quem tá saindo do Santo Forte só agora? (às 7h da manhã), refogar abobrinha ralada, quebrar os ovos, temperar a abobrinha, Uau! Que orgulho baladeiro!, bater os ovos, esquentar o arroz, Grupo novo pra gente se ver mais!, abrir a lata de sardinha, lavar a mão porque não sei abrir direito essas latas e sempre espirra tudo, Oba! Vamos se ver hoje?, jogar os ovos na abobrinha, ver se o arroz já secou, Sim, não, 18h, 20h, segunda, terça, hoje, sim, não…, colocar as cebolas no omelete, desligar a panela do arroz, Te falei que lá na bilheteria só aceita dinheiro?, abrir o pote de maionese, tampar a panela do omelete, Charanga do França no Largo da Batata às 16h então!, tirar a espinha da sardinha, lavar a mão, mano, que treco melequento, Tô fazendo meu almoço agora e te aviso quando estiver saindo de casa!, amassar a sardinha, virar o omelete, Te encontro direto no Pacaembu tudo bem?, colocar queijo em cima do omelete, tampar a panela, Quer que eu leve uma camisa do Corinthians pra você ou vai só de preto e branco?, misturar a maionese na sardinha, tirar o omelete da panela, Como fazemos na quarta?, temperar o patê de sardinha, Pego vocês às 3h da manhã, tostar os pães na panela, desligar o fogo, Marquei a Cidinha pra gente amanhã, preparar a salada, Amanhã é meu rodízio me pega na Rebouças e volto de busão, colocar tudo no prato, sentar, Olha meu almoço hoje!

Ufa! Delícia de almoço! Agora correr pra chegar no Largo da Batata às 16h. Me embolei no desafio de vestir uma roupa ao mesmo tempo foliã e corinthiana e saí atrasada. Entrei no metrô Anhangabaú no maior sol. Oi, verão, finalmente você apareceu, hein?! Cheguei na Faria Lima e comecei a me preocupar quando vi uma pessoa descendo a escada rolante fechando seu guarda-chuva super molhado. A preocupação se confirmou quando vi uns foliões descendo a escada rolante ensopados. O pequeno desespero se instalou quando cheguei na entrada da estação e estava lotado de gente en char ca da. Mas a chuva estava bem de boa até… Abri meu guarda-chuva e fui procurar a Charanga do França e a Milena. Enquanto a procurava nos guarda-sóis, quer dizer… guarda-chuvas dos vendedores de cerveja escutei o áudio que ela tinha acabado de me mandar. Oi, Cá! Tô encharcada, choveu até granizo! Vou até o metrô te dar um oi só, tá foooda! Foi o tempo de achá-la ilhada num vendedor de cerveja, correr pra lá e cair o maior temporal de novo. 8 pessoas abrigadas em volta do isopor cheio de cerveja, cada uma segurando uma ponta do guarda-sol na esperança de nos molharmos menos e na necessidade dele não sair voando. Muito vento, muita chuva e granizo, pois é, GRANIZO batendo forte nas nossas pernas. E a Charanga NÃO PAROU DE TOCAR. Nenhum segundo. Nem com as pedradas de granizo! Sério, não eram pequenas as pedras de gelo que caiam. Milena e eu não nos víamos há alguns meses, muita fofoca pra colocar em dia, mas a gente não conseguia fazer nada além de rir. Muito! A chuva deu uma trégua e a gente saiu do nosso abrigo e foi pular com o restante dos sobreviventes. Duas músicas depois, a chuva já tinha parado e já dava pra ver um tanto de céu azul. Parecia que nada tinha acontecido, a não ser pelo fato de que estava todo mundo ensopado e não era de suor como de costume no carnaval. A gente deve ter curtido de verdade umas 4 músicas só, mas só consigo dizer que o carnaval não podia ter começado melhor! Saí de lá encharcada só da cintura pra baixo (Obrigada por isso, moço da breja!) em direção ao Pacaembu. Estava indo assistir pela primeira vez a um jogo de futebol num estádio. E estando em São Paulo, ia a um jogo do Corinthians, claro. Ônibus demorando pra passar, depois eu ainda tinha que andar mais um tanto, meu tênis tava ensopado, eu ainda tava com sono… pensei em ir pra casa... que que eu ia fazer num jogo de futebol, gente? Ia encontrar um brasiliense corinthiano querido recém-chegado na babilônia e enfim viver essa experiência importante da vida, né? Fui. Depois de descer do busão na Dr. Arnaldo, segui a pé até o Pacaembu. Só tinha 10% de bateria, mas daquele ponto já não tinha mais como me perder, era só seguir a trilha de corinthianos, guardadores de carro e vendedores de capa de chuva.

- Olha a capa de chuva, moça!, gritou o rapaz quando eu ainda estava me aproximando. - Não, valeu!, respondi já quase na frente dele, pensando “agora não adianta mais…". - Você é japonesa legítima?, ele perguntou quando eu passei ao lado dele. - Não, sou brasileira memo!, respondi já de costas pra ele. - Você já foi pra China e esses lugares aí?, ele gritou enquanto eu me afastava. - Não, ainda não!, gritei de volta quando já estava longe.

Cheguei! Encontrei o Romero, meu traje preto e branco foi aprovado pelo crivo corinthiano, compramos nossos ingressos no tobogã, comi um churrasquinho, tomei uma breja porque o churrasquinho tava muito salgado, fiquei por dentro de todo contexto corinthiano, encontramos um casal de amigos, entramos. E que emoção entrar num estádio, hein? Subir as escadas e de repente ver a torcida e aquele campo enorme! Incrível! E começou o jogo! E… acabou a luz do estádio e parou o jogo… Tirei meu tênis e torci minhas meias, fiquei descalça o jogo todo porque vai que, né? Como ser pé quente com o pé encharcado!? Aham… sei… eu tava era agoniada com as meias molhadas e o pé enrugando já! Mas, bem… deu certo! 4 a 0 pro Corinthians! O primeiro gol foi lá do outro lado do campo… a gente tava do lado de cá, atrás do gol do Corinthians. Só entendi que foi gol, mas como ele se deu não sei dizer, é difícil entender o que acontece lá do outro lado. Nenhuma movimentação do lado de cá até chegar o segundo tempo e o segundo gol, dessa vez bem pertinho da gente. Vi e entendi tudo, mas hein, que agonia não ver a reprise do gol! Daí foi gol do lado de lá... foi? Não foi? Impedimento! Torcida do São Caetano, que tava toda do lado de cá não viu… não entendeu… tava longe né… torcida do Corinthians correndo pra perto deles pra zoar os desentendidos… no mesmo instante o goleiro corinthiano chutou a bola pro moço que já tava correndo pro lado de cá… uns tavam olhando, outros não… e aí foi o terceiro gol e uma bagunça de cada um entendendo uma coisa a depender do que viu e deixou de ver. Deu pra entender? Enfim… o quarto gol foi o melhor, esse acho que quem não entendeu foi o goleiro, que tava jogado no chão enquanto a bola passava em câmera lenta por cima dele, mas eu já não sei mais explicar o quão engraçado foi. No fim das contas, posso não ter tido a melhor visão do jogo como um todo e não estar perto da torcida mais animada e cheia, mas só de ter visto essa cena daquele ângulo valeu a escolha pelo tobogã! Tinha ainda os dois senhores engraçados do nosso lado, tinha um cara muito puto com alguma coisa incompreensível, tinha dois meninos subindo as escadas de joelhos no final, tinha os PMs não deixando os meninos pagarem a promessa, tinha mais um tanto de coisa acontecendo, mas acho que eu já falei demais, né? Eu já tava praticamente seca quando saímos em busca de comida, só meus pés que pareciam mergulhados numa poça a cada passo que eu dava. Ainda assim, era uma sensação gostosa de seguir os caminhos paulistanos a pé. Do centro pro Largo da Batata, do Largo da Batata pro Pacaembu, do Pacaembu pra Paulista, da Paulista pra casa. Desci a Augusta e ali na altura da Praça Roosevelt enquanto apertava o passo pra atravessar a rua que passa por cima da 9 de Julho: - Tem que correr antes que chova de novo, né?, o moço que também andava apressado ao meu lado puxou conversa. - Pois é, meu tênis tá encharcado! - Nem me fala, trabalhei debaixo daquela chuvona... - Putz, fazendo o quê? Com granizo na cabeça? - Faço carga e descarga de caminhão, sabe? Pros chineses lá. Tá voltando da balada? Demorei uns segundos pra responder porque meu cérebro deu um mini tilt já que a resposta comum seria sim. A resposta totalmente improvável seria… - Tô voltando do jogo do Corinthians. - Ganhamos? - 4 a 0! - Aí sim! - Tchau, bom descanso!, falei já atravessando pro outro lado da rua - Valeu, vai com deus! Segui pela Santo Antônio, atravessei mais uma rua e fiquei atrás de um grupo de 4 foliões felizes e alcoolicamente desengonçados. O cara me viu chegando, cutucou a menina do lado e apontou pra mim sorrindo pra menina. A menina logo virou pra olhar pra mim e nessa hora eu já tava vendo tudo e rindo da falta de discrição deles. - Oi… o cara cutuca a outra foliã surpreendido que a menina tinha falado comigo. - Oi. - Cê não tem medo de andar sozinha assim não?, a menina perguntou com uma cara de quem tentou pensar em milhares de coisas pra dizer, mas saiu isso... - Ah, não muito, só saber por onde andar. - Tá voltando ali da Augusta? - Do jogo do Corinthians, na verdade. - E aí, a gente ganhou? - 4 a 0! - Porra, do jogo do Corinthians? Sou são paulina!, interrompeu a outra foliã já atravessando pro outro lado da rua. - Falou, boa noite! - Tchau! Cuidado aí na volta pra casa, hein!

A chuva começou a cair devagarinho quando eu já estava na minha rua. Cheguei em casa, tirei meu tênis, minhas meias, banho quente, roupas secas, cansada e a sensação de um dia nada menos que incrível… desses que não tem como não escrever sobre ele...

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