#héktor:flashback
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Há 10 anos...
Héktor estava em seu modesto chalé bem encaixado por entre os demais. O ambiente era acolhedor, com o crepitar reconfortante da lenha em chamas preenchendo o ar com um calor suave e aconchegante. A luz do sol filtrava-se pelas nuvens quase densas e janelas, pintando padrões embaçados no chão de madeira gasta. Ele estava sentado à mesa de carvalho maciço e sua mente absorta em antigos pergaminhos de magia. Ao seu redor a mesa estava ocupada, repletas de livros velhos -- que pegou no mesmo dia mais cedo na biblioteca da Casa Grande -- que continham ensinamenos de séculos de práticas mágicas.
Desde pequeno, Héktor se orgulha da facilidade que possui para o rápido aprendizado e ser autodidata não era uma coisa ruim, já que tantos acontecimentos se desenrolavam de uma hora para outra. Estar preparado era uma necessidade.
Após horas de estudo da teoria, Héktor partiu para a floresta. O caminho sinuoso que levava ao coração da floresta estava coberto de folhas secas e musgo macio, criando um tapete natural que amortecia seus passos. O ar estava impregnado com o perfume fresco da vegetação em volta, enquanto os sons da natureza ecoavam ao seu redor.
Aos poucos a tarde foi se tornando nebulosa, enquanto ele encontrava-se na clareira da floresta, onde a luz do sol relutava-se através das copas das árvores, lançando sombras dançantes ao seu redor. Com uma concentração intensa, ele estendia as mãos, sentindo a energia mágica pulsar através de seus dedos. Seu objetivo era aperfeiçoar seu controle sobre a magia que ele invocava, uma habilidade que ele estava detemrinado a dominar para proteger quem fosse preciso.
Enquanto murmurava encantamentos antigos em mescla com gestos de mãos variados, sua energia dançava ao redor das suas mãos, obedecendo à sua vontade. Héktor sorriu com o desenrolar do seu treino, mas então algo estranho aconteceu. Uma sensação de vazio começou a se espalhar por seu peito, como se a própria essência da sua magia estivesse escorrendo de suas veias.
-- O que está acontecendo comigo? - Ele murmurou, sua voz vacilando de medo e confusão. Héktor tentou se concentrar ainda mais, desesperado achando ter sido um lápso de falta de atenção, ou talvez esgotando o seu corpo pelo uso contínuo, mas seus esforços foram em vão embora o corpo não sentisse sinais de exaustão. A energia branca azulada quase transparente que antes dançava obediente em suas mãos e por entre os dedos agora se estinguiram abruptamente, deixando-o em total escuridão. Héktor sentiu um arrepio percorrer sua espinha, uma sensação de desamparo e desespero que o fez tremer.
- Não, não, não… - Sussurrou para si mesmo a medida que o coração disparou, ao prostrar-se joelhos tateando o solo terroso da clareira. Os dígitos se fecharam na grama verde e folhas secas, na tentativa de sentir novamente a energia da natureza… Porém nada acontecia. Ergueu os olhos assustados e desesperados olhando em volta a procura de tudo, mas ao mesmo tempo de nada já que não teria ninguém por perto. Sua respiração se tornou exasperada quase compassada com os fortes batimentos do coração. - Não sinto nada!
-- Não pode ser... Não pode ser... - Estentou as mãos mais uma vez, ainda de joelhos sobre a grama, tentando respirar mais calma e compassadamente e acalmar os batimentos, mas de novo nada aconteceu. Seus olhos marejaram. - O que está acontecendo? - Ele estava desarmado, privado da sua magia tão repentimanete quanto um raio em uma noite tempestuosa.
Com a voz trêmula, ele sussurrou - Meus... Meus poderes. O que houve? - Mas o silêncio da floresta foi sua única resposta. Uma onda de choque o atingiu enquanto percebia a extensão total da sua perda. Os olhos que antes estavam apenas marejados, agora escorriam o líquido salgado pelas maçãs do seu rosto. Se sentiu tão pequeno quanto o grão de terra gritado em sua palma. Encarava suas mãos caídas sobre a coxa que a pouco era o seu maior símbolo de poder. Ele não podia mais manipular a energia mágica ao seu redor e muito menos sentir, estava vulnerável e exposto. - Vamos Héktor. Foco! - Tornou novamente a brandir as mãos, como feito em outroras vezes, mas sua magia não se acendeu em suas palmas.
Desorientado e assustado, Héktor recuou, sua mente girando com uma torrente de perguntas e incertezas. - Por que isso está acontecendo comigo? - Ele murmurou para si mesmo entre soluços, suas palavras ecoando no vazio da floresta. - O que eu fiz de errado? - Implorou ao universo, sua voz cheia de desespero e confusão. Uma sensação de isolamento e impotência o envolveu enquanto ele contemplava o vazio em suas mãos. - Mãe… - Chamou. A voz embebida de dor e desamparo, o timbre falho devido ao choro enquanto os castanhos olhos procuravam por ela nos céus. -…se estiver aí, me ajuda. - Pediu com súplica, mas quando percebeu que não teria uma resposta, se deixou levar pelo medo, pelo desespero e pela onda de choque que o derrubou com o silêncio da deusa.
Perdido em seus pensamentos, Héktor permaneceu imóvel ajoelhado na clareira da floresta encarando as mãos, olhando-as com fixação enquanto o choro era sua única forma de externalizar a confusão e o desamparo. O sol estava se pondo lentamente, tingindo o orizonte com tons de laranja e vermelho, mas para ele tudo, tudo parecia sombrio sem cor e sem esperança.
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