#guirá'i reko
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passo após passo: antúrios murchos no basalto
lodo ou folhedo: sobre o restolho o couro sangrento
dos pedregulhos na sola os talhos
o solo árduo
mas alado
guirá ñandu
Para Teodoro (sob a Constelação da Ema, cujas penas são desenhadas por claro-escuros da Via Láctea)
pode que a noite hoje se furte a amanhecer a terra desmorone nos bordos do poente e outra vez o sol como antes não desponte
em busca de outro sol pode alguém se perder abandonando o humano para encontrar seu deus - o mesmo que ao nascer deu-lhe um nome secreto de sua divindade perfeito e repleto
pode que na viagem no trajeto disperso um homem adivinhe a vereda possível sem fim, de sol a sol até que a fome e a febre
o êxtase à flor da pele a intempérie, a prece a dança em excesso transportem o corpo adverso e o espírito pulse e respire e confronte o mar que o separa da terra indestrutível
quem sabe o paraíso que descrevem os antigos não esteja além do vasto nevoeiro e sargaço mas no árduo percurso vencido passo a passo sem bússola ou mapa do céu em pergaminho
talvez além do zênite que ofusca o caminho deixando um invisível roteiro para os olhos que enfrentam o escuro entre os dois crepúsculos
moradas nômades
carunchos e cupins roem, vorazes, a choupana de ripas
pendem do esteio ramos de trigo feito amuleto para celeiro cheios; tachos esfarelam crostas de grãos moídos e redes balançam seus esgarços perto do chão onde uma nódoa preta mostra o antigo fogo
tudo abandono e, no entanto, lá fora o pomar semeado para os que agora cruzam (trouxas vazias), um por um, os onze mil guapuruvus
Josely Vianna Baptista, in Roça Barroca , 2011
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