reencenamos o mesmo espetáculo toda manhã quando meus braços te envolvem e seu calor me toca. completamos as lacunas visíveis com as linhas e encaixes de nossos corpos, entregamos nossas declarações com palavras doces e confissões.
recebo com mistério suas ansiedades e taquicardias, cheia de curiosidade a respeito do que significa teu coração correr tanto. me distraio da sensação que na verdade corre de mim. meus beijos são tentativas de convencer, minhas mãos tentam tornar mais claro que o amor é real como este sol que nos ilumina diariamente a milhares de anos-luz de distância.
nenhum argumento ou sensação me tiram a certeza da sua dúvida.
vejo em seus olhos faíscas de algo inacessível que constantemente tento alcançar, me moldando aos seus desejos nunca ditos, cercada pela certeza de que posso estar me tornando outro alguém. me apego a certeza do seu amor tentando esquecer as palavras errantes ao se referir a nós, como alguém que quase erra o nome. a sutileza de sua hesitação traz a tona a inacessibilidade desse amor que quero tanto merecer.
um amor que até mereço e talvez nunca receba.
que injustiça poética não receber o amor que merece.
que crueldade fatídica ter metade de um coração — ou menos.
nos dias frios ou quentes, nas noites boas ou ruins, nada tira de mim a sensação de ser casca. nada tira de mim o medo de ser uma sombra de outro alguém que não pode estar aqui, um vislumbre de alguém que jamais poderei ser porque já existe.
então desvio o olhar, deito em teu peito como se não soubesse que nosso amor perfeito tem prazo de validade, que outro nome te preenche os lábios antes de se lembrar do meu.
[perfect don't mean that it's working]