#gentrificação
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The people under the rubble
Escondida num canto arborizado e silencioso próximo ao epicentro do agitadíssimo East End londrino existe uma rua circular com prédios vitorianos de tijolinhos bicolores. No meio dela, sobre uma elevação cercada de degraus, há uma praça com chão de cimento e terra batida de onde se ergue um pequeno coreto.
A cinco minutos dali jovens hipsters em roupas coloridas e tênis de marca desfilam pelo mercado de Brick Lane ao som de indie music e envoltos pelo aroma de indian curry, mas a densa copa das árvores centenárias que envolvem a praça abafa o ruído das vias principais do entorno. Ali se consegue ouvir o canto dos pássaros, apreciar as peripécias dos esquilos, relaxar tomando um café e respirar ares de uma outra época.
A rua se chama Arnold Circus e é como se você tivesse virado uma esquina e entrado em outro século.
No começo esse era apenas o jardim de um convento, mas a população da zona leste não parava de crescer e ocupar espaços. Por volta de meados do século 19 a área já tinha se tornado residencial e se transformado completamente; conhecida como "a pior favela de Londres", Old Nichol era ocupada por criminosos, prostitutas e miseráveis em geral - quase 6 mil pessoas amontoadas em quartos minúsculos espremidos ao longo de meia dúzia de ruas. A mortalidade infantil na comunidade era altíssima e nos mapas da época consta como região a ser evitada por motivos de violência.
Um artigo de jornal de 1863 não mede palavras: "O limite de texto é insuficiente para descrever em detalhes um único dia de visita. Não há nada de pitoresco em tal miséria. É uma repetição dolorosa e monótona de vício, sujeira e pobreza, amontoada em porões escuros, sótãos em ruínas, quartos vazios e enegrecidos, cheirando a doença e morte.
Por volta do fim do século um padre anglicano iniciou uma campanha para arrecadar fundos e reformar a igreja, construir um clube e um pensionato. Por fim pressionou o conselho local e a prefeitura a demolir toda a favela e erguer habitações novas e subsidiadas para a classe trabalhadora. O grupo de blocos foi chamado de Boundary Estate e cada prédio tinha 5 andares, no estilo Arts and crafts e foram projetados para proporcionar luz e ar puro para os residentes.
A praça foi batizada como Arnold Circus em homenagem a Arthur Arnold, presidente do conselho; graças aos seus esforços os prédios foram construídos em alto padrão para a época. Cada bloco (ou "casa") tem um nome e seus pórticos têm estilos e cores variados.
Infelizmente a maioria dos habitantes da favela não se beneficiou das mudanças; os novos prédios da Old Nichol foram destinados aos "pobres merecedores" - os que estivessem empregados, fossem livres de vícios e pudessem se sustentar. O restante foi simplesmente transferido (expulso) para outras áreas, sem nenhum auxílio ou compensação, aumentando a superpopulação de favelas já existentes ou criando novas.
E o fato de a pracinha ter sido construída sobre uma área elevada não é apenas escolha estética. Ali embaixo estão os entulhos e escombros da favela que foi demolida.
Mais recentemente a área passou por um processo de gentrificação. Os apartamentos particulares têm grande procura e não são baratos, mas o conselho local ainda controla 2/3 dos imóveis disponíveis que continuam sendo subsidiados para as classes menos favorecidas - um mix de nacionalidades e etnias. A associação de moradores é bastante ativa na organização de eventos e tanto a praça quanto o jardim são cuidados por alunos de escolas locais. Os prédios são bem cuidados mas não foram reformados (muitas janelas e portas são originais), o que mantém o ar de "old London" da vizinhança.
As placas minimalistas das lojinhas independentes vendendo badulaques superfaturados dão um ar de modernidade chique às sete ruas que vão dar na praça - mas a arquitetura sisuda e sem firulas da Inglaterra vitoriana e os ecos de outrora em alguns detalhes preservados nos lembram de que o passado está enterrado bem ali, nos fragmentos de memória embaixo daquele coreto.
Andando pelas calçadas limpas e bem cuidadas é impossível não pensar nos habitantes da Old Nichol, na vida de privações e desconforto e no destino que tiveram pós demolição quando foram removidos de suas comunidades e escassas redes de apoio. E tudo isso soa tristemente familiar, porque o Brasil também teve o seu percurso em direção ao progresso marcado por questionáveis episódios de higienismo.
O concreto que cobre novas estradas costuma passar por cima da história de muita gente pobre, mas no caso desse pedaço pitoresco do East End uma parte dessa história é a base da estrutura. Algo pra se pensar sentado nos bancos da praça enquanto se degusta o chai latte artesanal de um café instagramável.
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Guimarães
Não apanhámos os dias mais solarengos no início de Junho, mas não demos a visita como perdida. Bem pelo contrário: Guimarães é uma cidade magnífica, com um centro histórico charmoso e muito bem recuperado, recantos encantadores, e uma vista absolutamente imperdível da Penha (vale bem a pena o passeio de teleférico). Calhou ainda termos ficado num dos raros AirBnb que se mantém fiéis ao conceito original da plataforma: alugueres de curta duração de um quarto na casa onde os anfitriões residem (longe portanto da voragem predatória de aquisição de imóveis para aluguer e da gentrificação inevitável dos centros das cidades). O que talvez até não fosse relevante, mas no caso foi: a nossa anfitriã foi impecável, e para além da conversa e das muitas sugestões que nos deu, ainda nos indicou um percurso pela cidade da sua autoria, com narração em áudio, recuperando histórias dos vários locais por onde se passava. Uma iniciativa mesmo muito gira, que acrescentou imenso à nossa descoberta da cidade-berço.
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É isso mesmo que vocês estão lendo: mais uma pesquisa de interesse.
Nossa proposta vem em formato nxn e se passa em um complexo luxuoso com características de hotelaria, composto por três arranha-céus, sendo estes, dois residenciais. O plot, que é ambientado em Busan, acompanha um passado trágico com problematizações na rotina de magnatas e bem sucedidos. Envolve corrupção, gentrificação, eliminações misteriosas, e claro, não podemos esquecer dos eventos de gala para os esbanjadores de dinheiro.
O acesso às residências só será possível se seu char tiver uma renda altíssima. O suficiente para não precisar colocar os pés para fora do apartamento.
Ah, deixamos claro que não focaremos somente nas desgraças, tá? Nosso intuito é promover uma boa comunicação e uma confortável imersão com brincadeiras, eventos de viagens e algumas surpresas para que todos consigam desenvolver seus personagens com grandes amizades e momentos marcantes.
Buscamos players que queiram ficar por muito tempo conosco, pois fizemos pensando em abandonar a rotina de migrar de comunidade em comunidade.
Por fim, a esperada e importante pergunta: quem está afim de uma comunidade de formato nxn slice of life de condomínio, only Twitter (e futuramente, Discord também), 50 vagas iniciais, com diversos detalhes para contribuir no desenvolvimento e estadia de seu personagem? Deixe o like nesse post e suas dúvidas na ask!
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Porto ou Morto?
O Centro Comercial STOP, considerado um dos mais importantes centros culturais na cidade Invicta, viu esta terça-feira 105 das suas 126 lojas fecharem portas por ordem da Câmara Municipal do Porto, sem qualquer aviso ou notificação.
O famoso prédio foi construído em 1982 e serve como uma segunda Casa da Música há mais de 20 anos, sendo que grande parte da infraestrutura é composta por estúdios e salas de ensaios para inúmeros artistas. 500 músicos e produtores musicais foram assim despejados por agentes policiais, ficando sem espaço para trabalhar. Entre eles, alguns nomes bastante conhecidos, como a banda "Ornatos Violeta".
Em causa estão as licenças das lojas, que segundo a Câmara Municipal do Porto, não estão regularizadas.De frisar que o futuro do STOP vinha sendo discutido entre o Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva e o Presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Moreira, há já algum tempo, nomeadamente questões de segurança do local e queixas de ruído por parte da vizinhança.
No entanto, os protestos não se fizeram esperar e, ao longo do dia de terça-feira, as autoridades locais foram confrontadas pelos apelos da multidão e cartazes onde podia ler-se "Morte à Cultura" e "Não ao STOP do STOP". Os protestos estenderam-se às redes sociais, onde imensos artistas portuenses e nacionais mostraram a sua indignação. Novas manifestações estão agendadas para a próxima segunda-feira.
Por entre discussões, reuniões e burocracias, esmorece a música. As chefias, como maestros, dão o toque de marcha fúnebre conforme a retirada dos instrumentos, e enterram-se os artistas desalojados, que se vêm sem qualquer resposta ou prospecção futura.
Irá prevalecer o agora vazio edifício STOP, ou cairá na teia da gentrificação sendo vendido e transformado em mais um hotel de luxo? Irão sobreviver os artistas do Norte à tentativa de homicídio da cultura? As respostas tardam e a melodia da Invicta está, por agora, mais cinzenta."
Texto: Cristiana Baptista
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No dia catorze de abril, tive a oportunidade de acompanhar o grupo de pesquisa numa tour pela Pequena África, na zona portuária do Rio. Realizar a caminhada pelas ruas que foram planos de fundo de grandes eventos históricos e cenário de embates sociais, como a Revolta das Vacinas, me fez refletir sobre todo processo de construção do estado. O privilégio enriquecedor de escutar a perspectiva do guia Lucas sobre o trajeto que não apenas faz parte do seu trabalho, mas também esteve presente na sua trajetória como jovem carioca me aproximou da região que eu só havia experienciado de passagem ou em pequenos “rol��s” e comemorações. Ficou impossível não recordar sobre as aulas do ensino fundamental sobre o período monárquico, reparar nos nomes das ruas e disfrutar as paisagens urbanizadas proporcionadas pelo passeio, como a vista do jardim suspenso do Valongo e a subida do Morro da Conceição. Desde o começo do trajeto, lá no Instituto Pretos Novos, o sentimento de impacto ao perceber o quão recente é a descoberta do cemitério e todo o descaso da prefeitura e governo para tornar todo aquele patrimônio histórico acessível à população fluminense é revoltante. Por outro lado, é ainda mais esclarecedor estar num círculo que além de acreditar na luta antirracista contribui para a reeducação de todos que frequentam o espaço. As informações que nos faltam ou foram esquecidas acerca da descoberta das escavações e a da logística de desembarque e venda dos escravos nos eram contadas durante a visita. Assim tivemos a reconfirmação de que todas nossas leituras do final do ano passado estão em sintonia com todos os diálogos, principalmente quando o livro do Jessé de Souza “Como o racismo criou o Brasil” foi citado. As conversas sobre samba, religião se tornaram mais vivas a partir do momento que percebíamos esses elementos nas casas e paredes do bairro. A gentrificação foi outro tema que não pudemos ignorar, devido às novas construções milionárias que afetarão os moradores da Gamboa, com a tendência da repetição desse ciclo de diáspora, que abriu margem para enxergamos o quanto essas fugas na nossa cidade estão tão próximas de nós. É incômodo perceber que as marcas coloniais são recentes. Não estamos distante do que foi a escravidão e de toda a crueldade que envolveu o processo. Agregando às conversas, Lucas sempre trazia memórias relacionadas aos seus aprendizados na capoeira, cantou um cântigo de roda que questionava a bondade da princesa Isabel ao abolir a escravidão. Logo fiz um link com a exposição “Atos de revolta” que eu havia acabado de prestigiar no Museu de Arte Moderna, em que os curadores e obras apresentadas dialogam com a narrativa ocultada sobre a independência do Brasil, sempre relacionada unicamente a D. Pedro e consequentemente apagando a luta da população que estava à margem do topo da pirâmide social, assim, a luta dos povos negros e indígenas são relembradas com maestrias pelo museu. Em suma, o passeio foi maravilhoso e me fez desejar ter conhecido tudo aquilo antes, segui pensando como seria minha percepção de mundo se eu tivesse andando pelo centro do Rio quando mais novo, se eu tivesse estudado e presenciado mais da cidade, um trajeto que era raro e sempre relacionado a burocracia ou saúde de meus familiares. Eu, sempre como acompanhante e escutando o quanto era perigoso, nunca fui incentivado a estar ali com a intenção de contemplação e reflexão, por isso só pude adotar a vivência na minha rotina a partir da minha adolescência e das decisões profissionais e acadêmicas que elegi. Sem dúvida, voltei para casa com uma nova visão sobre todos aqueles espaços que já cheguei a pisar anteriormente, mas que agora posso ocupar de maneira mais consciente e me sentindo conectado à cidade.
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Gentrificação urbana e exclusões sociais; Arquitetura hostil.
Trabalho da disciplina de: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DOS PROCESSOS COMUNICATIVOS.
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Coletivo Inflamável faz circulação de espetáculo movi trabalho no Grande Bom Jardim
Ítalo Leite Saldanha Provocados por uma matéria jornalística dos anos 90, que falava sobre a desnutrição e a fome no nordeste, o Coletivo Inflamável, grupo de artistas do Bom Jardim, criou a peça Homem-Guabiru, termo atribuído às pessoas marginalizadas e expulsas dos manguezais pela gentrificação e que se proliferaram pelas cidades. A comparação metafórica do homem com um rato vem de Josué de…
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A Disney supostamente retirou um episódio de Moon Girl e Devil Dinosaur por contar uma história trans-inclusiva #ÚltimasNotícias #tecnologia
Hot News Garota da Lua e Dinossauro Diabo muitas vezes tocou em ideias sobre raça, classe e questões como gentrificação, ao seguir as aventuras da genial Lunella Lafatette (Diamond White), de 13 anos, e de seu dinossauro de estimação, Devil (Fred Tatasciore). Mas de acordo com postagens de mídia social agora excluídas de animadores que trabalharam em “The Gatekeeper” – um episódio sobre Lunella…
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Dias frios, mês de inverno. Eu diria que era dezembro, mas minha mente jogou contra mim, dizendo que era janeiro. Um eléctrico a caminho, acompanhado de música de piano com sons ambientes de chuva, enquanto admira a gentrificação da cidade. Carros parados nos semáforos vermelhos, murmúrios de pessoas que não emitiam som claro. Chegar e esperar por você, e depois ter o seu tempo e focar em nós mesmos, com a sensação constante de cegueira, de não conseguir chegar a lugar nenhum, por mais que eu tentasse. Fumar enquanto caminhávamos e depois atravessar a rua correndo, arriscando que tudo acabasse mal. Forçar a despedida rapidamente, porque no fundo eu sabia que não era, mas ao mesmo tempo era. Eu mesmo procurei.
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O real terror desse episódio é a gentrificação
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EXPANSÃO DO COMERCIO EM HAENA.
Oi! Ao que estávamos finalizando a nossa central, resolvemos vir aqui explicar o avanço do comercio em Haena, principalmente por ela ter comércios grandes pelo local! Lembrando que ela é ambientada em Jeju, então muitas coisas existentes em Jeju, vão ter ali também!
Logo mais teremos a abertura da nossa central, fiquem de olho!
A expansão do comércio em Haena Village, trouxe um rápido desenvolvimento econômico, mas também gerou tensões entre os moradores antigos e os recém-chegados. Com o crescimento da infraestrutura comercial e o aumento do turismo, Haena se tornou um local atraente para novos empreendimentos e empresários, o que impulsionou a abertura de lojas, cafés, restaurantes, e até mesmo centros culturais. O desenvolvimento trouxe novas oportunidades de emprego e melhorou a qualidade de vida para muitos, mas nem todos os moradores viram essas mudanças de maneira positiva.
O Crescimento Comercial
Nos últimos anos, o governo local incentivou a expansão do comércio para tornar Haena um destino turístico competitivo. Distritos como a Vila dos Comerciantes e o Distrito de Haneul se beneficiaram com isso, recebendo investimentos significativos para modernização e infraestrutura.
Protestos dos Moradores Antigos
No entanto, esse rápido crescimento comercial não foi bem recebido por todos. Muitos moradores antigos, que vivem na ilha há gerações, começaram a protestar contra a expansão. Eles argumentam que o aumento do turismo e a chegada de grandes empresas estão destruindo a identidade e o ambiente tranquilo de Haena. Os protestos se intensificaram nas áreas mais afetadas, como o Distrito do Bosque e a Vila dos Pescadores, que sempre foram reconhecidos por suas paisagens naturais e cultura tradicional.
Os principais motivos de insatisfação incluem:
Descaracterização cultural: Os moradores temem que as tradições locais estejam sendo sufocadas pela comercialização e o turismo em massa.
Gentrificação: O aumento dos preços de moradia e terrenos fez com que muitos moradores de longa data fossem deslocados, pois não conseguem mais arcar com os custos de viver na ilha.
Poluição e impacto ambiental: Com mais visitantes, a poluição e o lixo aumentaram, o que afeta as áreas naturais que antes eram preservadas. Além disso, os projetos de construção de novos estabelecimentos começaram a ameaçar ecossistemas locais.
Perda do comércio tradicional: Pequenos negócios familiares e tradicionais, como mercearias e restaurantes locais, estão sendo ofuscados por grandes redes e empresas de fora, que trazem um estilo de vida mais comercializado e urbano.
Resistência dos Moradores
A resistência tomou a forma de protestos organizados em praças públicas e nas sedes do governo local. Associações de moradores também têm pressionado para que sejam implementadas leis de preservação, que limitem a construção de novos estabelecimentos em áreas de importância histórica e ambiental. Cartazes com frases como "Haena é nossa" e "Preservem nossas raízes" começaram a aparecer em pontos turísticos e redes sociais, e alguns moradores estão boicotando empresas de fora, preferindo gastar em comércios locais e tradicionais.
O Futuro de Haena
Diante dessa resistência, o governo da ilha está tentando equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação da cultura local. Propostas para proteger certas áreas da ilha da exploração comercial estão sendo discutidas, e há planos para incentivar mais a integração entre novos empreendedores e negócios tradicionais, buscando uma coexistência que não prejudique a identidade da ilha.
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The Grenfell Tower fire (Disaster Documentary)
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Saudade.
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido
Pablo Neruda
Unscrupulous.
Por: Fred Borges
Dedicado a humanidade em cada pérola-vida que o fogo ceifou pela desumanidade.
Esteja amarrado no seu cais, nada mais...quando houverem crises...crises emocionais...por mais racionais que sejamos...precisamos de amarração...nem sempre teremos o amar em ação...portando amarração!F.B.
Para falar de gente temos que falar de sonhos, temos que falar sobre pérolas, Pearl ou pérola foi último álbum de Janis Joplin, a menina com brinco de pérola foi um dos quadros do artista neerlandês Johannes Vermeer de 1665 ele o chamou de Meisje met de parel em holandês.É estranho nos referir as pessoas como números, eu era um número numa sala de aula, geralmente numa sala de 40 eu era o 30, mas definitivamente pessoas não são números, nem quantidade é qualidade, caso fosse a solidão não aconteceria na multidão.
No INQUÉRITO e Relatório RELATIVO À TORRE GRENFELL aparecem muitos números, mas o que mais quero, preciso, devo, em consideração tocar, toque para sensibilizar, são a pessoas que morreram no terrível incêndio, incêndio armadilha armada.Pessoas que se contentaram com a aparência, aparência de um prédio e esqueceram que lá iriam ser habitação, lar de muitas famílias, de muitas pérolas em conchas, pérolas de 6 meses e de muitas idades.Pérolas são sonhos, nunca nos esqueçamos.
Assim, de um final caminhando para o início reflito sobre as palavras em inglês:
"The Grenfell Tower disaster was the result of “decades of failure” by central government to stop the spread of combustible cladding combined with the “systematic dishonesty” of multimillion-dollar companies whose products spread the fire that killed 72 people, a seven-year public inquiry has found."
O desastre da Torre Grenfell foi o resultado de “décadas de fracasso” do governo central em impedir a propagação de revestimentos combustíveis, combinado com a “desonestidade sistemática” de empresas multimilionárias cujos produtos espalharam o incêndio que matou 72 pessoas, uma situação pública de sete anos que levou 7 anos e o inquérito descobriu.
O homem tem fracassado em se reportar, se relacionar com outro ser humano há séculos.O homem desumanizado é demonizado, arde em entrar em contato com outra pele, com outro coração, teve sempre a tentação dos números frios, cálculos calculistas, financistas, financeiros, métricas do custo e em benefício do dinheiro e não foi diferente com a tragédia de Grenfell.
O incêndio na torre Grenfell ocorreu em Londres, no dia 14 de junho de 2017, e destruiu inteiramente o imóvel denominado Grenfell Tower, um prédio residencial popular de 24 andares, com 127 apartamentos,situado em North Kensington - uma área em franco processo de gentrificação*.
Desde o incêndio, muitas pessoas criticaram a gestão do edifício, considerada negligente, principalmente por se tratar de habitação social, sendo que alertas sobre o perigo de incêndios foram ignorados durante anos.
Especialistas questionaram o revestimento do edifício, colocado em 2015, pois continha polietileno, o que poderia explicar a rapidez com que se propagou o fogo. Segundo o jornal The Times, a utilização daquele tipo de revestimento já era proibida nos Estados Unidos, para edifícios com mais de 12 metros de altura.
Mas além dos mortos, pessoas, pessoas mortas outras pessoas colhem até hoje às consequências da fumaça inalada, exalada pelo material de altíssima combustão que revestia a parte externa da edificação em sua última reforma, aparente, aparências nada mais, nada, nada mais.
Pelo menos 12 dos cerca de 1.300 bombeiros que combateram o incêndio foram posteriormente diagnosticados com cancro terminal. De acordo com os relatórios médicos, os tipos de cancros mais detetados foram cancros digestivos e leucemia.
Também Acidentes Vasculares Cerebrais, doenças cardíacas e insuficiência renal foram detetados em pessoas envolvidas no incidente, quer no combate, no socorro ou vítimas e moradores do prédio.
Alguns dos bombeiros que estiveram no local do desastre usaram as fardas, contaminadas, durante mais de 10 horas, enquanto outros estiveram fechados numa cave cheia de fumo durante seis horas.
As análises efetuadas aos detritos do prédio, encontrados num raio de até 200 metros da torre, revelaram a existência de concentrações elevadas de produtos químicos cancerígenos.
A Torre Grenfell passou por uma grande reforma, anunciada em 2012 e realizada entre 2015 e 2016.A torre recebeu novas janelas, sistema de aquecimento à base de água para apartamentos individuais e novo revestimento de tela de chuva composto de alumínio. De acordo com o pedido, o objetivo do revestimento era melhorar o aquecimento e a eficiência energética, bem como a aparência externa. Mark Harris, da Harley Facades, disse, "de um ponto de vista egoísta", a preferência de sua empresa era usar material composto de alumínio mais barato. Foram utilizados dois tipos de revestimento: Reynobond PE da Arconic, que consiste em duas folhas de alumínio revestidas por bobina que são coladas por fusão em ambos os lados de um núcleo de polietileno; e chapas de alumínio Reynolux. Abaixo deles, e fixado na parte externa das paredes dos apartamentos, estava o isolamento térmico Celotex RS5000 PIR. Um revestimento alternativo com melhor resistência ao fogo foi recusado devido ao custo.
O contratante original, Leadbitter, foi dispensado pela KCTMO porque seu preço de £ 11,278 milhões era £ 1,6 milhão superior ao orçamento proposto. O contrato foi submetido a licitação e vencido por Rydon, cuja oferta foi £ 2,5 milhões menor que a de Leadbitter. Rydon realizou a reforma por £ 8,7 milhões, com Artelia na administração do contrato e Max Fordham como consultores especializados em mecânica e eletricidade. O revestimento foi instalado pela Harley Facades de Crowborough, East Sussex, a um custo de £ 2,6 milhões.
Números, números figuram e desfiguram vítimas, de um bebê de 06 meses ao idoso de 84 anos.A orientação das autoridades era que os moradores ficassem em seus lares, os lares seriam ou teriam o efeito de protegê-los contra o incêndio internamente, mas o incêndio se deu de fora para dentro, não só o fogo queima,a fumaça queima, o ser humano é frágil, deveríamos colocar etiquetas para outros seres humanos verem e constatarem que é o ser humano FRÁGIL?
Concluímos que o incêndio na Torre Grenfell foi o culminar de décadas de incumprimento por parte do governo central e de outros organismos em cargos de responsabilidade no setor da construção, no sentido de analisarem cuidadosamente o perigo da incorporação de materiais combustíveis nas paredes exteriores de edifícios residenciais altos e de agirem com base nas informações de que dispunham.
Nada e ninguém devolverá a VIDA de PÉROLAS!
*Processo de transformação socioeconômica e cultural de uma área urbana, que pode ser caracterizada pela valorização de uma região e pela expulsão de antigos moradores:
A gentrificação ocorre quando pessoas de maior renda se mudam para bairros com valores imobiliários mais baixos.
O processo pode levar ao encarecimento do custo de vida e à segregação socioespacial.
A gentrificação pode colocar em risco a coesão social e a inclusão de distritos históricos.
A gentrificação pode ser causada pela especulação imobiliária, pelo aumento do turismo e por obras governamentais.
O termo gentrificação vem do inglês gentrification (de gentry, que significa "pequena nobreza") e foi criado pela socióloga britânica Ruth Glass em 1964.
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Turismofobia
Há uma tendência crescente contra o turismo. Isso é evidente, quer nos artigos de opinião publicados, na mais variada imprensa, quer no surgimento de movimentos cívicos, contra a massificação do turismo e a gentrificação dos centros históricos.
Conheço até casais em que um dos elementos se recusa a fazer turismo, por questão de princípio, e o outro se vê obrigado a fazê-lo sozinho ou acompanhado de familiares ou amigos.
Há quem proteste contra a transformação de vilas históricas em "Disneylândias" (sic) e quem escreva artigos a convidar as pessoas a irem de férias, mas sem fazerem turismo.
Toda esta polémica causa-me uma enorme perplexidade. Então numa fase histórica em que a Europa está quase sem indústria e sem agricultura competitiva, em que toda a economia do velho mundo decorre dos serviços e sobretudo do turismo, esta gente acha que é demais e quer matar a galinha dos ovos de ouro?
O que faríamos aos milhões de pessoas que trabalham, direta ou indiretamente, ligados ao turismo? Iriam trabalhar para a China ou para a Índia? Na Europa já não há empregos na indústria, nem na agricultura e a função pública é um cancro, em estado terminal, não aguenta mais sanguessugas a esgotarem os recursos do estado. Além disso, se matarmos o turismo, as receitas públicas descem abruptamente, pelo que os próprios funcionários públicos ficariam com os empregos em risco.
Querem voltar ao tempo em que os senhorios deixavam os prédios cair, nos centros históricos das cidades, porque não davam rendimento, nem para os impostos que custavam? Eu ainda me lembro de venderem prédios em Lisboa, por valores ridículos, porque estavam decrépitos, com inquilinos a pagar menos de renda, do que de água ou luz, e senhorios desesperados, sem saber o que fazer a tamanha fonte de despesas, que aumentavam, ano após ano.
O argumento da gentrificação e da desertificação dos centros históricos parece-me lamentável. Eu sempre vivi e continuo a viver nos subúrbios, desde que nasci e não morri por causa disso. Mas parece que há gente que acha que tem o direito de morar na Lapa ou em Santa Catarina! Há tempos, uma senhora perguntou-me, quando soube que eu vivia em Massamá, se lá não havia muitos indianos? Eu respondi-lhe que havia menos do que em Lisboa, onde até o presidente da câmara era indiano (ao tempo, o Dr. António Costa).
Se todos seguíssemos os utópicos conselhos destes ecologistas de bairro e fôssemos passar férias, à antiga portuguesa, para a terra dos nossos avós ou para as vilas à beira mar plantadas, o que sucederia a essas vilas e aldeias? Que passe de magia evitaria a gentrificação desses espaços? Será que enviar milhões de pessoas para os locais onde a natureza ainda está preservada é uma medida ecologicamente responsável, em alternativa à concentração turística nos grandes centros urbanos?
O aumento do poder de compra e da oferta turística tornaram esta indústria uma das principais fontes de riqueza do mundo, sobretudo nos países, como Portugal, que têm um património histórico, cultural e natural importantes a oferecer aos seus visitantes. A pujança da indústria turística gerou um acréscimo grande de visitantes, sobretudo nos centros urbanos, aumentou os custos da habitação, devido à afetação turística de muitos imóveis e à especulação imobiliária, mas criou emprego para centenas de milhar de portugueses, gerou uma fonte importante de receitas para dezenas de milhar de proprietários, multiplicou a oferta hoteleira de um modo nunca visto, com a consequente criação de emprego e de riqueza, pública e privada, desenvolveu o comércio nos centros históricos, vocacionado para o turismo, alguns que se encontravam já decrépitos e moribundos. E vamos matar a indústria mais lucrativa do nosso país, para controlar as rendas de casa de meia dúzia de privilegiados, que não querem turistas no seu bairro histórico?
Pois vão viver para o campo, onde não há turistas que os incomodem, nem gente para ser incomodada por eles.
Ou então vão viver para a Amadora, para Odivelas ou para a Cova da Piedade, como eu fui e muitos milhões como eu, onde as casas são muito mais baratas do que nos bairros chiques de Lisboa.
Até lhes fazia bem, um banho de humildade, para lavar essa soberba acumulada por décadas de privilégio.
E viva o turismo de massas!
Que dure por muitos e longos anos!
18 de Agosto de 2024
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FREVO
PT — Para acompanhar um artigo que escrevi em relação ao apagamento e gentrificação de certas culturas, criei esta ilustração de um dançarino de frevo. Frevo, uma dança cultural de Pernambuco, foi criada como filho de outras danças de auto-defesa como a capoeira. Esta arte é considerada património da humanidade e continua forte, mesmo perante as dificuldades de manter viva a tradição.
EN — To accompany an article I wrote about the erasure and gentrification of certain cultures, I created this illustration of a frevo dancer. Frevo, a cultural dance from Pernambuco, was created as a child of other self-defense dances such as capoeira. This art is considered World Heritage and remains strong, even in the face of the difficulties of keeping the tradition alive.
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As Mãos Sobre a Cidade
I, F, 1963
Francesco Rosi
8/10
Imoralidade Urbanística
Francesco Rosi dirige um argumento seu e de Rafaelle La Capria, Enzo Provenzale e Enzo Forcella, denunciando a especulação urbanística e corrupção na cidade de Nápoles nos anos 60.
A época foi, de facto, de explosão urbanística, não apenas em Nápoles mas em grande parte da Europa, fazendo coincidir o boom económico do pós guerra com o êxodo rural massivo e a descolonização de alguns países, que conduziram a um crescimento enorme da construção, a legal, mesmo viciada pela corrupção, e a ilegal, que originou vastos bairros de lata nos arredores das cidades.
Esta visão mais vasta, passa à margem do filme, preocupado exclusivamente em denunciar a especulação e a corrupção urbanísticas.
Talvez, ao tempo, faltasse o distanciamento necessário para uma análise mais vasta do problema, que os especuladores não criaram, mas se limitaram a tirar partido dele, ganhando dinheiro, imoralmente e nos limites da legalidade corrupta, com os projetos de urbanização e com a má qualidade da construção.
Não obstante, o que este filme tem de mais interessante, sessenta anos depois, é a sua atualidade. A situação urbanística é hoje substancialmente diferente da existente em Nápoles nos anos 60, na maioria das cidades europeias, no entanto a especulação e a corrupção continuam a dominar o setor imobiliário e a atuação das autoridades que o licenciam.
Já não são simples apartamentos de má qualidade para o povo, como no filme, mas são obras faraonicas para o município, urbanizações de luxo para os privilegiados ou investimentos turísticos, que acentuam a gentrificação dos centros históricos das cidades.
No fundo, não importa o que se constrói, mas as gestões municipais continuam hoje, como há sessenta anos atrás, reféns dos promotores imobiliários e especuladores que geram a riqueza, da qual depende, em última instância, a gestão municipal. Para além da corrupção, que continuará sempre a existir, o sistema assegura que as obras públicas e demais iniciativas locais sejam financiadas, essencialmente, pelas receitas provenientes das taxas e impostos gerados pela construção e pelo imobiliário, perpetuando assim um ciclo vicioso de especulação e corrupção urbanísticas.
Nesse sentido Rosi falha magistralmente na sua previsão de mudança, manifestada pelo conselheiro De Vita, o líder da oposição municipal de esquerda.
O povo muda, educa-se, ascende a melhorias substanciais nas suas condições de vida, mas em vez de exigir moralidade por parte do poder político, prefere comer um bocadinho do bolo, por mais miserável que seja.
Urban Immorality
Francesco Rosi directs a script written by himself and Rafaelle La Capria, Enzo Provenzale and Enzo Forcella, denouncing urban speculation and corruption in the city of Naples in the 1960s.
The period was, in fact, one of urban explosion, not only in Naples but in much of Europe, with the post-war economic boom coinciding with the massive rural exodus and the decolonization of some countries, which led to a huge growth in construction, both legal, albeit tainted by corruption, and illegal, which gave rise to vast shanty towns on the outskirts of cities.
This broader vision is left out of the film, which is exclusively concerned with denouncing urban speculation and corruption.
Perhaps, at the time, there was a lack of the necessary distance for a broader analysis of the problem, which the speculators did not create, but simply took advantage of, making money, immorally and within the limits of corrupt legality, with urban development projects and poor quality construction.
However, the most interesting thing about this film, sixty years later, is its relevance today. The urban situation today is substantially different from that of Naples in the 1960s, in most European cities. However, speculation and corruption continue to dominate the real estate sector and the actions of the authorities that issue its licenses.
These are no longer poor-quality apartments for the people, as in the film, but pharaonic projects for the municipality, luxury housing developments for the privileged or tourist investments, which accentuate the gentrification of the historic city centres.
Ultimately, it doesn't matter what is built, but municipal administrations continue today, as they were sixty years ago, to be held hostage by the property developers and speculators who generate the wealth on which municipal management ultimately depends. In addition to corruption, which will always exist, the system ensures that public works and other local initiatives are financed essentially by revenue from taxes and fees generated by construction and real estate, thus perpetuating a vicious cycle of urban speculation and corruption.
In this sense, Rosi fails miserably in his prediction of change, expressed by Councillor De Vita, the leader of the left-wing municipal opposition.
The people change, educate themselves, and achieve substantial improvements in their living conditions, but instead of demanding morality from the political powers, they prefer to eat a little bit of the cake, however miserable it may be.
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🧝🏻♀️🪻 Por aí em Belém 🪻🧝🏻♀️
Workshop "Mapa de Histórias, Cores e Memórias", uma oficina de intervenção visual e poética, traz experimentação artística individual sobre mapa de Belém, que já teve uma prévia intervenção.
Na minha versão, entram rotas e lugares que serviram de inspiração ou que estão relacionados à construção de Undomeion de alguma forma, por todos os anos que morei na cidade. O fóssil da antiga intervenção, na minha, se transforma em dragão, representando a gentrificação e acinzentamento da cidade que antes era conhecida por seu imenso verde. O dragão, como acumulador de tesouros, representa enfim a especulação imobiliária e a transformação de bairros tradicionais em bairros "nobres".
🧝🏻♀️🪻📜🪻🧝🏻♀️
Hantanyel tulesselyanen! 🪻🧝🏻♀️⚔️
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