#exorlinguismo
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orientandoorg · 1 year ago
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Quer incluir pessoas não-binárias na língua portuguesa? Priorize o respeito à linguagem pessoal!
Um texto lembrando que “incluir pessoas não-binárias na língua“ significa também lembrar que somos pessoas com nossos próprios conjuntos de linguagem escolhidos por nós porque são os que nos representam melhor. ↓
Há uma certa tendência de falar sobre “linguagem neutra” ou “linguagem não-binária” em círculos preocupados com questões de justiça social atualmente. Uso os termos entre aspas porque eles tendem a ser usados mais ou menos como substitutos para neolinguagem: isto é, a existência de palavras que se encontram fora dos gêneros gramaticais impostos pela língua padrão.
Geralmente essas discussões são em torno de usar alguma forma de neolinguagem como linguagem neutra/genérica, que aqui vou definir como a linguagem que deve ser utilizada para pessoas/seres cujos conjuntos de linguagem pessoal são desconhecidos e grupos onde presume-se que membres usem conjuntos de linguagem pessoal diferentes. Então, por exemplo, ao invés de alguém usar o/ele/o como linguagem neutra/genérica, como na oração “aqueles alunos chegaram atrasados“, alguém poderia usar e/elu/e, como em “aquelus alunes chegaram atrasades“, i/il/i, como em “aquils alunis chegaram atrasadis“, ou qualquer outro conjunto envolvendo neolinguagem.
(Conjunto de linguagem se refere a uma espécie de gênero gramatical, mas é um termo mais flexível por ser compatível com quem quer misturar gêneros gramaticais diferentes. Conjunto de linguagem pessoal é um conjunto de linguagem que deve ser utilizado para se referir a alguém, e então é possível dizer que tal alguém “usa” certo conjunto ou certos conjuntos de linguagem. Mais sobre isso aqui, aqui ou aqui.)
A utilização de neolinguagem como forma de linguagem neutra/genérica é bem-vinda por muites. Isto porque essa combate a ideia de que um conjunto de linguagem geralmente associado com masculinidade e/ou com ser homem (o/ele/o) deva ser o padrão, e também por oferecer uma alternativa mais fácil à inclusão de todes sem que tenham que ser feitos contornos para que o uso de a/ela/a ou de o/ele/o seja mais justificado (como em “todas as pessoas“, “minhas amizades” ou “alguém que trabalha com pintura” ao invés do uso mais problemático de “todos“, “meus amigos” ou “algum pintor“).
A integração de um gênero gramatical que se propõe a ser neutro dentro da língua padrão é um passo à frente tanto em relação a facilitar essa questão quanto em relação a fornecer um conjunto de linguagem pessoal visto como neutro mas amplamente aceito. Este pode assim ser usado por pessoas não-binárias que só querem ser referidas de qualquer forma neutra/genérica ou para se referir a crianças que ainda não desenvolveram suas próprias preferências de linguagem pessoal de forma que não impõe a elas conjuntos de linguagem binários de forma geralmente cissexista e diadista.
Porém, o foco único em padronizar um gênero gramatical neutro muitas vezes deixa de lado a necessidade mais importante de não maldenominar pessoas cisdissidentes e/ou inconformistas de linguagem. De fornecer o respeito básico do uso de pronomes, artigos e outras partes de um conjunto de linguagem que cada pessoa quer que sejam utilizades para si, assim como quem usa a/ela/a ou o/ele/o e possui certa aparência aceitável dentro da sociedade cissexista tem seus conjuntos de linguagem respeitados.
Concordo que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica deva ser evitado. Porém, também não acho que isto seja um problema maior do que outras expressões problemáticas comuns no dia-a-dia, como o uso constante de xingamentos capacitistas de forma extremamente casual, de termos racistas para descrever pessoas, culturas, grupos étnicos ou afins, da utilização de termos neutros para descrever grupos marginalizados como gorde ou gay como descrições negativas e por assim vai. Eu defendo o combate a qualquer forma de linguagem opressiva, mas acho ainda mais importante evitar e acabar com formas de violência mais diretas contra pessoas marginalizadas.
Só que o que vejo em debates acerca de qual deve ser o novo gênero gramatical neutro ou se deve existir um novo gênero gramatical neutro é uma falta de consideração com pessoas que dependem de neolinguagem não (só) como uma forma de expressar inclusividade, mas (também) como uma forma de ter conjuntos de linguagem com os quais não se sentem maldenominadas; de ter conjuntos de linguagem que sentem que as representam quando os conjuntos dentro da língua padrão se mostram insuficientes.
Talvez isso pareça fútil para pessoas binárias – especialmente cis – as quais possuem gamas enormes de formas de encontrar validação interna e externa para suas identidades de gênero. Porém, no caso de pessoas não-binárias, muitas vezes a linguagem pessoal é uma das únicas formas que temos para buscar euforia de gênero ou combater inseguranças em relação a não sermos vistes da forma certa. E maldenominação não deixa de poder machucar só porque uma pessoa trans está deixando de ser referida por um conjunto como ê/elu/e ou ly/ily/y ao invés de a/ela/a ou o/ele/o.
Enfim, quando alguém diz que deve existir apenas um conjunto de linguagem válido que inclui neolinguagem e que o resto das possibilidades não presta, isso é um ataque muito mais direto a pessoas inconformistas de linguagem do que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica. Quando alguém diz que a única importância da neolinguagem é a formação de um gênero gramatical neutro a ser incluso na norma padrão da língua portuguesa, isso exclui de forma bem mais direta a existência de pessoas que usam neolinguagem em seus conjuntos de linguagem pessoais do que o uso de o/ele/o para se referir a grupos com conjuntos de linguagem pessoais diferentes.
Pessoas não-binárias que não usam (apenas) a/ela/a, o/ele/o, -/-/- ou algum conjunto específico envolvendo neolinguagem já existem. Eu estou entre essas pessoas, assim como outres que conheço. Nós não vamos deixar de existir quando/se houver um gênero gramatical neutro incluso na língua padrão, até porque já nos identificamos usando conjuntos de linguagem pessoais que diferem dos padrões da língua sem aguardar a permissão de ninguém. Nem todo mundo quer expressar neutralidade e/ou indeterminação com a neolinguagem inclusa em seu(s) conjunto(s) de linguagem pessoal(is). Mesmo quem quer expressar tais características pode não estar confortável com os elementos do conjunto escolhido como neutro por qualquer entidade.
A diversidade dos conjuntos que contém neolinguagem não é um problema teórico que pode ser resolvido caso seja decidido um gênero gramatical neutro na língua padrão o mais rápido possível. É uma realidade que precisa ser considerada em qualquer proposta de reavaliação de como se ensina a língua portuguesa de forma que inclui neolinguagem.
Antes de querer debater sobre a inclusão de um gênero gramatical oficial novo, é importante levar em consideração a questão de não impor qualquer conjunto de linguagem em quem não quer ser referide com o uso de tal conjunto, e isso inclui qualquer conjunto de linguagem visto como neutro/genérico. Se a proposta é incluir melhor pessoas não-binárias na língua, é importante não agir como se apenas um dos conjuntos de linguagem usados pelo grupo existisse.
Entendo querer debater sobre qual conjunto é mais adequado como neutro/genérico, levando em consideração questões como a facilidade de ensinar ou de entender o conjunto e o quanto ele parece visualmente ou sonoramente algo “mais masculino” e/ou “mais feminino” do que neutro. Tais discussões podem ser interessantes e saudáveis.
Porém, a partir do momento onde são circulades mentiras sobre o quanto outros conjuntos são inacessíveis e/ou ataques/chacota contra elementos neolinguísticos usados por outras pessoas como parte de seus conjuntos de linguagem pessoal, isso deixa de ser apenas uma discussão teórica sobre a inclusão de um gênero gramatical neutro na língua padrão para também impor de forma violenta quais tratamentos pessoas não-binárias podem ou não podem aceitar para si mesmas. E isso a sociedade cissexista já faz; não precisamos de “aliades/camaradas bem intencionades” para isso.
Postagem original aqui.
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orientandoorg · 5 months ago
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Posso confirmar que nunca vi a cunhagem do termo exilinguismo, tanto é que eu mesme não tenho certeza de sua abrangência (algo que se reflete nas definições de exilinguismo e de exorlinguismo que dou aqui). Eu passei a usar por ver outres usando, tanto é que devem haver mais registros da minha utilização de exorlinguismo pra falar de colocar a/ela/a e o/ele/o como os dois únicos polos de linguagem pessoal que são válidos.
Há uma postagem di @oltiel em uma conta antiga (não vou linkar por conta do nome morto) onde ilo usa o termo exilinguismo em abril de 2021. Não estou afirmando que ilo tenha cunhado exilinguismo (o que pode ou não ser o caso) ou que o termo não possa ter sido cunhado no Instagram Múltiplas Identidades, mas qualquer cunhagem tem que ter sido antes dessa data.
(A postagem de Ajuda NHINCQ+ que linkei ali em cima foi publicada em 2019, mas tenho quase certeza que a adição de exilinguismo/exorlinguismo tenha sido posterior à publicação original.)
Exilinguism
pt: exilinguism
Derived from exilinguismo.
This refers to linguistic exorsexism, and other forms of linguistic discrimination tied to exipronoun supremacism and language-adjacent genderedness, such as honorifics or heteronyms and homonyms
Exipronoun: existing personal pronoun (she, he, they); conventional pronouns (she, he); sometimes including it/its or one/one's (with apostrophe before the S letter, so excluding ones and ones').
Exilanguage: existing gendered language (queen, father, guy, laywoman, etc.).
Typical examples of exilinguistic prejudices:
Assuming he or she based on external bodily traits or gender presentation;
Requiring auxiliary pronouns for neopronoun users
Defaulting he/she multipronominal people as they/them users intentionally only, after knowing their pronouns (when in singular)
Shaming pronoun non-conforming (PNC) people for their pronoun nonconformity
Equating grammatical gender with identitarian gender (gender identity)
Genericism, pronominal conformism or dichotomy, etc. are all forms of exilinguism.
Term probably coined within @orientandoorg or among @multiplasidentidades.
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posting-stuffies · 5 months ago
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Exilinguism
pt: exilinguism
Derived from exilinguismo.
Edit²: maybe this is better named as exorlinguism (exorlinguismo).
This refers to linguistic exorsexism, and other forms of linguistic discrimination tied to exipronoun supremacism and language-adjacent genderedness, such as honorifics or heteronyms and homonyms
Exipronoun: existing personal pronoun (she, he, they); conventional pronouns (she, he); sometimes including it/its or one/one's (with apostrophe before the S letter, so excluding ones and ones').
Exilanguage: existing gendered language (queen, father, guy, laywoman, etc.).
Typical examples of exilinguistic prejudices:
Assuming he or she based on external bodily traits or gender presentation;
Requiring auxiliary pronouns for neopronoun users
Defaulting he/she multipronominal people as they/them users intentionally only, after knowing their pronouns (when in singular)
Shaming pronoun non-conforming (PNC) people for their pronoun nonconformity
Equating grammatical gender with identitarian gender (gender identity)
Genericism, pronominal conformism or dichotomy, etc. are all forms of exilinguism.
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