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O Longo e Imprevisível Caminho do Pedido e a Saga da Pena Voadora
Em atendimentos com tarot ou rituais particulares, frequentemente preciso explicar aos clientes que magia não é mágica nem milagre. Atribuo a responsabilidade do sucesso à própria pessoa, destacando que a magia é apenas uma facilitadora e não deve ser tratada como uma tábua de salvação.
Tenho que explicar que, no fim, a magia é mais sobre evolução pessoal do que sobre fazer alguém se apaixonar por você ou aquele "peguete" volte se arrastando e venha lamber seus pés. Claro, isso pode acontecer, mas não é o objetivo principal, e sim uma consequência de algo que precisa melhorar em você. Agora, resolvi escrever este pequeno ensaio para ilustrar como os pedidos realmente funcionam e que, entre o seu desejo e o objetivo, muita coisa pode acontecer com magia.
Quando falamos em energia, pensamos em luz, raio ou feixe de laser. Ao falar de magia ou pedidos, imaginamos algo linear, uma linha reta que conecta o pedido mágico ao resultado. No entanto, o processo não é tão linear assim.
Conversando com um de meus alunos, surgiu em minha mente uma analogia interessante que pode ilustrar de forma lúdica, mas não infantil, minha visão sobre esse processo.
Imagine que você está no topo de um prédio e lá faz seus pedidos.
Visualize que seu pedido é um sopro vindo do fundo do seu ser, e o veículo que levará esse pedido é uma pequena pena. Não pense que essa pena irá como uma bala direto ao alvo; ela passará pelos meandros das ações do ambiente até (ou se) chegar ao objetivo.
Neste exemplo, inicialmente não usarei entidades, apenas o universo que, mesmo sendo perfeito, em essência é caótico e imprevisível. Fizemos nosso pedido e a pena segue.Quando perdemos a pena de vista, ela passará por caminhos inimagináveis, gerando ações impensáveis e incalculáveis. Por exemplo, a pena pode se prender ao rosto de um ciclista que se desequilibra, esbarra em um casal, e assim eles se conhecem, se apaixonam e formam uma linda família. Ou talvez o ciclista se desequilibre enquanto passa um carro que desvia e bate em um poste, gerando outro evento. No fim, não temos como calcular e tudo pode acontecer a partir do seu desejo.
A pena segue seu caminho rumo ao objetivo, sendo afetada pelas leis naturais, vento, gravidade, impulsos aleatórios para assim chegar, levando seu desejo até o alvo.
No caso das entidades, ao contrário do que pensamos, elas não pegam a pena com as mãos e a levam ao objetivo. Elas agem guiando seu pedido, controlando forças, ações e imprevistos, mas sem poder tocar efetivamente na pena, apenas evitando algumas coisas e controlando as forças naturais.
Dessa forma, o caminho que a energia faz até o seu desejo é como um efeito borboleta, afetando outras pessoas inconscientemente. Nada se pode fazer com essa situação além de aceitar, pois as únicas coisas que podem atrapalhar a pena são as dúvidas, a insegurança e a ansiedade.
Então, quando for pedir, faça do fundo de sua alma e deixe ir. Deixe que o universo cumpra sua função e entregue a pena em segurança onde precisa.
E sobre as entidades, saiba que elas também têm suas limitações, afinal, estão em outra dimensão com regras físicas próprias.Confie em seu desejo e sua vontade.
E parafraseando Crowley"Pois pura vontade, desaliviada de propósito, livre da ânsia de resultado, é todo caminho perfeito.”
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15 dicembre 2019
Quarta puntata nuova serie 2019-2020 di ADAM KADMON RETURNS Enochiano: è davvero la lingua di Dio e degli Angeli? https://youtu.be/-THpVl5nO9Q #kadmon #angeli #enochian #dee #crowley #kelley #esoterismo #god #dio #video #libertà #freedom #italia #lucifer #satan #Michael #Gesù #Cristo
https://twitter.com/AdamKadmon7777/status/1206225191954726912
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Enochiano: la misteriosa lingua degli Angeli
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Enoquiano: el lenguaje olvidado para comunicarse con los «ángeles» (VÍDEO)
Enoquiano: el lenguaje olvidado para comunicarse con los «ángeles» (VÍDEO)
De acuerdo a estudiosos de la antigüedad, existiría un lenguaje (ahora olvidado) para comunicarse con los ángeles, y le llamaron: enoquiano.
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#angeles#cristaloscopia#donald laycock#edward kelley#enoch#enochiano#enoquiano#hebreo#idioma#idioma angeles#john dee#lenguaje angeles#letras enochianas#ocultismo#ocultistas#samuel liddell macGregor mather#sonia gupta
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Vai, pronti a bestemmiare in enochiano
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Vovin fue grabado en diciembre de 1997 y enero de 1998 en Woodhouse Studios, Hagen, Alemania. El autor de toda la música es Christofer Johnsson; el autor de las letras es: Thomas Karlsson; Se vendieron más de 150,000 copias del álbum solo en Europa. La palabra Vovin significa "Dragón" en Enochiano. En octubre de ese año, se lanzó el sencillo "Eye Of Shiva", que incluía versiones de radio de dos canciones del álbum. "Tomando el concepto de desarrollar el metal y la ópera de una manera más melancólica e innovadora, contraté a músicos de sesión de clase mundial e intenté obtener un mejor sonido". También organicé un coro de ópera más tradicional”. Christofer Johnsson. "He creado las líneas melódicas básicas en la guitarra acústica, que se asemejaron a los teclados orquestales, después se añadió la guitarra. Como se puede ver, esto es para mí una nueva forma de hacer música, porque yo tocaba la guitarra o los teclados, y ahora la mayor parte del material ha sido creado en una guitarra acústica”. Christofer Johnsson. Vovin puede considerarse como mi disco solista ya que el resto de la banda se fue inmediatamente después de la grabación de Theli. Cuando estábamos grabando, únicamente me ayudó un bajista, a quien no conocía hasta antes de la grabación en el estudio. El baterista me preguntó cómo interpretaría las canciones, y le escribí las notas en un pedazo de papel. Fue mi álbum solista pero para ser honesto, no sabía de dónde sacar más tiempo para completar el trabajo. Christofer Johnsson La edición estadounidense del álbum (Edición de EE. UU.) Contiene el Bonus Track "The King (Aceptar cover)", y la edición Japonesa (Edición de Japón) incluía el bonus track "Crazy Nights (Loudness cover)". #Therion #Therionband #Vovin https://www.instagram.com/p/B_xknDyA9Xw/?igshid=4n8jg8yfpjhs
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❖ + Baronesa Harley! Alice Taylor del diario el Clarín! ¿Es verdad que usted en realidad es una demonio interdimensional invocada por el Monarca de Latveria, el criminal de Guerra conocido como Doctor Doom, para ayudarle en sus planes de conquista global?
send me a ❖ + a question and my muse will be forced to tell the truth.
-"je, me lo imagino haciendo un pentagrama y hablando enochiano, se vería algo tonto.
De otras tierras extrañas si soy, pero solo llegué aquí con ganas de tener unas vacaciones y bueno... Aquí estoy, un giro inesperado"-
#anon#[ Ask And Shall Receive | Ask Meme ]#he leido muchos comics satanicos (?) y nunca es algo bueno invocar uno#lo intente y no me salio (?
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Capítulo 5 – Olhando para Trás
Tradução da fanfic original “Not so much falling (at first)” de @rjeddystone. Link para a lista completa dos capítulos aqui e no final da postagem. Boa leitura!
*
É um fato comprovado que anjos e demônios não têm sexo biológico, pelo menos não sem fazerem algum esforço. Sendo seres sobrenaturais, eles se apresentam como homem ou mulher ou de outros modos, conforme cada trabalho exija. O demônio, então ainda chamado Crawly, nunca vira nenhum motivo para ter favoritos, então desta vez ele era uma mulher. Uma mulher bem vestida, é claro. Mesmo como um anjo, ele era conhecido por seu estilo.
Àquela altura, ele já estava no negócio da tentação havia dois mil anos. O mundo ainda era jovem, mas você aprendia rápido quando se dedicava a isso ― e quando odiava voltar para casa.
Certa vez, o inferno o convidara para liderar um seminário sobre os “Sete Pecados Capitais”. Ele tinha um esboço com várias notas de rodapé. Os seres humanos eram inventivos demais para limitar os pecados a sete.
Por exemplo, naquele século a.C., os humanos haviam inventado o capitalismo de estado, ainda que sem o nome comercial. Naqueles dias, eles apenas chamavam de roubo.
Crawly completara três semanas em sua missão. Ele sentou junto a um poço em um mercado, o tipo de poço cuja estética tinha pelo menos uma pedra desmoronando para mostrar o quão velho ele era. Ele vestia preto enlutado e um véu. Se você era rico aqui, ninguém o incomodava, então ele o fez de seda. A última coisa que ele queria era ser incomodado, a penúltima era estar mal vestido.
Ele se sentia enojado.
Precisava muito para fazer Crawly se sentir enojado. O pessoal do Andar De Baixo devia estar tirando sarro dele, pensou. Beelzebub em especial. Sua Disgraça provavelmente pensou que ele estava ficando muito amigo do Chifrudo. Não podia fazer nada quanto àquilo. Mas Crawly havia sido enviado à Sodoma para tentar as pessoas para o mal e encontrara o trabalho já realizado. O Senhor das Moscas devia estar rindo agora.
Crawly estava desapontado. Tanto os demônios quanto os anjos se orgulhavam de seus trabalhos. Eles registram o sucesso em relatórios trimestrais e realizam reuniões sobre sinergia. [Nota da autora: O plano de aposentadoria do inferno é uma porcaria.] Mas, mais do que isso, Crawly não teria se sentido mais nauseado se ele se encontrasse em uma utopia, onde pássaros falavam em rimas e crianças cantavam provérbios em verso perfeito.
Ele torceu os dedos até as juntas doerem.
Só preciso mentir, pensou. Não é como se eles fossem notar: “Ei pessoal, tentação cumprida. Não me agradeçam … ”
Por favor não.
“Crawly?”
Ninguém naquela cidade sabia o nome dele.
“Crawly, é você?”
Ninguém da superfície, na verdade, não por ali.
“É você mesmo! Pelos céus, eu deveria saber!”
Nesse ponto, Crawly percebeu que alguém falava com ele. Alguém que conseguia parecer ah-tão-correto, e ainda assim, envergonhado ao mesmo tempo.
Olhando para cima, Crawly encontrou um rosto redondo e aberto, olhando para ele. Os olhos arregalados eram de um verde sombreado com preocupação sob uma auréola de cachos brancos macios.
As asas estavam escondidas, mas dava sempre para reconhecer um anjo. Eles tinham um certo ar sobre eles. Na maior parte do tempo, Crawly os evitava como uma praga (mesmo se eles não estivessem trazendo nenhuma), mas esse anjo era diferente, assim como ele mesmo era.
"Aziraphale?”
*
Volte uma hora antes do poço, antes de Crawly olhar para cima e ver seu anjo lá. Aqui estão dois arcanjos, recém alimentados pelos rebanhos e grãos de Abraão. Eles estão falando sobre a melhor maneira de cozinhar vitela. Suas roupas são boas, mas não muito boas para pagar pelo jantar.
Eles são seguidos, conspicuamente, por uma aurora vermelha.
Anjos e auroras pararam à beira de uma vasta planície fértil, onde rebanhos pastavam por águas claras, tratados por homens bem-arrumados. Grandes cidades erguiam-se sobre o horizonte, cinco delas, e a maior estava coberta de ouro.
Os Três estudaram as Cinco, especialmente a capital, Sodoma, brilhando ao pôr do sol.
“Eles estiveram ocupados”, disse Sandalphon, feliz. “Devemos chamar Uriel?”
Gabriel assentiu e tirou um pouco do giz recém-usado no Dilúvio. Enquanto isso, Sandalphon espanou um pedaço plano de rocha caído das montanhas próximas. Gabriel tirou com cuidado pequenas lâmpadas de barro do bolso e fez um círculo.
O giz raspou a pedra com linhas firmes e precisas. No espaço de meia hora, eles tinham desenhado algo que parecia uma roda astrônomica. Era um mapa, rotulado com cidades e estrelas, tudo em Enochiano. As cartas não eram exatamente o que você poderia chamar de bidimensionais; elas mudavam de forma dependendo de como você as olhava.
Gabriel guardou o giz e acendeu cada lamparina com um movimento do dedo. Então ele acenou para o céu.
As chamas das lâmpadas reluziram brancas como a neve e as linhas gravadas brilharam igualmente luminosas.
Parte da aurora se retorceu senciente e depois mergulhou como um raio vermelho. Um momento depois, Uriel ergueu-se no centro do círculo. Ela espanou poeira estelar de suas roupas.
Sandalphon não pôde evitar ― ele aplaudiu.
Gabriel disse: “Bem, então …”
A coluna ardeu novamente e Uriel saltou do círculo. Essa luz era nítida, azul-relâmpago. Seu ingressante mais levou um tombo do que aterrissou.
Ele disse “Ai”.
Uriel o encarou.
“O que”, ela disse, “você está fazendo aqui?”
“Eu sinto muito”, disse Aziraphale, ex-anjo do Portão Leste. “Eu não queria me intrometer mais do que o necessário …”
“Aziraphale”, disse Gabriel, “Michael lhe disse para procurar por uma capital…”
“Ah, eu sei ― e eu estava ― eu fiz ― mas então notei, bem, alguém já havia tirado esse lugar do mapa. E como vocês deixaram a porta aberta…”
“Aziraphale, isso é um assunto estritamente para arcanjos”, disse Gabriel, reprovador.
O ainda-a-ser-principado se encolheu como se tivesse sido queimado pelo sol. “É também, bem … alguém disse que vocês estavam prestes a testar o enxofre…”
O rosto de Gabriel de repente se abriu num sorriso. “Eu entendo perfeitamente. Você deve estar muito animado”, ele disse. "Sei que eu estou.”
“Gabriel”, começou Uriel.
Aziraphale interrompeu: “É só que, bem… Raphael ainda está tratando pacientes desde o último teste”.
“Já fizemos muitos testes”.
“E ele está tratando todos aqueles pacientes também. Oh, Deus…” Aziraphale lutou contra a necessidade de mexer os polegares para impedir que sua mente girasse.
"Gostaria de assistir?” Gabriel perguntou.
Arcanjos nunca mexiam os polegares hesitando. Por fim, Aziraphale cruzou as mãos atrás das costas e disse: “Mas, sobre as cidades …”
“Não se preocupe, Aziraphale”, disse Sandalphon, com alguns dentes de ouro brilhando em seu sorriso. “É tudo para o teste.”
“As cidades?”
“Os pecadores”, Gabriel corrigiu. “Pecadores ― que merecem isso.”
“Ah, mas não existem protocolos? Sinais? Presságios? Profetas e avisos?
Gabriel riu. “Pffft. Isso terminou há semanas…”
"Mas os escribas mencionaram que Abraão tem um sobrinho lá.”
“E nós temos cara de um monte de escribas obscuros?”, riu Sandalphon (que já havia sido um escriba).
Gabriel disse: “Sabemos disso.”
“Mas, quero dizer, com um lugar tão grande, certamente haverá as dez pessoas necessárias para evitar a condenação.”
“Como sabe disso?” Perguntou Uriel.
“Eu li o relatório”, disse Aziraphale.
Por um instante, Gabriel e Sandalphon se contraíram. Ninguém lia os relatórios. Aziraphale estava cuidando da cidade e não havia percebido.
Rapidamente, Gabriel passou um braço em torno dos ombros de Aziraphale. “Que tolice minha! Eu me esqueci, Aziraphale. Você gosta de ler, não é?”
“Bem, sim.” Aziraphale disse: “Eu …”
“O que você acha da danação?”
“Dana… oh, meu caro. Bem, eu estava lendo um livro terrível―quero dizer―terrivelmente interessante, outro dia na biblioteca, sobre essa nova política e …”
“Danação é um dos meus assuntos favoritos”, Gabriel o acolhia, dizendo. “Então, nós temos cerca de …”
Uriel murmurou algumas palavras no ouvido dele.
“… cinco horas antes do juízo final, e você acabou de mencionar uma das minhas principais preocupações.”
“Eu mencionei?”
“Sim. É disso que eu gosto em você, Aziraphale: está sempre disposto a ajudar. Acho que fomos um pouco acanhados sobre salvar, oh, apenas duas pessoas justas. Só duas. Então, poderíamos achar mais algumas e cancelar tudo isso.”
"Isso seria maravilhoso.”
“Mas estamos em cima da hora. Não podemos deixar o mal se proliferando como larvas ao sol. ”
“Er … hum, eu acho que isso se reproduz em quase todos os lugares, na verdade.”
“Mas nós somos anjos.”
“Certo.”
“Não podemos simplesmente destruir pessoas que não são más”.
“Claro que não.”
“Então, por que você não nos ajuda?”
Em alguns milhares de anos, Aziraphale seria menos crédulo. Hoje, no entanto, os arcanjos tinham vantagem: “Claro.”
“Maravilhoso.”
“Certamente haverá alguém para salvar.”
“Apenas a quantidade certa”, Gabriel concordou. “Então Sandalphon e eu pegaremos Ló e sua família. Quatro ou seis, eu acho.
“Ou…?”
“Os sogros podem complicar. Tenho certeza de que vai ficar tudo bem. Uriel vai esquentar o enxofre, só por precaução, e nós vamos nos encontrar aqui sãos e salvos nessas cinco horas.”
“Apenas cinco horas?”
“Isso não é nada para um anjo, não é? Você provavelmente poderia sentir uma alma justa a mil côvados de distância!”
“É muita gentileza da sua parte…”
“E lembre-se, se as coisas ficarem cabeludas, o círculo é a única saída. Não gostaria de enviar você para o Raphael em pedaços. ”
Gabriel gargalhou com vontade. Aziraphale deu uma risada tímida.
“Sim, er, isso é preocupante?”
“Não para o anjo da cura. Tenho certeza de que pereceríamos sem ele.” Gabriel exalava alegria.
“É melhor seguir em frente”, acrescentou Sandalphon.
*
Os olhos de Aziraphale tremeluziam prateados de apreensão, mesmo assim ele disse “É claro”, novamente, e partiu com eles enquanto Uriel disparou de volta para o céu. As nuvens agitaram-se e viraram sombras agourentas de canela e turmérico.
Abaixo, o círculo brilhava como um raio quieto, à espera.
Aziraphale se separou de Sandalphon e Gabriel no portão. Os dois arcanjos se aproximaram de um homem sentado na corte dos anciões. Segundo o que se dizia entre os escribas, ele era o homem mais justo em Sodoma.
O que não significava dizer muita coisa, por comparação.
*
Três horas depois, Aziraphale tinha encontrado Crawly.
“Estou disfarçado”, disse ele (um pouco alto). “Você também?”
“Não, eu me visto assim nos meus dias de folga”, disse Crawly.
“Sério? Fica bem em você. ”
Ficava, mas isso não vinha ao caso. Crawly disse: “Como assim? Você deveria saber“ o quê? ”
O sorriso de Aziraphale ganhou terreno. Seus olhos esfriaram para o azul. “Bem, tudo faz sentido agora”, disse ele. “Ninguém a quem culpar, afinal.”
“Pelo quê?”
“Isso é culpa sua, não é?” Ele parecia positivamente alegre.
“O quê?”
“Não se faça de inocente. É a mão do inferno que estamos vendo por aqui de novo, não é?
Inocente? Crawly não pôde evitar. A ideia o divertia. “nós, anjo?” Ele perguntou.
A pergunta esvaziou os ares do anjo e ele gaguejou, depois voltou ao tom petulante: “Nós, ou seja, meus compatriotas e eu na batalha por todas as coisas boas―”.
Crawly assentiu pacientemente.
“―… estamos … obtendo posições na terra.”
Crawly sentiu uma súbita e incongruente vibração de esperança (não a reação habitual a anjos, pelo menos fora Aziraphale). “Vão condenar o lugar então?”
“O quê? Não. Não, que palavra desagradável. Não seja ridículo”, disse seu anjo. "O próprio Gabriel me garantiu que ainda há tempo para uma … uma inspeção preliminar.”
Crawly sorriu com a palavra “desagradável”: “Apenas ‘inspecionando’ para a danação?”
“Si…―não. Não.” A boca de Aziraphale deu um nó. “Agora que eu sei que o inferno está envolvido, está claro que devemos cancelar tudo”.
“Não fui eu. Estou tão pasmo quanto você.”
Aziraphale olhou para a esquerda, depois para a direita. Ele girou os polegares. Notando seu próprio movimento, rapidamente colocou as mãos nas vestes como se tivesse sido pego fazendo algo errado.
“Diga o que quiser, mas você não vai me atrasar, sua serpente astuta.”
“Com certeza você pode inventar um insulto melhor do que isso. Eu gosto de cobras.” Crawly sorriu.
Aziraphale se afastou propositalmente. Crawly gritou para ele:
“E 'astuto’ é um elogio!”
Ele suspirou melancolicamente. O jogo sempre era divertido. Ainda não tinha um nome, mas ele ansiava por isso. Ansiaria por mais se aqueles anjos tivessem feito o trabalho deles corretamente. Olhou para a faixa vermelha de luz dançando no céu.
De repente, Aziraphale voltou. Ele sentou-se ao seu lado.
“Se você quer saber”, disse ele, aproximando-se, “recebemos uma oração de Abraão. O sobrinho Ló mora aqui, então ele está um pouco preocupado. ”
“A Toda-Poderosa está ficando 'irritada’?”
“Irritada? Está mais para furiosa.”
Uma curta crise existencial fez Crawly se contorcer ao se sentir da mesma maneira que o Inimigo. Ele disse: “E você acha que existe algum motivo para não estar?”
Um sorriso dançou pela boca de Aziraphale e ele o refreou. “Não conte a ninguém, mas”, ele sussurrou, “estou tentado ajudar os humanos”.
Crise evitada? Crawly perguntou: “Como assim?”
“Resolvi dizer às pessoas para serem um pouco mais gentis”.
“Você … o quê?” Crawly ficou absorto demais pela admiração para deixar escapar a idiotice que era aquela ideia.
“Mas eu receio que, bem …, ao longo de uma hora, várias dezenas de pessoas me mandaram… para …” A voz do anjo diminuiu: “… para dmmffr nff”.
“O que te disseram, anjo?”
“Dar o fora ― ir embora!” O anjo corou dos ouvidos até os dedos dos pés. “Mas não vou desistir.”
Anjo, anjo, se todo o céu fosse como você, eu sentiria falta do lugar. Em voz alta, porém, Crawly disse: “Então vocês estão aqui para convertê-los?”
“Ah não. Seriam muitos. Gabriel e Sandalphon estão liderando a busca, er, por Ló. Meu trabalho é encontrar o restante das dez pessoas necessárias para evitar, hum, bem, aquela palavra desagradável de que acabamos de falar.
Aquilo era interessante.
"Quem decidiu que tinham de ser dez? Esse é tipo um número da sorte?
"São as normas, eu acho.”
“Ah, bem, nesse caso, tudo ficará bem.”
“Obrigado por sua confiança. Significa o mundo pra mim, sério.”
[Nota da autora: Aziraphale levaria mais quatro mil anos para entender sarcasmo.]
Crawly disse: “Esse tal de Ló e a família dele. Menos de dez, né?
"Hum, sim.” Aziraphale percebeu que estava gaguejando e sentou-se ereto. “Se eu pudesse encontrar apenas mais dois. Ficaria feliz em encontrar um … “
"Anjo, eu estive aqui por semanas. Quase morri de fome. Você não vai encontrar ninguém bom. Aceite o conselho de um especialista no pecado original. Quando os fogos de artifício começam?
"Eles não vão.” Aziraphale disse.
“Você tem certeza?”
“Um pouco. Eu só tive um exemplo de bondade até agora, realmente. De uma jovem muito legal …”
Crawly se dobrou sobre si mesmo.
“Crawly? O que é isso?“
"Uh … Ngg …” Crawly balançou a cabeça. Ele se sentia mal de novo. Encolheu os ombros soltando um silvo de cobra com o toque da mão preocupada de Aziraphale. O anjo recuou e piscou para ele, chocado.
Crawly fechou os olhos. Ele se sentia péssimo naquele instante. [Nota da autora: bem, pior que o normal.]
“Aconteceu algo ruim?”
Mais uma vez, Crawly sentiu uma mão em seu braço. Não deu de ombros dessa vez. Olhou para cima e viu que os olhos arregalados de Aziraphale haviam mudado para um verde preocupado.
“O que aconteceu?” Perguntou o anjo suavemente.
Crawly percebeu que, repetidamente, havia coisas em que ele e seu anjo concordavam. Às vezes, essas coisas eram boas. Boas mesmo. Isso o fazia desejar que eles fossem amigos.
A respiração de Crawly parou de assobiar entre seus dentes.
Talvez eles fossem amigos.
“Quanto tempo você tem?”
Aziraphale checou as estrelas. “Duas horas.”
“Vou te contar tudo em dez minutos.”
*
Cerca de duas semanas antes dos anjos cruzarem o limiar do portão da cidade, Benoni, o pastor, chegara à Sodoma. Benoni havia vendido seu último cordeiro e, como tantos outros pastores e aventureiros sem herança, tinha ido à maior das Cinco Cidades para fazer fortuna. A metrópole era conhecida no mundo antigo como a mais rica do vale. As paredes eram revestidas com ouro.
As paredes também eram revestidas com os ossos pendurados de prisioneiros cujos crimes não eram amplamente conhecidos por recém-chegados como Benoni.
Os cambistas ficaram felizes em trocar o ouro não cunhado de Benoni pela moeda da cidade. O caixeiro da primeira tenda estampou cada peça com um selo.
“O que é isso então?”, Perguntou Benoni, curioso, mas ainda tentando bancar o Empresário de Sucesso que ele queria ser.
“Oh, uma formalidade, apenas uma formalidade”, disse o atendente. “Dessa forma, eles sabem que seu dinheiro veio da minha barraca.”
“Muito sensato”, disse Benoni, embora não tivesse certeza disso.
“Aproveite sua estadia em Sodoma. Somos gratos pelo seu … patrocínio.” O funcionário sorriu com um sorriso cheio de dentes. Vários deles feitos de ouro.
Ainda mais convicto de que ele estava certo em procurar sua fortuna aqui, Benoni caminhou até a multidão.
Ele estava pensando em abrir uma tecelagem, então encontrou o caminho para a galeria coberta, onde os têxteis estavam empilhados em barracas e mostruários, tecelões e alfaiates.
“É uma centena para obter uma licença comercial”, disse o mercador mais antigo da rua. Ele usava um turbante vermelho que parecia uma criação dele mesmo. “Vai precisar comprar uma no cambista na rua abaixo.”
“Oh, que azar”, disse Benoni. “Se eu soubesse, teria feito isso naquele outro lugar.”
O comerciante sorriu, ou pelo menos sua boca se curvou para cima.
Provavelmente é cauteloso perto de estrangeiros, pensou Benoni. Bem, quem não seria?
Ele caminhou pela rua com tanta confiança quanto pôde reunir. Em todos os lugares, a sinalização anunciava serviços―e o preço inicial dos produtos. Havia cobranças por remédios, por casamentos, por infraestrutura. Até as pontes tinham uma taxa de uma moeda cada, às vezes mais, com base no comprimento da ponte. Benoni estava com cinco moedas no momento em que chegou à rua correta. É um bom sinal, não é? Ele pensou consigo mesmo. Se nada era de graça, todos deviam estar prosperando.
Mas na tenda do outro cambista, ele teve uma experiência desagradável. No mesmo nível, ele imaginou, que encontrar metade de um verme em uma maçã.
“Não posso receber esta moeda”, explicou o funcionário. Ele usava pontas de ouro nas orelhas. Havia pelo menos dez em cada, um sinal claro de sucesso.
“É ouro da cidade de Sodoma”, ressaltou Benoni, no que ele esperava ser sua voz mais educada.
“É ouro de Uretz”, explicou o caixeiro. “Cara sorridente? Dentes de ouro? Sim, estou em uma guerra comercial com ele no momento. Então não estou trocando a moeda dele. Mas, se você quiser, há outro trocador de dinheiro mais perto da Cidade Central. Você pode trocar pela moeda dele. Ele é neutro no momento, então eu mantenho minha dignidade e compro suas moedas de você depois. “
"Bem, a dignidade de um homem é importante.”
“Você é um jovem compreensivo. Dê uma chance. Regras são regras. Elas nos mantêm ricos.”
Benoni apertou seu próprio sorriso com mais força. Era melhor não queimar pontes quando se é novo numa cidade. Sua mãe ― que descansem seus ossos―sempre dizia isso.
"É claro”, disse Benoni. “Farei isso imediatamente.”
Ele atravessou o rio pequeno seguinte, uma vez que era raso, mas descobriu que também havia uma taxa por isso.
“Danos causados à água”, explicou a sentinela de plantão, enquanto Benoni contava as moedas com cuidado.
Sua experiência monetária seguinte (três pontes e oito moedas depois) foi pior que a anterior. Como não encontrar um verme em uma maçã e ser informado de que havia um.
O balconista usava um cinto com franjas compridas, cada uma delas amarrada com moedas de ouro com furos. Elas retiniram quando ele se inclinou sobre o balcão.
“Desculpe, não posso trocar tudo isso de uma só vez. Você terá que ir mais longe. ”
“Oh, senhor… Quero dizer, é claro.”
"Mas haverá uma taxa pelo câmbio, já que não é estritamente necessário, sabe.”
“Disseram-me que era necessário”, disse Benoni, novamente fazendo o possível para ser tão cortês. “Devido a uma guerra comercial.”
“Oh, as guerras comerciais. Não é problema meu, receio. Eu cumpro as regras. Não podemos nos comprometer. Ou começaríamos a cair como … bem, eu não sei, como coisas que caem uma após a outra.“
"Folhas?” Sugeriu Benoni.
“Não, como uma reação em cadeia. Não sei. Cartas?”
“Não.”
Os dois homens ficaram pensando por um momento, mas desistiram. Nenhum mortal tinha séculos para aguardar a invenção dos dominós.
Por fim, o funcionário deu de ombros. “Bem, de qualquer maneira, você deveria ir. Está quase escuro, não é?“
"Ah, sim. E ainda não encontrei um lugar para ficar. ”
“Prioridades, milorde. Boa viagem.“
Benoni trocou aquela quantia lamentável de dinheiro. Ainda assim, agora ele tinha moedas com dois selos diferentes. Certamente nem todos os caixeiros estariam uns contra os outros, não em uma cidade tão rica.
Ele foi para um distrito público que prometia restaurantes e albergues. Tentava se animar olhando as tapeçarias, toldos e cortinas ao longo de todas as ruas. Um tecelão podia ter mil ideias aqui. Talvez até um milhão. Sua mente se surpreendia em pensar que alguém poderia perder a conta.
Sua próxima experiência não foi boa o suficiente para envolver maçãs.
"Você quer dizer que também não pode trocá-las?”
“Eu posso negociar a primeira quantia, por uma taxa.”
“Estão numa guerra comercial com Uretz também?” Benoni perguntou, tentando parecer interessado e não aborrecido.
“Receio que sim. Começou esta manhã. É o peixe. “
"O peixe?”
O atendente balançou as mãos com desdém. Eles brilhavam com anéis. “Oh, isso não tem importância. Agora, eu posso trocar o que Aven deixou com você, mas haverá uma taxa por ser em horário extraordinário”.
“Extraordinário?”
“Isso mesmo. O sol está se pondo. ”
“Oh, céus. Mas como vou saber se posso pagar um lugar para dormir?”
"Vou lhe dizer uma coisa”, disse o homem, inclinando-se para a frente no balcão. Ele olhou para os lados. Benoni, imaginando que as regras estavam prestes a serem quebradas, inclinou-se, esperando alguma conspiração útil.
“Não posso aceitar seu dinheiro, mas é um belo cinto esse que está usando. Digamos que você o deixa como uma garantia e guarde algumas moedas para si. Quando tiver o suficiente, você volta e o compra, digamos, com um pouco de usura?
"Usura?”
“Incentivo, apenas para garantir que eu não seja enganado”.
“Bem, se você coloca as coisas dessa maneira…”
Àquela altura, Benoni estava faminto. Ele conseguiu comprar mingau em uma pequena taverna, embora isso tivesse lhe custado três moedas de Aven. A pousada tinha dois tipos de quartos. Havia quartos particulares que eram um pouco caras demais para ele, e havia boatos de que as camas eram de matar de qualquer maneira. Os outros ficavam em um porão fétido, onde trabalhadores diurnos sentavam-se encostados nas paredes (e uns aos outros) para dar espaço.
Ainda assim, era melhor do que nada.
“Que tal isso”, disse o funcionário da recepção. Ele estava muito bem vestido. “Você deixa essas sandálias aqui durante a noite e me paga amanhã.”
Benoni experimentou a nova palavra. “Você quer dizer, como” garantia “?”
“Isso. Você já é praticamente um de nós.” O funcionário bem vestido sorriu.
Ele deveria saber. Ele realmente deveria ter imaginado. Era melhor o quarto do que a praça, mas ele não sabia disso. Ainda não. Poderia ter tido tempo suficiente para caminhar de volta por todas as ruas e sair pelos portões de ouro. Mas Benoni tinha uma falha além de ser um pastor sem ovelhas: ele era muito confiante.
Naquela manhã, ele esbarrou em uma figura sombria na rua e virou-se imediatamente, a mão segurando a bolsa, pensando em ladrões sorrateiros.
"Desculpe”, disse o outro. “Mantenha-se à esquerda, você sabe.”
“Oh. Eu sou novo na cidade. “
“É mesmo?” Perguntou o outro. Era uma mulher, ele tinha certeza disso, mas estava mais distraído com os olhos: ele nunca tinha visto alguém com olhos dourados antes. A mulher disse: "Melhor partir antes que se acostume demais”.
E então o estrangeiro se afastou, costurando seu caminho por entre a multidão da manhã, os quadris balançando como as ondulações de uma cobra do deserto.
Benoni franziu a testa. Ele considerou seguir o conselho. Mas sua bolsa estava intacta, ele tinha um objetivo e um par de sandálias para resgatar, então seguiu em frente.
Uma semana se passou e, no final, ele havia perdido não apenas as sandálias, mas também o cinto com o pagamento de juros que se acumulavam dia após dia. Ele juntara ―sem conseguir gastar― setenta tipos diferentes de moedas e agora possuía apenas algumas de cada. Ele tentava se lembrar quais cambistas apontaram quais outros como seus parceiros comerciais, mas mesmo quando ele tinha certeza de que estava certo, havia outra guerra comercial. Benoni logo se esqueceu de suas esperanças de um negócio têxtil. Ele só esperava encontrar um lugar que vendesse pão por menos de uma moeda de ouro inteira.
“A farinha é importada, toda a comida é”, disse um padeiro quando tentou reclamar. “Não podemos dar esmolas aqui. Faça isso e a próxima coisa que acontecerá é que todos nós morreremos de fome. Está tentando arruinar nossa economia? Estrangeiro típico. Quem não trabalha, não come. ”
Benoni tentou encontrar trabalho, mas ninguém contrataria um homem sem calçados. Ele perdera seu casaco em algum lugar no caminho, barganhando por um lugar para ficar e, por algum motivo, as instruções que ninguém lhe dava o levaram a algum lugar de volta ao portão. Um homem garantiu que ele não teria permissão para sair.
“Não com dívidas no seu livro. Eles publicam dívidas para todos os credores, você sabe.”
“Mas, certamente, há alguma ajuda para alguém tentando ganhar a vida.”
“Você é um homem crescido. Sua vida já está ganha. O que é meu é meu e o que é seu é seu. Não é justo pra você? ”
Quando se colocava dessa maneira, parecia justo.
À primeira vista, as praças do mercado pareciam convidativas, mas noite após noite ele ouvia gritos de um ou outro bairro da cidade. Gritos e o pisar das botas dos soldados ― e então um silêncio repentino e preocupante. Em vez disso, tentou as ruelas e se viu na maioria das noites agachado no lixo ― ou coisa pior ― jogado pelas janelas.
Treze dias depois, Benoni estava sentado ao lado de um poço, olhando para a água. Estava longe demais para alcançar. Havia apenas uma corda para abaixar cântaros pelas alças. Ele se perguntava se não seria melhor se jogar lá dentro.
Pelo seu reflexo ele sabia que estava parecido com outros homens e crianças esfarrapados sentados ao redor da praça. Poucas mulheres. Tentou pensar por que as mulheres não acabavam nas ruas, mas nenhuma das possibilidades era tranquilizadora.
Hoje, do outro lado da pequena praça, um homem havia colocado um letreiro mal escrito na frente de suas pernas nuas: Trabalho por comida.
Benoni arrastou os passos até ele e tirou um punhado de moedas do bolso.
“Pode ficar com isto.“
O homem olhou para as moedas, depois para Benoni e depois riu. Era um som triste e vazio. O homem enfiou a mão no bolso e mostrou um punhado de ouro.
Benoni reconheceu o carimbo de Uretz em alguns deles, os buracos de Aven em outros.
Uma verdade terrível começou a aparecer. Ele ainda não tinha palavras para isso, mas era como comer uma maçã e depois descobrir que ela tinha sido envenenada por uma toxina que age lentamente. Pelo menos um verme era natural. A cidade inteira parecia uma invenção, algo saído de um pesadelo, e que se voltara contra ele.
Benoni recuou na direção do poço, depois caiu do lado dele. Cada pedaço seu parecia quebrado. E o sol estava se pondo novamente.
"Senhor, o senhor está bem?”
Os comerciantes haviam parado de chamá-lo de 'milorde’ quando ele ficou sem roupas extras para trocar.
Benoni olhou para cima. Algo brilhou e chamou sua atenção. Um anel de ouro.
Uma mulher estava de pé junto ao poço, com a jarra de barro no ombro, olhando para ele. Suas roupas eram bordadas com fios dourados. Ela era jovem e, apesar do anel no terceiro dedo, pelo enfeite na cabeça, ela não era casada.
“Ah, hum, não, senhorita”, disse Benoni, e desviou o olhar porque mulheres o deixavam nervoso.
“Você é novo na cidade? Normalmente não o vejo neste poço. ”
��Ah, sim. Meu nome é Benoni. Filho de Oni. É bem engraçado mesmo. Benoni Ben'oni, certo? ”
Ela sorriu. “Um pouco.”
Ele se sentiu subitamente melhor. Estava querendo dizer a alguém seu nome há dias. Estava prestes a perguntar o dela quando um barulho de armadura o interrompeu. Lanças eriçadas, meia dúzia de soldados saídos de um beco. As armaduras deles brilhava à luz do dia: até as pontas das lanças eram revestidas de ouro.
A donzela ficou rígida e quase derrubou a jarra. Benoni levantou-se para pegá-la.
“Estão aqui por minha causa?”, ambos disseram ao mesmo tempo.
Não estavam. Dois soldados agarraram o homem sentado com a placa rudimentar e o ergueram.
“Você está preso”, disseram eles. “É proibido mendigar. Quem não trabalha, não come. “
"Mas eu estou tentando―”
“Sem ouro, sem bens.”
Os protestos desapareceram na esquina quando ele foi arrastado.
Demorou menos de um minuto.
Benoni estava tremendo. Ele olhou para o cartaz sem dono e seu anúncio grosseiro. Engoliu em seco e entregou a jarra à mulher. Parecia um pouco pesada, mas ele culpou a falta de comida; estava ficando fraco.
“Desculpe”, disse ele, sem saber por que. Por ser um covarde, ele decidiu.
“Não precisa.” Ela olhou para a esquerda, depois para a direita e depois pescou algo do pote.
“Aqui, seja rápido. Esconda-o em suas roupas.”
Benoni ficou atordoado antes de olhar para o objeto que ela havia pressionado em suas mãos. Era duro e fino como um prato, mas cedeu um pouco sob os dedos. Pão, ele percebeu.
“Desculpe, é sem fermento. Senão, não consigo colocar tantos numa jarra. “
Ela se afastou e, com olhares furtivos por todos os becos, começou a distribuir as bolachas duras para os outros.
Benoni não escondeu o pão. Comeu rapidamente. Praticamente o inalou. Era sem gosto e duro, mas mesmo uma maçã não seria mais doce agora, pensou.
"Por favor, não conte a ninguém. É ilegal.”
“O que, alimentar os pobres…?”
“Sem ouro, sem bens. “O que é meu é meu” ― tudo isso. É contra a lei. Por favor.“
Ela correu de volta ao poço para tirar água. Benoni assistiu em choque. Suas mãos tremiam, o anel de ouro captando a luz.
"Voltarei amanhã, se puder. Não posso ir sempre aos mesmos lugares … ”
“Qual o seu nome?”
“Oh.” Ela pareceu preocupada, mas disse: “Ribah”, e depois se apressou.
Benoni esperava que a noite transcorresse mais pacificamente. Amanhã, pensou, ele poderia ser forte o suficiente para se voluntariar para o trabalho, ou pelo menos para arranjar calçados. Alguém precisaria de um trabalhador, certamente. Tentou não pensar nos gritos todas as noites nos mercados.
À meia-noite, porém, ele descobriu o que eram. E porque ele deveria estar mais ciente em pensar que não eram apenas as mulheres de rua que desapareciam. Suas inúteis moedas de ouro foram deixadas espalhadas no pó.
No terrível silêncio que se seguiu, algo retiniu. Um homem que usava longas franjas de moedas saiu das sombras.
Ele disse: “Bem, Uretz?”
O sorriso cheio de dentes brilhou no escuro da rua ao lado. Uretz foi seguido pelo funcionário do albergue Tamuz e pelo irmão do atendente, o finamente vestido Orlon.
“Sim, vejamos, vejamos”, disse Uretz, apanhando as moedas. Ele se curvou e começou a separá-las. “Estes são meus. E estes são teus, Aven. Orlon, tome esses cinco.”
Outros comerciantes chegaram, cerca de setenta no total, a maioria bocejando, todos com bolsas prontamente abertas. Dividiram o ouro entre eles.
"Bom para uma quinzena de trabalho. Estamos melhorando nisso. ”
“O último durou um mês”, disse Tamuz, girando os anéis, pensativo. “E as roupas dele nem eram tão boas.”
Rindo, os empresários se despediram e seguiram em segurança pela rua, cada um sob a escolta de seu guarda contratado. Não havia soldados civis em Sodoma, é claro. Somente homens contratados valiam seu peso em ouro.
*
“Mas e depois?” Aziraphale prendeu a respiração.
Os olhos dourados reptilianos de Crawly encaravam o nada à sua frente. “Não queira saber, anjo.”
“Eles o mataram então?”
Crawly suspirou e se levantou. “Este lugar torna ruins até as pessoas boas. É como a salmoura de uma conserva. Tudo que entra nela acabada salgado do mesmo jeito.”
“O que quer dizer com isso?” Perguntou Aziraphale, que gostava de picles, mas tentou não deixar seus pensamentos vagarem. “Você poderia estar mentindo pra mim.”
“Por que eu mentiria pra você?”
“Porque eu sou um anjo e você é um demônio. Você pode estar tentando … me corromper … isto é, o meu relatório.
Crawly sorriu com a palavra "corromper”, mas balançou a cabeça. “Você deveria ir embora.” Apontou para cima.
Aziraphale olhou para o alto quando um vento estranho uivou como uma trombeta. Contra o céu escuro, a aurora vermelha tremulava seu aviso.
Crawly perguntou: “Tem certeza que eles te deram cinco horas?”
“Sim, certeza.”
“― Hum.” Crawly virou-se de repente e caminhou em direção a uma rua movimentada. Sentindo-se à deriva, Aziraphale correu atrás dele.
“Preciso saber uma coisa.”
“Você deveria ir. A investigação acabou.” Crawly subiu facilmente a rua.
Aziraphale o seguia enquanto o alarme uivava novamente. Enquanto era empurrado e tropeçava, Crawly percorria a multidão em passos ondulados, como se andar em linha reta fosse para outras pessoas. Por fim, o anjo abandonou toda a dignidade, levantou as vestes e correu.
Ele virou uma esquina, sentindo uma onda de pânico: havia perdido Crawly de vista.
"Anjo.”
Ele se virou. Crawly parara em um carrinho de maçã. O demônio jogou uma moeda para o vendedor e pegou uma fruta. Ele chamou Aziraphale para um beco e a estranha perseguição continuou.
No portão mais ao sul, Crawly lhe ofereceu a fruta. “Você parece faminto.”
“Eu realmente não deveria. Isso é roubo. ”
“Não será de ninguém em poucas horas. Por que você não foi embora ainda? ”
“Eu tenho um relatório a fazer.” Sem querer, Aziraphale pensou sobre uma Árvore em um jardim. “E … eu suponho que devo avisá-lo, será com fogo desta vez.”
“Sabia que aquele papo de 'Arco-íris’ era brincadeira.”
“É perigoso”, insistiu Aziraphale. “Eu vi os testes.”
“De onde vão tirar fogo suficiente para cinco cidades?”
“Não sei. Talvez de uma estrela cadente, eu não… desculpe-me.”. Se desculpava pela expressão abalada de Crawly, sem saber sua origem.
Crawly se recuperou: "Pensei que concordávamos que anjos não podem fazer nada errado”.
Aziraphale piscou, assustado. Outra lembrança do jardim. Era assim que era ter um amigo? Compartilhar memórias?
Mas…amizade? Com um demônio? Ele estava ficando louco? Aziraphale tentou afastar o pensamento sem conseguir direito.
“Eu…” Aziraphale recuperou sua linha de pensamento. “Quero saber o que aconteceu com Ribah, Crawly. Por favor. Pela minha missão. É importante.“
"Ela se foi também. O que mais há para…?”
"Mas isso deve significar alguma coisa.”
“E por que deveria? Alguém por acaso os impediu? ―” perguntou Crawly. “Algum dos seus?”
“Eu…”
“Vai! Faça isso significar alguma coisa. Puna-os. É fácil, não é? O céu pode punir qualquer um sem se perguntar se eles merecem.”
“Ela iria querer isso?”
“Como posso saber o que as pessoas boas querem? Eu sou um demônio. Eu não sou bom. Eu não sou sequer legal.“
"Crawly?”
“Não olhe para mim desse jeito. Nós os tentamos. Vocês os castigam.”
"Por favor.”
Crawly estremeceu e ficou em silêncio. Aziraphale não sabia por que, mas parecia que o demônio estava tendo um conflito interno.
Por fim, o demônio murmurou: “Está lá fora”, e acenou para o pórtico do outro lado do portão.
O vento uivante mudou de curso e Aziraphale foi atingido por uma nuvem de fumaça. Ele tossiu e jogou uma manga tapando a boca, enquanto Crawly calmamente puxava seu véu de viúva ainda mais sobre o rosto. Havia desvantagens em ter uma forma corpórea. O olfato era frequentemente uma delas.
Houve um monte de barulho através daquela fumaça estranguladora. Os corvos gritavam e os homens discutiam acaloradamente. Bem abaixo do tumulto, ele ouviu Crawly rosnar. Os corvos se dispersaram e Aziraphale viu um grupo de soldados e comerciantes discutindo sobre uma pilha de itens: bugigangas de ouro, joias finas, cerâmica, um tear … Parecia que uma casa inteira havia sido esvaziada. Entre os lençóis e roupas havia um fato que Aziraphale tentou não ver.
“O que eles estão fazendo?”
“Dividindo a pilhagem. Como os carrascos que são.”
Atento aos corvos, Aziraphale deu um passo à frente. Ele se forçou a olhar mais de perto. Ele se forçou a ver que todas as roupas e joias eram do tipo que ele via nas mulheres da cidade.
Atrás das pechinchas havia uma pilha de lenha fumegante do tamanho de uma pequena casa. Devia ter sido mais alta, mas agora estava na metade do caminho para virar cinzas.
“Uma pira”, ele observou, com a garganta seca.
“Punição para ladrões.”
“Então ela devia ser maior.”
“Somente ladrões sem licença.” Era uma piada horrível. Mas era verdade.
Aziraphale disse: “Tem de haver algo que possamos fazer.”
“Nós, Aziraphale? Você e seus compatriotas?”
"Não. Nós … quero dizer …”
"Talvez haja uma coisa a fazer”, disse Crawly. “Deixar tudo queimar.”
Os ombros de Aziraphale se curvaram. “Não espero que um demônio entenda”, disse ele. “Enquanto as pessoas estiverem vivas, elas podem fazer algo de bom. Eles poderiam melhorar. Uma vez que eles estejam mortos … “
"Você realmente acha que a Toda-Poderosa pensa assim?”
“Eu penso assim.” Aziraphale virou-se para ele com um rosnado. Então ele se afastou, baixou os olhos e perdeu de ver o sorriso assustado, mas grato de Crawly. “Eu penso”, ele repetiu, mais calmo, mas sua voz sibilando: “Não sou um demônio saído de uma cripta, então acho que não posso estar errado nisso.”
“Bem, você pode estar certo sozinho, anjo”, disse Crawly. “Deixe-me estar errado, se isso faz você se sentir melhor.”
A aurora caía e cintilava o fogo. O vento soprava pelas planícies, agora uivando como um bando de lobos na caça. Algo no vermelho acima brilhava em amarelo-enxofre.
“Aí veem os fogos de artifício então”, disse Crawly. “Prazer em conhecê-lo, anjo. Realmente foi um prazer.”
“É melhor eu ir para o portão norte”, disse Aziraphale.
“O norte…?”
“Melhor você aproveitar a vantagem”, acrescentou Aziraphale, saindo a passos largos. “Estou certo de que temos um bom tempo para partir.”
“Deveria ter mais uma hora ainda”, disse Crawly, pensativo.
“Nós nos veremos de novo, eu suponho.”
“É…”
Crawly encarou o céu vermelho e franziu a testa por um estufamento no estômago. Ele fitou Aziraphale, um flash branco atravessando o campo enquanto as ovelhas se espalhavam. Norte? As montanhas do norte ficavam longe demais para chegar lá em uma hora a pé. Mesmo em uma corrida frenética. E voar seria suicídio se …
Uma mão pesada pousou em seu ombro.
“Ei, você! Viúva!”
Crawly xingou e virou-se, seus olhos brilhando dourados. O soldado afastou a mão, mas voltou a se reunir com os outros, confiante em sua segurança e culpando o borrão do véu por sua visão.
“Há uma multa por parar nos degraus, mulher”, disse ele. “Quatro moedas de ouro por minuto.”
Crawly fez uma careta, depois zombou dele. Suas asas negras se abriram de repente, arquearam e depois bateram, espalhando a fumaça e lançando faíscas da pira nos olhos dos mercadores. O soldado cambaleou para trás e caiu, sua armadura colidindo com o chão e machucando-o. Outros do seu tipo saíram do portão, mas Crawly ergueu o véu e sorriu para eles, e não era um sorriso agradável.
Ele disse: “Você sabe” ―estalou os dedos, transformando a roupa de seda em linho preto. Pela primeira vez em dias, Crawly se sentiu cheio de propósito ― “ vocês todos vão morrer”.
Os soldados ficaram olhando, depois se encolheram e depois acovardaram. Com excelente timing teatral, as primeiras chamas explodiram em meteoritos. A chuva sulfúrica caiu, lenta no início, depois forte e barulhenta. Gritos de confusão, dor e medo se elevaram pela cidade.
Alguns soldados estremeceram e baixaram as lanças com cautela. Então, uma rocha vinda do céu caiu sobre a muralha. Com o estalo de uma montanha partida, a pedra se despedaçou em chamas e o paredão se amontoou em ruínas derretidas.
Crawley deu um passo à frente e todos os soldados e comerciantes tropeçaram para trás. Arqueou as asas. Com um sorriso frio, ele partiu o ar fervente com ameaça.
“Seria muito mais divertido se todos vocês corressem.”
*
O mundo estava em chamas, como um grande oceano contorcido de verde e azul, amarelo e vermelho.
E ainda assim a chuva veio: ácido que se agarrava, afundava e queimava. E depois o granizo caiu: grandes globos que racharam pedras e crânios, iluminados por um fogo impossível. E depois ainda, o enxofre caiu em retalhos de brasas, cobrindo as pastagens e a palha em chamas verde-amarelas famintas. Nascentes e rios ferviam e estragavam. A terra rachou e sangrou piche. Nuvens gasosas sufocavam o ar. Fogo contínuo desfigurava o solo.
Gabriel e Sandalphon ficaram em pé novamente no topo de uma rocha, enquanto o círculo brilhante cintilava puro e claro.
“Nunca mande um principado para fazer o trabalho de um arcanjo”, disse Gabriel, satisfeito. Ele bateu e esfregou as palmas das mãos rapidamente. “Algum sinal dele?”
Sandalphon apertou os olhos. Ele regia as chuvas como uma orquestra em chamas: cordas de gritos aqui, agora tambores de pedras caindo…
“Não acho que ele esteja vindo”, disse ele.
“Bom.” Toda preocupação de Gabriel desapareceu. “Se ele gosta tanto do Raphael, já é hora dele lhe fazer uma visita. Que lhe sirva de lição. “
“―Quer que ele seja desencorporado? ―perguntou Sandalphon. Ele deixou suas sobrancelhas se levantarem enquanto soprava o vento como uma corneta, direcionando a cascata de chamas em direção a um clã de pecuaristas em fuga. "O que vamos dizer ao Michael?”
“Diremos que ele tem potencial, mas que já é hora de esse soldado raso aprender o seu lugar.”
“Mas Aziraphale é praticamente um principado agora.”
“Foi uma promoção inesperada.” Gabriel se balançou impaciente nos calcanhares. “Mais uma razão para ensiná-lo agora, enquanto ainda podemos ajudá-lo.”
“Você poderia simplesmente explicar isso a ele.”
“Não, ele é muito simplório”, disse Gabriel. “Entre a minha ideia das moedas estampadas e a sua de ensinar aos mercadores a explorar jogos de palavras jurídico, ele pode pensar que éramos nós que estávamos errados, o que seria ridículo.”
“Nós só estávamos ajudando”, disse Sandalphon, consciente.
“Exatamente.”
“Suponho que devemos fechar o círculo então.”
“E eu, é claro, não vou deixar você e Uriel ficarem com toda a diversão.”
“E quanto aos, er… humanos?”
Eles haviam deixado Ló e o que restara de sua família em uma pequena caverna atrás deles para fazer o que quer que os mortais fazem em momentos como esses. As meninas murmuravam algo sobre álcool.
“Eles vão ficar bem. Salvamos as vidas deles ― quero dizer, da maior parte. Tem que ter mais cuidado ao transformar pessoas em pilares de sal. Mas não é como se não os tivéssemos avisado. ”
“Eles deveriam ser gratos.” Sandalphon balançou a mão e mais alguns pilares de sal foram deixados em meio às ruínas.
“Voltamos mais tarde para buscar Aziraphale, ou o que sobrar dele”, disse Gabriel. “Você vai ver. Fará bem a ele no final, vai ajudá-lo a amadurecer.”
"Ainda não entendi uma coisa.”
“Uh?”
“Sobre aquela mulher. O que ela fez de errado?”
Gabriel riu. “Ah, ela. Obviamente: Alimentando um demônio faminto. Pura maldade.”
*
Aziraphale estava com os nervos em frangalhos.
Uma rocha vinda do céu, toda em chamas atingiu as paredes douradas de Sodoma e o topo da muralha explodiu. Fogo e cinzas caíam em torrentes. Gritos foram interrompidos abruptamente quando os portões colapsaram e cada tijolo derreteu. Aziraphale sabia que os mortais podiam morrer. Mas ele nunca havia visto isso antes.
Aziraphale correu. Ele continuou correndo, junto com os pastores, os anfitriões e os servos. Nada parecia o mesmo que era, não minuto a minuto, não com fogo por toda parte. Estava mesmo seguindo para o norte?
Seu primeiro instinto foi abrir as asas em busca de proteção, mas uma pedra de granizo do tamanho do seu punho o atingiu no ombro. Ele cambaleou, caiu e pôs as mãos sobre a cabeça.
O granizo destruía as plantações em chamas e os bandos em pânico: gelo misturado com fogo impossível. Alguns meteoros pousaram queimando no solo, a centímetros de sua cabeça e duas vezes o seu tamanho. A grama escureceu e ardeu com fumaça amarela. Cada impacto ressoava como um trovão.
Aziraphale arrastou-se sobre a terra rachada em direção aos destroços das tendas dos pastores, subindo a colina. Ele podia sentir o cheiro distinto de carne de carneiro agora, cozido demais. Carbonizado. Carne de carneiro e ovos estragados, e algo ainda pior, como carne suína podre.
“Gabriel!”
Mal podia ouvir sua própria voz. Houvera uma resposta? O fogo caiu e varreu o lado da colina. Aziraphale chamou novamente ―por Gabriel, por Sandalphon, até por Uriel, embora ela implicasse com ele quase todos os dias. Nada podia ser mais horrível do que aquilo. Como eles podiam tê-lo deixado para trás?
Mas eles o tinham avisado, não? Que estupidez de sua parte. Era sua própria culpa que ele…
Crash! Uma tenda pegou fogo. O fogo se alastrou, lavando os campos com um calor crepitante. Aziraphale se jogou em uma vala e a onda chamuscou suas penas primárias. Seus gritos de medo foram perdidos no tumulto ― como tantos outros. Enterrou a cabeça nas mãos. Seu ombro doía. Sentia-se despedaçado. Puxou suas asas e se encolheu sob elas.
Como aquilo podia ser melhor? Lutou contra a raiva, transformou o lamento em mais uma oração, lembrou-se de não duvidar. Mas como aquilo era melhor do que deixar as pessoas desprezíveis das Cinco Cidades se arruinarem? Mais uma vez, ele transformou sua confusão em uma prece. Talvez houvesse uma resposta dessa vez. Sempre se podia ter esperança. Doía tanto não saber.
Outra montanha despencou em algum lugar. Outro inferno ardeu. Outra ferida na terra ardia e sangrava piche preto que pegava fogo e aumentava sua fúria. Ainda assim, Aziraphale não conseguia se mexer, preso na vala, paralisado pelo terror e pela dúvida.
Como seria morrer? Haveria muita burocracia. Sentiria dor? Quanta? Quanto tempo levaria para voltar à terra? Lhe permitiriam isso?
Mais uma colina evaporava em um vale.
Provavelmente perderia sua posição como principado e ele queria tanto ajudar os humanos. Mas ele não pudera nem ao menos mudar as coisas ali. Ele nem conseguira encontrar algumas poucas pessoas boas. Teria perdido alguma pista? Se houvesse uma chance, se ele tivesse perdido alguma delas… Se ao menos …
Um rugido agitou o ar e uma sombra engoliu o céu. Olhando para cima, Aziraphale viu um bloco de carvão sulfuroso do tamanho de uma pequena montanha rolando dos céus.
Caindo em sua direção.
Aziraphale gritou e se agarrou ao chão, longe de estar pronto para o fim.
Ele ouviu a explosão, mas nunca a sentiu.
“Aziraphale!”
Estava morto? Seus ouvidos zumbiam. Almas não tinham ouvidos para zumbir. Olhou para cima.
O fogo passou, se espalhando como um tapete de chamas. Mas ainda havia uma sombra, uma silhueta dessa vez. Mais amigável. Ela estendeu a mão.
Aziraphale a alcançou, tentou falar, contendo uma tosse sufocada. Gabriel? Ou Uriel talvez, pronto para repreendê-lo? Mas―
“Venha, anjo.”
Crawly puxou com força e o levantou da vala.
“Não fique aí parado. Corra!”
Aziraphale não sabia o que dizer, então correu.
Eles correram.
Segurando a mão de Aziraphale com mais força, Crawly entrelaçou os braços deles. Aziraphale cambaleou. Crawly o puxou para cima. Uma colina explodiu e eles mergulharam para o lado. Outra pedra rolou do céu quando a aurora vermelha ardeu seu estandarte furioso.
Em uma coluna do portal pedregoso no sopé, Crawly jogou os dois contra uma face do rochedo. Ele pressionou as duas mãos na rocha a cada lado de Aziraphale e abriu as asas. Eram asas de corvo, Aziraphale não se esquecera. Elas desafiaram o fogo e resistiram até ficarem como carvão preto, contrastando com o céu condenatório. E Aziraphale viu desta vez ― a explosão ardente da rocha pouco antes do grande meteoro, viu ela bombardear o mundo inteiro transformando-o em uma massa e ser repelida ― inofensivamente ― pelas asas de Crawly.
O estrondo da explosão ecoou nos ouvidos deles. Crawly teve que se aproximar, sorrindo loucamente em alívio. Aziraphale leu os lábios dele em vez de ouvir: “Acho que te devo uma.”
O zumbido começou a desaparecer. Aziraphale também o entendeu dizer depois: “Conheço uma caverna. É aqui em cima. Não olhe para trás. “
Ele liderou o caminho. Aziraphale o seguiu.
*
Era como olhar através de um oceano de fogo. O céu fervia com nuvens verde-escuras. A faixa vermelha das luzes do norte tinha desaparecido. A chuva ardente havia parado, mas as ruínas ainda queimariam por horas, talvez dias.
Crawly parou sozinho na entrada da caverna, caído de um lado. Ele esfregou uma mão na outra. Seu rosto estava coberto de cinzas. Suas roupas cheiravam a enxofre, mas ele estava inteiro.
Ambos estavam.
Vez ou outra seus olhos brilhavam dourados sempre que ele fitava Aziraphale. O anjo estava sentado, abraçando os joelhos em um canto, respirando trêmulo, tiritando. Suas roupas estavam rasgadas e seu cabelo despenteado para um lado, mas ele não parecia notar. Até o brilho habitual dele embaçara. Ele parecia exausto.
"Pelo menos acabou agora”, acrescentou Crawly, sentindo-se mal por seu longo silêncio.
“Não acabou.”
Crawly lhe deu uma careta confusa.
“Não está ouvindo?” Perguntou Aziraphale.
A compreensão daquilo veio para Crawly. É claro. Do outro lado da planície, visível e audível apenas para o sobrenatural, ele podia ouvir o latido dos cães. O céu havia terminado seu trabalho. Agora o inferno tinha o seu. Os cães do inferno caçavam, arrastando os condenados até seu julgamento. Crawly sentiu sua garganta subitamente seca.
Forçou um tom leve para seu anjo. “Tente não pensar nisso”, disse ele. “Você fez o que pôde.” Ele se arrastou para o fundo da caverna e sentou-se. Aziraphale estava tremendo. “Você estava quase sem tempo, anjo.”
“Acho que não. O problema foi Lá Em Cima ”, explicou Aziraphale:“ Desde o er, do Dilúvio, quero dizer … Deve ter havido uma confusão lá. ”
“Dilúvio?” Sugeriu Crawly. Ele imediatamente se arrependeu. Aziraphale parecia pronto para hiperventilar. "O que isso tem a ver? Outro pedido de desculpas do céu?
"Não. Uma promoção. Estamos mudando os departamentos novamente. ”
Isso era interessante. Sondou o terreno antes de avançar: “Outra guerra no Céu da qual não ouvi falar?”
“Eu não sei. Eu vou ser um principado. ”
“Oh. Bom pra você.“
"Obrigado.”
“Algum lugar em mente pra se estabelecer?”
“Ainda não. Bem, eu não me importo com reformas.” Ele estava subitamente piscando para conter as lágrimas. "Tornam as coisas melhores.”
Oh anjo… Crawly engoliu um nó repentino na garganta. “Reformas”, disse ele, animado. “Sempre gostei disso. Não em uma escala tão pequena.”
“Oh, você estava …?”
“Não importa onde eu estava, realmente …”
“Tem razão.” Aziraphale parecia arrependido. “Desculpe. Hábito.”
“Nnh. Tenho certeza de que você encontrará algo.” Crawly procurou no bolso em suas roupas e tirou algo ainda inteiro, apesar dos destroços. A maçã do mercado.
“Sem dono agora”, observou, colocando-a entre eles. “Com fome?”
Aziraphale balançou a cabeça.
“Você tem um corpo, igual a mim. Pode morrer se não comer. ”
“Eu… acho que não posso.”
Crawly esfregou as mãos novamente. Os olhos de Aziraphale continuaram pairando entre as chamas lá fora. Doía assistir. Crawly tentou pensar em alguma distração.
Ele disse: “Eu pensei que doesse”.
“O quê?”
“Segurar as mãos de um anjo.”
Aziraphale se animou. “Eu também. As de um demônio, isto é.”
“Como se fazer isso pudesse transformar um de nós em pedra?”
“Ou pegar fogo.”
“Exatamente.”
Houve outra pausa, mas desta vez Aziraphale não olhou para fora.
Ele disse: “Eu não converso sobre nada assim com outros anjos.”
“Nada assim o quê?”
“Nada assim. Tipo isso.”
“Danação?”
“Não. Questões. Maçãs. Unicórnios. A cor das suas asas.”
"Nós conversamos sobre isso?”
Aziraphale pegou a maçã e a virou, testando a firmeza da casca com os dedos. Ele parecia subitamente tímido. “Quero dizer, as minhas são terrivelmente chatas.”
“Penas brancas de cisne ficam bem em você.”
“Mas as suas, elas são …?”
“Asas de corvos”.
“Corvos.” Aziraphale sorriu timidamente. “Sim. Pássaros inteligentes. Ainda me lembro na arca, você sempre se dava bem com os corvos mesmo …”
“Eu gosto de pássaros pretos. Corvos, graúnas, cormorões e estorninhos …”.
Houve um som de chamas distantes crepitando.
Crawly disse: "Sinto muito, anjo.”
“Não. Você salvou minha vida, Crowly ― quero dizer, Crawly. Desculpe. Estou cansado demais para pensar. ”
“Você deveria descansar. Procure o caminho para casa quando o chão estiver menos inflamável.”
“Eu … não deveria.”
“O quê?”
“Quero dizer, neste espaço tão pequeno…”
Crawly pegou. “Oh, não, não estou nem um pouco cansado. Você pode se deitar.”
Aziraphale parecia incerto.
Crawly caminhou de volta para a entrada da caverna. “Eu fico de olho de qualquer maneira. Vá em frente. Não há nada que você gostaria de ver nos sonhos de um demônio.”
“Claro que não.”
“Somos muito diferentes. Isso seria um pesadelo. ”
“Certamente.”
Crawly estendeu a mão para fora experimentando, da mesma forma que alguns mortais checavam a chuva. Fragmentos amarelos de enxofre queimado deslizaram por entre seus dedos.
“Praticamente igual, com uma nova cor”, murmurou. Ele conhecia átomos. Construíra estrelas. Mas não disse nada a Aziraphale, incerto do que tudo aquilo significava.
Sem querer, por volta do amanhecer, ele cochilou. Quando acordou, Aziraphale já havia partido, e um miolo de maçã restara na entrada da caverna. Crawly sorriu um pouco.
Ao pegá-la, lembrou-se de um sonho. Foi o mais agradável que tivera em tempos.
Havia um jardim nele.
*
Ilustração: Gustav Dore, Bible Illustrations #19, Lot Flees as Sodom and Gomorrah Burn
*
Outros capítulos
Capítulo 1- Não tanto como cair (a principio)
Capítulo 2-Três anos depois do Armageddon
Capítulo 3- O primeiro convite
Capítulo 4-A paz de um momento
(novo!) Capítulo 6- Seguindo em Frente
Capítulo Original (em inglês)
Lista completa de capítulos originais (em inglês) e traduções
#good omens#ineffable husbands#belas maldições#bons augurios#not so much falling at first#fic sequel#translation#chapter fifth
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Enoquiano - Grim Wotan
Este texto, cuja autoria é atribuída a Grim Wotam, também se refere às chaves enoquianas. Enochiano: bases, estruturas, conceitos e fontes. Grimm Wotan Em meio a todo o movimento hermético e suas ramificações, iniciadas pela metade do século XV, podemos notar uma série de similaridades, que podem muito contribuir em nossa apreciação do posterior trabalho de John Dee. Marsilio Ficino, por…
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Why do people use the Latin language in occult and in "spells"?
Why do people use the Latin language in occult and in “spells”?
Olim, libri qui magicum contenuit in Latina scriptebantur, illa enim lingua scholasticorum trans Europam erat. Sic, multa ritualia antiqua in Latina ut historicum artificium sunt. Non omnia carmina in Latina sunt: aliqua, praesertim cabalistica, Hebraeo veniunt; alia vero Enochiano. Est nulla ratio ritualibus magicis novis in Latina scribere: lingua uti potes quod tibi placet. Alex’ answer to…
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L'origine azteca dello specchio di ossidiana del "mago" John Dee
L’origine azteca dello specchio di ossidiana del “mago” John Dee
John Dee è un personaggio che non può non far parte delle conoscenze di chi si occupa di magia, occultismo, alchimia e spiritismo. Consigliere personale della regina Elisabetta I, inizialmente si occupò di studi scientifici per poi dedicarsi a ben altro. Insieme a Edward Kelley mise a punto un alfabeto, detto Enochiano, che stando a quanto affermarono i due autori era quello su cui si basa la…
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#British Museum#cristalloscopia#John Dee#ossidiana#regina Elisabetta I#scrying#specchio#specchio di ossidiana
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A história da Magia Enochiana é profundamente fascinante e está entrelaçada com as vidas e os trabalhos dos ocultistas do século XVI, John Dee e Edward Kelley. Aqui está um relato detalhado sobre como esse sistema mágico único foi desenvolvido:
John Dee e Edward Kelley: Os Protagonistas
John Dee (1527-1608) foi um matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo e consultor da rainha Elizabeth I da Inglaterra. Ele era um erudito renomado e tinha um profundo interesse pelo ocultismo e pela alquimia. Dee acreditava que poderia obter conhecimento e sabedoria diretamente de fontes divinas, como os anjos.
Edward Kelley (1555-1597) era um médium e alquimista que se uniu a Dee em suas investigações esotéricas. Kelley alegava ter a habilidade de comunicar-se com os anjos, servindo como intermediário nas sessões de scrying (vidência) conduzidas por Dee.
O Início das Comunicações Angélicas
Em 1581, Dee começou a procurar um meio de obter conhecimento direto de seres espirituais. Ele iniciou uma série de sessões de scrying, utilizando uma bola de cristal para tentar ver visões e receber mensagens dos anjos. Em 1582, ele conheceu Edward Kelley, que se juntou a ele como médium.
Durante suas sessões, Kelley afirmava ver e ouvir anjos que transmitiam mensagens e instruções. Os anjos forneceram a Dee e Kelley um novo sistema de magia, incluindo uma linguagem desconhecida que eles chamaram de Enochiano, em homenagem ao patriarca bíblico Enoque, que, segundo a tradição, teve uma relação próxima com Deus.
Desenvolvimento da Linguagem Enochiana
Os anjos ditaram a Dee e Kelley uma série de tabelas e alfabetos, que formavam a base da linguagem Enochiana. Eles também revelaram as "Chaves Enochianas" ou "Chamados", que são conjurações específicas usadas para invocar os anjos e abrir portais para diferentes reinos espirituais.
As Tabelas Enochianas
Um dos aspectos mais complexos e intrigantes da Magia Enochiana são as tabelas ou quadrantes, que representam a estrutura do universo espiritual conforme revelado pelos anjos. Estas tabelas contêm nomes de anjos e são usadas como ferramentas de meditação e rituais. Cada tabela é dividida em partes menores, cada uma associada a diferentes aspectos do cosmos e da existência.
Práticas e Rituais
A prática da Magia Enochiana envolve a utilização das Chaves Enochianas e das tabelas para invocar anjos e pedir orientação, conhecimento ou auxílio em questões específicas. Os rituais podem ser complexos e exigem uma preparação cuidadosa, incluindo a purificação do praticante e a criação de um espaço sagrado.
Impacto e Legado
Embora a Magia Enochiana tenha sido amplamente ignorada após a morte de Dee e Kelley, ela foi redescoberta no século XIX pelos membros da Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn). Desde então, tornou-se uma parte importante das práticas esotéricas ocidentais.
A Magia Enochiana continua a ser estudada e praticada por ocultistas em todo o mundo, que a veem como uma ferramenta poderosa para a exploração espiritual e a comunicação com reinos angélicos.
A história da Magia Enochiana é uma jornada fascinante que começa com as ambições de dois homens em busca de conhecimento divino e se transforma em um dos sistemas mágicos mais complexos e enigmáticos já desenvolvidos. Através da linguagem angelical e dos rituais detalhados, os praticantes modernos continuam a explorar os mistérios revelados a Dee e Kelley, buscando a sabedoria e a iluminação que acreditam estar nas mensagens dos anjos.
www.enochianobrasil.com.br @fraterozymandias
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Odiava ter que fazer aquilo, mas era a necessidade de seu povo acima de tudo, a necessidade dos dragões. Não precisou sequer que Aldrey ou Nathan o tivessem enviado até SYN para o procurar, ele mesmo fora, sem autorizações ou ordens. Não gostava de se envolver com essa nova família de Deamon desde que ele os levara a primeira vez a Morada Celeste ou a Aritya, e nunca se envolvera, sequer se dera ao trabalho de se apresentar a eles em sua forma humana, mas após perguntar a Aldrey as coordenadas exatas do acampamento dos Bloom Shade, caiu do céu e pousou na terra deles quase como um intruso, mas ouvira boatos ~de Lio~ que se você fosse um dragão então seria prontamente aceito, e ele era. Não portava sua forma draconiana, então os cabelos estavam bagunçados, escondendo uma boa parte do rosto. As orbes antes completamente negras reduziram até ficarem somente com as íris escuras. Ele olhou ao redor, esperando pelo primeiro ataque, mas logo soltou uma lufada de fumaça negra pela boca para demonstrar sua insatisfação com qualquer um que tentasse se aproximar. Não queria estar ali, não queria mesmo, e havia recebido de Calliope o aviso de que o próximo parente de Deamon que invadisse o território dos dragões de SYN seria comido vivo. Ele rapidamente tirou um pedaço de pano branco do bolso da calça e o levantou acima da cabeça, deixando o vento o balançar. “-----Meu nome é Bones, de Enoch, dragão negro. Poupando as perguntas, sim, sou parente do Deamon e não, não estou aqui por ele. Procuro pela líder dos Bloom Shade, a al'amirat alsamawia Deborah. O tom de voz dele era firme, sério. Não havia resquícios de piadas ou uma mínima brincadeira. Bones nunca fora disso desde os acontecimentos com Deidrich milênios antes. O rei enochiano o tornara um dragão extremamente sério e calculista, era por isso que sabia que as informações que havia arrancado da sereia o ajudariam.
@debbiebloomshade
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En realidad la percepción que se tiene de los ángeles provino de algunos pintores y artistas que se tomaron libertades al retratar a los ángeles, y al igual que un dibujante de caricaturas le pone capa a un súper héroe, ellos les dieron alas lo cual era una forma visualmente interesante para distinguir a los ángeles en una pintura llena de personas normales ( las alas también fueron utilizadas en la iglesia primitiva para indicar que estas criaturas vivían en el cielo). Al Arcángel Miguel y Gabriel, se les dio ropa militar contemporánea. Los querubines, en particular, obtuvieron su cambio de imagen extremo gracias a los escultores del Renacimiento quienes los representaron como bebés lindos bailando y jugando en las tumbas infantiles. Por último, lo de las arpas fue implementado por John Milton, quien escribió acerca de los ángeles "tocando arpas", en El paraíso perdido , básicamente porque era la cosa más linda que podía imaginar. La lengua enochiana, o idioma enochiano, cuyo nombre deriva de la teoría de que es la lengua hablada por los ángeles apocalípticos del apócrifo Libro de Henoc, es un idioma creado por el ocultista británico John Dee y su compañero Edward Kelley el 8 de marzo de 1581. El idioma se supone ser la lengua hablada por los ángeles y por los humanos antes de la Torre de Babel es, por tanto, el supuesto verdadero esperanto o idioma universal, con su propio alfabeto y sintaxis. Dee y Kelley habrían canalizado por medios espiritistas a un grupo de ángeles que les enseñaron el idioma y su uso ritual. El lenguaje fue dado a Dee y Kelley en 49 tablillas sagradas y en las 48 llamadas enochianas. Se supone que cada planeta tiene un Logos planetario (ángel) que puede ser invocado en el correspondiente día semanal, cada hora del día a su vez tiene diferentes gobernantes, hacienda una compleja jerarquía de ángeles reyes, príncipes, gobernadores y ministros. La Magia Enochiana, también conocida como Sistema Enochiano, implica la realización de complejos rituales ceremoniales e invocaciones a espíritus, demonios y ángeles. #Angeles https://www.instagram.com/p/CEVFT8KFA6V/?igshid=zeolq0b17nqd
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Y por qué en una fecha tan lejana?! Si acabábamos de conocer al pequeño Victor Jr y es el Nieto mas encantador del mundo! *Detrás de ellos aparece el niño con su pequeña máscara y capucha saludando* Ahora, no solo vas a casarte con el Rey de este Castillo, sino que tuviste a su hijo! Estamos tan orgullosos Harley! Cuantos mas planeas darle, 10 o 15?
Go anon and pretend to be my character's parents
-"Saben que el 31 de Febrero no existe... ¿Verdad?"-
De un momento a otro su cara se volvió roja al ver al crío ahí. El cómo llego ahí era un misterio pero no le agradaba. Lo agarro y lo sostuvo en sus brazos, preguntándole que hacía ahi, solo para ver con sorpresa e irá a sus padres -"¡¿Acaso me veo como una máquina de hacer bebes?! Uno por persona debería de ser suficiente"- dijo para luego susurtar en enochiano a sus padres, quienes le entenderían perfectamente -"Ni siquiera quería tener a este o a otros que tuve. Ahora entiendo porque mis hermanas no les suele dirigir la palabra a ustedes"-
#ah si los padres de harley ni nadie de su familia saben de la existencia de sus otros hijos :3c#ahora preguntaras porque pongo iconos de harley pelirroja... porqje no?#aunque es al otro victor que le gustan las pelirfojas JA#[ Ask And Shall Receive | Ask Meme ]#anon
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Capítulo 1- Não tanto como Cair (a princípio)
Tradução para o português brasileiro (pt-br) da fanfic de Good Omens escrita por @rjeddystone "Not so much falling (at first)", disponível aqui no original em inglês. Por favor, não copie e poste se você pode reblogar. 😘 Esta fic ainda está em andamento, portanto comentários são muito apreciados 😁 e eu vou traduzi-los de volta para a autora, ok? Boa leitura!
Nota da autora: “Um pouco mais sério do que de costume, mas isso me veio na cabeça, então eu escrevi. Pode ser um prólogo ou um capítulo único, ainda não tenho certeza. Por favor, comentem e repostem se gostarem!” –RJ
No princípio…
Quase ninguém no mundo além das criaturas imortais sabia que Crowley era um demônio. O único que alguma vez o perguntara a respeito em 6.000 anos recebera como resposta: “Eu não Caí realmente, só Dei Um Pulinho Lá Embaixo.”
Foram as influências, na verdade, ele admitiu naqueles dias. Todo mundo amava um arcanjo. Lúcifer era absolutamente encantador, e tinha um monte de perrengues no trabalho. A comida também não tava muito boa, e isso era só pra começar...
Crowley-ainda-por-ser tinha ouvido a palavra “rebelião” sussurrada junto aos bebedouros de água-benta ao longo daqueles dias. Isso não o impressionava como algo anormal. Soava como algo novo e empolgante. Lúcifer planejava se rebelar. Bem, quem não adorava Lúcifer?
O plano celeste era cristalino e dourado, um design realmente amável, especialmente comparado com o vazio de antes. Rodas [Nota da Tradutora: Rodas são seres celestiais e vem de Ezequiel 1:15-21, é um tipo de anjo semelhante às carruagens de fogo] giravam com o tilintar suave das engrenagens celestiais. Principalidades, Elementais, e os ocasionais jovens patronos, todos se ocupavam em tomar conta de um mundo novo em folha.
A criação estava quase terminada. Era o Quinto Dia de um plano de Sete-Dias, e só ontem Zaziel― como ele era chamado até então― tinha experimentado fazer as estrelas entrarem em nova para criar outras estrelas. Ele havia sido especialmente elogiado pelas nebulosas.
Era bom até então. Muito bom, e só melhorando. No dia seguinte, tudo seria um mar de rosas e... Bem, ele ainda não estava certo sobre o que rosas tinham a ver com aquilo, mas só poderia ser bom.
Por hoje, haveriam pássaros e peixes, mas aquilo não era do seu departamento, então ele tirou o dia de folga. Zaziel passeava despreocupadamente perto do lago cristalino do lado de fora do Véu. O Véu era uma barreira cintilante, também cristalina e ainda assim opaca a frente da Sagrada Sala do Trono. Era de um tom que nenhum olho humano poderia descrever. Ela sempre se movia gentilmente como água ou seda tocada pela brisa. Era a linha entre o consagrado e o sagrado.
Zaziel sabia que apenas arcanjos e Metraton tinham permissão para perguntar diretamente a Deus. Mas Zaziel era curioso por natureza. Não havia nenhuma razão para pensar que não havia sido criado dessa forma. Nunca se sabe. Talvez houvesse uma resposta algum dia.
Cantarolando o começo de algum poema para si próprio, ele parou para olhar através das águas, fingindo falar consigo mesmo.
“É muito em cima da hora, fazer o sol depois das plantas, eu pensei,” ele murmurou alto. “Mas então, eu deveria saber que a Toda-Poderosa poderia impressionar. ‘Belo show, Senhora’, eu diria ‘Bem bacana.’ Honestamente, não consigo pensar no que nos resta além de por alguns pés sobre a terra. Isso balancearia os pássaros e os peixes, eu acho. Eu adoraria saber, com certeza...”
Ele mirou a água, aumentando um pouco mais a voz, do mesmo jeito que alguém faz quando quer informações em uma cidade desconhecida, mas tem muita vergonha de perguntar.
“Eu sei do que isso aqui precisa”, ele continuou. “Alguma coisa onde se possa caminhar, além da água: harmonizaria as coisas. Talvez... lugares para comer ou onde se possa sentar e alimentar os patos. Eu quero dizer, eu gosto de patos. Suponho que nós poderíamos ter alguns aqui em cima. Não se pode ficar triste olhando para um pato...”
Não houve resposta, mas a Criação era jovem. Zaziel era um otimista por aqueles tempos.
Eventualmente, ele desceu das esferas e se dirigiu ao bebedouro de água-benta. Eram quase nove da manhã. Alguns detalhes você nunca esquece.
“Pra que Deus precisa de mais pessoal?” Bellaphon perguntava. “E eu gosto de semanas com cinco dias. Pra que mais dois dias?”
Era uma panelinha de anjos. Nada novo. Mas as questões chamaram sua atenção. Principalmente a parte sobre “mais pessoal”.
“Nós já temos tantos tipos de anjos”, disse Dafriel, inclinando-se de um lado para o outro, procurando possíveis bisbilhoteiros. “Eu pensei que Ela tivesse dito que estávamos prontos no Segundo Dia.”
“Eles não são anjos,” disse Bellaphon em uma voz clara, mas arrastada. “Mais frágeis do que qualquer coisa. Ela os chama ‘Adão e Eva’.”
“Não, não. Eu ouvi que eles se chamam humanos,” disse Hastriel, irritado. Ele comia um prato de batatas-chips de um mostruário (provavelmente de algum evento planejado para dali a alguns mil anos e que envolveria codornas). Ele falava entre migalhas. “Adão e Eva― os nomes deles. Como os nossos, só que mais curtos.”
Zaziel escolheu esse momento para se aproximar com seu copo até o bebedouro. “O quê, sem ‘els’ neles?” ele perguntou. Se inclinou de volta, despreocupado como o sol que brilhava na Criação até ontem, e se juntou à roda. “Eu pensei que nós todos tivéssemos ‘els’, ou ‘phons’ ou ‘ales’ no final dos nossos nomes.”
O olhar de Bellaphon se estreitou. “Sem ‘els’” eles disseram. “Nem mesmo asas, eu ouvi.”
“Será que fizeram algo de errado?”
“Claro que não,” disse Hastriel, lambendo seus dedos salgados. “Nem mesmo nasceram ainda. Não devem aguentar cair de grandes alturas, eu suponho. Sendo coisas moles, de carne, corporificadas.”
“Você não ouviu o que eu ouvi do Lu,” disse Dagnophon, que olhou para a Bellaphon carrancuda com um sorriso carinhoso. “Eles vão ser os favoritos Dela. Eles, que são feitos de barro.”
“O que tem de errado com o barro?” perguntou Zaziel coloquialmente, e tomou um golinho do copo.
“É tão sujo, não é?” perguntou Dagnophon.
“Bom, ele não faria as plantas crescerem tão bem se não fosse,” disse, Zaziel, que havia tido uma conversa com aquele departamento dois dias antes. Ele achou o assunto da vida vegetal fascinante.
“Melhor continuarem falando baixo”, explodiu Dafriel. Ele apontou para cima. De qualquer lugar do paraíso, olhar para o alto tempo o suficiente trazia a visão do Véu. Ele brilhava silencioso e amável.
Crowley-ainda-por-ser imaginou ter visto um relâmpago piscar.
“O que está havendo?” ele perguntou. Sentiu um súbito desconforto, como se tivesse se metido em terreno onde ele proverbialmente não se atrevia a pisar. “Pensei que vocês estavam falando de administração.”
“Nós estamos falando da Administração,” disse Bellaphon, amargamente. [Nota da autora: Enochiano, a linguagem dos anjos, pode usar maiúsculas, hifenação e até mesmo ortografia.]
“Alguma notinha a acrescentar nessa conversa?” perguntou Hastriel.
Zaziel pensou a respeito. “Eu… Eu me pergunto o motivo disso tudo,” disse por fim. “Mas eu acho que minha queixa principal seria a música daqui: Faz um dia parecer mil anos, não é, o jeito como fica tocando infinitamente?”
Todos o encararam, parecendo perdidos.
“Eu quero dizer,” ele continuou. “Eu poderia consertar as harpas. Elas são o maior problema: têm uma tessitura de cerca de seis oitavas. Se eu pudesse simplesmente ter uma palavrinha com o maestro, poderíamos acrescentar alguma percussão. Tenho trabalhado numa pequena e adorável cantiga, só preciso arranjar as palavras certas e...”
“O que é uma tessitura?” perguntou Hastriel, perplexo.
Foram interrompidos pelo clarão de um relâmpago deslizando: Um anjo descendo do Véu. Por um instante, parecia uma estrela cadente, mas então ele pousou, dobrando suas esplendidas asas que projetavam luzes coloridas. Sua glória obscureceu ligeiramente e ele sorriu.
“Bom dia, irmãos.”
Ele era tudo o que alguém poderia esperar ouvindo as palavras “Anjo da Luz”, ou “Filho da Manhã” ou “o mais belo dentre os anjos”. Ele era Lúcifer, o Arcanjo Chefe e primogênito de todos os anjos do Céu. Ele portava sete estrelas em sua coroa.
Ele olhou diretamente para Zaziel na mesma hora. “Zaziel,” ele disse. Sua voz era como música. “Eu pensei ter ouvido sua voz.”
Bellaphon deixou cair seu copo de água e Hastriel limpou rapidamente as migalhas e os sal dos seus lábios com as costas de sua manga. (De alguma forma, isso só fez com que ele parecesse mais pegajoso.)
A Estrela da Manhã sorriu generosamente, o que fazia brilhar mais. Apenas arcanjos brilhavam daquele modo, e apenas uma coisa tornava isso possível: Estar na presença da Toda Poderosa. Zaziel mirou novamente o Véu silencioso e desejou. Só estivera lá uma vez. Lá, ele havia nascido e recebido seu nome. Era sua primeira e única memória predominante Dela e ainda assim, apenas ali porque ele não tinha nada mais à altura para comparar.
Ele encarou Lúcifer de volta e de repente não havia nada mais importante do que não parecer um idiota.
“Lu, velho amigo, como vão as coisas Lá no Alto?”
O príncipe angelical disse melodicamente, “Estou contente que tenha se juntado a nós. Eu ouvi que você tinha perguntas.”
“Bem, ah, é, eu quero dizer, eu imagino que qualquer um teria. É um grande mundo novo. Perguntas são suscetíveis e abundantes. Teremos toda eternidade para remoê-las. Não que eu me importe com isso.”
O Príncipe dos Anjos continuou sorrindo e Zaziel sentiu sua garganta ficando seca.
“Eu já estive remoendo o bastante,” Lúcifer disse. “Sobre um trabalho para você, na verdade.”
“Nós vamos...vamos fundir nossos departamentos, então?”
“Algo assim.”
O nome “Lúcifer” significa “portador de luz”, e era isso o que ele era. A dele era uma luz cegante, mas não para os olhos. Sua luz cegava a mente e o espírito. Desbotava os pensamentos, por assim dizer. Ela apaziguava o coração com o eterno. Ela era de uma beleza da qual todos os outros anjos se lembravam desde de seus nascimentos, e assim confiavam inquestionavelmente.
Apesar disso, Zaziel nunca apreciou o modo como estar na presença da luz de Lu dificultava seus pensamentos. Ele se recordava de pensar bastante ao nascer, sobre tudo. Mesmo assim, ele não conseguia se livrar daquele efeito. Com pouco mais que um convite, ele agora caminhava debaixo da asa do arcanjo com uma timidez quase visível. Deixou que seus passos girassem de um lado para o outro, tentando parecer casual e conseguindo algo mais parecido com um maníaco, conforme tentava manter seus olhos a frente.
“Eu, uh, estou trabalhando numa música.”
“É mesmo?”
“Ainda não está pronta…”
“Eu adoraria ouvi-la.” O sorriso do arcanjo fez Zaziel resplandecer.
Eles alcançaram os baluartes do centro de observação. Lá, haviam janelas ampliadoras, e delas eles podiam ver O Jardim: Éden. Seus quatro rios brilhavam a cada portão, correndo ao longe em direção aos pontos cardinais. Era mais verde que qualquer outro lugar na Terra. Ele não havia sido cultivado como o resto das árvores no planeta recém-nascido. Ele era celestial.
O Anjo de Luz disse, “Lindo, não é? Eu A vi criando-o. Você deveria ir lá algumas vezes, com certeza.”
“Nós estamos indo para lá logo, não?” Zaziel indagou. “Algum tipo de cerimônia?”
Lúcifer soltou um profundo e cansado suspiro. Suas asas ainda emanavam arco-íris. “Sim.”
“Então, eu não tive a chance de perguntar, mas… O que é uma rebelião?” perguntou Zaziel.
“Eu só estava pensando em dizer... não.”
Não? Zaziel não podia acreditar em seus ouvidos. Não? Ninguém ali dizia não. Eles podiam fazer corpo mole e bendizer alguém, mas não havia como dizer não para a Luz. E ainda assim... Lúcifer estava ali, trajando a mesma luz, vestindo-a lindamente. Poderia qualquer coisa com tal luz ir contra o Céu?
E não era uma palavra tão pequena, também.
Lúcifer disse, “Você sabe, Ela colocou as Árvores lá. Conhecimento do Bem e do Mal. E a Árvore da Vida. Qual delas você acha que os humanos irão escolher primeiro?”
“Bem, obviamente eles iriam escolheriam vida,” disse Zaziel sem hesitar.
As sobrancelhas pálidas de Lúcifer se ergueram. “O que te faz dizer isso?”
“Bem, eu ouvi que eles não vão ter asas. E eles vão precisar comer e dormir e esse tipo de coisa. A escolha clara é a de viver para sem…” Foi interrompido quando Lúcifer o puxou pelos ombros. Ele virou-se para encará-lo sinceramente. No mesmo instante ele arqueou suas asas ao redor deles para terem um mínimo de privacidade. Ele vislumbrou o Véu que pairava sobre eles em todos os lugares, o tempo todo. Ele parecia ... Zaziel tentou encaixar aquele olhar. Não era exatamente raiva. Era outra coisa.
“Você sabe o que acontecerá conosco se eles assim o fizerem, Zaziel?”
“Não. Espere, você sabe?”
Zaziel tinha uma crescente lista de sorrisos em sua memória. O sorriso de Dagnophon para com Bellaphon, por exemplo, era algo que faria qualquer teólogo questionar se anjos se interessavam por sexo. [Nota da autora: A resposta é: tanto quanto eles se interessam por dança.] O sorriso de Michael era distante, convencido, quase pedindo para ser zombado. E Dafriel tinha um sorriso especial para os lagartos, o que era compreensível: Eles tinham sido sua ideia.
Mas o sorriso que o Filho da Manhã deu ao Não-ainda-Crowley agora era... diferente. Ele dava calafrios por sua espinha, e Céu e Terra costumavam ser tão cálidos.
O príncipe chegou mais perto. “Nada bom,” ele disse. “Ela irá paparicá-los. Ela quer que eles sejam Seus filhos. Nós vamos ser escravos, Zaziel. Eles vão tomar nosso lugar.”
“O quê? Não…”
“Eu A ouvi dizer isso. Ela diz que vem planejando isso durante todo esse tempo, embutido nas normas. Nós não fomos amados, Zaziel. Éramos apenas um artifício.”
Zaziel deu um passo para trás, fora da sombra daquelas asas reconfortantes. Nenhum arcanjo nunca revelara o que era ouvido além do Véu. Nunca. Mas nenhum anjo antes quisera tanto saber como Zaziel.
Parou, sentindo-se exposto, despreparado. As palavras afundaram antes que pudesse pará-las. Elas o perfuraram. Não amado? Não amado? Certamente Deus amava tudo o que Ela tinha feito. Aquilo era apenas natural―ou, melhor dizendo, sobrenatural? Zaziel amava as estrelas e as novas e as nebulosas. Por que mais criar algo se não para amar isto?
Ele tentou entender, “Mas se tudo é para eles, então por quê...?”
“Ela os quer naquele jardim, de qualquer forma. Tem algo que ela quer que eles façam. Nesse dia, quando estivermos todos lá, haverá um anjo principado defendendo o portão, Zaziel. E eu te pergunto: defendendo de quê?”
“Principado?” As principalidades eram quase tão poderosas quanto os arcanjos.
“Ele recebeu uma espada flamejante. Isso não é estranho? Sabe o que uma dessas pode fazer?”
Zaziel esteve presente na batalha do Leviatã. Ele sabia sobre espadas flamejantes. Elas faziam ótimos churrascos e eram excelentes como espetos, se você gostasse de peixe grelhado.
“Bem, sim, eu…” ele gaguejou. Seu rosto mudou para uma expressão desapontada. “Mas… não. Não, Ela não iria. É apenas uma cerimônia. Ela não…”
“Ela vai. Ela foi bastante insistente. Eu não posso deixar meus irmãos e irmãs e todos os outros sofrendo em segundo lugar. Nós somos os primogênitos. Nosso lugar é acima daqueles que estão abaixo.”
Zaziel não podia se importar menos se ele era o primeiro ou o centésimo na ordem de nascimento. Ordem não importava. Nenhum serafim era menos amado que um simples anjo do coral. Ao menos, ele achava que era assim que funcionava.
“Mas… ela não nos ama?”
“Você conhece Michael e Gabriel, eles estão bem com isso. Eles não pensam. Não tem imaginação. Eles não entendem quão ruim é isso. Agora, eu pretendo me levantar e nos defender. E eu quero você comigo. O que me diz?”
Zaziel olhou para baixo de novo, para o jardim.
“O que você fará?”
Lúcifer suspirou. Suas asas tremularam levemente e isso era estranho, muito estranho: Cada uma daquelas penas ainda sussurravam aleluia. “Amanhã…”
“O que tem amanhã?”
“Amanhã os humanos terão nascido. Eles receberão uma regra. Um teste.”
“E, se eles a quebrarem?”
“Exílio. Eles terão que deixar o jardim. Se eles não tiverem comido o fruto da Vida Eterna até lá, eles serão mortais.”
“O que é mortal?”
“Eles seriam capazes de morrer, como o Leviatã. Eles poderiam ser mortos, Zaziel.”
“Mortos? Você não disse nada sobre matar ninguém!”
“Eu não disse, é claro que não.”
“Como você pode imaginar…?
“Imagine o que acontecerá se nós não mostrarmos quão indignos eles são.”
Zaziel imaginou, e manteve seus olhos no jardim.
“É só o que quero dizer. Ela tem tanta fé neles. Nós temos que mudar isso, ajudar Ela a ver claramente.”
As duas árvores ficavam bem no topo da colina mais alta do jardim. Zaziel se lembrava delas. Sua primeira refeição. O único alimento que qualquer anjo precisaria. Agora ali estavam elas, esperando pelos humanos.
Alguma coisa mais estava lá, brilhando no ponto central do rio. Ele piscou. Isso o fez pensar na luz do Véu por alguma razão.
“Você me ajudará?” a voz melodiosa quebrou sua concentração. Ele se virou rapidamente de volta para o arcanjo.
“Eu não gosto dessa ideia de fazer coisas morrerem,” ele disse.
“É claro que eu estou preocupado com os humanos. Então, antes da cerimônia, nas orações vespertinas, eu vou fazer isso. Eu vou dizer não. Você está comigo?”
“Você tem certeza de que isso não será a nossa morte?”
Lúcifer abriu um sorriso largo, dando-lhe um tapinha nas costas. “Nós já comemos da Árvore da Vida, Zaziel,” ele disse. “Nada de pior pode acontecer conosco do que sermos substituídos. Nada.”
É importante lembrar que um portador de luz é apenas isso: um portador. Do contrário, qual seria a necessidade da luz? Zaziel não conhecia mentiras ainda. Ele acreditava que sempre estaria agraciado pela luz do paraíso.
Assim, enquanto os Observadores redigiam seus relatórios aquela tarde, ele caminhava de um lado para o outro do muro, olhando de vez em quando para o jardim e tentando descobrir o que era aquela luz estranha. Nesse meio-tempo, os Observadores anotavam tudo, do número de ovos nos ninhos dos pássaros até quantos graus marcava o termômetro úmido em Atlântida.
Era reconfortante, o sussurro da pena deslizando sobre o papel, embora Zaziel acabasse sempre compondo hinos. Ele detestava trabalhar com papelada.
Pensou de novo, na melodia que ele esteve cantarolando perto do lago.
“What is this thing that builds our dreams, yet slips away from us…” [Nota da tradutora: Esse trecho é de “Who Wants to Live Forever, um clássico do Queen, e ao que parece, mais antigo do que a própria banda.]
Ele parou naquela linha, e fitou o Véu. Ele queria voltar lá, voltar no lago, ficar falando sobre os patos, sobre qualquer coisa realmente. Ele tinha sido feliz lá. Mas de repente, sentiu-se proibido. Indesejado. Barrado.
Não conseguiu terminar o poema.
No dia da rebelião, as orações vespertinas começaram a se intensificar e assim Zaziel se juntou ao coro e assistiu conforme Lúcifer deu um passo à frente. Com uma questão.
“Amais aos humanos mais do que a nós?”
As canções silenciaram. Zaziel não sabia quanto tempo o silêncio durou. O próprio tempo perdeu o compasso.
Metatron se levantou de seu trono menor. Ele era o porta-voz do Céu, e sentava próximo do Véu, porém ao lado, de modo que não parecesse que recebia os louvores da Senhora. Seu papel era necessário pelo fato de que a Voz de Deus, Fonte de Toda Criação não podia fazer diferente senão viajar por todo canto dela. Metatron então era o equivalente a um canal privado.
“Por que perguntas?”
“Porque…” Lúcifer contraiu suas asas e lançou faíscas. “Amanhã as hostes do Céu se ajoelharão para Adão, o filho da Terra, e Eva, sua esposa. E nós os serviremos.”
Um murmúrio de asas e preocupação se espalhou pela miríade de anjos. Os olhos de Lúcifer se tornaram escuros como carvão. De novo, fagulhas se derramaram por entre as plumas macias, aleluias se convertendo em “nãos”.
O grupo armado havia se reunido ao redor dele por acordo prévio. Agora, Zaziel movia-se devagar até o perímetro deles. Ele não estava gostando daquilo. O silêncio por trás do Véu. Até mesmo a música das esferas de anjos havia parado.
Lúcifer perguntou, “Como podes nos pedir para adorar qualquer um além de ti?”
Metatron lançou um olhar ameaçador. “Como podes questionar ordens?”
“Porque elas são erradas!”
As esferas retiniram e rangeram perigosamente. As engrenagens do Paraíso estremeciam. O Véu esvoaçava numa ventania e fogo cintilava em seu limiar.
Zaziel não saberia dizer como ele sabia, mas ele podia sentir em sua alma: Deus havia se levantado. A Altíssima levantando-se era como um gigante ficando de pé dentro de uma tenda. Forçava o tecido da realidade.
A existência caiu tentando compensar e Zaziel sentiu seu estômago vir parar em sua boca enquanto o solo vacilava.
A arcanjo Michael desembainhou sua espada e ela se iluminou como um relâmpago.
“Eu apenas fiz uma pergunta!” Lúcifer bradou em desafio.
Metatron abriu boca para falar, mas então uma Voz percorreu os quatro cantos. Ela perfurou Zaziel como uma faca. Ele sentiu mais do que ouviu, a raiva, a traição, o desapontamento.
“MEUS FILHOS, ESQUECERAM-SE?”
Um clarão os inundou como uma enchente. O Véu tinha se aberto. Seu esplendor fazia o brilho de Lúcifer e seus anjos rebeldes parecerem uma sombra.
Zaziel arfou. Tinha se esquecido? Ele tinha. Esquecido da Luz assim como dos vestígios dela em sua completa glória. Algo nele doía, mas mesmo que ansiasse, as palavras “não amado” ecoavam em sua mente. Não conseguia esquecê-las. Do que adiantava amar se eles não eram amados? Quem havia se esquecido de quem?
Lúcifer desembainhou sua própria espada e assim fizeram Hastriel e Dafriel e Bellaphon e o resto. Ele respondeu então, “Você sabe muito bem que eu não me esqueci. Eu me lembro de tudo.”
Zaziel sentiu o chão debaixo de seus pés sacudir de um modo estranho. Aquilo não podia ser bom. Ele sacudiu de novo. Não, nada bom. Nada, nada bom. Ele olhou ao redor. Os Observadores e o coral recuavam.
Zaziel disse, “Lu, er, talvez seja melhor se a gente falasse disso uma outra hora, com menos raiva, só…”
“Tarde demais agora, Zaziel. A linha foi traçada.”
“Que linha? Do que você está falando?”
“Entre nosso lado e o deles.”
“Lado? Qu...?”
“Não seja covarde, Zaziel,” disse Bellaphon, bruscamente.
Zaziel, que havia salvo Sandalphon do inferno de chamas de uma supernova imprevista, se voltou para eles em raiva desesperada. “Eu não sou um covarde!”
E nesse momento, Lúcifer ergueu sua espada. Ele soprou a lâmina uma vez e o metal estrelado se tornou mais preto que a noite.
Zaziel disse, “Você não pode estar realmente pretendendo atacar?”
“É disso que eu gosto em você, Zaziel,” disse o arcanjo, docemente. “Você faz perguntas.”
“Mas nós não podem...”
“Eu acho que uma mudança na administração é necessária.”
Ele avançou, atacando. Michael também, e todas as forças do Céu se juntaram a um lado ou a outro, todos menos Zaziel, que foi derrubado e colocou suas próprias asas sobre sua cabeça para se proteger. No momento seguinte, seus únicos pensamentos foram de se arrastar por entre o caos, tentando alcançar algum lugar que não estivesse sendo dilacerado pela guerra.
Foi muito feio. Oh, foi muito, muito feio. Ele teria dito a qualquer um que perguntasse, mas ninguém o fez, e ele era grato por isso. Foi a primeira feiura em toda criação, e mais horrível do que qualquer coisa que viria depois. Até mesmo a queda do Leviatã foi uma batalha épica, gloriosa. Não havia nada de épico sobre aquilo. Nada de glorioso. Nada de bom. Asas foram retalhadas. Membros perdidos. Corpos desencarnados. A música das esferas tinha se tornado clamores de ódio.
Michael cruzou espadas com Lúcifer e suas armas espalharam relâmpagos pelos céus. Eles atingiram esferas e quebraram rodas. Todo o Paraíso tremeu. As principalidades na Terra olhavam para cima conforme a abóbada celeste fervia em tormento. Os Observadores rodeando o salão largaram suas penas e rolaram para se esconder sob as asas dos querubins.
Zaziel não tinha asas sob as quais se esconder além das suas próprias. Ele escorregou pelo chão até o Véu esfarrapado como uma pomba caída, inadvertidamente tropeçando em Gabriel, que mergulhava no combate com olhos brilhando como fogo violeta. Isso não pode estar acontecendo, Zaziel pensou. Não estava acontecendo. Não tinha sido como Lúcifer dissera que seria. Fazer mudanças, talvez. Mostrar alguma razão. Dizer não.
E havia algo pior, muito pior. O Véu havia sido derrubado, mas um trovão estava se formando. Nuvens negras crepitando com raios erguiam-se em pilares e bloqueavam o Trono e toda sua luz. Elas eram nuvens zangadas, nuvens que provavelmente o machucariam se você olhasse torto para elas. Elas eram uma nova cortina, não uma tela de seda para privacidade, mas uma barreira sólida, uma parede.
A luta final entre Michael e Lúcifer se dera na sombra daquela parede. O cabelo de Michael, tão cuidadosamente aninhado na maioria dos dias sob seu halo, tinha se soltado de sua coroa e fluía furiosamente como fogo vermelho-escuro. Relâmpagos de safira cintilaram na lâmina do arcanjo. Proferindo um nome sagrado, ela saltou, planou e caiu sobre Lúcifer com um movimento que pegou um relâmpago zangado e o soltou sobre ele.
A espada da noite sem estrelas se quebrou em seus punhos. Seus estilhaços caíram no éter e atingiram o coração das estrelas próximas, matando-as.
A coroa estrelada de Lúcifer jazia em pedaços nos azulejos dourados. A batalha congelou. O cabo da espada quebrada ainda estava erguido na mão de Lúcifer, mas ele também estava no chão, uma luz bruxuleante e ofuscante, ofegando de exaustão e raiva.
Michael baixou a ponta da espada na garganta do irmão e sorriu. "Ninguém pode resistir à vontade do Céu, nem mesmo você."
A Estrela da Manhã ferida zombou. "Eu nunca vou adorar o que está abaixo de mim."
"Não", Michael concordou com arrogância, "mas não haverá muito mais abaixo de vocês."
Empunhando sua espada, ela apunhalou o chão abaixo e os azulejos de ouro gritaram, e então derreteram conforme o céu se partia.
Zaziel sentiu o solo afundar. Percebeu que o chão estava caindo para longe, quebrando-se em pedaços. Uma ilha de rebeldes abriu suas asas para escapar, mas novamente Michael ergueu sua espada e um relâmpago os atingiu, abrasando suas asas com fogo. Zaziel gritou de dor, buscando algo em que se agarrar. Ele olhou para baixo—ele não deveria ter olhado para baixo— um grande poço de escuridão primordial se abriu debaixo deles. Ele tateou de novo pelos azulejos, desesperado. Escamas douradas de glória se desfizeram de suas mãos e caíram para longe. Ele não tinha nada em que se segurar.
Foi assim, de repente, que seu mundo acabou. Assim, de repente, eles estavam todos caindo, caindo...
Caídos.
O Inferno tem nove círculos. Assim diz Dante Alighieri, o primeiro de todos os escritores de fanfics de auto inserção a ter o que alguém poderia chamar de seguidores. Mas em toda ficção existe um grão de verdade. O Inferno realmente tem nove círculos. Existe gelo tão frio que queima, piche tão quente que desintegra. Existem câmaras de tortura tanto para mortais quanto para demônios. Existem banhos sulfúricos e poluídos, campos fedorentos onde nada além veneno cresce.
Mas o Inferno era plano. Cinco milhões de anjos caindo mais rápido que a velocidade da luz, se chocando contra a escuridão do Submundo mudaram isso. Eles deixaram uma cratera fumegante com o mal de suas transgressões. Fogo e piche e enxofre afundaram e os arrastaram para baixo consigo.
Eles estavam em algum lugar do sul da Rússia. A terra foi tão ferida pela queda deles que pelos séculos que viriam todo mal convergiria para este lugar como água suja descendo um ralo. Os incêndios que aqueciam a terra borbulhavam e ferviam os poços de alcatrão e evaporavam a água ali. Fogo cintilava através da lava. Tudo queimava.
A pele de Zaziel gritava. Seus olhos derretiam. O calor se agarrava mais e mais a ele, não importava o quanto ele tentasse se livrar dele. Suas asas retalhadas se incendiaram. Instintivamente, ele gritou por ajuda.
“De...? Lúcifer? Raphael? Alguém!” Sandalphon, como podia ele tê-lo deixado ali? Ele o tinha salvo da explosão de uma estrela. “Alguém…”
Mas ninguém respondeu. Apenas cinco milhões de outros gritos. Zaziel afundava num oceano de agonia. Carbonizados, derretidos, tostados —podia sentir seus ossos queimando. Mas ele era imortal. Ele não podia morrer.
“Droga!” ele soltou um grito estridente enquanto se agitava, perdendo o fôlego de novo porque exercícios para trabalhar as cordas vocais eram opcionais para seres etéreos. Rosnou tão logo teve ar. O céu era um buraco negro, faltando tantas —muitas— estrelas. “Ai de mim! Por quê?! De..., por quê?!”
Ao seu redor, os outros Caídos berravam em tormento, amaldiçoando, pedindo e erguendo as mãos crispadas para o céu como ele. Ele era apenas um pontinho num mar de dor. Aquilo não era justo. Ele não pretendia cair. Ele só tinha feito perguntas. Ninguém havia feito as perguntas de Lúcifer? Ninguém mesmo?
No poço mais escuro de uma noite de estrelas mortas, o orgulho acendeu uma chama.
É claro que não. É claro que ninguém mais havia feito aquelas perguntas. Eles não eram como ele. Ele não era como eles. Não iria tolerar aquilo. Não precisava.
É de conhecimento geral que trabalhar com explosivos como dinamite, nitroglicerina e supernovas tem riscos. Também é sabido que a redução da burocracia motiva qualquer compromisso. [Nota da autora: É por isso que existe um ramo inteiro no Inferno moderno dedicado a aumentá-la.]
Diferente de muitos anjos acima ou abaixo, Zaziel já havia se ferido antes. Depois da primeira supernova, o arcanjo Raphael, o médico do Céu, ouviu o conselho de Zaziel e tomou medidas para prevenir futuras lesões. Com algum esforço, anjos podiam mudar suas formas. Isso era uma ferramenta, um jogo. Agora, isso teria que ser algo mais.
Mude! Use sua imaginação. Alguma coisa que possa aguentar o calor. Nenhum ser mortal poderia resistir uma queda dessas, mas por que você não? Você precisa de uma pele feita de ferro, do próprio fogo, feita de…
Escamas.
Ele tinha uma lembrança do Leviatã e seu acabamento: caos blindado, quase invencível, mas, não, ele nunca se deixaria andar por aí assim, a barriga enorme e com nadadeiras demais. Tinha de ser algo menor, mais elegante. Escamas, sim, e rolos também. Uma serpente. Coisinhas espertas, as serpentes. Olhos amáveis. Podiam se mover em qualquer lugar. Até mesmo ali.
Então Zaziel mudou seu corpo em chamas para um tubo de sangue-frio. O calor se tornou um banho. O fogo uma cócega. De cabeça erguida apesar daqueles que afundavam ao redor dele, ele nadou até a terra próxima.
Ele se lançou às margens e se transformou de volta na pele que conhecia. Ela já não queimava mais, porque ele não queria. Suas asas, porém, continuavam dilaceradas. Elas levariam mais tempo, e suas penas também não seriam mais lustradas pela luz celestial, mas elas cresceriam. Zaziel se arrastou, uma mão depois da outra, pra longe das ondas de alcatrão e fogo.
Finalmente se deixou esparramar, exausto, tentando recuperar seu fôlego. Não que ele precisasse respirar, mas isso era um reflexo, catártico.
Alguma coisa estava errada. Tudo, sim, mas além daquilo, havia algo... Permaneceu deitado e imóvel pela exaustão, esperando que a resposta lhe viesse à mente. Outro machucado? Talvez. Alguma coisa havia sido arrancada dele. Havia algo faltando nele. Então, ele percebeu. Nunca havia pensado naquilo com algo que ele tinha. Sempre havia sido algo que ele era.
Seu nome.
“Oh D...” A benção morreu em seus lábios. O choque era uma nova ferida. Ele chorou lágrimas no Inferno. Ele se lembrava de suas declarações petulantes ao lado do bebedouro de água-benta, sobre “‘els’ e ‘phons’ e ‘ales.’” Essa ferida não cicatrizaria. Não admira que D... tivesse nomeado seus favoritos Adão e Eva. Não admira. Por que deixar seus favoritos correndo o risco de sofrer aquele tipo de dor?
Então, uma luz desceu.
Ele assistia em incredulidade conforme Lúcifer pousava em um pilar de pedra. A gritaria não o perturbava. Ele encarava os nove círculos do Inferno em desafio, sua espada quebrada ainda em mãos. Aquela luz dele era uma zombaria com a luz pura do Paraíso, mas em seu lugar, ela brilhava como uma estrela. Uma vez mais tomando a forma de uma serpente, Não-mais-Zaziel deslizou adiante. Lúcifer curvou-se para estudá-lo, e sorriu.
“Muito bem, muito esperto,” ele disse, brandamente. “Rastejando por todo lado. Combina com você.”
Devagar, dolorosamente, as outras criaturas retorcidas na escuridão se arrastavam até eles, clamando por ajuda, estendendo membros cauterizados pedindo, mas Lúcifer não olhou para eles. Em vez disso, ele deu tapinhas na cabeça da serpente.
“Sinto muito, mas estou contente de que esteja conosco, crawly,” ele disse “O estavam desperdiçando lá em cima.”
De pé novamente, Lúcifer se voltou para os gritos, sua voz carregada como um trovão:
“Irmãos, irmãs e outros!” disse o Caído, audaciosamente. “Vocês fazem bem em se livrar dos grilhões de aparência celestial. Farei o mesmo. Mudemos todos!”
E com isso, ele invocou fogo dos poços ao redor deles, se deixando envolver por ele. Quando pisou fora da chama, ele portava uma coroa de chifres como os de um carneiro. Ele estava nu como um bode e sua pele selada de vermelho e grossa como couro. Em lugar de seus pés, haviam cascos e a espada quebrada moldou-se numa tocha convidativa.
“Venham a mim, meus anjos caídos!”
E eles foram. Gritando e gemendo em agonia, ainda assim eles foram. Erguendo a si mesmos do fogo e dos poços de alcatrão. E eles mudaram. Descartando suas asas e seus halos quebrados e tomando as formas do que odiavam: Havia pouca ou quase nenhuma imaginação. Alguns se transformaram no piche, em rochas e no que quer que estivesse ao redor que os tivesse feito sangrar. O resto desenvolveu garras, unhas compridas e dentes de predadores, o sangue frio dos lagartos e os torsos sem coração dos insetos. Foi a segunda feiura do mundo. Apesar de não ser nada comparada à fealdade de anjo lutando contra anjo no Céu, era horrível do mesmo modo.
“Agora nós estamos em guerra com a criação,” o diabo recém-nascido disse a suas legiões. “Nossa missão não mudou. Nós mostraremos ao Céu suas falhas.”
“Como?” berrou uma voz áspera. Ela pertencia aquele que havia sido Hastriel. Ele havia coberto a si mesmo com dejetos e carne podre.
“Vocês, princípes do céu, são agora meus duques. Suas legiões são meus seguidores. E eu sou seu rei, o Senhor das Trevas, Governante do Poço Sem Fundo, a Terra será nossa. A todo momento, nós nos prepararemos para enfrentar aquela infestação com a nossa própria. Senhor das Trevas, Anjo do Abismo Sem Fundo.
Ele olhou para baixo, para aquele que outrora fora Zaziel, que não havia mudado para mais nada, permanecendo uma serpente negra e reluzente. Ele tinha seu orgulho, Não-Mais-Zaziel pensou. Aquilo o havia mantido a salvo. Ele não iria se rebaixar ainda mais.
O ex-arcanjo sorriu. “Muito bem.” Ele riu. “Disfarces irão nos ajudar. Nada temam, eu os renomearei, a vocês todos. São meus filhos agora. Eu não os rejeitarei. Nós somos demônios: ‘habitantes’ desse poço. Vamos tragar toda a humanidade para baixo conosco se preciso, e provar que continuamos sendo melhores!”
De acordo com o poeta John Milton, neste ponto, os anjos caídos formaram um conselho organizado com o objetivo de planejar a destruição da humanidade. Milton estava certo quanto a isto ter acontecido, mas ele não entendia o sofrimento. Conselhos organizados fazem memorandos, realizam seminários de treinamento e pesquisas de marketing. Isso teria de vir depois.
Àquela noite, havia apenas raiva, e dor, e mágoa. As palavras ambiciosas do arcanjo caído acenderam um desejo naqueles poços de alcatrão mais quentes do que as chamas, um desejo de expurgar o paraíso que havia expurgado um terço de seus filhos. Aquela fúria tornou os gritos do Inferno em clamores de vingança.
O anjo outrora chamado Zaziel sentiu o poder daquelas palavras o arrastando para baixo. Uma escuridão opressora tinha substituído a luz plácida de antes. Não podia lutar contra aquilo. Não havia mais amor em seu coração para resistir. Eles eram Caídos. Rejeitados. E tudo pelos humanos. Tudo por fazer perguntas. Ele tomou sua forma corpórea novamente, para ter pulmões e uma voz para vibrar com o resto das legiões, e ele gritou até ficar rouco e cego pelas lágrimas.
“Crawly.”
Era quase alvorada do Sétimo Dia. Não-Mais-Zaziel acordou encolhido numa placa de enxofre. Até que era bem confortável, o calor, uma vez que se acostuma com o cheiro. Quem sabe com algumas plantas. Poderia deixar o ar mais limpo.
“Crawly, uma palavra?”
Por um instante, ele se perguntou com quem aquele diabo estava falando, então percebeu que era com ele. Nenhum novo nome serviria nele tão bem quanto o antigo. O antigo havia sido dado por Ela própria, D…
O agora proclamado Senhor das Trevas, Destruidor de Reis, e Príncipe Deste Mundo agora olhava baixo para Crawly. Ele não parecia ter dormido. Ainda carregava a tocha. Na ilha agora havia construído um trono de obsidiana.
“Nós ainda precisamos fazer algo quanto aqueles humanos.”
Agora Crawly entendia o olhar que havia nos olhos dele. Não era raiva. Tampouco algo do tipo. Era ódio. Ele mataria D... antes de ter de adorá-la novamente. Ele certamente não hesitaria em matar nada menor que Ela.
Então, Crawly foi muito cauteloso em sua resposta.
“Sim, alguém deveria, é claro.”
“Eu gostaria que você fosse lá em cima e criasse alguma confusão.”
Crawly estava ciente de que eles eram observados. Olhos escuros e pálidos pousavam sobre ele de todos os nove círculos do Inferno. Ele não havia percebido que estava no meio de algo tão importante.
“Como?” perguntou.
“Use sua imaginação.”
Por trás do Véu de Luz e de Escuridão, Deus coloca o plano Dela em ação. E dos poços de fogo e sombras, o primeiro anjo nascido planeja desfazer cada parte dele.
Mas este é o Sétimo Dia agora e tudo está bem. Tempo para descansar. Os anjos dormem em suas esferas reparadas. Até Michael guardou sua espada. Do outro lado do novo Véu, a Toda Poderosa descansa fora do Tempo, observando a eternidade da qual Ela não é parte. Ela é algo acima e intermediário. Tentar explicar mais a fundo seria impossível. É inefável.
E solitário.
Mesmo assim, Ela pode ver o fim, e declara a Criação do Mundo completa— por enquanto. E boa—eventualmente. O tempo volta a mover-se de novo. O lago cristalino contorna gentilmente a margem de fora do Véu.
Poderia ter alguns patos ali, Ela pensa e fita um Metatron adormecido.
Pra ser claro, Deus não mente. Mas já que Ela joga um jogo de pôquer muito complicado numa sala escura com cartas em branco, ou algo para esse efeito. Ela deixa os outros presumirem coisas.
Por exemplo, poucos sabem que Deus pode sussurrar.
“Aziraphale?”
O anjo principado olhou por cima de um fascinante livro sobre esquilos. Ele piscou. Seu nariz contraiu-se. Então ele espirrou.
Ele estivera escondido na biblioteca desde a rebelião e qualquer biblioteca digna de seu catálogo é um pouco empoeirada. É desse modo que se sabe que está cumprindo seu papel. Aziraphale estivera se escondendo, não porque ele não pudesse se garantir numa batalha, mas porque ele não queria guardar mágoas. Aquilo parecia terrivelmente desagradável e ele preferia esperar que tudo desse certo sem ele. Afinal, ele nem sequer havia conhecido aquelas duas pessoas bacanas no jardim ainda.
“Hum, sim, Senhora?”
“Vá lá embaixo e guarde o Portão Leste do Éden.”
“Hum, sim, claro. Será um prazer. Er, mas do que devo guardar, minha Senhora?”
“E não se esqueça da espada que eu te dei.”
Aziraphale já estava para sair da biblioteca do Céu. Ele retornou e apanhou a espada e a bainha descansando na cadeira. Ele pensou em empunhá-la e testar sua lâmina, só para ver como era, mas decidiu não fazer. Pergaminhos celestiais e fogo celestial faziam essencialmente o mesmo que pergaminho e fogo fazem em qualquer lugar, e ele era um anjo muito cuidadoso.
“Fico feliz por ser útil. Hum, e o que eu devo fazer se eu, er, se eu vir um demônio?”
Não houve resposta, então Aziraphale atou a espada ao cinto e voou para baixo, para o planeta. O sol acabava de culminar no horizonte e as maçãs da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal nunca haviam estado mais vermelhas. Ou mais maduras. Ou mais tentadoras.
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Capítulos traduzidos:
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo Original (em inglês)
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