#ela igual o meme do kermit encapuzado
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apavorantes · 6 months ago
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TASK TRÊS ⸻ dream a little dream of me.
@silencehq TW: Sangue e agulhas.
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Bishop estava tendo um pesadelo.
Eles se tornavam mais comuns a cada dia, antes uma mera inconveniência que supunha ser consequente da conexão com o pai, agora uma mescla entre a presença intrínseca do Medo em seu subconsciente e o estresse de sete meses vivendo como um animal prestes a ser predado. Uma boa noite de sono tornara-se um luxo, as poucas horas de descanso e o tormento em sua mente adormecida quando enfim conseguia pregar os olhos era seu novo normal. E, para adicionar à desafinada sinfonia, a fraqueza mágica, que fizera de seus dias um eterno jogo de esperar até o próximo na esperança de que, quando ele viesse, se sentiria menos cansada.
Se dependesse de Bishop, o resto do Acampamento pouco a veria. O número de pessoas com quem queria conversar naquele estado era limitado e diminuía ainda mais, pois estar na estufa era um exercício de autocontrole — ficar cercada de Filhos da Magia fazia suas pernas implorarem a Bishop para que ela as obedecesse e saísse correndo. Não fossem os cargos de conselheira e instrutora, não fosse a responsabilidade que sentia pelos campistas mais novos, não fosse ter dito a Elói e Yasemin que ficaria de olho nos Filhos da Magia por sua proximidade, se trancaria na biblioteca ou no quarto individual no chalé 33 e só sairia quando tivesse uma solução ou um anúncio de rendição. 
Fora em um daqueles lugares que se enfiara naquela noite, contra as ordens dos diretores e o olhar vigilante das harpias, depois que os irmãos já haviam adormecido e o chalé sido tomado pelo silêncio. Escapuliu para a biblioteca com seus cadernos de anotações e, lá, puxou das estantes todos os livros e registros que acreditava poderem ajudar: histórias da mitologia grega, livros sobre Hades e Hécate, contos sobre heróis de outros tempos e registros de acontecimentos passados do Acampamento. Pegou grimórios que não conseguia ler e transcrições de profecias há muito entoadas, até as que antecediam a aparição de Rachel Elizabeth Dare. Dispôs tudo sobre uma mesa, os livros que já havia investigado inúmeras vezes ao longo daqueles meses e também os que achava não terem resposta alguma — mas que checaria de toda forma, porque precisava sentir-se útil de alguma maneira além de espionando seus próprios companheiros de equipe —, e começou a anotar.
O sono tomou-a aos poucos, primeiro através de bocejos e de piscadas que se demoravam mais do que o normal, como minúsculos descansos. Depois, a cabeça começou a pender para um lado e para o outro, escorregando da palma da mão esquerda que a sustentava. Finalmente, Bishop encostou o rosto no próprio caderno e fechou os olhos. Só uns minutinhos. Só para que pudesse recuperar a atenção para continuar a pesquisa.
No instante seguinte, ela estava em outro lugar. Um que conhecia ainda melhor do que a biblioteca empoeirada na qual passara tantas tardes de sua adolescência. Estava de pé na sala de estar de um apartamento, com paredes de tijolos e iluminação fraca e amarelada, a única luz presente — embora as janelas que a cercavam fossem várias e tomassem a maior parte das paredes, tudo que elas mostravam era a escuridão. Foi assim que Bishop soube que estava sonhando: mesmo à noite, Nova York nunca apagava todas as luzes.
Ela caminhou pela sala de estar em direção ao corredor. Ao fitar os próprios pés, percebera dois detalhes sobrepujantes: o primeiro, que estava descalça, e o segundo, que seus pés estavam muito menores do que normalmente eram. As roupas, reparara então, também não eram as mesmas que usava quando adormecera, mas sim um pijama, nas cores azul e cinza e estampado de ursinhos marrons. Era o pijama de uma criança, e estava sendo usado pelo corpo de uma criança.
Bishop continuou andando, a sola dos pés sobre o chão gélido, até ver-se em um corredor com três portas. À direita, o escritório da mãe, cuja entrada era quase sempre negada, exceto quando queria lhe pedir um livro emprestado de seu acervo invejável ou quando o pai estava em casa para permiti-la dentro. Em frente, o quarto da mulher, que uma vez fora quarto dos dois, mas eventualmente tornou-se um símbolo da solidão incurável de Catherine Ono e seus arrependimentos. Por último, à esquerda, um quarto com uma porta pintada de lilás há quase duas décadas, tinta gradualmente descascando e revelando a madeira amarronzada por baixo.
Bishop não visitava seu quarto de infância há algum tempo, e sequer sabia se desde então a mãe não havia o transformado em outra coisa. Talvez, hoje, fosse uma lavanderia ou um quarto de hóspedes, um segundo escritório ou um depósito para guardar todas as regalias que recebia dos fãs e parceiros de negócios, um closet abarrotado de roupas de marca.
Ela parou um pouco antes da porta. Sentiu um calafrio escalar a espinha, um pouco diferente do que sentia quando via Catherine novamente. Por baixo da porta, da pequena fresta entre ela e o piso, uma névoa escapava para o corredor.
Ann. É hora de acordar.
O sussurro veio de suas costas, mas também parecia ter sido dito bem em seu ouvido. Bishop se virou imediatamente, procurando por sua fonte. Ela reconhecia a voz de Fobos de seus pesadelos, mesmo que nunca tivesse o conhecido pessoalmente.
Em vez do pai, no entanto, não encontrara nada a não ser a névoa, espalhando-se pelo apartamento, entrelaçando-se nas pernas das cadeiras e mesas, do sofá, do aparador que segurava a TV. Estava nos pés de Bishop, enrolando-se nas pernas finas e frágeis, no pijama que em outra época usara até as pernas não caberem mais nele.
Quando ela se virou outra vez, estava em outro lugar.
O apartamento subitamente era o chalé 33. Os tijolos foram substituídos por madeira antiga e arrebentada, os móveis caros e meticulosamente limpos viraram beliches velhas e mesas de cabeceira que não combinavam entre si. Bishop usava seus coturnos mais uma vez, que pareciam ser de tamanho apropriado para uma adulta de vinte e oito anos, e a saia longa e preta contrastava com a camiseta laranja do Acampamento Meio-Sangue ensacada nela.
Bishop estudou seus arredores, desprovidos da movimentação dos habitantes inquietos daquele chalé. Lá fora, a escuridão ainda prevalecia, mas era diferente da anterior; se olhasse tempo demais para ela, Bishop começava a sentir-se incomodada.
E assim o viu. Observando-a de fora, um par de olhos brilhantes e um capuz. Um nó em sua garganta formando-se enquanto observava-o de volta. O traidor.
Ann.
Desta vez, diferente das reuniões na estufa, Bishop obedeceu às pernas. Ela correu para fora do chalé e na direção de onde havia o visto, e então seguiu o mesmo caminho que o via pegando bosque adentro. O coração pulsava como tambores de guerra, o sangue descia quente até as pontas dos dedos. Não deixaria que ele escapasse, não de novo.
Os galhos de árvores arranhavam-na enquanto ela se lançava à frente no bosque, mas a adrenalina falava mais alto — sequer sentia os cortes, nem qualquer coisa que não fosse a mágoa crescente quanto mais próxima chegava da figura encapuzada.
Mágoa. Ressentimento. Raiva. Ódio. Bishop abominava cada um daqueles sentimentos. Naquele momento, porém, eles eram tudo do que era feita. Naquele momento, justiça com as próprias mãos não parecia tão bárbaro.
Ann, acorde.
A justiça em suas mãos tinha o formato de Rakshasa. Bishop não sabia quando ela havia chegado ali, nem se a tivera o tempo todo, mas a longa espada japonesa era segurada firme por seu punho cerrado. Ela perseguiu o encapuzado entre as árvores, galhos e raízes quebrando-se e contorcendo-se por baixo de suas botas, e então a janela perfeita surgiu. O traidor tropeçou em uma das raízes e foi ao chão, rosto na terra e costas para Bishop. Ela esperara por aquele momento.
Bishop cravou Rakshasa nas costas da figura encapuzada, afundando-a ao ponto de senti-la perfurando a terra úmida. Quando puxou a lâmina de volta, ela estava banhada em vermelho, o sangue inconfundível mesmo debaixo de um céu sem luar. Os grunhidos do traidor, o balançar das folhas de árvores e a respiração pesada de Bishop eram os únicos sons a serem ouvidos.
Ela virou o corpo e puxou seu capuz. Uma exclamação resistiu escapar de sua garganta logo depois.
Acima do corpo, havia Bishop. E o corpo, encarando-a de volta com um sorriso macabro, também era Bishop.
“É disso que você gosta, não é? A adrenalina, a caçada.” Sibilou a outra Bishop. Apesar da abertura da grossura de uma lâmina em seu peito e o sangue escorrendo pela cavidade e pela boca, não parecia abalada por seus ferimentos. “Por que esconder, Bishop? Por que fugir de sua natureza? Você sabe que é isso que te faz sentir viva.”
Bishop cambaleou para trás. Sentia o ar faltar em seus pulmões, o sangue esfriando em suas veias.
“O que é um animal selvagem em uma gaiola? O que é um deus entre os mortais? O que é o medo para sua filha?” A voz ecoava em sua cabeça, uma voz que era sua e, ao mesmo tempo, desconhecida, distorcida, como se primeiro a ouvisse ao contrário para então traduzi-la e colocá-la na ordem correta.
Ann.
“Sucumba. Renda-se. Entregue-se ao que seu coração realmente deseja.”
Bishop deu mais alguns passos para trás. A voz agora estava em todo lugar. Sentia-a por debaixo de suas unhas, entre os dentes, por trás dos olhos, infiltrando-se por toda e qualquer brecha que conseguia encontrar. A semideusa libertou um grito de dor — das pontas dos dedos, a sensação de uma carga elétrica subiu rapidamente por seu corpo, incinerando seus ossos, furando seu cérebro como milhares de agulhas. Ela se agachou na terra molhada, mãos sobre as orelhas.
Ann, você precisa acordar. Agora.
Bishop despertou de supetão, um pulo assustado enquanto ainda sentada na cadeira da biblioteca. À sua frente, livros espalhados e um caderno de anotações com algumas observações.
Havia tido um pesadelo. Não era o primeiro, tampouco seria o último. Mas por que era que, daquela vez, sentia o peito pesar como se fosse metal?
Os olhos embaçados focaram-se em um agrupado de palavras à sua frente, em um grimório com as páginas abertas e instruções desenhadas. Sequer chegara às explicações antes de adormecer. “Poção de fortalecimento”.
Lá fora, o mundo estava em chamas novamente.
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