#deem oi pro mefistoooo novo amigo da vizinhança
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thomaswtwt · 2 months ago
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BÔNUS: É bom rever um velho amigo!
@demigodscurse-av
Havia tanta, mas tanta dor permeando Thomas.
Nada exatamente físico, afinal, estava sozinho ali, enfiado naquele centro de treinamento poucos instantes antes do sol raiar completamente. Sua insatisfação estava mais relacionada às preocupações e aos temores que não abandonavam sua mente desde que seus poderes haviam se perdido e desde que aqueles pesadelos medonhos haviam começado, sendo o mais recente deles o que envolvia seu pai. Tânatos estava diante de si, quase irreconhecível em sua forma humana, ensanguentado e com a foice que sempre lhe acompanhava, quebrada, partida em mil pedaços ao lado, inserido num cenário apocalíptico, completamente preenchido pela violência e pelo desespero. Sem nenhum outro contato, sem nenhum diálogo. Apenas um vislumbre do corpo divino antes que Thomas fosse subitamente arrancado daquela visagem.
Agora estava ali, treinando com a espada de madeira que em nada se assemelhava à leveza de suas foices, mas ainda assim, servia para mantê-lo distraído e distante de todas as coisas ruins que rondavam sua consciência naquele momento.
Uma nova investida, um novo avanço, os golpes só um pouco mais rápidos do que os anteriores, porque já havia ficado até mais tarde na noite anterior, repetindo e repetindo os movimentos sem mais nenhum propósito por trás além da necessidade voraz de tentar compensar nas habilidades de combate a ausência de todo o leque de poderes que desenvolveu ao longo de seus vinte e cinco anos.
Como também usava toda aquela bebida e todos aqueles outros vícios para tentar compensar e preencher o vazio que parecia ocupar seu coração desde que se dava por gente; a compulsão por jogos, por novas mulheres a cada final de semana, a sede por poder e influência até nos momentos menos significantes possíveis... Apenas mais demonstrativos de como Thomas estava, de fato, deixando-se levar para um caminho mais mortal do que necessariamente divino, simplesmente porque não enxergava naquele destino como semideus alguma esperança ou mais algo de positivo sobrando.
Não quando pareciam estar diante do apocalipse, tão eminentemente disposto à porta do Acampamento Meio-Sangue, bem como de qualquer outra instalação para outro ser vivo que tivesse sido amaldiçoado com a sina de ter alguma relação com aqueles que se denominavam deuses.
E era por isso que sentia-se afundando cada vez mais naquele mar de medo e de ansiedade; como poderia proteger aqueles que amava se não era mais um soldado de elite como o que havia treinado para se tornar ao longo de sua adolescência e vida adulta? Como seus amigos estariam seguros se ele próprio não conseguia garantir que estaria vivo para ajudá-los? Ao mesmo tempo que havia o pensamento sabotador despontando em alguma parte de sua mente, tilintando, reluzindo um lembrete de que Thomas estava delirando.
Ele não tinha amigos.
Não tinha nem mesmo uma família que o amasse verdadeiramente.
Nem mãe preocupada, nem um pai presente.
Estava sozinho. E, o pior. Sentia-se sozinho. Refletindo sobre como desejava poder voltar no tempo e aproveitar um pouco mais aquele tempo sem preocupações, sem tantas frustrações.
E mais uma sequência de golpes contra o alvo. A espada de madeira sendo deixada de lado para que apenas os pulsos focassem no material à sua frente, avançando, socando, forçando ao máximo os nós de seus dedos.
Em expectativa. Os olhos fechados, até finalmente parar, ofegante; o suor escorrendo pela curva do pescoço, um respirar profundo enquanto desejava estar errado, desejando também que aqueles pensamentos se afastassem. Ou que ele tivesse algo ou alguém em quem minimamente se agarrar quando sua mente lhe pregava peças como aquela.
Até que um grasnado soou pelo espaço amplo, agourento e macabro como o tom ao qual o Wentworth era acostumado. E mais uma vocalização, mais uma sinalização, de modo que Thomas imediatamente abriu os olhos e voltou sua atenção na direção do barulho.
Não podia ser.
Ou podia. No caso, Mefistófeles, o primeiro de seus corvos invocados ainda na adolescência, estava ali, não tão distante de si, naquele tamanho opulento, avantajado, imponente e medonho, mesmo que aquela ainda não fosse sua forma infernal. Os olhos escuros reluzindo, as asas se abrindo em cumprimento enquanto saltitava na direção do mestre.
Como na primeira vez em que havia sido invocado: numa tarde, enquanto Thomas ainda estava na escola regular, após ter tido visões com a expectativa de vida de um professor e ter sido taxado de louco por comentar sobre isso, passando a lidar com o isolamento das semanas seguintes se enfiando em qualquer sala que estivesse vazia; novamente sentindo-se vazio. Até que Mefisto apareceu, assombrando-o, a princípio, mas mostrando-se uma companhia fabulosa e que os mortais não conseguiam ver em geral.
— Não pode ser... — Thomas balbuciou, incrédulo, aproximando-se da ave. Imediatamente ajoelhando-se diante dele, as mãos, agora levemente ensanguentadas por ter a carne ferida, indo de encontro à cabeça do ser, afagando-a como se fosse um cachorro dócil. — Você voltou. Puta merda, você tá aqui. — Comemorou em um tom meio embargado com uma risada nervosa, os olhos começando a se encher de lágrimas. O treinamento tendo sido concluído de uma vez por todas agora. — Oi, amigão. Eu senti tanto a sua falta. Me perdoa por não ter conseguido te trazer de volta. — Pediu meio sem jeito, o rosto se tornando vermelho conforme os sentimentos vinham à tona. Estava realmente desacreditado de que as coisas estavam se ajeitando; a invisibilidade recobrada, a capacidade de atiçar o ciclo de vida de flores e plantas, mesmo que por acidente... — Você... Saiu do submundo, certo? Como estão as coisas por lá? — Indagou, meio desesperado.
Em resposta, ao invés de grasnar, Mefisto piscou algumas vezes, rapidamente, tombando a cabeça de lado. Não era autorizado a repassar informações se não pela vontade expressa de Tânatos, além do quê, havia alguns ferimentos por seu corpo enegrecido. Leves, mas ainda assim, um indicativo de que as coisas não eram mais tão seguras nos domínios de Hades e sob a proteção de seu pai.
— Esquece. — Anulou a própria curiosidade então, abrindo um sorriso emocionado, finalmente cedendo às lágrimas antes de se inclinar e abraçar a ave com todo o cuidado, envolvendo aquele porte digno de um cachorro médio como se sua vida dependesse daquilo agora. — O que importa é que você tá aqui agora.
Parecia que ainda haviam motivos pelos quais lutar, afinal. E aquele era o sinal mais claro de que isso era tão claro quanto a luz do dia ou tão escuro quanto a penugem preta azulada de Mefisto, no caso.
Tudo ficaria bem.
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