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#contradependências
baumistico · 8 months
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cunhacruz2 · 4 years
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Cultura: um conceito reacionário?
Fragmento escrito por Félix Guattari, incluso no livro “Micropolítica: Cartografias do desejo.”, do mesmo Guattari com Rolnik Suely - páginas 15-24.
O conceito de cultura é profundamente reacionário. É uma maneira de separar atividades semióticas (atividades de orientação no mundo social e cósmico) em esferas, às quais os homens são remetidos. Tais atividades, assim isoladas, são padronizadas, instituídas potencial ou realmente e capitalizadas para o modo de semiotização dominante - ou seja, simplesmente cortadas de suas realidades políticas. 
                                                                                   §
Toda a obra de Proust gira em torno da ideia de que é impossível autonomizar esferas como a da música, das artes plásticas, da literatura, dos conjuntos arquitetônicos, da vida microssocial nos salões... 
                                                                                  §
A cultura enquanto esfera autônoma só existe a nível dos mercados de poder, dos mercados econômicos, e não a nível da produção, da criação e do consumo real. 
                                                                                  §
O que caracteriza os modos de produção capitalísticos¹ é que eles não funcionam unicamente no registro dos valores de troca, valores que são da ordem do capital, das semióticas monetárias ou dos modos de financiamento. Eles funcionam também através de um modo de controle da subjetivação, que eu chamaria de ‘cultura de equivalência’ ou de ‘sistemas de equivalência na esfera da cultura’. Desse ponto de vista o capital funciona de modo complementar à cultura enquanto conceito de equivalência: o capital ocupa-se da sujeição econômica, e a cultura, da sujeição subjetiva. E quando falo em sujeição subjetiva não me refiro à publicidade para a produção e o consumo de bens. É a própria essência do lucro capitalista que não se reduz ao campo da mais-valia econômica: ela está também na tomada de poder da subjetividade.
                                                                                  § 
Cultura de massa e singularidade²
O título que propus para este debate na Folha de São Paulo foi ‘Cultura de massa e singularidade’. O título reiteradamente anunciado foi ‘Cultura de massa e individualidade’ - e talvez esse não seja um mero erro de tradução. Talvez seja difícil ouvir o termo singularidade e, nesse caso, traduzi-lo por individualidade me parece colocar em jogo uma dimensão essencial da cultura de massa. É exatamente este o tema que eu gostaria de abordar hoje: a cultura de massa como elemento fundamental da ‘produção de subjetividade capitalística’.
Essa cultura de massa produz, exatamente, indivíduos; indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistema hierárquicos, sistema de valores, sistemas de submissão - não sistemas de submissão arcaica ou pré-capitalistas, mas sistemas de submissão muito mais dissimulados. E eu nem diria que esses sistemas de submissão são ‘interiorizados’ ou ‘internalizados’ de acordo com a expressão que esteve muito em voga numa certa época, e que implica uma ideia de subjetividade como algo a ser preenchido. Ao contrário, o que há é simplesmente uma produção de subjetividade.  Não somente uma produção da subjetividade individuada - subjetividade dos indivíduos - mas uma produção de subjetividade social, uma produção da subjetividade que se pode encontrar em todos os móveis da produção e do consumo. E mais ainda: uma produção da subjetividade inconsciente. A meu ver, essa grande fabrica, essa grande maquina capitalística produz inclusive aquilo que acontece conosco quando sonhamos, quando devaneamos, quando fantasiamos, quando nos apaixonamos e assim por diante. Em todo caso, ela pretende garantir uma função hegemônica em todos esses campos. 
A essa máquina de produção de subjetividade eu oporia a ideia de que é possível desenvolver modos de subjetivação singulares, aquilo que poderíamos, chamar de ‘processo de singularização’: uma maneira de recusar todos esses modos de encodificação preestabelecidos, todos esses modos de manipulação e de telecomando, recusá-Ios para construir, de certa forma, modos de sensibilidade, modos de relação com o outro, modos de produção, modos de criatividade que produzam uma subjetividade singular. Uma singularização existencial que coincida com um desejo, com um gosto de viver; com uma vontade de construir o mundo no qual nos encontramos, com a instauração de dispositivos para mudar os tipos de sociedade, os tipos de valores que não são os nossos. Há assim algumas palavras-cilada (como a palavra cultura), noções de anteparo que nos impedem de pensar a realidade dos processos em questão.
A palavra cultura teve vários sentidos no decorrer da História: seu sentido mais antigo é o que aparece na expressão ‘cultivar o espirito’. Vou designá-Ia ‘sentido A’ e ‘cultura-valor’, para corresponder a um julgamento de valor que determina quem tem cultura, e quem não tem: ou se pertence a meios cultos ou se pertence a meios incultos. O segundo núcleo semântico agrupa outras significações relativas à cultura. Vou designá-Io ‘sentido B’. E a ‘cultura alma-coletiva’, sinônimo de civilização. Desta vez, já não há mais o par ‘ter ou não ter’: todo mundo tem cultura. Essa é uma cultura muito democrática: qualquer um pode reivindicar sua identidade cultural. É uma especie de ‘a priori’ da cultura: fala-se em cultura negra, cultura underground, cultura técnica, etc. É uma espécie de alma um tanto vaga, difícil de captar, e que se prestou no curso da História a toda espécie de ambiguidade, pois é uma dimensão semântica que se encontra tanto no partido hitleriano, com a noção de volk (povo), quanto em numerosos movimentos de emancipação que querem se reapropriar de sua cultura, e de seu fundo cultural. O terceiro núcleo semântico, que designo ‘C’, corresponde a cultura de massa e eu a chamaria de ‘cultura-mercadoria’. Ai já não há julgamento de ‘valor’, nem territórios coletivos da cultura mais ou menos secretos, como nos sentidos A e B. A cultura são todos as bens: todos as equipamentos (casas de cultura, etc.), todas as pessoas (especialistas que trabalham nesse tipo de equipamento), todas as referências teóricas e ideológicas relativas a esse funcionamento, enfim, tudo que contribui para a produção de objetos semióticos (livros, filmes, etc.), difundidos num mercado determinado de circulação monetária ou estatal. Difunde-se cultura exatamente como a Coca-cola, cigarros "de quem sabe o que quer", carros ou qualquer coisa. 
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¹ Guattari acrescenta o sufixo ‘ístico’ a ‘capitalista’ por lhe parecer necessário criar um termo que possa designar não apenas as sociedades qualificadas como capitalistas, mas também setores do ‘Terceiro Mundo’ ou do capitalismo ‘periférico’, assim como as economias ditas socialistas dos países do leste, que vivem numa espécie de dependência e contradependência do capitalismo. Tais sociedades, segundo Guattari, em nada se diferenciariam do ponto de vista do modo de produção da subjetividade. Elas funcionariam segundo uma mesma cartografia do desejo no campo social, uma mesma economia libidinal-política. (O leitor reencontrará essa temática, desenvolvida em diferentes direções, ao longo do livro.)
² Título de uma mesa-redonda promovida pela Folha e São Paulo em 3 de setembro de 1982, com a participação de F. Guattari, Laymert G. dos Santos, José Miguel Wisnik, Modesto Caione e Arlindo Machado. O texto que se segue é uma montagem: ele inclui a transcrição da fala de Guattari nesse evento, além de idéias esparsas, por ele colocadas em outras ocasiões no decorrer de sua viagem ao Brasil. As falas dos demais participantes da mesa-redonda em questão, bem como trechos do debate, encontram-se espalhados pelo livro.
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fabioastrologo · 4 years
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chavemistica · 4 years
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baumistico · 4 years
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