#contra a pesca predatória
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revista-amazonia · 5 days ago
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Embrapa colabora com plano de manejo sustentável do pirarucu na Amazônia
A Embrapa Amapá participou de uma reunião com representantes do Ministério Público do Amapá (MP-AP) e diversas instituições para discutir medidas contra a pesca predatória do pirarucu (Arapaima gigas) na zona rural de Santana (AP). A iniciativa surgiu a partir de uma demanda da comunidade de São Sebastião do Igarapé do Lago, que busca proteger os estoques pesqueiros da região. Durante o encontro,…
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schoje · 7 months ago
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Reunião da Comissão de Pesca e Aquicultura desta terça-feira (12).FOTO: Solon Soares/Agência AL Com a participação do vice-presidente da Associação Catarinense de Pesca Subaquática (ACPS), Rogério Pizzato, e do presidente da Comissão de Pesca Artesanal do Litoral Norte, Luiz Américo Pereira, a reunião da Comissão de Pesca e Aquicultura na manhã desta terça-feira (12) centrou o debate nos desafios e os avanços do setor da pesca no Estado. O representante da ACPS atendeu ao convite da presidente do colegiado, deputada Ana Campagnolo (PL). Uma das pautas levantadas foi o projeto de lei PL 0062/2021 em análise na Alesc, que pretende proibir em qualquer época do ano, a captura e a comercialização da Epinephelus marginatus, conhecida, popularmente como Garoupa, por meio de caça esportiva (pesca subaquática ou submarina), no litoral Catarinense. Na justificativa da proposta, que segue em tramitação nas Comissões, o argumento é de que a medida visa proteger uma espécie de importância vital para o equilíbrio da vida marinha e costeira. A Garoupa é classificada como ameaçada de extinção devido à pesca predatória e à destruição de seu habitat natural. Para o vice-presidente da Associação Catarinense de Pesca Subaquática, Rogério Pizzato, este projeto vai afetar todo o pescador subaquático no Estado, colocando a categoria em xeque, e por isso, a Associação é contrária à aprovação da iniciativa. A presidente do colegiado, deputada Ana Campagnolo disse que a Comissão de Pesca irá realizar uma audiência pública para ouvir a sociedade a respeito dessa pauta. Sobre a ACPS Além disso, Pizzato destacou as ações da Associação, que atua em projetos sociais e ambientais, como o recolhimento do lixo das profundezas dos oceanos, rios e lagoas do Estado. Com 370 associados efetivos, ele informou que a ACPS é uma associação sem fins lucrativos e surgiu da necessidade dos praticantes de pesca submarina reivindicarem seus direitos de forma representativa e organizada. “A prioridade é ficar atenta às leis federativas, municipais e estaduais, elaborar campeonatos catarinenses dentro das leis vigentes”, destacou informando que a entidade tem uma cadeira de reserva junto ao Conselho da Reserva Biológica do Arvoredo (ICMBIO). Desenvolvimento do setor Outro ponto enfocado na reunião foi apresentado pelo presidente da Comissão de Pesca Artesanal do Litoral Norte, Luiz Américo Pereira. Ele novamente abordou as legislações que, a seu ver, vêm impedindo o desenvolvimento do setor pesqueiro artesanal no estado. Américo Pereira citou as portarias do Ministério do Meio Ambiente 445/2014, 148/2022 e 354/2023, que listam os peixes e invertebrados aquáticos, cuja captura é proibida devido à ameaça de extinção de espécies da fauna brasileira. Ele ainda pediu que os deputados atuem politicamente para que seja rejeitado o Projeto de Lei (PL) 347/2022, que visa proibir a pesca de arrasto tracionada por embarcações motorizadas em águas continentais e no mar territorial e zona econômica exclusiva brasileira. A proposição encontra-se atualmente em análise na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. Para ele, este projeto de lei vai contra a legislação vigente, por não respeitar a continuidade, a peculiaridade e a garantia do pescador, garantidas pela Lei 11.959/2009, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. Américo Pereira agradeceu o apoio prestado pelos integrantes da Comissão de Pesca e Aquicultura. “Precisamos dar segurança jurídica aos nossos pescadores catarinenses, e também à indústria do pescado, da qual dependem mais de 20 mil famílias,” informou. Valquíria Guimarães Agência AL Fonte: Agência ALESC
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ambientalmercantil · 8 months ago
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cnwnoticias · 2 years ago
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Sema realiza operações contra pesca e caça ilegal em diferentes regiões de MT
Pesca ilegal apreendida – Sema/MT A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) realizou neste fim de semana apreensões de pescado ilegal, de caça predatória e armamento ilegal. As ações foram executadas pelas equipes de Fiscalização de Flora e da 2ª Companhia Independente de Polícia Militar de Proteção Ambiental de Rondonópolis (CIPMPA) em Paranatinga (386 km de Cuiabá) e Gaúcha  do Norte (583…
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brasilsa · 3 years ago
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vocativocom · 3 years ago
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Moradores do Rio Manicoré, no interior do Amazonas, lutam contra a exploração ilegal
Mesmo após a entrega da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) aos moradores das comunidades do rio Manicoré, no Amazonas, a população ainda luta contra invasões de terra, pesca predatória e exploração ilegal de madeira no território
Mesmo após a entrega da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) aos moradores das comunidades do rio Manicoré, no interior do Amazonas, a população ainda luta contra invasões de terra, pesca predatória e exploração ilegal de madeira no território. O assunto é tema do podcast Momento BR-319, produzido mensalmente pelo Observatório BR-319 (OBR-319). De acordo com a pesquisadora Tayane Carvalho,…
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saibatudomt · 3 years ago
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Três pessoas são presas por pesca ilegal na Passagem da Conceição
Três pessoas são presas por pesca ilegal na Passagem da Conceição
O Batalhão de Proteção Ambiental da Polícia Militar prendeu três homens por crime contra a fauna e pesca predatória no Rio Cuiabá, na quarta-feira (13.04), no Distrito da Comunidade Passagem da Conceição.   Por volta das 11h, os policiais ambientais, em patrulhamento pelo rio, constataram que três pessoas estavam praticando pesca predatória com a utilização de petrecho proibidos por lei. Na…
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redebcn · 3 years ago
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Polícia Ambiental aplica R$ 5,2 mil em multas durante fiscalização ligada à Piracema em Piracicaba
Polícia Ambiental aplica R$ 5,2 mil em multas durante fiscalização ligada à Piracema em Piracicaba
Também foram apreendidos materiais de pesca e 5,5 quilos de pescado. Materiais de pesca apreendidos durante ação da Polícia Ambiental em Piracicaba Divulgação/ Polícia Militar Ambiental A Polícia Militar Ambiental emitiu R$ 5,2 mil em multas e apreendeu materiais de pesca e 5,5 quilos de pescado durante uma operação contra a pesca predatória durante o período de Piracema (no qual ocorre a…
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betopandiani-mar · 4 years ago
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Floresta Amazônica.
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Mesmo com um bom vento para refrescar fazia muito calor, e o que ajudava eram os borrifos de água que batiam na proa do barco e molhavam meu corpo.
Estava me sentindo inseguro, pois no clube ouvíamos muitas histórias, e como de costume sempre aparecem aqueles pessimistas com suas histórias para desencorajar qualquer um.
Estávamos no começo da estação das chuvas, e o rio estava caudaloso, com um volume de água inimaginável, provocando uma corrente contra de até oito nós em alguns pontos, o suficiente para nós não conseguirmos vencê-lo.
Como nossos motores que vinham do Brasil só iriam chegar a Ciudad Bolívar, assim como a barraca, nós compramos um motor de segunda mão de seis HP, bem pequeno, e pelo menos não ficaríamos à deriva nas primeiras 200 milhas.
Partimos do iate clube de Chaguaramas rumo a Boca da Serpente, um canal entre o sul da Ilha de Trinidad e a Venezuela, bem na altura da foz do Rio Orenoco.
Passamos por muitas plataformas de petróleo no caminho, e à medida que nos aproximávamos do delta do rio a água ficava bem barrenta e menos salgada.
No segundo dia de viagem navegando na costa da Venezuela, só com manguezais, procurávamos o Canal Macareo, um dos distribuitários do Orenoco. O tempo estava chuvoso com vento variável, e já quase à noite vimos algumas palafitas bem no fundo de uma baia, que parecia ser a entrada do canal.
Velejamos até as palafitas que era um acampamento dos índios Waraos, que habitam aquela região.
O lugar era pobre, e não havia mais do que cinco casas em cima de palafitas, e unidas por passarelas.
Perguntamos sobre o Canal Macareo e eles nos disseram que era mais a leste. Pedimos para amarrar os barcos nas palafitas para passar a noite. Convidaram-nos para subir e comer um peixe. Oferecemos comidas liofilizadas, e debaixo de um temporal fizemos um jantar recheado de muitas perguntas. Como sempre ouvimos a mesma história.
Os pescadores artesanais estavam sumindo, pois é muito difícil competir com a pesca industrial e predatória. Eles estavam vivendo na beira da miséria, em cima de palafitas primitivas sem nenhuma estrutura de saneamento. Quando a maré baixava, os cachorros e as crianças desciam as escadas para andar em cima do lodo dos manguezais.
Choveu a noite toda, e de manhã partimos debaixo de um temporal com muito vento. Via-se aquela costa verde de mangue se estender ao longe, tingida por uma névoa provocada pelo mau tempo. Tateando o litoral deserto da Venezuela fomos avançando. No começo da tarde vi bem ao longe um barco muito veloz que me chamou a atenção. Em seguida outro, e mais outro. O que seriam aquelas embarcações, perguntei ao Duncan?
Sabíamos que aquele pedaço da costa não existia nada, e ficamos muito intrigados. De repente uma das embarcações desviou do seu caminho e veio em nossa direção. Nós vínhamos com pouco vento e foi fácil para eles se aproximarem de nós. Do barco ouvimos algumas perguntas em francês. Respondemos em inglês, e alguém falou finalmente em espanhol.
De onde vocês vêm. Para onde vão. Explicamos rapidamente sobre a nossa expedição e perguntamos se eles sabiam onde era o Canal Macareo. Eles sorriram e nos explicaram que eles trabalhavam para uma empresa francesa de exploração de petróleo em parceria com a estatal venezuelana. A base deles era algumas milhas acima do Canal Macareo um pouco mais adiante.
Ofereceram-nos um reboque para subir o canal até a base. Aceitamos e amarrados na popa da lancha começamos a entrar na floresta. Da imensa baia que estávamos fomos levados ao fundo de onde surgiu o canal que se estreitou. Sabia que aqueles eram os últimos instantes de água salgada, e que para ver o mar de novo precisávamos cortar toda a Amazônia, só meses depois iríamos chegar a Belém.
O rio fez uma curva, e uma grande cidade flutuante apareceu ao longe incrustada na mata. Parecia uma cena de filme de guerra. Muitos helicópteros subiam e desciam, lanchas voadeiras rasgavam o rio em alta velocidade, e grandes barcaças passavam carregadas. Nunca havia visto nada igual na minha vida.
A cidade eram contêineres agrupados em cima de um grande flutuante. Ligados uns aos outros, existiam outros menores se agrupando. Dentro viviam os técnicos, engenheiros, pilotos e funcionários da empresa. Fomos recebidos pelo diretor da operação, um geólogo venezuelano muito simpático.
Amarramos os barcos em um lugar seguro. Fomos convidados para conhecer a base e passar a noite. Hospedaram-nos nos mesmos alojamentos dos pilotos de helicópteros, que nos receberam com muitas perguntas. Um deles, um americano que trabalhou na bacia de Campos era aficionado por bossa nova. Fizemos um happy-hour com os pilotos ao som de Garota de Ipanema, a música brasileira mais conhecida fora do Brasil, acho eu.
Contamos ao chefe da base a respeito do nosso plano de subir o Canal Macareo com um barco rebocando o outro com apenas um motor de seis HP, contra a corrente, na cara e coragem. Ele nos ofereceu pelo menos para as primeiras 24 horas um reboque de uma balsa enorme que estava subindo o rio rebocado por uma espécie de rebocador. Eles estavam indo pegar combustível para o acampamento, e podiam nos dar uma carona no caminho, que já era meio caminho para Barrancas, uma pequena cidade na beira do Rio Orenoco.
Aceitamos e logo após o jantar fomos dormir, pois o barco partia às cinco horas da manhã.
A balsa partiu pontualmente, levando os dois catamarans, que tinha eu no leme de um, e o Duncan no outro. Passamos o dia atrás de uma gigante balsa, navegando por um mundo novo, verde, cheio de pássaros, e cheio de mistério. Os guarás brancos e vermelhos deram um espetáculo à parte, voando em bandos pela margem do Canal Macareo.
Havia algumas fazendas no caminho com muito gado. A vegetação na beira do rio era repleta de árvores frondosas. Os pássaros que predominavam eram os guarás vermelhos, que ficavam amontoados nos galhos das árvores. Quando o barco se aproximava fazendo barulho, eles se assustavam e todos ao mesmo tempo batiam em retirada para uma árvore mais à frente, e assim por diante.
O tempo melhorou um pouco no final da tarde, e uma luz maravilhosa tingiu o céu de um vermelho rosado, e com a noite azul se aproximando vi um dos fins de tarde mais lindo da minha vida.
O reboque foi até a meia-noite, e foi quando o capitão do barco desacelerou o motor nos informando que ele ia entrar à direita em um outro rio. Despedimo-nos e no meio da noite desamarramos os cabos que nos prendiam do barco mãe.
Ficamos no meio da escuridão com um barco amarrado no outro boiando no meio do nada, tentando fazer pegar o motor de popa que nos deu uma canseira.
Navegamos rio acima até encontrar um cantinho para amarrar os barcos e descansar um pouco. Continuamos a navegação de manhã, e passamos pela primeira cidade, Tucupita, decidimos não parar. Na parte da tarde pegamos um temporal tão forte que mesmo só com a buja os barcos voaram. Quando o dia anoiteceu chegamos em uma vila muito pobre e ao encostarmos os barcos na margem falávamos inglês entre nós por causa do Duncan. Alguns sujeitos mal-encarados começaram a agredir verbalmente o Gui. Eu estava levantando o motor na parte de trás do barco não ouvi nada. De repente só vejo o Gui dar um salto no barco e falar em um tom sério e decidido: “Betão, sai rápido pelo amor de Deus” Não entendi nada na hora, mas pelo tom do Gui nem discuti. Quando começamos a andar com o barco vimos uns caras mal-encarados vindo com facão na mão para a nossa direção, mas já estávamos safos. Depois ficamos sabendo que as pessoas que moram na região têm problemas com os guianenses da Guiana Inglesa, e como estávamos falando em inglês entre nós, não deu nem tempo de explicar, o jeito foi sair correndo. Fomos dormir encostados na margem do rio bem mais para frente, em um lugar bem ermo
No dia seguinte navegamos sem parar para Barrancas, pois tínhamos que abastecer o barco e comprar galões para ter uma autonomia maior de gasolina.
Chegamos a Barrancas na hora do almoço, e encostamos no píer principal da cidade que tem uma forma original, como uma espécie de escadaria de cimento. Procuramos um posto de gasolina e uma loja para comprar os galões. Foi só nessa hora que nos lembramos que não tínhamos bolívares, a moeda local.
Como o dólar valia muito, e a gasolina era muito barata, era impossível alguém trocar uma nota de cem dólares por bolívares. A cidade era muito pequena, e não estava acostumada a receber turistas.
O dono do posto tinha para nos vender os galões, mas não tinha como aceitar os dólares. O jeito foi propor uma troca. Voltamos para época do escambo. Dei a ele uma agenda, um litro de uísque, uma caneta dourada, uma calculadora, e alguma comida liofilizada.
Todos saíram felizes, e assim pudemos prosseguir viagem. Não tínhamos a menor ideia de como seria resolvido o problema de abastecimento dos motores na subida do rio depois de Ciudad Bolívar.
Foram necessários mais quatro dias para chegarmos a Ciudad Bolívar. Passamos por Ciudad Guayana, e Puerto Ordaz, onde passamos a noite no iate clube local. A correnteza era bem forte em alguns lugares do rio, só conseguimos avançar porque teve bastante vento nos dois últimos dias. Içamos as velas e ganhamos um empurrão da natureza.
A chegada em Ciudad Bolívar foi ao começo da tarde sob forte calor. A cidade fica debruçada no rio, e por incrível que pareça ela não tem nenhum iate clube. Em compensação tem uma enorme base da Marinha Venezuelana. Fomos direto para o píer da marinha.
Ao atracarmos os barcos no píer, fomos recebidos por dois oficiais que nos receberam muito bem. Fizemos a entrada oficial no país, pois até então estávamos ilegais. O almirante da base nos deu permissão para ficarmos lá, pois tínhamos que ir até Caracas pegar toda a carga que estava vindo do Brasil e dos EUA. Ele nos disse que éramos convidados da base, pois para ele quem conseguiu vir de Miami até lá ou era muito sortudo ou bom marinheiro. Como ele não acreditava em sorte no mar, nós éramos bons marinheiros, e devíamos ser acolhidos.
Do Brasil vinham dois motores de popa Suzuki de oito HP, barraca, equipamento para trecking e roupas para a floresta. Dos EUA chegaria uma barraca especialmente construída para ser adaptada em um dos barcos, e toda a alimentação liofilizada, frutas secas, etc.
Acomodamos os barcos no lado interno do píer, e viajamos de ônibus para a capital Caracas. Foram oito horas chacoalhando no bumba.
A primeira coisa que fizemos foi ir a DHL saber das nossas encomendas. Para minha surpresa ninguém sabia de nada, e pior, eles que eram nossos apoiadores do projeto nunca haviam ouvido falar da viagem.
Bom, depois de algum tempo consegui ser recebido pelo presidente da empresa. Ele foi muito gentil e depois de ouvir todas as explicações pediu-me para voltar no outro dia.
Nesta etapa da viagem o Gui Von Schmidt e o Pilha voltariam para o Brasil. O Marcus meu sócio no projeto viria me encontrar para continuar a viagem. Fiquei somente com o Duncan.
À noite fomos recebidos pelo embaixador brasileiro e o adido cultural. A ajuda da embaixada do Brasil foi fundamental, pois conseguiram a permissão para navegar no alto Orenoco, que é área de proteção ambiental, reserva de proteção aos índios. Para ajudar a complicar, existe um trecho do rio que faz fronteira com a Colômbia. Como já sabíamos as Farc atuam também naquela região, que é toda militarizada.
No outro dia voltei ao escritório da DHL e veio a notícia bomba. Houve um erro de comunicação dentro da empresa, e ninguém sabia dizer onde estava a nossa carga. Sem ela não podíamos sair de Ciudad Bolívar. O presidente me pediu uma semana, que para nós pareceu uma eternidade.
Conversei com o Duncan e decidimos fazer um pequeno turismo pela Venezuela. Primeiro fomos conhecer a cidade de Mérida, que fica incrustada nas montanhas. De lá tínhamos a esperança de conhecer o pico Bolívar, a montanha mais alta do país, com 4.981 metros de altura. Fizemos uma caminhada para chegar pelo menos na base ou de algum ponto que avistasse a montanha, mas estávamos tão despreparados, pois não tínhamos nada além do que uma calça jeans, tênis, e uma jaqueta náutica.
Caiu uma chuva gelada no meio da trilha que nos deixou congelados. Voltamos a Mérida e nos contentamos em frequentar os bares da cidade que por sinal eram muito movimentados. A cidade tem muitas universidades, por isso tinha muitos jovens.
De lá pegamos um avião e fomos para o Parque Nacional de Canaima, onde fica a cachoeira de Salto Angel, também conhecida por Angel Falls. Esta é a maior queda livre de água do mundo, com 979 metros de altura. Para chegar lá é um pouco mais complicado.
Saímos às 04h00min h da manhã do acampamento em Canaima de jipe, e depois de uns 30 minutos pegamos as “voadeiras”, que são canoas de um tronco só, enormes e equipadas com poderosos motores de popa. Os “pilotos” das canoas são profundos conhecedores dos rios locais, que são muito traiçoeiros, com pedras e corredeiras por todos os lados.
Só a experiência de navegar em alta velocidade contra as corredeiras driblando as pedras já valeu o passeio. Depois do almoço chegamos a um acampamento na beira do rio Churún. De lá caminhamos mais uma hora até chegar a um ponto da floresta onde se podia ver debaixo a queda de Salto Angel. Talvez tenha sido uma das imagens mais marcantes da minha vida.
A água cai solta de um paredão gigantesco, e ela vem de tão alto que chega a baixo quase como uma fumaça, se espalhando por causa do vento. Ficamos uma hora sentados em uma pedra olhando para o alto. No outro dia pegamos um pequeno avião para fazer um voo panorâmico e ver Angel Falls de cima. Sem palavras.
Voltamos para Caracas agradecidos pelo atraso dos equipamentos, pois pudemos conhecer um dos lugares mais lindos deste planeta. Novamente o presidente nos recebeu e não nos deu boas notícias. O equipamento estava todo preso na alfândega, por causa das licenças que estavam erradas, no caso das comidas faltava a licença fito sanitária, e dos motores as notas fiscais originais.
Novamente me pediu mais uma semana. Não sabia o que fazer, e acabei voltando para Ciudad Bolívar, pois lá não gastava dinheiro para dormir, e também estava preocupado com os barcos que estavam amarrados no píer local. O Duncan conheceu uma venezuelana e foi viajar com ela.
A copa de mundo de 94 estava no início, e como não tinha o que fazer, eu passava o dia na sala dos oficiais assistindo aos jogos. Fora da sala estava uns 38 graus, dentro gelada. Não perdi nenhum, nem aqueles jogos horríveis como Irlanda e Coréia. Nem sei se jogaram, mas foi um exemplo. A minha vida nestes dias era de espera, e eu tinha que ter paciência e torcer para que tudo fosse resolvido.
Não adiantava ir a Caracas e ficar lá trancado em um hotel, mas ficar longe também me dava a sensação de que eu não estava me empenhando para resolver. Decidi voltar a Caracas para fazer pressão. Todos os dias eu ia ao escritório da DHL.
Nos horários dos jogos ia a algum bar da cidade para comer algo e assistir aos jogos. O Brasil ia bem, e a torcida venezuelana considerava o Brasil o representante deles, o que me tornava uma pessoa bem vinda nos lugares.
Depois de 27 dias recebo a notícia de que estava tudo liberado, e agora só precisava encontrar um jeito de mandar tudo para Ciudad Bolívar. Novamente contei com o apoio do almirante da base que se prontificou a mandar um caminhão para Caracas especialmente pegar todos os equipamentos.
O Marcus chegou do Brasil e nós três nos reunimos em Ciudad Bolívar para começar a montar a barraca no barco. Esta barraca pesava uns 240 quilos e foi projetada para aguentar a chuva pesada da Amazônia, não deixar entrar os mosquitos à noite e ser capaz de abrigar quatro pessoas com bastante equipamento.
Retiramos os dois barcos da água para fazermos as adaptações. Do barco do Marcus retiramos o mastro, instalamos um piso rígido de madeira e fixamos a barraca em cima. Ficou um barco casa, meio desengonçado, porém muito eficiente. Esta seria a nossa nova casa por dois meses, até chegarmos a Belém.
O meu barco passou a carregar o enorme mastro do outro barco, mais as velas e retranca. Eu também carregava nove galões de gasolina com duzentos litros, o que nos dava uma autonomia de três dias.
Os barcos estavam pesados, pois além de tudo tínhamos que ter autonomia de comida por todo o trajeto. A água nós íamos beber a do próprio rio, que era bem barrenta. Para aliviar acrescentávamos suco em pó.
Estávamos prontos para partir, e depois de tantos dias parados tínhamos que andar rápido. No total ficamos 37 dias em Ciudad Bolívar, mas era o final da copa e o Brasil ia jogar a semifinal com a Suécia na quinta-feira, e eu não queria perder este jogo por nada. Ganhamos no sufoco e domingo era a final.
Depois de várias discussões decidimos partir na sexta-feira de manhã e tentar encontrar alguma pequena vila para assistir ao jogo final.
A nossa saída foi em grande estilo, e acompanhados por duas lanchas da marinha venezuelana deixamos para trás nossos amigos que nos acolheram muito bem. Na saída o almirante me deu seu cartão e uma carta dizendo que éramos amigos dele. Ele me explicou que estava embaraçado para falar, mas nos alertou que íamos ter problemas com a Guardia Nacional, a polícia federal deles, que era muito corrupta. A carta era como um salvo conduto.
O rio Orenoco é um rio de proporções amazônicas e em alguns trechos do rio mal se vê a outra margem, já em outros pontos ele se estreita bastante, aumentando muito a correnteza.
A chuva continuou caindo com muito volume, e somente durante os 37 dias que ficamos parados em Ciudad Bolívar o rio subiu 11 metros, um absurdo considerando o tamanho dele.
Durante o dia o calor era um inferno, e eu que navegava no meu barco debaixo do Sol, tinha que me banhar a cada quinze minutos. Eu pegava um balde de água do rio e despejava na minha cabeça.
À tarde o céu ia ficando encoberto e começava a se formar aquelas nuvens pesadas cinzas chumbo escuro, os trovões mais pareciam gigantes marchando em nossa direção, tamanho era a vibração. Antes de a chuva começar a cair ela trazia muito vento. A chuva só terminava normalmente na madrugada, e assim dia a dia o rio continuava a subir.
Não sabíamos, mas não havia nenhuma pequena vila com energia para assistirmos o jogo. Na época o nosso sistema de comunicação era um negócio novo que nós nem sabíamos direito como operar, e nem entendíamos o que era. Chamava-se internet.
Para termos conexão no nosso note book, usávamos uma antena via satélite e como a NET não era aberta, nós tínhamos um endereço para enviar as mensagens. O equipamento foi cedido pela ESCA, uma empresa que fazia parte do projeto Sivam que é o sistema de vigilância da Amazônia.
Era algo bem moderno, mas a velocidade de envio era absurdamente lenta, um parágrafo com duas linhas demorava sete minutos para enviar, e o mesmo para receber.
No domingo, o dia da final, enviamos um e-mail para a ESCA que tinha técnicos de plantão, para que eles nos enviassem e-mails tentando nos dar informações ao longo do jogo Brasil X Itália.
Naquele dia navegamos quase que colados um no outro, e o Duncan ia ao leme do barco casa. O Marcus dentro da barraca conectado esperando alguma informação.
De repente entrava uma mensagem que dizia: “O Brasil está jogando bem, mas esta zero X zero”.
Passava quarenta minutos e chegava outro e-mail: “Perdemos um gol, vamos para o segundo tempo”.
Não posso esquecer a minha angústia, que a todo tempo perguntava ao Marcus gritando do meu barco porque não chegava mais mensagens, e porque demorava tanto. Eu não tinha ideia do que estávamos usando.
Vieram vários e-mails, mas o jogo continuava zero X zero.
Até que ficamos sabendo que o jogo foi para a prorrogação. Que sofrimento, e se escutando rádio já é difícil, daquele jeito não dá para explicar. Depois veio outra mensagem que o jogo ia para os pênaltis.
Meu coração ficou apertado, me lembrei da copa do mundo que perdemos para a Itália, e da famosa foto do JT que na capa mostrava a imagem daquele garoto sentado no meio fio inconsolável.
Dois pequenos barcos estavam navegando no meio da floresta amazônica venezuelana conectados a acontecimentos esportivos do outro lado do mundo. Não percebi, pois estava focado na minha angústia, mas o mundo estava diante de uma mudança gigantesca que ia mudar o modo do homem se comunicar.
Passado pouco tempo, que para nós foi uma eternidade veio outro e-mail que dizia assim: “Esta três a dois e o Baggio vai bater”. Detalhe, eles não falaram para quem estava o placar e este foi o último e-mail do dia, caiu a conexão.
Não vou escrever aqui o que eu praguejei, mas fiquei enlouquecido, e disse aos meus amigos que eu só ia desligar aquele motor quando encontrasse uma vila, eu precisava saber o resultado do jogo.
A noite caiu e nós firme navegávamos nos dois barcos em meio à escuridão. Por volta das 21h00min h enxergamos uma pequena luz ao longe, era um pequeno vilarejo. Aproximamo-nos bem devagar com medo de bater em alguma pedra, ou toco.
Fomos encostar o barco em um gramado onde havia dois vultos. Eram dois curiosos que viram as lanternas do barco se aproximando. Nem esperei o barco encostar, nem lembro se os cumprimentei, e perguntei se eles sabiam o resultado do jogo do Brasil. Um deles prontamente respondeu: “três X dois para a Itália”. Meu mundo caiu.
Amarramos os barcos e depois de muita insistência do Marcus e do Duncan aceitei ir procurar alguém para cozinhar algo para nós. A vila era bem pequena, e nem luz elétrica havia, as luzes que vimos era de lampiões.
Chegamos à casa de uma senhora que aceitou nos preparar um jantar. Ficamos sentados na varanda da sua casa esperando-a terminar o nosso jantar. Por mim eu teria ido dormir mesmo sem comer.
Passado alguns minutos chegou o seu marido e seu filho. Não sabíamos, mas eles foram de carro a uma outra cidade que tinha eletricidade ver o jogo. Cumprimentaram-nos e nós nos apresentamos. Quando souberam que éramos brasileiros efusivamente nos deram a notícia que o Brasil era tetra campeão mundial.
Não entendemos nada a princípio e por várias vezes perguntávamos se eles tinham certeza, e eles confirmavam com muita segurança. Nós contamos que uns tipos nos disseram exatamente o contrário. Meus olhos ficaram marejados, não podia acreditar. Acho que fomos os últimos brasileiros, a saber, que éramos tetras.
Jantei o melhor frango com papas fritas do planeta terra.
Os próximos dias foram longos, pois acordávamos bem cedinho e colocávamos os motores para funcionar. Como a correnteza era forte, e os motores pequenos, o resultado para frente era de cinco quilômetros por hora. Sempre fazíamos a curva do rio pelo lado de dentro da curva, pois o outro lado a correnteza era muito mais forte. Houve várias vezes que ficamos parado em relação a terra tamanha era a força da corrente que anulava a potência do motor do barco.
A corrente variava um pouco, e nós com a ajuda do leme procurávamos uma brecha nos rodamoinhos, assim lentamente íamos subindo o rio.
O rio era um mar de tão grande, e depois de uma curva vinha sempre uma reta tão longa que o horizonte se fundia com a própria água do rio. Eu ficava ali no leme, com aquele zumbido inconveniente do motor, pacientemente olhando a margem. A velocidade era tão pequena que dava para contar as árvores se eu quisesse. A viagem pouco a pouco foi virando a viagem interna. O jeito era ouvir meu walkman, e pensar na vida.
De vez enquando passávamos em frente a alguma vila, e como tínhamos duas bandeiras do Brasil bem grandes na capota do barco casa, não era difícil descobrir que éramos brasileiros. Aconteceu mais de uma vez, éramos saudados como tetra campeões e o gesto que faziam da margem do rio para nós era o mesmo que o Bebeto fazia quando marcava um gol, o famoso balançar do bebê.
Os fins de tarde antes da chuva sempre davam um espetáculo de luz, e acho que nos rios o entardecer é mais bonito que no mar.
Para passar a noite de uma maneira mais segura, o jeito que encontramos foi amarrar o barco em algum galho de árvore na margem e virar o leme do barco para ele tentar sair para o lado oposto da margem. Ele ficava assim afastado, mas a água passava em baixo como ele estivesse navegando. Pelo menos com o barco isolado da margem não corríamos o risco de nenhum animal se aproximar, nem mesmo as formigas e os insetos, os maiores inimigos em uma floresta.
Depois de nove dias chegamos a Puerto Ayacucho, onde estaria o fotógrafo Roberto Linsker que embarcaria na expedição.
. Navegamos 670 quilômetros em nove dias, e fizemos uma média de 74 quilômetros por dia, e como navegávamos doze horas por dia, estávamos fazendo uma média de seis quilômetros por hora. Era muito emocionante a nossa rapidez. Foi um teste de paciência.
Há apenas alguns quilômetros da chegada o Marcus e o Duncan conseguiram passar por uma corredeira na margem esquerda que era a Venezuela, eu não consegui. Decidi atravessar o rio para o lado Colombiano, onde imaginei encontrar menos corrente contra. Passei e fui bem colado à margem observando um pequeno povoado chamado Casuarito.
Quando já estava em frente a Puerto Ayacucho decidi atravessar o rio novamente para o lado venezuelano. der repente ouço alguém gritar meu nome, desacelero o motor e olho alguém correndo ao lado da margem, era o Roberto, meu querido amigo.
Encostei o barco, ele deu um pulo e subiu a bordo. Abraçamo-nos e demos muita risada, pois ele estava nos esperando em Puerto Ayacucho fazia dois dias, e como não sabia exatamente quando íamos chegar foi para o lado colombiano conhecer Casuarito. Ótima coincidência encontrá-lo do outro lado, tudo por causa daquela maldita corredeira.
Um pouco acima de Puerto Ayacucho o rio Orenoco não é navegável por alguns quilômetros, por causa das cachoeiras de Atures. Somente em Samariapo, sessenta quilômetros rio acima ela passa a ser navegável.
Não tínhamos ideia de como íamos fazer para levar os barcos rio acima. Já sabíamos que isto teria que ser improvisado, mas antes de chegar lá era impossível montar uma logística. Chegamos novamente na dependência de encontrar algum caminhão para fazer o transporte. Desmontar os barcos seria uma árdua tarefa, mas não havia outro modo.
Ao chegarmos à cidade encontro o barco do Marcus encostado perto de uma rampa onde havia uma carreta de barco bem parecida com as medidas do nosso barco. Parecia mais uma carreta para catamarans do que para um mono casco convencional, mas quem teria um catamaran naquele fim de mundo.
Logo ficamos sabendo que um venezuelano de Caracas operava um passeio turístico em botes infláveis pelas corredeiras de Atures. Ele rebocava por uma estradinha com seu jipe, um catamaran inflável de mesma dimensão que os nossos barcos. Rio acima ele desembarcava por uma rampa cimentada os inflável que os turistas usavam para descer as corredeiras.
Informaram-nos que eles estavam para chegar, e por algum dinheiro ele era capaz de fazer o transporte. Dito e feito, o nosso amigo se solidarizou com a nossa viagem e nos fez um favor inestimável, rebocando um por um, levamos os dois barcos para Samariapo, cinquenta quilômetros mais ao norte.
Passados dois dias partimos de Samariapo, já considerado o alto Orenoco. Subimos o rio mais um dia e paramos em Maipures em uma base da Guardia Nacional para mostrar nossa permissão. Nesta parte do rio existem ilhas muito grandes. No começo eles começaram com uma conversa que queriam nosso equipamento fotográfico como “regalo”, de presente. Não levei a sério, depois um deles olhou para a minha bota e me pediu-a. Expliquei que tudo que tínhamos era estritamente necessário, e mostrei as duas cartas, a do ministro do interior e a do nosso amigo almirante.
Conseguimos deixar os barcos em um lugar seguro, pelo menos, pois depois de apresentados os documentos o tratamento mudou completamente. De lá, no outro dia começamos uma exploração que saia do Rio Orenoco e subia o Rio Sipapo. O nosso objetivo era ir conhecer o Cerro Autana, uma montanha sagrada para os indígenas da região que tem 1300 metros da altura. Na língua dos índios Pemon que habitavam a Grande Savana eles o chamavam de Tepui Autana, que quer dizer “Casa dos Deuses”, e tem um formato de uma mesa, com um cume totalmente plano.
Existem outros Tepuis também bastante conhecidos, como o Monte Roraima, e o Tepui Auyantepui, de onde despenca a cachoeira de Salto Angel.
Navegamos com um guia local em uma voadeira um dia inteiro. No final do dia chegamos à casa de uma família de índios que nos acolheu mediante um acerto em dinheiro. Partimos bem cedo no outro dia para uma aldeia que ficava no Rio Autana.
Ao chegar à aldeia contatamos um guia local, que ia nos guiar para uma montanha ao lado do Tepui Autana. Como é muito difícil escalar este Tepui, o jeito era subir a montanha ao lado para termos uma boa visão. Com a voadeira entramos em um canal bem fino que foi se estreitando pela mata, até começar a encalhar. A luz que passava pelas árvores tingia as folhas de um amarelo que contrastava com a água do riacho que era meio avermelhada.
Descemos da canoa e começamos a caminhar pela água até o nosso guia encontrar a trilha. Ele caminhava com uma facilidade impressionante, e por ser bem pequeno e leve, parecia que era uma criança que nos guiava. Aquele pequeno homem tinha algo de especial, uma leveza de alma, e trazia uma alegria e simplicidade surpreendente.
Depois de uma hora subindo chegamos ao cume do cerro. Em frente a nós estava o famoso Tepui Autana, que se erguia imponentemente. De lá de cima podíamos ver 360 graus de horizonte, e a grande floresta abaixo se estendia para além do horizonte. Para qualquer lado que olhássemos víamos o “Mar Verde”, com milhões de árvores. Os rios sinuosos que cortavam a floresta faziam desenhos com suas curvas.
Salvo o lado que se via o Tepui o resto era plano. Lá de cima víamos algumas chuvas despejando muita água sobre a floresta, fechando o ciclo de evaporação, condensação e pôr fim a chuva, um milagre da natureza que devolve a água à bacia do Orenoco. O que será da Amazônia sem a mata nativa? O que será dos animais da floresta? O que será do homem sem os recursos da natureza?
Ficamos sentados em uma pedra observando aquele mágico lugar, longe dos lugares que achamos que são importantes, dos grandes centros urbanos, onde a vida passa rápido e engana a muitos, dando a sensação de que tudo que acontece e é noticiado é vital. Assim vivemos afastados da natureza, que é a nossa principal referência, e que é a única coisa que podemos procurar para nos revitalizar quando estamos precisando nos recarregar de energia.
O que será de nós quando não tivermos mais lugares limpos e puros para nos curar. Estaremos órfãos de mãe, da Mãe Natureza.
Na descida da montanha o nosso guia já sabendo que ia chover, passou por uma árvore com folhas largas, arrancou uma delas. Andando foi fazendo um chapéu, e quando a chuva veio ele o colocou na cabeça, e assim que a chuva se foi ele jogou a chapéu fora. Que facilidade, que adaptação incrível, que leveza, nem um chapéu ele precisava ter. Nós em compensação vivemos uma vida acumulando milhões de coisas que muitas vezes usamos só uma vez, e as guardamos pelo resto da vida.
No dia seguinte chegamos de volta aos barcos para continuar a nossa jornada rumo ao Canal do Casiquiare.
O oficial responsável pela base da Guardia Nacional veio conversar conosco para dizer que os próximos dias iam ser muito perigosos para nós, pois agora que navegávamos na fronteira com a Colômbia, ele temia por nossas vidas, pois a eminência de um ataque das Farcs era uma possibilidade grande. Sem saber o que falar, eu perguntei qual seria a nossa opção.
Ele nos disse que poderia colocar a nossa disposição uma lancha para nos seguir nos próximos dois dias, com o pessoal dele armado, como batedores.
Perguntei a ele se isso tinha custo e ele disse que ia nos cobrar um valor simbólico de U$ 2.000 dólares. Quase cai para trás, e não disse nem sim nem não. Reunimo-nos e avaliamos os riscos dos próximos dois dias. Pensamos em navegar à noite e ficar escondidos durante o dia, sempre colados na margem venezuelana.
Ficamos desconfiados com o apetite do oficial, e preferimos partir sozinhos. A ideia era acordar bem cedo e andar o máximo possível para passar o mais rápido possível por aquela região.
Partimos bem cedinho com muita dúvida se aquela havia sido a decisão certa, mas agora tínhamos que avançar. Naveguei de olho no outro lado da margem do rio. Nesta região era comum passar de vez enquando uma voadeira com pessoas da região.
Fomos comprando gasolina nas vilas, acampamentos indígenas, fazendas e até em casas isoladas de gente que vive na beira do rio.
Agora que o rio ia se estreitando havia lugares onde a margem oposta estava a 800 metros, o que nos deixava a vista de quem estivesse do outro lado.
Para a primeira noite decidimos procurar algum lugar mais ou menos escondido. Amarramos os barcos bem perto da margem em um lugar que havia uma pequena clareira.
Quando anoiteceu já estávamos dentro da barraca jantando a nossa comida liofilizada francesa. De olho na janela de tela contra os insetos, nós mantínhamos o mínimo de luz para não chamar a atenção. Começou a despencar um temporal, daqueles que não dava para olhar mais que 100 metros tamanha era o volume de água. A noite sempre fazia um friozinho gostoso, e logo nos enfiamos nos sacos de dormir.
Logo em seguida percebo um facho de luz iluminando os nossos barcos, e em seguida o barulho de um motor. Gelei, pensei, vamos ser atacados, será que são piratas da Colômbia, Farcs, sei lá, passou tudo pela minha cabeça.
Combinamos não ligarmos nenhuma luz, e ficamos ali observando o movimento deles. O barco se aproximou e parecia que eles estavam tentando ancorar o barco. O motor continuava ligado, e eles continuavam a nos iluminar.
Mudamos a tática e pegamos uma lanterna daquelas de 1000 velas e acendemos um farol bastante forte na cara deles. Vimos que era um pequeno barco a motor local, com uma capota de madeira. Não dava para ver quantas pessoas havia, mas comecei a pensar o que fazer caso eles nos atacassem.
A chuva continuava forte e depois de uns dez minutos eles partiram, mas nós não sossegamos, pois eles podiam querer nos pegar de surpresa subindo contra a corrente e descendo com o motor desligado. Ficamos um bom tempo apagado, e de olho lá para fora.
O dia amanheceu calmo, e com a luz do dia me sentia bem mais confortável. Sem perder tempo partimos para San Fernando de Atabapo, que fica na intercessão do Rio Atabapo com o Orenoco. Ali o Rio Orenoco faz uma curva para a esquerda, e se separa definitivamente da fronteira com a Colômbia.
No final do dia conseguimos parar o barco para descansar já em águas seguras, longe da Colômbia. Navegamos em dois dias 160 quilômetros, e depois do Rio Atabapo o Orenoco ficou bem mais estreito, e para chegar à entrada do Canal Casiquiare ainda teríamos mais 360 quilômetros pela frente.
Os dias eram longos, e muitas vezes monótonos, pois só víamos árvores e mais árvores. Roberto e eu nos revezávamos no leme do barco. Aproveitei para ler um livro que contava a saga dos exploradores do Amazonas como Francisco de Orellana, Lope de Aguirre, La Condamine e Alexander von Humboldt. Eu estava viajando no alto Orenoco 200 anos depois de Humboldt e Bonpland terem passado por lá, e acho que o que eles viram era exatamente o que nós estávamos vendo.
Na época eles só conseguiram subir o rio por causa da ajuda dos índios que os transportavam em canoas. Nos seus relatos eles contam que eram atacados por um tipo de inseto minúsculo, e como não tinham roupas especiais eles foram ficando inchados de tanta picada. De fato, a pior coisa da floresta venezuelana é o Ren Ren, um tipo de borrachudo que ataca em nuvens. Nós pelo menos tínhamos um pouco de velocidade para fugir da bicharada, mas na hora de encostar na margem para dormir, a operação tinha que ser feita rapidamente e de calça comprida e mangas longas. O repelente valia ouro.
Neste trecho de rio não havia nada nem vilas, e começamos a ficar preocupados com o combustível. Para nossa sorte encontramos uma fazenda na beira do rio. Havia uma pequena sede e muitos animais selvagens domesticados, como uma macaca chamada Rosa, araras, e um pássaro estranho que eu nunca havia visto. Conseguimos comprar gasolina e encher os tanques até a boca.
Os fins de tarde continuavam maravilhosos, e quando não chovia mais cedo assistíamos um espetáculo com revoadas de pássaros que sempre gostavam de ficar nas árvores que ficam na margem.
Nas noites que choviam chegava a fazer frio na barraca. À noite aproveitávamos para conversar, pois era o único momento que nós quatro estávamos juntos. Fazíamos o jantar e depois o barco virava um dormitório.
Quando cessava o barulho da chuva, dava para ouvir o som da floresta, com centenas de pios, ruídos de seres que não conseguia sequer imaginar a forma ou o tamanho. Estar afastado da margem me dava uma sensação de conforto. As nuvens iam se dissipando, e pela janela de tela dava para ver um céu de estrelas se descortinarem. Parecia que eu estava em uma nave espacial, tantas eram as estrelas.
De manhã dava para sentir o cheiro da mata úmida. As folhagens verdes estavam tão cristalinas e límpidas que parecia que estávamos em um jardim encantado, e que algum paisagista pacientemente plantou todas aquelas árvores propositalmente. Talvez tenha sido isso mesmo que ocorreu.
Passados alguns dias chegamos a Tama Tama, uma pequena comunidade de índios que ficava há uns dois quilômetros depois da entrada do canal do Casiquiare. Lá compramos gasolina, pegamos algumas informações e voltamos para o rio.
Conversa vem, conversa vai, uma pessoa vem me perguntar se não vimos um barco há uns dias atrás durante a noite nos iluminar. Respondi que sim, inclusive nos deu um tremendo susto, pois pensávamos que eram ladrões. O sujeito deu risada e me disse que eram pesquisadores ingleses que estavam subindo o rio e ficaram curiosos ao ver um mastro de veleiro, e ficaram ali tentando descobrir o que eram aquelas duas estranhas embarcações. Pois é, esta lei de Murphy é danada mesmo, tinha que acontecer bem na fronteira com a Colômbia.
A nossa navegação era muito imprecisa, pois apesar de usarmos GPS, o nosso mapa não passava de um mapa de viagem, onde o Rio Orenoco e o Casiquiare eram uns pequenos riscos.
A entrada era tão pequena que indo para Tama Tama não percebemos o canal. Só depois de falar com os índios é que encontramos a passagem. Fizemos uma festa ao chegar à boca do canal, e a vida mudou bastante a partir daquele ponto, pois passamos a navegar a favor da corrente. Depois de vinte e um dias subindo os 1800 quilômetros do Rio Orenoco, o barco ganhou mais velocidade, pois nesta época do ano chovia muito, e o canal estava rápido.
Fizemos um planejamento para chegar na época das chuvas, pois não sabíamos se haveria muitas pedras e corredeiras. Temíamos não passar, mas ao ver aquele volume de água nos tranquilizamos.
O canal tem 326 quilômetros de comprimento, e é uma ocorrência geográfica raríssima, pois o normal seria ele correr para o lado da bacia do Orenoco. A rigor tudo que está na margem esquerda do Orenoco, Casiquiare, Rio Negro e Rio Amazonas é uma gigantesca ilha marítimo-fluvial.
Embora Humboldt o tenha explorado, foi o padre Cristóbal de Açuña que em 1639 fez os primeiros relatos mais concretos.
O começo de canal era bem estreito, mais ou menos uns 50 metros de largura, mas à medida que descíamos ia se alargando. Encontramos muitos bancos de areia e algumas corredeiras. O maior risco era bater a rabeta do motor de popa e perder a nossa propulsão. Como precaução estávamos levando aquele velho motor de seis HP comprado em Trinidad.
Como o canal era estreito e rápido, na água dava para perceber bem os rodamoinhos. As margens estavam próximas uma da outra, dando-nos a sensação de estar mais do que nunca dentro da floresta. Navegar olhando árvores por todos os lados a bordo do meu catamaran que um dia partiu de Miami, me deu uma sensação de grandiosidade em relação à expedição. Que viagem maluca esta, pensei. O que será que existe lá dentro da floresta? Os rios na floresta são como estradas, fora deles você entra em um mundo extremamente selvagem e difícil. Apesar de tudo seguíamos viagem.
No segundo dia encontramos a primeira tribo de ianomâmis, exatamente como nos haviam dito em Tama Tama. Primeiro vimos alguns índios em uma canoa, depois a aldeia. Neste primeiro contato fomos bem cautelosos e encostamos os barcos bem devagar na margem direita em frente à aldeia.
Parei primeiro meu barco e o Roberto Linsker saltou para a margem, e foi se apresentar. Toda a aldeia se reuniu para nos ver. Muitas crianças, jovens se aproximaram dos barcos. O chefe conversou com o Roberto em espanhol, e autorizou que nós filmássemos e fotografássemos. Como retribuição oferecemos a eles um pouco de comida, como castanhas e barras de cereal.
O que deviam pensar a respeito daqueles estranhos barcos, um com um mastro e vela, e o outro com uma barraca fechada, cheia de janelas. Um OVNI para nós talvez seja algo mais familiar de encontrar, do que eles avistarem aquelas geringonças.
Esta nação milenar vive em grande parte das terras ao redor do Pico da Neblina. Praticamente sem contato com o homem branco até meados dos anos 50, protegidos pela inacessibilidade dos rios e cachoeiras que circundam seu território, são considerados um dos povos mais primitivos da Terra, desconhecem, por exemplo, qualquer sistema de contagem. Com fama de guerreiros e hábeis caçadores, são estimados hoje em cerca de 20.000 mil pessoas espalhados por mais de 360 agrupamentos na floresta.
Dava aflição olhar para os índios que sem nenhuma proteção eram devorados pelos insetos. Ninguém ficava com os braços parados, e em volta do cacique ficavam algumas crianças batendo os braços nas pernas e nas costas dele, para espantar a bicharada. Nunca vi nada igual, e só porque usávamos calças compridas, mangas longas e repelentes era possível ficar ali, caso contrário a morte era melhor.
Retirei do barco um livro de fotografia sobre a Amazônia, e me agachei ao lado das crianças que curiosas me rodearam. À medida que eu ia apontando uma foto no livro, elas me falavam o nome em Ianomâmi. Foi muito divertido eu tentar aprender falar algumas palavras na língua deles. Eu também repetia o nome em português, e algumas delas se arriscavam.
Agradecemos ao cacique pelo encontro, e demos a ele a camiseta do projeto. Ele nos retribuiu com um arco e fecha, e dois remos. Despedimo-nos e continuamos a descer o canal. Já quase no final da tarde chegamos a outra aldeia, que para o meu barco era quase impossível encostar, pois as árvores se debruçavam na beira do rio, e como o meu barco estava com o mastro eu não conseguia encostar.
O barco casa encostou, e eu fiquei ali motorando e pensando o que fazer. Para minha surpresa, alguns índios subiram na árvore e com facões começaram a cortar alguns galhos fazendo uma passagem para o mastro passar. Fiquei bem impressionado com a esperteza deles. Foi o primeiro sinal de que éramos bem-vindos.
A diferença desta tribo para a outra é que eles não falavam nada além da língua ianomâmi. Ficou difícil, e a comunicação foi toda através de gestos. Eram mais ou menos uns trinta índios que habitavam uma única oca gigante, ou seja, apenas sete famílias.
Como era fim de tarde, não deu muito tempo para nos comunicar com eles. Passado pouco tempo eles deram as costas e todos sumiram, entraram na oca, sem nenhuma cerimônia. Aliás, cerimônia é algo que índio não tem, logo vi.
Ficamos sem saber o que fazer, pois não nos convidaram para entrar e conhecer a oca. O Marcus foi para o barco dormir, e o Duncan, o Roberto e eu ficamos ali na porta da oca tentando ver o que se passava lá dentro. A entrada era bem pequena e baixinha, e de fora pouco dava para ver.
Decidimos nos sentarmos na porta do lado de fora, e como cachorros fomos ganhando terreno. Devagar íamos sentando cada vez um pouquinho mais para dentro. Esta técnica de cachorro funciona bem, e acho que também estávamos fazendo a mesma cara de cachorro que sabe que está fazendo algo errado, mas vai testando o limite do dono.
Dentro da oca vi que cada núcleo de família se reunia em volta de uma pequena fogueira, e todos estavam deitados em redes presas a estacas de madeira. Logo perto de nós estava o cacique, sua esposa e as crianças. Ao lado dele estava o pajé, um índio bem velho.
Ficamos ali imóveis, e eu particularmente nunca havia tido uma experiência como essa. O Roberto veio e me falou: “Esta cena que estamos presenciando poderia estar acontecendo há dois mil anos atrás, pois de lá para cá eles não mudaram nada”. Eu na mesma hora pensei, entramos em uma máquina do tempo, o efeito era o mesmo.
A luz do lume das fogueiras era a única luz do ambiente, e ela iluminava as faces avermelhadas dos índios deixando o lugar com um aspecto primitivo e acolhedor. A fumaça das fogueiras ajudava a espantar os mosquitos, mas também dificultava a respiração.
O pajé levantou-se da sua maca e se aproximou. Na mão ele trazia uma tigela de madeira com algum tipo de raiz, que era o que eles estavam comendo. Provei e achei horrível, mas fiz cara que gostei, não ia fazer um desaforo na casa deles. Comer sem sal é difícil.
Fiquei ali pensando em mostrar algo para eles que valesse a pena. Sempre tenho a sensação que nós achamos mais graça neles do que vice-versa.
Tive uma ideia, e fui ao barco pegar o walkman, para eles escutarem uma música. Eu não trazia mais que dez fitas cassetes, e pensei que música seria interessante mostrar a eles. Veio na cabeça Milton Nascimento, porque considero que ele é um dos poucos músicos que fazem uma música universal, absolutamente contundente e compreensível a qualquer ser deste planeta.
Entrei na oca entusiasmado, e com o aparelho na mão e deixei no ponto a música Sentinela que começa com um canto gregoriano belíssimo, depois entra a Nana Caymmi com uma voz sublime. Finalmente vem o Milton que sempre me emocionou, cantando com a voz mais linda que conheço. Concordo com o que a Elis Regina disse: “Se Deus cantasse teria a voz do Milton”.
Liguei o Walkman e levei-o até o cacique. Primeiro coloquei o fone no meu ouvido mostrando a ele como fazia. Tirei-o, e cautelosamente coloquei os fones no seu ouvido. Não sei como contar, mas a expressão dele vai ficar marcada para sempre na minha memória, pois parecia que o algo resplandecente havia nascido dentro dele, e acho que nasceu mesmo. Imagina alguém que nunca sonhou com um aparelho daquele, sentir a música dentro dela.
Ele ficou sorrindo, e todos muito intrigados sem saber do que se tratava. Alguns segundos depois ele tirou os fones e deu para o pajé, que também foi vítima do mesmo bem estar. Do pajé o aparelho foi para a mulher do cacique, e de mão em mão a música foi preenchendo o corpo daqueles seres tão doces.
Depois de todos ouvirem, duas meninas bem jovens vieram nos devolver o walkman. Como retribuição elas nos cantaram uma linda música ianomâmi. Ficamos muito emocionados e espontaneamente aplaudimos as meninas. Aconteceu algo incrível, todos nos acompanharam nos aplausos, e nós nunca soubemos se o aplauso era algo em comum entre eles.
O Roberto nos disse que ia retribuir a música, e se levantou. Como ele já morou alguns anos na Espanha durante a adolescência, ele cantou uma música em espanhol, algo que trazia alguma lembrança do seu passado. Assim que ele acabou de cantar todos aplaudiram alegremente.
Por alguns segundos todos ficaram em silêncio até que outras duas jovens vieram para perto de nós para cantar uma outra música. Sempre bem curtinhas, as músicas tinham um jeito que parecia quase uma declamação, um rap ianomâmi. Novamente todos aplaudiram. Bom, sobrou para mim, que sou o mais desafinado, mas que também tem um coração lá no fundo. Arrisquei-me e cantei Beijo Partido do Toninho Horta, que é dificílima de cantar, mas uma das poucas músicas que nunca me esqueci.
Cantei, e com certeza, aquela era a única plateia neste planeta que iria me aplaudir. Acho que viajei milhares de milhas para dentro de uma floresta para procurar alguém que gostasse de me ver cantando.
Novamente mais duas meninas se apresentaram para nós. O festival estava ficando cada vez mais animado, e então o Duncan que é Sul Africano, e fala african, um dialeto na África do Sul, nos ensinou alguns refrões para fazermos juntos enquanto ele cantava. Agora os dois Robertos eram backing vocal. Inacreditável, mas estávamos os três de pé em frente de uns índios Ianomâmis cantando uma música em african, isso eu jamais imaginei na minha vida.
Foi um momento único nas nossas vidas, que em comunhão com nossos irmãos, e sem falar uma única palavra no seu idioma, unimos os nossos cantos, as nossas emoções e nossos corações. Aquele mágico encontro confirmou para mim o que vale a pena viver na vida, e aquela viagem estava sendo o melhor presente que pude me dar.
Esta última apresentação foi a mais aplaudida, e foi linda mesmo. Música da África para a Amazônia.
Já era hora de se recolher, e o Linsker sugeriu que voltássemos para o barco: “Já está na hora, índio não dorme tarde”.
À noite na cama fiquei pensando por que foram tão cruéis os encontros dos europeus com os povos indígenas. Quantos valores foram mudados ao logo de alguns séculos, mas que ainda em alguns lugares permaneciam congelados, envoltos na ignorância e no preconceito.
As despedidas das pessoas foram sempre difíceis nestas viagens, pois sei que possivelmente jamais voltarei a encontrá-las. São encontros intensos, curtos e que criam um laço de amor muito forte. O encontrar, conhecer, trocar, e despedir parecia um nascer e morrer. Acho que foi um bom treino para se tornar desapegado.
Sempre tento descobrir o que está por trás destes rápidos encontros. O que me levou a viajar quilômetros e quilômetros para cruzar um olhar com alguém e nunca mais o encontrar.
Parti de coração partido. Olhar para trás e ver toda a comunidade acenando foi difícil. Não vou mais encontrá-los pessoalmente, mas carrego aquelas expressões dentro de mim.
Este foi o terceiro dia no Canal e logo chegaríamos ao Brasil por uma das fronteiras mais desconhecidas, Cucuí.
Chegamos à confluência do Canal Casiquiare com o Rio Guainía, e pode-se dizer que o Rio Negro nasce naquele ponto. Nesta noite acampamos já próximo a fronteira do Brasil.
Entramos no Brasil um pouco antes hora do almoço. De cada lado da margem havia uma bandeira em cima de um muro de concreto. Esta é uma fronteira tríplice, mas as terras colombianas ficaram para trás também. Agora só queríamos chegar a algum lugar habitado para comer uma comidinha caseira.
No Rio Negro a vida a bordo melhorou muito, pois não tem um inseto. A alcalinidade da água dificulta a existência de peixes, e com muito pouca vida os insetos não se proliferam. Dava para dormir com a janela aberta. Até o encontro com o Rio Amazonas teríamos que navegar por mais de 700 quilômetros.
Dez quilômetros após a fronteira paramos na base brasileira do exército em Cucuí. Eles já nos esperavam, e tínhamos que fazer a entrada dos papéis no Brasil. Fomos muito bem recebidos pelos oficiais de plantão. Fizeram a vistoria nos barcos, e depois fomos almoçar em um pequeno bar. Matamos um frango, com arroz, feijão e fritas. Teve até uma saladinha de entrada. Que banquete!
Entre Cucuí e São Gabriel da Cachoeira, nosso próximo destino, o Rio Negro é muito perigoso. As corredeiras são muito grandes, tem muita pedra e o rio é bastante rápido. Ficamos muito inseguros de navegar por lá sem um guia.
Depois de Cucuí paramos em uma minúscula vila na beira do rio, onde acabamos conhecendo um senhor que queria uma carona para São Gabriel. Para nossa sorte ele conhecia muito bem as corredeiras, e as armadilhas do rio.
Descemos feito um foguete, e batemos todos os recordes de velocidade. O barco passava por cima de corredeiras que faziam o barco pular, andando algumas vezes de lado. Olhando a margem dava para ver como era inclinado aquele trecho. Não havia muito tempo para pensar, pois havia muitas ilhas de pedra pelo rio, e uma vez escolhido o lado não dava para voltar, era uma decisão que tinha que ser tomada rapidamente.
Foram 250 quilômetros de ação, e quando finalmente chegamos a São Gabriel da Cachoeira fomos obrigados a parar o barco no pequeno porto local. A cidade tem dois portos, um na parte de cima, outro na parte debaixo do rio. Tínhamos que passar pelo trecho do rio mais perigoso. Ali fica a parte mais estreita do Rio Negro, e por causa disso ele acelera muito. Para ajudar tem muitas pedras, que formam uma cachoeira de verdade.
Consultamos uns barqueiros locais que nos cobraram muito dinheiro para subir a bordo e nos guiar. Decidimos descer a corredeira sozinhos. Ficamos umas duas horas em cima de uma pedra estudando por onde íamos passar. O Duncan e o Linsker se posicionaram em um lugar estratégico para documentarem a nossa odisseia.
Eram apenas 500 metros de turbulência, e passado esta parte o rio se alarga e volta a ser plácido.
O Marcus estava no barco casa que nos preocupava mais, pois era mais instável. No meu caso, o meu barco levava vantagem, pois era bem mais leve, e eu não carregava a barraca.
Eu estava bastante tenso, mesmo assim nos atiramos corredeira abaixo. Os barcos passaram as corredeiras saltando as ondas, rabeando, e eu controlava o barco acelerando o motor de popa. Na margem do rio aglomerou alguns moradores que estavam lá esperando que alguma desgraça acontecesse. O pior trecho não durou mais que trinta segundos, e quando passamos o funil onde o rio tem apenas 300 metros de largura, tudo voltou ao normal. Respirei fundo, passamos pelo pior, dali para frente não encontraríamos mais corredeiras.
A parada em São Gabriel seria mais longa do que as outras. A ideia era escalar o Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil, que tem 2.994 metros de altura. O Linsker o mais experiente do todos nós em escaladas fez a preparação ainda em São Paulo, e conseguiu o apoio de um lodge, um tipo de pousada, que ficava na Ilha do Rei, em frente a São Gabriel.
Conseguimos atracar os dois barcos em um lugar seguro na Ilha de Rei. No dia seguinte fomos procurar o IBAMA para confirmar o aluguel de um barco de alumínio, um piloto que era funcionário do órgão, e de um guia para nos levar lá para cima.
O Pico da Neblina fica muito longe de São Gabriel, mais ou menos uns 350 quilômetros, somado as distâncias da estrada e dos rios.
Na cidade conhecemos dois espanhóis muito simpáticos, um jornalista, o outro apenas fazendo turismo, que queriam também ir para o pico. Decidimos juntar as expedições, e no outro dia bem cedinho estávamos todos subindo a bordo de um caminhão do exército que nos deu uma carona até um pequeno rio chamado Lazinho, a 80 quilômetros de São Gabriel. A estrada de terra estava em péssimas condições, e se caísse alguma chuva forte nem um caminhão passaria.
Na caçamba do caminhão íamos carregados de equipamentos, comida e um barco de alumínio, pois agora éramos muitos, o outro barco estava no local.
Os dois espanhóis levaram um guia próprio e dois carregadores, e nós somente um guia, as mochilas que estavam com dezessete quilos iriam no “lombo”.
Quando chegamos ao Rio Lazinho o caminhão parou para nos deixar. No mesmo instante estava chegando uma turma de soldados do exército brasileiro vindos de um treinamento na mata. Eles foram ao Pico da Neblina e voltaram. Parece simples falar, subir o pico, mas nós ainda não tínhamos noção do que nos esperava.
O barco que íamos usar estava afundado na beira do rio, e o que trouxemos era dos espanhóis. Começou a função, arrancar o barco de dentro do rio, e prepará-lo. Duas horas depois começou a viagem.
O motor do nosso barco começou a falhar já de cara. Pensei, esta viagem está me cheirando a roubada, mas tudo bem, vamos lá. Aos trancos e barrancos navegamos o dia todo, até quase anoitecer. Do rio Lazinho passamos para o Ia Mirim, depois o Ia Grande. Foi já no Rio Caiuburi que paramos em um lugar abandonado que tinha uma coberta de palha. Fizemos o nosso jantar e esticamos os casos de dormir.
O dia ainda não havia amanhecido e nós já estávamos subindo o rio. De ambos os lados eu conseguia ver algumas montanhas, mas elas não pertenciam a Serra Imeri, onde está o Pico da Neblina e o Pico 31 de março, a segunda montanha mais alta do Brasil.
Na parte da tarde encontramos o nosso último rio, o igarapé Tucano. Já bem pequeno e com uma mata bem abundante, e árvores gigantescas, nós mergulhamos mais ainda dentro da mata. Certo momento desligamos o motor de popa, que só havia dado dor de cabeça, e passamos a remar.
Quando ficou impossível navegar, pois o barco já começava a encalhar, encostamos na margem ao lado de uma clareira e fizemos o nosso acampamento.
Para economizar peso só levamos uma barraca de dois lugares para três, o Duncan, o Linsker e eu. O Marcus ficou doente e preferiu ficar em São Gabriel descansando e curando uma forte gripe.
Fomos acordados pelo nosso guia, o Aristides Moreira, um negão muito engraçado, que trabalhava no garimpo lá de cima. Saiu do Maranhão para tentar a sorte no garimpo, e como todo garimpeiro ele tinha o sonho de encontrar uma pepita de ouro gigante, ficar rico e se aposentar.
A caminhada começou por um terreno mais ou menos plano, mas muito encharcado. Duas horas depois começou uma leve subida já em mata fechada, que foi se acentuando. Íamos em um fila indiana de nove pessoas. Pelo altímetro do Linsker, quando chegamos aos 400 metros de altura começamos a descer novamente. Descemos até a cota 200 metros e novamente começou outra subida. Na parte da tarde o céu foi escurecendo, até começarmos a ouvir fortes trovões. A temperatura estava em torno dos 32 graus, mas caminhando na mata fechada com sombra, a temperatura não era insuportável.
A chuva começou, mas durante uns quinze minutos não sentíamos nada, pois a mata segurava, mas à medida que a chuva foi aumentando começamos a sentir o efeito da umidade. Colocamos nossos ponches cobrindo também as mochilas para não encharcarem e pesarem ainda mais. A chuva dentro da floresta começa depois e acaba também depois, pois sobra muita água na folhas que gotejam bastante.
O Duncan começou a se sentir mal de manhã, e na parte da tarde estava com febre e o corpo cansado. Diminuímos o ritmo, mas lentamente a expedição ia subindo. O tamanho dos troncos das árvores era impressionante. Eram árvores de mais de 300 anos. Na trilha vi algumas hordas de formigas gigantes cruzando em fila. Como acampar em um lugar daqueles fiquei me perguntando. Aliás, ninguém monta barraca por aqueles lados, o pessoal prefere dormir em redes.
Já quase no começo da noite, com a trilha bem encharcada e o temporal despencando nas nossas cabeças, chegamos a um acampamento de garimpeiros que também estavam subindo.
Eles construíram uma barraca de madeira e a cobriram com um plástico transparente. Dentro penduraram dezenas de redes. Aqueles homens em especial trabalhavam para abastecer o garimpo, eram carregadores.
O garimpo que estava estabelecido na Serra Imeri, tinha mais ou menos dois mil homens. Eles estavam devastando e poluindo os rios com metais pesados dentro do segundo maior parque nacional do país. O parque conta com apenas dois guarda-parques. Não dá para levar a sério um país que cuida de seu maior patrimônio assim com total descaso. Só depois de conhecer a Amazônia é que eu entendi o sentido da palavra abandono.
As mulas, como eram chamados, carregavam uns quarenta quilos de carga em um tipo de mochila de palha chamada jamanchim, presa a cintura e com uma tira apoiada na testa. Vestindo roupas precárias e galochas, eles subiam os dois mil metros em uma velocidade que deixaria qualquer corredor de aventura no chinelo. Para se alimentar eles levavam uma farinha molhada com água, um tipo de Red Bull local.
Montamos a nossa barraca em um pequeno espaço. O chão era lama pura, e por algum tempo fiquei conversando com os carregadores, que cozinhavam seu jantar.
O Linsker começou a sentir-se mal, e os sintomas eram parecidos com o do Duncan. Os dois foram deitar-se e eu me encarreguei de fazer o jantar.
Já era noite, a chuva não dava trégua, e eu então decidi ir buscar água para cozinhar e já abastecer os nossos cantis. Voltei uns dez minutos pela trilha até um ponto onde conseguia ouvir um barulho de água. Desci uma encosta de moro, escorregando até chegar a um riacho. Fiquei calado antes de pegar a água, pois me dei conta que estava longe do acampamento, no meio da mata, no escuro total e perto de água, lugar que os bichos normalmente estão à noite. Enchi todos os cantis e comecei a voltar para o acampamento. Bateu um medo, que as pernas começaram a falhar de tanto que tremiam. Quando cheguei à trilha sai em disparada até chegar a nossa barraca.
Não sei se criei fantasias, mas o medo era de ser pego por uma sucuri gigante, ou por algum felino.
No dia seguinte a mata amanheceu tranquila, com a luz do Sol passando pelas folhas. Os carregadores já haviam partido. O Duncan e o Linsker estavam bem melhores, o que foi um alivio, pois pensava que eles estavam com malária, e o próximo seria eu. Nada disso aconteceu.
Neste segundo dia iniciamos uma subida que durou sete horas, e como a inclinação do terreno era enorme, os degraus não podiam ser vencidos sem a ajuda das mãos. Puxávamo-nos pelas raízes e escorregando pela trilha molhada íamos subindo. Os galhos enroscavam na mochila, eu tropeçava em tocos, e o coração ia na boca, pois nos últimos meses não fizemos nenhuma atividade aeróbica.
O Moreira ia à frente em um ritmo bem mais forte que nós. Passado um tempo nós o alcançávamos. De vez enquando dávamos uma parada de dez minutos para respirar e tomar uma água. Em certo ponto, já bem no alto, a trilha se bifurcou, e nós pegamos o caminho errado. Até os dois carregadores dos espanhóis vieram atrás. O caminho começou a descer, descer, e depois de uma hora desconfiamos, pois o Moreira havia sumido e era estranho descer tanto.
Voltei sozinho para o ponto da bifurcação e lá estava o Moreira. Dei uma bronca nele, dizendo que ele era o guia e que precisava ficar sempre mais próximo de nós. Pedi a ele que ele fosse lá embaixo buscar a turma.
Chegamos à vila do garimpo já quase no escuro. Estávamos há dois mil metros e fazia bastante frio. O céu estava encoberto, mas não chovia, só soprava um vento gelado. Nós que estávamos encharcados de suor, lama, e com as botas inundadas de água queríamos encontrar um canto para descansar.
O Moreira encontrou no meio dos barracos dos garimpeiros um lugar com uma pequena coberta. Montamos a nossa barraca e fizemos uma fogueira. Jantamos e ficamos à frente do fogo secando as botas. Mal sabíamos o que nos esperava no outro dia.
O nosso guia também tratou de conversar com os garimpeiros, e explicar que nós não éramos da imprensa, pois estávamos com câmeras de filmar e fotografar. Eles não queriam nenhuma publicidade gratuita. Só estamos documentando a viagem.
Um dos espanhóis, o jornalista, estava fazendo uma matéria para um veículo na Espanha, e ia ficar lá por um tempo para entrevistar os garimpeiros. Para isso ele ia ter que negociar com o pessoal do garimpo. O outro o Carlos e seu carregador iriam seguir viagem conosco.
Quando o dia amanheceu é que vimos bem onde estávamos. Parecia que a selva havia sido rasgada por uma escavadeira gigante, e que revirou a terra. Eles faziam isso nos lugares onde passava um riacho, e com a água eles iam peneirando o areia do solo. Com as chuvas e a água do riacho, o lugar estava virado em um atoleiro a céu aberto, rodeados de barracos cobertos com lona plástica. O lugar era úmido, frio e triste.
A vida em um garimpo pobre como aquele não gera riquezas para quase ninguém, pois para comer era muito caro, então o que se ganha se gasta em comida, ou em mulher. As “garotas de programa” do garimpo ganhavam muito dinheiro, acho que até mais que as do Café Photo.
Os carregadores ganhavam pouco e tinham que comer. Acho que só o dono da venda ganhava, porque as meninas também tinham que comer. Ou o sujeito achava uma pepita gigante, ou ele iria ficar vivendo como um escravo. Lei ali era a do mais forte, e eles tinham o seu próprio código de ética.
Estávamos entrando no quinto dia de expedição, e se tivéssemos sorte com o tempo pretendíamos chegar ao cume do pico.
Apesar do terreno ser plano, foi um dos piores lugares que pisei na minha vida. Era um charco, com água gelada, lama, que afundava até a altura do joelho. Se puxasse a perna com força a bota ficava presa lá no fundo. Que burrice ficar horas secando os sapatos na noite anterior, pensei depois.
Não teve um que não caiu ou escorregou, e andando no meio da lama eu só ouvia meus companheiros praguejando atrás de mim. Também xinguei aquela merda de trilha, e vira e mexe eu perguntava ao Moreira se aquela era a única opção.
A vegetação era rasteira, e com um tipo de planta que nunca havia visto. A temperatura estava por volta dos 15 graus.
Caminhamos até o início da tarde para progredir muito pouco, na nossa frente supostamente estava a última montanha onde está propriamente o pico, mas é claro que ela estava encoberta por uma neblina, se não teria outro nome.
Quando chegamos à base deste último trecho iríamos enfrentar a parte mais íngreme da caminhada. A trilha terminou nesta encosta, e dali para frente seria o início da última subida.
“Perguntei ao nosso guia:”. E agora Moreira, para onde vamos?”
Para a nossa surpresa o Moreira nos explicou que chegamos ao final da trilha, que dali para frente nunca ninguém havia ido. Na hora até pensei que fosse uma brincadeira, mas logo vi que o homem falava sério. O Linsker então falou a ele que o cume é o cocuruto, o ponto mais alto, de onde não se pode ir mais.
Então o Moreira explicou:” agora entendi, mas para chegar lá só de Buru Buru”. Ninguém entendeu nada, e eu perguntei a ele o que era Buru Buru.
Buru Buru era o tão desejado helicóptero que ele sonhava em comprar quando encontrasse a sua pepita gigante, assim ele poderia voar de garimpo em garimpo.
O que fazer agora pensei. Decidimos no enfiar no mato para procurar algum sinal de uma trilha que nos levasse para cima. Tentamos dois caminhos, e quase nos perdemos. Achamos melhor voltar para a base e acampar, pois estava armando um temporal. Falamos ao Moreira que voltasse imediatamente para o garimpo e procurasse alguém que conhecesse a trilha.
Ele partiu com a promessa de chegar de volta pela manhã do dia seguinte com algum guia.
Nós começamos fazer com o facão uma pequena clareira na encosta. Não havia lugar plano, e acabamos dormindo inclinados. Choveu muito durante a noite, e a nossa barraca não aguentou, encharcando todos os sacos de dormir. Foi uma noite longa e cansativa.
Assim que desmontamos a barraca o Moreira chegou com um outro rapaz do garimpo que já havia subido o pico. Tomamos café e iniciamos a subida.
O novo guia só nos levou até o início da subida onde acabava a vegetação, e iniciava a pedra. De lá para frente não tinha como se perder. A subida tornou-se bem íngreme, e à medida que subíamos a temperatura abaixava. Começou a ventar forte e a chuva voltou, deixando a pedra muito escorregadia. Como é de costume, aquela montanha vive enevoada, e por isso não dava para sentir que estávamos alto. Podia ser qualquer lugar, e era difícil de acreditar que aquilo era também uma das faces da Amazônia.
Depois de quatro horas, e debaixo de um temporal, chegamos ao cume. A visibilidade era de metros. Só dava para saber que era o cume do Pico da Neblina porque havia uma placa de ferro chumbada na pedra.
Cheguei tão cansado que não comemorei a chegada. Soprava bastante vento, chovia grosso, não tinha nada para ver, só uma pequena parte plana, muitas pedras e abismo para todos os lados.
Decidimos esperar um pouco para ver se abria, pois depois que tanto esforço queríamos pelo menos ver a vista de lá de cima.
Somente depois de uma hora a chuva passou, e as nuvens foram ficando mais altas até que abriu de um lado uma vista. Como o Pico da Neblina está situado no meio da Floresta amazônica, pode-se enxergar muito longe. Em pé na ponta de umas pedras deu para sentir os 3000 metros de altura. A luz do Sol invadiu o cume por uma fresta de nuvens descortinando a mata verde e imensa. Naquele momento o arrependimento passou, e a emoção tomou conta de todos nós que nos abraçamos e vibramos com aquele lugar tão difícil de chegar.
A alegria durou pouco, e as nuvens voltaram a fechar nos deixando com gostinho de quero mais. Em vez de voltar para o acampamento do garimpo decidimos dormir no cume para ver se no outro dia o tempo ia estar melhor.
O problema era que só havia espaço para uma barraca, e o Carlos, nosso amigo espanhol, seu carregador e o Moreira não tinham onde dormir, pois só carregavam suas redes.
Sugerimos que eles descessem, mas eles também queriam esperar o dia seguinte. Eles improvisaram com um plástico azul um pequeno toldo encostado entre duas pedras.
No final do dia fizemos o jantar e nos recolhemos para a barraca. A garoa não dava trégua e a temperatura começou a baixar rapidamente. Nós não estávamos devidamente preparados para dormir no cume, pois a barraca era muito pequena para três, passava água, os nossos isolantes térmicos eram muito pequenos, e os sacos de dormir eram de verão, bem fininhos.
Depois de comer algo bem quente me enfiei dentro do saco para tentar me secar. Não posso dizer que foi uma noite terrível. Foi difícil dormir, senti muito frio à noite, pois a temperatura chegou aos seis graus, mas só de lembrar que bem ali ao lado havia três indivíduos quase ao relento, dormindo de cócoras encostados na pedra, e expostos ao vento e a garoa. Eu não podia reclamar.
Para a decepção de todo o grupo, o dia amanheceu com a mesma neblina, e o pico reafirmou a sua reputação e fez jus ao nome. Tomamos café e começamos a descer. A ideia era chegar logo no acampamento dos garimpeiros para descansar e secar as roupas.
A volta foi mais rápida, mas bem escorregadia, e na parte dos charcos sofremos um pouco mais, pois as chuvas tornaram o lamaçal quase intransponível.
No outro dia descemos com muita velocidade, queríamos ganhar um dia no cronograma. A comida estava acabando e eu como fui prevenido escondi na mata um pequeno saco com comida extra para a volta. Foi a melhor decisão de minha vida.
No final do dia já quase na chegada o Moreira entrou em uma outra trilha que eu não reconheci, mas como estávamos exaustos não falei nada. Andamos até escurecer, e quando o caminho desapareceu o Moreira diz que estávamos no caminho errado. Começamos a andar por um terreno plano, mas muito irregular fácil de escorregar. Estávamos andando em fila indiana e com lanternas na cabeça. A minha havia acabado as baterias, então andava colado no Duncan. Lá pelas tantas chegamos perto do igarapé Tucano, uma ótima referência, mas não tinha trilha para chegar ao acampamento onde havíamos deixado os barcos.
Embrenhamo-nos na mata fechada para tentar cruzar direto para o acampamento. Paramos para discutir sobre o caminho. Desequilibrei-me e me apoiei em uma árvore. Fiquei com a mão apoiada no tronco por alguns segundos que estava infestado de formigas. Senti minha mão sendo picada por alguma coisa. Comecei a pedir para o Duncan iluminar minha mão, mas no desespero escorreguei e para não cair, e segurei em um galho de outra planta que estava cheio de espinhos. Desesperado de dor nas duas mãos, não aguentei, dei muitos gritos com o Moreira, que não tinha nada a ver com o meu acidente, mas que novamente havia nos deixado em maus lençóis. Com a lanterna o Duncan retirou alguns espinhos. A outra mão inchou um pouco, mas não foi nada sério.
Conseguimos chegar ao acampamento às 2130 h, e providencialmente tomamos um belo banho no igarapé. Jantamos e desmaiamos. Depois de dois dias chegamos à Ilha do Rei. Foram necessários dois dias de descanso para continuarmos a viajar. O Linsker voltou para São Paulo e chegou o Peter Moon, um jornalista da revista Isto É para fazer uma reportagem.
A viagem continuou pelo Rio Negro até Manaus. Depois veio o Rio Amazonas, e setenta e cinco dias depois chegamos a Belém, após termos percorrido 5.200 quilômetros de rios.
Ao entrar pelo Mar do Caribe e cortar todo o norte continente americano para sair no Oceano Atlântico, concluímos um dos roteiros mais espectaculares que podíamos imaginar. Viajamos pelo mar verde, foi intenso, mas estava na hora de voltar para a água salgada. Queria ver longe, ver o horizonte e apontar a proa do Atlas para o lugar que lhe cabia, a bela ilha, a Ilha Bela.
Beto Pandiani
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noticiasdecabofrio · 4 years ago
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Chineses fazem proposta de pólo pesqueiro para tomar conta de todo a pesca no litoral brasileiro
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O blog Defesa Net, editado pelo jornalista Nelson During, divulga matéria mostrando os imensos riscos da aceitação de proposta chinesa para a instalação de um pólo pesqueiro em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, a qual embute um risco muito sério, o da abertura completa e irrestrita para a exploração da pesca por navios chineses em todo mar territorial brasileiro. Leia essa matéria que é muito importante.
"A proposta da empresa chinesa Ample Develop Brazil Ltda, representando conglomerado financeiro e industrial da China, foi publicada com exclusividade em nota, no site do jornalista Políbio Braga, na sexta-feira (18). Trata-se do “Projeto de Pesca Integrada” que foi projetado para ser desenvolvido na cidade portuária de Rio Grande (RS). O projeto, no esboço apresentado para o governo do Estado do Rio Grande do Sul e da cidade de Rio Grande.
Em um breve comunicado, no dia 17 de Dezembro, a empresa divulgou: “Ample Develop Brazil LTDA apresenta interesse em investir 30 milhões de Dólares no Rio Grande do Sul. O primeiro contato da empresa no Brasil, para tratar sobre investimentos no Rio Grande do Sul, foi com a Secretária de Relações Internacionais, ex-Senadora, Ana Amélia Lemos. A Secretária encaminhou a Empresa para dar seguimento as tratativas já no Estado. O Secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado do Rio Grande do Sul, Arthur Lemos (que é sobrinho da jornalista e ex-senadora), juntamente com a Presidente da FEPAM, Marjorie Kauffmann, e o Secretário Adjunto da Agricultura (RS), Luís Fernando, recepcionaram o Presidente da Ample Brazil, Sr Yunhung Arthur Lung e os diretores da empresa, que apresentaram carta de interesse de investimento e esboço do projeto em questão. A Ample Brazil quer investir na Indústria da pesca no Estado, gerando centenas de empregos diretos e indiretos, com objetivo de atender o mercado interno e externo.
O grupo realizou reunião com prefeito eleito de Rio Grande, Fábio Branco (PSDB), que com agilidade fez contato com Executivo responsável pela inserção da Ample Brazil no Estado, Fernando Lopes, e colocou o município à disposição para a empresa se instalar. A reunião aconteceu na quinta-feira (17) e foi muito promissora, relatou, Fernando Lopes".
O que é o “Projeto de Pesca Integrada” apresentado pela empresa chinesa? Conforme o esboço do projeto apresentado pela AMPLE ao governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Rio grande trata-se:
Esboço do Projeto:
1. Construir uma frota de pesca de arrasto marinho. (para comparar com Uruguai, Argentina e mesmo Guiana ou Suriname, não deve ser inferior a 400 barcos de pesca).
2. inicialmente, investir em um um peixe de congelamento rápido individual (IQF) de 500 toneladas (quinhentas) de capacidade diária na planta de processamento.
(a planta de processamento adicional dependerá da captura e construção por fases).
3. Investir em um porto com instalações de base de pesca para a necessidade essencial da logística de pesca. (O porto de pesca precisa estar ao lado de águas profundas com uma área não inferior a 100 hectares).
A delegação da AMPLE foi recebida pelas autoridades estaduais e municipais como um investidor que procura e oferece oportunidade de investimento e cooperação comercial. Porém, o assunto tem uma enorme carga de atiçar ainda mais a situação crítica e tensa vivida há alguns anos, de forma silenciosa, no Atlântico Sul, decorrente da ação das frotas pesqueiras da China no Atlântico Sul. Mesmo alinhada politicamente com a China, a Argentina tem agido com decisão, dentro das possibilidades de meios navais que dispõe, contra a pesca predatória das frotas pesqueiras chinesas.
A mais atuação foi a ação, em 4 de maio, com a interceptação de um pesqueiro chinês, pela Armada Argentina, que emitiu a seguinte nota: "A Marinha Argentina, sob o comando do Ministério da Defesa, informa que, nas primeiras horas de segunda-feira (04MAIO2020), o patrulha oceânica ARA P51 "Bouchard" detectou e capturou um barco pesqueiro chinês, que estava operando ilegalmente, na Zona Econômica Exclusiva da Argentina (ZEE)".
A Argentina também tem exercido pressão sobre o Uruguai, para que impeça o porto de Montevidéu de ser usado de base para as operações das frotas pesqueiras chinesas, embora estas embarcações raramente aportem em Montevidéu. Esses navios pesqueiros chineses na maior parte das vezes usam o porto de Montevidéu para descarregar corpos de marinheiros falecidos a bordo, para envio à China.
Mais recentemente, em 4 de novembro, os países da América Latina (Equador, Chile, Peru e Colômbia) emitiram declaração conjunta sobre a frota pesqueira chinesa que estava operando no Pacífico, especialmente frente à costa chilena. A Marinha chilena acompanhou a frota pesqueira chinesa até esta cruzar o Estreito de Magalhães e entrar no Oceano Atlântico Sul (onde está atualmente), frente à costa da Argentina.
Em um movimento inédito, na LVII Cúpula de Presidentes do MERCOSUL, realizada no último dia 16 de dezembro, o Comunicado Conjunto traz o seguinte texto: “Destacaram que a adoção de medidas unilaterais, incluindo a exploração de recursos naturais renováveis e não renováveis da área em controvérsia, não é compatível com o acordado nas Nações Unidas, e reconheceram o direito que assiste à República Argentina de promover ações legais, com pleno respeito ao Direito Internacional, contra as atividades não autorizadas na referida área...."
O texto diplomaticamente menciona a Grã Bretanha, mas não avança no apoio que os ingleses dão às frotas pesqueiras chinesas e também à espanhola. No caso da Espanha é uma estratégia de possível acesso futuro à Comunidade Europeia via os espanhóis.
No Brasil a voz mais constante sobre a ação de pesca ilegal tem sido a do Comandante da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Ilques Barbosa. No Seminário de Defesa Nacional, realizado em 13 de novembro, ele mencionou a “pesca ilegal, não declarada e não regulamentada” e “pirataria” como ameaças. Esta posição foi reforçada em outras oportunidades, como na solenidade de lançamento do submarino S-41 Humaitá, no dia 11 de dezembro.
Na segunda-feira, 21, o presidente Bolsonaro, que se encontra em Santa Catarina até o dia 23, enviou uma mensagem de apoio aos navios pesqueiros de Santa Catarina, que tiveram a permissão pelo STF de operarem com rede de arrasto na costa do Rio Grande do Sul.
Vale a pena ler esta descrição da empresa onde menciona: “A Ample China participa da Ample Brasil e fornece alimentos (grãos e proteína animal) para cinco províncias, mais parte do Exército Chinês". O mar brasileiro, definitivamente, não pode ser entregue ao controle de piratas chineses. A China pratica pesca predatória, ilegal, criminosa, pirata, bucaneira, em mares do mundo inteiro. Ela faz saque de recursos naturais de outras nações sem pedir licença.
Fonte:
https://vitorvieira.substack.com/p/chineses-fazem-proposta-de-plo-pesqueira
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martimcribeiro01 · 4 years ago
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GDF reforça controle no Lago Paranoá
Três novas e modernas lanchas adquiridas pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) vão auxiliar a Marinha do Brasil na fiscalização do Lago Paranoá e seus afluentes. Um reforço de peso: três embarcações da marca Highfield, com potência de 150 hp, vão substituir as lanchas antigas da corporação. O investimento é de R$ 630 mil.
Os  barcos somam-se aos quatro jet-skis (moto aquáticas) já usados pela Companhia Lacustre da PMDF na tarefa conjunta de proteção das águas do Paranoá. O espelho d’água é reconhecido como um dos pontos turísticos mais democráticos da capital e reúne banhistas, praticantes de esportes náuticos e pescadores.
Mas não é só o lago no coração de Brasília. Afluentes como o córrego Bananal, Torto e a represa da Bacia do Descoberto também são alvos da fiscalização, agora mais qualificada.  As lanchas vêm de São Paulo, chegam a 70 km/h e comportam até 14 passageiros. Estarão em ação a partir de janeiro, logo após desembarcarem em solo candango.
“A modernização da frota torna o atendimento das forças de segurança cada vez mais rápido e eficiente, diminuindo a incidência de crimes e aumentando a sensação de segurança da população. Ter um profissional treinado, motivado e bem equipado também significa um atendimento mais rápido”, destaca o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres.
Companhia Lacustre combate a pesca irregular e outras infrações | Fotos: Divulgação/BPMA-DF
As lanchas são equipadas ainda com GPS, rádio e sonar – aparelho que faz a verificação embaixo d’água. E, o resultado, é mais agilidade e segurança. “Com as novas embarcações, conseguiremos fazer o trajeto entre o pelotão lacustre, na Ponte das Garças, até a Barragem do Paranoá em cerca de oito minutos. É um grande facilitador”, pontua o subcomandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental, major Adelino Oliveira.
Múltiplas atribuições
À Companhia Lacustre da PM, a chamada Polícia das Águas, cabe o policiamento ostensivo dos lagos para coibir crimes comuns, ambientais, além de cuidar da preservação dos mananciais. Um trabalho diário e de 24 horas, em apoio à Marinha do Brasil e outros órgãos como  Corpo de Bombeiros,  Ibama e Brasília Ambiental.
Delitos como a embriaguez de condutores, o porte ilegal de armas de fogo, roubos, navegação em área proibida e a pesca predatória são monitorados.
“É comum o flagrante da pesca com tarrafas, redes, o que não é permitido no Lago. Principalmente, nas águas que margeiam a Universidade de Brasília e próximo às pontes. O material é apreendido e o pescador multado”, explica Adelino. Uma multa que varia de R$ 700 a  R$ 100 mil.
O pelotão auxilia ainda em afogamentos e incidentes com embarcações, juntamente ao Corpo de Bombeiros. E em operações contra a retirada indiscriminada de água dos reservatórios por meio de bombas, ao lado da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa).
GDF reforça controle no Lago Paranoá publicado primeiro em https://www.agenciabrasilia.df.gov.br
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fefefernandes80 · 4 years ago
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‘Somos a espécie mais perigosa da história’: cinco gráficos sobre o impacto da atividade humana na biodiversidade
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Ação humana é quase inteiramente responsável ​​pela extinção de várias espécies de mamíferos nas últimas décadas. Fogo e desmatamento na Amazônia causam preocupação em todo o mundo. Reuters via BBC A atividade humana está destruindo a natureza, causando uma aceleração alarmante na extinção de espécies da flora e fauna. Alguns líderes mundiais têm prometido diversas ações para tentar resolver o problema. Mas elas vão ser suficientes? O que é biodiversidade e por que ela é importante? Biodiversidade é a variedade de seres vivos na Terra e os ecossistemas aos quais eles pertencem, que fornecem oxigênio, água, alimentos e inúmeros outros benefícios. Recentemente, um conjunto de relatórios e estudos alertou sobre o atual estado da natureza. Veja-os em gráficos: Como a vida selvagem diminuiu entre 1970 e 2016 BBC “Não temos tempo para esperar. A perda da biodiversidade, a perda da natureza, está em um nível sem precedentes na história da humanidade”, diz Elizabeth Mrema, secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica, da ONU. “Somos a espécie mais perigosa da história mundial.” Os humanos estão causando a extinção de outras espécies por meio da caça, pesca predatória e derrubada de florestas. Somos quase inteiramente responsáveis ​​pela extinção de várias espécies de mamíferos nas últimas décadas, de acordo com um estudo recente publicado na revista especializada “Science Advances”. E as previsões sugerem que outras 550 espécies de mamíferos serão perdidas neste século, se continuarmos no caminho atual. Espécies de mamíferos perdidas nos últimos 300 anos BBC Como podemos sair do caminho da destruição? Abandonar o modelo devastador que adotamos exigirá grandes mudanças. Na Cúpula da ONU sobre biodiversidade, realizada no dia 30 de setembro em Nova York, o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, afirmou que “a humanidade está travando uma guerra contra a natureza e precisamos reconstruir essa relação”. Três problemas causados pela ação humana na biodiversidade BBC Qual é o plano para o futuro? Os países estão sendo instados a assinar um acordo, que representaria para a biodiversidade o que o acordo climático de Paris foi para as mudanças climáticas. Isso se enquadra no que se conhece como Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), tratado internacional firmado na chamada “Cúpula da Terra” realizada no Brasil em 1992. Plano para restaurar a biodiversidade BBC Este acordo tem três objetivos: a conservação da diversidade biológica; o uso sustentável de seus componentes; e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos. Os países tinham até este ano para atingir as metas estabelecidas há uma década, que vão desde conter a extinção até reduzir a poluição e preservar as florestas. Como diferentes ações poderiam ajudar a restaurar a biodiversidade BBC Apesar de alguns avanços, nenhum dos objetivos foi alcançado. Agora, os líderes mundiais estão sendo chamados a assinar um pacto para salvar a biodiversidade do planeta por meio de um plano que prioriza a vida selvagem e o clima. Segundo a comunidade científica, não é tarde para reverter o declínio da natureza, mas é preciso muito empenho e o real cumprimento de promessas.
Artigo Via: G1. Globo
Via: Blog da Fefe
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carolinagoma · 4 years ago
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'Somos a espécie mais perigosa da história': cinco gráficos sobre o impacto da atividade humana na biodiversidade
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Ação humana é quase inteiramente responsável ​​pela extinção de várias espécies de mamíferos nas últimas décadas. Fogo e desmatamento na Amazônia causam preocupação em todo o mundo. Reuters via BBC A atividade humana está destruindo a natureza, causando uma aceleração alarmante na extinção de espécies da flora e fauna. Alguns líderes mundiais têm prometido diversas ações para tentar resolver o problema. Mas elas vão ser suficientes? O que é biodiversidade e por que ela é importante? Biodiversidade é a variedade de seres vivos na Terra e os ecossistemas aos quais eles pertencem, que fornecem oxigênio, água, alimentos e inúmeros outros benefícios. Recentemente, um conjunto de relatórios e estudos alertou sobre o atual estado da natureza. Veja-os em gráficos: Como a vida selvagem diminuiu entre 1970 e 2016 BBC "Não temos tempo para esperar. A perda da biodiversidade, a perda da natureza, está em um nível sem precedentes na história da humanidade", diz Elizabeth Mrema, secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica, da ONU. "Somos a espécie mais perigosa da história mundial." Os humanos estão causando a extinção de outras espécies por meio da caça, pesca predatória e derrubada de florestas. Somos quase inteiramente responsáveis ​​pela extinção de várias espécies de mamíferos nas últimas décadas, de acordo com um estudo recente publicado na revista especializada "Science Advances". E as previsões sugerem que outras 550 espécies de mamíferos serão perdidas neste século, se continuarmos no caminho atual. Espécies de mamíferos perdidas nos últimos 300 anos BBC Como podemos sair do caminho da destruição? Abandonar o modelo devastador que adotamos exigirá grandes mudanças. Na Cúpula da ONU sobre biodiversidade, realizada no dia 30 de setembro em Nova York, o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, afirmou que "a humanidade está travando uma guerra contra a natureza e precisamos reconstruir essa relação". Três problemas causados pela ação humana na biodiversidade BBC Qual é o plano para o futuro? Os países estão sendo instados a assinar um acordo, que representaria para a biodiversidade o que o acordo climático de Paris foi para as mudanças climáticas. Isso se enquadra no que se conhece como Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), tratado internacional firmado na chamada "Cúpula da Terra" realizada no Brasil em 1992. Plano para restaurar a biodiversidade BBC Este acordo tem três objetivos: a conservação da diversidade biológica; o uso sustentável de seus componentes; e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos. Os países tinham até este ano para atingir as metas estabelecidas há uma década, que vão desde conter a extinção até reduzir a poluição e preservar as florestas. Como diferentes ações poderiam ajudar a restaurar a biodiversidade BBC Apesar de alguns avanços, nenhum dos objetivos foi alcançado. Agora, os líderes mundiais estão sendo chamados a assinar um pacto para salvar a biodiversidade do planeta por meio de um plano que prioriza a vida selvagem e o clima. Segundo a comunidade científica, não é tarde para reverter o declínio da natureza, mas é preciso muito empenho e o real cumprimento de promessas. Artigo originalmente publicado primeiro no G1.Globo
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revistaquitanda · 5 years ago
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MAR, LIBERDADE E RESISTÊNCIA
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A pescaria artesanal luta para continuar viva
Cada grupo social possui sua subjetividade e saberes, repletos de práticas e formas de se perceber e viver no mundo. Nesse aspecto, estas particularidades são o patrimônio de uma população. Ao longo dos anos, com a modernização da sociedade, esta riqueza vem sendo sistematicamente ignorada, ao ponto de considerarmos determinadas técnicas e hábitos como obsoletas perante o avanço tecnológico. No universo dos pescadores, seus representantes travam uma batalha para que seu modo de sustento e identidade não se perca.
Diante do tamanho alcançado pela indústria da pesca, o que antes era a regra foi deslocada para a categoria de artesanal. Diante de um sem fim de máquinas, grandes embarcações, automatização e criadouros controlados, a combinação de jangada, barco, rede e anzóis parece algo distante e desconexo da realidade. Mas esse modo foi a chave para toda a evolução que veio depois, e vai muito além do ato de pescar: é toda uma construção de um convívio com o próprio mar, e o trabalho como a mediação dessa relação.
INDEPENDÊNCIA
Ao observar a sociedade canavieira que se formou em Pernambuco ao longo de sua história, notamos que as colônias de pescadores se posicionaram como comunidades não subordinadas ao primeiro grupo, detentor de forte poder econômico e social. Os pescadores tampouco se curvaram à engrenagem urbana: a sua atividade sempre fora exercida num ambiente livre das pressões e complicações da terra firme. Por outro lado, ele só podia contar consigo mesmo ou seus companheiros para lidar com a imprevisibilidade das águas e do clima, construindo um forte senso de coletividade entre seus pares.
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“A gente se une, se basta. Sou da terceira geração de pescadores da minha família”, diz Juarez Firmino da Silva, de 53 anos. “Na comunidade de pescadores, a relação é diferente. Até mesmo quando o cabra não possui um barco nem rede, isso não impede dele ter ciência de tudo que envolve o processo da pesca. Essa ciência é o seu sustento, uma pessoa pode até ter os meios que o permitam pescar, mas sem conhecimento, isso não serve de nada.”
Seu Juarez conheceu seu ofício ainda criança, quando morava em Igarassu. Hoje desbrava as águas que banham a região do Janga, no município de Paulista, região metropolitana do Recife. “Mesmo quando eu não tinha meu material e saía junto com os amigos, eu me sentia dono do que estava fazendo, eu tinha uma participação firme no trabalho. Ao final, tudo era repartido entre e a gente, e sempre dava pra reservar uma parte disso tudo para a família. Então, a gente de uma certa forma não deixava de ter o que comer no caso de tempos mais apertados.”
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ESTADO DE ALERTA
Apesar dessa liberdade, grande parte dos recursos pesqueiros economicamente viáveis para essa população, assim como os ambientes onde eles se encontram estão fortemente ameaçados pela crescente interferência predatória do homem.
“A gente vive em constante estado de alerta. Havia muita área boa, equilibrada, mas aí veio o progresso e acabou com tudo. Que raio de progresso é esse?” Maria Cristina de Jesus, de 47 anos, não cansa de fazer essa pergunta quando toma conhecimento de comunidades prejudicadas pela força de grandes grupos econômicos. Em 2017, ela participou de um protesto contra uma obra de drenagem na parte interna do Complexo Industrial do Porto de Suape. De acordo com o projeto, o canal teria a profundidade de 9 metros e uma extensão de cerca de 1.000 metros, a fim de colocar o Porto de Suape dentro de padrões internacionais, o que permitiria o acesso de navios petroleiros e de minérios.
“Ali tinha bancos de mariscos que davam sustento a muitas famílias que moravam ali há várias gerações. Foi tudo removido”, conta Cristina. Esse relato mostra a importância do território ocupado por essas comunidades. É nesses espaços onde aprendem a manejar os recursos naturais de forma sustentável, apoiados nos ciclos naturais que influenciam as suas práticas produtivas, gerando um conhecimento amplo do ecossistema no qual se encontram. Ali também estão registrados fatos históricos que compõem sua história. O lugar onde vivem e os recursos existentes são partes intrínsecas de suas identidades.
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Comunidades tradicionais como os pescadores artesanais são vulneráveis às ações de grupos representantes de empreendimentos como portos, minerodutos e complexos industriais, interferindo diretamente nos seus modos de vida das comunidades já instaladas ali.
Pernambuco possui um litoral com 187 km de extensão, ocupando 2,3% de todo o litoral do Brasil. Essa relativamente pequena área é compensada com a forte presença de regiões estuarinas, como os manguezais e a Baía de Tamandaré. Esses locais são conhecidos pela presença de ecossistemas ricos, responsáveis por gerar alternativa de renda e alimento para milhares de pessoas.
Atualmente, existem 63 comunidades pesqueiras em Pernambuco, distribuídas em 11 municípios do litoral (São José da Coroa Grande, Rio Formoso, Sirinhaém, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista, Itapissuma e Goiana) e um do interior (Ibimirim).
FUTURO INCERTO
Em Itapissuma, Dona Odézia de Souza Cruz conhece muito bem a mudança de vida trazida pelo progresso. Nascida e crescida em meio às atividades pesqueiras do Canal de Santa Cruz, ela observa com apreensão um futuro que desenha a sutil transformação da cadeia produtiva da pesca artesanal do município, famoso pela caldeirada, receita consagrada no Brasil e nos quatro cantos do mundo.
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“É estranho. Seja de uma forma ou de outra, a pesca artesanal segue sem um incentivo de fato. Enquanto em muitos lugares o progresso vem e tira as pessoas do lugar onde vivem, aqui, a visibilidade trazida pelo pescado e pela gastronomia não foram suficientes para assegurar que a nossa atividade siga fortalecida. Eu fico muito feliz com o que foi construído em Itapissuma, principalmente por se tratar da pesca artesanal e da caldeirada. Isso nos deu condições de oferecer aos nossos jovens uma outra perspectiva de futuro. Por outro lado, tenho medo da gente perder isso que trazemos desde muito tempo.”
A preocupação de Odézia tem razão de existir: a nova geração de Itapissuma reconhece o valor de toda a conjuntura da pesca artesanal e da gastronomia que gira em torno do município, mas também sonha com voos para outras rotas. Sua filha Julia Odete, de 14 anos, tem um foco bem definido para o próprio futuro: quer ser médica, para atuar como papiloscopista da polícia civil. Ela acredita que a essência da cidade não irá se perder, se o poder público fizer a sua parte para valorizar quem atua neste segmento.
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“Sempre morei aqui em Itapissuma e sou muito orgulhosa da nossa cultura. Aliás, foi tudo isso aqui que nos deu condições de vislumbrar algo mais. Hoje os mais jovens podem escolher. Mas e quem escolher permanecer com a pesca e a cozinha? Eu acho que estas pessoas deveriam ser mais valorizadas, por que da pesca até à mesa dos clientes, é muito suor envolvido, moço.” 
FÉ E NATUREZA
Além da trajetória passada de pai para filho, as comunidades de pescadores têm em comum um forte laço com a espiritualidade, distribuída entre crenças diferentes, que se encontram na maré. “É comum termos devotos de São Pedro, para muitos o padroeiro dos pescadores, mas também tem Iemanjá, né?” diz Dona Dulce Porfirio, de 55 anos. Seu pai era pescador e ela lembra de escutado muitas histórias que envolviam acontecimentos misteriosos, como gente sendo salva de afogamento por uma luz no meio das águas turbulentas, ou uma chuva de peixes que o mar revolto trouxe para os barcos dos homens que desbravavam aquelas ondas em busca de seu sustento. “Como muitos falam, é o mistério. E esse mistério a gente apenas respeita, sabe? Se eu for falar pra você o tanto que minha família já foi agraciada por estas forças da natureza, iam me chamar de mentirosa, e eu não tenho mais idade pra ficar de conversê tentando convencer os outros, não.”
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Em Olinda, uma grande estátua da rainha do mar foi erguida na praia de Rio Doce, a mando do Babalorixá Eduim Barbosa da Silva, o Pai Edu, fundador do Palácio de Iemanjá, um dos mais conhecidos e respeitados centros de cultura de matriz afro-indígena brasileira, registrado como patrimônio cultural imaterial de Olinda. Pai Edu foi conhecido por sua incansável luta contra a intolerância religiosa durante toda a sua vida, tendo participado inclusive na elaboração de uma lei municipal que garante que os terreiros sigam com seus cultos sem a interferência externa às comunidades.
A estátua, feita de cimento e pedra pelos artistas plásticos Byll de Olinda e Ricardo Andrade, está localizada no encontro do Rio Paratibe com o mar, antes da ponte que dá acesso à praia do Janga, no município de Paulista. Ela foi erguida em 2001, sendo um dos mais belos monumentos dedicados ao povo de terreiro. “Eu acompanhei o feitio dela. No local que escolheram para erguê-la, havia outra menor, que foi vandalizada por gente preconceituosa, então, ficou acordado que outra maior e mais forte seria construída. Hoje ela faz parte do cenário de uma forma tal que muita gente acha que ela sempre existiu ali. Já faz parte dos nossos dias”, afirma Dona Dulce.
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Uma área de pedra que adentra as águas serve como o santuário da grande Iemanjá, com seu vestido azul turquesa e ornada com flores e elementos da vida marinha Com seus braços abertos e mirando o horizonte de seus domínios, ela atrai muitos devotos e admiradores, sendo parada obrigatória para quem visita a cidade. Seu tamanho permite que seja avistada de longe. Aos seus pés, uma canoa azul, simbolizando o respeito e devoção dos homens do mar. É bastante comum encontrar oferendas como rosas brancas, espelhos, pentes, água de cheiro e peixe assado com arroz.
Atualmente a estátua é mantida pela associação Amigos da Praia, que faz a manutenção da estátua, renovando sua pintura anualmente. O ponto alto dela se dá na primeira semana de dezembro, mais especificamente no dia 8 de dezembro, que em Pernambuco é dedicado à Nossa Senhora da Conceição, com quem Iemanjá é sincretizada no Brasil. “Esse sincretismo se dá por conta da perseguição sofrida pelo culto aos orixás há décadas atrás. Por conta disso, seus devotos faziam suas celebrações utilizando imagens de santos católicos. Assim como Nossa Senhora da Conceição era utilizada para representar Iemanjá, São Jerônimo e São João representavam Xangô, e por aí vai”, lembra Dona Dulce, que apesar de não ser iniciada no terreiro, tem um enorme respeito e carinho por Iemanjá e outros orixás. “Tenho muitos amigos que me abriram as portas desse mundo, e eu me apego com todos, eu só tenho a agradecer. Iemanjá é mãe, e essa palavra tem um significado tão forte… Iemanjá é mulher, é fertilidade, não é à toa que ela esteja tão presente na vida de quem tem o mar como sustento. Toda mãe dá de comer aos seus filhos. Iemanjá pra mim me faz lembrar família. Mesmo que não seja de sangue, mas nos reconhecer nos nossos, sabe? É isso que ela me faz sentir.
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Por conta disso, a dinâmica das comunidades tradicionais de pescadores no estado estão envoltas numa bonita harmonia entre senso de comunidade e do seu dever enquanto parte deste ciclo que é a vida. Experientes e sábios no que se refere ao calendário da vida, sabem como ninguém as épocas certas de buscar determinadas espécies, assim como desenvolvem ações de preservação junto a entidades e pesquisadores que se dedicam a perservar a natureza. “A gente detém um conhecimento aprendido na simplicidade e no dia-a-dia. Não temos palavras difíceis nem formalidades, mas muito do que sabemos os moços da ciência assinam embaixo. A gente tá aqui pra aprender e passar adiante, que nem as ondas do mar, que vivem nesse vai-e-vem, trocando energia com a gente”, conclui Dona Dulce.
Texto e Fotografia: Juliano da Hora
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sarahsouzabs · 5 years ago
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Tirar programa social para viabilizar Renda Brasil vai contra meio ambiente, dizem parlamentares a Guedes
Parlamentares disseram a Paulo Guedes (Economia) que seria ruim eliminar programas sociais, como o seguro-defeso, para financiar o Renda Brasil. O argumento é que a retirada pode aumentar as críticas de ambientalistas. O programa foi criado para evitar a pesca predatória. Leia mais (08/25/2020 - 23h15) Fonte do Artigo em Folha.uol.com.br Via Rss: Sarinhah Blogueira
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saibatudomt · 4 years ago
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Sema intensifica fiscalização contra pesca predatória em Cuiabá
Sema intensifica fiscalização contra pesca predatória em Cuiabá
A Equipe da Coordenadoria de Fiscalização de Flora (CFFL), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), intensificou a fiscalização no perímetro urbano do rio Cuiabá, na capital, para reprimir a pesca depredatória. O patrulhamento fluvial é realizado diariamente, com atenção especial para as pontes entre Cuiabá e Várzea Grande. Umas das regiões do perímetro urbano que tem recebido os…
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