Tumgik
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Vingança e punição
Acordei desnorteado, uma tontura que não me deixava focar a visão por um período que me pareceu a eternidade. Minha cabeça pulsava de dor. Tenho a impressão de ter tido pórres homéricos bem mais suaves do que essa dor latente.
Mesmo precariamente, pude discernir uma figura, um homem agachado usando uma solda MIG, vedando o que eram os batentes de uma porta de ferro, chumbando-a à parede. Ele se levantou, tirou a máscara de proteção e me sorriu diabolicamente, de uma maneira que me causou frio na espinha.
— Olha só quem acordou. — Disse o homem misterioso. — Seja bem-vindo ao seu túmulo.
— Quem é você? — Questionei.
— Não acredito que se esqueceu de mim. Tá falando sério mesmo? — Sua indignação parecia sincera.
Brusco e súbito, ele se ejetou em minha direção. Sua face ficou tão próxima a minha que pude sentir seu hálito de chorume preencher meus pulmões. Quase regurgitei.
— Olhe bem pra minha cara! — Seu olhar exprimia puro ódio.
Tive o impulso de erguer as mãos para impelí-lo, foi aí que percebi que estava amarrado a uma cadeira, braços e pernas.
— Eu sou seu maior pesadelo! — Completou. E isso me soou terrivelmente sincero também!
Aos poucos, fui elucidando onde estava e como estava. Vislumbrei meu filho amoado no canto do ambiente, sem amarras, mas, congelado num esgar assustado; roupas rasgadas ou, devo dizer, as poucas vestes em frangalhos.
— Bom, vamos começar: devo salientar que você será o último a morrer nesta sala, bem lentamente. — Começou o meu algoz. — Caso ainda não tenha reparado, selecionei algumas pessoas e às trouxe para cá.
— O que você fez com o meu filho, seu desgraçado?
— Nada de mais. Ele foi o primeiro que acordou e não parou quieto, então eu esperei um comprimido de viagra fazer efeito e abusei do moleque até satisfazer meu desejo. — Revelou, sadicamente, entre risadas. — Tudo enquanto você esteve aí, dormindo. No começo, ele tentava espernear e gritar por você, mas depois de algum tempo parou de reagir. Que sem graça!
— Você é um maldito doente! Eu vou te matar, desgraçado. Como você foi capaz de fazer isso com uma criança de 4 anos!!? Monstro!!! — Esbravejei.
— Concordo. Eu adoraria fazer isso com a sua mulher. — Caminhou até meu filho, que permanecia mudo. Sacou o seu órgão pra fora e urinou no menino. — Mas a gente se vira como pode.
O homem misterioso ignorou meus apelos, meus gritos de maldição, minhas ameaças. Agia cruelmente de maneira natural.
Após mijar no garoto sem reação, exprimiu descontentamento por ele não esboçar reflexo algum; agarrou-lhe pelo pescoço e colocou-o num tambor de ferro. Sacou do bolso um punhado generoso de pedras.
— Sabe o que é isso, não é?
— Não consigo enxergar direito. — Respondi, mas desconfiava e temia que fosse carbureto.
— Se não sabe, vai descobrir quando eu misturar com um pouco de água.
O carbureto é uma substância fácil de encontrar e se torna explosivo quando em contato com líquido, da sua explosão é emitido um gás tóxico.
O monstro, em forma de humano, jogou as pedras de carbureto no tambor, fechou a tampa batendo com uma marreta. Havia só um buraquinho na lateral que o desgraçado utilizou para jogar gasolina de um galão. Não demorou muito, a química reagiu e a explosão aconteceu. A tampa voou pelos ares, mas ele fez questão de colocá-la de volta.
— Eventualmente, ele vai morrer sufocado...
Grunhidos vieram detrás de mim. Talvez, o barulho da explosão tivesse acordado.
— Ora, ora, se não é ela! Ótimo que tenha acordado agora. — Ele virou minha cadeira para que eu pudesse vê-la. — Prontos? Lá vamos nós!
Minha namorada estava completamente nua, com os braços acorrentados a parede, semi consciente como se estivesse dopada ao máximo. A fraca iluminação permitiu-me ver que ela estava amordaçada e com vários hematomas pelo corpo.
— E então, chefe, olha só o que eu sei fazer! — Antes de terminar a frase, o homem já estava investindo com a marreta contra minha mulher. — Veja só como eu sei bater!!
Com algumas batidas, o braço dela estava destruído! Ela urrava de dor! Depois, ele passou para uma perna, marretando a partir da rótula do joelho. Seus ossos se expõem, sua carne explode a cada batida, sangue esguicha pra todo lado. Porém, ele não acerta em pontos vitais; mira somente aonde causa dor.
— E aí, o que acha? Está gostando? — Vez ou outra, ele se dirigia a mim enquanto continuava a sessão de tortura.
Sangue e pedaços dela por toda parte. Não havia mais sinal de vida. Meu desespero, meus gritos silenciaram. Só me restava esperar a minha hora. Já não ligava mais.
— Por quê está fazendo isso comigo?
— Com você? Tá vendo o seu egoísmo como é que é? Eu fiz isso com eles... Entretanto, de certa forma, você tem razão. Quero que sinta o que eu senti todo esse tempo. Observe. — Apontou para algo coberto por uma lona azul. — Surpresa!! — Disse ao mostrar o que estava oculto.
— Pai! — Exclamei, atônito.
Sentado numa cadeira de ferro igual a minha, desacordado. Desejei que já estivesse morto para que não sofresse como minha mulher e meu filho. E também para que eu não o visse sofrendo.
O homem despejou o que havia sobrado da gasolina no meu pai, o que o fez acordar aos poucos.
— Não vou deixá-lo preso. — Disse em posse de uma serra.
Começou a serrar a mão do meu velho. Sempre perguntando a mim se eu estava gostando. "Maldito doente!" Meu pai gemia, mas estava paralisado.
— Isso não vai ter muita graça. Vou terminar rápido. Droguei ele demais.
O verme insolente então tacou fogo. Em poucos minutos, meu progenitor virou uma tocha queimando. Ainda pude ver seu olhar mirando o meu, assustado, confuso e agonizante.
— Agora, o grã finale! — Disse, aproximando-se com uma seringa. Espetou-me. — Até mais.
Despertei novamente, estava no chão. Devagar, levantei. Os restos de meu pai e minha mulher estavam no mesmo lugar. Havia uma fogueira. O atormentado estava de pé, nú. Estava me observando mantendo seu sorriso diabólico.
— Fico triste por não lembrar quem sou. Pois bem, vou me apresentar. Eu sou o cara que trabalhava na sua empreiteira, o cara que veio de longe para tentar uma carreira... deve ter bastante gente assim na sua empresa, não?
De fato, muito vago. Pessoas vêm de tudo que é canto para tentar a vida na capital e acabam trabalhando em empreiteiras como a minha.
— Porém, eu sou diferente. Eu morava com a minha esposa perto da obra que estava trabalhando. Você não me dava sossego. Eu lembro bem que você cobiçava minha mulher quando ela aparecia para me entregar marmita e eu engolia a seco para manter o emprego. Um dia qualquer, sem explicação, você mandou me despedir. Eu fui perguntar o porquê e você disse que eu era inexperiente, que não sabia usar as ferramentas. Tu disse que eu era preguiçoso, que demorava para realizar as tarefas e fazia tudo errado!
— Olha, cara, eu não faço as contratações nem as demissões. Sou somente um mestre de obras... — Tentei dialogar.
— Cala a boca — ele me cortou. — Ainda não acabei! Sei que em casa, sem emprego, as coisas começaram a piorar. Minha mulher deixou de me amar. Eventualmente, ela me deixou. Um tempo depois, descobri que ela começou a se envolver com outro. Enfim, esse outro é você.
— Olhe bem, como assim?! Não... — Realmente, lembrei. Mas não foi como ele diz, nem lembrava que ela era casada. Até terminei meu casamento anterior para ficar com ela. — As coisas acontecem... Digo, todos nós passamos por coisas na vida e temos que seguir em frente. Acho que...
— Você não tem o direito de achar nada. Apenas ouça. Você me trouxe muita dor. Agora é sua vez de sofrer. Viu? Eu fiz tudo certinho, um verdadeiro profissional. Você tirou a minha chance de ser feliz. Já era! Estou decidido, sua dor vai ser pior que a minha. Destruí todas às possibilidades de saída, todas as ferramentas foram reduzidas a pó também.
— O que você quer de mim?
— Vingança. O que é justo a mim. Eu te disse que tu seria o último a morrer, cumprirei minha palavra.
Ele pegou um revolver e encostou à têmpora.
— Vejo você no inferno! — Foram suas últimas palavras.
Fiquei só, numa sala com diversos cadáveres, sem nem ter como tentar um suicídio depois de assistir todos que amo sucumbir. Minha maior punição.
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