#antonio manuel hespanha

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As manifestações de escândalo são frequentes. Logo nos finais do século XVI, Linschoten, De Coutre e Pyrard de Laval traçavam, entre divertidos e espantados, um retrato de devassidão da vida em Goa, embora atribuíssem parte das responsabilidades à lubricidade das mulheres indianas.

Filhos da terra p. 223

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A obsessão pelas mulheres é uma constante caracterização dos portugueses. Na verdade, isso correspondia a uma situação objectiva de jovens adultos em meios pouco rigoristas quanto a questões de costumes.

Filhos da terra p. 222

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Soltos na Índia ou mais além, estes portugueses não tinham a fama de morigerar os seus impulsos eróticos. Pelo contrário. Parece que os caracterizava a tendência para procurar mulheres nativas para companheiras ocasionais ou mais permanentes e até para esposas.

Filhos da terra p. 222

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Os cristãos escondidos (kakure Kirishitan) foram-se transformando pouco a pouco numa seita que, quando o cristianismo voltou a ser autorizado, aceitou mal os novos responsáveis eclesiásticos , que não correspondiam à sua memória da religião cristã.

Filhos da Terra p.207

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Uma vez que o preconceito europeu em relação aos chineses era menor que em relação a populações negras, os casamento de portugueses com chinesas era comum, existindo também casamentos de portuguesas com chineses.

Filhos da terra p.203

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Com ida e volta e escalas para comerciar e esperar o bom tempo, a viagem Goa-Macau-Nagasaqui, demorava em média dois anos. Desde 1550, a viagem era monopólio da coroa, que nomeava anualmente o seu capitão. Mas o cargo era vendido ou até leiloado, pelo que caia no âmbito do comércio privado, salvos os impostos pagos à coroa.

Filhos da terra p.199

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Este carácter privado da presença dos portugueses é uma característica do estabelecimento de Macau. O solo é chinês, cedido para se construir precariamente. (...) E as águas ribeirinhas são chinesas e assim permaneceram até 1999, pois Macau apresenta a característica bizarra de não ter águas territoriais, crescendo ou diminuindo o chão português ao ritmos das marés (...)

Filhos da Terra, p. 198/199

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Filhos da Terra, identidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa

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Macau aparece desde o início como um estabelecimento de privados na costa da China, jogando com a sua situação marginal em relação aos dois impérios e aliando-se a outras forças periféricas, desde os piratas woku aos resistentes Ming até à nova administração manchu.

Filhos da Terra p. 195

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O embaixador Pero Vaz de Siqueira, que visitou Ayutthaya nos finais do século XVII, dá-se conta desta situação de completa dependência do favor do monarca siamês, que trataria os portugueses como gado, chamando-lhes negros e castigando-os como se fossem seus escravos.

Filhos da Terra p.185

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No bandel, falava-se um crioulo português de que ainda há vestígios. A sua população era muito misturada. Uma tal Maria Guiomar de Pinha, que em 1684 vivia no bairro japonês, era filha de um casal meio preto, meio bengali, meio japonês, relacionada com uma das famílias da elite do campo português, onde tinham uma das melhores casas.

Filhos da Terra p.183

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Por exemplo, a líbido lusitana (Charles Boxer), essa promiscuidade que teria caracterizado os portugueses nos trópicos, era asperamente condenada pelos religiosos, que se escandalizam com a quantidade de mulheres usadas pelos portugueses, tanto como com o facto de os portugueses viverem com muçulmanas, uma calamidade observada por outro religioso em Macassar. Também as relações entre missionários e mercadores ou mesmo chefes militares raramente eram as de franco e mútuo apoio.

Filhos da terra p.177

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Como podemos caracterizar, em síntese, a relação dos portugueses de Timor com o império formal? Por um lado, verifica-se que, desde o século XVII até ao século XX, a principal resistência que a coroa portuguesa encontrou para estabelecer no Mar de Timor não foi a dos seus concorrentes europeus - os holandeses, nem a dos regulatos puramente indígenas - , mas a deste grupo mestiço, tantos quando se aliava aos outros adversários, como quando actuava sozinho.

Filhos da Terra p.174

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Uma expedição dos portugueses pretos de Larantuca cercou os portugueses brancos de Lifau e, com apoio de tropas nativas, manteve-os numa situação desesperada até 1705, data da fuga do candidato a governador Coelho e sua substituição por um novo, Lourenço Lopes.

Filhos da Terra p. 172

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Pelos finais do século XVII, os larantuqueiros formaram um reino, dirigido pelo capitão-mor, que resistiu às tentativas de controlo por Goa, celebrando acordos com o sliurais indígenas e captando s boas graças dos holandeses.

Filhos da Terra p.174