#Ricardo Ramalho
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postersdecinema · 7 months ago
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As Noites de Cabiria
I, F, 1957
Federico Fellini
9/10
Fatalismo Otimista
As noites de Cabiria, de 1957, é o último filme do período neo-realista de Fellini e também, conjuntamente com La Strada, de 1954, uma das suas obras primas, não só deste período mas de toda a sua carreira. O próximo filme do realizador seria La Dolce Vita, três anos depois, e com ele começaria uma nova fase da sua obra, que poderíamos classificar como integrada na "nova vaga" do cinema italiano, onde o simbolismo, a metáfora e uma boa dose de existencialismo, passariam a integrar, de forma crescente, o cinema de Fellini.
Mas aqui, em 1957, quando a "nouvelle vague" já começava a despontar em França (La Pointe-Curte, de 1955 e de Agnès Varda, é geralmente apontado como o primeiro filme desta corrente), Fellini e Antonioni, que neste mesmo ano estreou O Grito, ainda navegavam, manifestamente, por águas neo-realistas. Mas de forma brilhante.
As Noites de Cabiria é uma obra prima do neo-realismo, mesmo tardia, e tal foi amplamente reconhecido na época, com inúmeros prémios, Óscar de melhor filme estrangeiro, prémio de melhor atriz em Cannes para Giulietta Massina, prémio Zulueta em San Sebastian, entre muitos outros prémios e nomeações, nacionais e estrangeiros. Mas é igualmente reconhecido pela posteridade, que coloca invariavelmente esta obra entre as melhores do realizador italiano.
De facto, tal como em La Strada, Fellini tira partido do caráter tragicómico do personagem interpretado por Giulietta Massina, para acentuar o caráter dramático, mas ao mesmo tempo absurdo, da vida. Esta Itália do pós-guerra neo-realista era um inferno na terra, em que a luta pela sobrevivência tornava qualquer cordeiro num leão, capaz das maiores atrocidades, por um punhado de liras. E, no entanto, bastava um acordeão, uma dança, um copo de vinho, para reconciliar o mais desafortunado com a vida e dar-lhe forças para continuar a lutar.
Nestas condições extremas, não há espaço para dramas psicológicos, a vida é simples e impulsiva, viver ou morrer, sobreviver a todo o custo, ou morrer de fome, sem olhar a meios.
Essa amoralidade da luta pela sobrevivência, associada à simplicidade com que se aceita a fatalidade da vida e os pequenos prazeres que ela proporciona, mesmo no meio da miséria, fazem destas obras um monumento ao humanismo e ao otimismo, que teima em olhar sempre o lado positivo da vida, mesmo no meio da desilusão e da desgraça.
Um hino ao amor pela vida.
Optimistic Fatalism
The Nights of Cabiria, from 1957, is the last film of Fellini's neo-realist period and also, together with La Strada, from 1954, one of his masterpieces, not only from this period but from his entire career. The director's next film would be La Dolce Vita, three years later, and with it a new phase of his work would begin, which we could classify as integrated into the "new wave" of Italian cinema, where symbolism, metaphor and a good dose of existentialism, would increasingly become part of Fellini's cinema.
But here, in 1957, when the "nouvelle vague" was already beginning to emerge in France (La Pointe-Curte, from 1955, by Agnès Varda, is generally considered the first film of this current), Fellini and Antonioni, who in that same year premiered The Scream, were still clearly navigating neo-realist waters. But brilliantly.
The Nights of Cabiria is a masterpiece of neo-realism, even late, and this was widely recognized at the time, with numerous awards, Oscar for best foreign film, best actress award at Cannes for Giulietta Massina, Zulueta award in San Sebastian, among many other awards and nominations, national and foreign. But it is equally recognized by posterity, who invariably places this work among the Italian director's best.
In fact, as in La Strada, Fellini takes advantage of the tragicomic nature of the character played by Giulietta Massina, to accentuate the dramatic, but at the same time absurd, nature of life. This neo-realist italian post-war was a hell on earth, in which the fight for survival turned any lamb into a lion, capable of the greatest atrocities, for a handful of lire. And yet, all it took was an accordion, a dance, a glass of wine, to reconcile the most unfortunate with life and give them the strength to continue fighting.
In these extreme conditions, there is no room for psychological dramas, life is simple and impulsive, live or die, survive at all costs, or die of hunger, regardless of the means.
This amorality of the struggle for survival, associated with the simplicity with which the fatality of life is accepted and the small pleasures it provides, even in the midst of misery, make these works a monument to humanism and optimism, which insists on always looking to the positive side of life, even in the midst of disappointment and misfortune.
A hymn to the love of life.
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ricardoramalhopoemas · 6 months ago
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Solidão
Sozinho, ao balcão,
num bar, quase deserto,
sem sentido, nem razão,
nem dormindo, nem desperto.
Tenho um copo de cerveja
pousado, na minha frente,
que não enche, nem despeja,
está ali, apenas, jacente.
Não foi a sede, que me levou,
a este sujo balcão triste.
Foi a solidão, quem convidou,
e a solitude, quem me assiste.
Na humana condição
há dias como este, turvos,
em que a vital decepção
nos obriga a atos absurdos.
Beber cerveja, para esquecer
o que não podemos alegrar.
Uma esperança vã, a nascer,
para, mais depressa, azedar.
Triste sina é a solidão,
que nos tira o sono e a vida.
Lança-nos à tentação
de uma fugaz despedida.
14 de Outubro de 2024
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considerandos · 10 months ago
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Sexo Bolchevista
Muito para além do escândalo e do romance rosa, cor com que por vezes o pintam, O Amante de Lady Chatterley, clássico escrito por D.H. Lawrence, no final da década de vinte do mesmo século, revela uma forte crítica social, própria de uma época de profundas transformações e de experimentalismo político, artístico e literário.
É um mundo em crise, e muito particularmente uma Inglaterra decadente e suja, do final da revolução industrial, que Lawrence satiriza, através de uma relação escandalosa e sensual, que provoca o leitor seu contemporâneo, muito mais pela diferença de estatuto social dos amantes, do que pelo adultério, propriamente dito, por mais descritivo e erótico que pudesse parecer às moralidades hipócritas e púdicas de então, como às de agora.
Há apenas uma concessão que me intriga, no contexto da ousadia geral da obra, a ideia de fazer de Lady Chatterley uma burguesa, que ascende à aristocracia pelo casamento, e de Mellors, um guarda de caça que regressa às origens, após ter ascendido à classe média no exército, chegando a exercer o posto de tenente, na Índia.
Sob o ponto de vista da crítica social pura, seria bem mais provocador fazer uma aristocrata de sangue ceder às tentações sensuais de um vulgar rústico ou proletário. Mas Lawrence terá talvez pensado que seria esticar demasiado a corda, que esta relação já seria suficientemente escandalosa para a mentalidade da época e que, afastando ainda mais as origens sociais do casal, tornaria a paixão inverosímil. No entanto, eu atrevo-me a referir que não foi pelas lindas histórias da Índia colonial de Mellors que Lady Chatterley se apaixonou, mas sim pela enorme satisfação sexual que encontrou na sua cama e que não encontrou, não apenas no marido, entrevado de guerra, como nos seus amigos aristocratas ou burgueses, como Michaelis. Por isso tanto podia ser tenente como soldado raso...
Mas também é possível que a intenção de Lawrence fosse outra, a de exaltar uma classe média emergente, de gente que sobe e desce na rígida estrutura social britânica (ele próprio era um híbrido, filho de mineiro que ascendeu ao magistério) sem que isso defina verdadeiramente a sua condição. Uma crítica à aristocracia decrépita e vazia, por oposição a uma classe média que cresce e ganha importância na sociedade britânica, fruto dos seus méritos próprios e apesar dos preconceitos vigentes.
Na verdade, há todo um sentimento revolucionário subjacente à obra, que passa pelo nome de bolchevismo, na boca dos seus personagens, um termo muito em voga na época, em que decorria ainda a guerra civil na Rússia. Mas este bolchevismo de Lawrence não remete diretamente para Lenine e para os seus partidários, para a luta entre brancos e vermelhos ou para a sovietização progressiva da Rússia, num momento em que a vitória dos vermelhos já parecia perfeitamente previsível. Aponta muito mais para a necessidade de ruptura na ordem social vigente, para a decadência do modelo capitalista tradicional, que Lawrence critica exaustivamente. Desde o mais anónimo mineiro até ao Príncipe de Gales, todos vivem para ganhar e gastar dinheiro, modelo vazio de princípios, que ele quer substituir por um novo, social e humanista, que, provocante ou inocentemente, baseia no amor e no sexo.
Os tempos eram de mudança, entre bolchevistas e fascistas, o mundo virava a página da revolução industrial e abria as portas ao desconhecido, que Mellors, num pressentimento acertado, temia ser terrivel. Lawrence não chegou a viver o terror do nazismo, do estalinismo e da segunda guerra mundial, pois morreu tuberculoso, em 1930, apenas com 44 anos de idade. Mas o fantasma da destruição, de uma sociedade à beira do abismo, está bem patente na obra, demonstrando que o mal estava latente nos anos vinte e que profundas e violentas mudanças sociais se anunciavam.
A tentação e, sobretudo, a satisfação sexual, servem aqui de metáfora para a demolição dos preconceitos que amarram uma ordem social decadente e vazia. É preciso confrontar a sociedade caduca com os seus medos, para que se desmorone sozinha.
Um século depois, desprovida do erotismo e escândalo social, que tanto chocou os seus contemporâneos, talvez propositadamente, porque na altura, como agora, o sexo vende, fica a crítica social, pertinente, perspicaz e, até certo ponto, visionária da obra de Lawrence.
Pontuada, é certo, com algumas notas de inocência, que só lhe acentuam o charme e tornam o livro, ainda e sempre, um prazer para o leitor.
4 de Junho de 2014
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rijogo · 26 days ago
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São Lourenço, Mafra
Março 2025
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fotoortografias · 2 months ago
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A Morte de Um Editor
Quem se dá ao trabalho de ler um livro, hoje em dia? As notícias, as histórias, os comentários, os boatos, entram-nos pelos olhos e ouvidos adentro, a toda a hora, pela televisão, pelas redes sociais, pela velha rádio, que ainda mexe com a imaginação de alguns, em conversas banais e quotidianas, que substituem as que se não tem em casa, ou com os amigos.
A leitura deixou de ser um prazer, a menos que cumpra os requisitos de um qualquer programa televisivo ou filme de Hollywood. Tem que ter ação alucinante, sexo desenfreado, violência gratuita, psicopatas à solta, pelas ruas negras da imaginação doentia dos leitores.
R. escrevia contos tristes, mas com um toque poético. Ele gostava de escrever, sentia-se feliz por verter, por escrito, narrativas fantasiosas, que lhe soavam como versos surreais, nascidos em sonhos, dormidos ou acordados.
Mas se os apresentava a algum editor, a resposta era sempre a mesma. Onde estava a paixão, o sangue, o ardor que quebra a banalidade das vidas e preenche os sonhos e os pesadelos dos outros? Quem quer hoje ler sobre as frustrações e depressões alheias? A quem interessa um toque de poesia, nas suas vidas correntes e recorrentes, de azáfamas, invejas e ambições, consumos desenfreados e competições infindas?
Era preciso alinhar a escrita com os interesses dos leitores, dar-lhe aquilo que eles queriam ler, paixões, terrores, crimes, triunfos sobre a banalidade da vida, ou derrotas estrondosas, que os fizessem sentir bem com a sua impotência.
O escritor tinha que conseguir extrair da vida a adrenalina que faltava aos que lêem os seus livros. Levá-los num carrossel de emoções, numa montanha russa de pesadelos, num reality show de vida e de morte. Sem essa vitalidade, esse calafrio, que percorre a espinha e faz virar avidamente as páginas, em busca de mais uma orgia emotiva, um medo doentio ou uma alegria contagiante, não vale a pena escrever. Ninguém lê.
Longe vão os tempos das aventuras, dos amores, das viagens, da poesia. Agora o leitor quer sexo, humilhação, medo, violência gratuita. Quer usufruir de um livro que lhe proporcione uma dose de adrenalina, superior a um filme de terror, a uma série de suspense, a um jogo de vídeo, pleno de sangue e de cabeças cortadas.
Os pensamentos, as reflexões, as nostalgias, são para consumo de meia dúzia de alucinados, que vivem no mundo do faz de conta e não no ritmo frenético da atualidade. Não há mercado para esses produtos, fora de validade. Leiam os clássicos, se quiserem, que estão recheados de virtudes e moralidades caducas. Quem quiser vender livros, tem que verter sangue!
Ao ouvir estes conselhos, de mais um editor que recusava o seu trabalho, R. teve a ideia mais luminosa da sua carreira. Pegou num pisa papéis, que estava em cima da secretária, e agrediu brutalmente o editor, sobretudo na cabeça, ao ponto de lhe desfazer o crânio. O sangue e a massa encefálica escorriam-lhe pelo corpo inerte e deixaram R. completamente salpicado, de morte e de inspiração.
Fugiu rapidamente, perante o espanto geral de quem o via naquela figura, coberto de sangue, sem compreenderem o que tinha acabado de suceder. Quando finalmente alguém descobriu o cadáver do editor, com a crânio desfeito, já R. tinha deixado o edifício e buscado refúgio em parte incerta.
O alarme soou e iniciou-se uma busca incessante pelo criminoso. Mas R. não regressou a casa, nem buscou refúgio junto de nenhum familiar ou amigo, nem tentou fugir de avião, ou de comboio, ou de autocarro. O seu carro estava no sítio habitual, sem que ninguém lhe tocasse há semanas. R. desaparecera quase por encanto e por mais iniciativas da polícia, anúncios televisivos com a foto do fugitivo, acusações recíprocas de incompetência, entre as autoridades criminais, o assassino não dava sinal de vida.
Na verdade, R. estava encerrado num quarto anónimo, que sabia desocupado, dedicado à tarefa obsessiva de escrever. Sobreviveu com dificuldade, reduzido a uma dieta frugal, feita de tudo o que conseguiu encontrar, no seu esconderijo, passível de ser consumido para fins de sobrevivência. Tinha água e meios para escrever, bolachas, algumas conservas, massas, arroz, enfim, tudo bem racionado, dava para sobreviver algumas semanas, ainda que perdendo uns quilos de peso.
Mas foi o suficiente para escrever a sua história. "A morte de um editor", onde relatava os esforços insistentes, que tinha empreendido, para escrever as mais belas memórias biográficas, carregadas de ironia e poesia, a forma como as mesmas foram recusadas, impiedosamente, por sucessivos editores, os conselhos destes para obter o sucesso junto do público atual, a forma bárbara como assassinou o último deles, no seu próprio gabinete, desfazendo-lhe o crânio com um pisa papéis e finalmente, a história da sua reclusão, durante mais de um mês, em condições de frágil sobrevivência, oculto da intensa perseguição policial que lhe era movida.
Quando achou que a história estava completa e suficientemente sangrenta para interessar uma editora, assinou-a a sangue e saiu, finalmente, com grandes dificuldades, dirigindo-se aos correios e enviando o manuscrito para a editora.
De seguida, entregou-se, exausto e mal nutrido, às autoridades, tornando-se, de imediato, o assunto do momento, tal como o manuscrito por ele enviado à editora, onde contava, detalhadamente, todos os pormenores do crime, das suas motivações e do mês de reclusão que passou a escrever.
O caso chocante encheu os jornais, as televisões, as rádios, ultrapassou fronteiras e fez de R. uma celebridade mundial.
Com tamanha publicidade, a editora não resistiu a publicar o manuscrito, com a macabra história da morte do seu próprio editor. Foi um tremendo sucesso, rapidamente traduzido para dezenas de línguas e alcançando o top de vendas em vários países.
Entretanto R., enquanto aguardava julgamento, dedicou-se à escrita de novo livro, no qual relatava detalhadamente todos os momentos do processo, desde que se entregou à polícia, até que foi finalmente julgado e condenado a vinte anos de prisão, pelo crime de homicídio qualificado do editor.
Também este livro foi um sucesso. Os leitores, chocados com o crime violento e a forma minuciosa como foi descrito por R. no seu anterior best-seller, queriam conhecer todos os detalhes do processo criminal, de que ouviam falar, recorrentemente, na televisão e nas redes sociais, contados na primeira pessoa, pelo próprio homicida condenado. Desde os interrogatórios, às varias prisões por onde passou, sem esconder os mais macabros pormenores da experiência, até ao julgamento e à sentença, as conversas com o advogado de defesa, com os outros presidiários, com os guardas prisionais, até com os jornalistas que, insistentemente, o visitavam na prisão, em busca de mais detalhes exóticos do crime e do processo.
O segundo manuscrito deu entrada na mesma editora e vendeu-se quase tão bem como o relato do crime. O assunto não deixava de despertar o interesse dos leitores e a editora encarregava-se de promover diligentemente o seu produto, com conferências de imprensa, críticas nos jornais, debates televisivos. Decididamente, o caso do escritor que assassinou, barbaramente, um editor, apenas para arranjar um tema para uma obra de sucesso, apaixonava toda a gente: os leitores, os jornalistas, os comentadores televisivos, os sociólogos, os psicólogos, os políticos, os outros escritores. Gente que nunca tinha lido um livro na vida, foi comprar um exemplar da "Morte de um Editor", só para conhecer, pela mão do próprio assassino, todos os pormenores doentios do crime e poder exprimir uma opinião fundamentada, sobre o tema que apaixonava a opinião pública.
Os lucros, dos milhões de exemplares vendidos, fizeram de R. um homem rico, que nem sequer foi condenado a pagar qualquer indemnização, pelo crime cometido, porque o editor era um homem solitário e sem família, pelo que ninguém reclamou danos patrimoniais ou morais, decorrentes da sua morte.
O dinheiro foi lentamente avolumando, na conta bancária de R., enquanto este cumpria a pena.
Ainda escreveu mais um volume, dedicado ao longo período passado na prisão e aos efeitos psicológicos que sofreu, em consequência do crime e da sua enorme mediatização, o qual foi sugerido pela editora e escrito, a meias, com um reputado psicólogo, apaixonado pelo caso. Também este volume foi um sucesso assinalável, embora menor que os anteriores. O tema começava a perder interesse para o grande público e a tecnicidade deste terceiro volume sobre o crime, tornava-o apetecível apenas para uma faixa mais específica de leitores, constituída por juristas, psicólogos, sociólogos, criminologistas e estudantes destas matérias. Ainda assim, motivou acesos debates na imprensa e televisão, embora já despidos do sensacionalismo dos dois primeiros volumes. Do escândalo, passou-se gradualmente ao estudo do caso e o debate subiu, das ruas, para as universidades e para a bibliografia especializada.
Por bom comportamento e um relatório psicológico favorável, R. saiu da cadeia, em liberdade condicional, após doze anos de pena cumprida, para encontrar a sua conta bancária recheada de vários milhões de euros e uma agenda interminável de entrevistas, seminários, colóquios e debates televisivos.
Continuou a escrever livros sobre a sua experiência pessoal, que não tinham qualquer dificuldade em arranjar editor e vendiam suficientemente bem para alimentar um interesse moderado do público e da comunicação social. R. era uma celebridade e, nessa condição, foi convidado a participar em reality shows e até para se candidatar a um cargo político, por parte de um partido populista, desejoso de capitalizar, em votos, a notoriedade do candidato.
A sua história era tão famosa, em todo o mundo, que originou vários exemplos de mimetismo. Pelo menos três escritores, em outros tantos países diferentes, foram condenados pelo homicídio ou tentativa de homicídio, de editores, originando assim um estilo literário de sucesso, que proliferava, a ponto de vários governos terem proposto, com sucesso, a criação de um novo tipo legal de crime, destinado a punir, de forma agravada, os crimes de homicídio, mesmo sob a forma tentada, quando praticados com fins publicitários ou de promoção de obras literárias ou artísticas. Estranhamente, passou a ser punido de forma mais gravosa o homicídio gratuito, para fins de publicidade pessoal ou do trabalho do autor, do que o cometido com um móbil mais tradicional, como o roubo, a extorsão, ou a vingança entre membros de associações criminosas.
Consequência lógica, em tempos deformados pela informação massificada e sensacionalista.
2 de Fevereiro de 2025
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lokalokas · 6 months ago
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O PESO
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O PESO foi uma banda de rock brasileira formada em Fortaleza em 1971. Em 1971, os cearenses Luiz Carlos Porto e seu parceiro Antônio Fernando Vale, o Gordo, fundaram um grupo ao qual chamaram de Grupo Peso ou O Peso para tocar no III Festival Nordestino da Música Popular, em Fortaleza. A apresentação rendeu convites para shows por todo o Nordeste. Procurando evoluir com a carreira, ambos se inscreveram no VII Festival Internacional da Canção (FIC) com a música "O Pente" e conseguiram chegar na fase classificatória que aconteceria em setembro daquele ano no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e seria transmitida pela Rede Globo para todo o país. A canção era um rock de raízes stonianas, bastante suingado e que falava sobre o uso de um pente para fechar um baseado. Mesmo não conseguindo a classificação para a fase final nacional, conseguiram participar do LP oficial do festival “Os Grandes Sucessos do FIC 72”, lançado pela gravadora Phonogram e também, ter sua canção lançada em um compacto pela mesma gravadora, só que pelo selo Polydor. Após o evento, Luiz C. Porto manteve contatos com diversos músicos da cidade. Luiz C. Porto e Antônio Fernando retornaram à Fortaleza e tentaram em vão continuar o projeto. Nos anos seguintes, Antônio Fernando desistiu da carreira e retornou ao nordeste, e Luiz C. Porto continuou tentando montar uma banda para seguir com a sua carreira. No final de 1974, Luiz C. Porto conheceu Gabriel O'Meara, guitarrista norte-americano radicado no Brasil e que havia acompanhado Gal Costa em shows em 1971. Juntos, passaram a acompanhar Zé Ramalho nos seus shows na Urca e, graças aos contatos de O'Meara, conseguiram um contrato com a Phonogram para lançar um disco. Além de Gabriel O'Meara e Luiz C. Porto também faziam parte da banda Constant Papineau (piano), Carlos Scart (baixo) e Geraldo D'arbilly (bateria). Como novos contratados da gravadora, se apresentaram na primeira edição do Hollywood Rock, em janeiro de 1975. O evento seria registrado no documentário Ritmo Alucinante e renderia o lançamento de um falso álbum ao vivo em 31 de março do mesmo ano. A banda realizou também uma turnê nacional a partir daquele mês. Em julho, chegou às lojas o disco “Em Busca do Tempo Perdido”, álbum de estreia da banda lançado pelo selo Polydor. Para promover o disco, foi lançado também um compacto simples com as músicas "Sou Louco por Você" e "Me Chama de Amor". O álbum mesclava blues, hard rock e R&B, com nítidas influências do Led Zeppelin. O disco teve baixa repercussão de público e crítica. A banda ficou mais conhecida na época por suas apresentações ao vivo. Após passar dificuldades financeiras e locais reduzidos para shows de rock, O Peso encerrou suas atividades em 1977, com Gabriel O'Meara tornando-se músico de estúdio e produtor musical e Luiz C. Porto saindo em carreira solo. Em 1983, Luís Carlos Porto lançou um álbum solo homônimo. O disco foi produzido por Marcelo Sussekind, guitarrista da banda Herva Doce. Em 1984, com a nova onda do rock no Brasil, O Peso retornou às atividades, mas apenas com Luiz C. Porto da formação original. Completava a banda Ricardo Almeida nas guitarras, George Gordo no baixo e Carlinhos Graça na bateria. Nesse período, o grupo fez shows tocando seu antigo repertório e não lançou novos discos. Em 1986, depois de um show em Fortaleza, o vocalista Luiz C. Porto terminou se envolvendo em um acidente grave de moto, passando a ter que conviver com esquizofrenia e sendo obrigado a deixar os palcos. A banda parou as atividades no mesmo ano. Os problemas de saúde de Luiz Carlos Porto, que mora a muitos anos em Fortaleza, impediu uma reunião comemorativa do cultuado álbum que completou 40 anos do lançamento em 2015. Membros: Luiz Carlos Porto - vocais | Gabriel O'Meara - guitarra | Constant Papineau - piano, teclado | Carlos Scart - baixo | Geraldo D'arbilly - bateria | Convidado: Zé da Gaita - gaita.
Bandas de rock relíquias
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capitalflutuante · 1 year ago
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  No mundo inteiro, observa-se uma onda de investimentos na produção do biometano, também denominado gás natural renovável (GNR). O aproveitamento do biometano é visto cada vez mais como essencial para o alcance das chamadas emissões líquidas zero, de gases de efeito estufa (GEE), até 2050. As previsões indicam que o Brasil, que detém um grande potencial de produção, deve se tornar um dos cinco maiores produtores nos próximos anos.   Gerado a partir de resíduos orgânicos, sejam urbanos, industriais ou agropecuários, o biometano traz respostas para três grandes problemas da sociedade moderna:   A dificuldade de tratamento adequado desses resíduos; A emissão de metano decorrente de sua decomposição natural; A produção de energia renovável, aderente à ideia de economia circular.   Sua competitividade, no entanto, dependerá de fatores externos a sua cadeia produtiva, principalmente do preço do gás natural e da precificação de carbono emitido a partir de sua queima, bem como dos esforços de contenção das emissões antropogênicas de metano. O biometano tende a se tornar uma importante fonte primária de energia no futuro próximo, à medida que seu uso em escala for sendo viabilizado pela agenda climática, com as adequadas políticas e investimentos necessários à contenção das emissões.   No Brasil, há potencial de aproveitamento de biomassa dos setores agropecuário (maior emissor de metano no país), sucroalcooleiro e agroindustrial para produção econômica de biometano. Também é muito significativo o potencial do setor de resíduos (segundo maior emissor de metano), que vive um esperado momento de transição com a vigência do novo marco regulatório do saneamento.   No texto para discussão 159, A hora do biometano no Brasil, os autores Cássio Adriano Nunes Teixeira, Ricardo Cunha da Costa, André Pompeo do Amaral Mendes e Marco Aurélio Ramalho Rocio, apresentam um panorama sobre a produção e usos do biometano no Brasil e no mundo, abordando aspectos como: tecnologia para produção, custos, regulamentação brasileira, oportunidades, barreiras e propostas para o desenvolvimento do mercado no Brasil.   > Baixe aqui o estudo.      Conteúdos relacionados:   Tecnologias veiculares e combustíveis para o futuro da mobilidade Os biocombustíveis e a transição para o setor de transportes de baixo carbono Novo marco legal do saneamento e atuação do BNDES(function(d, s, id) var js, fjs = d.getElementsByTagName(s)[0]; if (d.getElementById(id)) return; js = d.createElement(s); js.id = id; js.src="https://connect.facebook.net/pt_BR/sdk.js#xfbml=1&version=v2.12"; fjs.parentNode.insertBefore(js, fjs); (document, 'script', 'facebook-jssdk')); Link da matéria
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motorsportverso · 1 year ago
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Resultado Baja Porto Alegre 500 2023
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Top 10
1-202-João Ferreira\Filipi Palmero-Mini Cooper T1+-X-RAID MINI-T1+-4:54:16.3
2-201-Yazeed Al Rajhi\Timo Gottshalk-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+- 4:56:37.9
3-304-José Dias\João Miranda-Can-am Maverick X3-T3-4:56:55.4
4-307-Armindo Araujo\Luis Ramalho-Can-am Maverick X3-T3- 4:57:29.3
5-200-Nasser All Attyah\Matheu Baumel-Prodrive Hunter T1+-Nasser Racing\Prodrive-T1+- 4:58:42.8
6-333-Adam Thomelius\Oscar Andersson-Can-am Maverick X3-T3-5:00:30.4
7-214-Miguel Barbosa\Paulo Fiuza-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+-5:01:58.8
8-309-Matias Ekstrom\François Cazalet-Can-am Maverick X3-T3-South Racing-5:04:54.6
9-400-Cristino Batista\Robledo Nicoletti-Can-am Maverick X3-T4-South Racing-5:07:36.2
10-313-Pedro Carvalho\Romeu Martins-Can-am Maverick X3-T3-5:08:07.5
Campeonato Portugues
1-608-Ricardo Souza\Jorge Brandão-Can-am Maverick X3-T3-3:30:42.8
2-613-José Nogueira\Fernando Miguel-Can-am Maverick X3-T3-3:35:16.1
3-647-Marco Cardoso-Can-am Maverick X3-T3- 3:36:59.7
4-645-Nuno Matos\Ricardo Claro-Opel Mokka Proto-T8-3:39:30.5
5-610-Alexandre Cardoso\Jaime Cortes-Can-am Maverick X3-T3-3:40:52.6
6-618-Nuno Tordo\Filipi Salgueiro-Nissan Navara-T8-3:41:02.2
7-612-Antonio Carvalho\Diego Gomes-Can-am Maverick X3-T3-3:42:29.1
8-649-Sergio Vitorino\Sergio Cerveira-Can-am Maverick X3-T3-3:43:11.1
9-620-Joel Marrazes\José Motaco-Nissan Navara-T8
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pacosemnoticias · 2 years ago
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Estudo da Faculdade de Medicina do Porto revela como eliminar "superfungo"
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) demonstra que o peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, é eficaz para desinfeção de hospitais e na eliminação do "superfungo" 'candida auris', foi hoje revelado.
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Lembrando que este ano o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América alertou para o crescimento alarmante dos casos de infeções por este “superfungo”, o coordenador do estudo, Acácio Gonçalves Rodrigues, descreveu que a FMUP tem vindo a estudar como prevenir surtos e evitar consequências potencialmente fatais para os doentes.
“E os resultados demonstram que o peróxido de hidrogénio não tem potencial significativo, pelo menos a curto e médio prazo, de indução de resistência microbiana, portanto pode ser usado com segurança. É um método fiável e confiável para desinfeção de espaços onde tenham sido admitidos doentes que tenham estado infetados por ‘candida auris”, afirmou.
A ‘candida auris’ é uma espécie de fungo que está associado a múltiplos surtos, infeções graves e altas taxas de mortalidade em todo o mundo.
Em causa está um fungo patogénico capaz de entrar na corrente sanguínea e de invadir todo o corpo.
Este fungo foi identificado pela primeira vez em 2009, no Japão.
Os dados disponíveis indicam que a ‘candida auris’ pode ser super-resistente, resistindo aos medicamentos (antifúngicos) utilizados para o tratamento das infeções que provoca.
Salvaguardando que, embora o peróxido de hidrogénio seja “amplamente utilizado em ambientes de saúde”, quer em líquido, vapor ou aerossol, eram necessárias mais evidências da sua eficácia contra aquele fungo, o professor da FMUP explicou que não havia dados sobre a possibilidade de indução de resistências depois do uso do H2O2.
“Mas agora sabe-se que o uso continuado de peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, para desinfeção e esterilização de hospitais e outras estruturas de saúde, provou ser eficaz”, concluiu Acácio Gonçalves Rodrigues, em declarações à agência Lusa.
A equipa da FMUP analisou três espécies de ‘candida’ — a candida auris, a candida albicans e a candida parapsilosis — que foram expostas durante 30 dias a concentrações definidas de peróxido de hidrogénio.
Os resultados indicam que aquele desinfetante tem eficácia semelhante em todas as espécies de candida, após aquele período, conforme se lê na síntese do estudo enviada pela FMUP à Lusa.
“A adoção de soluções de H2O2 em protocolos de rotina, a fim de promover a desinfeção contra ‘candida auris’, melhorando a segurança do paciente e reduzindo custos com saúde, é certamente bem-vinda”, acrescentou Acácio Gonçalves Rodrigues.
Recordando os medos e fragilidades que a pandemia da covid-19 colocou a nu no panorama da saúde, o professor concluiu: “a prevenção é melhor forma de evitar futuros surtos”.
Publicado na revista científica “Antimicrobial Resistance & Infection Control”, o artigo científico coordenado por Acácio Gonçalves Rodrigues, tem também como autores Luís Cobrado, Elisabete Ricardo, Patrícia Ramalho, da FMUP/CINTESIS@RISE, e Ângela Rita Fernandes, da FMUP.
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memorableconcerts · 2 years ago
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Rádio Macau é uma banda portuguesa formada em Algueirão, Mem Martins, no início dos anos 80. Em 1993, a banda suspende a atividade, alegando cansaço e vontade de embarcar noutras experiências. Regressam como banda em 1998 e aos discos em 2000, com outra sonoridade.
O principal êxito da banda é o tema "O Anzol", que foi incluído no terceiro álbum da banda, O Elevador da Glória. "O Anzol" foi lançado como single em 1988 a sua sonoridade foi comparada a "Just Like Heaven", da banda inglesa The Cure, que saiu como single em outubro de 1987.
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Membros
Xana (vocalista)
Flak (guitarra)
Alex (baixo)
Filipe Valentim (teclados)
Samuel Palitos (bateria)
Ricardo Frutuoso (guitarra)
Emanuel Ramalho (bateria)
Luís San Payo (bateria)
Beto Garcia (bateria)
Fred Ferreira (bateria)
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Rádio Macau
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postersdecinema · 7 months ago
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Sabrina
EUA, 1954
Billy Wilder
7/10
Mudam-se os tempos
Sabrina, nesta versão original de 1954, tão singela na sua cinematografia a preto e branco, a lembrar tempos passados, em contraste com o glamour do tecnicolor, que dominou a década de 50, é, não obstante, uma prova incontornável de como a comédia romântica mudou, em Hollywood, desde os dias gloriosos, anteriores à guerra.
Temos a jovem Audrey Hepburn, de 25 anos de idade, sangue novo importado da Bélgica, top model da sempre glamorosa Europa, mesmo destruída pela guerra. Temos o veterano Humphrey Bogart, já com 55 anos de idade (faleceria escassos dois anos depois), símbolo incontornável do film noir da década de 40. Haverá um par mais improvável e menos romântico do que este?
O amor do pós-guerra perdeu o sentido de humor. Esqueceu a loucura das screwball comedies e rendeu-se ao drama psicológico, à redenção das almas, após o pesadelo da guerra.
Neste novo mundo triste, um velho executivo encontra tempo para o amor, depois de uma vida dedicada ao trabalho e à família, e uma jovem e glamorosa cozinheira, esquece os sonhos de infância, para se entregar à responsabilidade de uma vida adulta e rica.
Um amor cinzento e deprimido. Um drama romântico, nos antípodas da exuberância de um Cary Grant ou de uma Katharine Hepburn.
Até Billy Wilder, o rei das comédias da época, perdeu o sentido de humor, neste melodrama atípico, que nos deixa nostálgicos dos anos 30, quando as comédias românticas eram loucas e divertidas.
Decididamente, os tempos mudaram e com eles os gostos. Do meu pedestal da posteridade, posso afirmar, sem medo nem grande risco, que foi na loucura das screwball comedies, que Hollywood teve o seu apogeu romântico.
Em todo o seu glamour cinzento, este Sabrina é a prova inequívoca disso mesmo.
Times change
Sabrina, in this original version from 1954, so simple in its black and white cinematography, reminiscent of times gone by, in contrast to the glamor of Technicolor, which dominated the 50s, is, nevertheless, an inescapable proof of how comedy Romanticism has changed in Hollywood since the glorious, pre-war days.
We have the young Audrey Hepburn, 25 years old, new blood imported from Belgium, top model from the always glamorous Europe, even destroyed by war. We have the veteran Humphrey Bogart, already 55 years old (he would pass away just two years later), an unavoidable symbol of film noir in the 40s. Is there a more unlikely and less romantic pairing than this?
Post-war love has lost its sense of humor. It forgot the madness of screwball comedies and surrendered to psychological drama, the redemption of souls, after the nightmare of war.
In this sad new world, an old executive finds time for love, after a life dedicated to work and family, and a young and glamorous cook, forgets her childhood dreams, to give herself over to the responsibility of a wealthy adult life.
A gray and depressed love. A romantic drama, at the opposite of the exuberance of a Cary Grant or a Katharine Hepburn.
Even Billy Wilder, the king of comedies at the time, lost his sense of humor in this atypical (for him) melodrama, which makes us nostalgic for the 1930s, when romantic comedies were crazy and fun.
Times have definitely changed and, with them, tastes. From my pedestal of posterity, I can say, without fear or great risk, that it was in the madness of screwball comedies that Hollywood had its romantic heyday.
In all its gray glamour, this Sabrina is an unequivocal proof of this.
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ricardoramalhopoemas · 4 months ago
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O Sexo dos Anjos
A Maria e o Manuel
são um casal a preceito.
Ele é uma Rapunzel
e ela, um Príncipe Perfeito.
São estes os novos trilhos
para os jovens que se casem:
Eles é que têm os filhos
e elas são quem lhos fazem.
É preciso ter liberdade
na identidade de género.
Ele medra na puberdade,
mas tem um efeito efémero.
A Maria passa a Manuel
e o Manuel torna-se Maria,
apaixona-se pelo Miguel,
que tinha nascido Sofia.
E depois de tantas voltas,
tantas trocas e arranjos,
tanto os moços, como as moças,
ficam com o sexo dos anjos.
8 de Dezembro de 2024
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considerandos · 24 days ago
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Morra Marta!
Alguém me disse que foi ao funeral de alguém, que morreu, após uma longa e semi solitária agonia, aos 95 anos de idade.
A pena saía embargada da voz desse alguém, que pese embora ainda estivesse distante de tão provecta idade, para lá caminhava, a passos tão largos quanto a sua velhice permitia.
E eu pensei com os meus botões: que me fulminem já, aqui e agora, morto que nem um presunto, se alguma vez me passar pela ideia viver até tal idade, tal decrepitude, tal triste figura.
A sério, há muito que me sinto pronto para morrer. Não que deseje a morte, se assim fosse, já teria posto fim à vida, que não sou homem de indecisões. Não a desejo mas não a temo e sei que tenho de morrer. E já agora, como dizia o outro, morrer por morrer, antes de pé, como as árvores.
O que não suporto é a ideia da decadência, da demência, da decrepitude. Faz-me uma terrível impressão, ver alguém decrépito, sem um pingo de razão e nada de interessante a extrair da vida, a agarrar-se, com unhas e dentes, à sobrevivência.
Para quê? Que razões terão estes cadáveres ambulantes para se apegarem tanto ás suas vidas miseráveis? E a miséria a que me refiro é a moral, não a financeira, que só a acentua.
Viver com qualidade é um dever. Sobreviver a qualquer custo é um ato de profundo egoísmo.
Não quero sobreviver. Acho que o ser humano devia ter um prazo de validade, como os iogurtes. Assim que ganhasse bolor e começasse a cheirar mal, era mais do que tempo de o atirar para o caixote do lixo.
Melhor deixar uma imagem positiva, de um belo e saboroso iogurte de fruta, comido no pico das suas virtudes, do que apodrecer num canto, enojando os demais, com a sua podridão, e esperando uma alma caridosa que o atire, de vez, para o contentor.
Abençoada a juventude, que tudo nos promete. Aproveitem, por favor, enquanto podem, enquanto a vida é um prazer, uma descoberta, um enriquecimento constante.
Maldita seja a velhice e quem a quiser prolongar. Antes morrer no pico da vida, do que viver prisioneiro da morte adiada. Inevitável, temida, sofrida.
Não me deixem definhar até aos 95 anos de idade, por favor. No que depender de mim, vou assegurar-me, por todos os vícios ao meu alcance, que tal não me acontece.
Às vezes até me apetece recomeçar a fumar!
Morra Marta, nas morra farta!
17 de Março de 2025
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rijogo · 26 days ago
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São Lourenço, Mafra
Marco 2025
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fotoortografias · 3 months ago
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Um Mundo à Deriva
R. percorria feliz a costa, por entre praias e rochedos, preciosidades ocultas, para os olhares lascivos dos veraneantes.
Porque não há maior lascívia do que a paixão do banhista, o deleite com que procura o local perfeito, com que se despe, exibindo a sua nudez aos outros, procurando avidamente a alheia, ora para se regozijar com a sua boa forma, ora para olhar com desejo, mas sobretudo com inveja, a dos outros.
Encontrou um local perfeito e desempenhou, na perfeição, o seu papel de banhista. Outros passeavam na praia, mais do que mergulhavam, nas águas serenas do mar.
Quando o insólito aconteceu.
Ninguém parecia acreditar nos seus olhos, mas a verdade é que barcos gigantescos, casas e até bairros inteiros, navegavam à deriva diante dos olhos incrédulos dos veraneantes.
Nessas insólitas embarcações, grupos espantados de passageiros olhavam a costa, intrigados, sem perceber o que lhes estava a acontecer.
Começou por ser um, dois, três, às tantas eram centenas de ilhas, que navegavam diante dos olhos estupefactos de R.
Seria ele o navegante? Seria a sua praia que derivava pelo leito marinho, permitindo a visão insólita de todo um mundo terrestre, a deslizar sobre as águas?
Não era. Mas rapidamente passou a ser. R. apercebe-se que também a sua praia, o seu canto paradisíaco de Verão, largou amarras e lançou-se à sorte dos ventos e das correntes marinhas.
O que começou como uma tarde na praia transformou-se num cruzeiro, sem rumo, pelo mundo aquático, povoado de ilhas, como se os continentes inteiros se tivessem fraccionado em milhares de pedaços, que passavam por si e se entre chocavam, sem violência, permitindo até, aos atónitos passageiros, mudar de embarcação, ora por opção deliberada, ora por incapacidade de o evitar.
R. viu-se assim à deriva pelo mundo, ou melhor pelo oceano do mundo, onde se cruzavam monumentais igrejas, museus, navios gigantescos, praias edénicas, bairros históricos e modernos, torres, jardins flutuantes e simples casas perdidas, neste caldo arquitetónico insular.
Os videntes, porque se tratava de uma visão digna de outro mundo, mal abriam a boca de espanto. Ao medo inicial, pois fenómeno tão insólito não podia representar menos do que o fim do mundo, sucedeu lentamente a curiosidade e finalmente o deleite.
Tentava adivinhar-se a origem de cada pedaço de mundo, que flutuava diante dos olhos. Alguns identificavam uma povoação remota, outros uma jóia de arquitetura conhecida, outros ainda especulavam sobre a rota percorrida e antecipavam percursos, ao longo das costas desfeitas, dos antigos continentes.
Cada jangada de pedra, como lhe chamou Saramago, era uma torre de Babel, onde ninguém se entendia, tantas eram as línguas faladas e o caos, que separava famílias, casais, amigos. Buscava-se a companheira perdida, nalgum cruzamento surreal, de terras flutuantes. Um minuto a contemplar uma catedral navegante era o suficiente para perder de vista qualquer referência, qualquer companhia, mesmo de circunstância. Vivia-se no singular, saltando de terra em terra, de continente em continente, sempre à deriva nas águas.
Qual seria o destino de tão inusitada viagem? Estariam condenados a vaguear eternamente, nas águas globais? Como sobreviveriam num mundo à deriva, em ruínas, por mais belas que fossem e por mais alucinante que se mostrasse a rota.
O mundo estava ali, à sua frente, passando rapidamente, rumo ao desconhecido. Passava um museu famoso, de arquitetura divina, e logo a seguir um colégio jesuíta minhoto, seguido de uma igreja espanhola e de um templo budista. Reconheceu paisagens africanas, torres do novo mundo e pagodes da Ásia longínqua. Todos eles povoados de viajantes, tão surpreendidos como ele, que se debruçavam pelas janelas e varandas, ou trepavam aos telhados, para melhor verem passar o resto do mundo, diante de si.
De uma praia passou para um enorme navio, repleto de gente, até que trepou para uma ilha vulcânica, que derivava, como o resto do mundo, e desembarcou num porto italiano, também ele pouco seguro, pois navegava como tudo o resto.
Ninguém tinha a menor ideia do que se passava, um fenómeno inexplicável, surreal, de consequências imprevisíveis. Acabaria algum dia, esta deriva? Como ficaria o mundo, quanto finalmente a terra parasse de navegar o mar e se aglomerasse, em novos continentes, em noveis mapas, onde o norte ficava a sul e o leste misturado com o oeste. Como se entenderiam os habitantes desenraizados e entregues àquela Babilónia de gente, de todas as cores, credos e línguas?
Em vez de migrar a população, a terra inteira quebrou-se, fez-se ao mar e emigrou, para parte incerta, levando consigo os seus habitantes.
A certa altura, alguém reparou num templo ou numa praça, com que já se tinha cruzado, noutra direção. Surgiu então, de repente, uma teoria digna de devoção: a viagem tinha ida e volta. Algures pelo caminho, a deriva teria invertido a direção e agora regressava ao ponto de partida, talvez fruto da ação das correntes marítimas.
Era uma fé consoladora, que animava a esperança de muitos, o anseio que, algum dia, mais cedo ou mais tarde, as peças soltas voltariam a encaixar-se, como um puzzle, de regresso à normalidade anterior.
Mas os descrentes argumentavam que reencontros casuais, com outros navegantes, eram prováveis, mesmo numa deriva errática pelos mares. Além disso, se a viagem fosse de fato de ida e volta, deveriam assistir a uma sequência exatamente inversa de reencontros com os Ilhéus improvisados, o que não era manifestamente o caso, pois ora se cruzavam com uma praça já anteriormente admirada como, logo a seguir, com um Buda gigante, novo e imprevisto. Tudo continuava um enigma, apesar da fé de alguns.
A certa altura tudo pareceu encolher. As pessoas aglomeravam-se, as ilhas apertavam-se umas contra as outras e até a luz se concentrava, escurecendo, rumo às trevas. Parecia o fim do mundo. Como se alguém tivesse aberto um ralo do oceano e as terras dispersas, convergissem para aquele escoadouro, por onde tudo, habitantes incluídos, se precipitaria numa escuridão total e claustrofóbica, quem sabe se rumo à extinção da humanidade, numa massa disforme de animais, vegetais e minerais, convertida num caldo terminal e simultaneamente primordial, que daria origem a um novo ciclo universal.
Esta era a convicção dos cientistas e de alguns filósofos. O mundo terminava. Deste fim trágico, outro mundo surgiria, talvez melhor, talvez capaz de gerar novas formas de vida mais inteligentes, pacíficas, susceptíveis de canalizar os recursos e capacidades para um progresso rápido e proveitoso, para todos. Talvez Deus estivesse a fazer um reset a este universo imperfeito e quisesse recomeçar tudo de novo, emendando os erros do passado.
Mas da escuridão ressurgiu a luz. A compressão aliviou um pouco e a humanidade viu-se num amplo local fechado, com uma figura grotesca a liderar a global assembleia. Era um coco, parecido com o Jack de Tim Burton, que se impunha, perante a multidão, e pretendia ensinar, a todos, as regras do novo mundo.
Ninguém o levou a sério e tentaram sair, rumo às varandas do edifício descomunal, mas sem sucesso. Era fisicamente impossível sair. Haveria que escutar o que a aventesma tinha a dizer ao mundo.
Como é próprio destas criaturas mitológicas, dedicadas a assustar crianças e moças casadoiras, o objetivo da reunião era sobretudo assustar o povo. Pregar-lhes um valente cagaço, de modo a que aprendessem bem a lição e não repetissem os erros do passado.
Os mais místicos acharam que era Deus ou o Diabo, com uma cabeça de abóbora espetada num pau. Os mais céticos viram na insólita criatura uma brincadeira de mau gosto, mas não deixaram de ouvir as palavras de aviso, que saiam da sua boca horrenda, em voz gutural.
Por momentos a terra parou. Não se sentia o mar e o seu balanço, por debaixo dos pés, o que, após tantos meses de navegação errante, parecia uma alucinação. As pessoas tombavam umas para cima das outras, pela ausência do balanço do mar, como sucede com os embarcados novatos, que quando regressam a terra, após semanas no mar, parecem bêbedos, aos esses pela rua abaixo, nauseados pela imobilidade, da mesma forma que o foram pelo balanço do mar.
Este sentimento de alucinação coletiva e de náusea fez duvidar os mais céticos da realidade da aparição. Uma abóbora falante? Que Deus ou Diabo ridículo seria esse? Tudo era fruto da imaginação fértil do ser humano. Após meses de navegação sem rumo, o mundo finalmente parou e as gentes alucinaram colectivamente, bêbedos da imobilidade e nauseados de mudança. As palavras assustadoras eram pesadelos, de quem há muito ansiava por uma explicação, um sentido, para aquele fim do mundo eminente.
O coco falava e as pessoas tremiam com a sua voz poderosa, mas poucos o ouviam. Só sentiam o medo, a prisão, a aglomeração incomodativa e mal cheirosa de gente, prenúncio da condenação eminente. Alguém achou que estariam no purgatório, aguardando o julgamento divino.
Mas eis que as portas, finalmente, se abriram e deixaram entrar a luz. Todos se precipitam para a saída. Seria o paraíso, a ilha dos amores, o reino de Xangrilá?
Aos poucos vêem-se os portos do mundo vazios e abertos à chegada dos viajantes. A azáfama é intensa, desembarca-se em massa e prepara-se o desembarque dos outros. A pouco e pouco, a vida retoma um ritmo novo, de reconstrução, como se o mundo tivesse sido abalado por uma guerra terrível, que tudo mudou, as raças, os continentes, as profissões. Um novo dilúvio, que terminava num novo Ararat, mas com multidões de gente. Haveria que estudar e descobrir o novo mundo. Tudo estava por fazer, tudo por conhecer. Este era um mundo refeito, sem referências do passado, sem regras estabelecidas. Uma folha em branco para ser reescrita, mas com uma história diferente.
Uma história que começava com R. a despir-se numa praia e terminava num porto desconhecido, num mundo virgem, à procura de um sentido e de uma perfeita forma humana de organização.
30 de Dezembro de 2024
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gabrielaramalho96 · 2 years ago
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Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica são os melhores mesmo?
Resenha escrita por Gabriela Ramalho
Durante e depois que cursei Letras, por ter um contato maior com literatura e música brasileiras, eu entrei em uma onda nacionalista e comecei a buscar por produções nacionais ou pelo menos de língua portuguesa dentro das coisas que gosto. Uma delas é a literatura de ficção científica. A ideia surgiu quando precisei fazer um trabalho de tema livre e pensando no que eu iria pesquisar me dei conta que eu nunca tinha lido nenhuma distopia brasileira ou qualquer outro tipo de FC que fosse do Brasil, muito menos alguma pesquisa sobre o assunto.
Iniciei algumas pesquisas e encontrei trabalhos que citavam um pesquisador e escritor de ficção cientifica brasileira chamado Roberto de Sousa Causo. Entre textos, pesquisas e elogios achei uma coletânea organizada por ele chamada Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, coloquei o livro na minha lista de desejos, mas esqueci a ideia de pesquisa porque tinha minha iniciação científica (também bem brasileira) para me dedicar.
Tempos depois, finalmente comprei o livro. Ao dar uma olhada na capa já me surpreendi ao ver o nome de Machado de Assis na lista – pasmem, Machado fez FC e ninguém contou para gente! - Li a introdução escrita pelo organizador que faz um apanhado geral da produção de textos de ficção científica no Brasil e ela é muito mais ativa do que a nós pensamos, tanto com grandes nomes da literatura como o já citado Machado de Assis  que produziu algumas obras com o tema, quanto com autores que são mais, digamos, exclusivos da FC.
O autor faz todo esse resgaste citando obras e grandes marcos desta literatura como as publicações da Geração GRD (que leva este nome por ter livros publicados pela editora de Gumercindo Rocha Dorea) que também são chamados de “A primeira onda da FC Brasileira” e outra publicações e marcos importantes. Gostei muito da introdução por me interessar cientificamente pelo assunto e por descobrir mais sobre ele.
Mas indo finalmente ao “recheio do bolo”, o livro é composto de 11 contos com os mais variados temas dentro da Ficção científica, contato alienígena, pós apocalipse, objeto que permite ver o futuro, o duplo, imortalidade, viagens espaciais, etc. Cada conto tem uma introdução que contextualiza o texto e seu autor, não vou falar os nomes de todos os contos aqui para instigar a  procura pelo livro e não pesquisar os contos individualmente. Só citarei os meus favoritos.
Eu, particularmente, gostei mais dos contos A Espingarda (1966), de André Carneiro, que tem um tom mais pós-apocalíptico e trata de um homem tentando sobreviver sozinho em meio as ruinas de uma cidade aparentemente tóxica; O Último Artilheiro (1965), de Levy Menezes que é ambientado em um cenário pós-guerra; A Mulher Mais Bela do Mundo (1997), de Roberto de Sousa Causo que fala da realidade terrestre/brasileira em confronto com a impressão que os governantes querem passar para visitantes extraterrestres e A Nuvem (1994), de Ricardo Teixeira que é um misto de contato extraterrestre com uma reprodução das etapas da evolução da vida na Terra em uma vila remota no interior (não, o conto do Machado não foi o meu favorito, desculpem-me).
Ler literatura de ficção científica brasileira foi diferente para mim, é bom, mas é algo com que não estamos acostumados. O que percebi em boa parte dos contos é exploração do tema guerra nuclear. Segundo o organizador, isso se dá por conta do próprio contexto histórico em que foram escritos. É bem nítido como as bombas nucleares e o temor à elas são alvo de preocupação de alguns autores abordados no livro.
Os autores nacionais se inspiram em autores internacionais consagrados, porém eu não percebi semelhanças exageradas, não em minha experiencia em leituras do gênero, pelo menos. Aliás achei os contos muito originais, é bom ver nossa terra representada em um “território” tão internacional da literatura. Enfim, eu recomendo a leitura e já comprei o volume seguinte para conhecer mais sobre o universo da ficção científica brasileira. Quando eu ler, posto outro textão aqui relatando a experiência de leitura. Até a próxima.
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