#Ricardo Ramalho
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As Noites de Cabiria
I, F, 1957
Federico Fellini
9/10
Fatalismo Otimista
As noites de Cabiria, de 1957, é o último filme do período neo-realista de Fellini e também, conjuntamente com La Strada, de 1954, uma das suas obras primas, não só deste período mas de toda a sua carreira. O próximo filme do realizador seria La Dolce Vita, três anos depois, e com ele começaria uma nova fase da sua obra, que poderíamos classificar como integrada na "nova vaga" do cinema italiano, onde o simbolismo, a metáfora e uma boa dose de existencialismo, passariam a integrar, de forma crescente, o cinema de Fellini.
Mas aqui, em 1957, quando a "nouvelle vague" já começava a despontar em França (La Pointe-Curte, de 1955 e de Agnès Varda, é geralmente apontado como o primeiro filme desta corrente), Fellini e Antonioni, que neste mesmo ano estreou O Grito, ainda navegavam, manifestamente, por águas neo-realistas. Mas de forma brilhante.
As Noites de Cabiria é uma obra prima do neo-realismo, mesmo tardia, e tal foi amplamente reconhecido na época, com inúmeros prémios, Óscar de melhor filme estrangeiro, prémio de melhor atriz em Cannes para Giulietta Massina, prémio Zulueta em San Sebastian, entre muitos outros prémios e nomeações, nacionais e estrangeiros. Mas é igualmente reconhecido pela posteridade, que coloca invariavelmente esta obra entre as melhores do realizador italiano.
De facto, tal como em La Strada, Fellini tira partido do caráter tragicómico do personagem interpretado por Giulietta Massina, para acentuar o caráter dramático, mas ao mesmo tempo absurdo, da vida. Esta Itália do pós-guerra neo-realista era um inferno na terra, em que a luta pela sobrevivência tornava qualquer cordeiro num leão, capaz das maiores atrocidades, por um punhado de liras. E, no entanto, bastava um acordeão, uma dança, um copo de vinho, para reconciliar o mais desafortunado com a vida e dar-lhe forças para continuar a lutar.
Nestas condições extremas, não há espaço para dramas psicológicos, a vida é simples e impulsiva, viver ou morrer, sobreviver a todo o custo, ou morrer de fome, sem olhar a meios.
Essa amoralidade da luta pela sobrevivência, associada à simplicidade com que se aceita a fatalidade da vida e os pequenos prazeres que ela proporciona, mesmo no meio da miséria, fazem destas obras um monumento ao humanismo e ao otimismo, que teima em olhar sempre o lado positivo da vida, mesmo no meio da desilusão e da desgraça.
Um hino ao amor pela vida.
Optimistic Fatalism
The Nights of Cabiria, from 1957, is the last film of Fellini's neo-realist period and also, together with La Strada, from 1954, one of his masterpieces, not only from this period but from his entire career. The director's next film would be La Dolce Vita, three years later, and with it a new phase of his work would begin, which we could classify as integrated into the "new wave" of Italian cinema, where symbolism, metaphor and a good dose of existentialism, would increasingly become part of Fellini's cinema.
But here, in 1957, when the "nouvelle vague" was already beginning to emerge in France (La Pointe-Curte, from 1955, by Agnès Varda, is generally considered the first film of this current), Fellini and Antonioni, who in that same year premiered The Scream, were still clearly navigating neo-realist waters. But brilliantly.
The Nights of Cabiria is a masterpiece of neo-realism, even late, and this was widely recognized at the time, with numerous awards, Oscar for best foreign film, best actress award at Cannes for Giulietta Massina, Zulueta award in San Sebastian, among many other awards and nominations, national and foreign. But it is equally recognized by posterity, who invariably places this work among the Italian director's best.
In fact, as in La Strada, Fellini takes advantage of the tragicomic nature of the character played by Giulietta Massina, to accentuate the dramatic, but at the same time absurd, nature of life. This neo-realist italian post-war was a hell on earth, in which the fight for survival turned any lamb into a lion, capable of the greatest atrocities, for a handful of lire. And yet, all it took was an accordion, a dance, a glass of wine, to reconcile the most unfortunate with life and give them the strength to continue fighting.
In these extreme conditions, there is no room for psychological dramas, life is simple and impulsive, live or die, survive at all costs, or die of hunger, regardless of the means.
This amorality of the struggle for survival, associated with the simplicity with which the fatality of life is accepted and the small pleasures it provides, even in the midst of misery, make these works a monument to humanism and optimism, which insists on always looking to the positive side of life, even in the midst of disappointment and misfortune.
A hymn to the love of life.
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Solidão
Sozinho, ao balcão,
num bar, quase deserto,
sem sentido, nem razão,
nem dormindo, nem desperto.
Tenho um copo de cerveja
pousado, na minha frente,
que não enche, nem despeja,
está ali, apenas, jacente.
Não foi a sede, que me levou,
a este sujo balcão triste.
Foi a solidão, quem convidou,
e a solitude, quem me assiste.
Na humana condição
há dias como este, turvos,
em que a vital decepção
nos obriga a atos absurdos.
Beber cerveja, para esquecer
o que não podemos alegrar.
Uma esperança vã, a nascer,
para, mais depressa, azedar.
Triste sina é a solidão,
que nos tira o sono e a vida.
Lança-nos à tentação
de uma fugaz despedida.
14 de Outubro de 2024
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Sexo Bolchevista
Muito para além do escândalo e do romance rosa, cor com que por vezes o pintam, O Amante de Lady Chatterley, clássico escrito por D.H. Lawrence, no final da década de vinte do mesmo século, revela uma forte crítica social, própria de uma época de profundas transformações e de experimentalismo político, artístico e literário.
É um mundo em crise, e muito particularmente uma Inglaterra decadente e suja, do final da revolução industrial, que Lawrence satiriza, através de uma relação escandalosa e sensual, que provoca o leitor seu contemporâneo, muito mais pela diferença de estatuto social dos amantes, do que pelo adultério, propriamente dito, por mais descritivo e erótico que pudesse parecer às moralidades hipócritas e púdicas de então, como às de agora.
Há apenas uma concessão que me intriga, no contexto da ousadia geral da obra, a ideia de fazer de Lady Chatterley uma burguesa, que ascende à aristocracia pelo casamento, e de Mellors, um guarda de caça que regressa às origens, após ter ascendido à classe média no exército, chegando a exercer o posto de tenente, na Índia.
Sob o ponto de vista da crítica social pura, seria bem mais provocador fazer uma aristocrata de sangue ceder às tentações sensuais de um vulgar rústico ou proletário. Mas Lawrence terá talvez pensado que seria esticar demasiado a corda, que esta relação já seria suficientemente escandalosa para a mentalidade da época e que, afastando ainda mais as origens sociais do casal, tornaria a paixão inverosímil. No entanto, eu atrevo-me a referir que não foi pelas lindas histórias da Índia colonial de Mellors que Lady Chatterley se apaixonou, mas sim pela enorme satisfação sexual que encontrou na sua cama e que não encontrou, não apenas no marido, entrevado de guerra, como nos seus amigos aristocratas ou burgueses, como Michaelis. Por isso tanto podia ser tenente como soldado raso...
Mas também é possível que a intenção de Lawrence fosse outra, a de exaltar uma classe média emergente, de gente que sobe e desce na rígida estrutura social britânica (ele próprio era um híbrido, filho de mineiro que ascendeu ao magistério) sem que isso defina verdadeiramente a sua condição. Uma crítica à aristocracia decrépita e vazia, por oposição a uma classe média que cresce e ganha importância na sociedade britânica, fruto dos seus méritos próprios e apesar dos preconceitos vigentes.
Na verdade, há todo um sentimento revolucionário subjacente à obra, que passa pelo nome de bolchevismo, na boca dos seus personagens, um termo muito em voga na época, em que decorria ainda a guerra civil na Rússia. Mas este bolchevismo de Lawrence não remete diretamente para Lenine e para os seus partidários, para a luta entre brancos e vermelhos ou para a sovietização progressiva da Rússia, num momento em que a vitória dos vermelhos já parecia perfeitamente previsível. Aponta muito mais para a necessidade de ruptura na ordem social vigente, para a decadência do modelo capitalista tradicional, que Lawrence critica exaustivamente. Desde o mais anónimo mineiro até ao Príncipe de Gales, todos vivem para ganhar e gastar dinheiro, modelo vazio de princípios, que ele quer substituir por um novo, social e humanista, que, provocante ou inocentemente, baseia no amor e no sexo.
Os tempos eram de mudança, entre bolchevistas e fascistas, o mundo virava a página da revolução industrial e abria as portas ao desconhecido, que Mellors, num pressentimento acertado, temia ser terrivel. Lawrence não chegou a viver o terror do nazismo, do estalinismo e da segunda guerra mundial, pois morreu tuberculoso, em 1930, apenas com 44 anos de idade. Mas o fantasma da destruição, de uma sociedade à beira do abismo, está bem patente na obra, demonstrando que o mal estava latente nos anos vinte e que profundas e violentas mudanças sociais se anunciavam.
A tentação e, sobretudo, a satisfação sexual, servem aqui de metáfora para a demolição dos preconceitos que amarram uma ordem social decadente e vazia. É preciso confrontar a sociedade caduca com os seus medos, para que se desmorone sozinha.
Um século depois, desprovida do erotismo e escândalo social, que tanto chocou os seus contemporâneos, talvez propositadamente, porque na altura, como agora, o sexo vende, fica a crítica social, pertinente, perspicaz e, até certo ponto, visionária da obra de Lawrence.
Pontuada, é certo, com algumas notas de inocência, que só lhe acentuam o charme e tornam o livro, ainda e sempre, um prazer para o leitor.
4 de Junho de 2014
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A Cruz dos Afogados
A poucos metros da costa, em frente ao areal branco da praia, existia um pequeno ilhéu escarpado. Nada de surpreendente, pois ilhéus como aquele, proliferavam na longa costa de arribas, que por quilómetros se prolongava naquela região, enfrentando o oceano furioso e perdendo, ano após ano, a batalha, fosse engrossando os areais costeiros, fosse ainda largando pedaços de rocha agreste, por entre as ondas do mar, baluartes resistentes, por mais alguns séculos, numa guerra, aparentemente, perdida.
Este era mais um escolho, destroço de antigas pelejas entre a terra e o mar, troféu capturado pelo oceano à rocha, refém dos infindáveis combates.
Mas tinha uma particularidade, que o distinguia de todos os outros. Uma singela cruz de ferro, postava-se no topo, de aspecto vetusto e origem incerta, que o povo apelidava, ominosamente, de cruz dos afogados, sem que ninguém tivesse memória de quem estes fossem, ou sequer o autor daquela singela homenagem.
Amaro passava férias ali, desde que nasceu. A família tinha uma velha casa na encosta, que passou de geração em geração, até chegar à sua. Em pequeno, veraneava naquela casa, na companhia dos pais e irmãos e ainda dos avós e dos tios, que também por lá andavam frequentemente, com os primos, com quem Amaro tantas vezes brincou, naquele areal. Após a morte dos avós, a casa ficou, em partilhas, para o pai e depois para Amaro, por morte daquele, pelo que o edifício estava indelevelmente associado às mais antigas memórias da sua vida, que associava invariavelmente à infância e aos seus antepassados, reunindo nela, ainda hoje, ocasionalmente, a sua parentela contemporânea, em almoços evocativos das memórias comuns da família.
Mas também Amaro, apesar da sua antiga e profunda ligação à freguesia, desconhecia a história da funesta cruz dos afogados, que, tão lugubremente, pairava sobre o belo areal da praia, no topo daquele ilhéu, recortado ao sol veranil.
Curioso e apaixonado pelo local, decidiu investigar as origens da cruz, consciente, contudo, das dificuldades da missão assumida.
Começou por contactar o município, em busca de escritos antigos, sobre a povoação e a cruz. Disseram-lhe o que ele já sabia, que a mesma seria homenagem a alguém que se teria afogado, naquele local, há séculos atrás, mas de quem não conheciam a identificação, podendo mesmo tratar-se de uma simples lenda. Era uma história ocultada pelo mistério do tempo. Não satisfeito, Amaro fez buscas na biblioteca municipal, sem que daí tenha resultado esclarecimento adicional, ao pouco que já conhecia.
Um dia, numa taberna da aldeia, um velho pescador meteu conversa com ele, sobre a cruz dos afogados, pois toda a gente conhecia já, nessa altura, as pesquisas de Amaro junto das autoridades municipais, sobre o Ilhéu sinistro.
Era um velho desdentado, há muito ultrapassado dos oitenta anos de idade, que ali vivia desde que nasceu e se chamava Albertino, por todos apelidado, carinhosamente, por Ti Tino.
Pois Ti Tino lembrava-se, em criança, de ter ouvido alguém comentar, entre os velhos de então, que a cruz dos afogados era uma homenagem a um padre, que ali teria morrido, há muitos anos atrás.
Com esta nova pista em mente, Amaro foi conversar com o pároco local, que, de tão jovem que era, nunca tinha ouvido falar nessa história do padre afogado. Mas disponibilizou-lhe a consulta dos registos paroquiais e, melhor do que isso, deu-lhe os contactos do arquivista da diocese, onde poderia encontrar, não só muito mais informação para a pesquisa, como também um auxiliar precioso, conhecedor profundo da história da diocese e das várias paróquias que a compõem. Foi então que Amaro conheceu o cónego Faustino, historiador e arquivista da diocese, a quem expôs longamente a sua história e os objetivos da pesquisa.
O clérigo tinha conhecimento da existência da cruz e de uma velha história de um padre afogado naquela praia, oriundo, segundo ele, de um seminário local, entretanto encerrado. Mas não tinha os pormenores de memória. Ficou de recolher documentação sobre o facto e reunir com Amaro, passados alguns dias.
No dia marcado, Faustino surgiu com dois velhos volumes, manchados pelo tempo e a humidade, e uma longa história para contar, que Amaro ouviu avidamente. Parece que, no século XVIII, existia um pequeno seminário naquela praia, dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Na verdade, era uma mera dependência do seminário maior, instalado na sede episcopal, onde os jovens seminaristas iam veranear. Uma espécie de colónia de férias, onde se deslocavam durante a canícula, juntamente com os professores, para prosseguirem os estudos em ambiente mais saudável, que por vezes incluíam exercício físico e banhos de mar, na praia.
O local terá ainda sido usado, em tempos pestilentos, para afastar os seminaristas dos eflúvios deletérios da cidade e permitir-lhes continuar os estudos em local arejado, junto ao mar, onde o ambiente era muito mais saudável.
Sucedeu contudo, no Verão de 1782, um grupo de jovens seminaristas mais irrequietos, a banhos na praia, lembrar-se de trepar ao ilhéu, para daí mergulharem no mar, provavelmente numa prática recorrente, que nunca tinha dado problemas anteriormente.
No entanto, dessa vez, um deles ficou ferido na queda. Um dos professores, douto mestre em latim e bom nadador, tentou salvá-lo, enquanto o jovem se debatia, provavelmente com dores, incapaz de nadar.
O resultado foi funesto, porque não só o professor não conseguiu resgatar o enfermo, como se deixou envolver pela força da desesperação do rapaz, sendo ambos engolidos pelo mar. Os corpos só terão sido recuperados vários dias volvidos, a muitas léguas dali.
O episódio foi tão marcante que, não só foi mandada erigir aquela cruz, no ilhéu maldito, abençoando a alma dos falecidos e relembrando, aos vivos, os perigos daquele rochedo, como o próprio seminário foi abandonado, vendido entretanto a leigos.
Amaro ficou curioso com o nome do seminário, pois a velha casa da sua família chamava-se Casal do Carmo, e pediu ao cónego se era possível determinar a localização do velho seminário. Este abriu um dos velhos volumes e mostrou-lhe desenhos do edifício e a descrição da localização do mesmo, junto a uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, nas arribas perto da aldeia.
Era precisamente o local onde estava instalada a sua velha casa de família. A capela ainda existia, embora estivesse fora dos limites da propriedade. Mas não era por acaso que a habitação se chamava Casal do Carmo, porque terá tido, na origem, o edifício do antigo Seminário, junto à capela do mesmo nome.
Entusiasmado com a descoberta, Amaro recolheu toda a informação que pôde, sobre o seminário e o triste evento relatado, decidido a escrever um livro, contando a história da sua casa, do seminário que a precedeu e das funestas circunstâncias que levaram ao seu abandono e venda à família, sendo ele o atual proprietário de tão antigo edifício, carregado de tradição, e fazendo assim renascer a memória da velha cruz dos afogados e dos nomes das vítimas, reassociadas ao local e à história da freguesia.
15 de Março de 2023
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Museu do Azulejo, 4 de Fevereiro de 2024
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COLECÇÃO VÁRIA, #3 Florilégio
organização: Maria Sequeira Mendes, Joana Meirim, Nuno Amado leituras/ensaios por: Akihiko Shimizu, Alberto Manguel, Alda Rodrigues, Alex Wong, Amândio Reis, Ana Cláudia Santos, Ana Maria Pereirinha, Ana Matoso, Ana Sofia Couto, António J. Ramalho, Bernardo Palmeirim, Clara Rowland, Diogo Martins, Fernando Cabral Martins, Frederico Pedreira, Golgona Anghel, Gustavo Rubim, Helder Gomes Cancela, Helena Carneiro, Inês Rosa, Joana Matos Frias, Joana Meirim, João Dionísio, Jorge Almeida, Lawrence Rhu, Lúcia Evangelista, Madalena Quintela, Madalena Tamen, Margarida Vale de Gato, Maria Rita Furtado, Maria Sequeira Mendes, Miguel Tamen, Nuno Amado, Pedro Serra, Pedro Sobrado, Rita Faria, Rosa Maria Martelo, Sara Campino, Sara de Almeida Leite, Silvina Rodrigues Lopes, Tatiana Faia, Telmo Rodrigues, Teresa Bartolomei poemas de: Abade de Jazente, Adélia Prado, Adília Lopes, Alberto Pimenta, Alice Oswald, Ana Hatherly, Anna Akhmátova, Anthony Hecht, António Franco Alexandre, António Gedeão, Arthur Rimbaud, Bernardim Ribeiro, Carlos de Oliveira, Charlotte Smith, Christopher Middleton, Elizabeth Bishop, Ellen Davies, Emily Dickinson, Fernando Assis Pacheco, Florbela Espanca, Frances Leviston, Francisco Alvim, G. E. Patterson, Golgona Anghel, Ian MacMillan, João Miguel Fernandes Jorge, John Betjeman, Jorge Sousa Braga, José Afonso, José Miguel Silva, Kenneth Goldsmith, Kudo Naoko, Leopoldo María Panero, Luís de Camões, Luiza Neto Jorge, Manuel Bandeira, Manuel Gusmão, Margarida Vale de Gato, María Elena Walsh, Maria Velho da Costa, Raymond Carver, Raul de Carvalho, Ricardo Tiago Moura, Rosa Maria Martelo, Tonia Tzirita Zacharatou, Wilfred Owen capa e ilustrações: João Concha ISBN: 978-989-53985-1-5 n.º de páginas: 232 tiragem: 350 exemplares 1.ª edição: Março, 2023 Recomendado no Plano Nacional de Leitura LER+ PVP 20,00 euros | ensaio |
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O PESO
O PESO foi uma banda de rock brasileira formada em Fortaleza em 1971. Em 1971, os cearenses Luiz Carlos Porto e seu parceiro Antônio Fernando Vale, o Gordo, fundaram um grupo ao qual chamaram de Grupo Peso ou O Peso para tocar no III Festival Nordestino da Música Popular, em Fortaleza. A apresentação rendeu convites para shows por todo o Nordeste. Procurando evoluir com a carreira, ambos se inscreveram no VII Festival Internacional da Canção (FIC) com a música "O Pente" e conseguiram chegar na fase classificatória que aconteceria em setembro daquele ano no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e seria transmitida pela Rede Globo para todo o país. A canção era um rock de raízes stonianas, bastante suingado e que falava sobre o uso de um pente para fechar um baseado. Mesmo não conseguindo a classificação para a fase final nacional, conseguiram participar do LP oficial do festival “Os Grandes Sucessos do FIC 72”, lançado pela gravadora Phonogram e também, ter sua canção lançada em um compacto pela mesma gravadora, só que pelo selo Polydor. Após o evento, Luiz C. Porto manteve contatos com diversos músicos da cidade. Luiz C. Porto e Antônio Fernando retornaram à Fortaleza e tentaram em vão continuar o projeto. Nos anos seguintes, Antônio Fernando desistiu da carreira e retornou ao nordeste, e Luiz C. Porto continuou tentando montar uma banda para seguir com a sua carreira. No final de 1974, Luiz C. Porto conheceu Gabriel O'Meara, guitarrista norte-americano radicado no Brasil e que havia acompanhado Gal Costa em shows em 1971. Juntos, passaram a acompanhar Zé Ramalho nos seus shows na Urca e, graças aos contatos de O'Meara, conseguiram um contrato com a Phonogram para lançar um disco. Além de Gabriel O'Meara e Luiz C. Porto também faziam parte da banda Constant Papineau (piano), Carlos Scart (baixo) e Geraldo D'arbilly (bateria). Como novos contratados da gravadora, se apresentaram na primeira edição do Hollywood Rock, em janeiro de 1975. O evento seria registrado no documentário Ritmo Alucinante e renderia o lançamento de um falso álbum ao vivo em 31 de março do mesmo ano. A banda realizou também uma turnê nacional a partir daquele mês. Em julho, chegou às lojas o disco “Em Busca do Tempo Perdido”, álbum de estreia da banda lançado pelo selo Polydor. Para promover o disco, foi lançado também um compacto simples com as músicas "Sou Louco por Você" e "Me Chama de Amor". O álbum mesclava blues, hard rock e R&B, com nítidas influências do Led Zeppelin. O disco teve baixa repercussão de público e crítica. A banda ficou mais conhecida na época por suas apresentações ao vivo. Após passar dificuldades financeiras e locais reduzidos para shows de rock, O Peso encerrou suas atividades em 1977, com Gabriel O'Meara tornando-se músico de estúdio e produtor musical e Luiz C. Porto saindo em carreira solo. Em 1983, Luís Carlos Porto lançou um álbum solo homônimo. O disco foi produzido por Marcelo Sussekind, guitarrista da banda Herva Doce. Em 1984, com a nova onda do rock no Brasil, O Peso retornou às atividades, mas apenas com Luiz C. Porto da formação original. Completava a banda Ricardo Almeida nas guitarras, George Gordo no baixo e Carlinhos Graça na bateria. Nesse período, o grupo fez shows tocando seu antigo repertório e não lançou novos discos. Em 1986, depois de um show em Fortaleza, o vocalista Luiz C. Porto terminou se envolvendo em um acidente grave de moto, passando a ter que conviver com esquizofrenia e sendo obrigado a deixar os palcos. A banda parou as atividades no mesmo ano. Os problemas de saúde de Luiz Carlos Porto, que mora a muitos anos em Fortaleza, impediu uma reunião comemorativa do cultuado álbum que completou 40 anos do lançamento em 2015. Membros: Luiz Carlos Porto - vocais | Gabriel O'Meara - guitarra | Constant Papineau - piano, teclado | Carlos Scart - baixo | Geraldo D'arbilly - bateria | Convidado: Zé da Gaita - gaita.
Bandas de rock relíquias
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No mundo inteiro, observa-se uma onda de investimentos na produção do biometano, também denominado gás natural renovável (GNR). O aproveitamento do biometano é visto cada vez mais como essencial para o alcance das chamadas emissões líquidas zero, de gases de efeito estufa (GEE), até 2050. As previsões indicam que o Brasil, que detém um grande potencial de produção, deve se tornar um dos cinco maiores produtores nos próximos anos. Gerado a partir de resíduos orgânicos, sejam urbanos, industriais ou agropecuários, o biometano traz respostas para três grandes problemas da sociedade moderna: A dificuldade de tratamento adequado desses resíduos; A emissão de metano decorrente de sua decomposição natural; A produção de energia renovável, aderente à ideia de economia circular. Sua competitividade, no entanto, dependerá de fatores externos a sua cadeia produtiva, principalmente do preço do gás natural e da precificação de carbono emitido a partir de sua queima, bem como dos esforços de contenção das emissões antropogênicas de metano. O biometano tende a se tornar uma importante fonte primária de energia no futuro próximo, à medida que seu uso em escala for sendo viabilizado pela agenda climática, com as adequadas políticas e investimentos necessários à contenção das emissões. No Brasil, há potencial de aproveitamento de biomassa dos setores agropecuário (maior emissor de metano no país), sucroalcooleiro e agroindustrial para produção econômica de biometano. Também é muito significativo o potencial do setor de resíduos (segundo maior emissor de metano), que vive um esperado momento de transição com a vigência do novo marco regulatório do saneamento. No texto para discussão 159, A hora do biometano no Brasil, os autores Cássio Adriano Nunes Teixeira, Ricardo Cunha da Costa, André Pompeo do Amaral Mendes e Marco Aurélio Ramalho Rocio, apresentam um panorama sobre a produção e usos do biometano no Brasil e no mundo, abordando aspectos como: tecnologia para produção, custos, regulamentação brasileira, oportunidades, barreiras e propostas para o desenvolvimento do mercado no Brasil. > Baixe aqui o estudo. Conteúdos relacionados: Tecnologias veiculares e combustíveis para o futuro da mobilidade Os biocombustíveis e a transição para o setor de transportes de baixo carbono Novo marco legal do saneamento e atuação do BNDES(function(d, s, id) var js, fjs = d.getElementsByTagName(s)[0]; if (d.getElementById(id)) return; js = d.createElement(s); js.id = id; js.src="https://connect.facebook.net/pt_BR/sdk.js#xfbml=1&version=v2.12"; fjs.parentNode.insertBefore(js, fjs); (document, 'script', 'facebook-jssdk')); Link da matéria
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Resultado Baja Porto Alegre 500 2023
Top 10
1-202-João Ferreira\Filipi Palmero-Mini Cooper T1+-X-RAID MINI-T1+-4:54:16.3
2-201-Yazeed Al Rajhi\Timo Gottshalk-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+- 4:56:37.9
3-304-José Dias\João Miranda-Can-am Maverick X3-T3-4:56:55.4
4-307-Armindo Araujo\Luis Ramalho-Can-am Maverick X3-T3- 4:57:29.3
5-200-Nasser All Attyah\Matheu Baumel-Prodrive Hunter T1+-Nasser Racing\Prodrive-T1+- 4:58:42.8
6-333-Adam Thomelius\Oscar Andersson-Can-am Maverick X3-T3-5:00:30.4
7-214-Miguel Barbosa\Paulo Fiuza-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+-5:01:58.8
8-309-Matias Ekstrom\François Cazalet-Can-am Maverick X3-T3-South Racing-5:04:54.6
9-400-Cristino Batista\Robledo Nicoletti-Can-am Maverick X3-T4-South Racing-5:07:36.2
10-313-Pedro Carvalho\Romeu Martins-Can-am Maverick X3-T3-5:08:07.5
Campeonato Portugues
1-608-Ricardo Souza\Jorge Brandão-Can-am Maverick X3-T3-3:30:42.8
2-613-José Nogueira\Fernando Miguel-Can-am Maverick X3-T3-3:35:16.1
3-647-Marco Cardoso-Can-am Maverick X3-T3- 3:36:59.7
4-645-Nuno Matos\Ricardo Claro-Opel Mokka Proto-T8-3:39:30.5
5-610-Alexandre Cardoso\Jaime Cortes-Can-am Maverick X3-T3-3:40:52.6
6-618-Nuno Tordo\Filipi Salgueiro-Nissan Navara-T8-3:41:02.2
7-612-Antonio Carvalho\Diego Gomes-Can-am Maverick X3-T3-3:42:29.1
8-649-Sergio Vitorino\Sergio Cerveira-Can-am Maverick X3-T3-3:43:11.1
9-620-Joel Marrazes\José Motaco-Nissan Navara-T8
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Sabrina
EUA, 1954
Billy Wilder
7/10
Mudam-se os tempos
Sabrina, nesta versão original de 1954, tão singela na sua cinematografia a preto e branco, a lembrar tempos passados, em contraste com o glamour do tecnicolor, que dominou a década de 50, é, não obstante, uma prova incontornável de como a comédia romântica mudou, em Hollywood, desde os dias gloriosos, anteriores à guerra.
Temos a jovem Audrey Hepburn, de 25 anos de idade, sangue novo importado da Bélgica, top model da sempre glamorosa Europa, mesmo destruída pela guerra. Temos o veterano Humphrey Bogart, já com 55 anos de idade (faleceria escassos dois anos depois), símbolo incontornável do film noir da década de 40. Haverá um par mais improvável e menos romântico do que este?
O amor do pós-guerra perdeu o sentido de humor. Esqueceu a loucura das screwball comedies e rendeu-se ao drama psicológico, à redenção das almas, após o pesadelo da guerra.
Neste novo mundo triste, um velho executivo encontra tempo para o amor, depois de uma vida dedicada ao trabalho e à família, e uma jovem e glamorosa cozinheira, esquece os sonhos de infância, para se entregar à responsabilidade de uma vida adulta e rica.
Um amor cinzento e deprimido. Um drama romântico, nos antípodas da exuberância de um Cary Grant ou de uma Katharine Hepburn.
Até Billy Wilder, o rei das comédias da época, perdeu o sentido de humor, neste melodrama atípico, que nos deixa nostálgicos dos anos 30, quando as comédias românticas eram loucas e divertidas.
Decididamente, os tempos mudaram e com eles os gostos. Do meu pedestal da posteridade, posso afirmar, sem medo nem grande risco, que foi na loucura das screwball comedies, que Hollywood teve o seu apogeu romântico.
Em todo o seu glamour cinzento, este Sabrina é a prova inequívoca disso mesmo.
Times change
Sabrina, in this original version from 1954, so simple in its black and white cinematography, reminiscent of times gone by, in contrast to the glamor of Technicolor, which dominated the 50s, is, nevertheless, an inescapable proof of how comedy Romanticism has changed in Hollywood since the glorious, pre-war days.
We have the young Audrey Hepburn, 25 years old, new blood imported from Belgium, top model from the always glamorous Europe, even destroyed by war. We have the veteran Humphrey Bogart, already 55 years old (he would pass away just two years later), an unavoidable symbol of film noir in the 40s. Is there a more unlikely and less romantic pairing than this?
Post-war love has lost its sense of humor. It forgot the madness of screwball comedies and surrendered to psychological drama, the redemption of souls, after the nightmare of war.
In this sad new world, an old executive finds time for love, after a life dedicated to work and family, and a young and glamorous cook, forgets her childhood dreams, to give herself over to the responsibility of a wealthy adult life.
A gray and depressed love. A romantic drama, at the opposite of the exuberance of a Cary Grant or a Katharine Hepburn.
Even Billy Wilder, the king of comedies at the time, lost his sense of humor in this atypical (for him) melodrama, which makes us nostalgic for the 1930s, when romantic comedies were crazy and fun.
Times have definitely changed and, with them, tastes. From my pedestal of posterity, I can say, without fear or great risk, that it was in the madness of screwball comedies that Hollywood had its romantic heyday.
In all its gray glamour, this Sabrina is an unequivocal proof of this.
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O Pardal
Um pardal pousado
num estranho poleiro,
de ferro forjado,
por mão de ferreiro.
Uma cancela fechada
ao comum mortal,
passagem frustrada
de acesso ao pinhal.
Mas o pequeno pardal
não parece perdido,
pousado em varal
de ferro fundido.
Talvez por cansaço,
do habitat natural,
veio buscar um pedaço
de sustento rural.
Em vez de lutar
por um banal alimento,
preferiu esperar
pelo humano sustento.
De alguns, os restos,
enchem, de outros, a vida,
que em gestos modestos,
lhes dão comida e bebida.
23 de Novembro de 2023
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Falta de Educação
O ator João André afirmou ao Expresso que “Os atores dizem que faltam subsídios, mas falta-nos é educação. Não sabemos o que é ir ao teatro, não temos práticas culturais”.
Esta afirmação, contra corrente, com a qual concordo em absoluto, esconde na verdade dois defeitos profundos dos portugueses. O primeiro é a subsídio-dependência, o segundo é a iliteracia.
No primeiro caso temos a desculpa de quarenta e oito anos de proto-fascismo e mais cinquenta anos de proto-socialismo. Tudo somado dá quase um século em que os portugueses esperaram que o Estado lhes resolvesse todos os seus problemas.
O Estado é que tem a obrigação de arranjar emprego, casa, educação, saúde, apoio à infância, à velhice, ao desemprego, garantir um salário mínimo elevado, lugares na função pública, pensões de velhice generosas, subsídios para tudo e para todos. Se alguma coisa não corre bem, a culpa é do Estado, que tinha a obrigação de acautelar todas as necessidades, de todos os seus cidadãos, até ao mais ínfimo desejo.
Esta dependência do Estado estende-se a todas áreas de atividade, a todas as idades, géneros, regiões e graus de escolaridade dos portugueses.
Com tantas exigências do Estado, seria de esperar que os portugueses estivessem dispostos a pagar impostos elevados, que assegurassem tamanho volume de benefícios. Puro engano. O português foge aos impostos como o diabo da cruz e corre para o subsídio sem o mínimo pudor ou peso de consciência. Mesmo que não tenha direito, o melhor é concorrer, pode ser que paguem, nem que seja preciso forjar alguns requisitos fundamentais.
O português médio nasceu de mão estendida ao erário público. Tudo o que pingar é bem vindo. Já para pagar, acha que devem pedir aos ricos, aos bancos, à União Europeia, aos estrangeiros, que por cá andam aos milhares. Esses é que têm dinheiro, por isso, esses é que devem pagar impostos. O português é pobre por natureza, mesmo que tenha milhões e ande de Porsche, em segunda mão. Não tem capacidade financeira para pagar impostos, apenas para receber subsídios, ajudas, apoios, comparticipações, pensões, isenções e outros benefícios públicos, venham eles de onde vierem. E fica com inveja se o vizinho receber mais do que ele: é uma injustiça, uma pouca vergonha, é tratar uns como filhos e outros como enteados. A máxima expressão da raça lusitana é o velho ditado que diz que "ou comem todos, ou há moralidade", isto para os que não comem, ou comem pouco, obviamente, porque os que têm a barriga cheia, fecham-se em copas e deixam as reclamações para os outros, sempre afirmando o princípio básico de que "não há direito", deviam pagar a todos, mas escondendo os seus rendimentos e a conta bancária de tudo e de todos, como se fosse sagrada.
Há quem esconda as contas bancárias dos cônjuges e filhos, há quem ande com notas escondidas, para que ninguém saiba os seus rendimentos. Não são só os governantes! Esses são uma mera imagem refletida da sociedade que temos e daquilo que somos, por mais indignação que se expresse à mesa de café ou nos fóruns radiofónicos. As queixas exprimem geralmente inveja, de quem recebe mais do que eu, de quem se sabe governar à conta do Estado, de quem mama mais na teta pública, deixando os outros com fome. Esse é o moralismo nacional, a luta desesperada pelas tetas do Estado, que embora enormes e exangues, não deixam de produzir, todos os anos, mais uns bons milhões de litros de leite, para alimentar um povo esfomeado, insaciável e extremamente preguiçoso e invejoso.
O segundo problema é a iliteracia. Somos um país de velhos e de doutores, seria de esperar que, com tanto reformado e diplomado, a procura cultural fosse massiva, com listas de espera de semanas e meses para assistir a um espetáculo, para ir a um concerto ou a um museu, para ler as obras mais populares do momento, enfim, para consumir cultura. Puro engano.
O português médio, mesmo diplomado pela universidade, foge da cultura como dos impostos. Só lhe interessa futebol, copos, convívio, festivais de rock, jogos, carros, motas e férias em praias paradisíacas, de preferência de copo na mão. Também há os que apreciam viagens e desportos radicais, onde podem igualmente praticar todos os acima descritos hobbies.
Ir a um museu? O governo até os pôs à borla para os residentes, mas a afluência, embora tenha subido (o português detesta desperdiçar borlas), não há filas para entrar ou, nas raras ocasiões em que há, ou são estrangeiros, para visitar os Jerónimos ou a Torre de Belém, ou meia dúzia de portugueses, para visitar o MAAT na única manhã mensal em que a visita é de borla, só porque o museu está na moda e as entradas são caras.
Não há filas na Gulbenkian, nem mesmo nos domingos mensais em que a entrada é de borla. Já nem falo nos outros.
Concertos? Contam-se às centenas os portugueses que já entraram no Teatro São Carlos. Mesmo o Teatro Dona Maria II só teve afluência quando o La Feria lá montou uma revista. Para ver teatro a sério tem as mesmas centenas de clientes que o São Carlos.
Há milhares de lisboetas que nunca entraram no Museu de Arte Antiga e mais ainda que não sabem sequer onde fica o de Arte Contemporânea. O mesmo se dirá dos portuenses e do Museu Soares dos Reis ou dos viseenses e do Museu Grão Vasco. O Museu do Azulejo, no magnífico convento da Madredeus, é mais conhecido pelos estrangeiros, do que pelos lisboetas.
Haja arraiais com sardinha assada e copos de plástico, com fados ou música pimba e as gentes acorrem, aos magotes, para ouvir o Quim Barreiros. Deem-lhes música erudita, mesmo que seja de graça, e são sempre os mesmos que lá vão, até se conhecem pelos nomes próprios.
Haja raves e queimas das fitas e Rock in Rio e outros do género, que até se compram bilhetes com meses de antecedência. Mas para ouvir o mais exímio músico de jazz ou um pianista clássico, sobram lugares no mais modesto auditório.
Os portugueses estão positivamente a borrifar-se para a cultura, por isso, ela só existe subsidiada pelo Estado ou pelas autarquias locais. Não há filme português que dê lucro. Não há uma peça de teatro que ganhe dinheiro, exceto os musicais do La Feria, que, independentemente de se gostar ou não das suas produções, deveria ser estudado e imitado, no modelo de fazer cultura em Portugal, sem depender de subsídios e ganhando dinheiro. Não há festival de jazz ou de música clássica que dê lucro, por mais concorrido que seja e mais renomados os artistas presentes.
A cultura em Portugal não é uma indústria, é uma obra de caridade. Há associações e empresários que se dedicam a mendigar subsídios e apoios ao Estado, às empresas públicas, às autarquias locais, à Gulbenkian, à RTP, para montarem eventos cujas receitas de bilheteira não cobrem nem os custos de promoção, quanto mais os artistas, os técnicos, o aluguer dos espaços. Tudo isto é fornecido gratuitamente por entidades públicas, ou pago por patrocinadores, geralmente também do setor público. Cada vez que vou ver um concerto de jazz a um teatro, estou a gastar centenas de euros a alguma entidade pública, dos quais amortizo dez ou quinze euros no bilhete. O mesmo de cada vez que for ver um concerto de música clássica, um filme português ao cinema ou uma peça de teatro, que não seja produzida pelo La Feria.
Mas isto não significa que não existam privados a ganhar dinheiro com estes prejuízos públicos. Há concertos e festivais produzidos total ou parcialmente pelas autarquias, ou pelo CCB ou pela Culturgest ou pela EGEAC ou pela Casa da Música ou o Centro Olga Cadaval, entre outras entidades públicas que se dedicam à produção cultural. Têm a gestão dos espaços culturais, pelo que necessitam de rentabilizar a sua manutenção, o pessoal que empregam e cumprir com a função pública de oferecer cultura. Mas frequentemente preferem subcontratar os espetáculos. Não têm nem uma equipa de produção de espetáculos, que saiba quem contactar, como contratar e negociar preços e datas, nem vocação para isso. São geridos por funcionários públicos, que saem às cinco e não sabem, nem querem saber, nada sobre cultura. Por isso estão recetivos a propostas, que vêm dos agentes dos músicos ou, no caso dos estrangeiros, de produtoras especializadas, que contratam com os representantes dos artistas, no estrangeiro, tratam da logística do transporte e alojamento e contratam os seus serviços, chave na mão, com as direções dos recintos culturais. O preço é tanto (já incluindo naturalmente a margem de lucro do produtor). Vocês arranjam a sala, os instrumentos necessários, os técnicos de luzes e som, tratem da promoção e até podem ficar com a receita da bilheteira (que não paga nem um décimo das despesas totais).
Se a sala enche ou fica vazia é igual ao litro. Cada um cumpriu a sua missão. Há oferta cultural, paga a peso de ouro pelo erário público, os artistas são pagos, os produtores também e as entidades que gerem espaços culturais gastam o orçamento anual, oferecendo ao público espetáculos culturais, que para isso foram criadas.
Mas o sistema é vicioso. Não há sequer uma tentativa de gestão inovadora, que torne a cultura atrativa e auto-suficiente financeiramente. É muito mais fácil viver do subsídio. Dá muito menos trabalho, há oferta variada, até se esgotarem os orçamentos e os subsídios, e todos ganham.
Mas tudo isto se passa à margem do grande público, que não sabe, não quer saber e não há ninguém que lhe ensine a gostar de cultura.
A cultura é um privilégio das elites, subsidiada pelo Estado. O tal Estado que tem que providenciar tudo para os cidadãos, também cumpre essa função de assegurar programação cultural variada, às elites que a frequentam.
Talvez devesse gastar mais na educação cultural dos cidadãos e incentivar a produção privada. Criar uma verdadeira indústria cultural auto suficiente.
Então sim, prestaria um bom serviço à cultura e aos cidadãos.
26 de Novembro de 2024
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O Filho
João percorria, lentamente, os corredores do supermercado. Gostava de ser metódico nas compras. Tinha a obsessão de percorrer cada um dos corredores do estabelecimento, em busca de algum produto esquecido, de novidades ou de uma promoção inesperada. Era quase um ritual. Além disso era saudável, pois obrigava-o a andar mais, a fazer exercício, de cada vez que ia às compras.
No final do primeiro corredor, quando escolhia gelados na respetiva arca frigorífica, viu uma senhora idosa, que o olhava fixamente. Estranhou, mas como não conhecia a senhora, seguiu o seu caminho, fazendo de conta que nada se passou.
A meio do segundo corredor, enquanto escolhia e pesava a fruta, deparou novamente com a senhora a olhar para si, agora acompanhada de um homem, de idade igualmente avançada, que também o mirava com insistência.
João começou a ficar intrigado com a situação. Quem seria esta gente? Não os conhecia de lado nenhum e no entanto, olhavam-no com tanta insistência, como se fossem velhos conhecidos a quem ele tivesse obrigação de cumprimentar.
Não querendo provocar questões, voltou a ignorar os olhares e seguiu o seu caminho, como se nada tivesse ocorrido. Mas ficou atento aos movimentos do casal, intrigado e esperando alguma iniciativa da sua parte.
Voltaram a cruzar-se na padaria, e o casal de idosos, não só insistiu nos olhares, como lhe dirigiram ambos um sorriso amplo e carinhoso. Não havia dúvida, estavam a confundi-lo com alguém. Se a situação se repetisse, ele iria desfazer o equívoco. Estava a ficar incomodado com o insólito episódio.
Na fila da caixa, a senhora veio finalmente dirigir-lhe a palavra. Desculpou-se pelos olhares insistentes, mas explicou que João lhes fazia lembrar de tal forma o falecido filho, que não conseguiram tirar os olhos dele, até teve que chamar a atenção do marido, que concordou imediatamente com ela, atestando as semelhanças.
Era tal e qual o falecido filho do casal, que tinham perdido há muitos anos e de quem sentiram saudades enormes, em cada dia que viveram depois disso.
Para demonstrar as semelhanças, retirou da mala uma carteira, onde tinha uma dúzia de velhas fotografias do falecido filho, que entregou a João, para que este atestasse os motivos do espanto.
João, sensibilizado, vendo o casal de lágrima no canto do olho, prontificou-se a ver as fotos, curioso com a suposta semelhança do defunto.
Olhou com atenção os retratos e viu um bebé rechonchudo, uma criança de bata na escola, um adolescente gordito e bexiguento, a olhar contrariado para a câmara, mas não viu a mais pequena semelhança com ele, homem feito, de quarenta anos de idade, com o cabelo a ficar grisalho e a barriga a ganhar protuberância.
Sorriu e perguntou à senhora se não teria fotografias mais recentes do filho, pois aquelas eram todas da infância e da adolescência, e ele não conseguia ver a semelhança consigo, naquela idade.
A senhora lamentou-se que o filho faleceu aos quinze anos de idade. Mas que João tinha exatamente o mesmo aspeto que o filho teria, se tivesse vivido até à sua idade. Por isso ficaram tão sensibilizados ao olhar para ele.
João primeiro estranhou a resposta, mas depois sorriu e despediu-se do velho casal, com a ternura de um filho.
2 de Abril de 2024
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Museu do Azulejo, 4 de Fevereiro 2024
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Estudo da Faculdade de Medicina do Porto revela como eliminar "superfungo"
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) demonstra que o peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, é eficaz para desinfeção de hospitais e na eliminação do "superfungo" 'candida auris', foi hoje revelado.
Lembrando que este ano o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América alertou para o crescimento alarmante dos casos de infeções por este “superfungo”, o coordenador do estudo, Acácio Gonçalves Rodrigues, descreveu que a FMUP tem vindo a estudar como prevenir surtos e evitar consequências potencialmente fatais para os doentes.
“E os resultados demonstram que o peróxido de hidrogénio não tem potencial significativo, pelo menos a curto e médio prazo, de indução de resistência microbiana, portanto pode ser usado com segurança. É um método fiável e confiável para desinfeção de espaços onde tenham sido admitidos doentes que tenham estado infetados por ‘candida auris”, afirmou.
A ‘candida auris’ é uma espécie de fungo que está associado a múltiplos surtos, infeções graves e altas taxas de mortalidade em todo o mundo.
Em causa está um fungo patogénico capaz de entrar na corrente sanguínea e de invadir todo o corpo.
Este fungo foi identificado pela primeira vez em 2009, no Japão.
Os dados disponíveis indicam que a ‘candida auris’ pode ser super-resistente, resistindo aos medicamentos (antifúngicos) utilizados para o tratamento das infeções que provoca.
Salvaguardando que, embora o peróxido de hidrogénio seja “amplamente utilizado em ambientes de saúde”, quer em líquido, vapor ou aerossol, eram necessárias mais evidências da sua eficácia contra aquele fungo, o professor da FMUP explicou que não havia dados sobre a possibilidade de indução de resistências depois do uso do H2O2.
“Mas agora sabe-se que o uso continuado de peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, para desinfeção e esterilização de hospitais e outras estruturas de saúde, provou ser eficaz”, concluiu Acácio Gonçalves Rodrigues, em declarações à agência Lusa.
A equipa da FMUP analisou três espécies de ‘candida’ — a candida auris, a candida albicans e a candida parapsilosis — que foram expostas durante 30 dias a concentrações definidas de peróxido de hidrogénio.
Os resultados indicam que aquele desinfetante tem eficácia semelhante em todas as espécies de candida, após aquele período, conforme se lê na síntese do estudo enviada pela FMUP à Lusa.
“A adoção de soluções de H2O2 em protocolos de rotina, a fim de promover a desinfeção contra ‘candida auris’, melhorando a segurança do paciente e reduzindo custos com saúde, é certamente bem-vinda”, acrescentou Acácio Gonçalves Rodrigues.
Recordando os medos e fragilidades que a pandemia da covid-19 colocou a nu no panorama da saúde, o professor concluiu: “a prevenção é melhor forma de evitar futuros surtos”.
Publicado na revista científica “Antimicrobial Resistance & Infection Control”, o artigo científico coordenado por Acácio Gonçalves Rodrigues, tem também como autores Luís Cobrado, Elisabete Ricardo, Patrícia Ramalho, da FMUP/CINTESIS@RISE, e Ângela Rita Fernandes, da FMUP.
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Rádio Macau é uma banda portuguesa formada em Algueirão, Mem Martins, no início dos anos 80. Em 1993, a banda suspende a atividade, alegando cansaço e vontade de embarcar noutras experiências. Regressam como banda em 1998 e aos discos em 2000, com outra sonoridade.
O principal êxito da banda é o tema "O Anzol", que foi incluído no terceiro álbum da banda, O Elevador da Glória. "O Anzol" foi lançado como single em 1988 a sua sonoridade foi comparada a "Just Like Heaven", da banda inglesa The Cure, que saiu como single em outubro de 1987.
Membros
Xana (vocalista)
Flak (guitarra)
Alex (baixo)
Filipe Valentim (teclados)
Samuel Palitos (bateria)
Ricardo Frutuoso (guitarra)
Emanuel Ramalho (bateria)
Luís San Payo (bateria)
Beto Garcia (bateria)
Fred Ferreira (bateria)
Rádio Macau
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