#Ricardo Ramalho
Explore tagged Tumblr posts
Text
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/7832c23ebc1f5aa0c7e820758ce44d9a/b5d028a18d71ed9d-aa/s540x810/eb910cfd5c25e750c16173e50425747319568816.jpg)
As Noites de Cabiria
I, F, 1957
Federico Fellini
9/10
Fatalismo Otimista
As noites de Cabiria, de 1957, é o último filme do período neo-realista de Fellini e também, conjuntamente com La Strada, de 1954, uma das suas obras primas, não só deste período mas de toda a sua carreira. O próximo filme do realizador seria La Dolce Vita, três anos depois, e com ele começaria uma nova fase da sua obra, que poderíamos classificar como integrada na "nova vaga" do cinema italiano, onde o simbolismo, a metáfora e uma boa dose de existencialismo, passariam a integrar, de forma crescente, o cinema de Fellini.
Mas aqui, em 1957, quando a "nouvelle vague" já começava a despontar em França (La Pointe-Curte, de 1955 e de Agnès Varda, é geralmente apontado como o primeiro filme desta corrente), Fellini e Antonioni, que neste mesmo ano estreou O Grito, ainda navegavam, manifestamente, por águas neo-realistas. Mas de forma brilhante.
As Noites de Cabiria é uma obra prima do neo-realismo, mesmo tardia, e tal foi amplamente reconhecido na época, com inúmeros prémios, Óscar de melhor filme estrangeiro, prémio de melhor atriz em Cannes para Giulietta Massina, prémio Zulueta em San Sebastian, entre muitos outros prémios e nomeações, nacionais e estrangeiros. Mas é igualmente reconhecido pela posteridade, que coloca invariavelmente esta obra entre as melhores do realizador italiano.
De facto, tal como em La Strada, Fellini tira partido do caráter tragicómico do personagem interpretado por Giulietta Massina, para acentuar o caráter dramático, mas ao mesmo tempo absurdo, da vida. Esta Itália do pós-guerra neo-realista era um inferno na terra, em que a luta pela sobrevivência tornava qualquer cordeiro num leão, capaz das maiores atrocidades, por um punhado de liras. E, no entanto, bastava um acordeão, uma dança, um copo de vinho, para reconciliar o mais desafortunado com a vida e dar-lhe forças para continuar a lutar.
Nestas condições extremas, não há espaço para dramas psicológicos, a vida é simples e impulsiva, viver ou morrer, sobreviver a todo o custo, ou morrer de fome, sem olhar a meios.
Essa amoralidade da luta pela sobrevivência, associada à simplicidade com que se aceita a fatalidade da vida e os pequenos prazeres que ela proporciona, mesmo no meio da miséria, fazem destas obras um monumento ao humanismo e ao otimismo, que teima em olhar sempre o lado positivo da vida, mesmo no meio da desilusão e da desgraça.
Um hino ao amor pela vida.
Optimistic Fatalism
The Nights of Cabiria, from 1957, is the last film of Fellini's neo-realist period and also, together with La Strada, from 1954, one of his masterpieces, not only from this period but from his entire career. The director's next film would be La Dolce Vita, three years later, and with it a new phase of his work would begin, which we could classify as integrated into the "new wave" of Italian cinema, where symbolism, metaphor and a good dose of existentialism, would increasingly become part of Fellini's cinema.
But here, in 1957, when the "nouvelle vague" was already beginning to emerge in France (La Pointe-Curte, from 1955, by Agnès Varda, is generally considered the first film of this current), Fellini and Antonioni, who in that same year premiered The Scream, were still clearly navigating neo-realist waters. But brilliantly.
The Nights of Cabiria is a masterpiece of neo-realism, even late, and this was widely recognized at the time, with numerous awards, Oscar for best foreign film, best actress award at Cannes for Giulietta Massina, Zulueta award in San Sebastian, among many other awards and nominations, national and foreign. But it is equally recognized by posterity, who invariably places this work among the Italian director's best.
In fact, as in La Strada, Fellini takes advantage of the tragicomic nature of the character played by Giulietta Massina, to accentuate the dramatic, but at the same time absurd, nature of life. This neo-realist italian post-war was a hell on earth, in which the fight for survival turned any lamb into a lion, capable of the greatest atrocities, for a handful of lire. And yet, all it took was an accordion, a dance, a glass of wine, to reconcile the most unfortunate with life and give them the strength to continue fighting.
In these extreme conditions, there is no room for psychological dramas, life is simple and impulsive, live or die, survive at all costs, or die of hunger, regardless of the means.
This amorality of the struggle for survival, associated with the simplicity with which the fatality of life is accepted and the small pleasures it provides, even in the midst of misery, make these works a monument to humanism and optimism, which insists on always looking to the positive side of life, even in the midst of disappointment and misfortune.
A hymn to the love of life.
5 notes
·
View notes
Text
Solidão
Sozinho, ao balcão,
num bar, quase deserto,
sem sentido, nem razão,
nem dormindo, nem desperto.
Tenho um copo de cerveja
pousado, na minha frente,
que não enche, nem despeja,
está ali, apenas, jacente.
Não foi a sede, que me levou,
a este sujo balcão triste.
Foi a solidão, quem convidou,
e a solitude, quem me assiste.
Na humana condição
há dias como este, turvos,
em que a vital decepção
nos obriga a atos absurdos.
Beber cerveja, para esquecer
o que não podemos alegrar.
Uma esperança vã, a nascer,
para, mais depressa, azedar.
Triste sina é a solidão,
que nos tira o sono e a vida.
Lança-nos à tentação
de uma fugaz despedida.
14 de Outubro de 2024
2 notes
·
View notes
Text
Sexo Bolchevista
Muito para além do escândalo e do romance rosa, cor com que por vezes o pintam, O Amante de Lady Chatterley, clássico escrito por D.H. Lawrence, no final da década de vinte do mesmo século, revela uma forte crítica social, própria de uma época de profundas transformações e de experimentalismo político, artístico e literário.
É um mundo em crise, e muito particularmente uma Inglaterra decadente e suja, do final da revolução industrial, que Lawrence satiriza, através de uma relação escandalosa e sensual, que provoca o leitor seu contemporâneo, muito mais pela diferença de estatuto social dos amantes, do que pelo adultério, propriamente dito, por mais descritivo e erótico que pudesse parecer às moralidades hipócritas e púdicas de então, como às de agora.
Há apenas uma concessão que me intriga, no contexto da ousadia geral da obra, a ideia de fazer de Lady Chatterley uma burguesa, que ascende à aristocracia pelo casamento, e de Mellors, um guarda de caça que regressa às origens, após ter ascendido à classe média no exército, chegando a exercer o posto de tenente, na Índia.
Sob o ponto de vista da crítica social pura, seria bem mais provocador fazer uma aristocrata de sangue ceder às tentações sensuais de um vulgar rústico ou proletário. Mas Lawrence terá talvez pensado que seria esticar demasiado a corda, que esta relação já seria suficientemente escandalosa para a mentalidade da época e que, afastando ainda mais as origens sociais do casal, tornaria a paixão inverosímil. No entanto, eu atrevo-me a referir que não foi pelas lindas histórias da Índia colonial de Mellors que Lady Chatterley se apaixonou, mas sim pela enorme satisfação sexual que encontrou na sua cama e que não encontrou, não apenas no marido, entrevado de guerra, como nos seus amigos aristocratas ou burgueses, como Michaelis. Por isso tanto podia ser tenente como soldado raso...
Mas também é possível que a intenção de Lawrence fosse outra, a de exaltar uma classe média emergente, de gente que sobe e desce na rígida estrutura social britânica (ele próprio era um híbrido, filho de mineiro que ascendeu ao magistério) sem que isso defina verdadeiramente a sua condição. Uma crítica à aristocracia decrépita e vazia, por oposição a uma classe média que cresce e ganha importância na sociedade britânica, fruto dos seus méritos próprios e apesar dos preconceitos vigentes.
Na verdade, há todo um sentimento revolucionário subjacente à obra, que passa pelo nome de bolchevismo, na boca dos seus personagens, um termo muito em voga na época, em que decorria ainda a guerra civil na Rússia. Mas este bolchevismo de Lawrence não remete diretamente para Lenine e para os seus partidários, para a luta entre brancos e vermelhos ou para a sovietização progressiva da Rússia, num momento em que a vitória dos vermelhos já parecia perfeitamente previsível. Aponta muito mais para a necessidade de ruptura na ordem social vigente, para a decadência do modelo capitalista tradicional, que Lawrence critica exaustivamente. Desde o mais anónimo mineiro até ao Príncipe de Gales, todos vivem para ganhar e gastar dinheiro, modelo vazio de princípios, que ele quer substituir por um novo, social e humanista, que, provocante ou inocentemente, baseia no amor e no sexo.
Os tempos eram de mudança, entre bolchevistas e fascistas, o mundo virava a página da revolução industrial e abria as portas ao desconhecido, que Mellors, num pressentimento acertado, temia ser terrivel. Lawrence não chegou a viver o terror do nazismo, do estalinismo e da segunda guerra mundial, pois morreu tuberculoso, em 1930, apenas com 44 anos de idade. Mas o fantasma da destruição, de uma sociedade à beira do abismo, está bem patente na obra, demonstrando que o mal estava latente nos anos vinte e que profundas e violentas mudanças sociais se anunciavam.
A tentação e, sobretudo, a satisfação sexual, servem aqui de metáfora para a demolição dos preconceitos que amarram uma ordem social decadente e vazia. É preciso confrontar a sociedade caduca com os seus medos, para que se desmorone sozinha.
Um século depois, desprovida do erotismo e escândalo social, que tanto chocou os seus contemporâneos, talvez propositadamente, porque na altura, como agora, o sexo vende, fica a crítica social, pertinente, perspicaz e, até certo ponto, visionária da obra de Lawrence.
Pontuada, é certo, com algumas notas de inocência, que só lhe acentuam o charme e tornam o livro, ainda e sempre, um prazer para o leitor.
4 de Junho de 2014
2 notes
·
View notes
Text
A Cruz dos Afogados
A poucos metros da costa, em frente ao areal branco da praia, existia um pequeno ilhéu escarpado. Nada de surpreendente, pois ilhéus como aquele, proliferavam na longa costa de arribas, que por quilómetros se prolongava naquela região, enfrentando o oceano furioso e perdendo, ano após ano, a batalha, fosse engrossando os areais costeiros, fosse ainda largando pedaços de rocha agreste, por entre as ondas do mar, baluartes resistentes, por mais alguns séculos, numa guerra, aparentemente, perdida.
Este era mais um escolho, destroço de antigas pelejas entre a terra e o mar, troféu capturado pelo oceano à rocha, refém dos infindáveis combates.
Mas tinha uma particularidade, que o distinguia de todos os outros. Uma singela cruz de ferro, postava-se no topo, de aspecto vetusto e origem incerta, que o povo apelidava, ominosamente, de cruz dos afogados, sem que ninguém tivesse memória de quem estes fossem, ou sequer o autor daquela singela homenagem.
Amaro passava férias ali, desde que nasceu. A família tinha uma velha casa na encosta, que passou de geração em geração, até chegar à sua. Em pequeno, veraneava naquela casa, na companhia dos pais e irmãos e ainda dos avós e dos tios, que também por lá andavam frequentemente, com os primos, com quem Amaro tantas vezes brincou, naquele areal. Após a morte dos avós, a casa ficou, em partilhas, para o pai e depois para Amaro, por morte daquele, pelo que o edifício estava indelevelmente associado às mais antigas memórias da sua vida, que associava invariavelmente à infância e aos seus antepassados, reunindo nela, ainda hoje, ocasionalmente, a sua parentela contemporânea, em almoços evocativos das memórias comuns da família.
Mas também Amaro, apesar da sua antiga e profunda ligação à freguesia, desconhecia a história da funesta cruz dos afogados, que, tão lugubremente, pairava sobre o belo areal da praia, no topo daquele ilhéu, recortado ao sol veranil.
Curioso e apaixonado pelo local, decidiu investigar as origens da cruz, consciente, contudo, das dificuldades da missão assumida.
Começou por contactar o município, em busca de escritos antigos, sobre a povoação e a cruz. Disseram-lhe o que ele já sabia, que a mesma seria homenagem a alguém que se teria afogado, naquele local, há séculos atrás, mas de quem não conheciam a identificação, podendo mesmo tratar-se de uma simples lenda. Era uma história ocultada pelo mistério do tempo. Não satisfeito, Amaro fez buscas na biblioteca municipal, sem que daí tenha resultado esclarecimento adicional, ao pouco que já conhecia.
Um dia, numa taberna da aldeia, um velho pescador meteu conversa com ele, sobre a cruz dos afogados, pois toda a gente conhecia já, nessa altura, as pesquisas de Amaro junto das autoridades municipais, sobre o Ilhéu sinistro.
Era um velho desdentado, há muito ultrapassado dos oitenta anos de idade, que ali vivia desde que nasceu e se chamava Albertino, por todos apelidado, carinhosamente, por Ti Tino.
Pois Ti Tino lembrava-se, em criança, de ter ouvido alguém comentar, entre os velhos de então, que a cruz dos afogados era uma homenagem a um padre, que ali teria morrido, há muitos anos atrás.
Com esta nova pista em mente, Amaro foi conversar com o pároco local, que, de tão jovem que era, nunca tinha ouvido falar nessa história do padre afogado. Mas disponibilizou-lhe a consulta dos registos paroquiais e, melhor do que isso, deu-lhe os contactos do arquivista da diocese, onde poderia encontrar, não só muito mais informação para a pesquisa, como também um auxiliar precioso, conhecedor profundo da história da diocese e das várias paróquias que a compõem. Foi então que Amaro conheceu o cónego Faustino, historiador e arquivista da diocese, a quem expôs longamente a sua história e os objetivos da pesquisa.
O clérigo tinha conhecimento da existência da cruz e de uma velha história de um padre afogado naquela praia, oriundo, segundo ele, de um seminário local, entretanto encerrado. Mas não tinha os pormenores de memória. Ficou de recolher documentação sobre o facto e reunir com Amaro, passados alguns dias.
No dia marcado, Faustino surgiu com dois velhos volumes, manchados pelo tempo e a humidade, e uma longa história para contar, que Amaro ouviu avidamente. Parece que, no século XVIII, existia um pequeno seminário naquela praia, dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Na verdade, era uma mera dependência do seminário maior, instalado na sede episcopal, onde os jovens seminaristas iam veranear. Uma espécie de colónia de férias, onde se deslocavam durante a canícula, juntamente com os professores, para prosseguirem os estudos em ambiente mais saudável, que por vezes incluíam exercício físico e banhos de mar, na praia.
O local terá ainda sido usado, em tempos pestilentos, para afastar os seminaristas dos eflúvios deletérios da cidade e permitir-lhes continuar os estudos em local arejado, junto ao mar, onde o ambiente era muito mais saudável.
Sucedeu contudo, no Verão de 1782, um grupo de jovens seminaristas mais irrequietos, a banhos na praia, lembrar-se de trepar ao ilhéu, para daí mergulharem no mar, provavelmente numa prática recorrente, que nunca tinha dado problemas anteriormente.
No entanto, dessa vez, um deles ficou ferido na queda. Um dos professores, douto mestre em latim e bom nadador, tentou salvá-lo, enquanto o jovem se debatia, provavelmente com dores, incapaz de nadar.
O resultado foi funesto, porque não só o professor não conseguiu resgatar o enfermo, como se deixou envolver pela força da desesperação do rapaz, sendo ambos engolidos pelo mar. Os corpos só terão sido recuperados vários dias volvidos, a muitas léguas dali.
O episódio foi tão marcante que, não só foi mandada erigir aquela cruz, no ilhéu maldito, abençoando a alma dos falecidos e relembrando, aos vivos, os perigos daquele rochedo, como o próprio seminário foi abandonado, vendido entretanto a leigos.
Amaro ficou curioso com o nome do seminário, pois a velha casa da sua família chamava-se Casal do Carmo, e pediu ao cónego se era possível determinar a localização do velho seminário. Este abriu um dos velhos volumes e mostrou-lhe desenhos do edifício e a descrição da localização do mesmo, junto a uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, nas arribas perto da aldeia.
Era precisamente o local onde estava instalada a sua velha casa de família. A capela ainda existia, embora estivesse fora dos limites da propriedade. Mas não era por acaso que a habitação se chamava Casal do Carmo, porque terá tido, na origem, o edifício do antigo Seminário, junto à capela do mesmo nome.
Entusiasmado com a descoberta, Amaro recolheu toda a informação que pôde, sobre o seminário e o triste evento relatado, decidido a escrever um livro, contando a história da sua casa, do seminário que a precedeu e das funestas circunstâncias que levaram ao seu abandono e venda à família, sendo ele o atual proprietário de tão antigo edifício, carregado de tradição, e fazendo assim renascer a memória da velha cruz dos afogados e dos nomes das vítimas, reassociadas ao local e à história da freguesia.
15 de Março de 2023
1 note
·
View note
Photo
COLECÇÃO VÁRIA, #3 Florilégio
organização: Maria Sequeira Mendes, Joana Meirim, Nuno Amado leituras/ensaios por: Akihiko Shimizu, Alberto Manguel, Alda Rodrigues, Alex Wong, Amândio Reis, Ana Cláudia Santos, Ana Maria Pereirinha, Ana Matoso, Ana Sofia Couto, António J. Ramalho, Bernardo Palmeirim, Clara Rowland, Diogo Martins, Fernando Cabral Martins, Frederico Pedreira, Golgona Anghel, Gustavo Rubim, Helder Gomes Cancela, Helena Carneiro, Inês Rosa, Joana Matos Frias, Joana Meirim, João Dionísio, Jorge Almeida, Lawrence Rhu, Lúcia Evangelista, Madalena Quintela, Madalena Tamen, Margarida Vale de Gato, Maria Rita Furtado, Maria Sequeira Mendes, Miguel Tamen, Nuno Amado, Pedro Serra, Pedro Sobrado, Rita Faria, Rosa Maria Martelo, Sara Campino, Sara de Almeida Leite, Silvina Rodrigues Lopes, Tatiana Faia, Telmo Rodrigues, Teresa Bartolomei poemas de: Abade de Jazente, Adélia Prado, Adília Lopes, Alberto Pimenta, Alice Oswald, Ana Hatherly, Anna Akhmátova, Anthony Hecht, António Franco Alexandre, António Gedeão, Arthur Rimbaud, Bernardim Ribeiro, Carlos de Oliveira, Charlotte Smith, Christopher Middleton, Elizabeth Bishop, Ellen Davies, Emily Dickinson, Fernando Assis Pacheco, Florbela Espanca, Frances Leviston, Francisco Alvim, G. E. Patterson, Golgona Anghel, Ian MacMillan, João Miguel Fernandes Jorge, John Betjeman, Jorge Sousa Braga, José Afonso, José Miguel Silva, Kenneth Goldsmith, Kudo Naoko, Leopoldo María Panero, Luís de Camões, Luiza Neto Jorge, Manuel Bandeira, Manuel Gusmão, Margarida Vale de Gato, María Elena Walsh, Maria Velho da Costa, Raymond Carver, Raul de Carvalho, Ricardo Tiago Moura, Rosa Maria Martelo, Tonia Tzirita Zacharatou, Wilfred Owen capa e ilustrações: João Concha ISBN: 978-989-53985-1-5 n.º de páginas: 232 tiragem: 350 exemplares 1.ª edição: Março, 2023 Recomendado no Plano Nacional de Leitura LER+ PVP 20,00 euros | ensaio |
5 notes
·
View notes
Text
O PESO
O PESO foi uma banda de rock brasileira formada em Fortaleza em 1971. Em 1971, os cearenses Luiz Carlos Porto e seu parceiro Antônio Fernando Vale, o Gordo, fundaram um grupo ao qual chamaram de Grupo Peso ou O Peso para tocar no III Festival Nordestino da Música Popular, em Fortaleza. A apresentação rendeu convites para shows por todo o Nordeste. Procurando evoluir com a carreira, ambos se inscreveram no VII Festival Internacional da Canção (FIC) com a música "O Pente" e conseguiram chegar na fase classificatória que aconteceria em setembro daquele ano no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e seria transmitida pela Rede Globo para todo o país. A canção era um rock de raízes stonianas, bastante suingado e que falava sobre o uso de um pente para fechar um baseado. Mesmo não conseguindo a classificação para a fase final nacional, conseguiram participar do LP oficial do festival “Os Grandes Sucessos do FIC 72”, lançado pela gravadora Phonogram e também, ter sua canção lançada em um compacto pela mesma gravadora, só que pelo selo Polydor. Após o evento, Luiz C. Porto manteve contatos com diversos músicos da cidade. Luiz C. Porto e Antônio Fernando retornaram à Fortaleza e tentaram em vão continuar o projeto. Nos anos seguintes, Antônio Fernando desistiu da carreira e retornou ao nordeste, e Luiz C. Porto continuou tentando montar uma banda para seguir com a sua carreira. No final de 1974, Luiz C. Porto conheceu Gabriel O'Meara, guitarrista norte-americano radicado no Brasil e que havia acompanhado Gal Costa em shows em 1971. Juntos, passaram a acompanhar Zé Ramalho nos seus shows na Urca e, graças aos contatos de O'Meara, conseguiram um contrato com a Phonogram para lançar um disco. Além de Gabriel O'Meara e Luiz C. Porto também faziam parte da banda Constant Papineau (piano), Carlos Scart (baixo) e Geraldo D'arbilly (bateria). Como novos contratados da gravadora, se apresentaram na primeira edição do Hollywood Rock, em janeiro de 1975. O evento seria registrado no documentário Ritmo Alucinante e renderia o lançamento de um falso álbum ao vivo em 31 de março do mesmo ano. A banda realizou também uma turnê nacional a partir daquele mês. Em julho, chegou às lojas o disco “Em Busca do Tempo Perdido”, álbum de estreia da banda lançado pelo selo Polydor. Para promover o disco, foi lançado também um compacto simples com as músicas "Sou Louco por Você" e "Me Chama de Amor". O álbum mesclava blues, hard rock e R&B, com nítidas influências do Led Zeppelin. O disco teve baixa repercussão de público e crítica. A banda ficou mais conhecida na época por suas apresentações ao vivo. Após passar dificuldades financeiras e locais reduzidos para shows de rock, O Peso encerrou suas atividades em 1977, com Gabriel O'Meara tornando-se músico de estúdio e produtor musical e Luiz C. Porto saindo em carreira solo. Em 1983, Luís Carlos Porto lançou um álbum solo homônimo. O disco foi produzido por Marcelo Sussekind, guitarrista da banda Herva Doce. Em 1984, com a nova onda do rock no Brasil, O Peso retornou às atividades, mas apenas com Luiz C. Porto da formação original. Completava a banda Ricardo Almeida nas guitarras, George Gordo no baixo e Carlinhos Graça na bateria. Nesse período, o grupo fez shows tocando seu antigo repertório e não lançou novos discos. Em 1986, depois de um show em Fortaleza, o vocalista Luiz C. Porto terminou se envolvendo em um acidente grave de moto, passando a ter que conviver com esquizofrenia e sendo obrigado a deixar os palcos. A banda parou as atividades no mesmo ano. Os problemas de saúde de Luiz Carlos Porto, que mora a muitos anos em Fortaleza, impediu uma reunião comemorativa do cultuado álbum que completou 40 anos do lançamento em 2015. Membros: Luiz Carlos Porto - vocais | Gabriel O'Meara - guitarra | Constant Papineau - piano, teclado | Carlos Scart - baixo | Geraldo D'arbilly - bateria | Convidado: Zé da Gaita - gaita.
Bandas de rock relíquias
1 note
·
View note
Text
No mundo inteiro, observa-se uma onda de investimentos na produção do biometano, também denominado gás natural renovável (GNR). O aproveitamento do biometano é visto cada vez mais como essencial para o alcance das chamadas emissões líquidas zero, de gases de efeito estufa (GEE), até 2050. As previsões indicam que o Brasil, que detém um grande potencial de produção, deve se tornar um dos cinco maiores produtores nos próximos anos. Gerado a partir de resíduos orgânicos, sejam urbanos, industriais ou agropecuários, o biometano traz respostas para três grandes problemas da sociedade moderna: A dificuldade de tratamento adequado desses resíduos; A emissão de metano decorrente de sua decomposição natural; A produção de energia renovável, aderente à ideia de economia circular. Sua competitividade, no entanto, dependerá de fatores externos a sua cadeia produtiva, principalmente do preço do gás natural e da precificação de carbono emitido a partir de sua queima, bem como dos esforços de contenção das emissões antropogênicas de metano. O biometano tende a se tornar uma importante fonte primária de energia no futuro próximo, à medida que seu uso em escala for sendo viabilizado pela agenda climática, com as adequadas políticas e investimentos necessários à contenção das emissões. No Brasil, há potencial de aproveitamento de biomassa dos setores agropecuário (maior emissor de metano no país), sucroalcooleiro e agroindustrial para produção econômica de biometano. Também é muito significativo o potencial do setor de resíduos (segundo maior emissor de metano), que vive um esperado momento de transição com a vigência do novo marco regulatório do saneamento. No texto para discussão 159, A hora do biometano no Brasil, os autores Cássio Adriano Nunes Teixeira, Ricardo Cunha da Costa, André Pompeo do Amaral Mendes e Marco Aurélio Ramalho Rocio, apresentam um panorama sobre a produção e usos do biometano no Brasil e no mundo, abordando aspectos como: tecnologia para produção, custos, regulamentação brasileira, oportunidades, barreiras e propostas para o desenvolvimento do mercado no Brasil. > Baixe aqui o estudo. Conteúdos relacionados: Tecnologias veiculares e combustíveis para o futuro da mobilidade Os biocombustíveis e a transição para o setor de transportes de baixo carbono Novo marco legal do saneamento e atuação do BNDES(function(d, s, id) var js, fjs = d.getElementsByTagName(s)[0]; if (d.getElementById(id)) return; js = d.createElement(s); js.id = id; js.src="https://connect.facebook.net/pt_BR/sdk.js#xfbml=1&version=v2.12"; fjs.parentNode.insertBefore(js, fjs); (document, 'script', 'facebook-jssdk')); Link da matéria
0 notes
Text
Resultado Baja Porto Alegre 500 2023
Top 10
1-202-João Ferreira\Filipi Palmero-Mini Cooper T1+-X-RAID MINI-T1+-4:54:16.3
2-201-Yazeed Al Rajhi\Timo Gottshalk-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+- 4:56:37.9
3-304-José Dias\João Miranda-Can-am Maverick X3-T3-4:56:55.4
4-307-Armindo Araujo\Luis Ramalho-Can-am Maverick X3-T3- 4:57:29.3
5-200-Nasser All Attyah\Matheu Baumel-Prodrive Hunter T1+-Nasser Racing\Prodrive-T1+- 4:58:42.8
6-333-Adam Thomelius\Oscar Andersson-Can-am Maverick X3-T3-5:00:30.4
7-214-Miguel Barbosa\Paulo Fiuza-Toyota GR Hylux T1+-Over Drive Toyota-T1+-5:01:58.8
8-309-Matias Ekstrom\François Cazalet-Can-am Maverick X3-T3-South Racing-5:04:54.6
9-400-Cristino Batista\Robledo Nicoletti-Can-am Maverick X3-T4-South Racing-5:07:36.2
10-313-Pedro Carvalho\Romeu Martins-Can-am Maverick X3-T3-5:08:07.5
Campeonato Portugues
1-608-Ricardo Souza\Jorge Brandão-Can-am Maverick X3-T3-3:30:42.8
2-613-José Nogueira\Fernando Miguel-Can-am Maverick X3-T3-3:35:16.1
3-647-Marco Cardoso-Can-am Maverick X3-T3- 3:36:59.7
4-645-Nuno Matos\Ricardo Claro-Opel Mokka Proto-T8-3:39:30.5
5-610-Alexandre Cardoso\Jaime Cortes-Can-am Maverick X3-T3-3:40:52.6
6-618-Nuno Tordo\Filipi Salgueiro-Nissan Navara-T8-3:41:02.2
7-612-Antonio Carvalho\Diego Gomes-Can-am Maverick X3-T3-3:42:29.1
8-649-Sergio Vitorino\Sergio Cerveira-Can-am Maverick X3-T3-3:43:11.1
9-620-Joel Marrazes\José Motaco-Nissan Navara-T8
0 notes
Text
Estudo da Faculdade de Medicina do Porto revela como eliminar "superfungo"
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) demonstra que o peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, é eficaz para desinfeção de hospitais e na eliminação do "superfungo" 'candida auris', foi hoje revelado.
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/5b2c1aba9bd422d6a8699422cc387f99/c07e439d8a8a30e0-30/s540x810/c3d9117ede3d9145861bbba0eac520f6f4de2cab.jpg)
Lembrando que este ano o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América alertou para o crescimento alarmante dos casos de infeções por este “superfungo”, o coordenador do estudo, Acácio Gonçalves Rodrigues, descreveu que a FMUP tem vindo a estudar como prevenir surtos e evitar consequências potencialmente fatais para os doentes.
“E os resultados demonstram que o peróxido de hidrogénio não tem potencial significativo, pelo menos a curto e médio prazo, de indução de resistência microbiana, portanto pode ser usado com segurança. É um método fiável e confiável para desinfeção de espaços onde tenham sido admitidos doentes que tenham estado infetados por ‘candida auris”, afirmou.
A ‘candida auris’ é uma espécie de fungo que está associado a múltiplos surtos, infeções graves e altas taxas de mortalidade em todo o mundo.
Em causa está um fungo patogénico capaz de entrar na corrente sanguínea e de invadir todo o corpo.
Este fungo foi identificado pela primeira vez em 2009, no Japão.
Os dados disponíveis indicam que a ‘candida auris’ pode ser super-resistente, resistindo aos medicamentos (antifúngicos) utilizados para o tratamento das infeções que provoca.
Salvaguardando que, embora o peróxido de hidrogénio seja “amplamente utilizado em ambientes de saúde”, quer em líquido, vapor ou aerossol, eram necessárias mais evidências da sua eficácia contra aquele fungo, o professor da FMUP explicou que não havia dados sobre a possibilidade de indução de resistências depois do uso do H2O2.
“Mas agora sabe-se que o uso continuado de peróxido de hidrogénio, também conhecido como água oxigenada, para desinfeção e esterilização de hospitais e outras estruturas de saúde, provou ser eficaz”, concluiu Acácio Gonçalves Rodrigues, em declarações à agência Lusa.
A equipa da FMUP analisou três espécies de ‘candida’ — a candida auris, a candida albicans e a candida parapsilosis — que foram expostas durante 30 dias a concentrações definidas de peróxido de hidrogénio.
Os resultados indicam que aquele desinfetante tem eficácia semelhante em todas as espécies de candida, após aquele período, conforme se lê na síntese do estudo enviada pela FMUP à Lusa.
“A adoção de soluções de H2O2 em protocolos de rotina, a fim de promover a desinfeção contra ‘candida auris’, melhorando a segurança do paciente e reduzindo custos com saúde, é certamente bem-vinda”, acrescentou Acácio Gonçalves Rodrigues.
Recordando os medos e fragilidades que a pandemia da covid-19 colocou a nu no panorama da saúde, o professor concluiu: “a prevenção é melhor forma de evitar futuros surtos”.
Publicado na revista científica “Antimicrobial Resistance & Infection Control”, o artigo científico coordenado por Acácio Gonçalves Rodrigues, tem também como autores Luís Cobrado, Elisabete Ricardo, Patrícia Ramalho, da FMUP/CINTESIS@RISE, e Ângela Rita Fernandes, da FMUP.
0 notes
Text
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/c57df8e5c68731ff2223386ba75880fe/205fbd84388ab740-02/s540x810/84d0b3730eaf054e7229bc71970fce9bc0fce3f7.jpg)
Sabrina
EUA, 1954
Billy Wilder
7/10
Mudam-se os tempos
Sabrina, nesta versão original de 1954, tão singela na sua cinematografia a preto e branco, a lembrar tempos passados, em contraste com o glamour do tecnicolor, que dominou a década de 50, é, não obstante, uma prova incontornável de como a comédia romântica mudou, em Hollywood, desde os dias gloriosos, anteriores à guerra.
Temos a jovem Audrey Hepburn, de 25 anos de idade, sangue novo importado da Bélgica, top model da sempre glamorosa Europa, mesmo destruída pela guerra. Temos o veterano Humphrey Bogart, já com 55 anos de idade (faleceria escassos dois anos depois), símbolo incontornável do film noir da década de 40. Haverá um par mais improvável e menos romântico do que este?
O amor do pós-guerra perdeu o sentido de humor. Esqueceu a loucura das screwball comedies e rendeu-se ao drama psicológico, à redenção das almas, após o pesadelo da guerra.
Neste novo mundo triste, um velho executivo encontra tempo para o amor, depois de uma vida dedicada ao trabalho e à família, e uma jovem e glamorosa cozinheira, esquece os sonhos de infância, para se entregar à responsabilidade de uma vida adulta e rica.
Um amor cinzento e deprimido. Um drama romântico, nos antípodas da exuberância de um Cary Grant ou de uma Katharine Hepburn.
Até Billy Wilder, o rei das comédias da época, perdeu o sentido de humor, neste melodrama atípico, que nos deixa nostálgicos dos anos 30, quando as comédias românticas eram loucas e divertidas.
Decididamente, os tempos mudaram e com eles os gostos. Do meu pedestal da posteridade, posso afirmar, sem medo nem grande risco, que foi na loucura das screwball comedies, que Hollywood teve o seu apogeu romântico.
Em todo o seu glamour cinzento, este Sabrina é a prova inequívoca disso mesmo.
Times change
Sabrina, in this original version from 1954, so simple in its black and white cinematography, reminiscent of times gone by, in contrast to the glamor of Technicolor, which dominated the 50s, is, nevertheless, an inescapable proof of how comedy Romanticism has changed in Hollywood since the glorious, pre-war days.
We have the young Audrey Hepburn, 25 years old, new blood imported from Belgium, top model from the always glamorous Europe, even destroyed by war. We have the veteran Humphrey Bogart, already 55 years old (he would pass away just two years later), an unavoidable symbol of film noir in the 40s. Is there a more unlikely and less romantic pairing than this?
Post-war love has lost its sense of humor. It forgot the madness of screwball comedies and surrendered to psychological drama, the redemption of souls, after the nightmare of war.
In this sad new world, an old executive finds time for love, after a life dedicated to work and family, and a young and glamorous cook, forgets her childhood dreams, to give herself over to the responsibility of a wealthy adult life.
A gray and depressed love. A romantic drama, at the opposite of the exuberance of a Cary Grant or a Katharine Hepburn.
Even Billy Wilder, the king of comedies at the time, lost his sense of humor in this atypical (for him) melodrama, which makes us nostalgic for the 1930s, when romantic comedies were crazy and fun.
Times have definitely changed and, with them, tastes. From my pedestal of posterity, I can say, without fear or great risk, that it was in the madness of screwball comedies that Hollywood had its romantic heyday.
In all its gray glamour, this Sabrina is an unequivocal proof of this.
2 notes
·
View notes
Text
O Sexo dos Anjos
A Maria e o Manuel
são um casal a preceito.
Ele é uma Rapunzel
e ela, um Príncipe Perfeito.
São estes os novos trilhos
para os jovens que se casem:
Eles é que têm os filhos
e elas são quem lhos fazem.
É preciso ter liberdade
na identidade de género.
Ele medra na puberdade,
mas tem um efeito efémero.
A Maria passa a Manuel
e o Manuel torna-se Maria,
apaixona-se pelo Miguel,
que tinha nascido Sofia.
E depois de tantas voltas,
tantas trocas e arranjos,
tanto os moços, como as moças,
ficam com o sexo dos anjos.
8 de Dezembro de 2024
0 notes
Text
D. Teresa e a Sé de Braga
Será mania minha, fixação nesta figura mal amada da história de Portugal, ou há qualquer coisa de incoerente no facto de uma personagem que ficou na história, como opositora aos intentos independentistas do filho, defendendo, ao invés, uma união com a Galiza, submetida a Afonso VII, estar sepultada no mais elevado símbolo religioso da Portugalidade da época, que era a Sé de Braga?
Convém não esquecer que o Arcebispo de Braga foi o epicentro da revolução contra Santiago de Compostela e os galegos: era um Mendes da Maia, irmão do lidador, um dos mais acérrimos defensores do jovem infante, contra a mãe adúltera, que dormia e fazia bastardas com o Conde de Trava.
De todos os locais possíveis para a sua sepultura, o seu Bierzo natal, Ponferrada, capital da sua província, Leão, terra dos reis seus antepassados, onde governou o imperador seu pai, antes de conquistar Toledo e se perder de amores por uma princesa moura, Santiago, símbolo das aspirações independentistas galegas, Ourense, onde viveu vários anos, recolhida num convento, onde morreu a sua mãe e talvez ela própria, Teresa vem ser sepultada na Sé de Braga, sede incontestada dos seus inimigos, que contra ela conspiraram para a depor e colocar no seu lugar o jovem Afonso, fiel aos Maia e a outros portucalenses contestatários da Rainha e inimigo figadal do amante da mãe, o Conde de Trava.
Parece que os seus restos mortais foram trazidos mais tarde, por ordem expressa do seu filho já rei, D. Afonso I de Portugal, para a Sé de Braga, onde ainda hoje repousam junto ao túmulo de seu marido, o conde D. Henrique.
Seria assim uma reconciliação póstuma entre o filho e a mãe, ou então uma derradeira iniciativa para a retirar definitivamente das terras galegas e da influência dos Trava.
Qualquer que fosse o motivo foi um justo e merecido regresso à sua terra, porque D. Teresa foi a primeira Rainha de Portugal, por todos conhecida e reconhecida como tal, até pelo papa, numa bula de 1116. A fundadora da independência das terras portucalenses.
Se em vida lhe impediram o sonho de construir um Portugal independente, unido à Galiza, ao menos foi-lhe permitido repousar no mais santo local das terras portucalenses, a Sé de Braga, primaz de toda a Hispânia cristã.
E porque razão o Portugal de D. Teresa incluía também a Galiza?
Explorando, na Wikipédia, a história de D. Henrique e de D. Teresa, percebemos que os planos desta nada mais eram do que a prossecução da estratégia ambiciosa do marido para a conquista do poder, alargando o condado para onde fosse possível.
A morte do marido obrigou-a a encontrar novos aliados contra a irmã Urraca e o sobrinho Afonso VII, tendo encontrado o precioso apoio do poderoso conde de Trastâmara, Fernão Peres de Trava, com quem se uniu maritalmente e teve duas filhas.
Aqui ficam os extratos mais relevantes retirados da Wikipedia:
Entre o primeiro trimestre de 1096 e o final de 1097 o conde Raimundo, ao ver a sua influência reduzida na corte, acordou com o seu primo Henrique de Borgonha, que ainda não tinha sido nomeado governador de Portugal, a partilha do poder, o tesouro real e o apoio mútuo. Através desta aliança, que teve a aprovação do abade Hugo de Cluny, parente de ambos, Raimundo "prometia sob juramento a seu primo Henrique entregar o reino de Toledo e um terço do tesouro real quando Afonso VI morresse". Se ele não pudesse entregar o reino de Toledo, ele lhe daria a Galiza. Henrique, por sua vez, comprometeu-se a ajudar Raimundo a obter "todos os domínios do rei Afonso e dois terços do tesouro".
O rei Afonso VI parece ter tido conhecimento do acordo entre D. Henrique e D. Raimundo e, para contrariar a iniciativa dos seus dois genros, nomeou Henrique conde da região que se estende desde o rio Minho até ao rio Tejo, que até então era governada pelo Conde Raimundo. Este viu o seu poder reduzido apenas ao governo da Galiza.
Pouco antes da sua morte, o rei Afonso VI de Leão zangou-se com D. Henrique e este partiu para França a fim de recrutar mercenários que lhe permitissem disputar o trono ao sogro.
Quando D. Afonso VI de Leão faleceu em 1109, sucedeu-lhe a filha D. Urraca, entretanto casada com o rei Afonso de Aragão. D. Henrique acordou com o rei de Aragão uma divisão equitativa dos territórios conquistados aos mouros e em conjunto derrotaram as tropas do rei muçulmano de Saragoça. D. Urraca já tinha, no entanto, um filho herdeiro nascido de D. Raimundo, falecido em 1107 como Rei da Galiza, o que deu azo a disputa política na Corte leonesa entre os apoiantes de D. Afonso de Aragão, nomeadamente o conde D. Henrique, e os que defendiam os direitos do filho de D. Raimundo, Afonso VII, nomeadamente os galegos, castelhanos e leoneses, que temiam perder influência na Corte e direitos para os aragoneses.
Na Batalha de Candespina, o experiente D. Henrique e o rei de Aragão derrotaram as tropas leonesas, castelhanas e galegas partidárias de Afonso VII e de D. Urraca, a 26 de Outubro de 1110.
Na sequência da batalha de Candespina D. Henrique foi contactado por alguns nobres afectos à causa de D. Afonso VII e D. Urraca e persuadido a juntar-se ao partido leonês, tendo-lhe sido prometido em troca da chefia do exército, a cidade de Zamora, o castelo de Ceia, entre outras benesses. O conde D. Henrique passou então a assinar como conde de Portugal, Zamora e Astorga, tal como se lê num documento assinado em Sahagún em Dezembro de 1111.
Agora associado à rainha, ambos cercam o castelo de Penafiel, ao qual o rei D. Afonso de Aragão se havia recolhido assim que soube da deserção de D. Henrique. Pouco depois do pacto firmado com D. Henrique, D. Urraca preparava já a conciliação com D. Afonso de Aragão e procurava evitar que a cidade de Zamora fosse efectivamente entregue ao conde de Portugal.
D. Henrique morreu em Astorga a 22 de maio de 1112. O seu corpo foi transferido, como havia ordenado, para a cidade de Braga, onde foi sepultado na capela-mor da catedral que tinha fundado.
Depois da morte de Henrique em 1112 Teresa governou o condado como rainha, por direito próprio, sendo reconhecida como tal pelo papa Pascoal II (através da Bula Fratrum Nostrum emitida em 18 de junho de 1116), pela sua irmã, Urraca da Galiza, Leão e Castela e, posteriormente, por seu sobrinho Afonso VII de Galiza, Leão e Castela. A partir de 1117 assina como "Ego regina Taresia de Portugal regis Ildefonssis filia".
Fernão Peres de Trava era filho do conde Pedro Froilaz de Trava e da condessa Urraca Froilaz, da Casa de Trava, a mais poderosa do Reino da Galiza na época. Participou na revolta galaico-portuguesa contra Urraca I de Leão e Castela, liderada pelo seu pai em 1116, em aliança com Teresa de Portugal. Esta insurreição pretendia defender os direitos de Afonso Raimundes coroado rei da Galiza, e garantir a autonomia do Condado Portucalense frente à rainha leonesa.
Os triunfos nas batalhas de Vilasobroso e Lanhoso selaram a aliança entre os Trava e Teresa de Portugal. Fernão Peres de Trava passou assim a governar o Porto e Coimbra e a firmar com Teresa importantes disposições e documentos no condado de Portugal.
Em 1116, os almorávidas invadiram a região de Coimbra e destruíram os castelos de Miranda da Beira e Santa Eulália próximos da cidade, tendo morto ou cativado as suas guarnições. Em 1117, deu-se o Cerco de Coimbra, imposto pelo emir almorávida Ali ben Iusuf em pessoa e D. Teresa encontrava-se na cidade, que resistiu ao violento assédio de vinte dias, embora os arrabaldes tenham sido postos a saque.
Atacadas pelas forças da sua meia-irmã, a rainha D. Urraca, durante a Crise de 1121, as forças de D. Teresa recuaram desde a margem esquerda do rio Minho, derrotadas e dispersas, até que D. Teresa se encerrou no Castelo de Lanhoso. Aí sofreu o Cerco de Lanhoso. Em posição de inferioridade, D. Teresa conseguiu ainda negociar o Tratado de Lanhoso, pelo qual salvou o seu governo do Condado Portucalense.
Com a morte de Urraca, Fernão tornou-se um grande aliado do rei Afonso VII de Leão no Reino da Galiza. Tanto que lhe foi confiada a importante tarefa de ser preceptor do seu filho, o futuro rei Fernando II. A Crónica Latina de Castilla considera que a sua influência foi determinante para que, no testamento de Afonso VII, os reinos de Galiza e Leão se separassem de Castela e Toledo.
A aliança e ligação de D. Teresa com o conde galego Fernão Peres de Trava, de quem teve duas filhas, indispôs contra ela os nobres portucalenses e o seu próprio filho Afonso Henriques.
Ressentidos com a proximidade de D. Teresa ao conde de Trastâmara, Fernão Peres de Trava, seu influente amante e ao favoritismo que demonstrava para com a nobreza galega, que apoiava os seus desígnios de vir a reinar como rainha independente, em 1127 revoltou-se a nobreza portuguesa de Entre-Douro-e-Minho, que se declarou a favor do infante D. Afonso Henriques, a esta data com dezasseis ou dezassete anos.
Ante a revolta dos nobres portugueses, o rei Afonso VII reuniu as suas hostes e, ao comando das suas tropas, dirigiu-se em pessoa a Portugal para restabelecer a sua tia no pleno governo do condado. A campanha do rei tinha o apoio do bispo de Compostela Diego Gelmires bem como da maioria da nobreza Galega.
Transpostas as fronteiras portuguesas, sucederam-se alguns cercos e combates. As terras de Guimarães, cujo castelo era sede dos condes de Portugal, haviam-se declarado a favor de D. Afonso Henriques e sobre este castelo de fulcral importância, onde por então se encontrava o infante, se focou Afonso VII de Leão, que para lá se dirigiu rapidamente. Seguiu-se o Cerco de Guimarães, após o qual o infante D. Afonso Henriques viu-se obrigado a jurar fidelidade para com o seu primo Afonso VII de Leão e D. Teresa reposta no governo, embora tenha esta também sofrido represálias e perdido algumas terras que adquirira a norte do rio Minho.
Durante o governo de D. Teresa, em 1128 deu-se a fixação dos templários em território português, tendo D. Teresa doado à Ordem o castelo de Soure, erguido na segunda metade do séc. XI por Sesnando Davides perto de Coimbra, na estrada que ligava esta cidade a Lisboa.
Em breve os interesses estratégicos de mãe e filho entraram em conflito. Em 1128, juntando os cavaleiros portugueses à sua causa contra Fernão Peres de Trava e D. Teresa, Afonso Henriques derrotou ambos na batalha de São Mamede, quando pretendiam tomar a soberania do espaço galaico-português, e assumiu o governo do condado.
Obrigada desse modo a deixar a governação, alguns autores defendem que foi detida pelo próprio filho no Castelo de Lanhoso ou se exilou num convento na Póvoa de Lanhoso, onde veio a falecer em 1130. Modernamente, depreende-se que após a batalha e já em fuga, ela e o conde Fernão Peres foram aprisionados e expulsos de Portugal.
D. Teresa teria falecido na Galiza, possivelmente no mosteiro de Montederramo que refundara em 1124, de acordo com um documento assinado em Allariz.
A partir de então, Fernão Peres de Trava concentrou a sua influência na Galiza, assinando com "Conde Fernando da Galécia" (Comes Fernandus de Gallecie). Aqui, realiza um trabalho de apoio aos mosteiros cistercienses, podendo atribuir-se-lhe a fundação do Mosteiro de Sobrado dos Monxes. Disputou a liderança da Galiza com Diego Gelmírez, o influente arcebispo de Santiago de Compostela, com quem manteve um tenso entendimento.
Nas campanhas mouras, comandou as tropas galegas ao serviço de Afonso VII nas suas incursões contra o Califado Almóada. As crónicas destacam o seu valor na conquista de Almería. Contra Portugal, defendeu com dificuldade o vale do Minho das investidas de Afonso Henriques, até à paz de Zamora de 1143.
São conhecidas também duas estadias na Terra Santa no final da segunda cruzada. Cedeu territórios aos Templários na actual costa da Corunha e foi quem introduziu esta ordem militar no Reino da Galiza.
Fernão faleceu entre 1 de novembro de 1155, ano em que aparece pela última vez na documentação do mosteiro de Sobrado e antes de 24 de julho de 1161, data em que a sua esposa Sancha assina um documento afirmando que era viúva. Foi sepultado no claustro da Catedral de Santiago de Compostela e, seis anos mais tarde, transladado para o Mosteiro de Sobrado dos Monxes.
Depois de digerida toda esta informação, parece evidente que D. Teresa e o Conde de Trava, conspiraram para assegurar a independência dos reinos de Portugal e da Galiza, com Teresa como Rainha de Portugal e Fernão como soberano da Galiza. Para tal se apoiaram mutuamente, mesmo quando foram forçados a prestar vassalagem a Afonso VII (tal como o jovem infante Afonso Henriques).
O sonho de um Portugal unido à Galiza, pelo casal e a sua descendência, morre em 1128, na batalha de São Mamede, com a vitória de Afonso Henriques.
Teresa afasta-se para um convento onde morre, dois anos depois. Fernão, desprovido do apoio português, apoia Afonso VII e defende-se das Investidas de Afonso Henriques, também ele determinado a ser rei da Galiza, tal como fora prometido ao pai, D. Henrique. Mas o senhor da Galiza defende-se bem e Afonso de Portugal desiste das suas pretensões às terras galegas.
No entanto Fernão Peres de Trava e D. Teresa acabam mesmo por conseguir o objectivo de ver a sua descendência na coroa galaico-leonesa. A filha de ambos, Teresa Fernandes de Trava casou, em segundas núpcias, em Setembro 1178, com o rei Fernando II de Leão e da Galiza, filho de Afonso VII, o qual, no entanto, fora também casado, em primeiras núpcias, com D. Urraca de Portugal, filha de Afonso Henriques e Mafalda de Sabóia, com quem teve um filho, futuro Afonso IX de Leão e da Galiza, apesar do casamento dos pais ter sido anulado pelo papa Alexandre III por consanguinidade.
Este Afonso IX casou também com uma infanta portuguesa, em primeiras núpcias de ambos, Teresa Sanches, filha de Sancho I de Portugal, e de Dulce de Aragão. Apesar de terem tido três filhos, seria um filho do segundo casamento do rei, com Berengária de Castela, Fernando III de Castela, a reunificar os reinos de Leão, Galiza e Castela, separados por Afonso VII, sucedendo a Henrique I de Castela em 1214 no trono de Castela e a seu pai em 1230 no trono de Leão.
Ainda assim, foi um descendente de D. Teresa, por via do filho Afonso Henriques, a reunificar o império do pai da Rainha, Afonso VI, com exceção obviamente de Portugal, que só viria, temporariamente, entre 1580 e 1640, a ser reunificado aos restantes reinos peninsulares, pelos Filipes de Espanha, também eles, bem vistas as coisas, descendentes distantes de D. Teresa.
8 e 9 de Fevereiro de 2025
0 notes
Text
A Morte de Um Editor
Quem se dá ao trabalho de ler um livro, hoje em dia? As notícias, as histórias, os comentários, os boatos, entram-nos pelos olhos e ouvidos adentro, a toda a hora, pela televisão, pelas redes sociais, pela velha rádio, que ainda mexe com a imaginação de alguns, em conversas banais e quotidianas, que substituem as que se não tem em casa, ou com os amigos.
A leitura deixou de ser um prazer, a menos que cumpra os requisitos de um qualquer programa televisivo ou filme de Hollywood. Tem que ter ação alucinante, sexo desenfreado, violência gratuita, psicopatas à solta, pelas ruas negras da imaginação doentia dos leitores.
R. escrevia contos tristes, mas com um toque poético. Ele gostava de escrever, sentia-se feliz por verter, por escrito, narrativas fantasiosas, que lhe soavam como versos surreais, nascidos em sonhos, dormidos ou acordados.
Mas se os apresentava a algum editor, a resposta era sempre a mesma. Onde estava a paixão, o sangue, o ardor que quebra a banalidade das vidas e preenche os sonhos e os pesadelos dos outros? Quem quer hoje ler sobre as frustrações e depressões alheias? A quem interessa um toque de poesia, nas suas vidas correntes e recorrentes, de azáfamas, invejas e ambições, consumos desenfreados e competições infindas?
Era preciso alinhar a escrita com os interesses dos leitores, dar-lhe aquilo que eles queriam ler, paixões, terrores, crimes, triunfos sobre a banalidade da vida, ou derrotas estrondosas, que os fizessem sentir bem com a sua impotência.
O escritor tinha que conseguir extrair da vida a adrenalina que faltava aos que lêem os seus livros. Levá-los num carrossel de emoções, numa montanha russa de pesadelos, num reality show de vida e de morte. Sem essa vitalidade, esse calafrio, que percorre a espinha e faz virar avidamente as páginas, em busca de mais uma orgia emotiva, um medo doentio ou uma alegria contagiante, não vale a pena escrever. Ninguém lê.
Longe vão os tempos das aventuras, dos amores, das viagens, da poesia. Agora o leitor quer sexo, humilhação, medo, violência gratuita. Quer usufruir de um livro que lhe proporcione uma dose de adrenalina, superior a um filme de terror, a uma série de suspense, a um jogo de vídeo, pleno de sangue e de cabeças cortadas.
Os pensamentos, as reflexões, as nostalgias, são para consumo de meia dúzia de alucinados, que vivem no mundo do faz de conta e não no ritmo frenético da atualidade. Não há mercado para esses produtos, fora de validade. Leiam os clássicos, se quiserem, que estão recheados de virtudes e moralidades caducas. Quem quiser vender livros, tem que verter sangue!
Ao ouvir estes conselhos, de mais um editor que recusava o seu trabalho, R. teve a ideia mais luminosa da sua carreira. Pegou num pisa papéis, que estava em cima da secretária, e agrediu brutalmente o editor, sobretudo na cabeça, ao ponto de lhe desfazer o crânio. O sangue e a massa encefálica escorriam-lhe pelo corpo inerte e deixaram R. completamente salpicado, de morte e de inspiração.
Fugiu rapidamente, perante o espanto geral de quem o via naquela figura, coberto de sangue, sem compreenderem o que tinha acabado de suceder. Quando finalmente alguém descobriu o cadáver do editor, com a crânio desfeito, já R. tinha deixado o edifício e buscado refúgio em parte incerta.
O alarme soou e iniciou-se uma busca incessante pelo criminoso. Mas R. não regressou a casa, nem buscou refúgio junto de nenhum familiar ou amigo, nem tentou fugir de avião, ou de comboio, ou de autocarro. O seu carro estava no sítio habitual, sem que ninguém lhe tocasse há semanas. R. desaparecera quase por encanto e por mais iniciativas da polícia, anúncios televisivos com a foto do fugitivo, acusações recíprocas de incompetência, entre as autoridades criminais, o assassino não dava sinal de vida.
Na verdade, R. estava encerrado num quarto anónimo, que sabia desocupado, dedicado à tarefa obsessiva de escrever. Sobreviveu com dificuldade, reduzido a uma dieta frugal, feita de tudo o que conseguiu encontrar, no seu esconderijo, passível de ser consumido para fins de sobrevivência. Tinha água e meios para escrever, bolachas, algumas conservas, massas, arroz, enfim, tudo bem racionado, dava para sobreviver algumas semanas, ainda que perdendo uns quilos de peso.
Mas foi o suficiente para escrever a sua história. "A morte de um editor", onde relatava os esforços insistentes, que tinha empreendido, para escrever as mais belas memórias biográficas, carregadas de ironia e poesia, a forma como as mesmas foram recusadas, impiedosamente, por sucessivos editores, os conselhos destes para obter o sucesso junto do público atual, a forma bárbara como assassinou o último deles, no seu próprio gabinete, desfazendo-lhe o crânio com um pisa papéis e finalmente, a história da sua reclusão, durante mais de um mês, em condições de frágil sobrevivência, oculto da intensa perseguição policial que lhe era movida.
Quando achou que a história estava completa e suficientemente sangrenta para interessar uma editora, assinou-a a sangue e saiu, finalmente, com grandes dificuldades, dirigindo-se aos correios e enviando o manuscrito para a editora.
De seguida, entregou-se, exausto e mal nutrido, às autoridades, tornando-se, de imediato, o assunto do momento, tal como o manuscrito por ele enviado à editora, onde contava, detalhadamente, todos os pormenores do crime, das suas motivações e do mês de reclusão que passou a escrever.
O caso chocante encheu os jornais, as televisões, as rádios, ultrapassou fronteiras e fez de R. uma celebridade mundial.
Com tamanha publicidade, a editora não resistiu a publicar o manuscrito, com a macabra história da morte do seu próprio editor. Foi um tremendo sucesso, rapidamente traduzido para dezenas de línguas e alcançando o top de vendas em vários países.
Entretanto R., enquanto aguardava julgamento, dedicou-se à escrita de novo livro, no qual relatava detalhadamente todos os momentos do processo, desde que se entregou à polícia, até que foi finalmente julgado e condenado a vinte anos de prisão, pelo crime de homicídio qualificado do editor.
Também este livro foi um sucesso. Os leitores, chocados com o crime violento e a forma minuciosa como foi descrito por R. no seu anterior best-seller, queriam conhecer todos os detalhes do processo criminal, de que ouviam falar, recorrentemente, na televisão e nas redes sociais, contados na primeira pessoa, pelo próprio homicida condenado. Desde os interrogatórios, às varias prisões por onde passou, sem esconder os mais macabros pormenores da experiência, até ao julgamento e à sentença, as conversas com o advogado de defesa, com os outros presidiários, com os guardas prisionais, até com os jornalistas que, insistentemente, o visitavam na prisão, em busca de mais detalhes exóticos do crime e do processo.
O segundo manuscrito deu entrada na mesma editora e vendeu-se quase tão bem como o relato do crime. O assunto não deixava de despertar o interesse dos leitores e a editora encarregava-se de promover diligentemente o seu produto, com conferências de imprensa, críticas nos jornais, debates televisivos. Decididamente, o caso do escritor que assassinou, barbaramente, um editor, apenas para arranjar um tema para uma obra de sucesso, apaixonava toda a gente: os leitores, os jornalistas, os comentadores televisivos, os sociólogos, os psicólogos, os políticos, os outros escritores. Gente que nunca tinha lido um livro na vida, foi comprar um exemplar da "Morte de um Editor", só para conhecer, pela mão do próprio assassino, todos os pormenores doentios do crime e poder exprimir uma opinião fundamentada, sobre o tema que apaixonava a opinião pública.
Os lucros, dos milhões de exemplares vendidos, fizeram de R. um homem rico, que nem sequer foi condenado a pagar qualquer indemnização, pelo crime cometido, porque o editor era um homem solitário e sem família, pelo que ninguém reclamou danos patrimoniais ou morais, decorrentes da sua morte.
O dinheiro foi lentamente avolumando, na conta bancária de R., enquanto este cumpria a pena.
Ainda escreveu mais um volume, dedicado ao longo período passado na prisão e aos efeitos psicológicos que sofreu, em consequência do crime e da sua enorme mediatização, o qual foi sugerido pela editora e escrito, a meias, com um reputado psicólogo, apaixonado pelo caso. Também este volume foi um sucesso assinalável, embora menor que os anteriores. O tema começava a perder interesse para o grande público e a tecnicidade deste terceiro volume sobre o crime, tornava-o apetecível apenas para uma faixa mais específica de leitores, constituída por juristas, psicólogos, sociólogos, criminologistas e estudantes destas matérias. Ainda assim, motivou acesos debates na imprensa e televisão, embora já despidos do sensacionalismo dos dois primeiros volumes. Do escândalo, passou-se gradualmente ao estudo do caso e o debate subiu, das ruas, para as universidades e para a bibliografia especializada.
Por bom comportamento e um relatório psicológico favorável, R. saiu da cadeia, em liberdade condicional, após doze anos de pena cumprida, para encontrar a sua conta bancária recheada de vários milhões de euros e uma agenda interminável de entrevistas, seminários, colóquios e debates televisivos.
Continuou a escrever livros sobre a sua experiência pessoal, que não tinham qualquer dificuldade em arranjar editor e vendiam suficientemente bem para alimentar um interesse moderado do público e da comunicação social. R. era uma celebridade e, nessa condição, foi convidado a participar em reality shows e até para se candidatar a um cargo político, por parte de um partido populista, desejoso de capitalizar, em votos, a notoriedade do candidato.
A sua história era tão famosa, em todo o mundo, que originou vários exemplos de mimetismo. Pelo menos três escritores, em outros tantos países diferentes, foram condenados pelo homicídio ou tentativa de homicídio, de editores, originando assim um estilo literário de sucesso, que proliferava, a ponto de vários governos terem proposto, com sucesso, a criação de um novo tipo legal de crime, destinado a punir, de forma agravada, os crimes de homicídio, mesmo sob a forma tentada, quando praticados com fins publicitários ou de promoção de obras literárias ou artísticas. Estranhamente, passou a ser punido de forma mais gravosa o homicídio gratuito, para fins de publicidade pessoal ou do trabalho do autor, do que o cometido com um móbil mais tradicional, como o roubo, a extorsão, ou a vingança entre membros de associações criminosas.
Consequência lógica, em tempos deformados pela informação massificada e sensacionalista.
2 de Fevereiro de 2025
0 notes
Text
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/863ad6fcf0acd2a601925d44963dbae2/f16ea0d684b12aeb-37/s540x810/3c18c179fa53862623af4df51906706b90e35e9b.jpg)
Rádio Macau é uma banda portuguesa formada em Algueirão, Mem Martins, no início dos anos 80. Em 1993, a banda suspende a atividade, alegando cansaço e vontade de embarcar noutras experiências. Regressam como banda em 1998 e aos discos em 2000, com outra sonoridade.
O principal êxito da banda é o tema "O Anzol", que foi incluído no terceiro álbum da banda, O Elevador da Glória. "O Anzol" foi lançado como single em 1988 a sua sonoridade foi comparada a "Just Like Heaven", da banda inglesa The Cure, que saiu como single em outubro de 1987.
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/ed45a2bc6b88fa2b479a1df6b41fbfb6/f16ea0d684b12aeb-fb/s540x810/7bd878b09523b66c4408b0350bc0a8642391dc35.jpg)
Membros
Xana (vocalista)
Flak (guitarra)
Alex (baixo)
Filipe Valentim (teclados)
Samuel Palitos (bateria)
Ricardo Frutuoso (guitarra)
Emanuel Ramalho (bateria)
Luís San Payo (bateria)
Beto Garcia (bateria)
Fred Ferreira (bateria)
![Tumblr media](https://64.media.tumblr.com/f281338401c564c8dc9293b0a62ce214/f16ea0d684b12aeb-59/s540x810/a12ed7e31ae20b60e3d795601d0b8cf39243de4b.jpg)
Rádio Macau
0 notes