#Quem Vai Ficar com Mary?
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Mari molierrrr, eu pensei num hc da leitora bem nerdzinha do tipo que gosta de livros, jogos, filmes e séries, universo Marvel/DC, RPGs, lives de streamers e afins. ela vive falando disso pro namorado, comentando sobre as coisas que ela assistiu no dia anterior, o jogo novo que vai lançar, e ele só tipo "😃 não entendi mô"
pra mim os únicos que iam entender melhor seriam o Blas e o Matías, mas os resto dos meninos ia ficar tipo ? repete please
você consegue desenvolver esse hc? 🥺🥺
oii amor e KKKKKKKKKKKK ai achei fofo
imagino que na questão filmes e séries todos (ou quase) devam ser bem inteirados pois é literalmente a profissão deles né, mas no quesito livros/jogos/heróis/rpg/lives:
acho que os que não entenderiam bulhufas mas ficariam tipo "😃 que legal amor" seriam o enzo, o pardella, o kuku, o fer, o fran, o simón e o rafa. o enzo, o kuku, o fer e o simón fariam perguntas básicas pra demonstrar que eles não estão cagando pros seus interesses e que gostam de te ouvir falar; o pardella, o fran e o rafa genuinamente se interessariam e começariam a curtir as coisas com vc se fosse algo que eles já tivessem um interesse prévio
acho que o matías, o pipe e o della corte entenderiam pelo menos minimamente pq são mais novos que a maioria do outro grupo kkkkkkkk e acho que por uma questão mais geracional mesmo eles teriam um conhecimento mesmo que mínimo (e o della e o pipe não me enganam, acho que por baixo de toda a fachada de Homens do Esporte eles podem ser bem nerdzinhos tb)
o santi (emoji chorando) e o blas me passam vibes de nerdzinhos tbm então estariam super por dentro e adorariam acompanhar as coisas com vc!!! o jerónimo eu não preciso nem falar, quem faz vídeo lutando sozinho com sabre de luz consegue NÃO ser nerdzinho? simplesmente o MAIOR que temos (literalmente)
#la sociedad de la nieve#lsdln#lsdln cast#lsdln x reader#lsdln imagine#lsdln fanfic#enzo vogrincic#matías recalt#matias recalt#agustin pardella#agustín pardella#esteban kukuriczka#fran romero#francisco romero#fernando contigiani#felipe otaño#pipe otaño#simon hempe#simón hempe#jeronimo bosia#jerónimo bosia#santi vaca narvaja#santiago vaca narvaja#agustin della corte#agustín della corte#rafa federman#rafael federman#anon#asks
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MARIE ESCREVE COM O EUNWOO PFVR 🧎🏽♀️🧎🏽♀️🧎🏽♀️
[4:53AM] Cha Eunwoo -Lee Dongmin-
bom, você pediu aqui está JJDKEJDKW, escrevi num surto da madrugada, plm, juro preciso dormir, mas enfim, as fotos não tem nada a ver, porém gostei das fotos quis usar então usei, espero que goste 😘
Contém: Eunwoo big!dick(?), n sei como isso chama mas eunwoo prende seus pulsos e tampa seus olhos com gravatas, dirty talk, apelidos como “lindinha” e “minha gatinha”, mano seila mais oq to com um sono da porra KKKKKKK
Mais uma noite você foi dormir na casa de sua querida amiga, porém como uma amiga muito queridíssima, ela dormia cedo, já você só dormia lá pra umas 3:30 da manhã…
Como o esperado ela te deixou sozinha, porém ouviu alguns clicks que vinham do quarto ao lado, do irmão dela.
Estava em dúvida se realmente iria até lá, já que você não conseguia passar 10 segundos perto do garoto sem suspirar e simplesmente virar um tomate de tão vermelha que sua pele ficava.
Porém, como não havia nada para fazer, resolveu ir até o quarto do garoto. Encontrou ele lendo alguns papéis, então bateu na porta 3 vezes mas bem baixo para não acordar sua amiga que dormia, e perguntou também baixo se poderia entrar.
Ele deixou ainda sem desgrudar os olhos dos papéis, que provavelmente eram coisas do trabalho dele, e por um momento você pensou em voltar, o garoto estava lendo, concentrado, nem iria querer conversar contigo agora…
Porém, mesmo assim entrou, e sentou na beirada da cama. Após deixar a papelada de lado, ele te olha e vê que seu pijama estava curto demais, coisa que passa despercebido por ti, Eunwoo te tranquiliza com um sorriso dizendo que você poderia ficar mais confortável na cama caso quisesse.
Após alguns minutos, o garoto vai falar alguma coisa e vê que você está quase caindo no sono, “Ei” ele diz um pouco alto, te assustando e logo em seguida te acordando. “Quer fazer uma aposta?”
“Pode ser…?” você diz desconfiada, “Quem dormir primeiro, perde.”
Você concorda, e não tinha ideia de como faria isso, sendo que a segundos atrás estava cochilando. Passando algumas horas conversando com ele, já que para passar seu tédio e seu sono, precisava fazer algo. Você boceja e diz “To com sono já, vamo’ dormir já…”
Ele não diz nada, apenas desvia o olhar do seu rosto para o próprio armário, se levanta e vai até lá.
“Já que não consegue se manter acordada, acho que eu poderia te ajudar a te manter acordada….”
Ele diz enquanto tira duas gravatas de lá, “Deita” ele não pede, ele manda você deitar.
Claramente não o tardaria em fazer. “Levanta os braços.” Você levanta, e Dongmin pega seus dois pulsos, e os prende com a gravata “Vai ficar um pouquinho apertado, mas é necessário, okay?” e logo a outra gravata, vai de encontro aos seus olhos, tampando sua visão. Você concorda murmurando um “uhum” e balançando a cabeça.
“Desde que apareceu aqui no meu quarto com essa roupinha curta, tive que me conter pra não tirar ela toda e te arrombar.”
A fala do garoto te molha, mais do que acaba de ficar. “Se você não fosse tão gostosa, eu juro que conseguiria me controlar mais, mas olha isso…não dá!” ele diz abaixando seu shorts junto de sua calcinha, fazendo você sentir a brisa gelada que vinha da janela aberta, bem na parte que acaba de ficar desnuda.
O Lee apenas enrola sua camiseta do pijama, deixando os peitos a mostra, “Olha isso…meu amor, você é gostosa, como eu nunca percebi isso antes?”
“Sempre esteve aqui, você que não queria enxergar…” você disse baixo, esperando que ele não ouvisse, mas logo após escutar a resposta, descarta a possibilidade dele não ter ouvido. “Sempre o notei na verdade, mas não tive atitude porque nunca tínhamos um tempo a sós, já que você vive fugindo…” ele diz se posicionando por cima de ti, beijando seu pescoço, você conseguia apenas se deliciar com a sensação.
E podia admitir que não ver o que estava prestes a acontecer, te excitava, e não era pouco.
Eunwoo abre suas pernas, e logo sente algo molhado e pontudo passando entre seus lábios, fazendo uma espécie de massagem, extremamente excitante, enquanto os dedos se encarregavam de fazer uma massagem no seu pontinho também.
“Eunwoo…” você geme, querendo tirar a venda de seus olhos apenas para espiar o que acontece, porém impossibilitada de executar a ação.
Sente a cabeça do pau dele entrando e a massagem no seu ponto mais forte, você começa a gemer mais e mais alto, “Ei ei, mais baixo, não quer acordar minha irmã aqui no quarto ao lado né? Ou quer deixar saber que a amiguinha dela veio visitar o irmão e acabou amarrada na cama dele?” balança a cabeça que não desesperadamente, e logo fecha a sua boca, gemendo apenas entre arfares enquanto ele se enfiava.
“Caralho, por que você é tão apertada? Tão…boa.” ele diz após conseguir finalmente se enfiar dentro de ti, parando com os dedos.
Você choraminga, parecendo uma gatinha chorando. “Que lindinha…minha gatinha chorando.” Eunwoo ia lento, sem pressa, não queria a machucar, e só queria sentir cada vez que se afundava, você apertava ele.
Você sente uma mão do garoto passar pelo teu peito e apertar com gosto os dois, então sente ele descer com as pontas dos dedos, e chegar até sua intimidade, novamente, estimulando seu pontinho de prazer enquanto ia com mais força e mais rápido.
Suas paredes o apertavam fortemente, as fontes de prazer que recebia parecia que iria explodir, então Eunwoo começar a ir com mais força, chegando a algumas vezes enfiar tudo e apenas deixar ali dentro o mais fundo que conseguia chegar, te acertando em cheio, enquanto os dedos faziam uma massagem rápida em seu pontinho.
Passou a apertar mais, fazendo com que o garoto soltasse arfares pesados, e quando ia soprar o ar para fora, fazia questão de mirar em sua buceta molhada a fazendo arrepiar com o vento, Eunwoo leva a mão que estava em sua intimidade, até a gravata que estava em seus olhos e a tira, te dando visão das gotinhas de suor que fazia a ponta do cabelo do garoto ficar molhada, e também as bochechas rosadas, pelo prazer que sentia, também podia enxergar algumas gotinhas molhadas no abdômen definido do garoto.
Apenas de ter essa visão conseguia sentir um orgasmo próximo, e logo chegou ao seu ponto extremo de prazer.
Eunwoo se retira de dentro de você, deixando você esguichar, se molhar toda, molhar todo o abdômen e cama dele, gemendo descontroladamente e deixando suas pernas tremerem, deixando o corpo livre para que sentisse o que precisava sentir. Enquanto, ele não tirava a mão de sua intimidade, e se tocando com a outra que anteriormente apoiava o próprio peso ao lado de seu corpo.
Após você se molhar inteira, ele joga toda a porra, nos seus peitos e na sua cara. Quando vocês terminaram, você olha no rosto do garoto e vê um sorrisinho ladino e uma carinha quem teve exatamente o que queria. “Caralho gatinha, olha bagunça que você fez, molhou tudo…” você se sente envergonhada, mas logo solta um sorrisinho, e o Lee pega a porra que caiu em seu queixo e em seu peito com o dedão, levando até a sua boca e fazendo você engolir.
Após isso, ele te soltou e perguntou se queria voltar ao quarto da irmã, mas você negou, ele sorriu e foi até porta apenas para tranca-la, voltou com um sorriso maior e isso era apenas o começo de muitas transas que iriam ter pela frente.
boy, ki nem eu disse tô morrendo de sono, espero q tu tenha gostado minha querida dudinha
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Resenha
Livro: A Razão do Amor
Autora: Ali Hazelwood
Nota:⭐️⭐️⭐️⭐️
Vale o hype?
Sinopse
No novo livro da autora best-seller de A hipótese de amor , uma cientista será obrigada a colaborar com seu rival em um projeto de proporções interestelares, e os resultados prometem ser explosivos.
“Seu mundo está prestes a ser abalado.” – Elena Armas , autora de Uma farsa de amor na Espanha
A carreira de Bee Königswasser está indo de mal a pior. Quando surge um processo seletivo para liderar um projeto de neuroengenharia da Nasa, ela se faz a pergunta que sempre guiou sua vida: o que Marie Curie faria? Participaria, é claro. Depois de conquistar a vaga, Bee descobre que precisará trabalhar com Levi Ward – um desafio que a mãe da física moderna nunca precisou enfrentar.
Tudo bem, Levi é alto e lindo, com olhos verdes incríveis. E, aparentemente, está sempre pronto para salvá-la quando ela mais precisa. Mas ele também deixou bastante claro o que pensa de Bee quando os dois estavam no doutorado: rivais trabalham melhor quando estão cada um em sua própria galáxia, muito, muito distantes.
Quando o projeto começa a ficar conturbado, Bee não sabe se é seu córtex cerebral lhe pregando peças, mas pode jurar que Levi está apoiando suas decisões, endossando suas ideias... e devorando-a com aqueles olhos. Só de pensar nas possibilidades, ela já fica com os neurônios em polvorosa.
Quando chega a hora de se decidir e arriscar seu coração, só há uma pergunta que realmente importa: o que Bee Königswasser fará?
Resenha
Respondendo a pergunta, para mim, a resposta é: depende.
Depende do que você está buscando.
Depende do seu gosto de leitura.
Eu, particularmente, amo livros clichês, aqueles clássicos que todo mundo já sabe o que vai acontecer, mas ainda assim aguarda ansiosamente. Contudo, talvez eu tenha criado muita expectativa com esse livro, com tantas recomendações sobre o romance lindo e tals.
A Bree e sua insistência sobre o "desgosto" do Levi em relação a ela, além de outros mal-entendidos ao longo do livro chegaram a me irritar, porque era óbvio de mais, e parecia que só ela nunca ia perceber. Esse é um dos dilemas dos clichês.
Mas foi uma boa leitura? Sim... Consegui ler rápido, ri das interações e amei o Levi (que pra mim carregou o livro nas costas).
Os temas abordados são relevantes, mas em alguns momentos me pareceram massantes, já que parecia que o foco era um discurso científico. Os capítulos são longos, o que também reduz meu desempenho na leitura (não me pergunte o porquê).
A reviravolta do final não foi surpreendente para mim, porque desconfiei desde o começo. kkkkkk
No mais, é uma boa leitura para quem gosta de "inimigos" que se apaixonam e romance no ambiente acadêmico/trabalho.
Beijocas 💋
#romance#livro#livros#leitura#amazon#Rafahellen Resenha#resenha#A Razão do Amor#arazãodoamor#ali hazelwood
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Mané Galinha e a Mulher Jamanta
A camioneta do circo desfilava pela rua onde a molecada jogava bola: golzinho, uma respeitada e séria modalidade futebolística, variação do futebol de rua e da pelada, e acabou por prender a atenção dos donos de pés esfolados em crescimento, afinal, era descalço que se corria, com grandes chances de tirar o tampão do dedão do pé com um chute mal calculado, alguns com os chinelos nas mãos para não perder e evitar levar cascudos da mãe à noite. O veículo chegou a parar a final do torneio do dia.
O homem que dirigia o carro decorado anunciava ao microfone, ligado a caixas de som acondicionadas na caçamba, a data do início dos espetáculos do Circo Fantástico e também descontos nos ingressos para quem levasse os papeizinhos lançados ao asfalto por ele pela janela.
— O circo chegou, criançada! — propagava o homem ao microfone em voz empostada, com um chapéu vermelho, uma pena branca espetada e jaqueta estilo caubói coberta de franjas.
As atrações recém-anunciadas partiam do globo da morte com audaciosos e habilidosos motociclistas; palhaços hilários; a inteligente elefoa Mary; leões selvagens; malabaristas altivos; equilibristas de impressionar; o Homem-Aranha; e passavam pelo mágico Magnus, oriundo de um longínquo lugar do Oriente.
Todos, petrificados, presenciavam o anúncio do evento mais glorioso dos últimos meses que São Gabriel da Moitinha tinha notícia. A chegada do circo. A bola lá, parada na sarjeta, esquecida, recostada ao meio-fio; o torneio sem a definição de um campeão.
A garotada era um silêncio só, compenetrada, quando fora lançado pela direção máxima da trupe um desafio em alto e bom som. Quem era dotado de bravura suficiente para enfrentar a Mulher Jamanta no ringue montado no centro do picadeiro do Circo Fantástico? Além da glória eterna, o vencedor receberia premiação em dinheiro vivo.
Neste momento gigantesco, a molecada em polvorosa! A atração parruda do circo media mais de um metro e oitenta centímetros de altura, peso que ultrapassava cem quilos, braços com diâmetro equivalente às pernas dos praticantes dos torneios de golzinho, coxas torneadas avassaladoras, peitoral comparável à caixa de câmbio de um Fenemê, cabelos desgrenhados, um resquício de buço e raiva. Muita raiva!
— Quem será que vai lutar com a Mulher Jamanta? — indagou Marcelinho, morador da casa em frente ao torneio de futebol, ao restante do grupo.
— Ninguém em São Gabriel da Moitinha tem essa coragem — sentenciou Borboleta.
— Eu! E vou acabar com essa tal mulher jamanta! — gritou lá do fundo Dentinho, o mais exibido e franzino do grupo. Todos caíram em gargalhada.
— O Dentinho não aguentaria um sopro — balbuciou Pé de Breque, em risos engasgados.
Transcorrido o arrebatamento da notícia do Circo Fantástico na cidade, a bola voltou a rolar na rua. Afinal, era final de campeonato. Assunto mais que valoroso na Rua dos Pássaros e adjacências. Contudo, o poder de concentração dos jogadores na decisão havia minguado, porque os pensamentos estavam voltados à mulher jamanta e quem poderia enfrentá-la com dignidade para não macular, levar à lama o nome de São Gabriel da Moitinha.
No jantar, o assunto foi o circo, as atrações. Aos pais, pedidos desesperados para não ficar de fora da tenda. Marcelinho até promessa de se dedicar mais nos estudos fez, de não jogar tanta bola na rua e alcançar notas melhores nas provas caso o pai firmasse compromisso de dar-lhe dinheiro para ir ao circo em companhia dos amigos.
O dia frio de inverno amanhecia com fôlego diferente para os estudantes da única escola da cidade. Na hora do recreio, as conversas sobre o circo ganhavam forma, especialmente a atração circense que atendia pela alcunha de Mulher-Jamanta, que até o momento ninguém tinha visto em São Gabriel da Moitinha.
Não se tinha notícia, um dia depois da chegada da trupe, sobre algum intrépido oponente que subiria ao ringue para enfrentar a lutadora e, assim, garantir que a localidade não herdasse a imagem de uma cidade de frouxos. Cogitavam-se vários nomes, surgiam especulações em torno de alguns, comentários sobre as possíveis habilidades marciais, mas nada concreto. Não se tinha conhecimentos de candidaturas ao trono ou à vergonha.
A tarde foi atípica na Rua dos Pássaros. Não houve torneio de golzinho porque a molecada se dirigiu ao terreno baldio cedido pela prefeitura para que a lona do circo fosse erguida. Não se tratava de uma companhia grandiosa. Ao contrário. Um circo de tradição familiar, daqueles nos quais as estrelas ajudam a montar e desmontar a estrutura do espetáculo, pegam no serviço pesado, sem aplausos e holofotes. Não tinha uma variedade de animais exóticos e acrobatas voando pelos ares. O Circo Fantástico era modesto, apresentava-se por pequenas cidades do interior, mas tinha algo especial.
Em volta do terreno, trailers que serviam de moradia aos artistas e funcionários, caminhões e carros formavam um círculo, com apoio de cercas móveis, e o vai e vem dos trabalhadores empenhados em deixar tudo pronto para a noite de estreia marcada para o próximo fim de semana.
Nas proximidades, os curiosos, os meninos da Rua dos Pássaros, olhavam atentamente à movimentação, à espera da aparição da estrela do circo, a Mulher Jamanta. A esperança era de testemunhar se a lutadora era realmente forte como o homem do carro de som anunciara nas ruas da cidade. Mas foram embora frustrados porque ela não deu as caras. Conseguiram ver apenas homens e mulheres que pareciam normais trabalhando incansavelmente para erguer a tenda, levantar o gigantesco mastro com a bandeira azul e vermelha do Circo Fantástico na ponta, que tremulava ao vento.
O jeito foi retornar para casa. Alguns pensaram que teria sido melhor ter jogado futebol na rua, como faziam todas as tardes, já que não conseguiram ver o que era tido como a principal atração do circo, a mulher jamanta e seu corpo avantajado, e nenhum leão ou outro animal sequer. Apenas um cotidiano entediante de trabalho de bate aqui, marreta ali, desce lá, levanta acolá.
Três dias se passaram. Os garotos já tinham até um filho da cidade no ringue com a temida Mulher Jamanta. O carro do circo continuava a rodar pelas ruas e avenidas para anunciar a estreia, as atrações e a tão esperada luta que poderia não acontecer por falta de oponente. “São Gabriel da Moitinha não merece isso”, comentavam os garotos e garotas, cuja a esperança de testemunhar o embate escorria pelos dedos como água.
Foi, então, que Dentinho, saído da fila da cantina na escola, esgueirou-se em direção ao grupo de amigos para contar a maior novidade dos últimos tempos. Ele havia reservado a bombástica informação, que seria até tratada como um furo jornalístico de parar as prensas, para ser ostentada no intervalo das aulas, quando teria mais atenção de colegas lagarteando ao sol no pátio para diminuir o frio.
— Gente, gente… Temos um oponente à Mulher Jamanta — declarou Dentinho aos amigos, com a boca ainda cheia de cachorro-quente que dona Jurema preparava e vendia para os estudantes.
— Quem é? Quem te disse? — perguntou de forma incrédula Pé de Breque que era, na verdade, um encrenqueiro que não morava na Rua dos Pássaros, embora vivia por lá para jogar bola e participar de outras brincadeiras.
— Meu pai garantiu que o Mané Galinha aceitou o desafio do circo — disse Pé de Breque, tentando acrescentar mais credibilidade à informação.
Pé de Breque residia na rua de cima de Mané Galinha, um jovem adulto que vivia correndo pela cidade, fazendo exercícios físicos, ensinando artes marciais de graça para alguns súditos e que, dizem na cidade, que não bate muito bem da cabeça. O menino explicou que o pai, na volta do trabalho, parou para conversar com Mané Galinha no portão de sua casa e ele confidenciara que lutaria com a Mulher Jamanta a fim de receber a premiação em dinheiro prometida pelo circo em caso de consistente vitória.
Mané Galinha se transformara no salvador da imagem de São Gabriel da Moitinha e detinha, agora, a total admiração da molecada que se animava novamente para ir ao circo assistir a uma batalha épica com a Mulher Jamanta, no final, derrotada, com a cidade extasiada e orgulhosa de seu filho.
Meninos e meninas passaram, então, a bisbilhotar a rotina de treinos de Mané Galinha, que quase sempre estava vestido com um quimono branco que lhe conferia mais autoridade no campo das lutas, ou maior fama de mentecapto. Não sei. Ninguém em São Miguel da Moitinha, nem mesmo o prefeito Miltom da Sorveteria, conhecido por sua astucia, tinha a resposta certa para definir as condições psicológicas do desafiante.
Os moradores da cidade atestavam o empenho de Mané Galinha nos treinamentos para enfrentar a Mulher Jamanta no Circo Fantástico. Havia relatos até de que o promissor oponente, em busca de calejamento, batia com violência desmedida a canela nas pilastras de madeira da área de sua casa e em bananeiras no quintal que chegavam a definhar. Era dolorido só de imaginar a cena.
Os garotos da Rua dos Pássaros, evidentemente, eram os mais empolgados. Chegavam de bicicleta à frente da casa de Mané Galinha para vê-lo se preparar para o combate. O lutador, então, reunia seus discípulos e desembocava portão afora para correr. Durante o trajeto, pessoas o seguiam. Alguns disseram tempos depois que as corridas pré-luta de Mané Galinha, com o engajamento espirituoso de moradores durante o trajeto, inspiraram cenas do filme Forrest Gump, sucesso de bilheteria na década de 1990. “Run, Forrest, run!”
Nesses dias, a garotada se dividia entre escola, calçada da casa de Mané Galinha que treinava incansavelmente e montagem do Circo Fantástico no terreno mais afastado. Estava tudo pronto. Lona erguida, arquibancada, picadeiro, bilheteria, carrinhos com guloseimas, bichos alinhados, artistas ensaiados, público ansioso.
A tão aguardada noite de espera havia chegado. Na primeira fila, a meninada da Rua dos Pássaros agoniada. Circo pequeno é um salve-se quem puder. O palhaço atende na bilheteria, o acrobata faz algodão-doce, o mágico vende souvenirs. Quando o espetáculo começa correm para seus lugares.
O mestre de cerimônias Monarca, com uma cartola e bigode invejáveis, surge no picadeiro montado em um cavalo-branco, que tinha lá seus muitos anos de préstimos à atividade circense, munido de um megafone. Assim, conseguiu roubar a atenção do público. As arquibancadas não estavam tão cheias, é verdade, mas o show tinha que seguir.
— Respeitável público, o circo chegou...! — anunciou Monarca, para o encantamento da garotada.
A primeira apresentação foi de Zé Malabarista, um homem magro e ágil, dono de um bigode retorcido, que também tinha participação no grupo de palhaços. Equilibrava pratos, bolas e até facas afiadas enquanto sorria alegremente para a plateia. Dizia-se que ele havia fugido de um circo maior, onde seu talento não era reconhecido.
O espetáculo teve continuidade com Madame Mistério, uma cartomante com olhos penetrantes com poder de prever o futuro. Alguns acreditavam que ela tinha artimanhas sobrenaturais; outros achavam que era apenas uma charlatã. O palhaço Picolino, com feição triste, vestido com roupas coloridas e um nariz vermelho, fazia rir. Mas quando as luzes se apagavam, ficava sozinho, olhando para o retrato de sua amada, que havia partido anos atrás.
Passaram pelo picadeiro outros artistas, animais exóticos e nenhum sinal de Mané Galinha. O pensamento negativo tomara conta, de que o representante marcial de São Gabriel da Moitinha havia desistido do embate com a Mulher Jamanta e estava dentro de casa com as portas trancadas.
A magia do circo continuava a se espalhar pela tenda, quando Monarca declarou que a grande atração da noite ocorreria logo após a perigosa exibição dos Motociclistas Malucos no globo da morte. O cheiro de óleo queimado inundou o ambiente e o ronco dos motores das motos era ensurdecedor. Quatro motos no globo, depois cinco. A sensação era que em algum momento a acrobacia motorizada daria errado e alguém se machucaria. A apresentação foi um sucesso, os motociclistas se perfilaram no picadeiro, ergueram os braços e receberam os aplausos de uma plateia entusiasmada.
Monarca retornou com seu cavalo-branco e anunciou o combate, finalmente. A garotada na primeira fila, apreensiva, nem piscava os olhos. Vidrados, os originários da Rua dos Pássaros e adjacências ouviram o mestre de cerimônias dizer que veriam a mulher mais valente e destemida da face da Terra, dotada de força descomunal e agilidade capazes de vencer mais de um homem em uma luta.
O mestre de cerimônias criou uma atmosfera tensa na tenda ao enaltecer as habilidades da Mulher-Jamanta, suas medidas e propósito de humilhar qualquer homem que a desafiasse no ringue preparado para a grande final do espetáculo com ajuda de palhaços, malabaristas, mágico, motociclistas, vendedores e quem estava disponível no momento para não deixar a diversão parar.
— Vamos, primeiro, apresentar o desafiante da noite. O nome dele é Mané, que veio em busca do prêmio para derrotar nossa espetacular Mulher Jamanta. Vocês acham que ele consegue? — disse Monarca, referindo-se ao Galinha, que não gostava do apelido que ganhou quando criança por aplicar injeções de ácido sulfúrico em pés de galinha para, simplesmente, vê-las não conseguir ciscar.
Mané Galinha subiu ao ringue sob esfuziantes aplausos, vestido com um quimono branco. Circundou o ringue em uma corrida leve e, ao parar em seu corner, retirou a faixa preta de uma graduação que poderia ser caratê ou símbolo de extrema habilidade em outra arte marcial. Mané Galinha era declaradamente fã de Jean-Claude Van Damme, ator de Hollywood e lutador profissional. A estatura, ao menos, era semelhante. Mané Galinha estava em forma, mas não passava de um metro e sessenta centímetros. Embora a bravura fosse inflada.
Mané Galinha, solitário no corner, com aparência aflita, ouvia Monarca convocar a Mulher Jamanta. Era chegada a hora.
— Ela, que nunca perdeu uma luta, promove massacres no ringue: muuuulheeeerrr jaaaamantaaaa!
A Mulher Jamanta irrompeu as cortinas do picadeira com um maiô vermelho-verdadeiro e botas brancas brilhantes e franjas até os joelhos. A garotada não acreditava no que acabara de testemunhar. A atração número um do Circo Fantástico era muito maior que Mané Galinha e nutria expressão fechada, de pura crueldade. Era o fim do ávido grabielense-da-moitinha!
O gongo soou para uma luta em três assaltos que tinha Monarca, agora, na posição de juiz. O clima esquentou na tenda. A molecada entusiasmada gritava: “Mata ela”; “Vai Mané Galinha, acerta ela” e frases motivacionais que aqui se mostram indizíveis. A tenda virou um pandemônio já no início do combate.
Os lutadores se estudavam. O cheiro de feno e suor pairava no ar. Monarca, com sua cartola brilhante, ajustava o bigode, atento aos movimentos. Jamanta tomou a inciativa do ataque ao avançar com golpes poderosos, seus punhos atingindo o ar. Mané Galinha, ágil como uma raposa, esquivava-se e reagia prontamente com pontapés. A plateia rugia!
O combate se desenrolava bem. Alguns chegaram a espalhar pelas esquinas de São Miguel da Moitinha que a seria uma luta combinada, mas ficava claro ali no picadeiro que não havia marmelada. Jamanta desferia golpes brutais, enquanto Mané Galinha usava sua agilidade para escapar e contra-atacar. O público aplaudia e vaiava, alternadamente.
Fim do primeiro round e Mané Galinha havia sobrevivido até ali. No remeço, ele executou um salto-mortal ao agarrar-se às cordas do ringue. Girou no ar e, com um chute certeiro, derrubou Jamanta. Explosão de aplausos, enquanto a lutadora se levantava, atordoada.
A trocação foi intensa até o término do segundo round e não se tinham a compreensão clara de quem estava mais inteiro no ringue. Mas para o time da casa, Mané Galinha tinha uma pequena vantagem.
No meio do último round, impressionantemente, Mané Galinha tirou da cartola uma mata-leão, um estrangulamento magistral pelas costas, que fez Jamanta apagar e cair no tatame como uma grande árvore cortada a machadadas. Monarca foi obrigado a abrir contagem e depois erguer o braço do vencedor, declarando-o campeão da noite e entregar a premiação em dinheiro ao mais novo herói de São Gabriel da Moitinha, ovacionado pelo público por minutos que pareciam intermináveis.
A fama de Mané Galinha, a partir desse dia, correu como busca-pé de São João pela cidade. A molecada vivia rodeando-o em tudo quanto é canto. Ganhou novos alunos nas aulas grátis de artes marciais e cada vez mais seguidores nas corridas pelas ruas. De desassistido a notável, resume-se. Na eleição municipal seguinte, o morador mais ilustre de São Gabriel da Moitinha se candidatou a prefeito e venceu nas urnas Zé da Sorveteria, que já havia sentado na cadeira mais importante da cidade por três vezes.
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⠀⠀⠀⠀⠀⠀#𝐑𝐈𝐍𝐆𝐎𝐒𝐓𝐗𝐑𝐒 𝖯𝖱𝖤𝖲𝖤𝖭𝖳𝖲: SLASH, AXL & ROSE MILLER!
ㅤㅤslash evan miller, o skatista.
dos três é o mais velho, por mais que tenha nascido apenas um mês antes dos outros dois, no dia nove de setembro de 2014. diferente do pai e dos irmãos, é o mais tranquilo e sereno de toda a família miller, se for possível falar isso. talvez por conta de ser filho de professora tenha tido a possibilidade de ter uma vida mais estável, por mais que o pai sempre tenha sido maluco. ringo certa vez disse que ele lembra muito a bisavó, evelyn, com um senso de responsabilidade muito próprio e da créditos a isso pelo seu nome do meio. o menino é muito ligado aos esportes, sendo ótimo no skate e viver zanzando pelos lugares com ele, sendo o responsável por algumas coisas quebradas no motel. uma vez conseguiu quebrar um corrimão ao tentar fazer uma manobra; ringo adorou a manobra, mas precisou ouvir um sermão por conta do braço quebrado do menino. num geral, é muito inteligente e esperto, ajudando os irmãos a saírem de problemas vez ou outra.
ㅤㅤaxl matthew miller, o baterista.
com a mãe e o pai músicos, não tinha como axl nascer sem esse dom. criado entre guitarras, microfones e gritarias de metal altíssima, axl é um verdadeiro rockstar. aprendeu a tocar bateria com três anos de idade e nunca mais parando, sendo o terror da vizinhança e de quem quer que vá até o motel em busca de paz para suas atividades. com as mãos velozes, ainda é um excelente ladrãozinho, deixando a família inteira de cabelo em pé apesar de ringo sempre achar graça das coisas que ele aparece vez ou outra. por exemplo, um dia ele chegou com um hamster que ele roubou de uma loja de animais apenas porque os amigos disseram que ele não conseguiria. chamou o bichinho de lars ulrich, em homenagem ao baterista do metallica e fez uma gaiola para ele toda personalizada. dos três irmãos, é aquele que consegue se safar das coisas porque sabe se mover pelas sombras e fingir que não está ali, na maioria das vezes seus problemas acabam sendo resolvidos por slash e quando alguma coisa da errado é porque rose o dedurou.
ㅤㅤrose mary miller, o furacão.
quem acha que só porque é a única menina do trio significa que seria uma princesinha, está enganado. na verdade, nem tanto. rose é a princesinha de ringo, mas isso por si só tem um significado muito próprio, principalmente quando se percebe que ela é a versão menor e mais atentada dele. a família toda a conhece como ‘o furacão’ por ser extremamente ativa, não conseguindo ficar parada um minuto e tendo um senso para problemas muito apurado. se rose está muito quieta, pode ter certeza que algo enorme vai explodir logo mais. é a criança que mais tem problemas na escola, brigando com os colegas e recebendo inúmeras advertências; o que deixa a mãe de cabelo em pé e o pai achando graça de tudo. tem uma língua afiada, não leva desaforo para casa e sabe xingar até a quarta geração de uma pessoa. é apaixonada por metal e, volta e meia, arrasta o pai para shows de bandas de garagem ou de grandes nomes da música, tendo que ser segurada na maioria das vezes ou acaba se enfiando em algum mosh (ela realmente tentou algumas vezes!). dedura os irmãos na cara dura e adora dizer que é a favorita do pai. se não bastasse tudo isso, dizem que rose é fisicamente igual a avó, o que sempre deixou ringo mexido.
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Uma Família de Três (C.L 16)
Parte IV- Bem-vindo à sua nova vida.
⚠️avisos: Angústia(bem de leve), fluff, palavrões, uso de bebidas alcoólicas, menções a drogas.
*lembrando novamente que nesta história, Jules Bianchi morreu em 2019, o que pode alterar a data de alguns acontecimentos*
Aproveitem a leitura!
Ps: Essa parte também é toda baseada pelo ponto de vista do Charles.
Quantidade de Palavras: 5.727
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8 de setembro de 2016 — Monte Carlo, Mônaco.
— Cara, limpa a baba se não vai escorrer.
Levo um susto com Pierre, mas logo volto a olhar para Marie dançando na pista de dança que improvisamos na sala de estar do apartamento de Jules.
— Estou apreciando a vista. — Digo dando de ombros e tomando o restante da minha cerveja.
— Quando você vai virar homem e tomar uma atitude? — Ele pergunta passando o braço pelo meu ombro e também olhando para as meninas dançando e rindo.
— Quando eu tiver certeza de que ela sente o mesmo e que não existe a possibilidade de foder com a nossa amizade. -Respondo e Pierre ri.
— Do que estamos falando? — Jules aparece ao meu lado e estica uma nova garrafa de cerveja para mim.
— Sobre como o Charles é cego e burro. — Pierre responde e eu dou uma cotovelada nele. — Ai! Mas é verdade! Companheiro, você precisa tomar uma atitude logo. Ela não vai esperar por você pelo resto da vida. — Eu olho para Pierre confuso e ele revira os olhos.
— Como assim me esperar? Ela disse algo para você? — Eu pergunto abrindo a garrafa com a bainha da camisa.
— E precisa dizer? A garota olha para você como se você fosse a porra de um anjo. — Ele diz e Jules ri concordando com a cabeça. — Sério, daqui a pouco não vamos mais precisar de energia elétrica na Europa, porque o brilho que aparece nos olhos dela quando te vê já pode iluminar o continente inteiro. — Eu reviro os olhos com o exagero dele.
— Só não é mais forte do que o jeito que o Charles olha para ela. — Jules diz e eu o encaro sério. — O que foi? É verdade. Vocês dois se conhecem praticamente a vida toda, e não tem uma única vez que eu não sinta a tensão sexual entre vocês quando estão juntos. — Ele me encara com um olhar que grita “Desafio você a refutar isso”.
Eu nego com a cabeça para os dois.
— Não é tão simples assim. — Eu digo. — Marie faz parte da minha vida e eu não sei se vocês estão lembrados, mas eu e relacionamentos amorosos não parecemos nos dar bem.
— Isso é porquê você gosta de pegar amigas das suas ex’s. — Pierre rebate e Jules ri alto.
— Isso só aconteceu uma vez!-Eu repondo o olhando indignado.
— Talvez Marie deva virar amiga de uma futura namorada sua, já que você tem mais coragem de chamar uma dessas garotas para sair, do que chamar sua melhor amiga. — Jules fala e dessa vez é Pierre quem ri.
-Tá bom, já chega! — Digo tentando parar aquela conversa.
— Mas sério, cara. — Pierre aproxima o rosto do meu como se fosse falar algo serio. — Como você escolhe entre as amigas? É por beleza? Ou você só faz une dune tê, entre elas? — Ele pergunta e eu dou outra cotovelada nele.
— Vai se foder, Pierre! — Ele ri e recolhe o braço que ainda estava ao meu redor. Jules põe uma mão no meu ombro e eu posso ver que ele está dando tudo de si para segurar o riso. — Vocês dois são uns babacas.
— Claro, claro. E você é um idiota que se não tomar uma atitude agora, vai ficar para trás. — Jules responde e aponta com a cabeça em direção a pista improvisada.
Eu sigo o seu gesto com o olhar e percebo o que ele estava tentando dizer. Na pista, as meninas que acompanhavam Marie em sua dança desastrada, saíram em direção a cozinha e a deixaram sozinha, ou nem tão sozinha assim, pois Sainz, piloto da Renault, já havia se aproximado dela.
Da onde estou consigo ver facilmente a mão do espanhol ir para a cintura dela e ele se aproximando para sussurrar algo em seu ouvido. Marie ri e da um leve tapa em seu ombro que também o faz rir. Eles estão flertando?
-Acredito que sim. — Jules responde e só assim eu percebo que disse em voz alta.
— Mas também, olhe para o Carlos. Quem não flertaria com ele? O cara parece um príncipe. — Pierre diz tomando um gole de alguma bebida com aparência duvidosa. Eu e Jules apenas o encaramos. — O quê? Ele parece. Bonitão.
— Cara, você é…? — Jules pergunta com a sobrancelha arqueada e logo ele e Pierre entram em uma discussão sobre achar homens bonitos ser ‘gay’ ou não.
— Eu não tenho tempo para vocês dois, sinceramente. — Digo me afastando deles e indo em direção a Marie e a Carlos.
— Onde você vai? — Pierre pergunta.
— Vou buscar minha garota. — Respondo.
Me aproximo de Marie o suficiente para passar meu braço pela sua cintura e afastá-la gentilmente das mãos de Carlos, chamando a sua atenção e a do espanhol também, que encara o meu gesto com as sobrancelhas arqueadas.
— O que eu perdi, querida? — Pergunto passando meus olhos entre ela e ele.
— Hmm…nada? — Ela responde incerta. — Carlos estava apenas sendo gentil. — completa olhando para Carlos e dando a ele um sorriso aberto. Aberto até demais.
— A é? E que gentileza toda foi essa? — Eu pergunto olhando diretamente para Carlos, meu tom de voz saindo com um pouco mais de veneno do que eu planejava.
Carlos me encara sério por um tempo e posso ver as engrenagens na sua cabeça custando para funcionar, até que a realização parece ter finalmente dado sinal de luz.
— Só estava elogiando a dança dela, Charles. — Ele responde e me lança um olhar intenso.
Pierre tinha razão. O cara é bonitão.
— Ela é uma dançarina bem excêntrica. — Respondo rápido e só depois que as palavras saem da minha boca que percebo.
— Obrigada…? — Marie diz me olhando com as sobrancelhas arqueadas tentando entender se aquilo foi um elogio. Porra Charles.
— Não! Não foi isso que eu quis dizer! Eu, mm bem, você estava dançando bem. Eu que não sei me expressar e…
— Tudo bem, Charlie. Eu sei que não sou a melhor dançarina daqui. — Ela diz rindo.
— Cariño, posso afirmar com toda a certeza que você brilha com a sua dança “excêntrica”. — Carlos diz dando a ela um sorriso.
Esse cara não entendeu ainda?
— Mais uma vez, é muita gentileza da sua parte, Carlos. — ela da outro sorriso brilhante para ele.
— Sim Carlos, você é gentil e adorável. — falo e dou a ele um sorriso sarcástico.
Carlos ri e só então eu percebo que ele já entendeu o recado e só está curtindo com a minha cara. Palhaço.
— Eu vou cumprimentar uns amigos. Foi um prazer rever você, Cariño. — Ele diz pegando a mão livre de Marie e dando um beijo. — Charles. — Ele acena com a cabeça e sorri provocador para mim.
— Foi um prazer, Cariño. — Digo com o mesmo tom provocador.
Quando Carlos se afasta de nós dois, Marie se vira para mim com as sobrancelhas arqueadas e braços cruzados.
-Tá okay, que diabos foi isso? — Ela pergunta me encarando, um sorriso humorado pintando seus lábios vermelhos.
— Não sei do que você está falando. — Respondo rápido.
— Jura, Cariño? — Ela diz o apelido de uma forma sarcástica. — Se eu não te conhecesse, diria que você estava com ciúmes de Carlos e estava tentando flertar com ele. — Eu a olho surpreso e ela ri.
— Mas é claro que não! Por um acaso pareceu isso? — pergunto com medo de ter passado a imagem errada.
— Relaxa, Leclerc! Ele é bonitão, não posso te julgar por se sentir atraído por ele. E aquele sotaque… Nossa! — Ela fecha os olhos e põe a mão no peito, como se fosse atingida por uma flecha do cupido. — Só me diz se você estiver afim dele, para nós não acabarmos flertando com o mesmo cara. — Seu riso é alto.
— Mas eu não estava flertando com ele! Eu só não queria que ele flertasse com você! — digo exasperado.
Marie para de gargalhar e me olha profundamente, um sorriso divertido e provocador ainda pintado nos lábios.
-E porque não ? — Ela pergunta.
Eu dou um passo à frente, ficando mais próximo dela. Minhas mãos pousam uma em cada lado de sua cintura.
— Porque quero ser o único que pode flertar com você, mon chérie. — Digo aproximando meu rosto do dela. — Quero ser o único a elogiar sua dança excêntrica, e ser o único a tocar você. — Me aproximo mais.
Os olhos de Marie deixam os meus e vão para a minha boca.
-Charles… — Ela diz meu nome em um aviso, mas mesmo assim não se afasta. Pelo contrário, suas mãos passam pelo meu pescoço nos aproximando ainda mais.
— O quê? — Eu pergunto baixo. Meus olhos passando dos olhos dela para os lábios.
-Não comece nada que você possa se arrepender depois. — Ela avisa, seu tom também baixo.
— E quem disse que eu vou me arrepender? — coloco um cacho para trás da orelha dela. — Você não tem noção do quanto eu quero isso.
— Me beija logo, Leclerc. — Ela dita e eu obedeço.
Nossos lábios se encontram e é desajeitado, mas de longe o melhor beijo que eu já dei. Minhas mãos vão até à parte de trás de seu pescoço pressionando ainda mais a sua boca na minha e Marie solta um suspiro que faz com que meus pelos se arrepiem.
É isso, oficialmente estou beijando a minha melhor amiga.
— FINALMENTE PORRA! — Eu escuto as vozes de Pierre e Jules do outro lado da sala, mas tudo em que eu realmente quero me concentrar agora é na garota nos meus braços.
Quando o ar se faz necessário, Marie se afasta me dando alguns selinhos. E nós dois sorrimos.
— Podemos ir para a sua casa? — Ela pergunta com os olhos brilhando em desejo. — Há muitas coisas que quero fazer com você, mas suponho que não seria uma boa ideia fazer isso no apartamento de Jules. — Ela sussurra próximo ao meu ouvido, fazendo novas ondas de arrepio se espalhar pelo meu corpo.
— Vou pegar minhas chaves. — Respondo rapidamente e ela acena com a cabeça antes de se afastar.
— Vou pegar minha bolsa. — Ela diz e me dá mais um selinho antes de se afastar e correr em direção a um dos quartos.
Eu fico parado lá por alguns segundos, mal conseguindo conter o sorriso e a excitação que agora correm pelo meu corpo.
— Aqui. — Jules aparece do meu lado me quebrando do transe. Na sua mão ele tem as minhas chaves e na outra, alguns pacotes de camisinhas. — Essas são cortesias minhas e do Pierre. — Ele diz acenando para Pierre que faz sinal com as sobrancelhas para mim da onde estava.
— Vocês dois, pelo amor de Deus! — Eu digo pegando as chaves da mão de Jules e me virando.
Eu paro por um momento apenas pensando um pouco e me viro pegando os pacotes de camisinhas também, fazendo Jules rir.
— Anda logo, porque o volume nas suas calças tá ficando um pouco esquisito demais! — Pierre grita e eu sinto minhas bochechas queimarem.
Eu oficialmente odeio esses dois.
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20 de janeiro de 2023 — Nice, França.
— Então o Shal disse que vamos até o box da Cedes para eu conhecer o Lawi Hamiltion! — Vincenzo diz empolgado com o rosto todo sujo de molho das almôndegas que Cecilia preparou para o jantar.
— Que maravilha, meu amor! Aposto que você e o Sir Lewis, serão muito amigos! — Cecilia diz sorrindo e limpando o rosto de Vincenzo com um guardanapo.
— Sim, mamãe! — Ele me olha e posso imaginar engrenagens girando em sua cabecinha. — Ele só não vai mais poder ser meu melhor amigo, porque o Shal já é! — Ele sorri para mim, um pequeno buraco se formando em sua bochecha gordinha. Ele tem covinhas?
Eu sorrio de volta para ele, sentindo algo inexplicável.
Olhar para Vincenzo é bom. É como ser levado de volta para uma época boa. Um tempo onde as coisas eram mais simples e bonitas. Era como voltar no tempo e saber que eu sempre teria um amigo com quem contar.
Talvez eu esteja enlouquecendo, talvez todos esses sentimentos surjam devido a saudade que eu sinto de Jules. Mas é algo tão bom e tão puro. Saber que Jules partiu, mas deixou uma parte viva dele aqui e que agora eu teria por perto pelo resto da vida. Talvez eu ainda tenha meu melhor amigo comigo.
— Tudo bem garotinho, hora de escovar os dentes e ir para a cama. — Cecilia diz se levantando e o tirando do cadeirão de alimentação.
— Tudo bem se o Shal me por na cama, mamãe? — Ele pergunta para a Cecilia e ela congela por um minuto antes de olhar para mim.
— Claro… — Ela diz incerta. — Se ele quiser, eu não vejo problema.
— Eu adoraria. — Digo limpando a boca com o guardanapo e me levantando rapidamente.
— Vou apenas escovar os dentes dele e depois te chamo para colocá-lo na cama.
— Tudo bem. — Digo e Cecilia sai da cozinha com o pequeno firmemente em seus braços.
Fico encarando o ponto em que eles sumiram por mais um tempo antes da minha atenção voltar para Marie, que recolhia os pratos de cima da mesa.
— Você acredita que ela vai se arrepender? — Pergunto encostando no balcão da pia.
Marie empilha os pratos e os coloca na pia, antes de me encarar.
— Talvez. — da de ombros e estende as mangas da blusa para começar a lavar a louça. — Não é muito fácil de se afirmar, pois, não a conheço o suficiente para isso.
— Eu só não consigo entender. — suspiro esfregando as têmporas.
— Talvez você deva parar de tentar. — Ela responde simples.
Eu encaro o perfil dela, confuso.
— Como assim “parar”? - Cruzo os braços.
— Talvez só precisamos aceitar a oportunidade que a vida está nos dando novamente. — Ela continua esfregando os pratos.
Eu me sinto ainda mais confuso com essa resposta.
— Não entendi. — Ela para por um momento e suspira alto. No seu perfil escorre uma lágrima e eu arrumo minha postura me virando totalmente para ela que também se vira ficando de frente para mim.
— A oportunidade de passar mais um tempo com ele, Charles. — Ela fala e minhas sobrancelhas franzem ainda tentando acompanhar o que ela realmente quer dizer. — Com Jules, Charles. A vida nos deu outra oportunidade de estar com ele, ou pelo menos com um pedaço dele.
Eu apenas a encaro e ela limpa o rosto com as costas da mão, tomando cuidado para não passar sabão nos olhos.
Então não foi apenas eu que tive essa sensação. Isso era bom.
— Tudo bem. — É o que eu consigo dizer.
Eu queria falar mais. Dizer que parte de mim, tem medo de se apegar a Vincenzo como memória de Jules e depois ter que deixá-lo partir também, caso Cecília voltasse atrás. Mas decidi não dizer. Marie tinha razão, talvez esse fosse o jeito do universo se redimir conosco e nos devolver um pouco de uma das pessoas que mais amávamos.
Ela acena com a cabeça e volta a lavar os pratos.
— Ele já está na cama esperando você ir ler a história favorita dele. — A voz de Cecília chama minha atenção.
— Tudo bem. — Digo saindo da cozinha.
Caminho pelo pequeno corredor e paro na porta do quarto em que Vincenzo divide com Cecília.
— Shal? — A voz infantil do pequeno me chama.
Vincenzo já está deitado e metade de seu corpo está coberto. Seus olhos brilham em expectativa e posso ver que em suas mãozinhas há um livro de história infantil.
-Oi, Campeão. — Vou até o seu lado da cama e ele se afasta um pouco para que eu deitasse ao seu lado.
Eu me ajeito encostando as costas na cabeceira da cama e deixando meus pés para fora da cama. Vincenzo se aconchega mais perto de mim e estende o livro para que eu pegue.
- ” A Árvore das lembranças”. — Leio o título em voz alta para Vincenzo. — Era uma vez uma raposa que vivia na floresta com os outros animais. Ela levou uma vida longa e feliz, mas estava ficando cansada. Bem devagar ela foi até o seu cantinho favorito na clareira, olhou uma última vez para a sua amada floresta e se deitou. Fechou os olhos, respirou fundo e caiu no sono para sempre. — Eu franzo as sobrancelhas quando começo a entender sobre o que a história retrata e olho para Vincenzo. — Esse é seu livro favorito? — Pergunto.
Vincenzo acena com a cabeça e me encara com olhos grandes.
— Por que este é seu livro favorito?
— Porque a Poposa é igual ao papai! — Ele exclama sorrindo.
Meu coração aperta no peito e por alguns segundos eu esqueço de como respirar. Vincenzo é apenas uma criança e mesmo tão novo já tem que lidar com a perda de alguém que ama, mesmo sem nunca ter o conhecido.
Eu abro e fecho a boca várias vezes, tentando pensar no que dizer para ele, mas minha cabeça parece ser incapaz de organizar quaisquer pensamentos agora.
-Tá tudo bem, Shal. — Sua mãozinha faz um carinho leve no meu braço. — A Poposa vira uma árvore bem grande e todo mundo continua a se lembrar dela. Igual o papai. — Ele diz e eu sinto meus olhos arderem. Como essa criança pode ser tão inteligente a ponto de fazer esse tipo de comparação?
— Você é um garoto muito esperto, Vincenzo. — Eu digo e faço carinho em seu cabelo.
Ele sorri mais abertamente e se aproxima ainda mais de mim, colocando a cabecinha em meu estômago, praticamente se deitando em cima de mim.
— A mamãe disse que eu vou morar com você e com a princesa. — Ele diz baixinho.
Eu continuo fazendo carinho em seus cabelos e penso em como responder a isso, afinal, eu não faço ideia da profundidade da conversa entre Cecília e Vincenzo e tenho medo de falar qualquer coisa errada.
— Sim, Campeão. Mas essa conversa nós podemos ter amanhã, certo? — Pergunto e sinto sua cabeça se movimentar levemente em um gesto de afirmação. — Agora me conta como que termina essa história? Que tal você me contar um pouco mais sobre a Raposa e seus amigos? — Tento voltar no assunto da história.
— A Poposa estava cansada, então ela se deita no cantinho favorito dela e aí ela dorme para sempre, igual o papai. Mas, seus amigos contam histórias que viveram com ela e começa a nascer uma árvore bem grande, assim ó — Ele se levanta do meu colo e abre os braços o mais longe que consegue, depois volta a se deitar.- Você vai me contar histórias do papai também, Shal? Eu quero que o papai cresça igual uma árvore, também. Mas acho que só a mamãe contando não é o bastante para a árvore dele crescer.
Aquilo doeu. Doeu demais. Vincenzo tinha o cara mais incrível como pai e não havia ninguém para falar dele a não ser Cecília. Há tantas histórias cujas quais ele deveria saber sobre Jules. Conhecer a pessoa maravilhosa que ele era através das pessoas que o amavam, era o mínimo que seu filho merecia. Mas haverá bastante tempo. Eu mesmo contarei a ele cada coisa que me lembro sobre seu pai, assim como sei que todos ao meu redor farão.
— Vou contar tudo a você, campeão. Eu prometo. — Eu digo e me inclino para dar um beijo em sua cabeça.
Vincenzo sorri e boceja.
— Obrigado por seu meu amigo, Shal. — Ele diz e fecha os olhinhos, se aconchegando ainda mais em mim.
— Obrigado por me permitir ser. — Eu respondo e limpo uma lágrima que escorre pelo meu rosto.
(…)
Depois de me certificar que Vincenzo realmente dormiu e estava confortável, eu saio do quarto apagando a luz e encostando a porta.
Vou até à sala e encontro Marie e Cecilia, primeira sentada no sofá e Cecilia sentada em uma poltrona à frente. Me sento ao lado de Marie e tento me preparar para a conversa que seguirá.
— Ele dormiu. — Sou o primeiro a quebrar o silêncio.
— Ele realmente gostou muito de você. — Cecilia diz com um sorriso triste no rosto. — Normalmente ele aceita apenas que Rebecca e eu o coloque na cama.
Rebecca é uma adolescente que quando chegamos a casa de Cecilia mais cedo, estava tomando conta de Vincenzo. Cecilia nos disse que ela sempre fica de babá dele quando é necessário.
— Ele é ótimo, Cecilia. Você criou um garoto maravilhoso. — Digo a ela.
— Então agora possa ser que você entenda um pouco mais o meu lado, certo? — Ela me questiona, seus olhos se enchendo de lágrimas.
Eu apenas abaixo a cabeça, porquê não, eu não consigo compreender como ela teria a coragem de renunciar a uma criança tão boa e inteligente igual a Vincenzo. Mas não irei entrar nessa discussão novamente.
— Ele me contou que você já deu a notícia sobre ele ir viver conosco. — digo tentando mudar o caminho da conversa.
— Sim, eu fiz. Queria já deixá-lo preparado. — Ela abaixa a cabeça.
— E o que exatamente você disse a ele? — Marie pergunta.
— Disse que eu estou doente e que não poderia mais cuidar dele. — A voz dela falha. — E disse que vocês dois farão isso por mim, até que eu me recupere. — Eu a encaro sério e um pouco confuso.
— Você pretende voltar algum dia? — Pergunto e ela nega com a cabeça. — Então por que você diria algo assim para ele? Dessa forma você só o está dando mais esperanças de que será algo temporário. — Minha voz soa um pouco mais ríspida do que eu pretendia.
Cecilia me encara.
— Porque não é fácil falar para meu filho que nunca mais iremos nos ver, Charles. Eu sou única pessoa que Vincenzo tem. — Ela se matem séria, mas lagrimas grossas descem pelo seu rosto.
— Você não precisa deixá-lo totalmente, Cecilia. — Marie diz. — Você sabe que nós jamais impediríamos você de manter contato com o Vincenzo. Apenas tome um tempo para você e tente uma clínica de reabilitação. Tente se curar e ser melhor para vocês dois. E quando você acreditar que está mentalmente estável, volte. Faça as pazes com ele. Claro que não irei prometer que será fácil e muito menos que deixaremos você levá-lo embora. Uma vez que o processo de adoção for autorizado, Vincenzo será meu e de Charles. O criaremos como filho. Mas ele crescerá sabendo quem são os seus pais biológicos, não iremos esconder o passado dele. — Ela diz passando os olhos entre mim e Cecilia e eu apenas afirmo com a cabeça.
— Vincenzo te ama, Cecilia. E queremos mesmo que um dia vocês voltem a ter contato. Mas também preciso que você tenha consciência que uma vez que aqueles papéis forem assinados, faremos de tudo para mantê-lo conosco. Vincenzo é um garoto esperto e mesmo sendo pequeno, isso o afetará de alguma forma. Não vou deixar que você o faça passar por outro processo de readaptação quando ele estiver acostumado com sua nova vida. — Falo firme. — Por isso eu te pergunto novamente. Você tem certeza que quer fazer isso? — Silêncio.
Meus olhos vão de Cecilia para Marie que me encara tão angustiada quanto pode.
Eu não menti sobre querer que Cecilia volte a fazer parte da vida de Vincenzo um dia. Mas também sinto que preciso deixar claro meus pontos. O processo de adoção é difícil para crianças, independente da idade. Não vou permitir que Vincenzo seja tratado como premio compartilhado, que um dia está em uma família e no dia seguinte está em outra. Ele merece muito mais do que isso.
— Eu entendo. Juro que entendo. — Ela deixa escapar um soluço. — E é por isso que pretendo me manter longe. O principal motivo pelo qual eu o estou… — Ela para por um momento como se tivesse sentindo uma dor aguda. — pelo qual eu o estou dando… Meu Deus como dói falar isso. — Ela aperta os olhos.
— Nós já entendemos o que você quer dizer, Cecília. Está tudo bem. — Marie tenta acalma-la.
— Não. — Eu digo. — Deixe que ela fale, ela precisa entender sobre o que está abrindo mão. — Digo ainda olhando para a mulher quebrada na minha frente.
— Charles… — Marie tenta, mas eu a encaro e nego com a cabeça.
— Ela precisa, Marie. — Volto a olhar para Cecilia. — Você está renunciando a Vincenzo, Cecilia. Está abrindo mão da responsabilidade de ser mãe, e tudo bem, não irei mais criticá-la por isso e nem proibir que, caso você se arrependa um dia, volte e tente contato com ele. Mas será apenas isso, você entende? Vincenzo terá o seu sangue, mas nada, além disso. Ele não será mais o seu filho. Pelo menos não dessa forma. — Finalizo e olho para Marie ao meu lado.
Marie me encara, com seus olhos cheios de lagrimas. Sei que ela pensa que estou sendo duro e que isso provavelmente não está sendo fácil para Cecilia. Entretanto, se eu estiver sendo sincero, não me importo com Cecilia, mas sim com o garotinho que deixei dormindo naquele quarto. É da vida dele que estamos falando, e vou garantir que ninguém tenha a oportunidade de arruiná-la. Então se isso me fizer soar apático sobre os sentimentos da mulher sentada a minha frente, que assim seja. Isso não está sendo fácil para nenhum de nós, todos teremos nossas vidas mudadas pela decisão dessa mulher, então já que ela decidiu jogar esse jogo, pretendo ao menos ditar as regras de como isso funcionará.
Quando aqueles papéis forem assinados, Vincenzo terá uma nova vida, e consequentemente novos pais.
— Tudo bem. — Cecilia diz limpando o rosto. — Eu estou abrindo mão do meu filho.
E assim aquele acordo foi selado.
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29 de janeiro de 2023 — Monte Carlo, Mônaco.
Verifico novamente todo o apartamento, garantindo que está tudo em ordem e em segurança o suficiente para ser habitado por uma criança de 3 anos e alguns meses.
Após aquele dia na casa de Cecilia, entrei em contato com Giovanni, meu advogado, pedindo que os papéis da tutela provisória fossem assinados o mais rapidamente, até que possamos oficialmente entrar com as medidas da adoção definitiva.
E quem diria que ser conhecido e rico, nos daria uma ótima vantagem? Assinamos o papel com os pedidos dois dias depois e voltei para Mônaco três dias depois para garantir que estava tudo em ordem.
Com a ajuda dos meus irmãos e da minha mãe — depois de ter contado tudo a eles, e de muitas perguntas, surpresa e choro — montamos um quarto para Vincenzo, onde costumava ser o quarto de hóspedes e ajeitamos o restante do apartamento para a inspeção da assistente social, que apareceu dois dias atrás e pediu por mudanças em detalhes mínimos e assim considerou a casa segura para o garotinho viver.
A assistente deverá chegar dentro de alguns minutos, trazendo Vincenzo. Marie também está a caminho, ela teve que resolver coisas da mudança de sua casa na Itália e também finalizar o processo de transferência da empresa em que ela trabalha. Como ela irá viver aqui para aumentar as nossas chances com a adoção de Vincenzo, deixei o meu quarto para ela e me instalei no meu “escritório”.
Eu me sinto nervoso com essas novas mudanças, isso não posso negar. As coisas estão acontecendo muito depressa e ter que viver e cuidar de uma criança pequena, não era algo que estava nos meus planos, ainda mais ter que fazer isso com a minha ex namorada, o que torna tudo ainda mais louco.
Se tivessem me dito há 3 semanas, que tudo isso aconteceria, eu provavelmente teria rido ou ficado muito puto. Porque, quais as chances de Jules ter tido um filho com uma viciada? E que ela daria um ultimato em mim e na minha ex — que eu não via a anos — para que criássemos aquela criança? Isso era impossível; até não ser.
Ouço o som do interfone tocando e vou até à cozinha para atender.
— Olá?
— Ei Charles! Sou eu. — A voz de Marie soa robótica através do auto falante. Eu aperto o botão de liberação do portão do prédio.
Minhas mãos estão suando e eu as limpo na calça jeans, enquanto dou mais uma olhada ao redor só por precaução.
O som da campainha ecoa pelo apartamento e corro para a porta.
-Oi! — Minha voz soa mais Alta do que eu planejei e Marie franze as sobrancelhas.
— Vejo que você está bem relaxado. — Ela zomba e eu dou espaço para que ela entre no apartamento, fechando a porta logo depois.
— Tem como relaxar? Já chequei esse apartamento no mínimo umas quarenta vezes hoje. — Digo e vou até à cozinha novamente, pego a garrafa de água na geladeira e dois copos no armário.
— Da para ver. — Ela diz entrando na cozinha e olhando ao redor. — Você tem que relaxar, pelo que vi, está tudo mais do que em ordem.
— Eu só quero garantir que esteja tudo perfeito para quando ele chegar. — estendo um dos copos cheios de água para Marie e ela aceita e toma um gole.
— Esse lugar está ótimo, um pouco diferente desde a última vez em que estive aqui. — Eu aceno com a cabeça e viro metade do líquido gelado de uma vez pela garganta.
Algumas memórias me invadem, a última vez que Marie estivera aqui, foi poucos dias antes do nosso término. Não é uma memória agradável e tento ao máximo não pensar nela.
— O quarto do Vincenzo ficou ótimo. — Digo tentando afastar a lembrança amarga. Este definitivamente não é o momento. — E deixei o quarto principal, que era o meu, para você. — Ela me encara com uma carranca nos lábios.
— E onde você irá dormir? — Pergunta com uma sobrancelha arqueada.
— Adaptei o meu escritório em um quarto. E não me olha assim, só o utilizava como uma sala de jogos, de qualquer maneira. Eu estarei confortável lá, não se preocupe. — Ela me encara por mais alguns segundos e por fim da de ombros.
— Já que você diz. — Ela coloca o copo agora pela metade em cima da pia. — Obrigado de qualquer forma.
— Não há de que. — Respondo. — Onde estão suas coisas?
— No carro. Trouxe algumas roupas e coisas de higiene. O restante, contratei uma empresa para que traga depois. — Ela diz e eu assinto.
— E seu apartamento? Colocou à venda? — Viro o restante da água que está no meu copo e coloco ao lado do dela.
— Hm… Na verdade não. — Eu a encaro confuso. — Resolvi manter o apartamento por precaução, e sem falar que as vezes terei que viajar para a Itália devido ao trabalho e você sabe que eu odeio hotéis, então… — Ela encara os pés.
Precaução? Ela está supondo que isso não dará certo?
— Marie, eu-
Sou interrompido pelo som do interfone.
— Ele chegou! — Ela diz rapidamente indo para a sala e me deixando na cozinha.
Respiro fundo e vou atender mais uma vez.
— Olá? — Pergunto tentando manter a voz o mais calma possível.
— Oi, Shal! — Vincenzo grita através da maquina.
— Oi, Campeão! — Automaticamente sinto meus lábios se moldarem em um sorriso.
— Sr. Leclerc, podemos subir? — A voz da assistente social é baixa e menos empolgada do que a de Vincenzo.
Aperto o botão de liberação e vou até à sala, encontrando Marie já em frente a porta. Posso ver de relance suas mãos tremendo ao lado de seu corpo. Caminho até ela ficado ao seu lado e gentilmente pego uma de suas mãos.
— Vai dar tudo certo. — Falo baixo a encarando.
— Eu sei. — Ela aperta a minha mão e nós sorrimos um para o outro.
Esperamos minutos suficientes para que uma mulher de meia-idade consiga subir de elevador com uma criança e provavelmente uma mala, até o 12 andar.
Quando a campainha toca, sinto minha pulsação acelerar. Era oficial, Vincenzo está aqui, em sua nova casa com a sua nova família.
Solto a mão de Marie e dou dois passos a frente, abrindo a porta.
Vincenzo está no colo da mesma mulher que havia vindo inspecionar o apartamento há alguns dias. Ele estava com um conjunto todo preto e tênis brancos, em suas costas havia uma pequena mochila infantil no formato do Relâmpago Mcqueen, o que me fez sorrir ainda mais.
Assim que o garotinho me viu, ele abriu um sorriso enorme, fazendo com que os buraquinhos em suas bochechas aparecessem e praticamente se jogou dos braços da mulher japonesa, para os meus.
— SHAL! — Ele grita quando eu entro no apartamento o jogando para cima e o pegando rapidamente logo em seguida. Sua risada infantil preenche o ambiente e é nesse momento que percebo como o silêncio que habitava aqui era incomodo e frio.
A partir de hoje aquele apartamento terá vida e todas as lembranças amargas irão embora pela janela, para que momentos alegres possam ser criados aqui.
— Seja bem-vindo a sua nova casa, campeão! — Digo e ele me abraça com força.
Como é possível ter se passado apenas alguns dias desde a última vez que o vi e eu ter sentido tanta saudade?
De canto de olho posso ver Marie nos observando com um sorriso grande e olhos cheios de lágrimas. Faço um sinal para que ela se aproxime e ela vem o mais rápido possível.
Marie cutuca a barriguinha de Vincenzo, fazendo-o rir e chamando sua atenção. Quando ele percebe quem o cutucou lo seu sorriso se alarga ainda mais.
— PRINCESA! — Ele grita nos fazendo rir, e isso inclui a Assistente também.
— Seja Bem-vindo, meu amor! — Ela diz beijando a testa dele que franze as sobrancelhas quando percebe que um pouco de gloss ficou marcado em sua testa, ele passa a mãozinha tentando tirar o líquido pegajoso.
— Eca! — Ele diz e Marie ri pedindo desculpas. — Você está perdoada, porquê é uma princesa.
— Okay, que tal eu apresentar a casa para você, hein? Você quer ver o seu quarto!? — Pergunto empolgado e Vincenzo acena rapidamente com a cabeça.
— SIM! Quero ver meu quarto de menino grande, por favor, Shal! — Ele pula em meu colo e eu reforço o aperto para que ele não caia.
— Okay, então vamos lá! — Ando com ele em direção ao corredor, onde ficam os quartos. Atrás de mim, Marie e a Assistente Social nos segue.
Sinto um pequeno nervosismo quando chego a porta branca com o nome de Vincenzo gravado. E se ele não gostar? E se eu exagerei? E se algum brinquedo não for adequado para a idade dele? Meu deus! Se eu fiz algo errado e a Assistente Social o levar embora correndo daqui?
-Shal? — A voz de Vincenzo traz de volta a minha atenção. — Vamos entrar logo, por favor! — Ele bate palmas empolgado.
— Claro, Campeão! Desculpe! — Eu giro a maçaneta da porta e a abro.
Os olhos de Vincenzo se arregalam quando olha para o pequeno mundo feito apenas para ele.
Bem-vindo à sua nova vida, meu garoto.
#charles leclerc x leitor#charles leclerc x reader#pierre gasly#carlos sainz fanfic#charles leclerc smut#charles leclerc x black!reader#charles leclerc x reader angst#f1 smut#f1 x y/n#carlos sainz x reader
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Resenha: The Kiss of Deception, de Mary E. Pearson
Livro: The Kiss Of Deception Série: #1 - Crônicas de Amor & Ódio Autora: Mary E. Pearson Gênero: Fantasia Ano de Publicação: 2016 Editora: Darkside Páginas: 384 Classificação: +14
Finalmente um enredo com um plot-twist para me fazer voltar a viver!!!!!!
Essa leitura foi uma mistura de emoções, mas no final foram emoções mais boas do que ruins.
A história começa no dia em que a Princesa Arabella de Morrighan será entregue em casamento a um reino vizinho. Um casamento arranjado onde ela nem mesmo viu o rosto de seu futuro marido uma vez sequer.
O fim de seus sonhos.
Ou talvez o começo de um que ela não se permitiu sonhar até estar naquela situação.
Minutos antes de ser levada para Dalbreck, Lia e sua dama de companhia, Pauline, fogem para um vilarejo distante a fim de começar uma vida.
Quando a notícia da fuga de Lia se espalha, o reino de Morrighan começa a ficar relativamente vulnerável e enquanto a princesa se aventura na sua nova rotina de atendente de uma taverna, duas figuras estão seguindo o seu rastro: um deles é um príncipe, o outro é um assassino.
Ambos com grandes chances de roubar o coração de nossa heroína (de um jeito ou de outro rs)
E assim se desenvolve uma trama de mentiras, traição, identidades falsas e, claro, amor!
Não vou falar muito mais porque, como peguei para ler esse livro no escuro e a experiência foi muito legal, para mim tudo pode ser spoiler que podem literalmente estragar a leitura kkkk.
A narração é dividida entre os pontos de vista de Lia, Rafe, Kaden e tem um ponto de vista da Pauline. No fim de alguns capítulos também tem passagens dos Os Últimos Testamentos de Gaudrel, que muito provavelmente vai ter um papel importante nos próximos volumes.
"The Kiss of Deception" tem um universo muito bem construído por Pearson e uma organização muito bonita, tanto no quesito geográfico como no religioso dos Deuses e da própria história da princesa Morrighan que dá nome ao reino de Lia e que é mencionada várias vezes no livro.
Confesso que no começo, depois da fuga de Lia, a história fica um tanto parada e só dá uma agitada lá pela metade, mas não deixa de ser uma história bem legal. P.S: Fui surpreendida mais de uma vez (os surtos). É bom avisar que o livro aborda temas como triângulo amoroso (para quem não gosta k), descreve uma tentativa de abuso e tem descrições gráficas de morte. No mais, estou curiosa para saber o desenrolar dos próximos livros porque, olha, esse final foi de matar qualquer um. Recomendo, mas aviso que tem que ter um pouquinho de paciência para ver o plot se desenvolver...
NOTA: 🌟🌟🌟🌟 - 4/5
*resenha escrita e publicada originalmente no instagram em 2022*
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☠︎︎ starter with @zmarylou e @apavorantes
¸ BAILE: salão do pavilhão.
⭑🕯️ʿ a última missão foi bem melhor que sua penúltima, podia ter resultado em alguns desastres como mary perdendo a perna e ele se machucando ao ponto de ficar dias desacordado na enfermaria, mas o lado bom é que além de terem tido sucesso, também conseguiram tirar uma boa amizade daquela situação. sasha estava agora sempre animado para passar um tempo com mary e bishop, a união dos três era tão surreal e incomum mas agora já parecia tão forte que o semideus nem piscou em confabular com a filha de fobos sobre fazer a inscrição da filha de zeus na realeza do baile. o sorriso malicioso no rosto do semideus já indicava a diversão quando ambos se aproximaram de mary. “ ━━━ olha só quem está aqui, bishop. se não é a… próxima a ser declarada realeza do baile.” já chegou dando a cartada, a voz soando astuta. “ ━━━ você vai ter que tirar uma foto com os seus súditos quando ganhar essa coroa, mary.”
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Espero um dia encontrar alguém que queira me comprar flores, comida e livros.
Título: A Razão do Amor Autora: Ali Hazelwood Classificação: +18 Avaliação: ★★★★★
Lançado em 2022 poucos meses após seu antecessor, A Razão Amor é mais um dos romances da escritora e neurocientista Ali Hazelwood. Outra obra que rapidamente viralizou nas redes sociais e conquistou centenas de leitores. Acho notável a forma como a autora escreve livros que não são necessariamente sequências, mas parecem se complementar de uma forma única. Após ter lido A Hipótese do Amor, A Razão do Amor, Sob o Mesmo Teto e Presa com Você, posso afirmar com todas as letras que a escrita da autora me encanta e que eu leria até mesmo sua tese de doutorado.
Aqui conhecemos Bee Königswasser, uma doutora em neurociência (que coincidência) cuja carreira parece estar estagnada até que surge um processo seletivo para co-liderar um projeto da Nasa. Pensando em seu futuro e guiada pela vida de sua heroína Marie Curie, Bee decide se inscrever para o projeto e consegue a tão sonhada vaga. Só tem um probleminha… quem vai liderar o projeto junto com ela é Levi Ward. Levi é alto, bonito e tem olhos verdes capazes de encantar qualquer um.
Ele parece estar sempre lá quando ela precisa dele, mas pelo que Bee se lembra de quando estudaram juntos, ele não era exatamente seu fã número um. Bee os considera rivais declarados, mas aparentemente Levi não vê as coisas da mesma forma. Com a convivência forçada, eles percebem que possuem exatamente os mesmos gostos e interesses, o que os intriga e os aproxima. Quando o projeto começa a caminhar e cada vez mais problemas surgem, Bee encontra em Levi um ombro amigo e alguém que a apoia em suas decisões, os sentimentos entre eles parecem mudar rapidamente, mas Bee não parece disposta a abrir seu coração, o que será que a mãe da física moderna Marie Curie faria em seu lugar?
Entre gatos, desmaios e tweets, A Razão do Amor se mostra mais um romance fora da caixa, divertido e gostoso de ler. Admiro como Ali Hazelwood consegue consegue conectar absolutamente tudo na história, pequenos detalhes, tramas familiares, relacionamentos de personagens secundários, tudo é desenvolvido mas sem deixar a trama principal de lado. A forma como ela pode escrever personagens masculinos que parecem os príncipes que vemos nos filmes e ao mesmo tempo escrever personagens detestáveis que nos fazem querer entrar no livro apenas para estrangulá-los é algo que torna a história ainda mais envolvente.
Outro ponto que não fica de fora é como a autora consegue trazer debates relevantes dentro de uma comédia romântica. Os momentos que retratavam a realidade das mulheres nas áreas de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) me pegaram de jeito, sou uma mulher na área de tecnologia e em diversos momentos me identifiquei com muitas das situações de machismo e assédio em que as personagens femininas eram colocadas. Tudo nesse livro fez sentido e foi bem conduzido. Embora, imagino que momento da grande reviravolta final possa ser um pouco exagerada para alguns, mas ainda assim isso não me incomodou, um momento frenético antes da calmaria que o casal precisava para poder seguir em frente.
É comum atualmente ler nas redes sociais que a autora só escreve os mesmos livros alterando os personagens e poucas coisas no enredo, mas eu discordo dessa fala. Acredito que Ali Hazelwood descobriu uma fórmula de comédia romântica que funciona e a está utilizando da melhor forma possível criando histórias incríveis com as quais facilmente nos identificamos e qual é o problema nisso?!
Fora que é curioso o fato de apontarem o sucesso da autora dessa forma quando temos inúmeros outros escritores que sempre utilizaram desse artifício e até hoje mantém suas vendas no topo, Nicholas Sparks faz isso, Agatha Christie fazia isso, Tolkien… Você pode não gostar da escrita, das histórias, dos personagens, mas o sucesso de Ali Hazelwood é inegável, a autora veio para ficar. Cinco estrelas não são suficientes para demonstrar o quanto eu amei esse livro.
Resenha por: Martha Cristina IG: @eu.e.meus.livros
#resenha#livro#dicadeleitura#dica de livro#leitura#literatura#a razão do amor#ali hazelwood#levi ward#romance#livro de romance#love on the brain
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Chegando com pedido inusitado, mas acho que vcs conseguem me ajudar. Quero fazer um perso da nobreza, mas queria me basear em gente que já existiu, figuras históricas, mas não sei quais são legais, de verdade, podem me ajudar? Dando apenas o nome posso buscar no google, mas é que sou péssima em história e nunca sei quem é legal
O quanto eu amei essa ask não está escrito!! Pompurin, você veio ao lugar certo, porque eu sou o maior dump de história de realeza (ao menos, que eu conheço). Ser legal já tira todo mundo da lista, porque ninguém foi legal, eles podiam ter ações nobres e sociais, mas era por algum interesse mascarado... Nobreza nunca foi simpática, mas as histórias são magnificas. Vou separar alguns nomes para ti. [ meio edit, acho que vai ficar muito extenso, então depois da Rainha Elizabeth II, não coloquei descrições, apenas em alguns específicos. ]
Lady Di, nossa amada Princesa Diana da Inglaterra (1961-1997). Minha amada mais injustiçada, sou a maior apaixonada por tudo que a envolve (já assisti todos os documentários) e ela é um exemplo perfeito de monarca que foi contra as regras da Coroa Britânica.
Kate Middleton (1982). Atual princesa de Gales e esposa do Príncipe William da Inglaterra, além de se mostrar uma mãe exemplar (com semelhanças com sua sogra), também é um exemplo de monarca, porque ela é muito simpática com as pessoas.
Maria Leopoldina da Áustria (1797-1826). Esposa de Dom Pedro I de Portugal-Brasil. Muito importante em muitos momentos do Brasil Império.
Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicília (1822-1889). Imperatriz do Brasil e esposa de Dom Pedro II. Teve uma novela da Globo que mostrou muito dela, uma mãe amorosa e que cuidava de seu império, mas que teve momentos conturbados com o marido lixo.
Pedro II do Brasil (1825-1891). Último imperador do Brasil. Tenho muitos sentimentos controversos sobre o Pedro, todos envolvendo sua gestão e a mulher dele, mas a história dele vai muito além do que aprendemos na escola.
Cleópatra VII Filopator (69 a.C - 30 a.C). Falar da Cleópatra é muito !!!, ela foi uma das poucas mulheres que governaram o Egito (se não a única) e tem muita história, claro que existem as problemáticas, mas ela sempre foi estrategista e sedutora. Até hoje, seu sarcófago não foi localizado, o que indica que tem muito que não sabemos sobre.
Rainha Elizabeth II (1926-2022). Famosa "Betinha" para os brasileiros, tem muito sobre ela que dá raiva, mas ela teve muitos momentos bons na vida e claro, viveu bastante.
Rainha Vitória (1819-1901). Subiu ao trono com apenas 18 anos e tem a chamada Era Vitoriana.
Ana Bolena (1501-1533). Bela e decapitada por mando do marido, responsável pelo corte da relação Igreja X Inglaterra. Aconselho procurar o musical The Six, porque mostra todas as seis esposas do Henrique e como elas são interessantes.
Ricardo I (1157-1199). Ricardo Coração de Leão, tem uma história legal.
Henrique VIII (1491-1547). Um homem que não presta, teve várias esposas e muitas coisas rolaram no mandato dele. Aconselho ver The Tudors.
Catarina de Médici (1519-1589)
Maria Antonieta (1755-1793). Essa mulher... Vivia de luxúria e a frase dos brioches vem dela.
Luís XIV (1638-1715). Rei Sol.
Nefertiti (1370 a. C.-1330 a. C. - estimada). Descrita como a mais bela do mundo.
Mary Stuart (1542-1587)
Catarina II da Rússia (1729-1726). Nunca deixarei a Catarina, a Grande de fora. Outra rainha que admiro demais, apesar dos erros cometidos, ela foi muito sagaz e inteligente em dar um golpe no próprio marido e assumir o trono de Todas as Rússias, mesmo enfrentando grandes problemas. Existem muitos conteúdos sobre ela, mas se quiser rir, aconselho ver a série The Great.
Pedro III da Rússia (1728-1762). Teve um mandato curto porque foi deposto (sofreu O golpe da Catarina), vivia embriagado... Como ele é mostrado em The Great é um pouco demais, talvez, mas tá ali.
Rei George III do Reino Unido (1738-1820). Aquele rei lá de Queen Charlotte, ele tinha uma doença chamada porfiria, mas na época... Bem, só o chamaram de louco mesmo (aquela época era terrível).
Sophie Charlotte de Mecklemburgo-Strelitz (1744-1818). Assim como muitas figuras históricas, ela foi embranquecida, mas Charlotte era filha de portugueses e africanos, mas nasceu na Alemanha e talvez esse seja o motivo... Mas ela foi uma ótima rainha.
São alguns nomes, aqueles que lembrei para pesquisar, mas se pesquisar sobre os monarcas da Europa, com toda a certeza, vai encontrar uma infinidade! Podia falar outros, mas a Joy disse que ia ficar muita informação e ela está certa, acho que se pesquisar por esses já vai encontrar novos nomes que podem ajudar.
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mari diva
cast lsdln ouvindo a loba cantando músicas brasileiras (mpb, funk, qualquer gênero) e suas reações
tá nas suas mãos 🙌🏽
omg hiiii não sei se tenho muito a desenvolver sobre o tópico (já hablei bastante sobre a relação elenco + música brasileira aqui) mas de um modo geral:
acho que o enzo, o pipe, o rafa e o santi iam sempre adorar saber QUEM é o artista que tá tocando, mesmo que depois eles não vão atrás - mas se eles se interessarem e for de algum gênero que eles já gostam eles vão sim e colocam nas playlists deles (principalmente o santi! acho que por já falar português ele gostaria e memorizaria as músicas com mais facilidade, mantendo uma playlistzinha de músicas br com vc <3)
o pardella, o kuku, o fer e o della corte curtem tudo que você coloca (o pardella principalmente, ele ama tudo) mas sinto que eles nunca vão atrás de ouvir artista nenhum no próprio tempo livre deles KKKKKKKKK eles ouvem o que tá tocando ali com vc, amam e depois voltam pras músicas de lei deles. o pardella aprende a cantar váriasss de cor com vc e o kuku só balbucia mesmo mas ele acompanha!
o matías acho que seria um meio termo entre os dois: ele curte tudo que vc coloca mas só vai atrás de ouvir depois o que ele acaba curtindo mais. decora absolutamente todos os raps e funks que ele gosta
o fran, o simón e o jerónimo iam AMAR tudo que você coloca PRINCIPALMENTE se for música animada ou com alguma emoção que eles possam fazer uma performance. juro, vão incorporar o artista ali tudinho enquanto desenrolam num portunhol assombroso 🫶🏼
e de um modo geral, sinceramente, acho que todos eles iam amar te ver/ouvir cantando em português, tipo não tem muito segredo não, iam ficar encantados mesmo. enzo, pipe, rafa, santi, kuku e fer iam se derreter com as letras mais românticas; pardella, della, fran e jerónimo iam absolutamente se encantar pelas mais engraçadas e alto-astral; e matías e simón iam perder toda a linha e mais um pouco com as mais safadas 👁️👁️
#la sociedad de la nieve#lsdln#lsdln cast#lsdln x reader#enzo vogrincic#agustin pardella#matias recalt#esteban kukuriczka#fran romero#fernando contigiani#felipe otaño#simon hempe#santi vaca narvaja#jeronimo bosia#agustin della corte#rafael federman#agustín pardella#matías recalt#francisco romero#pipe otaño#simón hempe#santiago vaca narvaja#jerónimo bosia#agustín della corte#rafa federman#anon#asks#mari.doc
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Críticas — Quem Vai Ficar com Mary? (1998), Rain Man (1988), Dafne (2019)
3 de dezembro: Dia Internacional da Pessoa com Deficiência A comédia mais politicamente incorreta da história e com mais diversidade do cinema também foi considerada uma das melhores de todos os tempos. Quem Vai Ficar com Mary? (1998), disponível no Star Plus, ficou em 27.º lugar na lista dos 100 filmes mais engraçados do século XX, de acordo com o American Film Institute, e na lista dos “1001…
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#3 de dezembro#9.000 livros#afrodescendente#American Film Institute#Ben Stiller#Cameron Diaz#Debi & Lóide#Dia Internacional da Pessoa com Deficiência#diversidade#Dustin Hoffman#espasticidade muscular#Green Book#homossexuais#Keith David#Kim Peek#Markie Post#materialista#Matt Dillon#Melhor Filme#muletante#narcisista#Oscar de Melhor Ator#Oscar de Melhor Filme#Peter Farrelly#politicamente incorreta#Rain Man#Road Movie#Síndrome de Savant#Star Plus#Steven Schneider
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“💓” + iris & mj
SEND ME “💓” + SHIP SO I CAN DESCRIBE WHAT IT WAS LIKE WHEN MY CHARACTER FOUND OUT SHE WAS IN LOVE.
esperança é um sentimento bonito, especialmente quando você passa tanto tempo estagnada em um estado de falsa resiliência. mary jane, com seu nome oculto, os ombros cansados, um sorriso radiante e cheia de segredos, tinha uma opinião fixa sobre a vida e o amor. ele existia, é claro, mas não alcança os vagabundos como ela, sempre se locomovendo rápido demais como quem estava fugindo do próprio tempo. e vai ver ela estava mesmo, já que todas as vezes que seu coração sentiu paz e começou a criar raízes, foi abatida pela forma como jamais estava livre do seu passado. para ela, o amor era, acima de tudo, uma lembrança. estava nos amigos que deixou espalhados pelo mundo, onde foi deixando partes suas, para que os tivesse tanto quanto eles a tinham e, ainda assim, era incapaz de ficar. sempre fugindo, sempre. vai ver é por isso que não conseguia esperar um daqueles amores avassaladores finalmente lhe puxarem pelo braço, afinal, sua vida toda havia sido correr. acontece que o amor não é só terno, doce e paciente. ele é resistente, teimoso. tem truques.
chegou manso, com sorrisos despretensiosos, abraços longos e convites desajeitados. ela nem percebeu que foi amansada. primeiro dominou seu corpo, e residiu em muitos lugares, especialmente nas mãos: elas tocavam o cabelo, as bochechas, a cintura. os dedos tinham curiosidade, iam mais longe, e sempre acabavam por baixo das roupas, no meio das pernas. depois, subiu até o pescoço, se apossou da garganta, criou um nó, uma insegurança e uma vontade fixa de falar algo que não sabia formular o que era, mas estava sempre na ponta da língua. chegou nos olhos, e aí nos ouvidos, terminou na cabeça. foi onde as memórias começaram a se tornar mais queridas, afáveis e preciosas, a voz soava como um encantamento, toda vez que a ouvia. e o coração, esse tempo todo, ia se acostumando com batidas descompassadas, e em se contradizer em agonia e riso. foi assim que o amor a pegou por completo; não chegou com pressa, demanda ou sacrifício, não competiu. veio terno, instigante, expressivo e bonito… como uma dança. foi vendo Ela dançar. foi querendo dançar junto. estar apaixonada por iris foi se livrar daquela imitação barata de positividade que sempre mostrou pro mundo e começar a nutrir uma verdadeira. sem começar pelas raízes fortes e imponentes. foi um cultivo pequeno e orgânico, charmoso, natural. mary jane finalmente começou a acreditar que era tão gentil e tão digna quanto seus amigos falavam. que fez por merecer. foi quando ela percebeu que, se alguém te faz pensar em tantas coisas bonitas só com uma dança, e te faz se sentir como você mesma, e acreditar em si mesma, que isso só pode ser amor.
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Romeu e Julieta do futuro, sem 'Shakespeare'
Eu descobri esse filme Indie na Amazon Prime. Jim Sturgess não é um ator de fazer papéis muito marcantes, porém, quem assistiu Um Dia não vai esquecê-lo. Não tive coragem de terminar de ler o livro, mas, essa é outra história.
Kirsten Dunst, nossa eterna Mary-Jane, co-estrela esse filme ao lado dele. A idéia da ficção é muito boa. Às vezes vai ter sensação de estranheza enquanto assiste, eu tive uma reação dessas assistindo A Origem e Interestelar. Contudo, a crítica a Mundos Opostos não foi tão boa quanto desses últimos citados. Talvez se tivesse aquele toque dramático do Shakespeare, o filme agradasse a crítica, assim como em Um Dia. De qualquer forma, me agradou! Eu curto filmes nesse estilo que podem ser acompanhados de uma boa e tranquila música Indie de Sigur Rós. Quem quiser acompanhar a aventura de um rapaz que vive num mundo paralelo ao da sua amada e está disposto a lutar contra a 'gravidade' para ficar com ela, assista!
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COME TO ME 𝒜𝓃𝑔𝑒𝓁 𝑜𝒻 𝑀𝓊𝓈𝒾𝒸
Manipulação Sônica: Como musicista, Maryland pode controlar ondas sonoras para criar efeitos específicos — desde tranquilizar pessoas até causar desorientação com sons inaudíveis. Esse poder é instintivo, surgindo com a música que ela toca ou com a própria voz.
Você me acalma, Mary!
Ouvir você tocar é uma terapia.
Não sei, menina, mas é só você começar para eu me animar!
Apenas algumas frases que acompanharam (e ainda acompanha!) a musicista. Rendendo quantas incríveis de elogios, gorjetas e admirações. Não é muito bem entendido de onde vem esse dom, o porquê dela ser uma humana dotada, mas a habilidade sempre a acompanhou desde muito cedo. O amor pelos instrumentos, a facilidade de aprendê-los. Para nós, espectadores, podemos chegar a algumas conclusões:
Uma desgraça tão grande quanto nascer para sucumbir pela condição sanguínea. Convenhamos, é um bom motivo!
O pacto angelical ou o pacto demoníaco ou os dois. Vai saber qual deles foi o ganhador da loteria. Salvar a vida dela deu propósito? É um dom para ser usado para o mal? Não sabemos.
Boatos da herança féerica? Ah, essas vocês não sabiam. Mas é um spoiler, porque ela vai investigar o passado e tropeçar nessa informação.
Tem mais, mas não me estenderei. A verdade é que Maryland ouvia isso em alguns momentos, mas foi só agora que a coisa tomou proporções perceptíveis. Leia-se, a ingênua Juma enxergou que tinha realmente um dom, não só fruto do esforço (quase sacrifício) aos treinos. Depois que se separou da família e o feitiço do amuleto não mais renovado, esse dom perdeu suas 'amarras'. Esconder-se novamente? Nunca mais.
Uma canção, as cordas do violino, o violoncelo entre as pernas ou o vibrar da harpa. Cordas ou voz, suas preferidas opções, espalhando o bálsamo para quem estivesse perto. Às vezes até num abraço, com sua garganta vibrando numa melodia sem palavras, aninhando-o e transmitindo toda sua empatia.
Bom, a verdade é que esse dom veio para ficar, e crescer a cada santo (ou maldito) dia.
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Uma Família de Três (C.L 16) - Parte.I Descobertas, reencontros e surpresas
Paring: Charles Leclerc X Marie Anderson (personagem original)
⚠️ Avisos: Menção a morte e assassinato, palavrões, Charles sendo um pouco agressivo na forma de reagir, menção a sexo e uso de drogas. (Este capítulo pode conter gatilhos!) (+16)
15 de Janeiro de 2023- Milão, Itália
-Buongiorno , Marcella!- Cumprimento a minha secretária a adentrar o escritório. - Alguma novidade para mim? - Pergunto à garota loira, que está sentada com os olhos enfiados no computador a sua frente.
-Buongiorno, Marie! E… HÁ! CONSEGUI! - Marcella pula de repente, me assustando. - Desculpe! É que eu consegui agendar a reunião com Fred Lacroix para a próxima semana. - Ela diz tentando se recompor e eu sorrio.
-Que ótimo! Você é dez. - Digo encostando ao lado dela na mesa e dando uma bisbilhotada em seu computador. - Você acha que ele estará em um bom humor? Ele não é a pessoa mais conhecida por ser agradável quando o assunto é venda e compra de suas artes. - Digo e Marcella apenas da de ombro.
-Não sei e sinceramente eu não me preocupo com isso. - Ela diz e posso ver um sorriso presunçoso estampar ‘em seu rosto. - Seja como for, nós somos fodas! A gente sempre consegue o que quer. - Ela termina e eu dou risada pelo seu entusiasmo.
Eu concordo com Marcella. Nós somos fodas e sempre conseguimos o que queremos quando o assunto é trabalho.
Após a morte de Jules, me mudei de Mônaco para a Itália. Eu sentia que precisava deixar aquilo tudo para trás, mesmo que para isso fosse necessário eu enterrar parte de quem eu era com o meu passado. Eu precisava recomeçar e fechei os olhos para a minha antiga vida. Eu não tinha mais nada em Mônaco. Nada que me segurasse, ou que ao menos valesse a pena ficar.
Eu precisava de tempo e de uma nova vida, e foi exatamente o que eu encontrei quando vim para a Itália, onde eu consegui me matricular em artes a tempo de continuar o ano letivo. E um ano e meio depois, estava formada e estagiando em uma das melhores galerias que existe em Milão. Pouco tempo depois disso, acabei percebendo que eu tinha muito potencial para a curadoria e acabei me dedicando a área, cuja qual hoje eu ainda faço parte, com a maior taxa de sucesso em recrutamento e vendas para novos artistas.
Hoje posso dizer que a minha vida está mais do que confortável e eu passo tanto tempo do meu dia ocupada com o trabalho, que mal tenho tempo de pensar em tudo que eu deixei para trás há alguns anos.
-AH! - Marcella grita e me pega de surpresa, me fazendo dar alguns passos para trás.
-Meu deus, Marcella! Você ainda vai me matar, garota! - Digo e coloco a mão no peito, sentindo o meu coração pular feito louco.
-Desculpa! É que eu acabo de me lembrar que você recebeu uma carta hoje pela manhã. - Ela diz e eu posso jurar que a minha confusão estampou meu resto. - Quer dizer, você não recebeu, recebeu, tá mais para “passaram o envelope por baixo da porta, enquanto estávamos fechados e eu pisei em cima quando eu cheguei”.- Ela diz e tira um envelope branco, amassado e com marca de uma meia pegada nele. - Eu tentei dar uma limpadinha, mas como você pode ver, não deu muito certo. Sério, alguém deveria limpar mais as ruas de Milão. - Ela diz e me entrega o envelope.
Dou uma analisada pelo envelope afim de achar o remetente, mas encontro apenas “Marie Anderson” escrito em uma caligrafia delicada.
-Não tem remetente. Que estranho. - Digo e Marcella assente.
-Também achei meio sinistro. Quer dizer, quem ainda manda cartas? Em pleno 2023, não era mais fácil mandar mensagem pelo insta? Ou sei lá, um email? - Eu concordo com a cabeça e dou de ombros.
-Bom, que assim seja. - Digo e vou andando em direção a minha sala. - Por favor, hoje pretendo tirar alguns dos atrasos que o fim do ano nos deixou. Caso alguém queira falar comigo, avise para deixar recado. E isso incluí minha mãe, okay? - Digo e Marcella assente.- Ótimo, obrigada. - Digo entrando na minha sala e fechando a porta logo em seguida.
Jogo minha bolsa em cima da mesa e me sento na cadeira. Analiso mais uma vez o envelope na minha mão e por um momento sinto uma sensação estranha enquanto o encaro.
-Tá, vamos acabar com o suspense, Marie.- Digo e pego um extrator de grampos no porta lápis, passando pela parte colada do envelope.
Abrindo o envelope eu tiro uma folha gravada com a mesma caligrafia que estava no envelope e duas fotos de um garotinho com cabelos e olhos escuros, que eu posso jurar que nunca vi na vida, mas que de certa forma me parece muito familiar . Viro a foto afim de ver se há algo escrito atrás.
“Vincenzo. 24/12/2021”
Era o que dizia em uma das fotos. Nela o garotinho estava sentado próximo ao que parecia ser uma árvore de Natal.
Dou uma olhada atrás da outra fotografia, onde o mesmo menino, aparentemente um pouco mais velho, estava sentado em um tapete cercado de brinquedos.
“Vincenzo. 19/12/2022.”
Me sentindo ainda mais confusa e com a sensação estranha se alastrando pelo peito, pego a carta que eu tinha deixado de lado em cima da mesa e começo a lê-la.
França, 02 de Janeiro de 2023.
Marie,
Eu nem sei dizer quantas vezes eu pensei em como escreveria para você. Você obviamente não me conhece, para ser sincera acho que ninguém do círculo de amigos e familiares dele, sequer ouviram falar sobre mim.
Eu sou Cecilia e é o que você precisa saber sobre mim agora, além é claro, do que estou prestes a escrever para você a seguir: Eu era noiva de Jules Bianchi.
Sei que isso é estranho e talvez até mesmo inacreditável, mas é verdade. Eu e Jules tivemos uma curta, mas apaixonante história de amor. Eu amei Jules e posso afirmar que ele me amou também.
Dois dias antes da morte dele, eu descobri que estava grávida. Dei a luz a Vincenzo no dia 24 de Dezembro de 2019. Um garotinho saudável e forte, muito parecido com Jules.
Eu o amei desde o momento em que soube que ele crescia dentro de mim. Fruto de algo tão puro e lindo, do meu relacionamento com Jules.
Sei que é muito para você raciocinar agora, mas para que você possa saber que estou te falando a verdade, há duas fotos de Vincenzo. Quero que olhe para elas e veja Jules, assim como eu vejo toda vez que olho para o meu filho.
Passei muito tempo querendo escrever para você. Jules à tinha como uma irmã. Lamento ter escondido isso de você e da família dele também, mas eu tive tanto medo. Medo da rejeição, de ser vista como uma mentirosa. Eu não poderia passar por nada disso. Eu só tinha Jules e depois que ele me deixou, não havia mais em quem eu pudesse confiar, então criei Vincenzo sozinha até agora, mas não acho mais que eu posso fazer isso. Vincenzo tem uma família além de mim. E eu preciso que ele cresça sabendo que é amado.
Prometo que irei lhe explicar tudo o que você precisa saber. Por favor, me encontre na cafeteria onde vocês costumavam se encontrar sempre que vinham juntos para Nice. Dia 18 de Janeiro às 16h.
Cecilia.
Minhas mãos tremem quando eu jogo a carta de volta em cima da mesa.
Mas que porra é essa? Isso é algum tipo de brincadeira doentia?
Pego as duas fotos nas mãos novamente e as encaro, percebendo agora o porquê de eu achar aquele menino tão familiar. Era Jules. Aquele garoto é a cópia de Jules.
Mas como isso é possível? Por que Jules nunca nos contou que tinha alguém? Isso não era do feitio dele. Jules sempre foi um livro aberto para nós. Sempre nos contou sobre tudo, assim como nós à ele. Ele não esconderia isso da gente….certo?
Com a cabeça cheia de dúvidas e o coração ainda mais pesado do que nunca, me vi gritando o nome de Marcella e em menos de um minuto, suas madeixas curtas apareceram pelo vão da porta.
-Sim?- Ela pergunta antes de me encarar por um momento e entrar totalmente na minha sala com uma expressão preocupada. - Você está bem, Marie? - Ela diz se ajoelhando ao meu lado.
-Reserve um voo para amanhã de manhã. Preciso ir para França.
🇫🇷
18 de Janeiro de 2023. - Nice, França.
Encaro novamente o relógio pendurado na parede, acima do balcão da pequena cafeteria. 15h45.
15 minutos. Apenas 15 minutos para que eu pudesse descobrir quem era a Cecilia e o porquê dela resolver entrar em contato comigo agora, depois de tanto tempo. E por que comigo? Sim eu, Jules e Charles sempre fomos muito próximos, apesar da diferença de idade. Mas por que entrar em contato justo comigo? Se o intuito dela era apresentar o garoto a família de Jules, por que ela não entrou em contato com Christine ou Phillipe?
Eu não via a família de Jules há muito tempo, nem ao menos trocávamos mensagens. Eu os deixei para trás quando decidi seguir em frente na Itália. Eles foram enterrados junto com meu passado em Mônaco.
O sino em cima da porta de entrada toca, indicando que alguém entrou no recinto. Minha cabeça dispara rapidamente em direção ao som.
E é como se em um minuto, tudo que eu lutei tanto para esquecer e deixar para trás, voltasse com força e sem controle como ondas de um tsunami.
Em pé, a poucos metros de onde estou sentada, meu olhar se cruza com Charles.
Charles. Meu ex namorado que não vejo há quase quatro anos. A parte que mais dói do meu passado, além da morte de Jules.
Ele está diferente. Tão diferente desde a última vez que eu o vi no funeral de Jules. Desta vez ele não está trajando o preto do luto, não. Ele está com roupas casuais, jeans escuro e um moletom verde musgo, com a palavra “FERRARI” estampada em preto. Em seu rosto há uma barba por fazer e seus olhos… porra. Os olhos que da última vez refletiam tanta desesperança, agora estavam mais vividos, porém com certos traços de preocupação.
Charles caminha até onde estou sentada, seus passos rápidos e largos como se quisesse me encurralar antes que eu fugisse novamente. Ele para a meio metro de distância, e seu olhar caminha por mim curiosamente. A sua feição é dura mas também coberta de duvidas. Aposto que assim como eu, ele quer entender o porquê de eu estar aqui.
-Charles…- Sou a primeira a dizer. A voz baixa e incerta. Ele assente devagar. Seu olhar ainda me encarando como se quisesse descobrir todos os segredos que eu obtive durante esses anos em que estivemos longe um do outro.
-O que você está fazendo aqui, Marie? - Ele pergunta. Direto, sem rodeios e com determinação. Um tom em que eu jamais esperaria ouvir do Charles que deixei há quatro anos. É, ele realmente mudou.
Eu queria poder responder a ele com a mesma intensidade, mas sinceramente, não acho que eu poderia. Há muita coisa acontecendo aqui e minha cabeça gira com tantas perguntas e emoções. Por que Charles está aqui? Que porra é essa? Foi ele quem armou tudo isso?
-Isso é algum tipo de brincadeira? Porque se for, eu juro por Deus que não tem graça nenhuma.- Ele diz, seu tom agora áspero.
Eu fico sentada olhando para ele. Totalmente confusa.
Charles passa a mão pelo cabelo, bagunçando ainda mais suas madeixas castanhas. Ele suspira fortemente e fecha os olhos, sua língua passa por seu lábio inferior rapidamente. Ele costumava fazer isso sempre quando sentia raiva ou frustração. Pelo menos isso não mudou.
-O que você está fazendo aqui, Charles?- Pergunto e ele abre os olhos, voltando a me encarar.
A mão de Charles vai até o bolso traseiro e volta com um envelope idêntico ao que foi deixado para mim no escritório na Itália. A diferença é que eu podia ver que esse foi endereçado a Charles, apenas o nome dele, também sem remetente.
-Me diz por favor, que não foi você, Marie. - Meus olhos passam do envelope para o rosto de Charles. Meu olhar demonstrando toda a sinceridade que eu podia quando o respondi:
-Não, não fui eu. - Ele assente com a cabeça, sua expressão se suavizando um pouco. Ele se move e se senta na cadeira vaga a minha frente. Suas mãos vão até o rosto e esfregam.
-Jules tem um filho. - Ele diz.
-Eu sei.- Respondo.
Charles abaixa as mãos e me encara novamente. Dessa vez a expressão de confusão. Antes que ele abra a boca para dizer qualquer outra coisa, eu pego minha bolsa em cima da mesa, abro e retiro o envelope branco de dentro dela. Charles encara a minha mão por um tempo, antes de estender o braço por cima da mesa e pegar o envelope da minha mão.
-Você também recebeu. - Ele diz e mesmo não sendo uma pergunta e ele não olhando para mim, eu faço que sim com a cabeça.
-Parece que ela marcou com nós dois. Creio que seja mais fácil contar a história ao mesmo tempo. Assim não há riscos de errar a versão. - Digo e o olhar dele passa dos envelopes em cima da mesa para mim.
-Você acha que é mentira? Que o garoto não é filho de Jules?- Ele pergunta sério e eu apenas dou de ombros.
-Eu acredito que possa ser de Jules. Só não sei o motivo pelo qual ela demorou todo esse tempo e porque escolheu a gente. Obviamente não somos as pessoas mais indicadas para mostrar a Vincenzo que ele tem uma família por parte de pai. - Digo e vejo o maxilar de Charles tencionar.
-Nós éramos amigos de Jules. Ele confiava em nós. - Ele diz, mais uma vez sua voz soando áspera.
-Pelo visto não confiava o bastante para nos dizer que se apaixonou. - Digo e imediatamente me arrependo.
Olho para Charles e se fizéssemos parte de um desenho animado, ele teria chamas no olhar.
-Você não sabe o que aconteceu. Você não sabe os motivos dele, assim como eu.- Ele diz entre dentes. - Não duvide das razões dele. Não quando ele não está aqui para se defender.
Durante todos os anos em que eu passei ao lado de Charles, eu nunca o vi com tanta raiva. E se eu não o conhecesse ficaria com medo.
Mas você ainda o conhece? Pergunto para mim mesma internamente.
-Não é o que eu quis dizer.- respondo na defensiva.- Sinto muito, não era para soar dessa forma. Óbvio que Jules tinha motivos e iremos descobrir quando Cecília chegar. - Charles relaxa o maxilar e se ajeita na cadeira.
Olho novamente para o relógio pendurado na parede. 16h10. Ela está atrasada. Olho para Charles, um pouco aflita.
-Você acha que ela vem? - Ele da de ombros, mas sua mão vai até o bolso do moletom e tira um celular.
-Ela está atrasada.- Ele diz o que eu já sei. - Mas acho que sim, ela vem.- Charles joga o celular em cima da mesa sem nenhum cuidado. Seus dedos ansiosos brincando com seus anéis.
-Parabéns pelo vice-campeonato, a propósito. - Digo para tentar amenizar um pouco da ansiedade de ambos e ele volta o olhar para mim.
-Você acompanhou as corridas ? - Ele perguntou um pouco surpreso.
-Sim.- admito um tanto envergonhada. - Minha secretária é uma grande fã de Fórmula 1. - Completo, o que não é mentira.
Assim como toda italiana, Marcella é uma tifosi assídua. E mesmo eu querendo deixar tudo que eu conhecia para trás, eu não poderia me esconder de um dos esportes mais amado pelos europeus, ainda mais na Itália, a casa da Ferrari.
Charles solta um riso baixo, seu olhar adotando a expressão de menino travesso. Ah não.
-Sua secretária, hein? - Ele diz com tom zombeteiro e cheio de insinuações.
-Ah, cale a boca, Leclerc! - Digo tentando soar seria mas falhando quando deixo uma risada escapar.- Eu estou falando sério! Minha secretária é uma tifosi roxa. Ela não pode calar a boca um minuto sobre a Ferrari e me faz assistir todas as corridas. - Digo e dou de ombros.
-Sim, sim… E eu aposto que sou o motorista favorito da sua “secretaria”, certo? - Ele diz fazendo aspas com os dedos e com um sorriso presunçoso no rosto.
-Na verdade, ela prefere o Sainz. - Digo e na mesma hora o sorriso dele se transforma em uma careta séria, o que me faz rir.
Logo as covinhas aparecem na bochecha de Charles e meu coração da um pequeno salto ao som da sua risada tipicamente meio falhada e exagerada. Ah como eu gostei de ouvir novamente aquela risada horrível, mas ao mesmo tempo muito fofa.
Naquele momento, mesmo eu odiando admitir, eu percebi o quanto senti falta daquilo. Era um sentimento tão bom do conhecido e de leveza. E mesmo que há apenas uns minutos atrás eu estivesse duvidando sobre ainda conhecer a pessoa que Charles havia se tornado, eu pude ver que independentemente dos anos e das tragédias que a vida o submeteu desde novo, aquele menino gentil e brincalhão pelo qual eu havia me apaixonado um dia, ainda estava lá. E talvez nunca fosse embora. E eu gostei disso.
Encarando Charles sorrindo, ali sentado na minha frente, me pergunto, por apenas um segundo, se teria sido diferente caso eu não tivesse ido embora. Mas assim como o pensamento veio, eu o afasto. Porque, por mais que eu fique feliz em saber que Charles ainda tinha algo que pra mim era familiar, dentro de si, nós não demos certos antes mesmo da morte de Jules. E duvido que conseguiríamos manter uma boa relação com toda dor e luto que nos cercava. Eu fiz uma boa escolha. Sim, eu fiz o certo.
Deixar Mônaco foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que encarar. Mas isso me fez crescer e me tornou uma mulher forte. Aprendi a lidar com a perda, mesmo que talvez não seja da forma mais saudável, ainda funcionou para mim. Consegui terminar a faculdade, arrumei o emprego que eu queria e conheci gente nova. Me apaixonei, mesmo que não tenha amado como amei Charles, ainda me permiti sentir e tentar a felicidade. Claramente não deu certo, mas mesmo assim valeu a experiência.
E também posso dizer que Charles conseguiu conquistar o que queria, ou quase tudo. Ele é um dos melhores pilotos de fórmula 1, dirige para a Ferrari, que é o sonho de quase todo esportista do automobilismo. Tem uma carreira de sucesso e é mundialmente conhecido por isso. E mesmo não tendo conseguido o título que tanto anseia, no ano passado, talvez consiga esse ano. Ele é focado, é grato e gentil. O menino de ouro. O predestinado.
Mesmo Charles sendo tão jovem, conseguiu dar à família e amigos tudo o que sonharam. O orgulho de Pascale e se Harvé estivesse vivo, tenho certeza que também estaria orgulhoso do filho que criou. assim como Jules também estaria em ver o progresso de Charles.
E então o vazio apareceu de novo. Jules. Eu tento ao máximo não pensar nele. As memórias ainda são dolorosas mesmo depois desses anos.
Acho que deixei meus pensamentos refletirem demais, pois Charles que antes ria, agora me encara com um olhar de compaixão. Ele provavelmente pensou em Jules também.
-Eu também sinto falta dele. - ele diz e eu faço um gesto com a cabeça. - E senti sua falta também. - Sua mão se encontra com a minha em cima da mesa.
Não havia segundas intenções. Apenas um gesto. Um gesto para afirmar o que saía de sua boca. E doeu. Aquilo doeu no meu coração e na minha alma.
Afasto a mão rapidamente da dele e encaro a mesa. Charles recolheu as mãos e manteve perto do próprio corpo.
-Eu sei que você não me devia nada, Marie. Nem explicações, nem lealdade. - ele começa, a voz um pouco quebrada fazendo o meu coração apertar. - Mas Jules morreu e você foi embora. Por que você partiu? - Ele pergunta e eu posso ouvir a mágoa.
Eu queria ter forças para erguer o olhar e dizer à ele enquanto o encarava nos olhos, que tudo que eu fiz foi por medo e por achar que não havia mais nada para mim em Mônaco. Que eu ainda o amava mesmo depois dele terminar comigo e que perder Jules para a morte me destruiu, mas saber que perder Charles enquanto estava vivo, só iria me arruinar ainda mais. Eu não podia vê-lo todos os dias e saber que ele não pertencia mais a mim. E que cada minuto que eu passasse com o luto e com o coração partido e sem ele, me fazia lembrar que o amor era algo impossível para mim. Que eu não merecia ser amada. Que nunca haveria ninguém para me amar.
-Eu precisei ir.- Digo ainda encarando minhas mãos. - Não espero que você me entenda, nem que me perdoe. Até porque, não estou te pedindo nada disso, Charles. - Minha voz soou firme mas meus olhos ardem.
Respiro fundo e prendo o ar por alguns segundos antes de soltar. Subo meu olhar para encara-lo quando tenho certeza que as lágrimas não descerão.
-Eu tive que fazer uma escolha e eu a fiz. Eu me escolhi. - falo simplesmente, talvez tentando convencer a mim mesma.
Charles assente com a cabeça e volta a brincar com os anéis em seus dedos. Dessa vez era difícil para ele me encarar.
-Fico feliz em ver quem você se tornou, Marie. E espero que tenha alcançado o que queria quando…- ele para por um segundo, incerto do que dizer- Quando deixou Mônaco. - uma risada gasta deixou seus lábios. - Não vou te julgar, até porque, quando você se foi, já não éramos um casal. Mas eu fui um idiota em achar que éramos amigos.- Ele volta a me encarar. - Fui idiota até perceber que não haveria essa possibilidade entre nós dois sem Jules estar aqui.
Eu queria gritar. Queria levantar e jogar tudo o que havia na minha frente em cima dele. Queria xinga- lo e dizer que ele não tinha aquele direito. Mas para ser justa, eu não poderia nunca fazer isso. Não quando eu fui embora, quando fui eu quem deixei o que sobrou de nós três. Jules tinha morrido e eu fugido. Quando saí não pensei em Charles e nem em seus sentimentos. Apenas pensei em mim e como eu nunca conseguiria conviver com aquilo.
Eu não me arrependo. Fiz o que achei necessário e faria novamente. Charles poderia ter precisado de mim, mas eu precisava mais. Precisava sair e me curar. E foi o que eu fiz. Charles ainda tinha amigos e família com quem contar e eu não tinha ninguém. Sem família presente, sem amigo e sem namorado. Charles e eu sentimos o luto é claro, mas nós o sentimos de formas diferentes. Ele havia perdido um amigo e eu havia perdido tudo.
Não havia para quem eu voltar e abraçar ao chegar em casa. Não havia ninguém lá para me dizer que sentia muito pela minha perda e que tudo iria ficar bem. Então eu fui atrás do que eu achei que precisava e consegui. Fui em busca de mim mesma, de uma nova vida, de novas escolhas e oportunidades e eu as encontrei. Eu me encontrei. Claro que abri mão de muito e que o vazio que Jules e Charles haviam deixado, nunca foram preenchidos, mas eu aprendi a lidar e a utilizá-lo a favor de outras coisas e isso bastou, pelo menos por enquanto.
Antes que eu pudesse respondê-lo, sou interrompida mais uma vez pelo barulho do bendito sino da porta de entrada.
Charles e eu viramos nossa atenção para a porta ao mesmo tempo. Os dois encarando uma mulher loira e magra, que vestia um casaco verde e calça legging. Mas o que mais nos chamou atenção foi o garotinho em seus braços. Ele tinha cerca de 3 ou 4 anos, cabelos escuros, estava deitado com o rosto escondido no pescoço da mulher e sua mãozinha agarrava a gola do casaco dela como se estivesse com medo de que ela fosse embora se ele a soltasse.
Eu e Charles nos levantamos em gestos ensaiados, tudo ao mesmo tempo. Ele parou ao meu lado, sua mão pousando no meu ombro coberto pelo meu próprio casaco desta vez.
A mulher nos encarou e veio em passos lentos em nossa direção. Quando ela chegou mais perto e parou a cerca de um metro de distância de nós eu pude analisá-la.
Seu rosto era fino e perfeitamente simétrico, e mesmo parecendo que não dormia a dias, seus olhos cansados são um tom de castanho esverdeado, muito bonitos. Ela é muito bonita. Seus lábios se abrem em um pequeno sorriso e ali eu pude ver que ela facilmente fazia o tipo de Jules.
-Imagino que vocês são Charles e Marie, certo ? - Ela diz, sua voz era doce e cansada.
Meu olhar passa dela para o garotinho em seus braços e logo depois eles se cruzam com o de Charles. Ele me dizendo através dos olhos , as mesmas coisas que eu estou pensando. Nós voltamos a atenção para a loira à nossa frente e assentimos.
- Ótimo!- Ela pigarreia antes de continuar - Eu sou Cecília e este rapazinho aqui é Vincenzo. - ela da uma leve balançada no pequeno que aperta ainda mais forte o colarinho do casaco dela. - Filho de Jules.
O aperto de Charles sobre meu ombro fica mais forte e eu engulo em seco. Eu não consigo desviar meus olhos do garotinho e agora mais de perto, eu podia ver seu perfil. Sua bochecha gordinha de criança e seus cílios longos assim como o de Jules.
Cecília se mexe desconfortável, seus pés passando o peso de um para o outro e ela ajusta um pouco a posição de Vincenzo em seu colo.
-Sei que vocês devem ter milhares de perguntas e eu prometo que irei responder a todas elas. Mas antes, vocês se importam se eu me sentar? Vincenzo é um pouco pesado e vim caminhando com ele nos braços. - Ela diz com um semblante envergonhado.
-Claro que não. Por favor. - Charles se aproxima dela e puxa a cadeira em que estava sentado alguns minutos atrás. Cecília se senta tomando cuidado para não fazer movimentos bruscos e acordar Vincenzo.
Charles aponta para a outra cadeira vaga e eu me sento. Ele da alguns passos até a mesa ao lado e pega uma cadeira desocupada para que possa se sentar. Assim que os três estão sentados ao redor da mesa, Charles chama a garçonete, que só agora percebo que está todo esse tempo nos encarando. A garota ruiva e sorridente, que provavelmente não tinha mais de 19 anos, se aproxima com o olhar vidrado em Charles. Provavelmente ela deve ter o reconhecido.
É Charles quem faz os pedidos. Um cappuccino para mim- o que me causa uma sensação no estômago por ele ainda se lembrar-um chá gelado para si e pergunta a Cecília o que ela gostaria de beber e ela responde que um café seria o suficiente. A ruiva anota os pedidos e pede licença antes de se retirar. Seus olhos ainda grudados em Charles.
Reviro os olhos internamente, mas sei que não posso culpa-lá, afinal não deve ser sempre que ela atende alguma figura pública. Quando costumávamos vir aqui com Jules, os funcionários eram outros e a pequena cafeteria fica em uma rua meio que isolada em Nice, então é provável que não venha muitas pessoas famosas por aqui.
Tiro meu olhar da garçonete e volto para Cecília que já me encarava atentamente com um pequeno sorriso nos lábios.
-Bem… - Charles começa. - Por que estamos aqui, Cecília? Por que somente agora você entrou em contato conosco ? - Ele pergunta se inclinando um pouco mais para frente, seus braços descansando em cima da mesa de madeira.
Cecília se ajeita na cadeira cuidadosamente e seus olhos se desviam para Vincenzo por apenas um segundo antes de se voltar para nós.
-Eu queria que vocês conhecessem Vincenzo. Enquanto estava vivo, Jules sempre mencionou vocês como parte da família dele. Ele amava muito vocês dois. - Ela diz e eu sinto meu peito apertar.
-Mas por que só agora ? - Eu me pronuncio pela primeira vez. - Sei que você escreveu na carta que estava com medo, mas ainda assim soa estranho você resolver vir nos procurar agora, sem nenhum motivo. - digo tentando manter a minha voz firme.
Cecilia fica em silêncio por alguns segundos como se quisesse formular as próximas palavras com cuidado.
-Há um motivo. - Ela afirma. - Olha, eu sei que é estranho e garanto a vocês que não estou querendo dinheiro nem nada do tipo. - Seu olhar passa de mim para Charles como se quisesse confirmar a última parte especificamente para ele. - Eu e Jules nos conhecemos cerca de seis meses antes dele morrer e foi como amor a primeira vista.
-Ele nunca nos contou sobre você. - Charles responde a cortando e ela assente.
-Eu sei que não. Eu pedi para que ele não o fizesse. - Ela diz e eu e Charles nos encaramos confusos antes de voltar nossa atenção para ela.
-Como assim? Por que você pediria isso a ele? - Pergunto achando aquilo estranho.
-Quando conheci Jules, eu estava em um momento complicado da minha vida. - Ela responde e vejo seu semblante se tornar sombrio. - Eu tinha apenas 19 anos e tinha fugido da Itália. - A voz dela estremece como se fosse difícil para ela voltar a mencionar aqueles tempos .
Eu queria poder lhe dizer que não era necessário que ela nos contasse se não estivesse se sentindo confortável, mas na verdade era realmente necessário que ela o fizesse. Afinal, era para isso que eu e Charles estamos aqui.
Charles assentiu para que ela continue e eu podia sentir a tensão dele.
-Eu me meti com pessoas erradas na Itália.- Ela continua. - Havia um garoto pelo qual eu passei a adolescência apaixonada, Paolo era o nome dele. Nós éramos muito jovens e idiotas, sabe ? - Cecília ri e seus olhos enchem de lágrimas. - Como todo adolescente, nós nos achávamos invencíveis, mas não éramos. Quando eu tinha 17 anos, passava a maior parte do tempo em festas e clubes com ele. Nós bebíamos e usávamos drogas, era tudo curtição e felicidade, até que não era mais. Com o tempo a bebida e as drogas deixaram de ser apenas para as festas e começaram a se tornar necessárias para qualquer coisa. Desde conseguir se concentrar nos estudos, até para poder levantar da cama. Meus pais, assumiram que Paolo era o culpado pela minha dependência e me proibiu de voltar a vê-lo. Eu obviamente fui contra e eles me fizeram escolher entre uma vida com eles ou a minha ruína ao lado de Paolo. Eu jovem e burra escolhi o amor e abandonei meus pais sem olhar para trás. Deixei a vida que tinha para correr atrás de aventuras com Paolo e ele fez o mesmo, fugindo de casa. Mas acontece que éramos dois viciados sem casa e sem dinheiro. Não havia mais a grana que nossos pais nos davam, então começamos a nos virar como podíamos. Pequenos roubos e furtos e até mesmo… - ela para por um momento. Lágrimas grossas descendo pelo seu rosto.
- Aqui.- Charles estende um guardanapo e ela o pega e limpando o rosto logo em seguida.
-Obrigada. - ela agradece e ele a oferece um meio sorriso.- Até mesmo prostituição. -ela continua e eu sinto meu estômago embrulhar. Não era nojo, mas sim pena por imaginar alguém naquela situação. Ao meu lado pude ver que Charles se sentiu tão incomodado quanto eu. Era difícil para ele conseguir se colocar no lugar dela.
Charles cresceu com ótimos pais que faziam de tudo pelos filhos, e por mais que não fossem milionários na época, ainda conseguiam ter e oferecer uma vida confortável a eles. E aposto que se qualquer um dos três, Charles, Lorenzo ou Arthur, tivessem seguido o caminho errado, Pascale jamais os teria abandonado.
E eu, bem, eu tive sorte. Passei a adolescência com Jules e Charles que possuíam uma família estruturada o suficiente para compartilhar comigo, pois meus pais eram ausentes.
Obviamente que eu e Charles tivemos nossa fase rebelde com porres e maconha de vez em quando. Mas Jules, por ser quase dez anos mais velho do que nós, sempre nos manteve na linha como um bom irmão mais velho. E se ele soubesse que passamos dos limites em festas ou em qualquer outro lugar, oh Deus! Ele pirava.
-Cecilia, sei que é difícil para você dizer isso, mas acho que é importante para que eu e Charles possamos compreender. - Digo e ela assente.
Cecília respira fundo duas vezes antes de continuar e é ali que tenho certeza de que a história só pioraria. Tento me preparar para ouvir o que ela tinha a dizer.
-Eu me prostitui algumas vezes, sem que Paolo soubesse. Havia alguns traficantes que me davam drogas em troca de sexo e como muitas das vezes eu não tinha outra opção, eu aceitava. Mas um dia ele descobriu e aquilo acabou com ele. Com a gente. - As lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto. - Paolo enlouqueceu quando descobriu e foi atrás do traficante que eu havia dormido. Ele arrumou uma arma e matou o cara. Ficamos fugindo durante algumas semanas, mas era difícil demais para dois sem teto viciados, conseguir se esconder na Itália. Logo nos acharam e…- ela aperta os olhos e soluça forte.
Eu estico a minha mão em cima da mesa e pego a mão de Cecília. Ali havia muita dor e parte de mim queria se encolher e parar de ouvir, mas eu não podia. Passo meus olhos para Charles e ele me encara de volta, seus olhos refletindo uma angústia em estar ouvindo tudo que saia da boca dela. Era surreal demais para ele ouvir tudo aquilo.
-Eles mataram Paolo e acreditaram ter me matado também. Mas por algum milagre eu consegui sobreviver e pedir ajuda em uma igreja. O padre de lá era amigo dos meus pais e conseguiu uma família em Nice, que estaria disposta a me ajudar. Então eu vim para França, passei pela reabilitação e comecei a frequentar as reuniões para dependentes químicos. - seus olhos voltam a ficar distantes e eu continuo a segurar sua mão. - Foi na volta de uma dessas reuniões que eu conheci Jules e foi ali que eu entendi o motivo de eu ter sobrevivido. Nós nos apaixonamos, mas ele tinha uma vida pública e eu não podia me expor pois tinha muito medo que viessem atrás de mim. Eu contei a Jules o que tinha acontecido e diferente do que eu achei que ele faria, ele me acolheu. Me prometeu que não contaria a ninguém, nem mesmo a vocês dois, até que eu estivesse pronta e segura. E ele fez isso. Nos manteve em segredo durante meses. Nos víamos sempre que ele voltava para Nice, após as corridas. -Ela termina.
Eu e Charles observamos enquanto Cecília tenta tranquilizar a respiração, seu aperto sobre o corpo adormecido de Vincenzo aumenta como se tivesse medo de que ele sumisse de seus braços a qualquer momento.
Me parte o coração ver toda a sua dor e me faz ter uma perspectiva totalmente diferente de quando eu entrei aqui hoje. Ela amava Vincenzo e isso era nítido, assim como amou Jules. E essa é a parte que mais me dói.
Saber que o motivo pelo qual Jules nunca a citou para nós, seus amigos e família, foi somente para protege-la, fez meu coração pesar e se aquecer ao mesmo tempo. Isso era tão Jules.
Consigo me lembrar que meses antes de morrer, ele realmente passou a frequentar mais sua cidade natal e sempre que o questionávamos, ele dizia que queria passar um pouco mais de tempo com sua família. Nós até estranhávamos um pouco, mas Jules sempre teve uma ótima relação com os pais e parentes mais íntimos, o que nos fazia simplesmente deixar para lá e somente aproveitar o tempo que passávamos juntos antes dele e Charles ter que voltar para as corridas.
-Sinto muito por tudo isso, de verdade, Cecilia.- Charles é o primeiro a dizer após ela parecer mais calma. - Mas ainda precisamos saber o porquê de só agora você nos procurar. - Ele diz e eu concordo.
Cecilia assentiu com a cabeça e olhou para Vincenzo em seus braços. A tensão que emanava em si, me fez estremecer, Charles provavelmente percebeu e sua mão se encontra com a minha coxa por baixo da mesa.
-Cerca de dois dias antes da morte de Jules, descobri que estava grávida de Vincenzo. - Ela diz e eu faço um gesto de compreensão com a cabeça. - Jules estava correndo em Shangai e eu estava apavorada e sozinha aqui.- As lágrimas que haviam cessado voltaram a descer em ondas mais intensas.
Minha mente se teletransporta para 2019, para a última corrida de Jules. Ele estava tão contente que conseguiu terminar em sétimo lugar naquele dia. Mas, de uma hora para outra ele só queria voltar para casa e descansar, nem chegando a comemorar com os meninos do grid.
-Eu mandei uma mensagem para ele após a corrida. Disse que precisava que ele viesse o mais rápido possível para Nice, pois algo havia acontecido. - Cecília olha para Charles enquanto dizia.- Então ele me mandou mensagem dizendo que iria pegar o primeiro avião disponível de volta para França.
Conforme Cecília fala, o aperto de Charles em minha coxa aumenta. Eu olho para ele pelo canto dos olhos e consigo enxergar o momento em que seu pomo de Adão sobe e desce.
-Então foi por isso que ele saiu tão depressa naquele dia. - A voz de Charles soa baixa. - Ele saiu antes que eu pudesse falar com ele…- Seus olhos enchem de água e sua respiração se torna um pouco instável. Cecília apenas assente e fecha os olhos com força antes de continuar.
-Quando Jules chegou em Nice já era de madrugada e estava chovendo muito. Ele tentou pegar um táxi ou Uber, mas não estava conseguindo nenhum dos dois. - Dessa vez sinto minha respiração falhar um pouco enquanto ela continua. - Ele conseguiu alugar um carro em uma agência 24 horas que ficava próxima ao aeroporto e me mandou uma mensagem dizendo que chegaria em breve e que eu não precisava me preocupar, pois não importava o que estivesse acontecendo tudo iria ficar bem e que ele me amava.
Charles levantou abruptamente. Seu rosto adotando um olhar de descrença.
-Foi você…- A voz dele era fraca e acusatória. - Foi por sua causa que ele… Meu Deus!- Ele se agita e suas mãos passam pelo rosto e por seu cabelo.
-Charles…- Eu tento acalma-lo, mesmo eu também estando ansiosa. - Charles, por favor, senta e tenta se acalmar. - Eu tento pegar em sua mão mas ele recua em um movimento brusco.
-Me acalmar? - Ele se volta para mim. - Foi ela, Marie! - ele diz apontando para Cecília que apenas se encolhe na cadeira e aperta ainda mais Vincenzo que se mexe desconfortável em seu colo. - Ela matou ele! É POR CULPA DELA QUE JULES MORREU! - Ele grita.
Minha respiração se torna difícil e meu coração vai a mil por hora. Na minha frente Cecília soluçava e apertava Vincenzo ainda mais contra seu corpo.
Toda aquela comoção fez com que alguns funcionários começassem a aparecer e se aproximar a uma distância segura da mesa.
-Eu sinto muito, sinto muito- Cecília implora. - Eu juro que nunca quis que isso acontecesse, eu estava com tanto medo e…- Ela para quando escuta o choro baixo de Vincenzo.
A atenção de Charles vai para o garotinho quando percebe que agora ele está acordado. Ele faz um movimento negativo com a cabeça e sai do café as pressas, batendo a porta com muita força atrás de si. Nós nos assustamos com o barulho e o garotinho chora ainda mais alto. Eu me levanto apressada para ir atrás de Charles mas antes paro e me viro para Cecília.
-Por favor, espere aqui, sim? Vou tentar acalma-lo. Não vá embora. - Digo e ela assente, seu rosto manchado de lágrimas que ainda continuavam caindo e sua respiração acelerada enquanto balançava Vincenzo tentando acalma-lo.
Uma garçonete morena se aproxima com um copo de água nas mãos e coloca na frente de Cecília. Eu a agradeço com um gesto e saiu pela porta rapidamente afim de encontrar Charles.
Não demoro muito para encontrá-lo, ele estava em frente a um carro preto. O corpo apoiado ao lado do motorista. Mesmo de longe eu posso ver seu corpo tremendo e ouvir o som de sua respiração desregulada. Vou me aproximando devagar dele, para não assusta-lo.
Quando chego perto o suficiente penso em toca-lo, mas logo o pensamento deixa a minha mente quando percebo que não era uma boa ideia.
-Charles…- o chamo baixinho para chamar sua atenção. - Eu sinto muito, mas nós precisamos voltar para lá. Ela-
-Não!- ele exclama.- Por favor, Marie! Não me peça para voltar lá. Ela matou ele! Foi culpa dela! - Ele me encara com os olhos vermelhos e inchados.
Meu coração se aperta mais com a imagem dele assim. Me vejo novamente sendo mandada para o ano da morte de Jules, mais especificamente para o dia de seu funeral.
Eu queria abraçar Charles e dizer que tudo ficaria bem, mas na verdade eu não sabia se ficaria. Jules havia morrido à quase quatro anos e mesmo assim ainda doía toda vez que seu nome era citado. E ouvir hoje de uma estranha, as razões pelas quais resultaram em sua morte, não era algo fácil. Mas havia um motivo pelo qual Cecília quis nos contatar depois de todo esse tempo e nós precisamos saber.
Respiro fundo e resolvo me aproximar mais de Charles. Um de nós tinha que tentar ser racional nesse momento e se tivesse que ser eu, tudo bem. Eu não iria voltar para a Itália sem uma resposta.
-Charles, eu entendo que é difícil ouvir tudo isso assim, de repente.- minhas mãos vão para o seu rosto. - Eu sei que dói, Charles. Eu também estou sentindo. - Ele fecha os olhos e eu sinto lágrimas rolarem pelo meu rosto. - Mas nós não podemos culpá-la totalmente, Charles. Ela estava com medo e só queria conversar com ele.
-E isso resultou na morte dele. - Ele diz, seus olhos se abrindo e se encontrando com os meus. - Marie, se ela não tivesse feito o que fez, ele estaria aqui agora. Ele estaria vivo e teria conhecido…- A voz dele falha. - Ele teria conhecido o próprio filho. - Ele chora e eu o puxo para um abraço.
Jules morreu sem conhecer o filho. Jules morreu sem saber que teria um filho. Jules morreu no escuro sem saber o que é que estava acontecendo com Cecília. Jules morreu sozinho e preocupado e nada que possamos fazer irá trazê-lo de volta. Ele morreu. Acabou. Mas eu e Charles ainda estamos aqui.
-Jules morreu sem conhecer o filho, mas nós ainda estamos aqui e podemos fazer isso por ele. - eu digo e ele me aperta mais. - Nós ainda estamos aqui, Charles. E podemos fazer isso. - Ele quebra o abraço e me encara com o rosto cheio de mágoas. Eu afirmo com a cabeça. - Nós precisamos entrar lá. Juntos. - ele olha para os pés. - Charles, eu preciso que você entre lá comigo, pois eu não posso fazer isso sozinha. - Seus olhos voltam para mim e ele entende que eu utilizei as mesmas palavras que ele há alguns anos.- Por favor, Charles. Eu não quero fazer isso sozinha. Não posso. - Ele assente e eu pego sua mão e o arrasto lentamente de volta até a cafeteria.
Quando entramos pela porta meus olhos se encontram com os de Cecília. Afirmo com a cabeça para lhe dizer que está tudo bem e ela assente em compreensão. Olho para Charles que a encara sem expressão. Seu olhar está gélido, totalmente diferente do que um dia eu cheguei a conhecer.
Ainda segurando a mão de Charles, caminho em direção a mesa onde ela nos espera desconfortável. Percebo que Vincenzo não estava mais em seu colo e sinto uma preocupação momentânea que logo passa quando o vejo brincando de costas em uma outra mesa com a mesma garçonete ruiva que havia nos atendido.
Nos sentamos em nossas cadeiras e vejo que os nossos pedidos estão postos em cima da mesa. Sinto meu estômago embrulhar só de olhar para o Cappuccino na minha frente. Dou uma ligeira olhada ao redor e percebo os funcionários tentando desviar o olhar de onde estamos. Faço uma anotação mental em “resolver” esse problema para que não saia daqui quando formos embora.
-Apenas diga logo o que você quer. - Charles quebra o silêncio, seus olhos ainda encarando Cecília que assente e engole em seco.
-Eu entendo a raiva de vocês e sei que não tenho o direito de pedir o que irei pedir. - Ela diz e minha audição aguça. - Eu convivo com a culpa a anos. Seja por Paolo ou por Jules, a culpa e o remorso me acompanham por onde quer que eu vá. Não importa o que eu tente fazer, sempre estão lá. - Ela olha para as mãos. - Ano passado eu tive uma recaída. - Ela diz. - Usei heroína, foi uma vez, mas usei. Depois de anos resistindo e nem chegando perto de drogas, eu deixei a minha mente de merda cair no buraco e me piquei. - Ela solta um riso desesperado e seus olhos enchem de água.
Meu corpo gela e Charles solta um barulho de escárnio ao meu lado. Quando ele abre a boca para falar algo Cecília o corta.
-Sim, eu sei que sou uma puta e que mereço a pior merda que a vida reservar para mim. Mas é essa a questão. Eu mereço as coisas ruins, mas meu filho não. - Ela diz firme nos encarando séria. - Eu preciso que Vincenzo tenha uma vida boa e decente. Preciso ter certeza que ele crescerá sendo amado e que nunca irá faltar nada a ele. - Ela desvia o olhar por um momento até a mesa onde Vincenzo brincava animado com a garçonete e logo depois volta a atenção para nós.
Cecília respira fundo e se inclina mais para frente. Eu podia jurar que ela seria capaz de pedir qualquer coisa naquele momento. Dinheiro, uma casa em um lugar distante da cidade, um período na reabilitação, qualquer coisa.
-Eu não posso mais cuidar de Vincenzo.- Ela afirma, seu tom exalando amargura.- Eu prometi a Jules que faria de tudo para que ele fosse diferente de mim. E é por isso que procurei vocês depois de todos esses anos.
Minha cabeça gira. Ela está pedindo para …? Não, não é possível.
-O que você quer dizer com isso ? - Charles pergunta aflito.
Cecília limpa as lágrimas do rosto com a mão, pisca algumas vez e adota um olhar decidido, um olhar que eu conhecia bem. O mesmo olhar que deu a mim mesma no espelho quando decidi deixar Mônaco. De repente eu me sinto apavorada, pois minhas suspeitas são confirmadas.
-Ela quer que nós cuidemos de Vincenzo. - Eu digo.
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