#Paul Batinas
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Título: Memórias de Uma Moça Bem-comportada Autor: Simone de Beauvoir País: França Editora: Nova Fronteira ********************************************** Pela linguagem e história, as memórias de Simone de Beauvoir me lembraram o tempo todo da novela napolitana de Elena Ferrante. Obviamente, muito por conta da amizade com Zaza, mas também pelo feminino construído ali nas palavras, enquanto acompanhamos o crescimento destas mulheres. [Porém, os pares Simone/Zaza e Lila/Lenu diferem-se muito socialmente; francesas e burguesas, italianas e de origem pobre]. A sua célebre frase "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" faz sentido nas descrições que elabora de si, de sua mãe e de sua irmã, de Zaza, das não expectativas de seu pai, e de outros femininos que fizeram parte de sua infância e juventude. E nas breves descrições que faz sobre Jean-Paul Sartre, obviamente. É um livro longo, cheio de histórias e reflexões, e me fez pensar um bocado na vida. Recomendo. ********************************************** Algumas notas em ordem cronológica. "Meu pai não detestava aparecer, exibir-se, mas eu aprendi com mamãe a encolher-me, a pôr-me de lado, a controlar minha linguagem, a censurar meus desejos, a dizer e fazer exatamente o que devia ser dito e feito. Não reivindicava nada e ousava pouco." "Eu mesma só considerava essencialmente os adultos nas suas relações com a infância. Desse ponto de vista, meu sexo assegurava-me a preeminência. Nos meus brinquedos, nas minhas ruminações, nos meus projetos nunca me transformei em homem. Toda a minha imaginação era empregada em antecipar meu destino de mulher." "Não exigia que Zaza tivesse por mim um sentimento tão definitivo: bastava-me ser sua companheira predileta. A admiração que lhe dedicava não me depreciava a meus próprios olhos. O amor não é a inveja. Não concebia nada mais belo no mundo do que ser eu mesma e gostar de Zaza." "Meu pai, que estava dilapidando seu capital, vaticinava a ruína da humanidade; mamãe fazia coro com ele. Havia o perigo vermelho, o perigo amarelo; muito breve, dos confins da terra e da escória da sociedade, uma nova barbárie se desencadearia: a revolução precipitaria o mundo no caos. Meu pai profetizava essas calamidades com uma veemência apaixonada que me consternava; esse futuro que ele pintava com cores terríveis era o meu. Eu amava a vida: não podia admitir que ela se transformasse amanhã em um lamento sem esperança. Um dia, em vez de deixar passar por cima de minha cabeça a onda de palavras e imagens devastadoras, inventei uma resposta: 'De qualquer modo, são homens que ganharão'." Essa é ótima, quando o padre foi lhe dar sermão a pedido da família: "Meu rosto ficou em brasa: olhei com horror o impostor que durante anos eu considerara representante de Deus. Bruscamente acabava de erguer a batina, descobrindo as anáguas de carola: o hábito era apenas uma fantasia, encondia uma comadre apreciadora de mexericos."
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