Tumgik
#MesAOP
asttrometria · 4 years
Text
Hope and Chaos
Mês AOP dia 3 - Liz
Em meio ao espaço escuro de sua mente, Elizabeth Webber refletiu por longos 22 anos, beirando à insanidade, a qualquer momento poderia sucumbir a agonizante experiência de ter tudo lento a sua volta. De ficar presa consigo mesma e ter que pensar sobre tudo, mas como todo o caos, seguiu-se de uma luz, a esperança. Uma pequena faísca que a mantinha sã.
Também postado no spirit fanfics.
--------------------------------------------------------------------------
Senti meu corpo – pequeno em comparação a imponência daquele monstruoso ser – ser segurado firmemente, não conseguindo distinguir exatamente se aquele lodo era líquido, ou se realmente criava uma base sólida, enquanto era levantada brutalmente.
A adrenalina corria por minhas veias, os olhos se movendo rapidamente buscando um meio de sair do aperto desesperador. O sinalizador era a primeira opção, mas antes que pudesse fazer algo a respeito, tudo ficou lento.
Tudo ao meu redor parou, como se o tempo tivesse estancado naquele momento, presa na mão asquerosa do monstruoso Deus da Morte, Elizabeth Webber não compreendia o que estava acontecendo.
Meu primeiro impulso foi atirar, atirar com o sinalizador e atingir aquele ser amedrontador, mas por mais que puxasse o gatilho, nada acontecia. O que? Por quê? Foram perguntas que rondaram minha mente por muito tempo. Tempo o bastante para que percebesse que não tinha estancado no tempo.
Eu só estava avançando no tempo, muito rápido.
E era isso que Santo Berço fazia, enquanto um dia no mundo normal, passava-se um ano na vila medieval. E aquele ser possuía aquela propriedade, o poder de te envelhecer pelo toque, uma arma poderosa.
E se não saísse dali, a morte viria por velhice, e eu já tinha entendido isso. Primeiro se passaram segundos tentando sair daquilo, segundos se tornaram minutos, e minutos se transformaram em horas. Tentativas de movimentos rápidos e precisos, mexer até que soltasse, mas nada daquilo parecia surtir efeito.
E por dias – talvez semanas – falhas e mais falhas se acumulavam e pesavam em minha mente. Engrenagens trabalhavam a todo o vapor em minha cabeça para formular um meio de me livrar daquilo, uma forma de não ser inútil a ponto de tornar-me um empecilho vivo para a mira de meus companheiros.
Fracasso.
Era tudo culpa minha.
Não. Não era. Não completamente.
Observei, por dias, pequenas movimentações de meus amigos. Um fio de cabelo, talvez um piscar de olhos, e foquei-me em Thiago. Ele havia dito, aquela vez, que não era culpa minha.
"— É aqui — afirmei, sentindo o corpo tensionar em nervosismo.
Thiago, no banco de motorista, estacionou rapidamente o carro ao lado do grande e extenso muro e voltou seu olhar para mim, ainda tinha a cicatriz próxima ao ouvido um pouco nova.
— Vai ficar tudo bem — tocou delicadamente – na medida do possível – meu ombro, em uma tentativa de transpassar confiança.
Algum tempo com o jornalista, depois de tudo que passamos, e a amizade fluiu em águas leves, talvez fosse a perda em comum e os sentimentos próximos, mas estar com Thiago a fazia bem.
— Tá bem — puxei o ar com mais força que pretendia e o prendi por alguns segundos enquanto saía do veículo e o Fritz dava a volta no carro.
Não demorou muito para passarmos pelos grandes e enferrujados portões do local, por corredores estreitos atravessamos o cemitério em busca de um lugar específico. Um túmulo que fazia minhas pernas fraquejarem ao me aproximar.
Estava velho, mal cuidado e repleto de plantas crescendo desordenadamente.
Abandonada, e era culpa minha.
Me perdoa, mãe.
Cai de joelhos, sentindo os olhos ardendo e o nariz seguindo a deixa. Um vazio tomou conta de mim, a saudade e o luto me arrebataram. Me perdoa por te deixar sozinha, eu não consegui te encarar.
E antes que eu pudesse notar, lágrimas escorriam por meu rosto, banhando-o em melancolia. O único conforto naquele momento era a mão do jornalista em meu ombro e os simples dizeres que ia ficar tudo bem. Não tinha problemas sofrer e que não era culpa minha.
Isso até gritos ecoarem ao longe."
Não era totalmente culpa minha. Suspiros longos foram dados juntamente com memórias. Quantas vezes não revivi momentos icônicos? Muitas coisas tristes passaram por minha mente nesse meio tempo. Coisas que podia ter observado por outro ângulo, feito de outra forma, ter sido mais cautelosa. Impedir tragédias
A morte de pessoas queridas, amadas. A dor do luto e da perda. Foram anos revivendo momentos que esmagavam meu coração. Observava o olhar vazio daquele monstro que me prendia firmemente e só via dor. Minha própria dor refletida em lodo e caos.
Quanto tempo passei à beira da loucura? Talvez dias? Não fazia mais sentido. Gritei até a garganta arranhar e arder. Me mexi até que a pele começasse a sair, mas não havia solução de dentro. Então fechei os olhos por muito tempo.
Como da vez que eu esperei, lendo, mamãe chegar. E permaneci com eles fechados, revivendo momentos, mas dessa vez, momentos melhores, sem ter que olhar para tudo que vivia naquele momento. Sem encarar o Deus da Morte e saber o quão ferrada estava.
Sem encarar meus amigos, que faziam a culpa pesar. Sem encarar Thiago, que quase deixei morrer, que permiti desenhar o símbolo em si, que perdia a cabeça a cada momento que passava. Não conseguia encarar ele sem dizer para mim mesma quantas vezes pude me deixar dizer o quanto ele era importante.
E talvez tivessem passado anos que me senti desmoronando, como se ninguém me entendesse e muito menos eu pudesse me encaixar em algum lugar. Ser machucada, sentir-me perdida, ser deixada no escuro, ser chutada pela vida quando estou mal, sentir como se eu estivesse sendo empurrada, me afogando. Estar a beira de de um penhasco e não ter ninguém lá para me salvar.
Mas uma troca de olhares depois de tanto tempo na escuridão de mim mesma e eu pude perceber que Thiago estava ali para ser minha luz. Que eu podia construir melhores momentos no futuro, momentos que valiam a pena lutar. E eu não deixaria essa pequena fagulha de esperança morrer. Muito menos um brutamontes horroroso acabar com tudo.
Por mais tempo ainda, me segurei naquilo. Na imagem de um futuro longe daquela cidade amaldiçoada, meses agradáveis depois da missão onde poderia simplesmente tirar um tempo para mim. Para viver com meus amigos. Prometi a mim mesma dizer o quão importante aquele jornalista era pra mim. Como a figura de um irmão foi tão influente e importante em minha vida e como ele tinha desempenhado tão bem esse papel.
E quando finalmente o tempo pareceu voltar, a determinação encheu meu peito. Aquele pequeno fragmento de luz que poderia juntar todos os que estavam ali.
“— No final das contas, Joui, o Alex tinha razão, eu nunca precisei do meu coração mesmo.
Apontei a arma na cabeça daquele manancial, porém antes que pudesse puxar o gatilho, uma mão, da mesma coloração do ser a qual eu apontava agora, me deteve.
— Liz, me escuta. Qual é o nome do nosso time? Qual é o nome que você deu pro nosso time? Fala pra mim. — nenhuma reação, apenas encarei o chão. — Time esperança. Eu tenho esperança, que aquele túneis possam ter uma brecha. Eu tenho esperança, que mesmo com esse símbolo nas minhas costas e conectado com sei lá que parasita que seja, eu ainda posso ficar vivo aqui. Eu tenho esperança que esses quatro mananciais aqui não tem nada a ver com isso tudo. Que são literalmente vítimas de um plano filha da puta que cientistas criaram possam sair dessa. Que eles podem ter uma vida normal, que eles podem sair desse mundo.
— Você não tá vendo, Thiago? TODO MUNDO VAI MORRER — me exaltei, sentindo os olhos arderem e o choro se acumulando juntamente a ansiedade e a dor de tudo isso.
— Eu TO VENDO — esbravejou de volta. — Se tem 1% de chance da gente sair daqui, de eu sair daqui, de vocês todos saírem daqui, deles saírem daqui bem, que são literalmente vítimas, eu quero esse 1%. Eu vou continuar atrás desse 1%, não vou desistir. — deu uma pausa, me encarando fundo nos olhos. — E eu peço que você não desista. Eu peço que você tenha, literalmente, o nome do que o nosso time é, esperança.”
Parabéns, Thiago, você me fez agarrar nesse 1% de chance. Temos que sair vivos dessa.
— 22 anos, 22 anos olhando pra essa almôndega gigante — levantei a arma e apontei o sinalizador para aquele imponente ser.
Observações importantes e adendos finais:
↝Sobre a fanfic: ↝Primeiramente eu quero explicar a fanfic, caso algum ponto ficasse soltinho, já que eu não consegui encaixar exatamente tudo que eu queria nela. ❀ A Liz foi pega pelo deus da morte e enquanto tentava entender o que aconteceu ali - já que o tempo continuou a andar, apenas muito lento - tentou de tudo para escapar, até que sua pele ficasse bastante ferida com as tentativas repetidas, sua garganta ardesse e ela se cansasse, é o primeiro instinto, tentando várias formas de sair dali, visto que o sinalizador não tinha funcionado de primeira. ❀Depois de perceber que pra sair teria que ser algum estímulo de fora, Liz encarou, por bastante tempo, tanto o deus da morte, em toda sua imponência e horror, aquela câmara, o coração do santo berço e isso a fez refletir sobre coisas ruins. Lembrou de momentos que se culpou - como na casa do virgulino, na missão em nostradamus e muitas mortes que ocorreram -, toda aquela dor e escuridão que era ela mesma, que ela não conseguia encarar o poço de caos que Elizabeth Webber tinha se tornado. Ficar sozinha consigo mesma era um pesadelo por não conseguir encarar a si mesma. ❀Depois de muito refletir e encarar cada pedaço e detalhe daquele lugar, por anos apenas na própria depreciação, a ponto de um colapso completo, muitas coisas passaram por sua mente que a fizeram lúcida, Thiago era seu principal pilar, a simples conversa que tiveram antes de irem praquela câmara do coração já tinha sido um apoio imenso. Esperança, 1% de chance de conseguir sair dali era o bastante pra ele. E como Thiago foi como um irmão para ela, essa esperança tomou, aos pouquinhos o coração estilhaçado em dor de Liz. Dúvidas banhadas em esperança tomaram parte da cabeça de Liz. Enquanto tivesse Thiago consigo teria que ter um jeito e ela se apoiou nisso por algum tempo. Talvez realmente conseguissem tirar ele dali, mesmo com aquele símbolo macabro. ❀Essa esperança de um futuro com a sua família - tendo como base um pensamento otimista de thiago - liz se apoiou nisso para se manter sã. ↝Com a morte de Thiago: ❀Com a morte de Thiago, aquela faísca de esperança que Liz um dia cultivou por sua causa foi pro saco, simplesmente. Ele morreu, então ela perdeu tudo que um dia ela se apoiou. Seu porto seguro e a pessoa mais importante da sua vida. Ela viu, naquele momento, o quão idiota era aquela ideia de esperança que Thiago tanto cultivou. Com as pessoas de santo berço queimando, ela percebeu que mesmo que ele saísse de lá vivo, morreria em chamas, como qualquer outro dali, enlouquecido (a gente sabe que não, mas a Liz não sabe, então a esperança dela foi é pra vala). E é por isso que agora ela se mantém tão distante. Ela tá pior que antes de AOP, porque ela perdeu tudo, a esperança, sentiu um peso imenso de culpa a corroendo, visto que não pôde dizer ao menos uma última vez que Thiago era importante para si. Muito menos conseguiu retribuir TUDO que ele significava pra ela. E essa dor acumulada, a descrença em esperança, o sentimento de ser enganada por um otimismo insano a fazem o que a Gabi disse que ia virar agora. Dane-se tudo, porque não há mais propósito algum.
24 notes · View notes
asttrometria · 4 years
Text
Espadas, escudos e heróis
Dia 2 do Mês AOP - Thiago
Também postado no spirit fanfics.
Naquele momento, ser escudo ou espada não importava, ver sua equipe, sua família, sair salva de todo aquele caos, era tudo que ele precisava. E com um último sorriso, genuinamente feliz, Thiago Fritz se foi.
---------------------------------------------------------------------------
Manipulador de sorriso ligeiro, jornalista filho de um grande ator. Sua única maneira de ganhar a atenção e amor que Arnaldo um dia teve era com jogos mentais. Thiago Fritz era uma figura singular. Como uma espada de corte rápido e preciso, por muito tempo sentiu que deveria se manter na linha de frente, se sacrificar era uma maneira de provar a si mesmo que poderia ser um grande herói, assim como Arnaldo, seu pai, era.
Por dentro imaginava que heróis sempre seriam eternizados por sacrifícios lendários e por marcarem a história se colocando em frente ao perigo sem pensar duas vezes. Todos forjados por adoração e um grande ideal na busca por fazer o bem.
No final, Thiago não era assim. Pessoas gostavam dele baseado em uma face forjada por manipulação. Seus ideais eram egoístas e heróis não podiam ser assim, certo?
Por que não havia conseguido pular em frente ao perigo? Por que não tinha conseguido salvar Daniel e Alex?
Alguém tão fraco nunca se igualaria a um herói. O que lhe restava era adorar um.
Pai, se você estivesse aqui agora, ficaria desapontado?
E então aquela lâmina, um dia tão afiada e cheia de vida, se tornou um emaranhado de metal sem propósito. Uma espada manuseada por um tolo, é uma espada que afastava a todos. Era uma arma que visava proteger apenas a si mesmo.
Todos aqueles sentimentos que teimavam em tentar transbordar e confundir sua mente ao se aproximar de pessoas seriam enterrados enquanto mantivesse tudo e todos longe de si.
Ele sabia que qualquer um que se envolvesse morreria. Gonzales era um exemplo. E se deixava consumir pela culpa daquele fatídico momento. Thiago havia inspirado alguém, e esse alguém não tinha mais sequer segundos respirando. Com olhos estourados por cabelo de uma projeção paranormal.
Ah, como aquela visão infernal o assombrava.
E lidar com aquela dor não era fácil, percebeu que nunca conseguiria fugir desses sentimentos malditos – por mais que se esforçasse ao máximo – quando mais uma pessoa importante para si se foi. Cristopher Cohen fez com que uma espada afiada em medo, se tornasse um grande e imponente escudo.
Se não pudesse fugir da dor, afastaria ela de si e das pessoas com quem se envolvia. Liz, Joui, Cesar e Arthur seriam protegidos com tudo que tinha, enquanto os de fora levariam pipoco sem pensar duas vezes.
E o tempo como escudo fê-o esquecer dos ideais de heroísmo. Só queria acabar aquela missão, desejava salvar as pessoas com quem se importava. Afastando ameaças, se colocando na frente, não mais com o desejo de ser reconhecido como um herói, mas sim apenas movido por um sentimento simples de zelo.
Eles tinham muito o que mostrar ao mundo ainda, não se perdoaria se mais alguém morresse. E por isso não se importou de ir em direção àquela grande massa monstruosa de lodo com o dispositivo em mãos.
Naquele momento, Thiago não sentiu os sentidos vacilarem. Por 51 anos, vendo cada passo daqueles que tanto prezava, lentamente atravessando a grande câmara do coração de Santo Berço. Memórias preencheram sua mente. O Eu nunca, o cemitério, as vezes que chutou a porta com Cesar, a felicidade de ver, a cada dia mais, Joui crescer, as escapadinhas pra fumar com Arthur e, claro, Liz, a pessoa que o salvou em Nostradamus, que lutou por sua vida o tanto que ele lutava pela dela naquele momento.
E só queria retribuir tudo que eles o proporcionaram. Foram anos revivendo momentos de felicidade e emoção.
E estava tudo bem.
Porque para Thiago, não importava ser herói ou não, escudo ou espada, nada naquele momento importava. Um último sorriso segurado por anos que transmitia toda a sua satisfação de poder, finalmente, salvar todos aqueles que amava.
As chamas e a dor de ser consumido por elas nunca se igualou à gratidão que sentia por cada um daquela equipe. Por sua família.
14 notes · View notes