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O que fazer em Lubeck Alemanha
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Última ligação.
As nuvens fecharam o céu durante o dia todo. O clima estava agradável. À tarde, encontrei-me com alguns amigos os quais não conversava já há algum tempo. Perto das 5 da tarde, Cobra e eu fomos até o hospital central para termos alguma novidade acerca do caso de Refaeli. Infelizmente, a única notícia que recebemos foi que ela havia sido transferida para uma unidade ao norte, em Lubeck. Fiquei furiosa por não tere nos comunicado com antecedência, mas sentia-me tão esgotada com aquela situação tão imprevisível na qual ela se encontrava e com minhas confusões sentimentais relacionadas à Silas que Cobra quem tentou resolver as questões para mim quando chegamos lá. Com insucesso, ele quem tentou coletar informações acerca do seu real estado de saúde. Saindo do hospital, fomos até a casa de um primo dele por parte de mãe para ele ir jantar conosco.
- Cobra, rapaz, não consigo nem mastigar!
O motivo não podia ser o mais adolescente possível - se o rapaz já não tivesse lá os seus 26 anos: manutenção no aparelho ortodôntico.
Pela primeira vez, senti-me deslocada ao estar na mesa com dois grandes amigos. Os garotos conversavam sobre a semana no trabalho, os planos de férias de Hansen, sobre as aventuras culinárias de Cobra. Passei a tarde querendo contar para Cobra o que estava acontecendo com os meus sentimentos, mas faltava-me coragem. Eu olhava para ele e tinha a sensação de que estava enganando um dos meus maiores amigos. Ou pelo mesmo escondendo fatos que, devido à nossa proximidade e confiança recíproca, ele deveria saber.
Começou a chover forte. Eu olhava para a rua e, enquanto ouvia as vozes misturada dos meninos, só o meu corpo se fazia presente ali. Estava preocupada com o real estado de saúde da Refaeli, comparava a sua vida com a minha e acreditava que eu quem deveria estar em seu lugar - apesar de Cobra já ter conversado comigo acerca desse pensamento e, mais tarde, Shahazad vir me censurar deliberadamente e tentar mudar minha forma de pensar. Afetava-me também as minhas últimas questões pessoais que, obviamente, envolviam Silas.
Jantar apreciado com gosto, fomos até o mercantil. No dia seguinte, os meninos fariam um almoço na casa de Hansen e precisavam comprar o restante dos ingredientes. Cobra foi no banco do passageiro e questionou-me quem havia andado naquele assento para ele estar tão apertado. Apenas respondi que um amigo meu. Referia-me a Gutar que era bem menor que meu primo.
Compras feitas, ao voltar pra casa, Cobra questionou:
- Silas quem andou aqui? - Silas? Não! Por que você pensou nele? - Eu estava tentando adivinhar qual pigmeu andou aqui.
Deixamos Hansen em casa, Cobra pegou sua moto e seguimos rumo ao nosso lar.
Entramos no casarão, deixamos os calçados perto da porta e ele ligou a lareira.
- Cara, você sabe quem eu vi nessa semana e aparentou-me estar diferente? - Cobra perguntou. - Não. - Silas! Ele parecia estar chateado com alguma coisa. Estava com a cara fechada da última vez que o vi.
Mudei de assunto. Conversamos sobre sua relação com uma ex amiga, sobre a possibilidade de tentarmos novamente ir até hospital na segunda-feira é coletar informações sobre Refaeli... Falamos de quase tudo, mas entre um tópico e outro, questionava-me se deveria procurar por Silas ou não. Pensei em consultar a opinião de Cobra, mas logo descartei essa ideia. Intimamente eu já sabia qual decisão seria tomada. Tinha consciência também de que, mesmo que sua opinião fosse contrária à minha, eu não mudaria a minha atitude. Esperei até que ele fosse à cozinha preparar alguma coisa para jantar - outra vez.
Cada pausa entre uma chamada e outra parecia uma eternidade.
- Alô? - Acho que algo aconteceu e você está um pouco chateado.
Silas riu.
- Boa noite para você também, menina! Por que você pensa isso? - Porque você está! - Estou é com sono!
Após dizer isso, outra risada meio boba. Uma daquelas que faziam meu coração derreter perante ele, por mais que eu tivesse sentimentos negativos relacionados à sua pessoa. Achei estranho ele estar em casa naquela hora. Ele próprio havia dito que passaria o final de semana na casa de sua "amiga".
- Não está na sua amiga?
Foi só eu terminar de fazer a pergunta que Cobra apareceu ao meu lado mastigando um sanduíche de rosbife.
- Cheguei há pouco. Preciso estudar o edital de uma nova prova que foi lançada e vai ser realizada daqui há algumas semanas. Preciso também rever a lista de Ian e acho que vou perturbar seu primo outra vez. Acredito que ele já tenha algumas ideias. - Por acaso o primo é esse que está ao meu lado com uma camisa amarela toda suja de farelo de pão de um sanduíche de rosbife que ele está comendo?
Cobra riu e fez um gesto com a mão pedindo o telefone para falar com Silas.
- Que homem sensual. Manda ele ir se ferrar e depois deseja paz. Já que você está com ele, pergunta se ele tem a lista pronta. Preciso dela até quarta-feira. Tenho algumas coisas que acho que ele vai se interessar também. - Vou passar o telefone para ele e você mesmo dá o recado.
Cobra engoliu o último pedaço do sanduíche.
- Hallo, bambino! O que você manda?
Poderia arriscar que, por alto, a "conversa" dos dois durou, no máximo, cinco ou seis minutos. Mas o suficiente para meu primo demonstrar toda a sua variedade verbal ao se comunicar através de onomatopéias e xingamentos. Não sei como os homens são seres tão criativos para assuntos desnecessários de serem discutidos. Eles inventam os termos mais mirabolantes para partes específicas do corpo humano ou descrevem da forma mais deselegante o possível as relações homoafetivas.
Falke devolveu-me o telefone, avisou que iria dormir e desejou-me uma boa noite de sono.
- Vocês estão muito odiosos hoje. Você principalmente. Não conseguiu dormir com a gatinha?
Com bom humor, mais uma vez, ele conseguiu me desconcertar. Mas não tanto quanto da outra vez.
- Menina, ela é uma grande amiga minha. E eu sempre sou desse preço.
Não consigo acreditar em suas palavras referentes à ela. Respondi-lhe com um "ok" muito seco. Arrependi-me de ter ligado. Arrependi-me também de ter sido tão transparente. Tentei mudar os próximos passos, mas fracassei miseravelmente.
- Ouvi dizer que você estava chateado, com direito até a cara fechada. - As pessoas procuram coisas desnecessárias onde não tem nada.
Não sabia mais o que dizer. E quando não sei o que falar, solto um "ok".
- Meu final de semana está bom. Só não melhor porque tenho que agilizar essas questões da agência. - Fico feliz por você.
Ato falho mais uma vez! Soei muito irônica.
- Se chateou com a resposta? - Eu não. - Tá certo.
Não o motivo, mas continuei a descarregar, sutilmente, minha raiva em cima dele.
- Algumas coisas me chatearam, só isso. Semana cheia de reviravoltas. - Algo que me envolva também de novo? Acredito que tenha algo comigo aí também. - Por que você pensa isso? - Da última vez que tu se chateou, meu nome estava no meio. E creio que você não soltaria isso a toa.
Quanta previsibilidade, mein Gott! O atestado havia saído e nele estava descrito o quão transparente eu sou.
- O que eu fiz dessa vez? Vamos dialogar. Só a peço o que já pedi uma vez: por favor, seja direta!
Eu estava com raiva, havia passado o dia sentindo-me protegida pelos meus amigos - principalmente pelo Falke - e queria me livrar daquela situação. Quando Cobra estava perto, sentia-me mais poderosa. De que eu poderia fazer as coisas por conta própria. Ao longo dos anos, aprendi com ele também que, se eu não gostasse de alguma coisa, eu tinha todo o direito deixar bem explícito que algo e o que havia me deixado chateada. Desde que eu usasse de tato ao falar, eu poderia sim expressar os meus sentimentos e os meus pensamentos. Aprendi também que quem n��o me respeitasse, que quem não fosse capaz de respeitar essa parte mais íntima e importante do meu ser, eu poderia simplesmente mandar se ferrar e cortar da minha vida. E não há mal nenhum em fazer isso. O que há de tóxico é manter por perto pessoas que nos diminuem e não respeitam a nossa maneira de lidar com as emoções. E eu também aprendi que, depois que minha mãe faleceu, ele sempre estaria presente para me dar suporte emocional e respeitar minhas escolhas, por mais que ele não as compreendesse de início ou por mais que ele não concordasse com elas. Em relação à Silas, descobri nele um alguém compreensivo. Uma compreensão que vai além dos problemas pessoais e que é capaz de entender e respeitar o ponto de vista alheio acerca dos mais profundos sentimentos e sensações diante das mais diversas situações. Eu já havia decidido que não aceitaria mais me relacionar, amorosamente ou não, com alguém que não conseguisse ter consideração pela minha maneira de enxergar o mundo e de sentir as coisas. Eu não aceito que mais ninguém me diga que a minha intensidade emocional é drama ou que eu sou uma sonhadora. Mas, como já dito anteriormente, eu estava com raiva e queria me livrar dessa situação. Tudo conspirava para que eu não fosse direta com Silas, mas sim grosseira - o que é terrivelmente deselegante e desnecessário.
- Você sabe que eu só processo as coisas dias depois de que o assunto foi tratado. Então eu não sei... - hesitei. - O que aconteceu agora? - Silas, para ser bem sincera com você, sincera e direta, eu sei que não temos nada, mas quanto a essa "relação", eu não sei o que vemos um no outro.
Eu tentava controlar meu tom de voz, mas a raiva fez com que eu me expressasse erroneamente. Se eu não consertasse aquilo o mais rápido possível, eu acreditava que ele poderia pensar que eu estava em dúvida sobre suas qualidades ou o diminuindo. E diminuí-lo seria um golpe na sua auto estima.
- Bem, na verdade eu sei o que eu vi em você. Não é à toa que eu volto. E não é só pelos nossos momentos.
Minha voz foi ficando verdadeiramente serena.
- São suas qualidades. Você é um bom amigo. Mas nós temos estilos de vida que são tão diferentes. E eu nunca serei fisicamente ou mentalmente igual às suas amigas por inúmeras questões.
Fui interrompida.
- E eu não quero que você seja. Gosto de você como você é e ponto. Digo aquelas coisas brincando para instigar o instinto fora da zona de conforto, mas não é sério.
Droga. Ele havia me pego! Não sei se ele havia sido sincero em suas palavras, mas ele certamente falou o que eu gostaria de ouvir. O que eu precisava ouvir. De repente, toda a minha raiva havia ido embora e toda a minha agressividade, passado. Mas então, ele começou a ser analítico.
- Não entendo essa chateação. Isso parece ser uma questão mais com você própria do que comigo.
Esbocei a situação sobre Refaeli.
- ...mas quanto à você, acho que era só aquilo mesmo. Aquilo de eu não ser e nem ter um estilo de vida igual ou parecido com a dias amigas. - Quanto à Rafaeli, espero que tudo se resolva. Eu não sei declarar grandes frases motivacionais e nem "encher linguiça", mas é sincero. É minha opinião sincera sobre você: você se chateou consigo mesma. Enfim: é simples. Você é desse jeito, eu sou assim e acabou.
Ele talvez tivesse razão. Acho que no fundo eu queria tanto ter a aprovação dele que eu acreditava que se fosse igual às "amigas" mais próximas, ele passaria a demonstrar de outras formas que gosta de mim. Ou então, ele se contentaria em ficar somente comigo. E esse é um pensamento que, além de ser ridículo, é muito romantizado. É muito fantástico. Sonhador. É todos os sinônimos que possam se adequar à crença de que ele, um adulto, homem já feito, optaria por ficar exclusivamente comigo, uma garota que agora está descobrindo o mundo. Que só agora conseguiu carta branca para não lhe dar mais satisfações. Um alguém que, apesar das dificuldades enfrentadas e superadas, intimamente ainda se sente perdida, sem saber ao certo por qual direção optar na vida, e carente de uma instrução considerada maior. Uma garota desprovida de uma figura forte e decidida que sirva como referência e, junto a isso, se envolva e se entregue afetivamente. Tudo isso é muito ridículo. Eu me sinto na oitava série outra vez.
- Acho que não estou conseguindo detectar e lhe passar o ponto. - Respira, Any. Mas eu sinceramente não estou vendo nenhum motivo para você se chatear comigo. - Eu não estou chateada com você. Estou com raiva de outras coisas, por outros motivos. - Quanto à Refaeli, realmente é muito complicado porque é uma situação bem delicada. Mas se tiver alguma outra coisa externa lhe afetando, simplesmente se afasta. Some. Manda a pessoa ir se ferrar. É o que tenho falado para você: você é muito passiva, você aceita tudo com muita facilidade.
Então Silas contou um caso pessoal de alguém que havia tentado discutir com ele e ele não se importou com a questão. O tempo passou e a pessoa mesmo se apercebeu que estava errada.
- A jogada é não esquentar a cabeça. E coisas inúteis a gente joga fora.
Mais uma vez senti-me confortável com as palavras dele. Ele consegue me confortar. Chegamos a conversar ainda sobre o recém interesse de Cobra em degustar bebidas alcoólicas para saber tudo sobre os mais diversos sabores e aromas. Silas, brincando, disse que eu já podia marcar um encontro com Cobra para ele dar início a sua vida de sommelier.
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