#Juliet é lésbica sim
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Só mais uns rabiscozin fei
1 - Elfis sendo gada-
2 - Sem explicação hétero.
3 - Elfis tava triste.
4 - Um rolê aleatório (diz a lenda que o N1 que escolheu o look do Arty-)
#euzinha#EU AMO A MINHA RAINHAAAAAAAAA-#holly short#Ainda não sei postar aqui KKKKKK Scrr-#artemis fowl#Os rolê aleatório#juliet butler#butler#domovoi butler#Os butler#fowldom#N1#N1 de rosa é canon#E Holly roubando pipoca também#Juliet é lésbica sim#Arty tá mentalmente cantando tang pra quem julgar o look#Pirulito
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XV: Pudim.
— Bem-vinda.
Olhei na direção da voz de meu pai no instante em que entrei em casa trancando a porta com minha chave. Era estranho ele estar ali naquele horário já que eu chegava da aula, mais ou menos, seis da noite e ele chegava do trabalho às dez, era uma diferença significativa.
— Oi – o cumprimentei confusa – o que faz em casa tão cedo?
Ele apenas sorriu tornando a virar-se de frente para o fogão cinza, ele vestia um avental xadrez que nunca tinha visto antes, segurava a frigideira pelo cabo e o cheiro estava incrivelmente bom, o que quer que fosse que ele estivesse fazendo, que estalava sob o fogo alto, parecia estar delicioso. Ter meu pai cozinhando para mim já era algo relativamente difícil de ocorrer, ele recorria a comida congelada ou dinheiro para que eu comesse fora o que desejasse, mas lá estava ele, quatro horas mais cedo, vestido com um avental enquanto cozinhava algo maravilhoso. E eu simplesmente não entendia o porque.
— Sua diretora ligou.
Fechei os olhos brevemente sussurrando um palavrão para mim mesma. É claro que a diretora tinha entrado em contato com meu pai e não que eu me importe, eu apenas não queria falar sobre o ocorrido com Jullie naquele momento, não depois do tapa que levei e das palavras que ela proferiu para Peter e eu no hall da sala da direção. E agora tudo fazia sentido, meu pai veio mais cedo para casa para conversar com a filha que, em menos de uma semana tinha se mostrado alguém diferente de quem ele costumava conhecer.
— Sinto muito – pedi o fitando de costas para mim quando abri os olhos novamente.
— O que houve?
— Ela não te contou? – perguntei deixando a mochila em cima de um dos bancos.
Ele balançou a cabeça positivamente, pegou a frigideira em mãos e virou a carne em um prato de porcelana branco que estava na bancada ao seu lado, confesso que vê-lo cozinhando não era mais assustador do que ver que ele sabia, de fato, cozinhar algo.
— Estou quase terminando o jantar, se você quiser trocar de roupa ou algo antes de comer, eu espero.
O fitei sem ter o que dizer, apenas balancei a cabeça positivamente pensando no quão bom seria afastar-me dele para ingerir todas aquelas informações de família feliz que jantava junto à mesa. As únicas vezes em que comemos juntos foi quando me mudei e ele fazia questão de sair do trabalho mais cedo para jantar comigo, mas isso mudou logo em seguida onde suas desculpas de não poder deixar os funcionários na mão se tornou frequente. E eu não me importava, até gostava de ficar com a casa só para mim até as dez da noite e na maioria das manhãs já que ele saía de casa bem mais cedo do que eu – isso quando voltava.
Confesso que estava um pouco surpresa com tais atitudes repentinas de meu pai, mas aquilo não me afetava muito, era compreensível ele querer estar por perto depois de descobrir, com um telefonema de madrugada, que a filha “lutou” ao lado de Capitão América por vontade própria e agora era considerada uma criminosa que possuía uma tornozeleira elétrica a monitorando. Talvez a princípio ele tenha feito o “bom pai” e estado mais presente porque sentia que era sua obrigação, mas, de fato, não era. Sua obrigação era não ter fugido quando as coisas pareceram complicadas, mas ele não o fez e agora não importava o que ele fizesse, ele não recuperaria o tempo perdido.
Não o odiava por isso, minha mãe nunca deixou que eu pensasse que ele era um homem ruim, e, com o tempo, e as palavras de minha avó fui vendo o abandono como minha culpa e de mais ninguém, mas guardava isso para mim mesma até que minha mãe, no seu leito de morte, pediu que eu me afastasse de minha avó, mas que não a odiasse nem a abandonasse por completo e me fez prometer que eu jamais me culparia pelas coisas ocorridas até então. E foi o que fiz. Não odeio odeio minha avó, apenas não tenho a coragem de falar com ela, pelo menos não por enquanto e lembrar dela estava me deixando ainda pior porque suas frases de maiores efeitos – e que ela mais repetia – pairavam em minha mente com sua voz rouca:
“Você é uma aberração”.
“Tudo o que você toca, é destruído”.
“Nada de bom permanece com você”.
E então lembrei de Jullie dizendo que me odiava. Nada de bom permanecia comigo. Não podia deixar minha avó ter razão, mas não podia evitar de sentir a culpa em meus ombros mais uma vez. Por causa de um impulso, que até agora não sei de onde surgiu, beijei Peter e ele retribuiu de modo que, sem conseguir esconder, contei para Jullie. Ela me odeia agora. A única amiga que fiz desde que cheguei à Nova Iorque me odiava e todas as garotas que com ela andavam, também, mas este era o menor dos problemas. Não me sentia mal por perder sua amizade, por ter escutado diversas coisas ruins, por mais que ambos tenham sido impactantes, não me sinto mal por ter beijado Peter, por ter aceitado o beijo e gostado. Mais uma vez, me sentia mal pelo modo que fiz ela se sentir e, provavelmente, ela estava bem pior agora.
Ela estava suspensa por minha causa, mesmo que o tapa tenha saído de si mesma, ele só aconteceu porque resolvi falar alguma coisa no banheiro enquanto ela e Maria me fitavam como se eu fosse a pior pessoa do mundo e talvez eu fosse, pelo menos no mundo das amizades ou sei lá como posso chamar o que estava acontecendo. Sentia muito por Maria e ela não precisava ter sido arrastada até toda aquela bagunça e briga, mas pelo menos me confortava o fato de que ela não tinha sido advertida e muito menos suspensa, ela não tinha culpa alguma e, provavelmente, sequer sabia de tudo aquilo até Jullie contá-la.
Subia as escadas para meu quarto enquanto pensava em inúmeras coisas de modo que evitasse parar de pensar em como Jullie me odiava, pensar em tudo aquilo não adiantaria nada e por mais que devesse fazer alguma coisa nada parecia ao meu alcance já que ela realmente não me queria por perto. Deixei a mochila em cima da cama e fui até o banheiro, na esperança de que um banho frio fizesse com que eu me sentisse melhor, parei em frente ao espelho me observando enquanto retirava o tênis e a calça jeans. O lado direito do meu rosto estava visivelmente inchado, Jullie tinha realmente me batido com força e aquilo provavelmente ficaria marcado, o que piorava minha situação. Retirei as peças de roupa abrindo o chuveiro e entrando debaixo do mesmo de olhos fechados.
Enquanto a água caía e molhava meu corpo pensava em Peter e o que ele estava fazendo naquele momento, se ele ainda estava na prisão vendo-a como, praticamente, ordenou à Tony, se ele já havia chegado em casa e estava fazendo o dever de casa ou algo relativo à escola ou se ele já estava pela cidade balançando pelos prédios com sua teia pronto para parar qualquer bandido que cruzasse seu caminho. Abri os olhos quando escutei alguém bater na porta, provavelmente era meu pai e ele confirmou quando perguntou alto se eu já estava saindo porque o jantar estava pronto e posto à mesa, gritei que sim, mesmo tendo acabado de entrar, e terminei meu banho mais rápido que o previsto, trocando de roupa e descendo as escadas.
Assim que cheguei no primeiro andar dei de cara com a mesa posta na sala de jantar que fazia divisão com a cozinha, meu pai estava sentado em uma das cadeiras da mesa oval e apenas sentei na sua frente forçando um sorriso sem mostrar os dentes. Aquela situação era realmente estranha, ele me fitava sorridente mesmo depois de tudo o que vem acontecendo em nossas vidas. Sem que eu pedisse ele pegou meu prato me servindo com os pratos que ele havia feito, sorri agradecendo quando ele abaixou o prato na minha frente pedindo para que eu provasse sua carne com molho apimentado. Eu detesto coisas apimentadas. Mas, obviamente, comi e disse que estava ótimo, realmente não estava ruim.
— Então – ele perguntou após um tempo em que ficamos em silêncio apenas degustando – o que aconteceu na escola?
— A diretora não lhe disse? – perguntei mastigando a carne.
— Ela disse que você brigou na escola hoje – ele pegou o copo de água fazendo uma breve pausa para beber um gole – com Juliet, nossa vizinha e sua melhor amiga. O que aconteceu, Luna?
— A gente teve uma discussão.
— Peter Parker estava no meio – ele me fitava sério até que um pequeno sorriso surgiu em seus lábios – quem o beijou?
O fitei um tanto quanto nervosa. Sério? Eu teria mesmo que falar com meu pai toda a história incluindo a parte em que Peter e eu nos beijamos, que foi onde toda aquela confusão começou?
— A diretora disse que a briga começou por causa de um beijo – meu pai prosseguiu partindo a carne – e como ele era o único garoto presente, presumi que fosse por causa dele. Mas está tudo bem também se vocês duas...
— Não! – o interrompi antes que ele sugerisse que eu fosse lésbica – Não, pai, Jullie e eu... Nós... Não – fiz uma breve pausa respirando fundo enquanto soltava meus talheres lentamente – eu realmente não quero falar disso. Pode ser?
— Claro – ele assentiu levando o garfo com o pedaço de carne recém partido para sua boca – eu só queria entender.
— Não foi nada demais, acredite – tornei a pegar os talheres forçando um sorriso – Jullie, Peter, eu. Um beijo. Uma briga. É isso.
Ele então desviou o olhar para a comida. Realmente não queria falar sobre o ocorrido na escola e nem mesmo o que originou tal briga entre Jullie e eu, por vergonha, por não querer repetir a história, por apreensão, diversas eram as razões que me travavam de falar sobre durante aquela janta que, apesar de apimentada, estava deliciosa. Não demorei a terminar de comer e meu pai me surpreendeu quando pediu para que eu não me levantasse que ainda tinha sobremesa. Perguntei algo sobre ele saber cozinhar e ele apenas riu dizendo que, desde que cheguei, não passamos muito tempo juntos a ponto de realmente conhecê-lo e que ele mudaria isso a medida que conseguisse.
Então compreendi o que estava acontecendo, como um estalo a resposta para minha pergunta pertinente estava respondida: ele se culpava. Mais uma vez ele se culpava por minhas escolhas que, muito provavelmente, eram péssimas escolhas em seu ponto de vista. E eu compreendia, afinal, estava com uma tornozeleira elétrica que poderia me eletrocutar a qualquer momento caso eu não seguisse as ordens e os conselhos a mim dados. E agora, fui advertida na escola por ter brigado com a única amiga que ele conhecia, até porque Jullie era realmente a única amiga que eu tinha, mas não mais. Não sei se vê-lo se esforçando para ser um pai mais presente, comunicativo e simpático era algo bom, afinal, sempre convivi tranquilamente sem sua presença, mesmo depois de vir morar com ele nos Estados Unidos.
Ele voltou para a mesa com um sorriso enquanto carregava dois pratos menores, deixou o meu na minha frente e pude perceber que era pudim de leite condensado, meu favorito. Ele sabia? Se lembrava? Ou havia sido apenas uma coincidência?
— Você se recorda, no Natal de 2005, que você pediu ao Papai Noel uma casa feita de pudins? – ele riu me entregando uma colher antes de sentar-se novamente na minha frente.
Balancei a cabeça negativamente porque realmente não me lembrava, mas ri achando a história engraçada.
Ele me fitava enquanto comia e abafava sua risada com os lábios – Você chorou na hora de abrir os presentes porque tinha ganho apenas alguns pudins. Você ficou com raiva do Papai Noel por algumas horas até esquecer do que tinha acontecido.
Ri o fitando – Minha mãe nunca me contou isso.
— Não? – ele arqueou a sobrancelha me fitando – que estranho, era uma das histórias favoritas dela. Passamos a noite rindo sobre isso.
O fitei com um sorriso menor. Era estranho para mim falar de minha mãe após sua morte porque, obviamente, eu sentia muita falta dela. E aparentemente não era a única.
— Eu fiz a maior merda quando deixei vocês duas – ele fez uma breve pausa com a voz tremula – e não me perdoarei por isso nunca.
— Qual o sentido, pai?
Ele ergueu o olhar do pudim até mim – O que?
— Por que tudo isso? – perguntei tentando parecer o mais dócil possível – por que o jantar? A sobremesa? A história feliz?
Ele soltou a colher em cima do pudim afundando-o levemente – Porque eu quero que as coisas mudem.
— Que coisas?
— Entre nós. Quero que me veja como pai, assim como quero te ver como filha. Me arrependo de tê-las deixado e agora não posso voltar atrás porque sua mãe… Ela… Ela se foi. Eu fui um covarde que fugiu e não quero ser assim de novo. Por isso fiz tudo isso, porque quero ser mais presente na sua vida e te quero mais presente na minha. Como família.
O fitei soltando a colher. Era um pouco estranho escutar tudo aquilo, mas se havia algo que aquele dia não estava sendo era normal, emoções a flor da pele estavam marcando meu dia onde eu parecia ser a única a receber golpes sentimentais bem no meio da cara – e isso não foi um trocadilho. O fitava séria e forcei um sorriso onde, imediatamente, fui capaz de ver um pingo de alívio no rosto de meu pai, ele parecia estar realmente tentando. E sim, ok! Podemos ser uma família, a que nunca fomos já que ele esteve ausente dez anos de minha existência, mas claro, podíamos tentar e por mais que eu não acreditasse que aquele comportamento, de pai presente e comunicativo, duraria muito, apenas deixaria acontecer.
Meu celular vibrou em cima da mesa bem ao lado do prato e o peguei enquanto terminava de comer o pudim maravilhoso que ele havia feito. Na tela aparecia um aviso de que duas novas mensagens tinham chegado em meu celular e as abri quando percebi que eram de Peter, estava aliviada por ele dar notícias, mas no instante em que li a primeira mensagem a preocupação apenas aumentou.
“Preciso que me prometa uma coisa”
Abri a segunda mensagem fitando o celular completamente séria, tentava disfarçar de modo que meu pai não percebesse a preocupação, e então li a mensagem em silêncio para mim mesma:
“Me prometa que nada mudará entre nós dois independente do que aconteça.”
Que diabos ele estava falando? Por que algo mudaria entre nós dois? O que estava acontecendo? O que Peter planejava? Levantei-me bruscamente da mesa fazendo com que o sorriso de meu pai sumisse e ele parasse de contar alguma história sobre como seu melhor amigo do ensino médio havia enganado um professor no último dia de aula deles. Forcei um sorriso dizendo que precisava ir ao banheiro e imediatamente subi as escadas correndo, fechei a porta do banheiro apertando o número da discagem rápida que ligava diretamente para Peter. Sentei-me na privada, com a tampa fechada, enquanto escutava os sinais no telefone.
— Oi, aqui é o Peter. Peter Parker. Deixa seu recado depois do sinal que se eu conseguir, te ligo! Até!
Desliguei o telefone optando por não deixar recado e sim tentar novamente, liguei uma segunda, terceira e quarta vez. Todas chamaram igualmente e caíram na caixa postal após alguns “tus” de sinal, e então, na quinta vez não houve sinal, pensei que pudesse ser alguma falha de sinal do meu celular e tentei uma sexta vez acontecendo o mesmo: caindo direto na caixa postal sem sinal ou “tus” indicando que estava chamando.
— Oi, aqui é…
Desliguei o celular e então me levantei guardando-o no bolso, ia até sua casa para saber se sua tia May tinha alguma notícia ou ideia de onde ele estava. Parei na porta enquanto segurava a maçaneta. Minha respiração estava falha e apenas piorou quando percebi algo de extrema importância: não havia nada que eu pudesse fazer. Abaixei a cabeça na direção do meu tornozelo olhando para a tornozeleira com o fio de eletricidade verde por dentro. Não podia nem mesmo ir a casa ao lado perguntar para May se ela sabia de Peter para me tranquilizar. Pisquei os olhos diversas vezes levantando o rosto para fitar a porta. Nunca havia me sentido daquela maneira, realmente preocupada com alguém, preocupada com Peter Parker que era o Homem-Aranha e arriscava sua vida todas as noites para proteger as pessoas da cidade. Parece estupidez apavorar por causa de mensagens e ligações não atendidas, talvez ele estivesse ocupado demais para me responder. É, era isso.
Só podia ser.
Desencostei-me da porta apoiando as mãos na pia enquanto me olhava no espelho, minha feição não era das melhores e meus olhos arregalados indicavam que a minha tentativa de acalmar a mim mesma mentalmente havia falhado miseravelmente. Mas o que eu não entendia era todo aquele pavor. Peter estava do lado da lei, não era considerado um criminoso, tinha Stark e o Governo ao seu lado e era um excelente herói, o que podia dar errado? Nada, claro.
Fui até meu quarto apoiando as mãos na janela enquanto curvava meu corpo para fora da casa de modo que eu conseguisse uma boa visão da janela do quarto de Peter, do meu quarto eu conseguia ver apenas um pedaço se colocasse a cabeça e parte do corpo para fora. Às luzes estavam apagadas assim como o restante de sua casa onde apenas a luz da sala estava acesa. Olhei em direção ao horizonte onde apenas uma minúscula parte do Sol iluminava deixando o céu em um tom abstrato, a noite já estava praticamente inteira pela cidade e eu não sabia se isso era algo bom ou ruim.
Talvez fosse algo bom já que Peter me visitava de noite após uma ronda atrás de bandidos ou após uma batalha bem sucedida em um dia calmo. Talvez fosse só esperar que ele apareceria com seu novo traje e suas piadinhas, entrando pela janela de meu quarto com muita cautela para que meu pai não o escutasse.
— Você não vai terminar?
Virei-me bruscamente para trás retirando as mãos da janela completamente assustada. Meu pai, por sua vez, se assustou com meu susto enquanto se mantinha parado à porta aberta do meu quarto.
— Você está bem?
Forcei uma risada sentindo meu coração acelerado devido ao susto – Sim! Eu… Devo estar com o “vento virado” hoje.
— “Vento virado”? – ele perguntou confuso.
— É – forcei um sorriso colocando as mãos na cintura enquanto o fitava respirando fundo – é uma expressão que minha avó usava para definir quem se assustava com coisas bobas. Soa mais legal em português, mas igualmente sem sentido.
Ele riu – Tudo bem então. Posso guardar o pudim?
— É, pode. Eu como amanhã – sorria forçada – recebi uma mensagem de uma colega de classe que falou sobre um exercício valendo ponto para amanhã, por isso subi correndo, pra ver se tinha aula de Algoritmos amanhã, ai parece que ouvi alguém me chamar na janela e fui…
— Tudo bem – ele riu erguendo a mão em minha direção de modo que me calasse – está tudo bem. Você não precisa me explicar tudo na sua vida. Só… Vamos tentar fazer isso dar certo ok?
Balancei a cabeça tantas vezes para cima e para baixo que ele apenas riu dando as costas para mim e descendo as escadas novamente. Poderia ter respirado aliviada, mas não conseguia, não com aquela angustia dentro de mim. Claro que estava sendo dramática e uma tola preocupada, mas por mais que tentasse me distrair era em vão. Tentei mexer nas redes sociais pelo celular, vi algumas fotos minhas com Jullie, Liz e Maria, tentei assistir alguma série em um aplicativo, tentei fazer a lição de casa, tentei adiantar uma resenha para mês que vem sobre “Os animais e seus habitats peculiares”, tentei ouvir algumas músicas, ver televisão, ler um livro, estudar, arrumar a mesa do computador e diversas outras coisas enquanto me mantinha atenta na janela e no caso de escutar o barulho grudento da teia de Peter. Mas não a escutei durante as horas que fiquei enrolando em meu quarto, me dei conta que já estava tarde demais quando meu pai, com a cara amassada, apareceu na porta do quarto dizendo que iria dormir em sua cama já que havia cochilado grande parte da noite no sofá da sala enquanto assistia um programa sobre ovelhas. Ri completamente forçada e fechei a porta do quarto a trancando enquanto fazia de conta que também ia dormir. Mas, obviamente, não conseguiria dormir sem antes saber algo de Peter.
As horas passaram tão rápido que me recordo de olhar no celular, após ligar pela milionésima vez para Peter, e a mensagem ir direto para a caixa postal. Vi que já beirava às duas da manhã e eu estava prestes a pular minha janela, mandar o Governo se ferrar, juntamente com Tony Stark, e procurar Peter pela cidade. Algo não estava certo e eu conseguia sentir isso, conseguia sentir que Peter me avisaria do que quer que fosse, mas agora ele estava indisponível e ele não é do tipo que simplesmente abandona as pessoas, não ele, não o Peter Parker que eu conheço.
Não sei explicar como, em meio a tanta aflição, adormeci. Simplesmente não me recordo nem mesmo de sentir sono pesado a ponto de “pescar” e forçar para manter-me acordada.
— Acorda!
Acordei de supetão me sentindo completamente maluca, jurava que tinha escutado uma voz feminina, conhecida, mas que não conseguia assimilar a dona, estava assustada e então percebi que não havia ninguém em meu quarto, olhei em direção à janela e ainda era madrugada, suspirei um pouco aliviada por ter acordado, mas o alívio desapareceu no instante em que peguei meu celular e não havia uma mísera mensagem ou ligação de Peter. Deixei o celular ao lado na cama, colocando meus pés no chão e esfregando meus olhos, olhava para meus pés pensando em Peter, ele não saia de minha cabeça normalmente, mas, naquele momento, estava ainda pior.
Meu coração acelerou. Fiquei parada olhando para meu tornozelo completamente assustada, não sabia o que fazer, se levantava, se me movia ou se saia correndo já que estava sem a tornozeleira. Sim, eu estava sem a tornozeleira e me perguntava se tudo não tinha passado de um maldito pesadelo, comecei a mexer na cama levantando os travesseiros, lençóis e colchas e lá estava ela, parada, imóvel e ainda fechada embaixo da colcha florida que cobria minha cama. Estava mais assustada do que feliz. Estava livre, mas não sabia como tinha feito aquilo, era um novo poder? Eu podia atravessar as coisas? Desde quando? A Lua me possibilita isso também?
E se fosse um teste do Governo agora que Capitão estava solto? E se eles estivessem desativado a tornozeleira de meu pé para que eu fosse atrás de Capitão e, automaticamente, os levasse até ele? E se eu estivesse sendo usada como isca? Ofegante sequer me mexi, desejava não estar sozinha naquele momento, sabia que meu pai estava em seu quarto, porém a única pessoa que eu queria que estivesse comigo para me explicar o que estava acontecendo estava desaparecido há algumas horas, pelo menos desaparecido para mim.
Talvez eu devesse chamar meu pai e lhe dizer o que tinha acontecido, ou ligar para Tony Stark e perguntar que merda estava acontecendo, mas a ideia de liberdade era mais tentadora do que a ideia de compreensão da tornozeleira não estar mais em volta de meu pé me monitorando e prendendo como uma criminosa. Mas não conseguia me mexer, não conseguia levantar e correr o mais rápido possível para longe dali, estava assustada demais para conseguir me mover e, mais ainda: estava com medo do que aquilo realmente significava.
Estava livre? A preço de que?
Fechei os olhos pensando em qualquer coisa que pudesse me ajudar, em minha cabeça cogitava as possibilidades de terem feito aquilo pro bem ou mal, realmente não sabia quem teria feito aquilo além de Tony Stark e o Governo para me usarem. Era óbvio demais e então eu permaneceria ali até conseguir criar coragem de abrir mão da minha liberdade e ligar para Stark.
Me apavorei quando senti uma mão em volta de minha boca, no mesmo instante abri os olhos e não vi ninguém na minha frente, estava sendo sufocada e impedida de gritar ou pedir por ajuda, mas por que chamaria meu pai se eu podia, provavelmente, me proteger? Pelo menos basicamente. Meu coração, ainda mais acelerado, ajudou a fazer crescer o calor dentro de meu peito de modo que meus olhos já começassem a ficar mais claros, me mexia bruscamente enquanto tentava me soltar para ativar o escudo e então usar meus poderes para poder me proteger de quem quer que fosse.
— Por favor, não use seus poderes.
A voz feminina, e extremamente sexy, sussurrou baixo em meu ouvido. Eu conhecia aquela voz, não era de alguém de convívio habitual, mas sabia que conhecia, porém, a mulher não me deixava virar para trás para vê-la o que me deixava ainda mais desesperada. Ela sussurrou novamente:
— Estou aqui a mando do Capitão e preciso que você fique quieta.
Me debati. Como ela queria que eu ficasse quieta com aquela invasão e aquele momento de opressão onde eu sequer podia ver seu rosto?
— A tornozeleira não está desativada. Ela ficou desativada por um minuto enquanto eu retirava ela de você, eu preciso que você fique quieta ou então vamos as duas pra cadeia.
Parei de me debater enquanto a escutava.
— Sou eu, Natasha Romanoff.
Natasha? Ela não estava do lado de Tony? Tentei me soltar mais uma vez e ela pareceu compreender o porquê de tentar me soltar novamente.
— Eu sei – ela sussurrava rente a minha orelha direita – eu estava do lado do Stark. Queria não ter tido que escolher, mas tive, isso é história para outra hora. Agora eu preciso te tirar daqui, se você estiver de acordo. Estou sendo caçada como vocês porque ajudei Capitão e Barnes a fugirem no aeroporto. Preciso que confie em mim, garota.
Permaneci parada como quando a escutava. E se aquilo fosse um treinamento? Um teste? Estava com medo de arriscar, mas, ao mesmo tempo sabia que não podia viver com medo de “e se?”. Natasha então me soltou enquanto eu me mantinha entretida em meus pensamentos, virei meu corpo lentamente em sua direção e ela pressionou seu indicador nos lábios indicando que eu deveria ficar em silêncio. Ela parecia realmente uma fugitiva, usava um casaco preto com o capuz que tampava seus cabelos ruivos por mais que alguns fios insistissem em cair em seu rosto.
Natasha caminhou lentamente em direção à escrivaninha do meu quarto enquanto observava alguns objetos que estavam jogados ali por cima, eu apenas a fitava com o coração acelerado tentando compreender o que aquilo realmente significava. Então, Capitão me queria ao seu lado? Ele realmente arriscou um dos seus para me deixar livre novamente e levar-me até ele? Natasha virou-se para trás para me olhar e fez um sinal com a mão me apressando, mas apenas permaneci sentada a fitando completamente assustada. Estava com medo.
Pensava em meu pai e em como ele reagiria ao acordar e não me ver ali, apenas a tornozeleira solta em meio aos lençóis, o decepcionaria novamente e dessa vez a probabilidade de ser perdoada seria mínima, eu partiria seu coração e quebraria, de vez, sua confiança em mim. Mas, ao mesmo tempo, queria sair dali e lutar pelos meus direitos e pelo que considerava certo, estava me sentindo em um labirinto sem saída que me machucaria qualquer que fosse a escolha.
Se eu decidisse ficar me arrependeria para o resto de minha vida por reter uma vontade minha por causa de meu pai e, mais ainda, por ter que me portar por tempo indeterminado como uma criminosa que não era. Se eu decidisse ir machucaria meu pai talvez de uma maneira irreparável e, por mais incrível que pudesse parecer, me preocupava com isso.
Natasha então moveu os braços de modo que chamasse minha atenção, a fitei parada perto da escrivaninha e ela segurava meu caderno deitado com uma folha virada para mim onde percebi que ela tinha escrito algo. Fiquei de pé caminhando em sua direção para conseguir ler melhor e então a fitei após ler: “Não posso falar porque caso reconheçam minha voz está tudo arruinado. Prometo te explicar tudo que quiser quando saímos daqui, se assim desejar, mas não posso demorar muito também, porque sou uma fugitiva”
Abri a boca para sussurrar, mas novamente ela colocou o indicador sobre os lábios indicando que eu não deveria falar, esticou o caderno e a caneta em minha direção e, trêmula, resolvi tomar a decisão mais rápida e mais difícil de minha vida ao escrever:
“Qual o plano?”
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