#Invasão ao terreno do Diário de Natal
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Empresa planeja empreendimento para terreno do antigo Diário
Foto: Poti Incorporações / Reprodução A Poti Incorporações, dona do terreno onde funcionou o antigo Diário de Natal, na zona Leste da capital, já tem planos definidos para a região. Conforme divulgado em nota pela empresa, será apresentado ao mercado, em breve, “um arrojado e moderno empreendimento para a área de Petrópolis, uma das mais procuradas pelo setor imobiliário após a sanção do Plano…
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Vermelho e azul na paleta de madeira, antes cilindricamente posicionados a alguns centímetros de distância, resultam numa porção de roxo acinzentado e um copo de água leitosa, inútil, cor de chorume. Na tela, camadas e camadas de erro sob pinceladas espessas de tinta, nunca do mesmo tom. As caixas de tralha se espalham, se apossam, sufocam, dia por dia, invasão napoleônica pré-Waterloo. O trajeto da porta até o banco em frente ao cavalete exige uma rotina cuidadosa e precisa para que não esbarre nos muitos cubos empilhados de papelão que guardam seus livros, fotos, roupas, bijuterias, revistas antigas, cartas de amor, herança e sabe-se mais o quê. Talvez ela saiba, provável que tenha etiquetado, catalogado e sistematizado todo o sistema de depósito que desenvolveu no decorrer dos anos. Não pedi tampouco ela deixaria que eu revirasse esse mar de coisas suas que não guarda na memória mas não se esquece. Essas são as coisas perigosas, porque não se sabe ao certo o efeito que elas exercem no presente, apagam os rastros de sua permanência, o que torna ainda mais difícil qualquer forma de reavaliação ou desprendimento. Como patógenos, se multiplicam fora do campo de visão, reproduzem-se pelo automatismo das células e quando a infecção é descoberta, já tomaram conta.
Essa expansão, como a maioria delas, não começou de maneira declarada. Chegou de supetão e só fui me dar conta bem mais tarde: morávamos juntas a dois anos quando Camila pediu para colocar uma caixinha dentro do armário, me olhando através dos cílios com as mãos cruzadas, sabendo que eu seria incapaz de dizer não. Deixei. Era o único cômodo da casa sujeito a minhas decisões, condição pré-colocada: precisaria de um lugar meu, onde pudesse trabalhar, fazer cerâmica (na época não pintava) - e, na realidade, pouco importa o uso que daria ao espaço - um ambiente na casa que não estivesse sujeito à suas regras e desejos. Agora, caminho pelo labirinto que ela construiu para alcançar um novo tubo de tinta vermelha, posicionados: vermelho fresco, azul manchado e roxo meio seco, emprego esforço hermético na manipulação das pinceladas que ainda não formam objeto delimitado. De um traço violeta, ao adicionar vermelho em uma das extremidades, brotam duas mãos (se)semi tocando, a-lá A criação de Adão, quase alcanço uma ideia quando percebo a maçaneta girando forte e repetidamente, ela colocando força como se quebrar a porta fosse mais fácil do que me pedir que a abrisse.
Giro a chave e ela entra desorientada, um envelope em mãos, os olhos e maxilar cerrados, expressão com a qual já me acostumei a ser consumida em uma base diária: preenchida pela certeza de que havia feito algo de errado, de novo. Que ela, como sempre, tinha precisado consertar mais uma das minhas falhas e agora vinha exigir meu perdão aos seus pés. Martirizado que dava conta de tudo sozinha, como se isso não fosse fruto direto de sua compulsão própria por controle. Nos primeiros anos, isso unia o útil ao agradável, gostava da forma como ela me cuidava, ajudava, demonstrava preocupação genuína sobre todos os aspectos da vida que me despedaçaram. Passou a cuidar, pouco a pouco, de toda minha rotina, me lembrando em base diária meus afazeres, orientando os passos que deveria seguir para que tudo funcionasse perfeitamente: o horário que deveria sair para que não me atrasasse, assuntos que deveria evitar, manias que precisava esconder e mecanismos para a boa-imagem profissional e pessoal. Ela grita enquanto observo as marcas do tempo nas caixas, fala sobre alguma conta que não paguei, que o dinheiro anda pouco e que eu já não quero mais saber de nada. Seus gritos perdem cada dia um pouco mais de efeito, ocupando posição parecida à reunião semanal de trabalho ou telefonema do meu pai: compromissos inescapáveis, desses que resta apenas torcer para que acabe logo. Volto a pintar, o que a enfurece ainda mais, chegando ao ponto do monólogo, já roteirizado, em que me ordena procurar um novo emprego como se o que faço não passasse de brincadeira infantil ou delírio adolescente. A mulher de vinte e quatro anos que me incentivou a sair da vida escritório das oito às cinco, happy hour às sextas, amigo secreto de natal uma vez a cada dois anos onde o presente mais pessoal é um par de meias, em nada parece com a que divido essa cela. Ela continua falando, plano de fundo infernal, pouco consigo distinguir suas palavras que passam em rasante pelos meus ouvidos enquanto tento focar na construção dos corpos sobre a lona crua. Ela reclama que não respondo, mas no fundo gosta que eu lhe dê a permissão de conversar à sua maneira favorita: espelhada. Murmura mais algumas frases e bate à porta ao sair.
Tanto tanto tempo perdido, retornam ao pó de que nunca saíram meus sonhos, ideias, aspirações, viajar o mundo, aprender novas línguas, criar, se tivesse começado a pintar antes quem sabe até curso no exterior e todo esse papo de realização pessoal. Grãos que nunca chegaram a brotar, prova irremediável da minha covardia e pequenez, que me seguram até hoje rebatendo o desejo diário de estar em qualquer outro lugar com a praticidade da burocracia automática do cotidiano. O vermelho vai tomando forma, exceto pelo rosto, ainda pouco definido, um borrão antropomórfico que não se aponta a lugar algum, ocupa o lado esquerdo do quadro como satélite inerte no vácuo. Os anos trazem a certeza de que ela me gosta assim, resilientemente guiada pelo sopro dos seus ventos, sem chão proprio a me agarrar, pipa colorida em suas mãos.
Pouso o pincel na tinta azul, prestes a esculpir nova figura, interrompida por batidas na porta. Abro, mas ela se mantém próxima ao batente, estendendo na minha direção uma taça de vinho enquanto me olha séria e com uma outra expressão de desapontamento, menos hostil que a primeira. Tenho vontade de chamá-la de todas as coisas terríveis que se acumularam na minha mente no decorrer dos anos, então mordo a bochecha na tentativa de conter o impulso da língua, me limitando a agradecer e pedir que ela saia. Apesar dos esforços, me sobe repulsa ao vê-la assim, esperando que uma mínima gentileza desfaça a estupidez anterior, incapaz de sobrepor a própria teimosia e corrigir seus excessos. Parecia ter uma certeza inerente de como as coisas deveriam ser: eu, acatar e agradecer seu comando como animal perfeitamente adestrado, ela, divinamente escolhida enquanto a detentora da clareza e dos bons caminhos, da efetividade e dos bons resultados, responsável auto-declarada dos pecados alheios. O azul origina um outro corpo, a mesma inércia, na outra metade do quadro.
Teria dimensão da mágoa que rego sacramente pela sua metamorfose? Dois corpos sem clareza do próprio sentido, incapazes de saberem se estão prestes a colidir ou sendo lançados em sentidos opostos na imensidão sem fim do espaço. Não teria sido possível prever no que se tornaria, antes a maior admiradora do que ela chamava “Meu desprendimento e sede de ser”. Você precisa ir atrás daquilo que te enche a alma, dizia, sem saber que o que me preenchia na época era ela. Foi Camila quem disse que não deveria deixar os desejos dos meus pais firmarem o rumo da minha vida, mas aposto que agora adoraria se eu dissesse que voltei para os trilhos, mudei de ideia, percebi que criar é hobbie e não dá em lugar nenhum, exatamente como eles diziam. O pincel marca sobre a tela o rosto azul encarando o quase-corpo vermelho, tentava alcançá-lo, não por obter direção certeira, mas pela flutuação conjunta, talvez.
Voltam os barulhos na porta, se não me falha a memória essa é a hora que Camila chegaria com os olhos bem abertos e os lábios cerrados, é nesse momento que ela nutre o ressentimento que sente por mim. Cada uma responsável pela manutenção de seu jardim privado e individual, mutuamente alimentados pelos nossos fracassos. Um passo atrás da porta, olhos caídos e sobrancelha baixa, tinha chorado? Não diz nada. Vem até aqui exclusivamente para me dar oportunidade de pedir perdão, excelência misericordiosa. Silencio na mesma moeda e paro apoiada no batente, encarando-a. Atrás de sua tristeza, um esboço de cumplicidade, conscientes do muro intransponível. Pergunta se tenho algo a dizer, mesmo sabendo que não, e responde ao sinal que faço com a cabeça indo embora.
Retorno ao retiro em meio às caixas, em três traços, o crânio vermelho torna para o azul. Encaro o redor por algum tempo. faltam acabamentos, mas minha pálpebra luta para se manter aberta, saio do exílio. Normalmente ela está deitada quando chego no quarto, mas a cama está vazia e da sala emana um burburinho de música tocando baixo. Acordo sozinha, como de costume porque ela levanta duas horas antes e sai para o trabalho, mas na mesa da cozinha não tem café, provavelmente ainda estava com raiva. Percorro o caminho até o território invadido, seria melhor se já estivesse trancada quando ela chegasse.
Nada além das paredes brancas, o chão de madeira e o quadro sob o cavalete. Nas prateleiras, apenas tintas, que seriam facilmente alcançadas, retirada das tropas inimigas. Entro e me sento no banco, caminhando em ziguezagues sem risco de destruir um terreno demolido.
texto inspirado no desenho da minha amiga talentosíssima Ana Lira <3
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O que esperar? Vereador do PT defende invasão a propriedade privada em Natal
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